Ganchos de aventuras - Fantasia Medieval

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Fantasia Medieval Ganchos de Aventuras 1 Ganchos de Aventuras 2014

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5 contos que servem como ideias, pontapés iniciais, para inspirarem os jogadores e narradores à criarem suas próprias aventuras

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Fantasia MedievalGanchos de Aventuras

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Fan tas i a M ed i eva l

Ganchos de Aventuras

2014

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CRÉDITOS

Diagramação: Ivan Coluchi

Texto: Ivan Coluchi e Fabrício Zambon

Imagens: todas as imagens utilizadas são dedomínio público.

Capa: The Accolade, de Edmund Leighton

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Accolade_by_Edmund_Blair_Leighton_-_complete.jpg

Sumário: Soldau, de Conrad Steinbrecht

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Soldau_1881.jpg

Página 4: Spear

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Drevnosti_RG_v3_ill121b_-_Spear.jpg

Página 5: Stalactites on cave wall in AranuiCave, de Pseudopanax

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Stalactites_on_cave_wall_in_Aranui_Cave.jpg

Página 8: The Three Trees, de Rembrandt

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:The_Three_Trees_-_Etching_-_600dpi.png

Página 12: Wagon, de G. W. Ackerman

https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Wagon.jpg

Publicado online em dezembro de 2014.

INTRODUÇÂO

Esse é um pequeno suplemento com 5 contosque servem como ideias para aventuras deRPGs de fantasia medieval.

Os contos não citam nenhuma regra e podemser adaptados para qualquer sistema.

Os três últimos contos se passam no mesmocenário, mas podem ser facilmente adaptadostrocando os Filhos das Sombras por outrogrupo de criaturas sombrias presentes nocenário de jogo do seu grupo.

O terceiro conto, Encruzilhada, também estádisponível em áudio nesse link:

https://www.mixcloud.com/ivancoluchi/encruzilhada-audioconto/

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SUMÁRIO

A Ruína de Simeôni ......................................................................... 4

Sepulcro da Coragem ...................................................................... 5

Encruzilhada ........................................................................................ 6

O dia estava frio ................................................................................. 9

Ciganos .............................................................................. 11

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A Ruína de Simeôni tem 3 metros de compri-mento e pesa 8kg. Sua haste de madeira nãoparece tão envelhecida quanto sua lâmina semfio, enferrujada e manchada com uma subs-tância branca, ressequida. Mas o poder (e adesgraça) dessa lança, está justamente em sualâmina.

Simeôni foi um hábil cavaleiro, extremamenteferoz no combate com lança. Demônios,mortos-vivos e necromantes tombaram diantede seus ataques. Ninguém recorda os nomesde seus inimigos, porque ele fazia questão dedestruir tudo o que eles construíam. Seus co-vis, suas pesquisas, seus artefatos, tudo eraqueimado e nunca mais mencionado. Por isso,muito pouco se sabe sobre a grande vitória deSimeôni, a caçada que criaria sua ruína.

Após muito tempo perseguindo um mago dasTrevas, Simeôni finalmente o encontrou edestruíu. O necromante era antigo e utilizavaseus poderes para manter-se vivo, mesmoenquanto seus órgão falhavam e apodreciam.Nenhum de seus feitiços, no entanto, foi ca-paz de salvá-lo da lança de Simeôni. Depoisde destruir o covil e partir, o cavaleiro nãonotou que sua lâmina continuava manchadade sangue.

Na viagem de retorno à sua casa, Simeôni caiuenfermo. Seu braço esquerdo apresentava al-gum tipo de putrefação avançada. Nada queseus companheiros fizeram para ajudar pareciamelhorar sua situação. A doença espalhou-sepelo resto do corpo em apenas dois dias e Si-meôni faleceu.

Dias depois um de seus companheiros decombate foi atingido pelo mesmo mal. Elehavia tentado limpar o sangue coagulado queainda impregnava a lâmina da lança de Simeô-ni. Também para ele, não houve cura.

A lança, que durante muito tempo fora moti-vo de orgulho, passou a ser vista como mauagouro. Qualquer ser vivo que tocar sua lâ-mina é acometido por uma necrose aguda.Seu corpo, no entanto, tem que tocá-la dire-tamente, não funcionará caso o alvo estejausando alguma proteção física (como umaarmadura). Métodos de cura comuns parecemnão ter efeito e métodos mágicos, até agora,mostraram-se capazes apenas de atrasar adoença, mas não foram capazes de curá-la.

Acredita-se que a Ruína de Simeôni possuíacaracterísticas mágicas contra as criaturas dastrevas, o que a teria tornado tão eficiente nadestruição de mortos-vivos e necromantes.Seja qual tenham sido, essas habilidades pa-recem não mais existir, sendo substituídaspelo toque putrefato da morte. Alguns de-fendem que, caso a maldição seja retirada, alança irá voltar ao seu estado original e pode-rá ser usada como uma poderosa arma dobem. Outros a cobiçam exatamente por causade sua maldição, que a torna uma arma aindamais perigosa.

A RUÍNA DE SIMEÔNIEscrito por Ivan Coluchi

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SEPULCRO DA CORAGEM

Há uma fenda em um penhasco que fica nolitoral. Essa fenda segue rocha à dentro poralguns metros, até tornar-se uma gruta. Vocêsaberá que está na caverna a que me refiro,pois ela possui uma característica única: a brisaconstante que sopra do fundo da caverna emdireção à entrada. O vento produz diversossons, alguns deles perturbadores, como vozessussurrando em idiomas esquecidos ou comosilvos de grandes répteis. Nenhuma chamadesprotegida permanece firme, sendo conti-nuamente apagada pela corrente de ar.

As galerias seguem para baixo, com diversostamanhos e diferentes graus de descida, algunsmais fáceis, outros mais íngremes. Há piscinasnaturais em muitas das galerias, mas eu nãoaconselho que beba daquela água. Os explora-dores são comumente afetados por visões,tonturas e dores de cabeça. Acredita-se que aágua encontrada na caverna esteja contamina-da por alguma substância que cria alucinações,ou talvez as próprias rochas exalem compo-nentes atordoantes.

Além dos incômodos naturais, causados pelovento e pela possível água contaminada, tam-bém há de se levar em conta as criaturas.Morcegos, aranhas, anfíbios. Dos mais comunsaté os mais monstruosos e ariscos. A cadapasso da descida, a agressividade e estranhezadas criaturas apenas aumenta.

Até hoje, ninguém mapeou a gruta em sua to-talidade. Nem foram capazes de encontrar seufim ou o ponto de origem dos ventos. E vocêdeve estar imaginando que um lugar assim éevitado por todos e raramente recebe visitan-tes. Engano seu.

Existem lendas de que toda a atmosfera som-bria é resultado de feitiços de proteção colo-cados no local por um pirata que escondeu ali

o seu tesouro. Algumas ordens, grupos decavaleiros ou caçadores também costumamenviar um novato para dentro da caverna paramedir sua coragem, ver quanto tempo eleconseguirá ficar lá dentro antes de pedir so-corro ou fugir assustado.

Parece um ritual de iniciação simples, masmuitos já tiveram que ser resgatados das en-tranhas da caverna. Eles foram encontradosparalisados de medo, delirantes ou em pran-tos. Toda sua bravura exaurida e enterradanas rochas, dando ao lugar seu nome: Sepul-cro da Coragem.

Escrito por Ivan Coluchi

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ENCRUZILHADA

“Não é por ignorância. É por piedade. Algunsainda sabem as palavras exatas para contar oshorrores que vêm com as sombras. Mas, porpiedade de nossas almas, essas palavras ficamguardadas.

Nessa noite, no entanto, meus amigos, eu nãoterei piedade de vocês. Pois recontarei as últi-mas palavras que o Duque Martus pronunciouem seu leito de morte. Eu as conheço somenteporque Mestre Turíllio estava lá, o menestrelda corte de Kristino. E essa história passou detutor para aprendiz até repousar em minhamemória.

A noite se aproximava e Dom Martus estavafebril, deitado em seu leito, aguardando o úl-timo suspiro. Ele ordenou que sua dor fossealiviada antes do pôr do sol, porque nãoqueira morrer de noite. Ele temia que sua luzse apagasse nas horas escuras. Quando Tu-ríllio recusou-se a ceifar a pouca vida queainda restava em seu senhor, Dom Martussussurrou:

Eu ordeno. Eu sou senhor das terras de Kristino.Sobrevivente do quarto eclipse. Defensor de KzurAscaria. Eu ordeno que você me mate antes do pôrdo sol.

Não quero morrer na noite. Eu vi a noite, a maislonga de todas. Você viu. Mas vocês ficaram noscastelos, nos fortes. Eu estava lá, na batalha. Oshorrores das coisas que não sabíamos... eles vêmcom as sombras.

Os que atravessaram os burgos não eram tudo.Havia coisas piores. Eu não vi, ninguém viu tu-do, graças ao Criador. É melhor que fiquem nassombras...

Mas eu ouvi! Eu senti! O cheiro! Você sabe comoé? As garras te agarrando e arrastando para a

escuridão, você tem que lutar como um animal sel-vagem para não ser levado. Essa é a verdade!

Não foi uma batalha, não foi uma guerra! Nósnão podíamos fazer nada, estávamos lutando so-mente para sobreviver. Estávamos... para não irpara o mundo escuro... Poucos sobraram... eu nãoquero ir na noite. As sombras vão me levar paralá, para a escuridão. Me deixe morrer de dia,quando o Criador ainda brilha... não quero ir nanoite... não quero ir... noite...

Quando Dom Martus exalou seu último sus-piro, Turíllio olhou pela janela. Era noite.”

Houve silêncio. Ouvia-se somente o crepitardo fogo ao redor do qual os três viajantes es-tavam sentados.

― As sombras levaram ele? – perguntou omais jovem.

O homem que acabara de contar a história,Tomaz, riu da facilidade com que o garoto seentregara á narrativa.

― Não se preocupe. Um homem como DomMartus certamente já tinha um lugar reserva-do ao lado do Criador.

Os três viajantes estavam acomodados ao re-dor de uma fogueira, acesa em uma lareirapróxima da encruzilhada onde se encontra-ram. Haviam partilhado uma refeição e seuscavalos estavam adormecidos, amarrados auma árvore.

Tomaz bebeu mais um gole de vinho, limpou abarba com a manga e passou o cantil para o in-divíduo silencioso a sua esquerda. Akiles aceitouo vinho e aproximou-se do fogo para contarsua história. Seus cabelos compridos ocultavamsuas orelhas pontudas, mas sua voz suave e ma-dura não escondia sua ascendência élfica.

Escrito por Ivan Coluchi (também disponível em áudioconto)

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― Você fala dos horrores que vêm com oeclipse, Tomaz, mas esses são tormentos pas-sageiros. Os filhos das sombras vêm, destroeme retornam ao mundo escuro. Há outros tor-mentos que não desaparecem com a aurora.

“Eu contarei a trágica história de dois irmãos.Trágica para um deles, pelo menos.

O primogênito era habilidoso e moderado. Ocaçula era audacioso e imprudente. Amboseram bravos guerreiros e tiveram suas desa-venças no passado, mas quando o sol míngua,todos os motivos mesquinhos são deixadospara trás. Pelo menos era o que acreditava oirmão mais velho. Esse foi seu erro.

Quando as sombras vieram, o caçula fez algoque ninguém ousaria: ele trocou um mal pelooutro. Ele caminhou até as montanhas, aden-trou as cavernas e pediu ajuda para o monstrode fogo que morava naquele lugar esquecido.

A criatura era uma fornalha viva e iluminou anoite, protegeu os irmãos. O Grande Criadorvoltou a brilhar no céu e as sombras foramembora como vieram, em silêncio.

O irmão mais velho respirou aliviado, mesmosabendo da imprudência que fora pedir auxílioà monstruosidade de fogo. O que ele não sa-bia, é que havia um preço a pagar pela prote-ção. O caçula prometera ao monstro ostesouros e os filhos de seu irmão, que viveriampara servir.

As sombras vieram e foram, com toda a des-truição de que são feitas. Mas o sol nunca maisiluminou o caminho do irmão mais velho, poisseu caçula projetava uma sombra mais densado que o eclipse.”

― Foi isso que aconteceu com os elfos? É umaalegoria, não é? Não sabia que eles tinham si-do traídos. Eu achava que os reinos humanos...

― Cuidado, garoto. Você precisa aprender quetão importante quanto conhecer as histórias, épreciso conhecer quem as conta – advertiuTomaz e, virando-se para o elfo, afirmou – Éum belo arco que você traz em suas costas,meu amigo.

― É apenas um arco – Akiles respondeu comfrieza, encolhendo os ombros. Ele carregavaem suas costas uma aljava com poucas flechase um arco com ornamentos simples, porémtalhados com muito detalhe em uma madeiranobre.

― Pois eu ouvi relatos de outros elfos comovocê, com outros arcos como esse, rondandoos reinos e incitando...

― Mas não é sua vez de contar uma história,Tomaz. Você já teve sua palavra e eu já tive aminha. Agora é a vez do garoto.

Mikael, o mais jovem dos três, sentiu osolhares curiosos dos dois companheiros vol-tarem-se para ele. Ainda não estava acostu-mado a ser o centro das atenções e nuncaantes encontrara um público tão seleto. Ten-tando soar confiante, ele começou:

― Vocês contam histórias do passado. Então,eu vou falar do futuro.

― Não seja tolo – repreendeu Akiles com avoz de um adulto ao corrigir uma tolice decriança.

― Você não pode contar o que ainda nãoaconteceu, Mikael – emendou Tomaz.

― Desculpe. Não... não foi o que quis dizer.Desculpe. Não sei do futuro. – o jovem ficouem silêncio durante alguns instantes e retor-nou a falar, com insegurança – Mas ouvi ru-mores, nas tavernas, nos salões, até mesmo deoutros bardos. Dizem que os animais estãoficando inquietos, vocês repararam? Quandoo eclipse vem, os animais são os primeiros anotarem. Pelo menos é o que dizem. E osanões? Eles andam sérios ultimamente, com-prando quantidades enormes de provisõespara suas fortalezas nas montanhas. Sempreme contaram que os anões se fazem de bobose brutos, mas que eles sabem mais do que di-zem. Talvez eles realmente saibam. Talvezeles vejam, do alto de suas montanhas-estadocoisas que nós não conseguimos ver daqui debaixo.

O olhar de Mikael estava fixo no fogo.

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― Ver a sombra crescendo sobre o mundo.Saber que, não importa o quanto rezemos paraa proteção da Luz, o eclipse virá. Não seremoscavaleiros, bardos, camponeses ou nobres. Se-remos apenas homens assustados. Tudo o quea luz trouxe a tona no último solstício, tudo oque vivemos nos últimos séculos, tudo o que ohomem ergueu, o que ainda estará de pé napróxima aurora? – as palavras fluíam, como seestivesse contando uma história que fora re-petida diversas vezes em sua cabeça – As his-tórias que eu ouvi sobre a longa noite, eununca quis contá-las, porque eu sei que sãomais do que histórias, são lembranças. E eudesejo que elas continuem assim, lembrançasde outras pessoas, não minhas. Mas eu vejonos olhares dos homens estudados, eu ouçono silêncio dos animais quando a noite cai, eusinto no calor do sol que parece não aquecercomo antes. Eu direi o que todos nós pensa-mos e não temos coragem de nomear, o queeu mesmo não estou certo se tenho coragemde pronunciar.

Mesmo antes de ouvi-las, seus dois compa-nheiros já sabiam as palavras. Elas estavam emsuas mentes, mas seus corações não queriamafirmá-las. Mikael pronunciou a verdade quetodos falhavam em ignorar.

― Nós veremos o eclipse. A escuridão serámais densa do que se fechássemos nossosolhos. Que o Criador tenha piedade de nós.

Silêncio.

Os três contadores de histórias fitavam o fogo,não ousaram desviar o olhar para encarar anoite. Ninguém dormiu pelo resto da madru-gada.

Ao raiar do sol, os três bardos despediram-secordialmente e retornaram à estrada. Cada umseguiu seu caminho sabendo o fardo que car-regariam: falar aos homens sobre o inevitável.Viviam para contar histórias, mesmo as queeles próprios não queriam ouvir.

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A noite estava fria, como sempre no início doinverno. Por cima dos telhados havia aindauma fina camada de gelo, iluminada pelosprimeiros raios de luz vindos da lua, dando umar místico ao pequeno povoado construídosobre as planícies abertas da fronteira oeste doreino de Cordalia: a vila de Diulik.

Naquele dia, a estalagem estava quase vazia,como de costume. Apenas três pessoassentadas a uma mesa estavam lá, além doestalajadeiro. Um deles era o famoso Nathan“Caolho”. Um velho de barba bem feita, oolho esquerdo azul penetrante e um tapa-olho,que escondia sua cicatriz no lado direito.Quando cinco aventureiros entraram noestabelecimento deram de cara com o olharpenetrante do velho. Os olhares de todos secruzaram com aquele azul profundo queparecia refletir dentro de si a claridade de umcéu aberto e gélido.

Os cinco se sentaram e tiveram sua refeição esuas taças de vinho antes que Nathan osabordasse:

— Aproveitaram bem sua refeição? – os cincose entreolharam e um deles se pronunciou.Um homem de porte forte, pele morena ecabelos cacheados.

— Sim, velho, aproveitamos muito bem!Esperamos que tenha também aproveitadotodas as taças de vinho que tomou. É um bomvinho o que servem aqui, com certeza trazidoda região mais central do reino por algummercador audacioso.

O velho, sem demora respondeu:

— Sim, audacioso e tolo...

— Tenha uma boa noite! – disse o porta-vozdos aventureiros, interrompendo o velho elevantando-se da mesa.

— Não vá, não ainda. Pensa que pode tratar-me assim?! O que os Defensores fazem aqui?

Lançando um olhar sinistro para o velho, ohomem de cabelos cacheados disse:

— Nosso assunto aqui não é do interesse deninguém, exceto o nosso próprio! Ao menospor hora! Melhor ir para sua casa, parar debisbilhotar, e cuidar bem de sua família.

— Família? – interrompeu Nathan – Nãotenho família! Vieram até as ruínas, não é!?

— Não temos tempo pra isso, velho! Seviemos às ruínas, como eu já disse, não é desua conta!

Assim, o grupo se arrumou, e foi ter com oestalajadeiro. Em poucos minutos, elesestavam indo ao andar inferior do local, paraa área dos quartos. Então, Nathan seaproximou do dono do estabelecimento comseu olhar sinistro, sentou-se ao balcão evoltou a falar:

— As antigas ruínas! Já ouviu falar delas, éclaro! Cerca de 15 km daqui. Todos sabem!Todos ouviram as histórias desde a infância!Quando cheguei aqui, e comecei a meestabelecer, viajando da costa até a terra dosanões, trazendo todos os produtos que a vilapode precisar, eu ouvi imediatamente aspessoas me alertando sobre passar por lá!

“Acontece, que um dia resolvi ir! Curioso!Tolo! A construção do tempo do antigoImpério de Kzur Ascaria é magnífica. Porém,era noite quando passei e ouvi os ruídos, ossussurros. Os magos do antigo império, aoque se diz, usavam esse local como umlaboratório, para estudar e compreender osFilhos das Sombras no último eclipse!Sempre me perguntei o que havia lá!”

— Bobagem – interrompeu o estalajadeiro –

O DIA ESTAVA FRIOEscrito por Fabrício Zambon

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Os magos de outrora não fariam isso aqui, tãolonge de tudo!

— Exatamente aqui que fariam, meu velhoamigo – retrucou Nathan – longe de tudo,onde os horrores ficariam escondidos.Audaciosos foram os fundadores de Diulik,que não prestaram atenção às histórias.Esqueceram-se das eras passadas, e deixaramde lado as ruínas, como apenas uma antigaconstrução. Claro! Se não passar por lá, estarátudo bem! Eis porém que Defensores estãoaqui!

— Sim, notei que vestem todos preto – disse oestalajadeiro limpando com seu pano algumascanecas.

Nathan então prosseguiu:

— Eu sei que há algo lá, que as lendas dizem averdade! Que ainda há algo dos Filhos dasSombras naquele local! Eles também sabem.Nunca viajam em grupo em vão!

Nesse instante, um rapaz jovem pertencenteao grupo de aventureiros, com olhar soberbo ecoberto por suas vestes pretas subiu as escadase se dirigiu aos dois, fazendo sinal para umataça de vinho:

— Sim! É verdade! As noites estão ficandomais escuras! Se um novo eclipse vier,devemos nos antecipar! Todos veem, masninguém quer admitir, ninguém quer acreditar!Mas precisamos ir às ruinas, e descobrir se háalgo deixado pelos magos que possa nosajudar caso uma nova era de terror se inicie! –ele lançou seu olhar ao vazio, e completou –Que o criador nos ajude! Agora que vocêssabem, façam como o capitão falou! Cuidemde suas famílias, amigos! Aproveitem os dias!Nunca se sabe quando eles darão espaço àstrevas...

Nathan simplesmente se levantou. Oestalajadeiro olhou para o chão, como quebuscando algo que não estaria lá! O jovemrapaz saiu após virar o último gole de suabebida e desceu novamente as escadas.

No dia seguinte, quando o grupo saiu pelamanhã, o estalajadeiro, sua família, alguns

curiosos e Nathan estavam lá, e osobservaram fixamente! Em suas mentes elespediam ao criador que os acompanhassem!Pediam também que os Defensores nãofossem necessários! Pediam qualquer coisaque aliviasse seu coração! Os cinco acenaramsolenemente, subiram em seus cavalos, eforam em direção às ruínas, cumprir suamissão de zelar por um mundo que os teme.Um mundo que sabe o propósito de suaexistência. Um mundo que sabe que suasações se intensificam quando o mal espreita.Pois os que vestem preto, esses sempresabem, e sempre souberam, que quando asnoites ficam mais escuras, uma idade deterror se aproxima...

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O grupo de ciganos havia chegado à cidade--estado livre de Doria havia poucos dias.Desde então, inúmeros acontecimentos es-tranhos estavam ocorrendo.

Alguns animais foram encontrados mortosno meio das ruas, assim como gritos foramouvidos durante algumas noites vindos dediferentes partes da cidade. Os ciganos nãocostumam ser muito bem recebidos, pois sesabe que alguns deles possuem o “dom”, emesmo em terras fora dos reinos, como Do-ria, onde as pessoas vivem do comércio e damanufatura e estão acostumadas a viajar e verviajantes, as pessoas os tratam com cautela.Mas as suspeitas ficaram ainda maiores doenvolvimento deles com os ocorridos quandofoi anunciado que o Conselho dos Eleitosenviara soldados para buscar uma pequenacomitiva de “magi”, que em poucos diaschegou à cidade.

Embora existam magi por todos os lados su-bordinados ao Círculo da Alta Magia, era algoincomum vê-los em Doria, afinal, eles são emgrande parte concentrados nas torres cons-truídas nos reinos da Arlia e Cordalia. Elesestavam ali para investigar algo obviamenteconsiderado sobrenatural, provavelmentealém das capacidades da milícia local ou deinteresse restrito. O medo começou a tomarconta da população assim como os soldadosda comitiva dos magi começaram a tomarconta das ruas. Um dia após a chegada da co-mitiva, em meio a um clima tenso, um dossoldados da milícia de Doria chegou às portasda construção na parte mais alta da cidade,chamada de Casa dos Eleitos, onde o conse-lho se reúne. Ele entrou apressado, e não seintimidou ao se deparar com o conselho reu-nido com o chefe dos magi. Em tom de certodesespero ele se pronunciou:

— Senhores! Peço a palavra por obséquio! Éde extrema urgência e importância.

Com um sinal de consentimento, os conse-lheiros apenas permaneceram em silêncio.

— Os ciganos estão desaparecidos! Algunsdos nossos foram ao encontro deles na saídada cidade como nos foi orientado, mas en-contramos apenas as carroças e vagões cheiosde ervas, algumas armas e diversos frascos depoções. Porém, cerca de uma hora depois, foirelatado o achado de um corpo que foi iden-tificado como um dos ciganos, perto à umaantiga casa abandonada na parte norte da ci-dade. Poderíamos enviar militares para lá,porém, hoje cedo, na parte sul da cidade umgrupo grande de servos iniciou uma rebelião.Aparentemente, eles estão armados e tem lí-deres com eles. Acreditamos serem “Incita-dores” elfos. Precisamos de uma orientaçãorápida!

Os conselheiros se entreolharam, e fazendoum novo sinal, pediram a retirada do oficial.A reunião prosseguiu:

— Meus caros! – Disse Uroden, o inquisidorda comitiva dos magi – Não temos mais tem-po a perder! Algo potencialmente perigosoestá acontecendo, e fugindo às nossas linhasprincipais de investigação! Sugiro que mepermitam usar dos meus meios, e ampliar aforça do circulo aqui. Nenhum dos que veio éum mago propriamente dito! Precisamosconvocá-los!

— Acalme-se Uroden! Não queremos maisconfusão! – disse um dos conselheiros, apa-rentemente o mais velho dos 8. – Devemosanalisar bem a situação.

— Não temos alternativas senhores. – Seguiuo inquisidor.

CIGANOSEscrito por Fabrício Zambon

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— Sim, temos! – Com um movimento brus-co, um dos conselheiros se levantou, e conti-nuou dizendo em voz imponente e segura. –Devemos mandar nossos destacamentos paraconter a rebelião dos serviçais. E para evitarmais alarde, e manter certa discrição, deve-mos convocar aventureiros mercenários parainvestigar mais a fundo o caso envolvendo asmortes de animais. Além disso e do desapa-recimento dos ciganos não temos muitoselementos concretos quanto à isso. Não de-vemos nos desesperar, apenas enviar alguémbem pago á construção onde encontraram ocorpo do cigano para investigar e trazer maiselementos para nós! Sugiro também queUroden se encarregue de orientar os aventu-reiros e seus soldados para tal tarefa! Todosde acordo?

Os conselheiros se entreolharam rapidamente,em grande sintonia, e antes que Uroden pu-desse se pronunciar, Todos ergueram as mãos,como um sinal de voto positivo à sugestão!Estava aprovada!

O rapaz que trouxera o relatório da situaçãofoi convocado novamente à sala de reuniões,e a ele foi dado um pergaminho com as in-truções de convocação de mercenários. Eledesceu as escadas e foi de volta em direção àcidade, buscar os candidatos à realizar amissão...