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Revista Pensar Gastronomia, v.3, n.1, abr. 2017 Gastronomia na Literatura Infantil: a Cozinha da Tia Nastácia na Obra de Monteiro Lobato Gastronomy in Children's Literature: Tia Nastácia’s Kitchen in Monteiro Lobato Work Marcelo de Andrade 1 Renata de Paula Oliveira 2 Resumo: Este artigo tem o intuito desenvolver ideias relativas à cozinha de Tia Nastácia, importante personagem do Sítio do Pica-Pau Amarelo, livro de Monteiro Lobato. Pretende ainda, e com base em referida personagem, demonstrar a importância da Gastronomia nos textos do autor infantil. Visando atingir os objetivos propostos, o presente texto terá todo o seu desenvolvimento sustentado em bases teóricas de pesquisa. Pesquisas bibliográficas sustentarão as ideias que aqui se desenham. Palavras-chave: Gastronomia; Literatura Infantil; Sítio do Pica-Pau Amarelo; Tia Nastácia; Monteiro Lobato. Abstract: This article has the intention to develop ideas relating to Aunt Nastasya’s kitchen, important character of Sitio do Pica-Pau Amarelo, Monteiro Lobato’s book. It intends to, and based on that character, demonstrate the importance of gastronomy in the children's author texts. In order to achieve the proposed objectives, this text will be sustained development in theoretical research bases. Bibliographical research will support theideas. Keywords: Gastronomy; Children´s Literature; Sítio do Pica-Pau Amarelo; Tia Nastácia; Monteiro Lobato. 1 – Introdução A Gastronomia no Brasil há muito se difunde como importante parte do cotidiano das pessoas: diferentes culturas fazem da culinária nacional um prato cheio para aprofundamento de estudos e de aprendizagem 3 . E se no dia-a-dia a Gastronomia se apresenta como acessível àqueles que a amam e a consideram como uma arte, natural seria pensar que, em algum momento, a Literatura também seria parte desse processo de difusão da arte de cozinhar: o texto que aqui se desenha pretende, entre tantas possibilidades, discutir como a Gastronomia, na figura da personagem Tia Nastácia, constituiu/constitui 1 Licenciado em Letras pela PUC-MG. Aluno do curso de Gastronomia da Faculdade Promove. E-mail: [email protected] 2 Mestre em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Professora de Português Instrumental do curso de Gastronomia da Faculdade Promove de Belo Horizonte. E-mail: [email protected]. 3 FOLHA DE SÃO PAULO. Chef estrelado diz que a gastronomia do Brasil está ‘pronta para a competição’. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/comida/2015/06/1648922-chef-estrelado-diz-que-gastronomia-do- brasil-esta-pronta-para-a-competicao.shtml. Acessado em: 10. març. 2016.

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Revista Pensar Gastronomia, v.3, n.1, abr. 2017

Gastronomia na Literatura Infantil:a Cozinha da Tia Nastácia na Obra de Monteiro Lobato

Gastronomy in Children's Literature:Tia Nastácia’s Kitchen in Monteiro Lobato Work

Marcelo de Andrade1

Renata de Paula Oliveira2

Resumo: Este artigo tem o intuito desenvolver ideias relativas à cozinha de Tia Nastácia, importantepersonagem do Sítio do Pica-Pau Amarelo, livro de Monteiro Lobato. Pretende ainda, ecom base em referida personagem, demonstrar a importância da Gastronomia nos textosdo autor infantil. Visando atingir os objetivos propostos, o presente texto terá todo o seudesenvolvimento sustentado em bases teóricas de pesquisa. Pesquisas bibliográficassustentarão as ideias que aqui se desenham.

Palavras-chave: Gastronomia; Literatura Infantil; Sítio do Pica-Pau Amarelo; Tia Nastácia;Monteiro Lobato.

Abstract: This article has the intention to develop ideas relating to Aunt Nastasya’s kitchen, importantcharacter of Sitio do Pica-Pau Amarelo, Monteiro Lobato’s book. It intends to, and basedon that character, demonstrate the importance of gastronomy in the children's author texts.In order to achieve the proposed objectives, this text will be sustained development intheoretical research bases. Bibliographical research will support theideas.

Keywords: Gastronomy; Children´s Literature; Sítio do Pica-Pau Amarelo; Tia Nastácia; Monteiro

Lobato.

1 – Introdução

A Gastronomia no Brasil há muito se difunde como importante parte do

cotidiano das pessoas: diferentes culturas fazem da culinária nacional um prato

cheio para aprofundamento de estudos e de aprendizagem3.

E se no dia-a-dia a Gastronomia se apresenta como acessível àqueles

que a amam e a consideram como uma arte, natural seria pensar que, em algum

momento, a Literatura também seria parte desse processo de difusão da arte de

cozinhar: o texto que aqui se desenha pretende, entre tantas possibilidades, discutir

como a Gastronomia, na figura da personagem Tia Nastácia, constituiu/constitui

1 Licenciado em Letras pela PUC-MG. Aluno do curso de Gastronomia da Faculdade Promove. E-mail:[email protected] Mestre em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Professora de PortuguêsInstrumental do curso de Gastronomia da Faculdade Promove de Belo Horizonte. E-mail:[email protected] DE SÃO PAULO. Chef estrelado diz que a gastronomia do Brasil está ‘pronta para a competição’.Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/comida/2015/06/1648922-chef-estrelado-diz-que-gastronomia-do-brasil-esta-pronta-para-a-competicao.shtml. Acessado em: 10. març. 2016.

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relevante papel dentro da Literatura infantil, especialmente – será Monteiro Lobato e

o seu Sítio do Pica-Pau Amarelo4 o que ajudará a decifrar/entender como a comida

tem o poder de aproximar pessoas, desenvolver o imaginário infantil e alimentar

corpos, mentes e corações nas histórias infantis.

Sousa (2013) resume o nascimento da grande obra de Monteiro Lobato:

Objetivando a formação de um novo público e os caminhos que a literaturainfantil emergia de seus ideais, (Lobato) resolve criar um lugar em que aimaginação e as aventuras infantis tivessem espaço garantido e, para aconcretização desse sonhador, Lobato, audaciosamente resolver criaratravés das letras um lugar onde a calmaria e as turbulências aventureiraspudessem ser uma constante. Nascia, portanto, o Sítio do Pica PauAmarelo. (SOUSA, 2013, p. 3)

Pretende-se identificar nas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo5

manifestações da gastronomia e o significado que as personagens dão a ela,

principalmente, aqueles relacionados à importância dos alimentos nas relações

pessoais. Além disso, buscar-se-á comparar os exemplos dados pela Tia Nastácia,

no livro de Lobato, com pesquisa bibliográfica sobre significados de termos pontuais

na/da gastronomia, como práticas de higiene e sustentabilidade.

No livro de Monteiro Lobato, deve-se ressaltar, que muitas são as

personagens que buscam dar vida ao texto. Entre elas, e como dito anteriormente,

está aquela que norteará o estudo em comento: Tia Nastácia, que exerce em OSítio do Pica-Pau Amarelo a função de cozinheira - e a alimentação será, no livro

de Lobato, importante estratégia para reforçar ou construir relações sociais, bem

como demostrar a cultura brasileira e seu folclore.

Extremamente atual, o autor já nos alertava, com a figura de Tia

Nastácia, para a necessidade de aplicar a sustentabilidade na cozinha: temas como

desperdício serão abordados pela importante cozinheira e pelos demais

personagens, como quando Dona Benta relata para as crianças a receita do sabão

de cinzas feito por Tia Nastácia, utilizando sebo e restos de gordura na história

Serões de Dona Benta6. (LOBATO, 1982?).

As histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo, de maneira geral,

apresentam diversos exemplos de uso intencional da alimentação com objetivos

4LOBATO, Monteiro. Sitio do Pica-Pau Amarelo. São Paulo: Editora Brasiliense,1982(?). 4v5 LOBATO, Monteiro. Sitio do Pica-Pau Amarelo. São Paulo: Editora Brasiliense,1982(?). 4v6 LOBATO, Monteiro. Serões de Dona Benta. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense,1982(?). v. 4, p. 1766.

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muito além da nutrição. Em muitas situações, os quitutes feitos pela Tia Nastácia,

por exemplo, serão mencionados na obra de Monteiro Lobato inclusive como

solução de problemas das histórias: depois de vencida alguma dificuldade, todos se

convidam para comerem bolinhos de chuva ou outra iguaria preparada por ela. Além

disso, muitas decisões também são tomadas pelos personagens à mesa.

Segundo Flandrin e Montanari (1998), é a comensalidade que distingue o

homem civilizado dos animais e dos bárbaros. Para os autores, o homem civilizado

busca transformar o momento da alimentação em “um ato carregado de forte

conteúdo social e de grande poder de comunicação (...)”. (FLANDRIN; MONTANARI,

1998, p. 108).

Acredita-se que, ao unir os textos do livro de Lobato em um único

trabalho, dar-se-á visão mais ampla à importância da gastronomia no

desenvolvimento do ser humano, através das situações vividas pelas suas

personagens. De tal forma, e tendo como base as considerações apresentadas, o

presente artigo debaterá o seguinte questionamento: qual a importância da

gastronomia de Tia Nastácia nas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo, de

Monteiro Lobato? Para tanto, e diferentemente de muitos trabalhos na área de

Gastronomia, que enfatizam o seu desenvolvimento em análises sensoriais e

aplicações práticas, o presente artigo terá todo o seu desenvolvimento sustentado

em bases teóricas de pesquisa.

Assim, e a fim de se alcançar os objetivos propostos, como metodologia

será realizada pesquisa bibliográfica em literatura científica (artigos, teses,

dissertações etc.) que relacione a gastronomia e o Sítio do Pica-Pau Amarelo. O

livro de Monteiro Lobato será o ponto principal na investigação que se propõe.

A Metodologia cabe lembrar, é a parte do projeto responsável por dizer ao

leitor quais métodos de pesquisa serão utilizados para se atingir os objetivos

propostos. (LAKATOS, 1992). De tal forma, faz-se importante pontuar que o

presente texto trabalhará com a pesquisa exploratória, enfatizando a pesquisa

bibliográfica, principalmente: serão realizadas leituras de livros, artigos, periódicos e

materiais outros, impressos ou digitais, que possam contribuir de forma ativa na

discussão proposta. A pesquisa aplicada também direcionará a discussão que se

quer desenvolver, aprofundando conhecimentos e debatendo questões pontuais,

quando necessário.

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Espera-se que o desenvolvimento das ideias aqui apresentadas seja tão

prazeroso como um quitute da famosa cozinheira. Além disso, faz-se importante

lembrar que a discussão aqui proposta pode disseminar entre os discentes,

principalmente, a importância do estudo teórico na área eleita, pois é ela quem

permitirá o desenvolvimento de tantas e possíveis outras relações.

2 – Autor, personagens e a figura de Tia Nastácia em O Sítio do Pica-Pau Amarelo

Monteiro Lobato nasceu em 1882 e morreu em 1948. Conceituado autor

foi o responsável por traduzir, através das suas histórias de ficção, muitos exemplos

da cultura brasileira do século passado, pontuando inclusive sobre a rica relação que

as pessoas desenvolviam com a alimentação, o que hoje vem sendo estudado e

explorado pela gastronomia.

Costa (2011) traça um perfil gastronômico de Monteiro Lobato, mostrando

como ele gostava dos alimentos simples e que acabaram sendo incluídos na

cozinha de Tia Nastácia:

Adepto do leitão pururuca, picadinho e feijoada, entre outros petiscos daterra, (Lobato) apreciava a boa comida “mastigável”, que nutre e sustenta.Biscoito de polvilho, sequilhos, curau e paçoca eram seus quitutes da roçapreferidos, mas não dispensava goiabada cascão, sagu, banana frita e bolode fubá. Sem falar na rapadura que ele picava e punha no bolso para irmastigando durante o dia.

E, como se pode ver por uma carta de 1903, enviada ao escritor mineiroGodofredo Rangel, Lobato era adepto de um tira-gosto inusitado:

“Não és capaz, nunca, de adivinhar o que estou comendo. Estou comendo...Tenho vergonha de dizer. Estou comendo um companheiro daquilo quealimentava S. João no deserto: içá torrado!”. Perdendo o medo de parecerestranho, ele divaga, exagerando: “Sabe, Rangel, que o içá torrado é o queno Olimpo grego tinha o nome de ambrosia? Está diante de mim umalatinha de içás torrados que me mandam de Taubaté. Nós, taubateanos,somos comedores de içás”, referindo-se às saúvas caçadas no verãoquando saem em revoada. Para Lobato, içá era o caviar do Vale doParaíba, que ele degustava devagar enquanto escrevia. (COSTA, 2011)7

7 COSTA, Ewrton Rubens Coelho. Confrafria Gastronômica do Barão de Gourmandise. 2011.Blog. Disponível em: <http://confrariadobaraodegourmandise.blogspot.com.br/2011/04/mesa-com-monteiro-lobato-resgate-da.html>. Acesso em: 25 maio 2016.

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De todas as suas obras, O Sítio do Pica-Pau Amarelo8 é a que mais se

destaca na literatura infantil: a diversidade das personagens do Sítio do Pica-Pau

Amarelo mostra a cultura do autor e a sua preocupação em retratar os diversos tipos

sociais de brasileiros (estereótipos?), como a senhora branca (Dona Benta), a órfã

(Narizinho), o menino inteligente (Pedrinho) e a negra de estimação (Tia Nastácia),

entre outros (LOBATO, 1982?, v.1).

As histórias de Lobato cabem ressaltar, ainda hoje povoam o imaginário

de crianças que estão em fase de alfabetização, e de adultos que aprofundam seus

estudos em ensinos superiores - prova disso foi a versão televisiva exibida em

meados de 20019. Além disso, O Sítio do Pica-Pau Amarelo, de forma

vanguardista, torna-se um modelo de sustentabilidade, uma vez que temas como

desperdício e distribuição de renda já seriam abordados pelas personagens.

Fensterseifer (2005), ao analisar a nova versão televisa do Sítio do

Pica-Pau Amarelo – lançada em 2001 –, apresenta as principais personagens

dividindo-as em cinco grupos: as crianças (Narizinho e Pedrinho), os bonecos

(Emília e Visconde de Sabugosa), as personagens do folclore (a Cuca e o Saci),

os animais (o Marquês de Rabicó, o Conselheiro, que é um burro falante, e o

Quindim, que é um rinoceronte domesticado) e os adultos (Dona Benta, Tio

Barnabé e Tia Nastácia). Cada personagem de Lobato parece ter sido

cuidadosamente delineada a fim de cumprir papeis sociais específicos e de

representar um imaginário capaz de representar a brasilidade de cada um.

Vejamos.

Para Fensterseifer (2005, p. 53-56), Narizinho, por exemplo, é a "neta de

Dona Benta. É uma menina de oito anos que mora no Sítio do Pica-Pau Amarelocom a avó. É uma menina gentil, carinhosa e inteligente”. Pedrinho, por sua vez, é

um “garoto de dez anos, também neto de Dona Benta, mas que mora com a mãe na

cidade e vai para o Sítio nas férias”.

No que diz respeito aos bonecos, Emília

é uma boneca de pano, recheada de macela – foi a porta-voz de Lobatoem momentos importantes e em assuntos mais polêmicos”. Já Viscondede Sabugosa “é um boneco de sabugo de milho feito por Pedrinho, queficou esquecido na biblioteca entre os livros. Aprendeu tudo o que leu evirou um sábio, uma verdadeira enciclopédia ambulante.

8 LOBATO, Monteiro. Sitio do Pica-Pau Amarelo. São Paulo: Editora Brasiliense,1982(?). 4v9 A primeira adaptação do livro de Monteiro Lobato para a televisão aconteceu em 1952.

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(FENSTERSEIFER, 2005, p. 53-56).

As personagens do folclore brasileiro também têm participação essencial

no texto de Lobato, como a Cuca e o Saci, que vivem atormentando os moradores

do Sítio, principalmente a vida de Tia Nastácia e Tio Barnabé. Os animais, assim

como os adultos, também cumprem a sua função no texto de Lobato, uma vez

que, usando do artifício da prosopopeia, o autor dá voz a eles.

Dona Benta, deve-se enfatizar, é a dona do Sítio que servirá de

cenário para todas as histórias narradas; Tia Nastácia “já Foi escrava de Dona

Benta quando jovem, e é a empregada do Sítio, cozinheira de mão cheia: é uma

negra com setenta anos de idade”. (FENSTERSEIFER, 2005, p. 53-56).

Apesar do sucesso que a obra televisiva sempre alcançou, Romano

(2010) alerta para a diferença entre esta e a obra literária: muitos professores

conhecem a obra de Lobato através das imagens televisas, prejudicando o

entendimento da linguagem do autor.

Embora de boa qualidade, a obra televisiva não é a obra literária, e a ricalinguagem lobatiana, por exemplo, não pode ser recuperada pela imagem.Muitos professores que se formaram naquela época tomaram contato com aobra de Lobato apenas pela linguagem da televisão e quase nunca tiveramem mãos o texto propriamente dito. Ao levarem Lobato para a sala de aula,quando isso acontece, recordam-se apenas das imagens e não dasexperiências vivenciadas com o texto. Assim ocorre também com asgerações seguintes a desses profissionais: muito pouco conhecem sobre olúdico presente nos textos infantis de Monteiro Lobato. O professor precisaconscientizar-se de que os textos desse autor faziam parte de um projetomaior que era o de ‘ampliar o universo cultural dos seus leitores’.(ROMANO, 2010, p. 213-214).

Segundo Wolfgang Iser, citado por Bárbara Necyk,

[...] o texto literário é por essência um texto com ‘vazios’ ou ‘intervalos’ aserem preenchidas pelo leitor, segundo o que ele é, ou seja, segundo seurepertório constituído da vida social, cultural e comunitária. Não existemverdades estabelecidas pelo autor e a produção de sentidos é umaconstrução efetuada entre o texto e o leitor. (ISER apud NECYK, 1978)10

Nas histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo, o leitor é convidado a

preencher os vazios citados acima. As crianças, seja pela inocência, seja pela

criatividade, constroem um mundo cheio de aventuras e fantasias. Não diferente

10ISER, Wolfgang. The Act of Reading.The Johns Hopkins University Press.Baltimore e London, 1978

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disso, e após citar várias de suas personagens moradoras do Sítio, a figura da Tia

Nastácia é apresentada por Lobato da seguinte forma: “na casa ainda existem duas

pessoas – tia Nastácia, negra de estimação que carregou Lúcia em pequena, e

Emília, uma boneca de pano bastante desajeitada de corpo”. (LOBATO, 1982?, p.3).

Tia Nastácia, além de cozinheira da família, é aquela que também atende

a porta. Quando o Príncipe Escamado visita o Sítio com toda sua corte, em uma das

várias histórias de Lobato, apesar de todos estarem à mesa, Dona Benta grita para a

cozinha: “Nastácia, venha ver quem bate”. (LOBATO, 1982?, p. 64)

De tal maneira, faz-se impossível falar de Tia Nastácia sem citar sua

relação com a “Sinhá”: Dona Benta é a antítese da cozinheira. Detém o saber

erudito, o conhecimento científico e o poder matriarcal. Trata Tia Nastácia como a

uma amiga, mas o espaço destinado a ela, Tia Nastácia, é o espaço da cozinha.

Veloso (2012) traça um paralelo entre as duas personagens, entretanto dar-se-á

ênfase à descrição de Tia Nastácia. Santos (2007) descreve a relação de

dependência da cozinheira com a dona do Sítio:

(...) a dependência pessoal de Tia Nastácia em relação à Dona Benta,constrói para ela uma ideia de pertencimento que se exprime numadeterminada dignidade que oferece alusão ao estatuto de indivíduo livre naordem burguesa moderna em que o Brasil queria inserir-se. (SANTOS,2007, p.255)

Para Veloso (2012), Dona Benta não é o paradigma da mulher do interior.

Ela comanda o Sítio do Pica-Pau Amarelo como uma mulher de negócios. Não fica

apenas fazendo tricô. Incentiva e até participa de muitas das aventuras dos netos.

Ela é adepta de novidades, o que torna possível, por exemplo, a chegada de um

forno de micro-ondas e a internet na última versão levada à televisão.

Enquanto Dona Benta é o repositório do conhecimento erudito na

metáfora do Brasil que Lobato faz com o Sítio do Pica-Pau Amarelo, Tia Nastácia

representa o povo, é a detentora da sabedoria popular (VELOSO, 2012).

Pedrinho, na varanda, lia um jornal. De repente parou, e disse a Emília, queandava rondando por ali: __ Vá perguntar a vovó o que quer dizer folclore.__ Vá? Dobre a língua. Eu só faço coisas quando me pedem, por favor.Pedrinho, que estava com preguiça de levantar-se, cedeu à existência daboneca. __ Emilinha do coração – disse ele – faça-me o maravilhoso favorde ir perguntar à vovó que coisa significa a palavra folclore, sim, tetéia? __Dona Bento disse que folk quer dizer gente, povo; lore quer dizer sabedoria,

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ciência. Folclore são as coisas que o povo sabe por boca, de um contarpara o outro, de pais a filhos – os contos, as histórias, as anedotas, assuperstições, as bobagens, a sabedoria popular, etc., e tal. Por quepergunta isso, Pedrinho? O menino calou-se. Estava pensativo, com osolhos lá longe. Depois disse: __ Uma ideia que eu tive. Tia Nastácia é opovo. Tudo que o povo sabe e vai contando, de um para o outro, ela devesaber. Estou com o plano de espremer tia Nastácia para tirar o leite dofolclore que há nela. (LOBATO, 1982?, p. 513).

Santos (2007) apresenta também o Tio Barnabé como análogo à Tia

Nastácia. Ambos são “representantes do ‘trabalho livre’ no Brasil dos anos 20 do

século passado”. (SANTOS, 2007, p. 249). São descendentes de escravos e

dependem da troca de favores entre eles e Dona Benta. Tia Nastácia não tem

salário, mas tem moradia, alimentação, vestimenta e a simpatia de todos na casa.

Já Carvalho11 (1989, apud SOUSA, 2013) mostra os dois personagens

negros como aqueles que conheciam e divulgavam o folclore:

Tia Nastácia, folclórica de preta velha, cuja ignorância, pura e ingênua, évivida na plenitude de suas superstições, herança dessa boa raça negra,representa uma personagem também imprescindível à obra. O tio Barnabécom a tia Nastácia formam ambos os canais humanos do Folclore na obralobatiana. (CARVALHO, 1989, p. 157)

Veloso (2012) mostra que “Tia Nastácia é representada como uma

personagem muito querida pelos leitores das aventuras do Sítio, muitos sonham em

provar seus bolinhos e pipocas”. (VELOSO, 2012, p. 2980). O bolinho de chuva12 é

muito apreciado, a ponto de o próprio Lobato mencionar no texto o envio de cartas

para Dona Benta pedindo a receita da iguaria:

‐ Pois é — disse Dona Benta — a razão da nossa viagem a estes séculosfoi uma razão ao mesmo tempo sentimental e culinária: a procura de TiaNastácia, que é nossa amiga e nossa cozinheira. E que cozinheira! Comosabe manejar o violino do “gostoso” e tirar dele mil harmonias! O maissimples guizado, um picadinho com batatas, um virado de feijão comtorresmos, um vatapá, tudo, enfim que sai de suas panelas, está para o quechamamos comida, como os mármores ali dos Senhores Fídias e Policletoestão para as esculturas comuns. Perfeitas obras‐primas.

‐ E os bolinhos, vovó? — lembrou a menina do outro lado da mesa. Osbolinhos de tia Nastácia já estão famosos no Brasil inteiro. Quantas cartas asenhora não recebe das crianças, pedindo a receita dos bolinhos de tiaNastácia? (LOBATO, 1982?, p. 1282)13

11 CARVALHO, Bárbara Vasconcelos de. Literatura infantil: visão histórica e crítica. São Paulo: Global, 1989.12 Na obra literária, o bolinho de chuva é chamado de bolinho de frigideira13LOBATO, Monteiro. O Minotauro. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, 1982(?). v. 3.

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Para um leitor mais desavisado, pode até parecer que a cozinheira tem

pouco conhecimento, e só tem uma fala em virtude das várias vezes que ela repete

a interjeição “Credo”:

Mas apesar de não dialogar tanto quanto outros personagens, Tia Nastáciamostra‐se nas ações. Não é a toa que se salvou do Minotauro com seusbolinhos; essa mulher fala com as mãos. (VELOSO, 2012, p. 89)

De toda forma, não se pode falar que Tia Nastácia não tenha cultura, que

ela não sabe nada. O conhecimento dela é empírico. Ela aprende com o dia-a-dia,

com as experiências. Este saber, deve-se lembrar, naquela época e ainda hoje, não

é muito valorizado. Não é que Tia Nastácia não saiba de nada; a questão é que ela

possui outro tipo de conhecimento. Ela domina a arte da culinária, sabe na prática, e

não nas ciências:

- (...) Até Tia Nastácia, que Emília chama de poço de ignorância, sabe ummonte de coisas científicas – mas só as sabe praticamente, sem conheceras razões teóricas que estão nos livros. Querem ver? E Dona Bentachamou a preta.‐ Tia Nastácia, que é do pano com que você enxugou amesa ontem? ‐Está no varal, secando, sinhá.‐ Bem. Pode ir. A negraretirou‐se com um resmungo e Dona Benta prosseguiu: ‐ Vê como sabecoisas e como aplica as ciências? Sabe que se deixasse o pano amontoadonum canto, ele emboloraria. Sabe que para não estragar o pano tem quemantê‐lo seco. Sabe que para secá‐lo tem de estendê‐lo no varal, aosol ou ao vento. Mas faz tudo isso sem conhecer as razões teóricas doemboloramento e da evaporação — coisas que vocês também não sabem,porque ainda não abriram nenhum compêndio de física. (LOBATO, 1982?,p.1745) 14

Embora despida de conhecimentos formais, percebe-se, no trecho acima,

que Tia Nastácia já dominava algo que atualmente é matéria de estudo no curso de

Gastronomia: Higiene e Manipulação de Alimentos. Mesmo sem ter o conhecimento

científico, Tia Nastácia sabe como limpar um frango, como manter o pano seco para

não criar bactérias, como fazer sabão com restos de gordura, práticas importantes

na disciplina supracitada.

Azeite e água brigaram

14LOBATO, Monteiro. Serões de Dona Benta. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense,1982(?). v. 4, p.1745.

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Certa vez numa vasilhaVai tabefe, vem tapona,Socovelho ali fervilha.Eis , porém, que a separá-losA potassa se apressou.Todos três se combinaram,O sabão daí dotou.

Aí está a receita que até tia Nastácia usa quando faz o que ela chama“sabão de cinza”. – Ela não, vovó – protestou Narizinho. Toda gente na roçadiz assim. (LOBATO, 1982?, p.1766)15

Na maioria das vezes em que Tia Nastácia é lembrada, tem-se sempre a

necessidade da comida ou de atender uma porta como pano de fundo das cenas.

2.1 - Gastronomia e Culinária

Para o adequado entendimento da discussão que será aprofundada,

acredita-se ser necessária a diferenciação entre duas palavras importantes no

universo da alimentação: Gastronomia e Culinária.

Segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa16, gastronomia é

substantivo feminino1. Conjunto de conhecimentos e práticas relacionados com a cozinha, como arranjo das refeições, com a arte de saborear e apreciar as iguarias.

2. Arte ou modo de preparar os alimentos, típicos de determinada região oupessoa (ex.: gastronomia goesa). = COZINHA

gastronomia molecularCiência que estuda os processos físicos e químicos que intervêm napreparação de alimentos e que investiga técnicas de confecção.

Para o Dicio, dicionário online de Língua Portuguesa17, culinária é

s.f. Arte e a ciência do preparo de alimentos para a mesa, em geral peloaquecimento, até modificar seu sabor, consistência, aparência ecomposição química. O cozimento acentua o sabor dos alimentos e torna

15LOBATO, Monteiro. Serões de Dona Benta. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense,1982(?). v. 4, p. 1766.16PRIBERAM DICIONÁRIO. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/gastronomia. Acessado em: 21 demai. de 2016.17DICIO. Dicionário Online de Língua Portuguesa. Disponível em: http://www.dicio.com.br/culinaria/.Acessado em: 21 mai. de 2016.

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sua aparência mais atraente. Torna também os alimentos mais fáceis deserem digeridos. Devido à importância da alimentação para a saúde, aculinária transformou-se numa ciência, e é ensinada em escolas efaculdades.

Sugano pensa que o

conceito de gastronomia, como compreendido na atualidade, foi popularizado pelaNouvelle Cuisine, um movimento que (...) pregava um visual artístico aos pratos,porções reduzidas e sabores muitas vezes inusitados. Desde então, as pessoasdeixaram de se alimentar simplesmente para manterem-se vivas fisicamente, mastambém passaram a nutrir seu imaginário e emoção, graças a essa modalidade, agastronomia. (SUGANO, 2015, p.19)

Tendo como referências as diferenciações acima apresentadas, pode-se

pensar, portanto, que a Gastronomia seja um ramo mais amplo que o ramo da

culinária, capaz de abranger todos os materiais que serão utilizados na alimentação,

os aspectos culturais associados a cada material, as bebidas etc., ocupando-se mais

especificamente de técnicas de confecção dos alimentos. (ALIMENTAÇÃO

SAUDÁVEL, 2016).

A culinária, por sua vez, relaciona-se com a arte de cozinhar, preparar

alimentos, modificando seu sabor e, às vezes, a sua aparência também.

(ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL, 2016).

Uma curiosidade associada a tais distinções refere-se ao fato de haver

muitos cozinheiros negros, mas poucos chefs. (ALEMÃO, 2012). (E não estaria Tia

Nastácia na contramão de tal condição? Lobato também se tornaria precursor de tal

condição: Tia Nastácia era sim e também cozinheira de mão cheia, havendo,

entretanto, momentos em que poderia ser considerada uma grande chefe de

cozinha).

Ainda para Márcio Alemão (2012)18, há várias razões para que haja

menos negros na figura de chefs. Uma delas estaria relacionada aos dizeres de

Marcus Samuelsson, citado em seu artigo: “nos EUA, quando o pai consegue ter

condições de pagar uma boa escola ao filho, costuma dizer: ‘agora você não vai

precisar cozinhar e limpar”. Você vai ser doutor’.

18ALEMÃO, Márcio. Síndrome de Tia Nastácia. In: Carta Capital. Disponível em:http://www.cartacapital.com.br/cultura/sindrome-de-tia-nastacia. Acessado em: 4 de abr. de 2016.

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Embora possam ser classificadas e diferenciadas separadamente,

gastronomia e culinária apontam para o mesmo caminho: é o amor aos alimentos

que norteia o seu desenvolvimento. E não a cor da pele.

2.2 - Monteiro Lobato e a Cozinha de Tia Nastácia

Monteiro Lobato era conhecido por ser um nacionalista fervoroso. O autor

defendia arduamente as iguarias nacionais.

Nacionalista, Lobato criticava a elite pretensamente afrancesada e esnobe,que fazia receitas com ingredientes brasileiros e as batizavam com termosfranceses. Defensor implacável das raízes, o escritor achava issodesprezível. (CHAVES, 2016)19

Quanto à tia Nastácia, Monteiro se refere a ela como

‘A melhor quituteira deste e de todos os mundos que existem. Ela cozinhouaté para São Jorge, na Lua. Quem comia uma vez os seus bolinhos nãopodia nem sequer sentir o cheiro de bolos feitos por outras cozinheiras’. Eraassim que Monteiro Lobato definia a Tia Nastácia, cozinheira e quituteira deseu sítio do Pica Pau Amarelo. Segundo o escritor, em entrevistas, apersonagem era baseada em ‘Anastácia’, cozinheira real que trabalhou emsua casa. Ela também dá nome ao novo bistrô da Rua 24 de Outubro, emCuiabá. (MERCURI, 2015)20.

Tia Nastácia até frequentava os outros ambientes da casa de Dona

Benta, mas seu lugar é bem definido: “a cozinha é o lugar onde Tia Nastácia

encontra seu limite social na maioria dos livros de Lobato. Ela apenas aparece nas

histórias quando as personagens brancas precisam de seus serviços”. (SANTOS,

2007, p. 250). Ela não consegue absorver o conhecimento científico, por exemplo,

quando é convidada por Pedrinho para assistir uma aula do Visconde de Sabugosa

sobre Geologia21. Durante os Serões de Dona Benta, outra história de Lobato,

ninguém a convida para participar. Ela fica em seu ambiente preparando a ‘merenda’

para todos os moradores e visitantes do Sítio do Pica-Pau Amarelo.

19CHAVES, Guta. Na cozinha com Monteiro Lobato. Disponível em: http://receitas.ig.com.br/na-cozinha-com-monteiro-lobato/n1237767351850.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.20MERCURI, Isabela. Inspirada na Tia Nastácia, mineira abre bistrô e pretende oferecer ‘happy hour’ainda neste mês. Disponível em: http://www.olhardireto.com.br/conceito/noticias/exibir.asp?noticia=inspirada-na-tia-nastacia-mineira-abre-bistro-e-pretende-oferecer-happy-hour-ainda-neste-mes&edt=8&id=9360. Acessadoem: 23 març. de 2016.21LOBATO, Monteiro. O poço do Visconde. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, 1982. v.2, p. 688.

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Na obra de Lobato, filmada e divulgada pela Televisão, a cozinha é

apresentada com mais intensidade, pois trata-se de uma adaptação. Havia, naquela

ocasião, maior preocupação em não enfatizar o racismo, dando maior importância à

cozinha e à figura de Tia Nastácia22.

Vários programas sobre culinária apareceram na televisão brasileira,

atualmente, inclusive, tendo, na maioria das vezes, a mulher como apresentadora.

Diferentemente da Gastronomia, na qual os grandes nomes são masculinos,

destacam-se na culinária nomes como Ana Maria Braga, vovó Palmirinha, Ofélia (e

sua maravilhosa cozinha) e Cátia Fonseca.

Tia Nastácia, assim como as apresentadoras acima citadas, também abre

seu ambiente para outros personagens, recebendo até ajuda, como pode ser visto

em Histórias Diversas23 (LOBATO, 1982 (?), p. 488): “Narizinho e Dona Benta, na

cozinha, ajudavam tia Nastácia a ‘pelar vagens’”.

Depois da Viagem ao Céu, outra história de Lobato, novo personagem é

introduzido na história, e Tia Nastácia fica simplesmente encantada com ele, que é

encontrado na cozinha:

–Estrelas! Cometas!... Mas isto é demais, meus filhos! Nunca imaginei umacoisa semelhante. E ainda há o anjinho. Onde anda ele? Todos saíramcorrendo em procura do anjinho, que havia fugido dali e estava na cozinhaconversando com tia Nastácia e provando um bolinho de frigideira. A negra,plantada diante dele, babava de gosto. – Este mundo está perdido! – diziaela – Quando eu havia de pensar que até os santos e os anjos haviam decomer os bolos fritos? Credo.... Nisto a voz de Dona Benta soou lá na sala,chamando-a. -Já vou, Sinhá! (LOBATO, 1982 (?), p. 684).

Utilizando a figura e a cozinha de Tia Nastácia, Monteiro Lobato fez

questão ainda de priorizar as receitas brasileiras, ratificando que está na culinária

nacional as maiores delícias da gastronomia mundial. No livro de Lobato, seria a

canjiquinha, o quiabo com carne, a marmelada, a farofa de torresmo e o bolo de

fubá exemplos distintos de iguarias que podem ser encontradas em diferentes partes

do Brasil.

(...)

22Vários artigos e teses já foram feitos sobre o racismo na obra de Lobato.23 LOBATO, Monteiro. Histórias Diversas. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, 1982. v.2, p. 488.

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Em Minas Gerais, há diversos pratos com carne de porco, galinha ao molhopardo ou com quiabo e angu, arroz carreteiro, arroz com galinha, feijãotropeiro, tutu, couve, torresmo e farofa. O pão de queijo, de origem mineira,hoje é encontrado em várias capitais do país. Sobremesas: bolo de fubá,goiabada com queijo, doces em calda (cidra, abóbora, figo) e doce de leite.O Rio de Janeiro contribui com o picadinho de carne com quiabo e ocamarão com chuchu. (CULTURA BRASILEIRA, 2016)24.

Lobato também expressava na cozinha de Tia Nastácia comidas típicas

do interior, com as quais convivia e se deliciava.

A culinária acreditada por Monteiro Lobato - e transferida para suas obras -tinha leitão à pururuca, torresmo e sobremesas de frutas como cidra,banana, limão e marmelo (...). Peixes não aparecem muito no cardápio doescritor, só os de rio. Claro, naquela época, era difícil chegar peixe do marno interior, por conta da conservação. Mas comida de milho tinha muita,como pamonha e canjica, que formam aqueles pratos caipiras de sítio.(CHAVES, 2010)25.

Os alimentos feitos por Tia Nastácia em sua cozinha também têm outras

funções nas histórias de Lobato. Uma delas, por exemplo, seria a de desenrolar as

narrativas, apresentando um fim inesperado e capaz de fazer com que as

personagens sobrevivessem a tal episódio.

No episódio do Sítio em que tia Nastácia foi presa pelo Minotauro – figurada mitologia grega, que tinha cabeça e cauda de touro em corpo de homeme se alimentava de seres humanos – as crianças ficaram desesperadaspensando que não conseguiriam salvá-la antes do Minotauro a devorar.Mas o bicho foi pego pelo estômago. Como disse a Emília, ele até seesqueceu da mania de comer gente. (CHAVES, 2010)26.

Curiosamente, e embora seja Tia Nastácia a cozinheira de tantas delícias,

faz-se necessário lembrar que muitos livros de receitas e mesmo alguns projetos de

culinária levam o nome de Dona Benta.Muitos momentos das histórias do Sítio do Pica-pau Amarelo ocorrem nacozinha da casa da Dona Benta. Não são poucas as vezes em que delíciassão preparadas ou, então, servidas aos personagens das histórias. Assim,surgiu a ideia de prepararmos algumas receitas com a turma e, a partirdestas, construir um livro de receitas.

24UOL EDUCAÇÃO. Culinária Brasileira: conheças as comidas típicas do Brasil. In: Cultura Brasileira.Disponível em: http://educacao.uol.com.br/disciplinas/cultura-brasileira/culinaria-brasileira-conheca-as-comidas-tipicas-do-brasil.htm. Acessado em: 10 de març. de 2016.25CHAVES, Guta. Na cozinha com Monteiro Lobato. Disponível em: http://receitas.ig.com.br/na-cozinha-com-monteiro-lobato/n1237767351850.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.26 CHAVES, Guta. Na cozinha com Monteiro Lobato. Disponível em: http://receitas.ig.com.br/na-cozinha-com-monteiro-lobato/n1237767351850.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.

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Além da questão que nos remete às histórias do sítio, com o preparo dasreceitas, as crianças poderão desenvolver noções de medidas equantidades, pois irão ajudar a medir e contar os ingredientes.

A primeira receita que preparamos com a turma foi o famoso Bolinho dechuva da Dona Benta, que está sempre presente nas histórias27.

Muitos trabalhos acadêmicos trabalham a ideia de Dona Benta nomear os

livros ou mesmo muitas receitas por acreditarem que Lobato expressaria nela a

figura da mulher branca, detentora do poder. Necessário enfatizar, entretanto, que é

Tia Nastácia quem literalmente coloca a mão na massa.

A cozinha de Tia Nastácia, de tal forma, aparece na obra de Monteiro

Lobato como um espaço reservado para a prática de suas invenções culinárias, de

confraternização e como reflexo e imagem da experiência do autor com a brasilidade

dos alimentos por ele eleitos como os melhores. Deve-se enfatizar também que, em

muitas histórias de Lobato, todos se reúnem à mesa ao fim de um episódio para

discutir eventuais soluções para problemas que aparecem nas narrativas,

enfatizando a importância das relações interpessoais à mesa.

No Sítio do Pica-Pau Amarelo dona Benta, seus netos Narizinho e Pedrinho,o Visconde de Sabugosa e a boneca Emília estão sempre à mesa emmomentos de confraternização ou, nas suas voltas das aventuras,cansados, buscando conforto nos quitutes de tia Nastácia28.

Como dito anteriormente, a cozinha brasileira está presente em toda a obra

de Lobato. Ainda que não tenha sido Tia Nastácia quem tenha feito a comida para

um jantar que Branca de Neve oferece ao Gato de Botas no Sítio do Pica-pauAmarelo, vários pratos da cozinha nacional são citados no banquete.

Embaixo da ‘mangueira grande’ fora armada a mesa do banquete, com umaalvíssima toalha de linho e a rica baixela de prata que os anões de Brancatinham trazido do castelo, para fazer companhia ás porcelanas oferecidaspelo Príncipe Amede. O jantar ia ser servido pelos anões – e já lá estavameles trazendo coisas e mais coisas, das mais gostosas. Bolinhos quaseiguais aos de Tia Nastácia. Pastéis de nata feitos pelas doceiras do céu.Pirâmides de fios-de-ovos. Cocadas de fita, manjar branco, pé-de-moleque,pudim de laranja, queijadinhas, papo-de-anjo, bom-bocados, canudinhos de

27CONSTRUINDO SABERES NA EDUCAÇÃO INFANTIL. Livro de receitas de Dona Benta. Disponívelem: http://construindosaberesnaeducacaoinfantil.blogspot.com.br/2013/04/livro-de-receitas-da-dona-benta-projeto.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.28CHAVES, Guta. Na cozinha com Monteiro Lobato. Disponível em: http://receitas.ig.com.br/na-cozinha-com-monteiro-lobato/n1237767351850.html. Acessado em: 15 de abr. de 2016.

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cocada com ovo, casadinhos, furrundu29, ameixa recheada, pipoca coberta,baba-de-moça, doce de abóbora com coco, doce de figo, doce de cidra,doce de pêssego, doce de leite e mais cem qualidades de doces. – Esalgados não havia? – Como não? Peru recheado, carne seca desfiada comangu de farinha de milho, mandioquinha frita, lombo com farofa,cambuquira30, lambari frito, suã de porco com arroz, torresmos pururucas,quingombô31, frango de espeto, galinha ensopada com palmito, peixe compirão, leitoa assada, cuscuz, linguiça frita, omeletas, punchero argentino,salada russa, pernil de porco... que é que não havia lá? (LOBATO, 1982, p.485)32

Faz-se importante ressaltar ainda que, no texto de Lobato, comer não serve

apenas para matar a fome. Até mesmo os bárbaros conheciam o hábito de comer

juntos (FLANDRIM; MONTANARI, 1998).

Cassotti também mostra que comer é muito mais do que uma necessidade

fisiológica: “Além de nutrir o organismo, inscrevem-se em uma complexa teia de

significados e símbolos, isto é, na cultura”. (CASSOTTI, 2002, p. 9). O ato de comer

em família, por exemplo, tende a aproximar as relações interpessoais. “A

alimentação revela a estrutura da vida cotidiana, do seu núcleo mais íntimo e mais

compartilhado. A sociabilidade manifesta-se sempre na comida compartida”

(CARNEIRO; POULIN apud MOREIRA, 2010)33.

Tia Nastácia, figura eleita por Lobato para desenvolver as delícias do Sítiodo Pica-Pau Amarelo, possibilitava a recuperação de atitudes que remontam ao

início da época em que o homem vivia da caça e da coleta de alimentos.

A história do homem se confunde com a história da alimentação. A partilhade alimentos, também denominada comensalidade, é prática característicado Homo sapiens, desde os tempos de caça e coleta. Há bem mais de 300mil anos o domínio do fogo permitiu a cocção dos alimentos, modificando-osdo cru ao cozido e dando origem à cozinha, o primeiro laboratório dohomem. (MOREIRA, 2010)34

29 Doce de mamão com rapadura (nota do autor)30 Broto de abóbora (nota do autor)31 Quiabo (nota do autor)32LOBATO, Monteiro. Histórias Diversas. In: O Sítio do Pica-pau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, 1982. v.2,p. 48533 MOREIRA, Sueli Aparecida. Alimentação e comensalidade: aspectos históricos e antropológicos.Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252010000400009.Acessado em: 12 de abr. de 2016.34 MOREIRA, Sueli Aparecida. Alimentação e comensalidade: aspectos históricos e antropológicos.Disponível em: http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0009-67252010000400009.Acessado em: 12 de abr. de 2016.

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Cultura. Gastronomia. Cultura e Gastronomia. Lobato, como visionário que

era ao estereotipar as suas personagens, retratando com elas distintas figuras

nacionais, deu vida ao enredo principalmente nos momentos em que a comida

permitia a ligação entre acontecimentos e as personagens. E se a Gastronomia é

também resultado de distintas culturas devidamente respeitadas e representadas em

pratos característicos, acredita-se ser possível dizer que as refeições realizadas

pelos personagens do Sítio do Pica-pau Amarelo tinham um caráter cultural

aflorado: eles aproveitavam o tempo juntos para discutirem ou tramarem a próxima

aventura.

No livro de Monteiro Lobato, assim como em diversas casas, chamar alguém

para a mesa é dizer que ela é bem-vinda. Pode-se constatar esta prática nas

histórias de Lobato, quando Dona Benta, por exemplo, convida parentes e vizinhos

para festejar a passagem de ano:

Afinal chegou o Ano Bom. Era costume de dona Benta festejar essa datacom um jantar onde reunia vários parentes e vizinhos. Tia Nastáciacaprichava. Frangos assados. Peru recheado. Leitão de forno. Pastéis,doces e quanta coisa gostosa havia. Era assim sempre e foi assim naqueleano” (LOBATO, 1982?, p.47)

Diante de tais ponderações, e considerando que receber bem alguém em

sua casa é recebê-la (na cozinha?) também com refeições gostosas, vê-se que

todas as pessoas convidadas ao Sítio do Pica-pau Amarelo já esperavam os

quitutes feitos por Tia Nastácia. Além disso, reuniam-se na cozinha para desfrutar

tais quitutes.

3 – Considerações finais

Ainda que a Gastronomia ou a Culinária em si não sejam o enredo principal

das histórias de Monteiro Lobato no Sítio do Pica-pau Amarelo, nota-se um desejo

de apresentar a diversidade da culinária brasileira através de Tia Nastácia: pratos

tipicamente nacionais eram a sua especialidade. O respeito à cultura nacional e a

ênfase aos pratos tipicamente brasileiros colocam a Gastronomia no texto de Lobato

em um local privilegiado, ressaltando a sua importância e o seu caráter mágico:

capaz de unir pessoas, resolver histórias, apresentar inovações e práticas de

sustentabilidade, acalmar corações, despertar paixões.

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Em sua obra, de maneira geral, e principalmente em O Sítio do Pica-PauAmarelo, Lobato usa os alimentos para desenvolver o imaginário infantil: qual

criança, ao ler sua obra, não se imagina em um pé de jabuticaba ou comendo os

deliciosos bolinhos de chuva? O autor utiliza-se ainda de sua memória de infância

no sítio do avô, o Barão de Tremembé, para nos deliciar com suas histórias.

Tia Nastácia representa o povo e toda sua cultura empírica. Representa a

Gastronomia arte, a cozinha da alma. Representa também a cozinha sem nome,

mas plena de sabores e inovações; rude porque vinda das mãos de uma senhora

negra e sem conhecimento formal, e rica porque inovadora e além de seu tempo.

Mesmo sem ter o conhecimento científico, Tia Nastácia emprega métodos de cocção

para melhor conservação dos alimentos, usa práticas de higiene para evitar

contaminações e, principalmente, cozinha com o coração.

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