Gazeta Vargas 94

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A Gazeta Vargas 94 investiga o que geveniano pensa a respeito de trabalho, política, consumo e os demais estereótipos associados ao comportamento da Geração Y.

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GAZETA VARGAS 94

Diretora PresidenteMelina Padoin - 4º AE

Editor-Chefe Vinícius Elias de Souza - 3º AP

RedaçãoFelipe Proença - 3º EconomiaFernanda Teodoro - 3º Direito

Jonas Batista - 2º AELisi Mie Sato - 2º AE

Lucas Boldrini - 4º AE Lucas Siqueira - 2º AP

Maria Pedote - 3º EconomiaPedro Henrique Vidal - 3º AE

Renata Cossio - 2º APTatiana Nogueira - 2º AP

Vinicius Gonzalez Bueno - 5º AP

EXPEDIENTE

Diretora de ArteEster Sung Yoon Ji - 7º AP

ArteLucas Martins - 4º AE

Juliana Myung Lee - 4º AP

InstitucionalNataly Santos - 5º AE

Adma Midori Miguel - 4º AE

Capa: Vinícius Elias e Ester JiModelo: Saulo Mendonça - 2º AP

Agradecemos aos colegas, amigos e professores que colaboraram

com informações, depoimentos e imagens nesta edição.

Colabore você também com a Gazeta Vargas. Envite textos,

imagens, suguestões e críticas para [email protected].

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SUMÁRIO

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6CARREIRA

O que você quer ser quandocrescer? 9

CARREIRASe a minha carreira começasse hoje...

10POLÍTICA

Geração Y e sua participação na política 12 IDENTIDADE

Juventude Ostentação

13IDENTIDADETímidos, mas sem vergonha

14 COMPORTAMENTONova Mensagem

15COMPORTAMENTOFérias sem férias

16 PERFILAo infinito... e além

18CULTURADesvendando uma geração?

19FICÇÃOPreâmbulo às instruções para se conectar

20CRÔNICAEntre gerações

22 HUMOREstereótipos Gourmet

25WEB

Os 10 posts mais acessadosda gazetavargas.org

26 CHARGEJe Suis Geveniano

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AO LEITOR

FIRST WORLD PROBLEMS

Vinícius Elias de SouzaEditor-chefe

Passam horas na frente do Facebook, veneram Game of Thrones, jogam Candy Crush e adoram as listas do BuzzFeed. Será que todo millennial é

assim? Será que todos têm as mesmas atitu-des, as mesmas ambições, desejos, medos?

Não, obviamente. Enquanto nós, da Gazeta Vargas, pensávamos no tema desta revista, pedimos para diversos alunos res-ponderem a um questionário. Queríamos saber o que o geveniano pensava a respeito de trabalho, política, consumo e os demais estereótipos associados ao comportamen-to da nossa geração e do próprio aluno da FGV. Foram exatamente 200 respostas e algumas delas estão aqui. Mas todos que responderam ao nosso questionário ou co-laboraram com depoimentos e entrevistas nos fizeram perceber que as diferenças de visão do mundo, de como conduzir a vida e de perspectivas futuras são tamanhas, que somos muito mais diferentes entre nós do que eram, provavelmente, as gerações dos nossos pais e avós.

A Gazeta Vargas 94 é, afinal, um retra-to de nós mesmos e nossos dilemas hamle-tianos. Para fazer esta revista, nossa peque-na e jovem redação usou talento, esforço e superpoderes para Supermano nenhum botar defeito. Parabéns a eles. E obrigado

aos colegas e professores que nos ajudaram e inspiraram. Tomara que, ao ler nossas pá-ginas, vocês tenham uma experiência tão divertida quanto todos nós tivemos (só que com mais horas de sono).

Mas cadê os textos denunciando os prejuízos da Gioconda ou os preços abusi-vos do Rockafé, você se pergunta. Bem, com o ambiente universitário mudando na velo-cidade da banda larga, deixamos os assun-tos cotidianos e urgentes da Fundação ex-clusivamente para o site gazetavargas.org, de novo visual no browser mais próximo.

A revista você pode ler enquanto as-siste a um viral no YouTube, aguarda na fila o lançamento do novo iPhone ou escolhe um filtro no Instagram. Meu compromisso com a causa é tão profundo que estou fina-lizando este editorial com uma selfie.

Boa leitura!

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CAPA

A Geração Y já foi acusada de tudo: são egoístas, indecisos, superficiais e muitoconectados. Concebidos entre 1982 e 2002, já na onda tecnológica, os jovens millenials,como tambémsãoconhecidos,estãodesacostumadoscomopadrão tradicionalda famíliae integrados na era digital. Entretanto, apesar de todas as críticas, essa geração é a quesonhamaisalto,quetemmaissededemudaromundoedealcançarasatisfaçãopessoal.Ajuventudeatualnãotemproblemasemexpressarainsatisfaçãoquandoenfrentamsituaçõesquenãolheacrescentamemnada,enamaioriadasvezes,buscamporcaminhosautônomos,desafiadores,osquaisoferecemliberdadenahoradefazerescolhasequeosaproximamcadavezmaisdaautorrealização.

O QUE QUEREM OS JOVENS DA GERAÇÃO

Y?

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CARREIRA

O QUE VOCÊ QUER SER QUANDO CRESCER?TEXTO: FERNANDA TEODORO E VINÍCIUS ELIAS

Uma pesquisa realizada com 200 alunos dos diferentes cursos da Fundação nos grupos do Facebook sugere: somos uma geração que projeta aspirações ideológi-

cas no trabalho, busca realização pessoal na profis-são, escolhe cursos sem avaliar necessariamente o retorno financeiro e trabalha para criar valor, signi-ficado e não apenas ganhar dinheiro. O resultado do levantamento remete a um dos mantras onipre-sentes no imaginário dos jovens de hoje quando o assunto é ganhar a vida: o “Façaoquevocêama”. E é justamente essa relação entre prazer e traba-lho que se configura como um dos aspectos funda-mentais que tentam definir a Geração Y.

Mas é isso mesmo? A necessidade de amar aquilo que se faz é real para todos os jovens ou é uma espécie de moda de nicho?

“Desdeo colégio eupretendia trabalhar emumagrandeempresamultinacionalounaempresadaminhafamília.Porém,oquerealmentemotivouaminhamudançadecurso foiapossibilidadedeestudaralgoqueeu realmentegostava,eque sódescobridepoisdecursarAE”, conta Renata Leal, 22, aluna do 3º semestre de Administração Públi-ca, que abandonou o curso de Administração de Empresas no 4º semestre. 81% dos alunos que responderam à pesquisa sentem a mesma coisa, a realização pessoal está acima do prestígio social ou dos benefícios oferecidos por uma empresa.

Quando terminou o colegial técnico, Flavio Augusto Vianna, 31, aluno do 2º semestre de Admi-nistração Pública, optou por trabalhar, no lugar de se matricular em alguma universidade. A experiên-cia frustrante, embora bem remunerada, com ma-

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81% dosgevenianosafirmamquearealizaçãopessoalcomofatormaisimportantenavidaprofissional

CARREIRA

nutenção de aparelhos eletrônicos e informática fez surgir um foco do qual Flávio não quer desviar: o serviço público. Ele acredita que não conseguiria se manter em um emprego só pela necessidade: “Nãoteriapaciênciaparaficaremumaáreaondenão visse possibilidade de crescimento e prazer”. Para ele, o que pesa mais é o que vai fazer, não o quanto vai ganhar. Antes de entrar na FGV, o estu-dante foi servidor público por 5 anos, trabalho que também ajudou na escolha do atual curso.

A perseguição por um “sentido maior”, que dê significado para vida, começa, por exemplo, na busca por atividades complementares ao curso su-perior, que preencham as lacunas não só da grade horaria, mas também da vontade de crescer e de se preparar para o mercado de trabalho. Cada vez mais, os jovens se sentem compelidos a multitask, a assumir responsabilidades e a estimular diferen-tes capacidades.

Dentro da faculdade, pode-se observar um estímulo a essa busca por obrigações extraclasse, fazendo com que os alunos aprendam a administrar seu tempo com mais eficiência e produtividade. O curioso é que os jovens da Geração Y, familiariza-dos com a rapidez da era digital, pouco se impor-tam com a absurda quantidade de coisas a fazer, e enfrentam esses desafios com naturalidade. “Es-tava cansada do cotidiano da Direito GV. Queriaumaalternativaparaminharotina,porissoresolvientrarnaRHJúnior.HojesouDiretoraAdministra-tivo-Financeira, eme responsabilizo, entre outras

coisas, pelo planejamento estratégico da empre-sa”, conta Jéssica Morais, 22, aluna do 8o semestre da EDESP. Fazer parte de uma entidade acarreta em assumir responsabilidades que vão muito além das demandas acadêmicas. “Precisomeorganizarparadarcontadeestudaretrabalhar.Masissomeensinoua termaturidade,ecomcertezaestámepreparandoparaomercado”, ressalta a geveniana.

No trabalho, é normal que a nova geração mude de emprego com frequência, além de tra-tar os superiores como colegas e os questionarem quando não são reconhecidos. O fato é que estes jovens não são simplesmente revoltados com o mundo, mas priorizam o aprendizado, têm vontade de continuar estudando e carregam valores éticos muito fortes.

Esses princípios alimentam a vontade de dei-xar uma marca no mundo, mudando aquilo que abominam por meio de ideias inusitadas. Dentro da GV, por exemplo, conseguimos ver inciativas de vários estudantes para melhorar o bairro da Bela Vista, com ações solidárias e projetos sociais.

O estudante do 6o semestre de Administra-ção Pública Pedro Murgel, 21, membro fundador do Cursinho FGV e Diretor no ano de 2014, explica que fazer parte de uma entidade possibilita expe-riências únicas e que extrapolam os limites da sala de aula. “Alémdisso,oCursinhoFGVfaziapartedeumamotivaçãomaiordoqueexperiências.Quan-do criamos a entidade tínhamos emmente umasérie de valores e objetivos a serem alcançadosquenãoencontrávamosdentrodaFGV.”Hoje, com apenas alguns semestres de funcionamento, o Cur-sinho já impulsionou a entrada de vários estudan-tes na Fundação e em outras instituições de ensino superior.

As expectativas da Geração Y no trabalho são fortemente impactadas pelo ambiente acadêmi-

84% participaram,participamouqueremparticiparde

entidadesestudantis

34% afirmamqueaoportunidadedecontinuarosestudosinfluencianaescolhadaempresa

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co. Na tentativa de melhor se preparar para a vida pós universitária, os jovens perseguem diferentes caminhos de autorrealização. Os gevenianos mais ambiciosos e corajosos, por exemplo, optam pela dupla graduação. O estudante do 8o semestre de Administração de Empresas, Renato Simonsen (foto ao lado), 22, explica que durante seu segundo ano na GV começou a sentir-se deslocado na fa-culdade, e por isso, em busca de um ambiente em que o debate fosse mais plural, resolveu começar o curso de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo. Entretanto, com sede de continuar estudan-do e de aumentar o campo de conhecimento para entrar mais forte no mercado de trabalho, Renato ingressou no programa de dupla graduação com Direito, oferecido pela Fundação.

“OcursodeDireitomesurpreendeu.Otipodeengajamentoqueosalunostêmcomafaculdade,avontadedediscutirostextos,oníveldereflexão,afrequêncianabiblioteca,tudoissomefascinou.Acreditocomaduplagraduaçãotenhomuitomaisportas, porém fica mais difícil realizar escolhas.Além disso, com o grande volume de obrigaçõesé quase impossível fazer estágio”, relata Renato. Apesar das dificuldades, o aluno acredita que fazer a dupla graduação é uma oportunidade rica em ex-periências únicas, que trarão boas recompensas no futuro, mesmo que agora atrase a independência econômica em relação aos pais.

41% afirmaramnãoteremsidoinfluenciados

naescolhadocurso

18% dosalunosestãoemestágio,remunerado

ounão,outrabalhoefetivo

Essa insaciabilidade da Geração Y é o que move a juventude atual por uma busca constan-te de novos caminhos e opções para a satisfação pessoal. O trabalho, hoje, mas do que nunca, tem papel fundamental na vida dos homens: se tornou não só mecanismo de fazer capital, mas também de realização individual. Mesmo que contra a vontade de muitos, a profissão também define a essência de cada um, por isso essa perseguição tão aprofun-dada da mocidade por um labor que ofereça mais que condições materiais de desenvolvimento. Ain-da assim, os jovens não desistem em sonhar alto, sem medo de ser feliz: “meimaginonofuturocon-seguindofazerumaintervençãopráticacomtodoconhecimentoadquiridoduranteessesanos.Alémdemeenxergarestávelfinanceiramente,tambémmeenxergocomumafamília”, sonha Renato. Afi-nal, estamos correndo atrás dos nossos sonhos ou dos nossos empregos?

CARREIRA

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O QUE OS PROFESSORES TÊM A DIZER AOS JOVENS DA GERAÇÃO Y QUE ESTÃO INICIANO A CARREIRA EM UM MOMENTO DE ACELERADA TRANSFORMAÇÃO DO MUNDO?

CARREIRA

SE A MINHA CARREIRA COMEÇASSE HOJE...

“Por 3 anos não sou da sua geração Y... Mas eu faria uma graduação mais adequada ao que eu queria seguir de profis-são, que é a carreira acadêmi-ca. Prestaria o vestibular um pouco mais velha também, com condições de escolher melhor a graduação”

“Eu teria menos ansiedade no início de carreira para acertar a rota. Também tiraria um ano sabático para estudar algum idioma e trabalhar no exterior depois de fazer uma volta ao mundo”

“Do ponto de vista formal, eu não faria nada diferente. Mas do ponto de vista de postura, buscaria ser mais humilde e desprendido.”

“Eu teria feito a mesma coisa: tomaria decisões a respeito de meu futuro, direcionado por minha realidade de informação disponível e por minhas condi-cionantes emocionais e biográ-ficas. Mas não posso imaginar qual seria o resultado.”

“Não faria nada diferente. É muito importante diversificar, experimentar coisas novas e, principalmente, aceitar novos desafios para manter-se mo-tivado e em contínuo aprendi-zado.”

“Eu gostaria de exercer uma profissão criativa. E como deve-mos seguir também as nossas inclinações pessoais, cozinharia (só comida salgada) e escreve-ria poesias (sem rima)”

Yuri CarajelescovProfessor da EDESP e advogado

Cibele FranzeseProfessora da EAESP e Especialista em Políticas Públicas no Governo do Estado

Tiago Corbisier MatheusProfessor da EAESP e psicanalista

Dimitri DimoulisProfessor da EDESP e Diretor do Instituto Brasileiro de Estudos Constitucionais

Antonio Gelis FilhoProfessor da EAESP

Mayra Ivanoff LoraCoordenadora e Professora da EESP

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POLÍTICA

GERAÇÃO Y E SUAPARTICIPAÇÃO NA POLÍTICA

TEXTO: VINÍCIUS BUENO

Quais as principais diferenças entre a partici-pação política da geração Y e as anteriores? Como as aceleradas mudanças sociais e econômicas das últimas décadas, especial-

mente as transformações ocasionadas pelos novos meios de comunicação, impactaram a dinâmica polí-tica? De que forma as instituições políticas podem se adaptar à nova realidade? Buscando opiniões de pro-fessores da FGV a respeito dessas e outras questões, entrevistamos os professores Cláudio Couto e Mário Aquino Alves.

Como principais pontos em comum entre as fa-las dos dois professores, destacaram-se dois fatores que mudaram a forma de participação política entre a geração Y e as anteriores: a mudança de regime no Brasil e as transformações nos meios de comunicação, sobretudo a emergência da Internet e das redes so-ciais.

Principalmente por já ter nascido em um país democrático, as reivindicações da geração Y são sig-nificativamente diferentes. As gerações anteriores se mobilizaram principalmente para pleitear liberdade de expressão e direto de participação política. Já a Y, com essas conquistas já atingidas, não foi ativa na formação de grandes mobilizações até as de junho de 2013, tanto pelo menor grau de insatisfação quanto pela rotinização das atividades políticas, com um au-mento da profissionalização da política e a perda de força dos partidos em estruturar mobilizações sociais.

Além dessa diferença no grau de mobilização, outra distinção entre as gerações é quanto ao perfil de suas reivindicações. Enquanto que, para Mário Aqui-no, as demandas das gerações anteriores tinham um

26% não acreditam na política partidária,

no sistema como é hoje

57% dos gevenianos participam ou querem participar de

algum tipo de movimento/atividade política

caráter mais coletivo, as da Y são mais específicas – são em geral mais identitárias, representando valores e interesses de grupos específicos dentro da socieda-de, e mais individuais, representando pressão para o atendimento de demandas particulares. Essa mudan-ça de perfil das reivindicações das últimas décadas no Brasil teria seguido uma tendência mundial dos anos 80 e 90, com certo atraso devido ao fato de não haver um regime democrático consolidado anteriormente que desse maior espaço a elas.

Com relação às transformações dos meios de comunicação, as grandes mudanças que ocorreram nas últimas décadas influenciaram significativamente a forma de participação política. Com uma maior faci-lidade de comunicação, principalmente pela Internet, movimentos são mais facilmente organizados, mas também eles se tornaram mais efêmeros, pois os laços que unem as pessoas que participam dessas mobili-zações são mais fracos. Isso é bem exemplificado por Claudio Couto, quando compara o conceito de amiza-de com a categoria de “amigo do Facebook”. Além dis-so, como muitas das pessoas que vão às ruas não têm vínculos com organizações estruturadas em que são pensadas estratégias comuns, essas manifestações são em geral menos consistentes, inclusive para con-seguir “traduzir” as demandas da população em ação governamental.

Outro efeito provocado pela mudança tecno-lógica nos meios de comunicação foi a possibilidade de contato com uma maior pluralidade dos pontos de vista. Pode-se dizer que há um maior acesso a infor-mações e discussões sobre diversos assuntos e, como diz Mario Aquino, há maiores possibilidades de que

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POLÍTICA

questões tabu, que não têm abertura para serem de-batidas em canais mais tradicionais de participação política, possam ser discutidas. Por outro lado, de uma perspectiva mais cética, é possível dizer que os princi-pais meios de comunicação continuam concentrando a maior parte das informações, e a forma como as re-des sociais funciona pode alimentar radicalismos.

Ainda hoje, grande parte dos artigos lidos e links compartilhados ainda é proveniente dos grandes veículos de mídia, o que indica que o potencial da In-ternet para promover uma maior pluralidade de pon-tos de vista, bem como o uso que as pessoas fazem deles, são limitados. Além disso, pela forma como fun-ciona a Internet, principalmente pensando nas redes sociais, a partir de algoritmos que direcionam as pes-soas àquilo que procuram, isso acaba reforçando uma dinâmica social previamente existente de as pessoas em geral buscarem conversar com quem partilha valo-res, preferências comuns, o que “no limite pode levar a extremismos”, de acordo com Claudio Couto. Esse maior radicalismo das posições, por sua vez, reduz as possibilidades de diálogo, dificultando a construção de discussões coletivas.

Por fim, quanto às possibilidades de mudança na forma de fazer política para se adaptar à nova reali-dade social, as falas dos dois professores se comple-mentam. De acordo com Mário, partidos, redes e mo-vimentos sociais são gramáticas diferentes. Assim, é difícil imaginar que a estrutura organizacional interna dos partidos mude significativamente. Porém, a fim de

se adaptar à nova realidade social, os partidos podem se tornar mais permeáveis, assim como o Estado. Para isso, Cláudio sugere que sejam mecanismos partici-pação que usem a tecnologia e a linguagem dela. Por exemplo, ele sugere que seja possível criar projetos de lei de iniciativa popular por meio de uma plataforma na qual os cidadãos se cadastrariam com seu título de eleitor e assinariam propostas que apoiarem. Porém, para isso acontecer, precisariam ser feitos ajustes ao formato atual de projetos de iniciativa popular, como aumentar a exigência de assinaturas, dada a maior fa-cilidade de obter apoiadores no formato online.

Assim, as transformações pelas quais o Brasil e o mundo passaram nos últimos anos tiveram uma in-fluência significativa sobre a participação política dos jovens da geração Y. A transição de regime, o fortaleci-mento do regime democrático e a emergência das no-vas tecnologias mudaram a forma de se fazer política e o perfil das demandas da população. Porém, os par-tidos não conseguiram se adaptar adequadamente à nova realidade e os novos movimentos têm dificulda-des em fazer com que suas reivindicações se traduzam em mudanças efetivas. Assim, cabe aos hoje jovens da geração Y e às seguintes conseguir fazer com que as instituições estatais e os partidos criem canais de co-municação efetivos com as diferentes formas de orga-nização da população, a fim de que a democracia seja reconstruída de forma a se adaptar à nova realidade social e assim consiga reconquistar sua legitimidade perante grande parte da população.

IDENTIDADE

JUVENTUDE OSTENTAÇÃOTEXTO: LUCAS BOLDRINI E VINÍCIUS ELIAS

Os jovens da geração Y no Brasil não tem medo de arriscar. Isso tem reflexos na vida pessoal profissional e, claro, nas compras também. Educados desde criança para te-

rem autonomia, opinião e poder de decisão, veem no consumo uma conquista: sua primeira inserção no mundo adulto. Para o filósofo francês Gilles Li-povetsky, pensador da cultura contemporânea, ou hipermoderna, o comportamento político do mun-do também favorece essa busca por autoafirmação: numa sociedade que prioriza o indivíduo em vez do coletivo, o culto às marcas ganha força e é um cami-nho para distinção.

Por mais que não sejam os únicos afetados por essa tendência, a geração Y cresceu nesse contexto, em que ser único não é um diferencial, mas uma ne-cessidade. Em uma fase de construção de caráter e perfil, os jovens acabam por ter uma inclinação para produtos que representem símbolos de status e po-der entre seu grupo, que vão desde o último iPhone ao tênis do momento ou à marca de roupa que é ten-dência.

“O consumo serve para nos enquadrarmos mais facilmente com aqueles que se parecem conosco”, afirma Isabella Di Giovanni, 21, aluna do curso de Administração Pública, que assim como 67% dos ge-venianos que responderam à pesquisa realizada pela Gazeta Vargas, afirmou levar em consideração a re-putação da marca na hora das compras. O questio-nário apontou também que marcas, design e estéti-ca são características fundamentais no momento da

compra, mais importantes que o valor intrínseco dos produtos.

Para a veterana Daniella Almeida, 27, do curso de Administração Pública, contudo, a juventude atual não consome pelo design, pela informação de moda, mas pelo universo que a marca cria, já que o seu pró-prio universo não está pronto, consolidado. “A galera compra Abercrombie porque aspira aquele universo fit da marca, compra Diesel porque aspira à sensua-lidade da Diesel, compra Vans porque aspira aquele universo california-hardcore-surf-skate, embora es-cute sertanejo, funk. Então o consumo da moçada é pura ostentação”, diz.

Se aventurar cada vez mais no consumo como identidade é um fenômeno que se observa também nas classes médias dos países emergentes. De acordo com o professor da EAESP Antonio Gelis Filho, pode-mos simplificar a questão dizendo que o grande “nor-te” dos jovens hoje é o desejo de consumir. Todavia, ele acredita que “passamos a enfrentar uma ‘crise te-leológica’, a qual se manifesta, entre outras coisas, no enfraquecimento do poder de definição de direções a seguir por esse “norte” do consumo compulsivo”, e ainda questiona: “qual será a nova referência?”.

Lipovetsky diz que, para conter a paixão consu-mista, os indivíduos precisam criar novas paixões. Da-niella concorda: ela acredita que a partir de certa ida-de, com o amadurecimento, o jovem começa a rever essa questão do consumo aspiracional. “A sua perso-nalidade já está mais definida, seu estilo também: en-tão a sua maneira de ter se modifica” acredita.

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IDENTIDADE

TÍMIDOS, MAS SEM VERGONHATEXTO: TATIANA NOGUEIRA

Muitos atribuem aos jovens da geração Y o dom da comunicação: são expansivos, falam muito, com segurança e simpatia. Vendem-se melhor. Conquistam cora-

ções, mentes, vagas, clientes e transformam a extro-versão num culto: todos precisam ser brilhantes e ra-diantes sempre. Por sorte, não é bem assim.

Ao entrar em qualquer ambiente, eles sempre estarão lá. Quietos em um canto, concentrados ou apenas observando as outras pessoas. Eles costu-mam passar despercebidos, por não falarem tanto e por se concentrarem em locais de pouca visibilida-de. Nas apresentações, também não é difícil identi-ficá-los. Situações que apresentem sintomas como a transpiração, tremedeira, gaguejos, vermelhidão são comuns, apesar de não ser uma característica exclu-siva dos mais reservados. Neles esses sintomas são mais acentuados e duradouros. Mas o que será que está por trás dos tímidos e introvertidos? O que eles pensam?

Classificamos os introvertidos como pessoas quietas, que não gostam de ser o centro das atenções e que precisam de um tempo sozinhas, mas que não possuem nenhuma dificuldade em se expressar ou se relacionar com as outras pessoas. Os tímidos, ao contrário, possuem embaraços em se relacionar e por não interagirem ativamente - de forma verbal ou não verbal - seus pensamentos e sentimentos são pouco expressados. Além disso, existe um temor às opiniões formadas ao seu respeito e por temerem esse julga-mento eles se tornam ainda mais quietos que os in-trovertidos.

Apesar da aparência sensível e insegura das pessoas mais comedidas, que faz com que muitos vejam a extroversão como um modelo a ser seguido, existem características presentes no comportamento das pessoas mais quietas que são importantes e que às vezes são deixadas de lado, como a responsabilida-de, concentração e cautela. A aluna do 5º semestre de Administração Pública, Maíra Prado, diz que os principais elogios em relação ao seu comportamento estão relacionados ao seu comprometimento e a sua

seriedade, pontos que são essenciais para um profis-sional de sucesso.

Muitas vezes, ocorre até a vontade de falar algo, dar uma opinião sobre uma determinada situação ou até explicar algo que é dúvida de muitos, mas o medo gerado pelos olhares que serão atraídos e pelas possíveis explicações para os questionamentos que poderão surgir, acabam desestimulando que ele seja propagado. Em ambientes novos é ainda mais difícil, pois além das situações acima citadas, a sensação de desconforto e o fato de estar cercado por pessoas desconhecidas, aumentam ainda mais a insegurança.

Já os extrovertidos, pelo fato de possuírem uma boa comunicação, de conseguirem contornar uma situação embaraçosa com tranquilidade, serem mais ousados e iniciarem uma conversa de maneira espon-tânea, acabam sendo vistos de uma forma mais posi-tiva. Entretanto, o excesso de espontaneidade pode criar situações constrangedoras, como comentários desnecessários ou uma grande exposição de sua ima-gem, o que pode causar problemas.

Hoje na sociedade temos uma espécie de pa-drão a ser seguido, em que as pessoas que não se encaixam passam a serem vistas de maneira negati-va. Nele, os extrovertidos são os “bem-vistos” e os tímidos acabam sendo tachados como os esquisitos ou ingênuos. O que é necessário compreender é que cada pessoa tem o seu comportamento e uma ma-neira de se relacionar com as pessoas e com o meio social em que está inserido, e por isso é necessário respeitar suas diferenças e deixá-lo a vontade para que a interação flua naturalmente e de acordo com o seu tempo.

Nas relações interpessoais é normal ter indiví-duos mais contidos e outros mais expansivos, afinal as pessoas são diferentes e suas condutas também. A sociedade perderia muito se todos tivessem os mes-mos pensamentos e comportamentos, pois não have-ria conflito de ideias e com isso aprenderiam menos. Os mais quietos mesmo com traços que grande parte das pessoas julga negativos possuem características importantes que devem ser valorizadas e respeitadas.

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NOVA MENSAGEMTEXTO: MARIA PEDOTE E PEDRO VIDAL

A geração Y sofre de uma esquizofrenia encarnada pelo sipa. O sipa é o amorfo meio termo entre as contradições, o terreno do talvez: estar sem estar, relacionar-se sem se

relacionar, comprometer-se descompromissadamente.Essa esquizofrenia se inicia pelo desencontro

entre o corpo e a alma do indivíduo Y - raramente ambos estão na mesma dimensão. Só não somos internados em centros psíquicos porque conectamos nossas esquizofrenias, colocando-as em rede através dos smartphones. As almas assim encontram-se conectadas 24/7 independente das condições materiais que nos circundam (além da bateria do celular e do sinal do 3G). Nunca estamos completamente sozinhos. Entretanto, não há ninguém a nossa volta - ou há, mas figura como paisagem, pois nos acostumamos a falar sozinhos. Quando estamos numa fila, para passar o tempo, nunca conversamos com aquele à nossa frente, mas sim com o que se encontra do outro lado da cidade e estava tentando se concentrar em algo da sua materialidade, mas é distraído pelo brilho, apitar e vibrar do celular. E ele vai responder ao chamado à socialização, pois um pressuposto de estarmos sempre conectados é que somos instantâneos, e se infringirmos tal convenção provocamos uma ansiedade sem precedentes no que iniciou a conversa. Pois, sem resposta, aquele na fila se percebe sozinho ao constatar-se incapaz de se comunicar com os que estão a dez centímetros materiais de distância.

E o pior é que esse eterno conectar-se não promove maior conhecimento do outro nem discussões mais profundas, pois isso não cabe no instantâneo. Sentimentos viram emoticons, discussões encerram-se com “sla”, “kkk”, “oks”, “hue”, ou mesmo o supracitado “sipa”. E com a mesma instantaneidade que podemos nos conectar, podemos nos desconectar. Os próprios compromissos inerentes a relacionamentos são incertos, pois nada mais fácil que apenas visualizar e não responder no WhatsApp e se desvencilhar das pessoas - não é necessário olhar no olho nem dar explicações. Não nos comprometemos, a qualquer momento podemos pular fora - e por isso também

COMPORTAMENTO

somos tão ansiosos pelas respostas instantâneas. Por reconhecermos a fragilidade das relações, ficamos tão aflitos quando somos vítimas do “visualizar e não responder”. Estamos cada vez mais neuróticos. Mas por sorte estamos todos, e quase sempre haverá alguém compartilhando do seu sentimento de solidão às 4h18 da manhã para curtir seu desabafo depressivo no status do Facebook.

Há mais um desencontro: entre o que somos e o que parecemos ser. Como se vivêssemos duas vidas, uma terrena, repleta de pequenas misérias e angústias inerentes a qualquer ser humano, e outra esplendorosa captada pelo Instagram. As relações são mediadas por perfis, verdadeiras máscaras que condensam em alguns likes, status de relacionamento e numa foto a grande complexidade e profundidade do caráter de cada um. São esses perfis que se relacionam por nós, se julgando e se aproximando ou não.

Agora alguns poréns. A começar, essa cisão não é exclusiva do homem do século XXI. O homem sempre teve a necessidade de criar uma máscara, uma face, para poder se colocar em sociedade e proteger seu ego. O Facebook apenas facilitou sua elaboração. O medo de não pertencer e encontrar-se sozinho assombra qualquer ser social - e todas as contradições do indivíduo só em sociedade já estavam presentes no caráter humano antes mesmo de Hamlet. Além disso, um de nossos grandes chavões, “desconetar-se para se conectar”, é interessante como experiência, mas tente ignorar o WhatsApp e o Facebook por uma semana e perceberá também uma perda. Essas ferramentas tornaram-se extensões da comunicabilidade humana, e sem elas nos percebemos a parte de todo esse universo interligado do qual passamos a depender.

Nós, geração Y, não somos necessariamente piores nem melhores, talvez um pouco mais fluidos como gosta de repetir Bauman, e dispomos de mais ferramentas para expressar nossas neuroses e esquizofrenias e para sentir a verdadeira incomunicabilidade das almas já apontada por Manuel Bandeira em tempos sem WhatsApp.

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FÉRIAS SEM FÉRIASTEXTO: FELIPE PROENÇA

C erveja sem álcool, álcool sem ressaca, ressaca sem arrependimento... Eis que da tradicional ética da moderação desponta a ética do excesso inofensivo. Se antes o imperativo

moral era expresso pela retórica do “faça, contanto que evite os exageros”, hoje a injunção se dá muito mais sob a égide do princípio liberal de usufruto irrestrito. Mas como conciliar, de um lado, a sede insaciável pela satisfação dos desejos e, do outro, a suposta tendência inata por autoconservação? Nada mais razoável do que proporcionar um acesso ilimitado a uma mercadoria privada de sua propriedade maléfica. É precisamente a base do que o filósofo Slavoj Zizek vem a chamar de realidade virtual: a realidade é ela mesma provida desprovida de seu aspecto substancial. A lista de exemplos continua indefinidamente, desde a maconha (ópio sem ópio) e o sexo online (sexo sem sexo), até a experiência de tolerância multicultural (o outro sem sua alteridade). Compõem-se assim os fundamentos de uma verdadeira ética do consumo: um capitalismo cultural propriamente dito (consumismo sem culpa).

E como inserir a identidade de nosso querido geveniano dentro dessa perspectiva? Basta atentar para o conflito interno pelo qual passam os alunos diante de cada novo desafio acadêmico ou avaliação: queremos ser alunos de alto nível sem termos de nos sujeitar a um alto nível de ensino, esperamos pelas dificuldades que competem a uma das faculdades líderes do mercado de trabalho sem termos de passar nós mesmos por estas dificuldades a fim de comprovar nossa própria liderança e competência. Queremos a FGV sem sua Gviandade, ou, se preferirem – por mais que me custe admitir – a queremos sem sua “essência Nakanial”.

Por isso, não é raro que eu me pegue pensando no presente como o passado do meu futuro. O ter sido normalmente é mais confortável do que o ser. É incrível como – peguemos o enfrentamento do reaval como exemplo – em um único instante um temido obstáculo pode se tornar um memorável motivo de orgulho. Algo do qual nem se queria ouvir, serve de repente

COMPORTAMENTO

para tecer o enredo das mais alegres conversações. Não é que valorizemos o reaval em si. Nem mesmo nossa resistência ao sujeitar-se a ele, e, ainda assim, quanto valor parece ele adquirir ao menor sinal de sua ultrapassagem, como um marco inigualável na história individual universitária.

Um grande amigo me disse um dia que, entre um zero e um dois ele preferia um zero, só pra ter uma história pra contar. E se pensarmos um pouco, quantos de nós não gostaríamos de ter passado por alguns zeros, dentro e fora da GV, daqueles zeros construtivos e cheios de moral, daqueles zeros íntimos como impressão digital. Mas aposto que se dar conta de que esse zero precisa ocorrer para que possa ser contado abala aos mais corajosos de nossos colegas de batalha. Queremos o zero sem sua nulidade, o aprendizado sem a confissão da ignorância, a existência sem o existir.

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AO INFINITO... E ALÉMTEXTO: LUCAS SIQUEIRA E RENATA COSSIO

Saulo Mendonça, 23 anos, aparenta ser um geveniano como qualquer outro, preocupado com provas e com trabalhos atrasados. Mas ele não é. Saulo na verdade tem um alter ego,

um Super Homem para o seu Clark Kent, conhecido como Supermano. Trata-se de um super herói que fi-cou popular durante a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, devido a sua animação e ufanismo.

Apesar da popularidade da personagem ter acontecido na Copa, a história do Supermano não começou aí e sim no interior de São Paulo, especifi-camente na cidade de Franca, sua terra natal, no ano de 2009. Tendo terminado o colegial e sempre muito interessado em política, o jovem Saulo olhava para a GV com interesse, mas também com a certeza de que o curso de administração de empresas não era exata-mente o que ele queria.

Com isto em mente, acabou por prestar e cur-sar o INSPER por um semestre, eventualmente aban-donando-o devido ao foco em finanças. Voltou para Franca e fez dois anos e meio de direito. Ano passado ainda embarcou na difícil missão de fazer duas facul-dades ao mesmo tempo, conciliando o curso de direi-to de manhã com o de arquitetura a noite, visando ajudar seu irmão que havia começado um empreen-dimento imobiliário. Saulo, porém, percebeu que a carga estava muito pesada, e largou arquitetura para se dedicar ao direito.

Ainda assim, algo dentro dele clamava que ele ainda não havia encontrado sua verdadeira paixão. Como havia feito um semestre de CPV como prepa-ração para o INSPER, tinha muitos amigos na GV e participava direto das Economíadas, forma como foi introduzido ao novo curso da Fundação, o de Admi-nistração Pública. Desde pequeno, sempre foi muito engajado com a política de sua cidade, participando das audiências públicas; ao ver a grade, ele se apai-xonou. Fez cursinho no início de 2014 e entrou no se-gundo semestre.

Durante estes anos anteriores a GV, mais espe-cificamente na Copa de 2010, ele fez amizade com a

Movimento Verde e Amarelo, a primeira torcida orga-nizada inteiramente voltada para a seleção brasileira, de Guaratinguetá. Ele logo viu essa torcida como um jeito de extravasar seu ufanismo, junto com outras pessoas que pensavam do mesmo jeito que ele. Sau-lo ia para jogos com a torcida e sempre se mostrava como um dos mais animados do grupo, sempre gri-tando e cantando, expressando seu amor pelo Brasil.

Toda esta trajetória pessoal tortuosa serviu de pano de fundo para a criação do Supermano, perso-nagem que nasceu oficialmente dia 07 de setembro de 2013 como resultado direto das manifestações de julho do mesmo ano. “De repente, todo mundo virou contra Dilma, FHC, Aécio, a Copa”, Saulo explica. Ele sempre fora a favor do evento, por considerá-lo uma chance de mostrar para o mundo o lado bom do Bra-sil, animado e feliz, bonito.

Escolheu o Dia da Independência para o lança-mento de sua empreitada devido ao simbolismo: ele queria criar uma figura desvinculada do ambiente político, algo incluso no manifesto que dispôs junto a primeira foto que postou como Supermano no Ins-tagram. Após esse dia, Saulo ia como Supermano a todos os eventos relacionados ao Brasil, sempre can-tando, incentivando, e animando as arquibancadas, popularizando o grito Mil Gols do Movimento Verde e Amarelo. Para ele, o Supermano representa o povo brasileiro, descontraído, receptivo.

O auge da fama, porém, só viria realmente com a Copa do Mundo. Como era muito difícil conseguir uma grande carga de ingressos, a torcida Movimen-to Verde Amarelo se dividiu para ir aos jogos, e foi assim que Saulo, como Supermano, assistiu a muitas partidas, inclusive a famigerada semi-final entre Brasil e Alemanha. Virou figurinha carimbada das notícias, aparecendo em capas de jornais e dando entrevistas, até para a Globo. Através das mídias sociais, princi-palmente o Instagram, Saulo ia postando fotos e ví-deos mostrando sua caminhada por todo o território nacional durante a Copa, sempre tentando passar a mensagem que o Brasil é belo e o povo feliz.

PERFIL

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Perfil

Ele confirma hoje o plano de encerrar a perso-nagem depois das olimpíadas. Não acredita ser ne-cessário continuar depois disso, pois não quer que a ideia se perca nem “virar um palhaço”. Por estar mui-to na mídia o Supermano acabou recebendo algumas propostas de patrocínio durante a Copa, mas nunca aceitou, porque essa não era a visão que ele queria passar, a visão que o fez criar esse folclórico persona-gem - o patriotismo.

7 X 1: UMA VISÃO DE QUEM FOI

7x1. Todo brasileiro, hoje, sabe bem o que isso quer dizer. Não há como não saber. E Saulo Mendon-ça, o Supermano, estava lá quando aconteceu, ao lado de outro personagem icônico da torcida brasi-leira: o gaúcho da copa. O jogo foi um choque muito grande para ele, principalmente devido ao que a sua personagem representava. Vestido com a bandeira do Brasil, com um corte de cabelo a la Ronaldo e uma tatuagem no pescoço igual a de Neymar, Supermano assistiu um gol após o outro sem entender direito o que estava acontecendo. Continuava gritando e ten-tando animar a torcida como sempre fazia nos jogos.

Foi sentir a importância do acontecimento no intervalo para o segundo tempo, quando percebeu o

silêncio no estádio - o placar já era 5x0. Tudo acon-teceu muito rápido, e as pessoas estavam pasmadas. Supermano, apesar do baque, não desanimou. Ten-tou reerguer a torcida com gritos inventados na hora e palavras motivacionais como “único penta! único penta!” ou “galera, perdemos o jogo, mas a festa é nossa, vamo lá”. Estava perto da bancada da Globo e quis se aproximar para mostrar a Ronaldo seu corte de cabelo; viu a decepção e o choro no rosto do joga-dor. Também viu Guga chorar.

Muitos abandonaram o jogo já no intervalo. O estádio ficou praticamente vazio. Os que ficaram causavam brigas por nada, ficavam xingando, desem-bestaram. Saulo tentou manter a calma. Foi um dos poucos, se não o único, brasileiros a ficar até o final. Os seguranças pediram para os alemães esperarem todos os brasileiros irem embora antes de saírem, momento em que ele aproveitou para pular com eles. Ficou impressionado com a camaradagem e humilda-de alemã. Todos estavam muito sem jeito com o que havia acontecido, diziam que gostavam de futebol por causa do Brasil. Demonstraram uma classe que talvez tenha faltado a torcida brasileira. Diante de todos os abraços e agradecimentos alemães, Supermano cho-rou pela única vez durante a Copa.

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CULTURA

SOFIA COPPOLA: DEFININDO UMA GERAÇÃO?

TEXTO: RENATA COSSIO

Em sua estreia como diretora, Sofia Coppola adaptou o romance As Virgens Suicidas (1999), de Jeffrey Eugenides. Apesar de se passar na década de 1970, a narrativa é eterna por ser

um bonito estudo artístico sobre uma era repleta de descobertas e isolamento - a adolescência, uma época em que cada emoção parece ser a mais importante de todas.

Seu filme seguinte, Encontros e Desencontros (2003), discute questões de ambivalência e negligência a partir de uma história simples: um velho ator que foi famoso um dia faz amizade com uma jovem que ainda não encontrou seu lugar no mundo. A beleza está na habilidade com que as personagens são apresentadas; é possível se identificar com elementos de ambas. Charlotte, a jovem, é um protótipo da geração Y, pois ela procura satisfação pessoal, o que considera mais importante do que uma carreira ou coisas materiais.

Maria Antonieta (2006), seu terceiro filme, reconta a história da Rainha francesa de modo anacrônico, unindo o século XVIII ao século XXI. Com um visual incrível, a intenção não é narrar a

revolução francesa ou o que a motivou e sim pintar um retrato de uma jovem adolescente, entediada e perdida, que poderia estar no segundo grau de uma escola americana ou, como mostrado, no palácio de Versalhes casada com Louis XV.

Quatro anos depois, Coppola retornou ao mundo atual com Um Lugar Qualquer (2010). Lembrando Encontros e Desencontros, o filme apresenta um ator famoso que parece ter tudo, menos um motivo para viver. A visita inesperada de sua filha começa a preencher sua existência vazia. Trata-se de um esboço sobre desconforto existencial, de busca por significado, sempre presente na obra de Coppola.

Bling Ring: A Gangue de Hollywood (2013), seu último filme, é o mais fácil de relacionar a geração Y por ser baseado em fatos reais e recentes: jovens obcecados por fama usam a internet para seguir celebridades e roubar suas casas. Estes são jovens que vivem para as redes sociais; jovens cuja capacidade de atenção dura pouco; jovens que tiram selfies o tempo todo. Como a própria diretora disse, atualmente “experiências só valem se há um público para vê-las”. Mesmo a edição do filme parece ter sido feita por um destes jovens, rápida e espalhada; em vários momentos, devido ao estilo documentário adotado, o público se torna parte dos acontecimentos, como uma câmera de segurança filmando os roubos.

Assim, em cada um de seus filmes Coppola apresenta uma visão artística única sobre a realidade de uma geração que tem muitas opções, mas pouca autenticidade. Em Bling Ring, quase todas as personagens são iguais, pois todas querem ser a mesma coisa. Em Um Lugar Qualquer, dinheiro e fama não são o suficiente para preencher a alma. Maria Antonieta e As Virgens Suicidas têm a inquietude e a volatilidade da adolescência privilegiada, mas alienada; Encontros e Desencontros, a união de duas pessoas vivendo momentos opostos, mas conseguindo encontrar por alguns instantes um sentido para suas existências.

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FICÇÃO

PREÂMBULO ÀS INSTRUÇÕES PARA SE CONECTARTEXTO: MARIA PEDOTE ILUSTRAÇÃO: MÔNICA ROCABADO

Quando dão a você de presente um smartphone (convenhamos, não te dão tal presente, dá-se o a si mesmo, mas mantenhamos algo do conto original) estão

dando um inferno compactado, um calabouço de vida. Não dão somente o telefone, muitas felicidades e esperamos que não dure porque é de boa marca e semestre que vem lança a versão plus, com leitor de mentes e raio-x instantâneo; não dão de presente somente esse não mais miúdo telefone sem fio que você guardaria no bolso se nele coubesse e assim levará a passear na mão mesmo. Dão a você — eles sabem, o terrível é que sabem — dão a você um novo pedaço frágil e precário de você mesmo, algo que lhe pertence mas não é seu corpo, que deve ser atado a seu corpo como uma extensão natural da ponta de seus dedos, compartilhando inclusive da sua impressão digital. Dão a necessidade de carregá-lo na tomada todos os dias, três vezes ao dia, a obrigação de dar-lhe energia para que continue procurando redes 4G; dão a obsessão de olhar se o whatsapp tremeu mas você não sentiu. Dão o medo de perdê-lo, de que seja roubado, de que possa cair no chão e ficar com a tela estilhaçada. Dão sua marca e a certeza de que é uma marca melhor do que as outras, dão o costume

de entrar em embates do tipo androide X iPhone. Não dão um smartphone, o presente é você, é a você que oferecem para o aniversário do Steve Jobs (que ele descanse em paz).

INSTRUÇÕES PARA DE CONECTAR: Em volta está a vida, mas não tenha medo. Segure o telefone com uma ambas as mãos, com os dois dedões alternados aperte “o” depois “i” depois “space” depois “:” depois “)”. Agora se abre outra interação humana, vem a ansiedade pela resposta, a possibilidade de descobrir-se ignorado (“visualizado hoje depois que você enviou a mensagem”), ou uma profunda discussão ilustrada por rostos amarelos, as interações como um leque vão se enchendo de palavras vazias que vibram e reverberam nos nervos de suas mãos. Que mais quer, que mais quer? Encoste-o a seu corpo, deixe-o vibrar em liberdade, mas não demore em demasia para atender seus chamados. A espera enferruja os dedos, cada mensagem que pôde ser visualizada e foi esquecida começa a corroer as veias do usuário conectado, gangrenando o frio sangue de seus dedos trêmulos. E lá em volta está a vida se não nos conectamos, então respondemos com “XD” sem compreendermos que não tem importância.

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ENTRE GERAÇÕESTEXTO: FERNANDA TEODORO

Certa tarde de domingo, estava eu conversan-do com minha avó quando ouvi “ah, porque no meu tempo, as coisas não eram assim...”. Confesso que fiquei um pouco irritada – essa

mania dos mais velhos de tentar orientar a juventude com base no passado não fazia o menor sentido na minha cabeça. “As coisas mudaram Vó. Agora mulher estuda, trabalha e nem sempre tem filho. Não, não tem telefone fixo no meu apartamento. É, eu conver-so com meus amigos pelo celular”. Foi ai que percebi que vovó tinha razão. Talvez fosse melhor ouvi-la.

A senhorinha que estava sentada à minha frente já viveu mais de setenta anos e certamente sabe mais da vida do que eu e você juntos. Ela nasceu e cresceu no interior, mas estudou, trabalhou, criou três filhos e batalhou para que todos eles fizessem faculdade. Ela foi e ainda é a nave mãe que guia toda a famí-lia. Em fim, vovó tem propriedade para dar palpite, enquanto eu, ainda jovem, só resisto em reconhecer e considerar o que é dito pelos mais maduros. Abai-xei minha cabeça humildemente e abri minha mente para ouvir os preciosos conselhos de alguém que já sofreu os dramas da vida, e provavelmente não quer que eu os vivencie.

Começou me dizendo que a juventude é o me-lhor tempo de todos, mas é uma pena desperdiça-la com jovens. Os jovens têm vigor físico, entusiasmo, sede de conhecimento e um leque enorme de pos-sibilidades a sua frente. Entretanto, são muito ansio-sos. “Essa tal geração Y vive sempre apreensiva diante das indecisões da vida. Vocês têm que aprender que os fatos ainda não concretizados fazem parte do pro-cesso de crescimento, e lidar com eles é normal.” Essa insegurança da juventude muitas vezes leva a esco-

lhas de caminhos autônomos e difíceis. Não que isso seja necessariamente ruim, mas é evidente que hoje há um certo esvaziamento das relações pessoais, da família, dos amigos.

“Para começar, vocês não largam desse celular. Mas que coisa! Será que essa tela digital realmente oferece tudo? Querida, você não percebe que está perdendo as coisas que estão acontecendo em baixo do seu nariz?”. Como de costume, eu estava seguran-do o meu iPhone na mão quando Dona Mafalda me disse isso. Lembrei que minha vó provavelmente não vai viver muito mais anos, e em vez de gastar meu tempo com ela eu estava olhando fotos de mulheres obcecadas por academia e nutrição saudável no Ins-tagram. Fiquei sem graça.

Vovó também disse que os jovens se preocu-pam cada vez mais em como vão ganhar dinheiro, e não em como fazer o mundo de amanhã um lugar mais digno de se viver. “Tudo bem, sei que sua carrei-

CRÔNICA

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“A velhice pode se tornar um fardo dependendo das opções que você fizer ao longo da

juventude. A vida é como o vento: passa despercebida e você não consegue contê-la”

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CRÔNICA

ra é importante, e eu, mas que ninguém, quero te ver bem sucedida. Mas de que adianta ganhar milhões se você não está feliz? Pense no que você quer em lon-go prazo: família, saúde, qualidade de vida. Tudo isso depende das escolhas que faz agora.” Dona Mafalda enfatizou: “perceba que a velhice pode se tornar um fardo, um tempo ruim, dependendo das opções que você fizer ao longo da juventude. A vida é como vento. Passa despercebida e você não consegue contê-la.” Essa percepção de que a vida é passageira gera um sentimento de insaciabilidade, de saco sem fundo. Para preencher essas lacunas, vamos atrás de muitas coisas, como o sucesso profissional, os prazeres da carne e o dinheiro. “Atente-se: o estado de bem-estar pode ser acompanhado da prosperidade e do prazer, mas não se confunde com esses.”

Nesse ponto, eu já estava confusa e preocupada com o resto dos meus dias. Se ser feliz não era neces-sariamente a prosperidade nem o prazer, o que era então? Foi aí que minha avó me deu o conselho mais genuíno de todos: “alegre-se na sua juventude! Siga por onde seu coração mandar.” Aqui, de novo, fiquei

irritada. Seguir o coração? Conta outra vovó. Mas ela não desistiu e explicou. “Essa nova geração é influen-ciada muito facilmente pela TV, pelos amigos, pelos atores de Hollywood. Você tem que procurar um ca-minho que satisfaça aquilo que vai além da carne e osso do seu corpo. Experimente. A mocidade é a épo-ca que comporta mudanças. Se você não gosta do seu emprego, mude. Se você não gosta do mundo ao seu redor, faça algo para melhorá-lo. O seus instintos vão te guiar para as coisas que te fazem realmente felizes, e você não deve ignorá-los simplesmente por que es-tes ainda não têm uma página no Facebook. Mas lem-bre-se de que o vigor e a juventude são passageiros e tudo o que você fizer hoje terá impacto no futuro.”

Ao fim, estava perplexa diante de vovó. Percebi que era tola por acreditar que perderia minha origi-nalidade ao reconhecer a verdade já descoberta pe-los mais velhos. Tentei absorver tudo que pude, e a prometi que repensaria na minha vida. Difícil mesmo vai ser colocar tudo isso em prática. E por força do costume, acabei publicando alguns desses conselhos no Twitter...

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ESTEREÓTIPOS GOURMET

TEXTO: FELIPE PROENÇA ILUSTRAÇÃO: PRISCILA YOSHIHARA

Este texto é a síntese de um esforço coletivo. Enquanto tal, poderia facilmente apresentar-se como um todo homogêneo e harmonioso, seguindo, aliás, aquela que é a sina de todo

conceito: abstrair outsiders e dissimular um hardwa-re multiforme sob uma tela unificada. Começarei com minha voz, a partir da clássica, mas não por isso me-nos polêmica distinção política entre esquerda e di-reita, para em seguida dar espaço a uma composição polifônica de nossa Fundação, elaborada especial e voluntariamente para esta ocasião.

Partilho da opinião de que uma das maiores complexidades para se definir categorias ligadas a in-teresses de determinados grupos em conflito provém do fato de que a imagem e constituição dos próprios grupos não se tratam de objetos fixos e sim de obje-tos em disputa. “A esquerda” assim como “a direita” (supondo que estas ainda sejam nomeações válidas e de utilidade explicativa) lutam entre si pela definição de sua esquerdisse e direitisse assim como por qual-quer outra de suas pautas características. Temos a es-querda e a direita da esquerda, a esquerda e a direita da direita e tudo só tende a se perder em confusão pra quem não se vale da lógica por trás do fenômeno conhecido como paralaxe.

1. Peço que realizem a seguir um simples expe-rimento visual que me servirá de metáfora para o fe-nômeno acima referido:

2. Faça o gesto A-ok com uma de suas mãos (com cuidado, já que ele é também uma vítima da

paralaxe. Pode adquirir tanto uma conotação positiva quanto ser um sinal de xingamento dependendo da cultura).

3. Olhe para um objeto à distância por dentre o aro formado com seus dedos.

4. Agora suavemente coloque sua outra mão so-bre um de seus olhos.

O objeto sumiu? Não? Você acaba de descobrir se é destro ou canhoto de olho. O cérebro humano tem essa capacidade de fundir as imagens dos dois olhos em uma única que faça sentido, assim como a mente tem a capacidade de fundir as muitas obser-vações que fazemos a respeito do mundo em uma determinada generalização. Reconhecer a existência da paralaxe (a diferença na posição aparente de um objeto visto de locais distintos) é reconhecer que o conhecimento é acessível somente a partir de uma de muitas perspectivas multidimensionais e é somente o primeiro passo para desconstruir preconceitos incoe-rentes e estabelecer um diálogo construtivo entre as pessoas.

Sem mais explicações cansativas e arriscadas, deixemos os alunos de cada curso da FGV desaba-farem seus preconceitos, categorias e perspectivas: dois alunos de cada curso se propuseram a dar sua descrição sobre o típico aluno de cada curso, incluin-do o seu. Recomendou-se que esta fosse resultado de uma sinceridade exagerada (ao estilo de uma charge, portanto). Confira o resultado a seguir:

HUMOR

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HUMOR

O ALUNO DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

Por AP: Estou sempre convencido com meus posiciona-mentos políticos e julgo àqueles que não compartilham de meus pensamentos como os cristãos julgavam os in-fiéis na idade média.

Por AE: Como um bom esquerdista, tenho ótimas inten-ções para o meu país, mas não posso ligar muito para orçamentos, números e matemática, afinal essa coisa de finanças é praga do tal capital financeiro e seus parasitas rentistas.

Por Econo: Sou de esquerda, mas meus pais não deixa-ram fazer sociais, decidi trabalhar no governo.

Por Direito: Acreditam que podem e vão mudar o mun-do e por isso são mais emotivas e sensíveis. São daque-las pessoas que viajam para a Chapada da Diamantina e dormem em cavernas. E eles são os mais doidos e sem noção nas festas... Bebida e AP da ruim!

O ALUNO DE DIREITO

Por AP: Faço parte da elite intelectual deste país, minha poderosa retórica e meu perfil analítico que bwwweira à perfeição resultam em minhas opiniões que contém um misto de divindade e super poderes, eu sou a lei. Advo-gado é um bicho chique.

Por AE: Como sempre ganhei da minha mãe nas discus-sões, acho que eu posso ganhar uma boa grana defen-dendo a galera, pegando comissão em umas heranças aí e me divertindo com uns barracos durante audiência de divórcio. Um cara que estuda bastante também, como o de economia, porém um cara meio ausente do ambiente geveniano. É como se ele não tivesse muito o espírito GV.

Por Econo: Sou de humanas e não quero morrer de fome. Não passei na USP, mas tenho grana então que se foda.

Por Direito: São todos fechados, interessados neles mes-mos e na profissão, e não querem se integrar na faculda-de! Em relação às festas, morrem tanto durante a sema-na que todo mundo enche a cara e fica mal toda vez... Gostam mesmo é de brigar, isto é, debater por qualquer coisa. Tem a mania de falar palavras difíceis e gostam de citar autores e leis em contextos desnecessários.

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O ALUNO DE ECONOMIA

Por AP: É uma galera que rala mais que a média e vive num inferno universitário. Pensam mais em números do que nas pessoas. É bem aquele papo: se a economia ti-ver ok e o nível de desigualdade tiver uma merda nin-guém liga. Muitos serão chamados, mas poucos serão escolhidos, Mateus 22.

Por AE: O cara que em média estuda mais que os dos demais cursos, pelo curso ser muito difícil. Vêm-me à ca-beça um cara estudando números. Não é lá muito social (maldito PBL).

Por Econo: É a galera inteligente demais pra ADM e que não quer engenharia (não passou na poli). Parece mu-lher de malandro. Fala que o curso está muito puxado, fala que vai jubilar, pensa em mudar para a FEA ou Ins-per, mas não larga o curso de jeito nenhum.

Por Direito: Os estudantes de economia aparentam ser pessoas racionais, ambiciosas, calculistas e que se im-portam muito com o dinheiro. Vivem estressados, chei-ram à café e apresentam um ritmo frenético. Mas quan-do tem que curtir são os melhores, mais animados e que mais se drogam.

O ALUNO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

Por AP: Pessoal se divide entre as poucas pessoas que vão mudar a cara da economia no país e aqueles que vão a) trabalhar pro papai b) ir pro mercado financeiro. Ninguém quer saber como vai fazer o primeiro milhão, mas quando. Não confia em nenhum partido, mas vota no PSDB.

Por AE: Como não sei fazer nada muito bem, mas gosto de me meter em quase tudo na empresa do meu pai, que vou arriscar esse curso técnico. Oposto do cara de Direito, o cara de AE é o que mais nitidamente compar-tilha do espírito GV, que mais exalta a faculdade e oque mais aguarda seus eventos.

Por Econo: Não sabia o que fazer na hora do vestibu-lar, decidi trabalhar na empresa do meu pai. Galera que sabe um pouco de tudo, mas que não sabe de nada pra valer, tipo um quebra galho.

Por Direito: É o aluno tradicional da GV, leva o curso nas coxas, e são os que mais agitam a faculdade, seja na atlé-tica ou no DA! Breja, catuaba e lança é um ritual pra eles! Geralmente são os caras mais acolhedores. São pessoas que já tem um futuro garantido, ou seja, papai e mamãe são donos de empresas. Gostam de dinheiro e mais ain-da de mandar nos outros.

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WEB

OS 10 POSTS MAIS ACESSADOSDA GAZETAVARGAS.ORG

DO HOMEM VITRUVIANO À TATUBOLA, DO ROCKAFÉ AO CURSINHO FGV: CONFIRA ASELEÇÃO DOS TEXTOS MAIS LIDOS DO SITE DA GAZETA.

16.445 acessosA Morte do Homem Vitruvianohttp://goo.gl/lc9EkUAutor: Luiz Fernando Lockmann e SouzaPublicado em: 03/04/2011

1.

7.622 acessosMenino ou Meninahttp://goo.gl/xNVSciAutor: Mariana Beira PacettaPublicado em: 12/03/2012

2.

3.627 acessosA Atlética é uma droga, vamos fumar a Atléticahttp://goo.gl/fl7yHOAutor: Melina PadoinPublicado em: 26/11/2013

3.

1.706 acessosA mulher e o funk: libertação ou reafirmação do machismo?http://goo.gl/MjNJSwAutor: Michael CerqueiraPublicado em: 03/09/2013

4.

1.565 acessosO caso da Tatubolahttp://goo.gl/3HgDBaAutor: Brauner CruzPublicado em: 20/08/2013

6.

1.534 acessosThis is... jubilamento!http://goo.gl/y9tvz0Autor: Felipe ProençaPublicado em: 21/10/2014

7.

1.416 acessosRockafé e o preço da comodidadehttp://goo.gl/uvI7MlAutor: Vitor Quintanilha BarbosaPublicado em: 19/08/2014

8.

1.400 acessosO Cursinho FGV e a bolha gevenianahttp://goo.gl/MiIbOuAutor: Daniel RamosPublicado em: 28/08/2014

9.

2.620 acessosDiga não à peixada na carahttp://goo.gl/ZMmgrzAutor: Maria PedotePublicado em: 02/10/2014

5.1.212 acessosEi gevenianx, você é machista!http://goo.gl/H0UT6CAutor: Michael CerqueiraPublicado em: 17/09/2013

10.

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