GAZETA ONLINE GLOBO - Crise Combina com Criatividade - Gazeta Online

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1 Crise combina com criatividade http://gazetaonline.globo.com/index.php?id=/local/a_gazeta/materia.php&cd_mati a=511548 03/05/2009 - 00h00 (Outros - Outros) Fernanda Zandonadi [email protected] Pense em seu ambiente de trabalho. Visualize os processos e as conversas com consumidores e gestores, comuns na sua rotina. Agora responda: o que você mudaria nesse esquema que poderia melhorar o fluxo de trabalho, reduzir custos ou atrair clientes? Se você se lembrou de algum detalhe que poderia melhorar o fluxo e os resultados da empresa em que trabalha, saiba que esse novo olhar lançado sobre um processo quase mecânico é o diferencial que as empresas tanto procuram nos profissionais hoje em dia. Confira o especial da Crise no www.gazetaonline.com.br/crise Segundo o diretor de Operações da Human Brasil, multinacional espanhola de consultoria estratégica de pessoas nas organizações, Fernando Montero, qualidades como abertura às mudanças, flexibilidade, inovação, uma postura que assume riscos calculados são pontos fortes na relação empresa e empregado, principalmente durante as turbulências. "Esse profissional conhece profundamente a empresa em que trabalha e envolve-se com o que faz. Ele é inovador e é muito requisitado nas corporações hoje em dia, pois ele vê longe. É dele que sai boa parte das soluções para a otimização do trabalho", afirma. No entanto, não é só o funcionário que tem as soluções para os problemas. As empresas e os gestores têm papel fundamental e devem, segundo Fernando Montero, apostar no desenvolvimento e nas habilidades das pessoas. Mas, especialmente em tempos de crise, dificilmente uma corporação consegue sobreviver sem confiança. "Uma empresa não pode continuar sendo competitiva e de alta performance se gasta muito tempo e dinheiro no controle de seus próprios empregados, se não confia neles", garante o especialista. Ele afirma ainda que uma corporação não tem como ser eficiente se não tiver uma gestão adequada do conhecimento e não existir um canal de comunicação aberto e fluído por toda a organização. "Outro alerta é para empresas que não desenvolvem a vocação para assumir riscos e não inovam. Elas poderão correr sérios riscos de naufragar na tormenta da crise". Ainda de acordo com o especialista, as organizações que terão êxito daqui por diante serão aquelas que possuírem uma visão mais ampla da vida, da estratégia, dos processos, das finanças, mas, sobretudo, do fator humano.

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Crise combina com criatividade

http://gazetaonline.globo.com/index.php?id=/local/a_gazeta/materia.php&cd_matia=511548

03/05/2009 - 00h00 (Outros - Outros)

Fernanda Zandonadi

[email protected] Pense em seu ambiente de trabalho. Visualize os processos e as conversas com consumidores e gestores, comuns na sua rotina. Agora responda: o que você mudaria nesse esquema que poderia melhorar o fluxo de trabalho, reduzir custos ou atrair clientes? Se você se lembrou de algum detalhe que poderia melhorar o fluxo e os resultados da empresa em que trabalha, saiba que esse novo olhar lançado sobre um processo quase mecânico é o diferencial que as empresas tanto procuram nos profissionais hoje em dia. Confira o especial da Crise no www.gazetaonline.com.br/crise Segundo o diretor de Operações da Human Brasil, multinacional espanhola de consultoria estratégica de pessoas nas organizações, Fernando Montero, qualidades como abertura às mudanças, flexibilidade, inovação, uma postura que assume riscos calculados são pontos fortes na relação empresa e empregado, principalmente durante as turbulências. "Esse profissional conhece profundamente a empresa em que trabalha e envolve-se com o que faz. Ele é inovador e é muito requisitado nas corporações hoje em dia, pois ele vê longe. É dele que sai boa parte das soluções para a otimização do trabalho", afirma. No entanto, não é só o funcionário que tem as soluções para os problemas. As empresas e os gestores têm papel fundamental e devem, segundo Fernando Montero, apostar no desenvolvimento e nas habilidades das pessoas. Mas, especialmente em tempos de crise, dificilmente uma corporação consegue sobreviver sem confiança. "Uma empresa não pode continuar sendo competitiva e de alta performance se gasta muito tempo e dinheiro no controle de seus próprios empregados, se não confia neles", garante o especialista. Ele afirma ainda que uma corporação não tem como ser eficiente se não tiver uma gestão adequada do conhecimento e não existir um canal de comunicação aberto e fluído por toda a organização. "Outro alerta é para empresas que não desenvolvem a vocação para assumir riscos e não inovam. Elas poderão correr sérios riscos de naufragar na tormenta da crise". Ainda de acordo com o especialista, as organizações que terão êxito daqui por diante serão aquelas que possuírem uma visão mais ampla da vida, da estratégia, dos processos, das finanças, mas, sobretudo, do fator humano.

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"Isso acontece porque pessoas estão por trás da escolha da melhor estratégia e dos sistemas de gestão e de otimização de processos-chave, que garantem a rentabilidade sustentável da própria empresa." Pressão e criatividade Mas nem sempre é simples manter a calma, a objetividade e ter ideias inovadoras quando há pressão nas corporações. O profissional, no entanto, tem formas de ultrapassar essa barreira, segundo a professora de gestão de pessoas da Trevisan Escola de Negócios, Lilian Graziano. Ela salienta que, quando surgem momentos de estresse alto, em que já não é possível trabalhar com concentração, é hora de investir em outras atividades para aliviar o estresse e continuar rendendo na empresa. "A pressão existe em momentos de turbulência, assim como em períodos mais amenos. Mas é interessante o funcionário não deixar que ela seja o foco da vida. É preciso voltar a atenção para outros pontos", recomenda. Teoria de Flow: quando o tempo passa voando Você conhece a Teoria do "Flow"? Talvez o nome pareça estranho, mas, provavelmente, você já encarou esse estado de espírito pelo menos uma vez. Segundo essa teoria, há momentos na vida em que fazemos uma tarefa com tanta satisfação e concentração, que nem vemos o tempo passar. O autor da ideia é o psicólogo Mihály Csíkszentmihályi (mais um nome estranho). O processo ocorre de forma diferente com cada pessoa, mas, segundo a professora de gestão de pessoas da Trevisan Escola de Negócios, Lilian Graziano, é muito mais simples "entrar em flow" no trabalho do que em atividades pessoais. E você, já "entrou em Flow" hoje? Letícia e Márcia criaram um andar só para mulheres Quem. Letícia Corteletti, recepcionista, e Márcia Pimenta, governanta, ambas funcionárias do Bristol Century Plaza, em Vitória. Ideia. A ação foi em conjunto. A equipe que atua na recepção percebeu a necessidade de as mulheres terem um tratamento diferenciado. Com a parceria da equipe da governança, que sugeriu formas de montagem e caracterização, o grupo propôs aos gestores que um dos andares do hotel fosse preferencialmente destinado às mulheres. Nos quartos, flores, kits íntimo, de maquiagens, manicure, além de secador e chapinha nos banheiros. Para agradar ainda mais às mulheres, revistas femininas nos apartamentos. Resultado. As duas equipes atingiram metas pessoais e setoriais. A premiação pode ser desde o 14º até o 15º salário. O projeto está em fase de implantação e a previsão é de que tudo esteja pronto em 1º de junho. A ideia dos gestores é conquistar e, principalmente, fidelizar as clientes. Lição. Os funcionários tiveram a ideia baseados na observação diária, ou seja, eles conhecem bem o produto, os clientes e a empresa.

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Com que roupa Vinícius vai ao trabalho hoje? Quem. Vinícius Souza Rodrigues, atendente de call center da Net Espírito Santo. Ideia. A empresa Net Espírito Santo sugeriu que os funcionários com contato direto com os clientes pensassem em propostas para facilitar o entendimento do controle remoto da TV digital. Muitos deles não conheciam todos os recursos disponíveis. Vinícius optou por um vídeo, em que explicou como funcionava o portal de música. Ele utilizou outros mecanismos para chamar a atenção dos colegas: conforme mostrava os recursos do controle e as músicas mudavam, o rapaz vestia-se com roupas que remetiam ao ritmo. Resultado. O vídeo será distribuído entre os funcionários, para que eles possam dar instruções mais detalhadas aos clientes. O processo ajuda a fidelizar os consumidores, que aprenderão a utilizar os recursos digitais. Com esse conhecimento, eles podem se tornar excelentes divulgadores do serviço oferecido pela empresa. Lição. Com uma ideia simples, Vinícius deu vantagem competitiva para a empresa. Análise Pressão e produção Ana Paula Faria , professora de Recursos Humanos da UVV, especialista pela FGV O que observamos é que, quando há mudança, crise ou reestruturação em empresas ou no mercado de trabalho, há pressão por parte da chefia para o funcionário bater metas, para que se produza mais em menos tempo. A tendência, em um primeiro momento, é de que esse processo aconteça: o trabalhador, com medo das transformações, se preocupa com o desemprego e busca gerar mais resultado, mais produção em um tempo cada vez mais curto. Mas, depois de um período, a tendência é o aumento das doenças ocupacionais nessas empresas, por conta da pressão, do medo e do estresse gerado pela cobrança. Empresários têm que pensar a longo prazo. As mudanças ocorrem, e os empregados têm que estar preparados para a flexibilização. Instituições que investem em desenvolvimento de funcionários, com cursos, técnicas, tendem a ter um profissional que apresente resultados melhores. Isso tem que ser feito independente do contexto econômico e social. No momento da crise, as empresas que investiram nesse processo têm mais condições para superar essa fase. Dessa forma, o corpo de funcionários está mais preparado, com conhecimento, e, consequentemente, mais criativo para novos planejamentos de trabalho. Na hora em que o caldo está borbulhando, não adianta pressionar. 21 dicas para inovar

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Veja 7 práticas para otimizar a performance, 7 dicas para fazer seu trabalho aparecer e 7 mitos da inovação em tempos de crise Atenção, empresas 1. É preciso oferecer segurança no emprego, respeitando o salário combinado, férias, fins de semana. Isso gera uma relação de confiança entre empregador e funcionário. Esse é o primeiro ponto para eliminar os problemas com as necessidades básicas do empregado. 2. Adote uma seleção de pessoal com rigor e método. 3. Reduza diferenças entre categorias. Imagine uma situação de crise, em que alguns funcionários trabalham por um período mais prolongado, enquanto uma outra parte sai mais cedo. Esse tipo de postura cria um ambiente de trabalho desconfortável. 4. Descentralize a tomada de decisões. 5. Ofereça remuneração comparativamente alta em relação ao concorrente e vinculada a resultados. Se o concorrente paga melhor, pode gerar muita rotatividade. 6. Ofereça programas para formação das pessoas. 7. Ofereça informação ampla e compartilhada. Fonte: Fernando Montero da Costa, diretor de Operações da Human Brasil. Veja como alavancar sua carreira Sete formas de fazer o trabalho aparecer 1 Seja inovador A inovação representa uma vantagem competitiva. É fazer diferente, possibilitando à empresa soluções inéditas para problemas antigos e novos. 2 Envolva-se com a empresa Esse perfil profissional é chamado de intra-empreendedor. Tenha atitudes e ideias inovadoras voltadas para dentro da corporação e espírito de envolvimento com o projeto. 3 Assuma riscos Assumir riscos controlados é visto como uma postura positiva pelos empresários. Mas mantenha os olhos nos processos futuros, para não comprometer a empresa. 4 Esteja aberto às mudanças Isso significa ter flexibilidade. A visão de profissionais desse tipo é mais criativa e aberta a novas ideias.

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5 Veja longe Enxergue as oportunidades que surgem em momentos de crise. Tente encontrar alternativas de trabalho e converta ideias em negócios. Conhecimento: entenda a empresa que você trabalha. Conheça o produto que você vende. 6 Conheça sua empresa Saiba tudo sobre o produto ou serviço oferecido pela companhia, entenda os processos, conheça os clientes. 7 Observe os detalhes Alguns profissionais, com ideias simples, oferecem resultados surpreendentes, mesmo em meio a turbulências. Descubra como fazer a diferença nesse momento. Fonte: Fernando Montero da Costa - diretor de operações da Human Brasil.

Os 7 mitos de inovação na crise Crise é momento de alto risco? Com certeza! Mas o risco está ligado ao nível de incerteza e à exposição diante de tais incertezas. Ao invés de "ir com toda sede ao pote", a empresa pode adotar a experimentação como forma de aprender rápido e com baixo custo, até que o nível de incerteza seja menor. Crise é momento de olhar para dentro? Pelo contrário! Nessa situação, parceiros, fornecedores e até concorrentes estão buscando as mais variadas soluções. É hora de aplicar os conceitos de inovação como forma de ampliar os recursos e reduzir o risco dos investimentos. Crise é momento deesquecer a inovação? Depende! Se sua empresa tem um "core business" (a parte central de um negócio) controlado, ou mesmo saturado, esse é o melhor momento para ampliar as fronteiras e inovar na criação de novos negócios. Contudo, se sua empresa tem um "core business" fragilizado, esse é o momento de direcionar os investimentos para otimização do núcleo. Crise é momento de analisar antes de investir? Pelo contrário. O nível de incerteza torna o processo de análise quase um exercício de futurologia. A melhor forma de lidar com tal incerteza é investir pouco, aprender muito e ir refinando as apostas. Crise é momento de mudar os projetos?

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Depende! Nesse caso é preciso analisar o seu portifólio de projetos para tomar as melhores decisões. O primeiro passo é avaliar o portifólio que a empresa dispõe para encontrar o equilíbrio adequado entre os projetos de curto e longo prazo. Pode ser o caso de acelerar projetos de retorno o mais rápido, sem deixar de investir em alguns grandes projetos de alto impacto. Crise é momento de boca fechada? Não. Crise é um momento de comunicação interna intensa. Um dos produtos da crise é a queda da confiança dos profissionais sobre a continuidade dos investimentos e apostas da empresa. Crise é hora de cortar investimento? Não exatamente. Um dos principais efeitos da crise é a redução de orçamento para os projetos de médio e longo prazo. Uma forma de garantir atenção para inovação é separar investimentos do orçamento especificamente para esse fim, sem que possam ficar suscetíveis às flutuações do mercado. Fonte: Maximiliano Carlomagno, mestre em administração e professor de graduação e

MBA do IBGEN e Felipe Ost Scherer, mestre em administração e professor de graduação

da ESPM e MBA do IBGEN. Ambos são diretores da Innoscience Consultoria em Gestão

da Inovação.