GEF: GRUPO DE ESTUDOS E APLICAÇÃO EDUCACIONAL EM GEOGRAFIA ... · segundo e terceiro capítulos...
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GEF: GRUPO DE ESTUDOS E APLICAÇÃO EDUCACIONAL EM GEOGRAFIA FÍSICA Thomas Johannes Schrage, Graduando em Geografia – USP, [email protected]
Alex Silva Sousa, Graduando em Geografia – USP, [email protected] Breylla Campos Carvalho1, Graduanda em Geografia – USP, [email protected]
Déborah de Oliveira, Professora Doutora do Departamento de Geografia – USP, [email protected]
Abstract: This paper results from the reunions that have been made during the second semester of 2008 until now, of a study group entitled GEF (Geografia Física), in the dependencies of Geography Department of FFLCH-USP, with intent of topics discussion referring to Physical Geography. We look for extending the personal and academic apprenticeship, with knowledge exchange and construction among members. Two main shafts attent for base to the group. The first is the varied topics discussion of apprenticeship. The other shaft, still in development, is to create educational materials by chats and articles for general public. The group is constituted by students of Geography graduation of FFLCH-USP by coordination of Doctor Professor Déborah de Oliveira. In every week meetings the reunions happen with focus on a previous selected text. Afterwards, there is a discussion concerning the text and, if necessary, an extension of the topic. Among the results already obtained we have achieved a great articulation between professors of Physical Geography and the members of the group, a better communication between the various divisions, chats organization and a great participation of the students in the laboratories of Geography Department. We desire to obtain results ,for beyond the University, that would reach all society through educational practices. Resumo: Este trabalho resulta das reuniões que vêm sendo feitas ao longo do segundo semestre de 2008 até o presente momento, por meio de um grupo de estudos intitulado GEF (Geografia Física), nas dependências do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, com intuito de por em discussão temas referentes a esta área da Geografia Física. Busca-se estender o aprendizado pessoal e acadêmico, com troca e construção de conhecimento entre seus membros. Dois eixos principais servem de alicerce para o grupo. O primeiro é a própria discussão de temas diversos com aprendizado coletivo. Outro eixo, ainda em desenvolvimento, é criar materiais educacionais, seja por meio de palestras, hipertextos ou artigos, direcionados para o público em geral. O grupo conta com alunos graduandos de Geografia da FFLCH-USP sob a coordenação da Profa. Dra. Déborah de Oliveira, com encontros semanais. As reuniões acontecem tendo como foco um texto escolhido previamente por um dos alunos que o apresenta. Posteriormente há discussão dos textos e, se necessário, extensão do tema. Entre os resultados já obtidos temos uma maior articulação entre professores da área de Geografia Física com o grupo, maior participação dos alunos nos laboratórios do Departamento de Geografia, comunicação entre turmas diversas da faculdade e organização de palestras. Deseja-se obter resultados para além da Universidade, atingindo toda a sociedade através de práticas educacionais. 1. Introdução e Objetivos
O Grupo de Estudos de Geografia Física (GEF) surgiu como resultado de um esforço coletivo
de graduandos em geografia, orientados pela Profª Drª Déborah de Oliveira, em agosto de 2008, na
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade São Paulo.
O interesse comum do grupo é aprimorar os conhecimentos nas ciências da Terra, em particular
na Geografia Física, através de leituras de textos e suas discussões em reuniões semanais assim como
por atividades práticas, tais como trabalhos de campo. Dessa forma, busca-se estender o aprendizado
pessoal e acadêmico, com troca e construção de conhecimento entre seus membros, que tentam atingir
uma melhor formação como geógrafos.
Buscamos, por meio deste trabalho, fornecer subsídios e idéias, através de nossa experiência,
para projetos de cunho educacional referentes a Geografia Física. Cremos também, que com a
divulgação de nossas atividades, possamos contatar e trocar conhecimentos com interessados.
1 Bolsista de Iniciação Científica, financiada pela Pró-Reitoria de Pesquisa da USP.
2. Materiais e Métodos
O grupo de estudos se pauta em quatro pontos primordiais para o desenvolvimento de sua
atividade, sendo eles:
Leituras: Constituem a base fundamental para o aprimoramento acadêmico, servindo de
subsídio às demais atividades realizadas. Por isso, buscamos sempre leituras de artigos
científicos e livros concernentes aos temas previamente propostos;
Trabalho de campo: Surge a fim de se aprimorar e se aperfeiçoar as técnicas de cada ramo da
geografia física. Até o momento realizou-se um campo de pedologia, porém estão programadas
mais atividades para longo prazo;
Ciclo de palestras: Como um dos intuitos do grupo é difundir o conhecimento da geografia
física para demais graduandos e para comunidade externa, cremos que promover ciclos de
palestras com professores do Departamento de Geografia da FFLCH seja uma forma direta de
atingir tal objetivo;
Materiais didáticos em meio digital: outra forma de atingir nosso objetivo de difusão do
conhecimento é usar a rede mundial de computadores, por meio da elaboração de um website,
onde será possível expor materiais didáticos produzidos pelos membros do grupo.
3. Resultados Obtidos
3.1. Leitura e Discussão de Artigos Científicos
Desde seu início, o grupo de estudos de Geografia Física teve como um de seus eixos o
aprimoramento por meio de leituras semanais, nas quais se buscou abordar as principais e mais
diversas temáticas que colaboram na construção da geografia física, assim será exposto a seguir as
leituras efetuadas ao longo desses meses pelo grupo.
No debate do texto de Queiroz Neto (2002), o autor faz um retrospecto da experiência do
ensino e da pesquisa da análise estrutural da cobertura pedológica no Brasil, abordando questões como
a relação existente entre o relevo e o solo através da análise tridimensional, a importância da
metodologia francesa para o estudo da pedologia no Departamento de Geografia da FFLCH. O autor
afirmou também que entre os anos de 1980 e 1995 pode-se contar com a participação de um grupo de
pesquisadores franceses da École Nationale Supérieure Agronomique de Rennes, do Centre de
Géomorphologie CNRS e do Centre ORSTOM de Caiena, dentre eles Joel Pellerin, Pierre Curmi, René
Boulet e Allain Ruellan, assim como professores, pós-graduandos e graduandos brasileiros do
Departamento de Geografia.
Deste trabalho surgiram muitas dissertações e teses que usaram a topossequência como apoio
aos referidos trabalhos. Tais trabalhos se realizaram em diversas porções dos estados de São Paulo,
Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais, permitindo dessa forma a discussão de questões relevantes aos
sistemas pedológicos quanto a sua gênese, sua dinâmica, seu funcionamento hídrico e sua erosão.
Na busca de entender como se dá a dicotomia presente na Geografia, propôs-se a discussão do
segundo e terceiro capítulos de Geografia física: ciência humana? (MENDONÇA, 1992), onde o autor
trata da divisão existente dentro da Geografia e dos problemas metodológicos enfrentados pela
Geografia Física. Para o desenvolvimento de sua argumentação, Mendonça (op. cit.) faz um panorama
da origem e evolução dessa vertente da Geografia, nos remetendo aos grandes naturalistas dos séculos
XVIII e XIX, cujas produções se pautavam na observação e na análise dos componentes do meio
natural. Após este período, houve o surgimento do determinismo e do possibilismo, sendo que no
primeiro não ocorreu uma separação clara entre aspectos físicos e humanos, ao passo que na segunda,
a dicotomia presente foi sentida com maior facilidade. Ainda de acordo com o autor, com La Blache
podemos perceber as verdadeiras raízes da Geografia Física, as quais se pautavam muito no espírito
cartesiano e colocava em voga os trabalhos de campo para a descrição do meio natural. A partir daí, o
autor suscita a necessidade de se estudar em separado os componentes do meio natural, como clima,
relevo, vegetação, bacias hidrográficas, entre outros. As contribuições de estudiosos como Davis, De
Martonne, Strahler e Cholley são mencionadas. Uma grande parte do texto faz menção à importância
da Teoria dos Sistemas e da contribuição de geógrafos como Georges Bertrand, que segue essa linha
metodológica, e Jean Tricart, que trabalha com o conceito de ecodinâmica.
No capítulo seguinte, o autor discorre sobre os métodos de interpretação e de pesquisa para o
conhecimento científico. Para o desenvolvimento da Geografia Física, utilizam-se muitas vezes
métodos de pesquisa de outras ciências - como a Geologia - mas sempre levando em consideração o
ponto de vista geográfico. Algumas tentativas metodológicas específicas da Geografia Física são
explicadas pelo autor, sendo elas: dialética da natureza, abordagem sistêmica, estudo da paisagem,
geossistema e ecogeografia.
Um tema que o grupo pensou ser importante para a discussão acadêmica é o que faz referência
aos geossistemas. Para um primeiro contato, fez-se a leitura e discussão do primeiro capítulo do livro
de Christofoletti (1974), na qual é abordada a questão dos sistemas em Geomorfologia. Assim, o autor
parte da noção geral de sistema, através da definição do mesmo e a identificação de seus elementos,
atributos e relações. Christofoletti (op. cit.) apresenta a classificação dos sistemas em Geomorfologia,
que são: isolados, não isolados, morfológicos, em sequência, processos-respostas e controlados. Em
seguida, ele resume a noção de equilíbrio, explica o que é sistema geomorfológico e seus sistemas
embutido. Por fim, o autor apresenta a classificação dos chamados “fatos geomorfológicos”.
A fim de aprofundar a questão sobre geossistemas, buscou-se a leitura de alguns capítulos do
livro organizado por Passos (2007), onde Berutchachvili & Bertrand fazem uma retomada da corrente
de pesquisadores naturalistas como fonte de entendimento da paisagem. Os dois autores discorrem
sobre a “ciência da paisagem” e como cada “escola” (menção as escolas russa e francesa) apresenta
sua concepção acerca desta problemática e de como é ocorre a sua análise e interdisciplinaridade.
Dessa forma, o autor desenvolve o conceito de geossistema, a caracterização de sua morfologia entre
geohorizontes e geofácies, se apoiando na distinção que existe do geossistema com o ecossistema e em
toda a sua estruturação. No mesmo livro de Passos (op. cit.), no capítulo de Bertrand & Bertrand, a
questão espaço-tempo é analisada para a apreciação do estudo do geossistema. Como complementação
dessas leituras e discussões realizadas, foi proposta a elaboração de um glossário com termos
referentes aos geossistemas e a montagem de uma linha do tempo contendo as principais
características da “ciência do geossistema”, que posteriormente será divulgada em meio digital.
Quando se fala em ciências da Terra, um pesquisador que possui grande contribuição e um
grande legado é Jean Tricart, o qual apresenta merecido destaque no pensamento geomorfológico
brasileiro. Desta maneira, sendo imprescindível abordar tal temática, fizemos a leitura de um artigo de
Ab’Saber (2005) sobre os estudos que o pesquisador francês realizou no Brasil e suas colaborações
feitas com outros pesquisadores. Tricart realizou pesquisas em diversas porções do Brasil, contribuiu
junto a Cailleux para o estudo das linhas de pedra e teve papel fundamental para que Ab'Saber e
Vanzolini, nos anos de 1960 a 1970, formulassem a teoria dos redutos e refúgio.
Deixou como lição a importância da observação para a Geografia, atentando todos ao fato de
que as paisagens são heranças do passado.
Na busca de entender todos os elementos componentes ao que concerne a Geografia Física, foi
proposta a leitura de um capítulo do livro organizado por Venturi (2005) do qual trata de técnicas de
biogeografia, escrito pela Profa. Dra. Sueli Ângelo Furlan. O ponto principal é o entendimento do
objeto da biogeografia e qual sua função dentro da Geografia. A autora explica o que vem a ser a
palavra biogeografia e qual o papel do biogeógrafo. A partir disso, a autora contextualiza este ramo da
Geografia separando-a em histórica e ecológica. Após isto, Furlan apresenta diversos conceitos e
técnicas empregadas no trabalho do biogeógrafo, como delimitar áreas de distribuição, reconstrução
dos padrões, a importância do trabalho de campo, o estudo da cobertura vegetal, a observação do meio
físico e dos fatores climáticos.
3.2. Trabalho de Campo
As técnicas de estudo do solo são muitas e complexas, envolvendo observação de campo,
análises laboratoriais e de gabinete. Por isso, a escolha da técnica utilizada em campo é definida pela
problemática abordada.
No campo há a possibilidade de descrição e análise das relações existentes entre os diferentes
horizontes, permitindo que se façam inferências sobre os processos envolvidos na formação do solo,
sua função atual na paisagem, bem como elaborar hipóteses sobre sua a dinâmica evolutiva, conforme
explicita MANFREDINI et. al. (VENTURI, op.cit.).
O trabalho de campo foi realizado no dia 18 de Fevereiro de 2009, no Campus da Cidade
Universitária Armando Sales de Oliveira, na cidade de São Paulo, com a Profa. Dra. Déborah de
Oliveira, em um barranco localizado ao lado do Instituto de Geociências.
A escolha para a realização do campo se deu em um momento oportuno, já que naquele local,
onde está se construindo um anexo do IGc, existe um extenso barranco aberto. Assim sendo, pudemos
na ocasião descrever o perfil de um solo urbano intensamente alterado ao longo dos anos.
Antes da ida ao campo, foi realizado um levantamento sobre as informações do perfil e do local
a ser analisado, observando-se a carta de solos do Estado de São Paulo na escala 1:500.000
(OLIVEIRA et. al., 1999), o embasamento geológico, o clima, a posição na vertente, o relevo e a
vegetação original.
O terreno recebeu, durante a construção do campus universitário, diversos aterramentos a fim
de se realizar o nivelamento do terreno. Este fato pôde ser notado em campo pela heterogeneidade
observada no perfil descrito, pois o solo possui diversos horizontes bastante distintos, em um perfil não
tão profundo assim como o fato também de não ser mais observado o solo anterior aos aterramentos.
O perfil escolhido para análise morfológica possui cerca de 1,40m, onde foram identificados 10
horizontes (Figura 1). Dado o limite do tempo disponível e a pretensão apenas didática do trabalho de
campo, foram escolhidos arbitrariamente, apenas 4 horizontes para a análise (Figura 2).
Figura 1: Fotografia do perfil de solo parcialmente descrito. (Willian Santos, 18 de fevereiro de 2009)
Figura 2: Croqui do solo parcialmente descrito. Sem escala. (Mariana Franco de Carvalho e Thomas J. Schrage)
O perfil apresentou muito entulho, como pedaços de azulejos e britas de construção, bem como
uma grande raiz de uma árvore cortada recentemente ou possivelmente trazida ao local juntamente
com os aterros. Há também a presença de material de alteração de cor violeta (Figura 3) e matéria
orgânica, como raízes de plantas em horizontes inferiores. Além disso, nota-se que o solo sofreu
iluviação de argila de um horizonte para outro, onde há uma maior concentração de argila nos
horizontes inferiores.
Figura 3: Material de alteração de cor violeta encontrado no perfil. (Willian Santos, 18 de fevereiro de 2009)
A seguir estão expostos os dados coletados em campo (Tabela 1):
Tabela 1: Dados de 4 horizontes analisados de um perfil de solo urbano.
Horizonte 1 Horizonte 3 Horizonte 7 Horizonte 9
Espessura 0-16cm 24-37cm
74-84cm; a partir de
131cm de profundidade
(160cm +)
92-109cm
Cor Bruno, com
manchas mais escuras
Amarelo Amarelo bem claro
Amarelo, com algumas
manchas claras
Textura Areno-Argilosa
(mais areia do que argila)
Areno-Argilosa Arenosa
Areno-Argilosa (com um
pouco mais de argila que o anterior e com areia mais fina)
Estrutura
Grumosa, em função da matéria
orgânica e das raízes
Em blocos sub-
angulares Granular Em blocos
sub-angulares
Consistência do solo
Seco
Solta. Por ter chovido, não
havia na ocasião presença de solo seco, dificultando
a descrição
Solta Solta Dura.
Úmido Firme Plástico Solta Muito firme
Molhado Ligeiramente plástico
Ligeiramente plástico
Ligeiramente plástico, não
pegajoso
Ligeiramente plástico, não
pegajoso
Porosidade Biológica, de pequena à grande
Poros muito pequenos e em menor quantidade
(presença de algumas raízes)
Intersticial ou porosidade
granular
Poros muito pequenos
(presença de algumas raízes)
Transição entre os horizontes Ondulada; clara Ondulada; abrupta
Não há, a mancha está
em profundidade,
forma um arco
Irregular, abrupta
Organização: Breylla C. Carvalho, Mariana F. Carvalho e Sabrina Giannecchini, 2009.
3.3. Ciclo de Palestras
Teve-se a idéia de organizar uma semana na qual seriam realizadas palestras com professores
da Universidade de São Paulo, docentes ou aposentados, para suprir uma demanda anterior à
Universidade: a de saber o que deveríamos esperar do curso de Geografia, já que a disciplina
Geografia da escola é diferente do que encontramos na Universidade. Nossa pretensão foi também a de
ocorrer um primeiro contato entre os professores e os novos estudantes. Os temas escolhidos para as
palestras foram os seguintes: Geomorfologia, Pedologia, Biogeografia, Climatologia e Cartografia.
Ministraram as palestras os Professores Doutores Jurandyr Luciano Sanches Ross, incumbido
da abertura da semana e responsável pela palestra sobre Geomorfologia; Déborah de Oliveira para a
palestra de Pedologia; Yuri Tavares Rocha para a palestra de Biogeografia; e o já aposentado, porém
muito presente no Departamento de Geografia, José Bueno Conti para a palestra de Climatologia. As
palestras foram idealizadas para serem executadas no período entre aulas, ou seja, no horário das 18h
as 19h30, estando assim acessível tanto aos alunos do período diurno quanto aos do noturno.
Para realizar o proposto, analisamos o que seria necessário na execução do evento afim de uma
melhor organização e distribuição as atividades. Entramos em contato, via e-mail, com alguns
professores e como forma de divulgação, além dos meios tradicionais (banners e folders), utilizou-se
uma rede de relacionamentos virtual.
Durante as palestras um membro do grupo ficava responsável por presidir a mesa, ou seja,
abrindo o evento, organizando as perguntas do público e, no final, encerrando as palestras.
Palestras
Geomorfologia
A palestra de Geomorfologia foi apresentada pelo professor Jurandyr Luciano Sanches Ross.
Em seu decorrer, o professo tratou da aplicação e da importância de sua disciplina para o
planejamento. Falou sobre a atuação de geógrafos no poder público e as diferenças existentes entre
Geografia, Geologia e Engenharias em geral.
Tratou da questão da importância de o geógrafo ter o domínio de novas tecnologias, já que há
uma constante evolução nas ferramentas disponíveis para os estudos realizados, mas também falou da
importância de se ter um embasamento teórico para poder utilizá-las de maneira adequada.
Pedologia
A palestra ministrada pela professora Déborah de Oliveira foi realizada de uma maneira
informal, por meio de uma conversa com os calouros, onde foi apresentada a história da Pedologia, sua
importância e influência na Geografia.
A professora apresentou a importância da escola francesa nos estudos de Pedologia no Brasil,
qual o embasamento para a classificação de solos, bem como a relevância de Dokuchaiev ao ser o
primeiro a reconhecer o solo como um corpo natural e formado pela ação de um grupo de agentes,
sendo, inclusive, também pioneiro ao estabelecer uma classificação baseada nas propriedades do solo e
nos seus fatores de formação.
Em 1877, Dokuchaiev descobriu camadas distintas e horizontais nos solos associadas a clima,
vegetação e material de solo subjacente. A mesma seqüência de camadas era encontrada em áreas
geográficas muito distantes, contanto que houvesse similaridade de clima e vegetação. Explicou
sucintamente sobre os fatores de formação do solo: material de origem, clima, relevo, seres vivos e
tempo.
A palestrante encerrou a palestra defendendo a idéia do solo ser um recurso natural não
renovável, sendo assim merecedor de nossa atenção e respeito, já que muitas vezes nos preocupamos
com a poluição e degradação do meio ambiente, mas nos esquecemos do solo e de sua importância.
Biogeografia
O professor Yuri Tavares Rocha se preocupou em definir o que era a Biogeografia, partindo de
uma apresentação na qual tratou de questões referentes ao início da criação da Terra ao Darwinismo,
entre outras questões relevantes. Após isto, resumiu a importância da Biogeografia e suas dificuldades
no cenário geográfico.
O professor exibiu um vídeo da evolução humana de pouco mais de um minuto e apresentou
alguns trabalhos realizados por alunos de pós-graduação, expondo assim o tipo de atuação que
poderíamos ter na Biogeografia.
Ao final da palestra o professor realizou o sorteio de um livro do professor Carlos Augusto de
Figueiredo Monteiro, presenteando o ouvinte que fazia aniversário no dia mais próximo ao dia do
geógrafo.
Climatologia
O professor José Bueno Conti se preocupou em tratar da forma como eram as pesquisas da
Geografia em sua época de estudante de graduação, das dificuldades existentes àquela época e as
facilidades que temos hoje. Ele comentou sobre a divisão do curso de História e Geografia e o
histórico da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
O professor trouxe uma discussão sobre aquecimento global, defendendo sua posição
contrária ao dos pesquisadores do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change). O
professor discorda da teoria de que a emissão de CO2 possa ser a grande responsável por um possível
aquecimento global. Para tanto, o professor citou um debate similar de sua época de graduação, o qual
se deflagrava a discussão sobre se estariam ou não em um período de glaciação, ou seja, em um
esfriamento global. Também discordou dos modelos propostos pelo IPCC, lembrando de antigos
rumores, ainda de seu tempo de graduação, de que o nível do mar se elevaria alguns metros em menos
de 50 anos, mas que não ocorreram.
Ao término da palestra, o professor distribuiu cópias de seu artigo “Geografia e Climatologia”
publicado a Revista GEOUSP (2001) a todos os participantes.
Após um balanço realizado sobre o evento, pudemos considerar que este ciclo de palestras
propiciou um saldo positivo para nós e para os demais participantes, pois sempre houve pessoas muito
interessadas, participando de todas as palestras e colocando questões e debates relevantes acerca de
cada tema, gratificando, assim, o evento. Houve também uma grande aproximação com os demais
docentes do Departamento de Geografia e uma divulgação maior do trabalho do grupo de estudos.
3.4. Materiais Didáticos em Meio Digital
O projeto de se criar um website foi uma propostas iniciais da criação do grupo de estudos de
Geografia Física. Entre os objetivos do projeto, destacamos o aprendizado de seus criadores - criando
maior domínio de síntese e organização do saber – e o de extensão universitária – criando-se laços, por
intermédio da educação, entre a Universidade e a comunidade externa.
A rede mundial de computadores (internet), sem dúvida alguma, é o fenômeno que melhor
exemplifica o tempo em que vivemos. O desenvolvimento acelerado das novas tecnologias assim
como sua maior participação em lugares e grupos diversos proporciona a maior dispersão da
informática em uma velocidade vertiginosa e de extensão global. A educação, querendo ou não, se
insere neste processo. Informações novas aparecem a cada minuto e cada novo conhecimento está
facilmente disponível para estudantes em todo o mundo.
Não obstante, universidades e colégios buscam fazerem-se visíveis. São inúmeros os projetos
de comunicação com a sociedade através do espaço da internet. Destacamos aqui, porém, que em
muitos casos, instituições educacionais buscam o marketing através dessas novas mídias ou tratam a
educação como uma mercadoria. Um fato que comprova isto é a criação, realizadas por cursos
preparatórios para o vestibular, de televisões e rádios virtuais, a fim de divulgação apenas de seus
sistemas de ensino. Outro exemplo que podemos citar é o de diversos portais educacionais exigirem
mensalidade para o acesso de seu conteúdo.
As universidades, por sua vez, buscam laços por intermédio da política de “cultura e extensão”.
Sua característica principal é interferir na sociedade por meio de diversos projetos de qualidade,
geralmente culturais e/ou educacionais, tencionando trocas simbióticas entre todos os participantes,
tanto acadêmicos como não acadêmicos.
Não é nossa pretensão aqui discutir a internet ou a educação muito além do âmbito
introdutório, porém, mais algumas considerações devem ser feitas: é preciso dizer que esta rede, por si
só, não responde todas as deficiências educacionais ou implique numa melhora do processo educação-
aprendizado. Para que isto se torne realidade, exige-se por parte da escola e do professor um projeto
pedagógico, assim como uma orientação do que deve ser utilizado ou não. Isso se faz necessário, pois,
como é sabida, a internet, na maioria dos países, não possuí limitações de postagem de determinados
conteúdos; dessa forma, qualquer informação, verdadeira ou não, necessária ou não, está disponível
para todos. É importante ensinar o aluno a filtrar o que lhe de fato será educacionalmente importante.
Objetivos do projeto do website
Tendo isto em vista, o projeto de criação de um website de Geografia Física por nosso grupo de
estudos visa atingir as pretensões de cultura e extensão, acreditando que:
Ao escrever artigos e textos, estaremos automaticamente selecionando, sintetizando e
sistematizando informações aprendidas ao longo do curso.
Ao buscar qualidade para nosso projeto, estaremos constantemente debatendo informações
entre o grupo de estudos, criando assim uma troca benéfica para todos.
Estaremos em constante atualização dos novos conhecimentos, tantos da Geografia, como da
informática e pedagógicos.
O projeto também possui caráter interdisciplinar. Assim sendo, buscamos contato com todos os
laboratórios e com o máximo de professores de diversas áreas da Geografia Física.
Quanto aos nossos objetivos educacionais, substanciamos:
Fornecer para a sociedade materiais didáticos de qualidade e confiável, em diversas mídias, tais
como animações e fotografias. Com isso, pretendemos:
◦ Fornecer ao professor um material de apoio para ilustrar suas aulas
◦ Fornecer ao aluno material para que conteúdos poucos concretos pareçam menos abstratos
e sejam de melhor visualização tal como ele é na realidade.
Divulgar a Geografia Física e as Ciências da Terra para todos interessados.
Criar laços e apresentar a Universidade para os estudantes.
Atingir o maior público possível, de diversos lugares, idades e gostos. Acreditamos que para
isso, a internet seja o meio mais apropriado e fácil.
O website
O website ainda está em fase de projeção e discussão. A idéia inicial, porém, é que seja de fácil
visualização e entendimento, com uma linguagem didática e agradável. Em seu menu, estarão
separados os temas de acordo com a área de conhecimento da Geografia Física, de forma simplificada
(e.g: pedologia como solos, geomorfologia como relevo, etc.); isto para que o usuário intuitivamente
entenda as divisões de conhecimento dentro da Geografia Física.
Também haverá um glossário, já em fase de desenvolvimento pelo grupo, assim como
indicações de materiais diversos (livros, filmes, websites e periódicos), divulgação de eventos e a
comunicação, via e-mail, direta com o grupo.
Permitiremos que estudantes e profissionais voluntários participem com o envio de seu
material, que será por nós avaliado. Assim feito, o colaborador entrará na lista de “colaboradores”.
Ressaltamos, porém, que não existirá para as publicações disponíveis unicamente pelo site algum valor
científico ou acadêmico.
Nossa maior pretensão, no entanto, é garantir material confiável. Buscaremos relação com os
laboratórios de Geografia Física da FFLCH assim como hospedar o website em algum laboratório, a
fim de se garantir, logo em seu endereço eletrônico, um atestado da confiabilidade para os usuários.
Outra característica que pretendemos é manter uma boa interatividade. Manter fotografias,
animações, imagens ou qualquer outro meio que permita ilustrar os temas mais abstratos das ciências
da Terra, tendo em vista o website como recurso pedagógico e como material que permita o aluno
transpor os conhecimentos de sala de aula para a realidade que o circunda.
4. Considerações Finais
Durante o processo de criação do grupo, passamos por algumas dificuldades de diferentes
ordens, como a desistência de participantes, a definição de um local e horário compatíveis com as
disponibilidades dos membros, bem como a seleção de temas a serem estudados.
Entretanto, com uma maior definição do perfil do grupo, houve um maior fortalecimento deste, o que
tem proporcionado grande desenvolvimento acadêmico para os seus integrantes e interessados nos
temas discutidos relacionados à Geografia Física.
Visto o que foi exposto no presente trabalho, as leituras surgem como o eixo principal do nosso
embasamento teórico-metodológico, sendo fundamentais para a realização dos trabalhos de campo, a
elaboração de materiais didáticos disponibilizados no website e a promoção de futuras atividades
extracurriculares como mini-cursos.
Agradecimentos
Os autores agradecem aos estudantes de graduação de Geografia da Universidade de São Paulo,
também membros do Grupo de Estudo GEF, pela contribuição dada durante a realização deste
trabalho:
Barbara Renata Pereira Cruz (Bolsista PRP/IC, [email protected]),
Gustavo Miura Thiesen ([email protected]),
Mariana Franco de Carvalho ([email protected]) e
Sabrina Giannecchini ([email protected]),
5. Referências Bibliográficas
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QUEIROZ NETO, José Pereira. Análise estrutural da cobertura pedológica: uma experiência de
ensino e pesquisa. Revista do Departamento de Geografia (USP), v. 15, p. 77-90, 2002. VENTURI, Luiz Antonio Bittar (Org). Praticando Geografia: técnicas de campo e laboratório.
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