Gênero Bacillus Versão 2013
-
Upload
eduardomauer -
Category
Documents
-
view
8 -
download
2
description
Transcript of Gênero Bacillus Versão 2013
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Gnero Bacillus spp
Prof. Marcos JP Gomes
Carbnculo Hemtico
Antraz
Intoxicaes Alimentares
ATUALIDADES
Atualmente (2013), na List of Prokaryotic names with Standing in Nomenclature
organizada pelo pesquisador J.P. Euzby h citao de 265 espcies e de 7 subespcies no
gnero Bacillus spp, conforme o site www.bacterio.cict.fr/b/bacillus.html.
As ltimas espcies includas so:
B. berkeleyi (Nedashkovskaya et al. 2012);
Bacillus beringensis (Yu et al. 2012);
Bacillus cytotoxicus (Guinebretire et al. 2013);
Bacillus daliensis (Zhai et al. 2012);
Bacillus deserti (Zhang et al. 2012);
Bacillus eiseniae (Hong et al. 2012);
Bacillus endoradicis (Zhang et al. 2012;
Bacillus iranensis (Bagheri et al. 2012);
Bacillus kochii (Seiler et al. 2012);
Bacillus purgationiresistens (Vaz-Moreira et al. 2012);
Bacillus zhanjiangensis (Chen et al. 2012).
H efetivamente mais de 172 espcies aceitas. Houve uma quantidade grande de
espcies includas no gnero a partir dos anos 2000, ou seja, mais de 118 espcies.
Em 2012 e 2013 foram includas novas espcies como as especificadas acima.
TAXONOMIA
O gnero Bacillus que pertence famlia Bacillaceae, extremamente heterogneo,
tanto geneticamente (o G + C % das diversas espcies variam de 32 a 69) quanto
http://www.bacterio.cict.fr/cv.htmlhttp://www.bacterio.cict.fr/b/bacillus.html -
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
fenotipicamente (tipo respiratrio, metabolismo dos acares, composio da parede, etc).
Os estudos do ARNr 16S e 23S confirmaram essa heterogeneidade e mostraram que o
gnero Bacillus pode ser dividido em muitos gneros.
Em 1991, Ash e colaboradores, utilizando anlise seqencial do ARNr 16S de 51
espcies classificaram e caracterizaram em 5 grupos filogenticos. A organizao foi
iniciada em 1992 para criao do gnero Alicyclobacillus que agrupou trs espcies
acidfilas e termfilas. Posteriormente, foram propostos e validados outros gneros
incluindo: Aneurinibacillus (1996), Brevibacillus (1996), Gracilibacillus (1999),
Geobacillus (2001), Marinibacillus (2001), Paenibacillus (1994), Salibacillus (1999),
Ureibacillus (2001), Virgibacillus (1998) e Lysinibacillus (2007), todos com pelo menos,
uma espcie, inicialmente includa no gnero Bacillus. O gnero Amphibacillus (1990),
Filobacillus (2001), Jeotgalibacillus (2001) e Halobacillus (1996) so igualmente
constitudos de bacilos Gram positivos, esporulados, aerbios ou aero-anaerbios.
CARACTERSTICAS MORFOLOCICAS, CULTURAIS E BIOQUIMICAS.
As espcies do gnero Bacillus so bastonetes com extremidades retas ou
arredondadas de tamanhos variveis (0,5 X 1,2 m at 2,5 x 10 m), esporulados, Gram
positivos ou Gram variveis (colorao de Gram no positiva nos cultivos jovens);
Geralmente mveis graas aos clios peritrquios.
O B. anthracis e o B. mycoides so imveis. Nas espcies mveis, a motilidade
varivel, segundo a linhagem.
Algumas espcies so capsuladas (B. anthracis, B. licheniformis, B. megaterium e B.
subtilis podem elaborar cpsula formada de polmeros de cido glutmico); aerbios ou
anaerbios; geralmente catalase positivos; so variveis ao teste da oxidase.
O cultivo desses microrganismos pode ser difcil, visto que algumas espcies podem
exigir inmeros fatores de crescimento; aspecto colonial no agar so variveis e o
fenmeno de dissociao so freqentes.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
O B. anthracis, B. cereus, B. thuringiensis e o B. weihenstephanensis formam
colnias de tamanho grande (2 a 7 mm de dimetro), foscas ou granulosas e de forma
variveis (circulares ou no, bordos regulares ou denteadas ou filamentosas).
O B. mycoides e o B. pseudomycoides produzem colnias rizides e aderentes que se
espalham por todas a superfcie do agar em 48 horas.
As colnias do B. licheniformis possuem um aspecto de lquen. Elas so secas e
aderentes a superfcie do agar.
O B. subtilis produz colnias irregulares (contorno ondulado ou filamentoso),
consistncia cremosa e de dimetro entre 2 e 4 mm. Nos cultivos mais velhos, as colnias
apresentam um aspecto seco rugoso e se incrustam no agar. As colnias das outras espcies
isoladas na bacteriologia mdica (B. coagulans, B. megaterium, B. pumilus) no
representam caractersticas particulares.
Algumas espcies ou certas cepas produzem pigmentos quando cultivados em meios
especiais (pigmento vermelho para o B. cereus, pigmento amarelo para o B. fastidiosus,
pigmento amarelo, laranja, mbar, rosa, para o B. subtilis).
As espcies do gnero Bacillus esporulam logo que as condies no so favorveis
(um s esporo por clula vegetativa); freqentemente so muito resistentes no meio
ambiente. O fenmeno de esporulao ao contrrio que acontece pelas espcies do gnero
Clostridium, no inibido pelo oxignio. A esporulao depende das condies de cultivo
in vitro . Algumas espcies no esporulam em meios especiais.
As espcies do gnero Bacillus so classificadas em trs grupos, segundo a
morfologia do esporo e do esporngio.
O grupo I formado por bacilos Gram positivos, apresentam esporo central ou
terminal; esfricos ou ovides; no deformam a clula. O grupo I subdividido em outros
dois subgrupos: a) O grupo Ia constitudo de bacilos de dimetro superior a 1 m,
apresentando incluses de poli-beta-hidroxibutirato (B. anthracis, B. cereus, B.
megaterium, B. mycoides, B. pseudomycoides, B. thuringiensis, B. weihenstephanensis); e
b) O grupo Ib constitudo de bacilos com dimetro inferior a 1 m e desprovidos de
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
incluses de poli-beta-hidroxibutirato (B. coagulans, B. firmus, B. licheniformis, B. subtilis,
B. pumilus)
O grupo II constitudo de espcies Gram variveis; apresenta esporo oval, central
ou terminal que deformam a parece celular (B. circulans, B. stearothermophilus).
O grupo III caracterizado por bacilos Gram variveis; apresentam um esporo
esfrico terminal ou subterminal que deformam a parede celular (B. globisporus, B.
insolitus).
O B. thuringiensis, sintetiza um cristal composto de toxinas letais para insetos. A
elaborao do para-esporo no nico no gnero Bacillus, pois o Lysinibacillus fusiformis,
Lysinibacillus sphaericus, Paenibacillus popilliae, Brevibacillus laterosporus e certas
linhagens do Paenibacillus lentimorbus so capazes de produzir tais cristais.
HABITAT
Os bastonetes so geralmente saprfitos e no patognicos para os animais. A
espcie mais patognica o B. anthracis, agente etiolgico do carbnculo hemtico nos
animais e homem, sendo imortalizado pelos postulados de Robert Koch. O gnero Bacillus
composto de microrganismos ambientais cujo habitat principal o solo onde possuem um
papel importante no ciclo do carbono e do azoto. A resistncia dos esporos e a diversidade
fisiolgica das formas vegetativas fazem com que sejam considerados ubquos, podendo ser
e gneros alimentcios.
RESISTNCIA
A resistncia dos esporos constitui um problema importante na epidemiologia de
certas infeces, pois repousa na esporulao. Na rea industrial (indstrias agro-
alimentares, indstrias farmacolgicas, produo de material estril descartvel) alem do
problema de resistncia se soma adeso dos esporos. Certas espcies do gnero Bacillus
produzem esporos que so hidrfobos, ou seja, aderem fortemente a diversos materiais,
resistindo aos procedimentos de limpeza. O B. cereus se adere muito bem s superfcies de
ao inoxidvel, podendo provocar problemas nas indstrias de alimentos. As estruturas
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
responsveis na adeso no so totalmente conhecidas. No caso do B. cereus a presena de
filamentos semelhantes ao pili e para as outras espcies como o B. licheniformis forma uma
espcie de fino feltro em torno do esporo.
PATOGENICIDADE DO GNERO
Mamferos
Duas espcies so indiscutivelmente patognicas: B. anthracis e o B. cereus. As
outras espcies so patgenos oportunistas notadamente para hospedeiros debilitados. Os
bacilos so igualmente causa de infeces oculares, aps traumatismos acidentais ou
cirrgicos. As espcies mais incriminadas so: B. cereus, B. licheniformis e o B. subtilis,
entretanto outras espcies no identificadas (Bacillus spp) so isoladas. Estas infeces
oculares se caracterizam por evoluo rpida, panoftalmia que responde muito mal aos
tratamentos e, geralmente levam enucleao do globo ocular.
A patogenicidade para os animais varivel, incluindo infeces agudas,
septicmicas ou at infeces moderadas. A doena ocorre em bovinos, ovinos, caribu,
biso, bfalo, eqinos, marta e outros mamferos. As aves, os carnvoros e os rpteis so
geralmente resistentes. Os sunos so menos suscetveis que os bovinos, ocorrendo como uma
faringite aguda com leses edematosas na regio da garganta e pescoo.
Nos eqinos, a infeco se d pela ingesto, ocorrendo septicemia, enterite, edema
evidente e linfadenite. Nos caninos e felinos a infeco semelhante aos sunos.
A grande maioria das espcies do gnero Bacillus saprfita, estando amplamente
distribu das no ar, solo e gua.
O endsporo do B. anthracis pode sobreviver mais de 50 anos no solo, especialmente
em reas geogrficas limitadas denominadas reas endmicas. Acredita-se que haja reas,
ditas reas incubadoras onde por pequenos perodos de tempo h a germinao de esporos
e multiplicao de clulas vegetativas. Estas reas geralmente possuem clima quente com
solo alcalino, calcreo sujeito ao alagamento peridico.
O B. cereus e B. licheniformis so ocasionalmente isolados de bovinos com mastite e
de eqinos e bovinos com leses supurativas. Estes microrganismos no so invasivos,
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
multiplicando em tecidos com leso anterior. O B. cereus produz intoxicaes alimentares no
homem.
Tabela 1. Principais Agentes, Hospedeiros e Enfermidades causadas pelo gnero Bacillus spp
Espcie(s) Hospedeiro(s) Doena
B. anthracis Bovinos e Ovinos Forma septicmica do CH. Geralmente morte sbita
Sunos CH subagudo com edema faringiano, linfadenite.
regional ou a forma intestinal com grande mortalidade
Eqinos Via oral: septicemia com clica e enterite.
Infeco de ferida: edema localizado e linfadenite
Carnvoros Mais resistente. Doena semelhante ao suno.
Uma dose macia de carcaa infectada pode levar a
septicemia.
Homem Forma cutnea: Pstula maligna
Forma P woolsorter disease
Formas intestinais: so freqentemente fatais.
B. cereus Homem Intoxicao alimentar.
Bovinos Raros casos de mastite
B. licheniformis Bovinos e Relato de abortos.
Ovinos
O B. licheniformis est implicados em casos de abortos em ovinos e bovinos,
especialmente quando os animais so alimentados com feno de baixa qualidade, colhidas aps
veres chuvosos. A bactria foi isolada em cultura pura de leses necrticas, supurativas e
hemorrgicas da placenta e da vagina da fmea e do contedo do abomaso, sangue, fgado,
pulmes e gnglios linfticos do feto abortado. Casos de mastite aguda, acompanhada de sinais
gerais, levaram ao isolamento de cepas de B. licheniformis. Embora as cepas sejam sensveis
"in vitro" penicilina e estreptomicina, esses dois antimicrobianos no impedem as recidivas.
O B. licheniformis est presente no trato digestivo dos bovinos prximos a reas
congestionadas, ulceradas ou edematosa sem saber se causa.
No homem, o B. licheniformis responsvel por infeces oculares e, raramente,
septicemia e infeces diversas. Uma variedade da espcie licheniformis denominada
Endoparasiticus considerada uma forma L (mutante desprovida de parede) e, tem sido
descrita em pacientes imunocomprometidos.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
O B. licheniformis est implicado em casos de toxinfeces alimentares aps a ingesto
de carne cozida ou vegetal, contendo mais de 106 bactrias / grama. O perodo de incubao
aproximadamente 8 horas e o principal sinal da doena so vmitos que em 50% dos casos so
acompanhados de diarria.
DIAGNSTICO BACTERIOLGICO GERAL
Embora haja muitas espcies no gnero Bacillus spp somente poucas possuem um
papel patognico para o homem e os animais. A tarefa de diagnstico laboratorial est bem
concentrada no B. anthracis e B. cereus, especialmente por representarem infeco natural
ou experimental como arma biolgica e de intoxicao alimentar, respectivamente.
TSA Exceto o B. anthracis, h poucos estudos sobre a sensibilidade aos ATMs. Os bacilos
so sensveis: associao amoxacilina-cido clavulnico, gentamicina, amicacina,
canamicina, s fluoroquinolonas, tetraciclina, ao cloranfenicol, rifampicina e
vancomicina. So resistentes lincomicina, colistina e fosfomicina. A produo de beta-
lactamase por inmeras cepas limita o uso e interesse pela penicilina (salvo para B.
anthracis que possui um pequeno nmero de cepas resistentes) e s cefalosporinas.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Bacillus anthracis
Prof. Marcos Gomes
Carbnculo Hemtico (CH)
Antraz
Outras Sinonmias: Anthrax, Charbon Bacterien, Milzbrand, Carbunco.
HISTRICO
O anthraz aparece na Bblia, no captulo 9, do livro xodo como a quinta (morte dos
animais) e sexta (furnculos) praga que assolou o Egito antigo. H sugestes de que a
famosa praga de Atenas (430-427 AC) foi uma epidemia de antraz respiratrio adquirido
por inalao. (2).
O termo "antraz," na verdade, deriva do grego anthrakites (semelhante a carvo),
referindo-se a escara negra e tpica visto na leso cutnea.
A melhor descrio antiga aquela descrita como Pestilncia de Noricum do romano
Virglio (3).
Virglio (70-19 AC), mais conhecido pelo Eneida, escreveu 4 Gergicas, obras
didticas em verso sobre a agricultura.
A terceira Gergica foi dedicado criao de animais, e contm uma passagem em
veterinria que termina com um relato detalhado de uma epizootia, que ocorreu no distrito
de Noricum, nos Alpes orientais.
Uma vez, uma terrvel praga aconteceu l e se alastrou, durante o outono
mais quente, destruindo rebanhos de ovelhas, um aps o outro, matando
animais de todas as categorias. Nem as vtimas tiveram uma morte fcil nem
descomplicada .
Os fluidos tornaram-se abundantes que praticamente dissolveram os ossos
aps uma febre ardente que se alastrou pelas veias e murchou sua carne.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Virglio descreveu a doena em ovinos, bovinos, equinos, caninos e outros animais
domsticos e selvagens. Este ltimo, inclui animais marinhos e cobras. ("A vbora morreu,
em vo defendida por seus flancos arredondados.") Sua descrio mais dramtica envolveu
bois:
O boi forte cai diante do arado pesado. Sangue misturado com espuma sai de
sua boca quando ele geme seu ltimo gemido. . . um grande estupor embota os
olhos, seu flanco definha e sua cabea cede prximo a terra. Do que usar para
ele agora todo trabalho seu no servio humanidade? O lucro que ele
ganhou, transformando-se no solo com o arado pesado? (4)
De que utilidade ele tem agora .. todo o seu trabalho servio da
humanidade? Que lucro teve revirando o duro solo com o arado?
Embora a narrativa contivessem erros e traos de licena potica, ela incluia muitos fatos.
Virgilio entendeu a resistncia da fonte de infeco infectante, assim como o potencial para
a transmisso da doena ao homem:
As peles dos animais doentes eram inteis e nem a gua ou fogo poderia
limpar as mancha de sua carne. Os pastores no poderiam esquilar a l, pois
estava cheia de doena e corrupo, nem se atreviam at mesmo tocar os fios
podres. Se algum usava roupas feitas de l contaminada, seus membros eram
logo acometido por ppulas inflamadas e exsudato com odor ftido . (4)
O antraz continuou a ser uma peste afeta o homem e os animais durante a Idade
Mdia.
No sculo 18, uma epidemia destruiu aproximadamente a metade dos ovinos na
Europa (4).
A inalao de antraz tornou-se conhecida na Inglaterra vitoriana como doena do
classificador de l (woolsorter`s disease), pois frequentemente havia infeco em
trabalhadores expostos s fibras de origem animal contaminadas com esporos do B.
anthracis, embora tenha sido um erro, visto que, a infeco era mais frequente pelo contato
com plo de cabra ou alpaca do que l (5).
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
O sculo 19 considerou o antraz como um ponto central no desenvolvimento na
histria da medicina.
Em 1850, Pierre Rayer e Casimiro-Joseph Davaine descobriram pequenos corpos
filiformes "com cerca de duas vezes o comprimento de um corpsculo sanguneo" na
corrente circulatria de ovinos com antraz (6). Embora no haja evidncia de que eles
inicialmente tivessem considerado como significativa, posteriormente evidenciaram os
microrganismos consistentemente, nos animais com a doena.
Davaine sugeriu que a presena do bacilo no sangue dos animais infectados era
possvel que estes microrganismos estivessem causando a doena, assim como os tecidos
contaminados (6).
Na dcada de 1870, o antraz foi estudado por diversos pesquisadores, incluindo Koch
e Louis Pasteur.
Em 1876, Robert Koch, pela primeira vez, utilizou o mtodos de cultivo em gota
suspensa e foi capaz de traar o ciclo do bacilo do antraz. Descobriu que o bacilo pode
formar esporos e que permaneciam viveis, durante longos perodos de tempo em
ambientes adversos. Alm disso, afirmou que o antraz s poderia ser transmitido de um
hospedeiro para outro por meio de transferncia dos bastonetes.
Em 1877, Koch cresceu o organismo in vitro e induziu a doena em animais
saudveis, inoculando-as com as bactrias cultivadas. Anthraz foi, assim, o prottipo de
famoso postulado de Koch sobre a transmisso de doenas infecciosas.
Pasteur, no entanto, anunciou que o trabalho de Koch era inconclusivo, e assim,
incitou uma disputa acirrada entre os dois homens.
Foi objetivo de Pasteur fornecer uma demonstrao inequvoca da transmisso da
doena infecciosa Em maio de 1881 ele inoculou sua vacina de antraz contendo organismos
vivos atenuados em 25 bovinos de uma fazenda em Pouilly-le-Fort, um pequeno vilarejo
fora de Paris. Elas e 25 outras foram posteriormente inoculadas com o cultivo de esporos
virulentos. Todos os vacinados sobreviveram, mas os 25 controles morreram. Segundo o
pensamento de Pasteur fora este experimento, bem como o trabalho de Koch que provaram
a teoria da doena por germes.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Em 1881, Pasteur desenvolveu a primeira vacina contra o antraz para os ovinos a
partir de esporos atenuado. A vacina de Pasteur foi utilizada at 1939, quando Max Sterne
desenvolveu a vacina que at hoje recomendada. No sculo passado, o antraz foi utilizado
em pesquisas para delinear a atividade dos macrfagos e para ajudar a compreender os
acontecimentos logo no incio do processo infeccioso e as bases moleculares da inflamao.
INTRODUO
Carbnculo hemtico (CH),
aguda, geralmente fatal que acomete inmeras espcies de mamferos, incluindo o homem.
Os animais mais acometidos pela doena so: bovinos, ovinos e mais raramente eqinos e
caprinos. A doena ocorre em todas as idades, mas os animais mais velhos so mais
freqentemente atingidos.
O agente etiolgico um bacilo aerbio, Gram positivo, imvel, capsulado e
formador de esporo denominado B. anthracis, mantendo-se como parte da flora bacteriana
normal encontrada em solos alcalinos.
AGENTE
MORFOLOGIA E COLORAO
O B. anthracis um bastonete grande, Gram +, esporulados com 1 m de largura e 3-
6 m de comprimento. No cultivo, formam grandes cadeias com filamentos de
extremidades em ngulo reto (gomos da cana de acar ou bambu). Os longos filamentos
no so vistos nos tecidos. Os elementos ocorrem individualmente ou em pequenas cadeias
de 2 a 6 elementos encapsulados. A cpsula bem visvel e cora-se com facilidade. Os
esporos so formados em aerobiose, numa temperatura variando de 15-40 C. A
esporulao inibida com o aumento da tenso de CO2, assim como ocorre na
decomposio da carcaa. Os esporos so raros nos rgos internos e sangue. A localizao
do esporo central ou subterminal no deformando a parede bacteriana.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
CARACTERSTICAS CULTURAIS E BIOQUMICAS
O B. anthracis cresce em aerobiose na maioria dos meios laboratoriais. O
crescimento ocorre entre 12 44C, com crescimento timo a temperatura de 37C. Os
esporos germinam para a forma vegetativa quando expostos a 65C por 15 minutos. As
colnias so opacas, com margens irregulares e semelhantes
m
Bioquimicamente menos ativo que os outros do mesmo gnero. Produz cido, mas
no produz gs na: glicose, sacarose, maltose e salicina. O B. anthracis sempre imvel. A
cpsula composta de polmeros do cido glutmico e polissacardeo. As cepas virulentas
so sempre capsuladas.
RESISTNCIA
O esporo do B. anthracis sobrevive ao aquecimento pelo calor seco a uma
temperatura de 160C, durante 60 minutos. O calor mido (fervura) destri os esporos, aps
10 minutos enquanto que a autoclavao efetiva, aps 10 minutos a 120C.
Os desinfetantes qumicos como o iodo e cloro podem ser utilizados na desinfeco.
A putrefao destri o agente na forma vegetativa, mas a abertura da carcaa promove a
esporulao. Outros agentes so efetivos contra o bacilo, incluindo a soluo de formol a
10% por 15 min., cloreto de mercrio 1: 1.000 por 20 min.; cido clordrico a 0,5% por 20
min.; soda custica a 0,5% por 10 min. e o hipoclorito de sdio (NaOCl) a 5% por 20
minutos.
EPIDEMIOLOGIA NO BRASIL
Em 1942, a enfermidade foi descrita, no Brasil, pela primeira vez, em 1942, mas de
forma anedtica. A doena foi evidenciada no RS, acometendo bovinos, ovinos, eqinos,
caprinos e sunos.
Em Santa Catarina, ela foi registrada em sunos;
Em Minas Gerais foi detectada em bovinos, ovinos e eqinos;
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
No RJ foram relatados casos em bovinos;
Em SP bovinos eqinos e no homem;
Em RN e PE foram registrados casos em bovinos, caprinos e no homem.
O Carbnculo Hemtico (CH) tem distribuio mundial. O CH tpico ocorre, durante
os meses de calor seco quando os pastos esto mais baixos ou quando h mudanas
ecolgicas acentuadas como: enchentes, chuvas torrenciais etc.
No Rio Grande do Sul, Santos (1994), identificou a morte de 784 animais durante
surtos da enfermidade em 13 propriedades no municpio de Uruguaiana em um perodo de
4 anos, com maior freqncia nos meses de maro a junho, tendo a infeco se transmitido
a 5 trabalhadores rurais. A freqncia maior ocorre na regio da Campanha e na Fronteira-
Oeste do Estado onde o CH responsvel por grandes perdas, tanto sob a forma de surtos
nos animais, quanto pela alta letalidade para o homem. O carter agudo da doena nos
animais dificulta qualquer tipo de tratamento resultando em um elevado nmero de mortes
e grandes prejuzos aos pecuaristas, que so acentuados quando h envolvimento humano
concomitante. A morte de 77 animais e as despesas mdico-hospitalares com trs pacientes
atingidos pela enfermidade em uma nica propriedade rural em Uruguaiana ocasionou um
grande prejuzo em apenas 45 dias. A falta de conhecimento sobre a enfermidade pelos
proprietrios rurais ou de com outras profisses onde a enfermidade no freqente; a
renovao da populao rural sem experincia com a doena; aliadas falta de preveno
(vacinao) dos animais tm sido os principais fatores para o ressurgimento de surtos da
enfermidade observados no estado do Rio Grande do Sul.
ETIOPATOGENIA
O CH ocorre pela ingesto, inalao ou penetrao cutnea. A via de transmisso
mais comum a ingesto que facilitada pelo pastejo de alimentos mais grosseiros e
penetrao de esporos, atravs da mucosa oral. Os esporos germinam sob condies
adequadas, passando para a forma vegetativa, tanto na mucosa da garganta, quanto no trato
gastrintestinal. A cpsula de cido poliglutmico, formada na superfcie da forma
vegetativa protege-os dos anticorpos lticos (fagocitose) e do efeito bactericida do peptdeo
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
catinico. O microrganismo multiplica-se prximo ao local de penetrao, num foco
edematoso e difunde-se pelos linfticos onde se multiplicam. O agente atinge a corrente
circulatria, sendo filtrado pelo bao at atingir a capacidade mxima. O agente multiplica-
se at o animal morrer. No momento da morte, 80% dos agentes so encontrados no sangue
e 20% no bao. As mortes resultam do efeito da holotoxina.
Quadro 1. Caractersticas bacteriolgicas diferenciais entre B. anthracis e antracides.
Propriedade(s) B. anthracis Antracides
1) Motilidade Imvel Geralmente mvel
2) Hemlise Negativa ou leve Positiva (+)
3) Fago gama Suscetvel No suscetvel
4) Penicilina (0,5 U/ml) Sensvel Resistente
Litmus milk Lenta Rpida
6) Hidrlise da gelatina Lenta Rpida
7) Reduo do Azul de metileno Lenta Rpida
8) Fermentao cida da salicina Lenta Rpida
9) Produo de lecitinase Neg. ou leve Acentuada
10) Patogenicidade para
cobaias, camundongos Patognico No patognico
11) Hidrlise do p-nitro
fenil alfa D-glicosdio em
Presena de 1% de Triton X-100 Aumentada Diminuda
A holotoxina composta de 3 fatores proticos (I,II,III), conforme o Quadro 2 abaixo Quadro 2. Componentes da holotoxina do B. anthracis
Componente(s) Propriedade(s)
I (Fator Edema) Adenilatociclase (enzima)
II (Antgeno Protetor) Molcula de ligao aos receptores FE e FL; (imunognico)
III (Fator Letal) Letal p/camundongo; depresso do SNC (imunognico)
Um plasmdio de 110 MDal codifica uma toxina protica com 3 fraes: fator edema,
antgeno protetor e o fator letal.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
O fator (I) ou fator do Edema ativado por clulas do hospedeiro; ela uma
adenilatociclase que eleva os nveis de AMPc na clula do hospedeiro, produzindo perda de
O fator (II) ou protetor do antgeno parece ser equivalente ao fragmento B das demais
exotoxinas, necessria para a atividade dos demais fatores.
O fator (III) no se conhece o mecanismo do fator letal.
Quando o B. anthracis multiplicado a 42 C desaparece a capacidade de produzir toxina
Uma hemolisina fraca afeta os eritrcitos de caprinos, ovinos e coelhos. O B.
anthracis possui dois fatores de virulncia primrios: a) o cido poli-D-glutmico da
cpsula que protege o organismo da fagocitose e de anticorpos lticos e b) a holotoxina,
composta de um Fator Edema (FE), Antgeno Protetor (AP) e o Fator Letal (FL). Estes
fatores so incuos, separadamente, mas quando combinados, produz letalidade em muitas
espcies. A morte resulta das alteraes secundrias incluindo: edema difuso, leso
tecidual, leso renal aguda, anoxia e choque.
Fatores de Virulncia
O sequenciamento do B. anthracis Ames sugere que este agente foi equipado para
crescer nos hospedeiros animais. Comparado com bactrias do solo como o B. subtilis, o B.
anthracis possui mais genes que possibilitam a utilizao de peptdeos do que genes
envolvidos no catabolismo dos acares. O cromossomo 5.2-Mb tambm codifica outros
fatores de virulncia, incluindo hemolisinas, fosfolipases, proteases e protenas envolvidas
na aquisio de ferro, alem de identificar numerosas protenas de superfcie que podem ser
importantes alvos para vacinas e drogas.
A toxina tripartite codificada pelos genes pagA, lef, e cya, os quais codificam o AP,
FL e FE respectivamente localizado no pXO1 enquanto o genes que codificam a cpsula
antifagocitria esto localizadas no pXO2.
Recentemente, foram identificadas outras protenas adicionais codificadas no
cromossomo ou nos plasmdios pXO1 e pXO2 que contribuem ou so essenciais na
virulncia do B. anthracis como o siderforo antrolisina O e protenas transportadoras de
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
ctions metlicos. Os genes para os dois principais fatores de virulncia como a holotoxina
e a cpsula so detectadas nos dois grandes plasmdios. O pXO1 182-kb contem 217 genes,
incluindo aqueles que codificam os 3 genes para a toxina: pagA, (Ag protetor) cya (fator
edema) e lef (fator letal) esto localizados na ilha de patogenicidade 44,8-kb.
Toxina do Antraz
A holotoxina do Antraz fator de virulncia chave que produzida sob as condies
parecidas as do hospedeiro com concentrao elevada de CO2 e a 37 C.
Essas condies aumentam a expresso do gene da toxina, atravs do regulador da
virulncia principal AtxA. A temperatura afeta a sntese do AtxA como aquelas crescidas a
37 C contem cinco vezes mais AtxA do que as bactrias crescidas a 28 C. A concentrao
de CO2, ao contrrio, no interfere os nveis de AtxA. O mecanismo que regula o aumento
de CO2 dos genes da toxina pelo AtxA no clara.
PERODO DE INCUBAO
O CH pode ocorrer como uma doena superaguda, subaguda ou crnica. O perodo de
incubao, geralmente de trs a sete dias, podendo variar de um a quatorze dias. Os sinais
clnicos so variveis, mas o mais comum morte sbita.
SINAIS CLNICOS
Os sinais clnicos nos ruminantes incluem: febre elevada, estase ruminal, anorexia,
hematria, diarria sanguinolenta, queda abrupta na produo leiteira, leite com colorao
rsea. Um perodo de estimulao do SNC evidencia agressividade, seguido de uma fase de
depresso com tremores musculares, dificuldade respiratria e convulses. A morte,
geralmente se d entre um a trs dias. As carcaas no autolisadas, geralmente evidenciam
sada de sangue no coagulado por orifcios naturais e edema hemorrgico do bao. O
cadver pode no apresentar rigidez cadavrica tpica. O CH crnico nos ruminantes pode
ser caracterizado por edemas localizados no peito, na regio ventral do pescoo e trax.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Ruminantes
Os ruminantes so os animais mais sensveis entre os mamferos. Geralmente, a
doena progride como uma septicemia aguda ou superaguda, aps um perodo de incubao
de 3-5 dias (1-14 dias possveis), dependente da dose infecciosa. A doena segue um curso
superagudo pelo comeo sbito e praticamente sem sinais visveis de recuperao. A morte
ocorre em poucos minutos com convulses ou espasmos. Febre (> 40C), excitao ou
sonolncia, dispnia, mucosas cianticas, edemas na regio do pescoo ou no peito,
abdmen ou flancos e clicas so sinais possveis com morte ocorrendo dentro de 12-13
horas aps o aparecimento desses sinais. Vesculas e lceras podem ser visveis na lngua
ou em outras partes da cavidade oral. Animais mortos freqentemente apresentam sangue
no nariz e nus. A forma subaguda ou crnica tem sido relatada, mas muito rara.
As leses anatomopatolgicas post mortem incluem sangue escuro, coagulado no
nariz e reto; rigor mortis Edema de bao com uma grande extenso
de petquias geralmente presentes nos bovinos, mas ausente nos pequenos ruminantes. A
ocorrncia de alteraes patolgicas de rgos depende do curso e durao da doena,
podendo incluir hemorragias nas serosas, mucosas e no tecido subcutneo; lquido
sanguinolento nas cavidades do corpo; miocrdio frivel e flcido; edema subcutneo e
alteraes ulcerativas e hemorrgicas no reto e faringe, linfangite e linfonodos aumentado
de tamanho e de colorao escura.
Sunos
Os sunos so bastante resistentes ao antraz. A forma aguda septicmica no regra,
mas provvel que os sunos desenvolvam uma infeco inaparente pelo B. anthracis, que
s podem ser evidenciada pelo exame "post mortem", no abate. Os sinais clnicos gerais
incluem: alteraes locais, como faringite, edema doloroso e quente na regio da cabea e
trax; pstula negra na pele e mucosas. Se o intestino for envolvido pode ser observada
ictercia, vmitos e diarria. No abate, pode ser observada a forma faringiana quanto a
forma intestinal do antraz. Os sinais anatomopatolgicos so principalmente as alteraes
locais na regio da faringe ou na regio do intestino do trato digestivo.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
A forma faringeana caracterizada por edema na regio da faringe e de seus
linfonodos; linfangite hemorrgica e aps muito tempo da infeco so evidenciados
linfonodos regionais com focos encapsulado, secos e de colorao cinza-amarelada.
A forma intestinal do antraz nos sunos caracterizada por enterite hemorrgica com
ulceraes; edema mesentrico hemorrgico e lceras de colorao preta em parte do
fgado, bao e rins.
Historicamente, a forma faringeana era mais freqente, especialmente quando os
animais eram alimentados com restos de comida que continham fragmentos de ossos ou
outros itens que poderiam lesar a mucosa. Nos ltimos anos, os surtos registrados tm sido
muito mais do tipo intestinal.
Carnvoros
Os carnvoros, especialmente os predadores selvagens, so relativamente resistentes
infeco pelo B. anthracis, mas a infeco crnica pode ocorrer (WHO, 2008). Excees a
regra esto os vises e a chita que parece ser mais suscetvel ao antraz de que outros
carnvoros. No entanto, nenhum mamfero totalmente resistente doena e os casos em
uma grande variedade de carnvoros foram relatados ao longo dos anos. Os animais podem
desenvolver febre (> 40 C), sinais intestinais com anorexia e letargia, geralmente, aps um
perodo de incubao de 3-5 dias. Inflamao e edema na regio do pescoo, com edema
dos lbios, bochechas e lngua podem ser vistos. Aqueles que no se recuperam morrem
dentro de poucas horas, aps o incio dos sinais clnicos, apresentando sangramento nos
orifcios do corpo. As martas so mais suscetveis, pois sofrem da forma septicmica aguda
da doena, com perodos de incubao muito curto (
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
exceo de avestruzes. O nmero de espcies registradas amplo, incluindo aves, pombos,
guias, entre outros. No entanto, esses eventos so muito raros. Embora pouco comum, h
diversos registros de casos de antraz em avestruzes silvestres. O curso da doena nas aves
aparentemente semelhante ao de mamferos herbvoros com sinais de septicemia e morte
sbita.
Os sinais patolgicos de antraz nessas espcies incluem cor escura da pele; hiperemia
e edema do tecido pulmonar; focos de necrose hemorrgica nos rgos internos e muito
raramente, enterite hemorrgica.
Eqinos
Os eqinos, em geral, sofrem com a forma aguda da doena, apresentando febre alta
(40-41o
C), dispnia, cianose, clica, diarria sanguinolenta, edema local com centros
necrticos e exsudatos sanguinolentos, atravs dos orifcios do corpo. A patologia se
assemelha patologia dos bovinos. Os sinais mais proeminentes so linfonodos
edemaciados no trato digestivo, com infiltrados de sangue e edema na submucosa na regio
ventral do peito e abdmen.
DIAGNSTICO DIFERENCIAL
Devemos excluir: timpanismo agudo, edema maligno, carbnculo sintomtico,
listeriose, salmonelose, fulgurao, enterite aguda, intoxicao por mio-mio (Bacharis spp).
A suspeita da doena e o diagnstico diferencial devem ser considerados quando h mortes,
mesmo aps ter sido observado animais com boa sade nas ltimas 24 horas.
NECROPSIA
A necropsia deve ser realizada pelo veterinrio, em at seis horas, aps a morte do
animal. O veterinrio deve conhecer as implicaes do caso. Caso o diagnstico clnico seja
claro e substanciado pela Anamnese, Apresentao e Sinais clnicos (AAS)
desaconselhvel a necropsia por reduzir a contaminao ambiental e risco pessoal.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Em caso de dvida, a necropsia deve ser realizada, levando em considerao os
cuidados gerais utilizados em necropsias (buraco ou prximo) bem como o uso de luvas
descartveis e mscara.
Os achados principais do CH incluem: exsudato sanguinolento fluindo das aberturas
rigor mortis
clnicos incluem: hemorragias nas serosas, hemorragias na mucosa do abdmen, trax,
epicrdio, pericrdio e trato digestivo com eroses nas placas de Peyer. Edema gelatinoso
na musculatura esqueltica, no tecido subcutneo, especialmente nos linfonodos. O bao
mostra-se 2-4 X maiores que o habitual com liquefao do seu parnquima semelhante a
ENVIO DE AMOSTRAS
Sangue no coagulado em frasco ou seringa; lminas com esfregaos de sangue
colhido das aberturas naturais. Fragmento de bao ou a orelha, observando as regras de
segurana no envio de amostras refrigeradas e no tempo mais breve.
DIAGNSTICO LABORATORIAL
Colorao de esfregaos. Cultivo do sangue ou tecidos em AS (agar-sangue). Teste
de ELISA e imunofluorescncia. Inoculao em animais sensveis. O microrganismo pode
ser detectado no sangue colhido de vasos superficiais (orelha ou jugular) transportado em
seringa selada, subio ou em esfregaos sangneos. Pode tambm ser enviado ao
laboratrio o globo ocular ou um fragmento de bao. As amostras devem ser colhidas de
animais no tratados com antimicrobianos. A tcnica de colorao pelo Giemsa, Azul de
Loeffler ou Wright so as mais simples e mais rpidas no diagnstico.
Coloraes que permitem identificar a cpsula do B. anthracis:
1-Colorao de Azul de Metileno de Leffler
Azul de Metileno a 1 % em etanol a 95 %: 30 mL
KOH (potassa) a 0,001 % em sol. aquosa: 1 mL
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
gua destilada: 100 mL
Validade: 1 ano.
Cobrir o esfregao fixado. Deixar agir por 1 min. Lavar.
A cpsula aparece como um halo violceo ao redor da bactria.
2-Colorao de Giemsa
Fixar o esfregao em lcool metlico durante 3 a 5 min. Deixar secar ao ar.
Diluir o corante de Giemsa: 1: 10 volumes d .
Imergir a lmina no corante diludo por 20-30 min. Lavar em gua destilada.
Deixar secar ao ar
A cpsula aparece colorida de cor malva.
3-Colorao de Wright
Corante de Wright
Tampo (KH2 PO4: 6,63 g; Na2 HPO4: 3,2 g ; gua destilada: 1000 mL)
Secar o esfregao ao ar.
Cobrir o esfregao com corante de Wright, atravs de um contador de gotas. Deixar agir
por 1 a 5 min.
Juntar uma quantidade igual de tampo e misturar. Deixar agir por 3 a 7 min.
Lavar com gua destilada e secar ao ar
A cpsula aparece colorida na cor malva
4-Colorao de Olt
Fixar o esfregao no calor.
Recobrir com soluo aquosa de safranina a 3 %.
Aquecer ate a ebulio.
A cpsula aparece na colorao rosa
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
5-Colorao de Hiss (germes em cultivo)
Misturar sobre uma lmina uma gota de uma suspenso opalescente de cultivo em uma gota
de soro eqino. Fazer esfregao. Secar ao ar. Fixar pelo calor.
Cobrir o esfregao com soluo aquosa de cristal violeta a 1%. Aquecer ate a emisso de
vapores por 1 minuto. Lavar com soluo aquosa de sulfato de cobre a 20%.
Cpsula aparece como halos coloridos de azul bem fraco.
6-Mtodo clssico de tinta da China (Pelicam@) evidencia os cultivos.
TRATAMENTO
O B. anthracis sensvel aos ATMs, incluindo penicilina, estreptomicina e
tetraciclina. O tratamento com ATMs de pouco valor pelo curso da doena e, raramente
se observam casos crnicos da enfermidade. O uso de antissoro est limitado pelo custo e
pela praticidade.
CONTROLE E PREVENO
As medidas de controle num surto de carbnculo hemtico incluem:
1-Identificao e eliminao da fonte de infeco;
2-Incinerao das carcaas; descontaminao do local da carcaa e dos itens
utilizados no diagnstico;
3-Descarte das carcaas e comeo da profilaxia de outros animais expostos fonte de
infeco.
Por causa da esporulao requer oxignio e que so inibidas dentro da carcaa intacta,
as regras em muitos pases probem o exame post mortem quando h suspeita de CH.
Procedimentos detalhados para a aplicao das medidas de controle esto disponveis para
todos (WHO 2008).
Em geral, se alimentos so identificados como fonte de infeco eles devem ser
removidos; incinerados e submetidos desinfeco apropriada dos itens que tem contato
com ele. Outros animais devem ser retirados da rea e impedir o acesso da carcaa a outros
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
animais (abutres e catadores). A propriedade ou o rebanho deve permanecer em quarentena
pelo menos 14 dias preferencialmente 20 dias aps o ultimo caso. Devemos instalar o
controle de insetos se os mesmos esto envolvidos. As carcaas devem ser incineradas.
Onde h escassez de combustvel, devemos enterrar as carcaas como alternativa menos
satisfatria; o uso da terra em que os animais foram enterrados frequentemente associado
a ocorrncia de novos casos.
O B. anthracis suscetvel penicilina e a uma ampla gama de outros ATMs. Os
animais respondem bem ao tratamento mesmo quando a infeco est mostrando os
primeiros sinais clnicos. Esses animais podem ser tratados com penicilina intravenosa ou
penicilina associada estreptomicina. Animais suspeitos de terem sido expostos fonte de
infeco devem ser tratados com penicilina de longa ao.
Nas reas enzoticas (exposio regular e contnua) a vacinao anual aconselhada.
Geralmente, o tratamento somente apropriado para o gado. A vacinao frequentemente
apropriada para as espcies em risco de extino dos animais silvestres e outras espcies em
pequenas propriedades (chcaras, stios, granjas etc).
A vacina viva no deve ser aplicada em animais tratados com ATMs.
Atualmente, as orientaes sobre a disponibilidade e uso das vacinas licenciadas contra o
antraz nos animais so disponibilizadas para todos e para qualquer lugar (OMS 2008).
A vacinao atualmente praticada nos animais e mais raramente no homem.
A vacina viva atenuada de Pasteur e sua derivada, a vacina de Delpy, foi obtida a
partir de uma cepa virulenta tratada pelo calor a 42 C. O aumento da temperatura
provocou a perda do plasmdio pXO1 (codifica produo das toxinas). Essas vacinas
podem ser virulentas para animais e no so mais utilizadas.
A vacina Sterne uma vacina viva constituda de uma suspenso de esporos
produzidos pela cepa 34F2, que perdeu o plasmdio pXO2 e conseqentemente a cpsula. A
vacina Sterne, produzida com adjuvante saponina mundialmente utilizada nos animais. A
germinao dos esporos contidos na vacina cria bacilos no capsulados facilitando a
fagocitose, mas podendo produzir pequenas quantidades de toxinas e fazendo com que
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
apaream anticorpos neutralizantes. Administradas a um animal infectado essa vacina pode
provocar carbnculo vacinal.
Na Unio Sovitica uma vacina do tipo Sterne, administradas por escarificao no
ombro foi utilizada no homem. Estudos esto sendo desenvolvidos, visando o
desenvolvimento de vacina oral que facilitaria a vacinao de animais silvestres,
especialmente os grandes herbvoros africanos como hipoptamos, bfalos, elefantes, etc.
Uso de vacina esporulada no capsulada e avirulenta (amostra STERNE) a grande
arma no controle e preveno da doena. A imunidade pode ser estabelecida em sete dias,
existindo uma sugesto de uma segunda dose, quatro a cinco semanas aps a primeira.
Vacinao anual em reas endmicas (bovinos e ovinos), duas a quatro semanas antes
do vero ou durante os surtos. Espera-se dois meses entre a vacinao e o abate. No se
deve aplicar a vacina viva com tratamento antimicrobiano concomitante.
As carcaas dos animais que morrem de CH devem ser enterradas e queimadas com
cal (xido de clcio) aplicada sobre os fmites.
VACINAS ANIMAIS/HUMANAS
O desenvolvimento de uma grande quantidade de trabalhos/pesquisas objetivando o
desenvolvimento de vacinas contra o antraz no homem, h poucos projetos no
melhoramento de vacinas contra o antraz nos animais. O fato atribudo eficcia da
vacina-esporo (cepa Sterne) e as vacinas semelhantes aplicadas na reduo do carbnculo
hemtico como praga mundial para uma doena menor.
As cepas do B. anthracis nessas vacinas perderam o plasmidio pXO2 que so
incapazes de produzir cpsula, mas ainda produzem toxina. Assim, elas produzem
virulncia reduzida; podem tornar-se totalmente avirulenta por razes ainda no explicadas,
nos caprinos. Geralmente uma dose suficiente para controlar um surto, pois a vacina
viva, podendo se til em diferentes espcies.
A mais recente informao sobre o modo de ao das vacinas animais surgiu das
observaes e questionamentos de como uma nica dose da esporo-vacina em animais de
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
experimentao do melhor proteo contra o desafio contra o B. anthracis virulento do
que vrias doses de vacina morta aplicadas ao homem.
Avanos foram realizados quanto virulncia residual e a limitada durao da
imunidade.
Em 1999, Brossier e colaboradores, desenvolveram uma linhagem modificada da
vacina com um gene mutante lef que resultou na detoxicao do FL, induzindo a formao
de anticorpos anti-AP e anti-FL e tendo em vista que a proteo em camundongos (Cds) foi
comparada vacina tradicional. Teoricamente, a esporo-vacina produzida com esta
linhagem viva e mutante poderia ser totalmente segura para uso em todas as espcies.
A esporo-vacina experimental viva recombinante, no toxignica no capsulada do B.
anthracis (pXO1-/2-), expressando o rAP sob controle do promotor alternativo para pagA
induziu altos ttulos de anticorpos anti-AP, anticorpos neutralizantes e imunidade protetora
superior a 12 meses em cobaias (Cohen et al. 2000). A perda dos principais fatores de
virulncia do B. anthracis poderia ser seguro para todas as espcies.
As vacinas de ADN plasmidial para uso em animais tm sido exploradas. A aplicao
de trs doses de vacina de ADN que codifica a produo de AP ou AP domnio 4 que media
o contato com o receptor AP nas clulas do hospedeiro induziu um pequeno, mas longo
ttulos de anticorpos anti-AP quando comparado com o AP com adjuvante.
Uma vacina de adenovirus, em camundongos, expressando o domnio 4 do AP
induziu a formao de IgG, duas semanas, aps uma nica dose intramuscular, produzindo
resultados semelhantes a imunizao com vacina anti-antraz no homem com ttulos
atingindo 25 a 30 vezes maiores, atravs da revacinao 4 semanas mais tarde. Vacinas
utilizando como vetor o adenovirus estimularam uma potente imunidade celular,
promovendo altos nveis de clulas CD4+ e CD8
+ antgeno-especfico e proteo total
conferida em camundongos (Cds), aps 3 semanas da imunizao primria e imunizao de
reforo.
As vacinas acelulares constitudas de fraes purificadas foram desenvolvidas para
uso no homem. As vacinas so fabricadas no Reino Unido (filtrado de cultivo precipitado
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
pelo alum da amostra 34F2, cultivadas dentro de condies que favorecem a produo de
antgeno protetor).
Nos Estados Unidos, utilizado o filtrado de cultivo adsorvido pelo hidrxido de
alumnio de uma cepa V770, produtora de antgeno protetor, mas pouco fator letal e fator
edema. O emprego dessas vacinas reservado aos profissionais e militares (Departamento
de Defesa dos Estados Unidos considera a vacinao de mais de 2 milhes de militares).
O protocolo de vacinao muito longo (seis injees durante os primeiros 18 meses
mais um reforo a cada seis meses) e sua eficcia inferior quela conferida por uma
vacina viva.
Doena no Homem
O CH cutneo apresenta-se, inicialmente como um edema quente e doloroso e,
posteriormente como um edema frio e sem dor (pstula maligna). A doena no homem,
geralmente est associada s profisses rurais. A forma respiratria e mais grave ocorre
com pessoas que trabalham com l, couro, pele ou plo contaminado com os esporos. Essas
infeces so de curso rpido e fulminante o woolsorter`s
disease ou oena do classificador de l .
Terapia antimicrobiana pode ser utilizada no homem e nos animais no vacinados,
pois o risco de contaminao real. Nos animais, o ATM mais utilizado a penicilina G.
No homem, se utiliza geralmente a ciprofloxacina ou a doxiciclina. Em caso de
contraindicao aos frmacos citados podemos utilizar penicilina e amoxacilina como
alternativas.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Bacillus cereus
Prof. Marcos JP Gomes
Toxinfeces alimentares.
Mastites, Abortos
CARACTERSTICAS MORFOTINTORIAIS
As linhagens do B. cereus so constitudas de bastonetes de Gram positivos a Gram
variveis com extremidade arredondada; geralmente mveis graas a um conjunto de clios
peritrquios; possuem comprimento superior a 3 m e um dimetro mdio de 1,4 m;
apresentam-se grupados em cadeias; formam esporos subterminais, ovais (algumas vezes,
cilndricos) que no deformam a parede celular; catalase positivos e microaerfilos.
Os esporos possuem a estrutura clssica dos endsporos bacterianos dos bastonetes
Gram positivos, podendo apresentar na superfcie longos filamentos que evocam aquelas
estruturas dos pilus. Os esporos possuem as especificidades antignicas que permitem
diferenciar as diferentes linhagens. Entretanto, existe reao cruzada entre o B. cereus, B.
anthracis e B. thuringiensis.
HABITAT E PATOGENICIDADE
O B. cereus um agente oportunista, amplamente distribudo na natureza e
responsvel por toxinfeces alimentares.
O esporo do B. cereus um problema srio nas indstrias agro-alimentares
(especialmente na indstria do leite), no s porque eles so resistentes ao calor, mas tm a
capacidade de se aderir fortemente s superfcies, incluindo ao inoxidvel. Esta
caracterstica est associada hidrofobicidade dos esporos e presena de filamentos. Assim,
os esporos so difceis de remover das mangueiras, tubulaes, tanques. Os mtodos
convencionais de limpeza podem remover apenas 40% dos esporos.
O B. cereus um contaminante da droga (herona) e de medicamentos tpicos que
podem infectar feridas. O agente produz infeces oportunistas, principalmente abortos e
mastites em vacas. A mastite gangrenosa geralmente de curso agudo e mortal ou com
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
grande destruio de tecido mamrio. Muitas vezes, a mastite tem origem por intervenes
cirrgicas praticadas no bere ou pela administrao do agente com medicamentos por via
intramamria.
FATORES DE VIRULENCIA
1. Adeso e resistncia fagocitose
A estrutura dos esporos permite sua aderncia s clulas epiteliais constitui um fator
de virulncia importante. S-layer est envolvida na adeso laminina, ao colgeno e
fibronectina, sendo um papel na resistncia fagocitose pelos neutrfilos.
2. Sntese de toxinas
As linhagens do B. cereus podem produzir toxinas. comum destacar fosfolipases,
hemolisinas, enterotoxinas, a toxina responsvel pela sndrome emtica ou cereulida e
proteases. No entanto, esta classificao arbitrria, porque uma nica toxina pode ter
vrias atividades. Assim, a esfingomielinase uma fosfolipase dotada de hemlise, a
enterotoxina HBL hemoltica e assim por diante.
3. Fosfolipases
As fosfolipases C so em nmero de trs. Elas causam a lise celular, atravs da
atividade enzimtica e no pela formao de poros. Eles causam uma liberao de enzimas
lisossmicas dos neutrfilos e esto envolvidos em alteraes teciduais, especialmente aps
a contaminao de feridas e infeces oculares. Fosfolipases permitem que as bactrias
resistam fagocitose.
4. Enterotoxinas
A enterotoxina mais conhecida a toxina HBL (H de "hemolisina"; B de "binding" e
L para "ltic"). Essa toxina composta de uma parte aderncia ( Binding PM de 38.000) e
dois componentes lticos L1 (PM 38.500) e L2 (PM 43.200).
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
A HBL hemoltica, dermonecrtica, aumenta a permeabilidade dos capilares,
provocando acmulo de lquidos apos administrao em ligadura de ala intestinal de
coelho. A toxina HBL tem um papel preponderante na patognese da diarria.
A toxina NHE (Enterotoxina no hemoltica) constituda de um NheA semelhante ao
componente L2 da HBL e codificada pelo gene nheA e um componente NheB semelhante
ao componente L1 codificada pelo gene nheB. A toxina NHE tambm citotxica como a
HBL, mas no hemoltica.
5. Toxina responsvel pela sndrome emtica
A toxina responsvel pela sndrome emtica ou cereulida permaneceu pouco
conhecida por muito tempo quando os nicos testes para avaliar sua atividade biolgica
consistiam tanto na inoculao (ingesto) experimental em macacos (Macaccus rhesus) ou
na inoculao intraperitoneal em musaranhos (Suncus murinus).
A toxina emtica causa perda da motilidade dos espermatozides em machos sunos;
alteraes morfolgicas das clulas Vero e CHO com formao do vacolo em HEp-2 e
HeLa. Esses vacolos so devido ao edema de mitocndrias.
O cereulida estimula o vago ou pneumogstrico, que inibe a oxidao dos cidos
graxos pelas mitocndrias do fgado, provocando leses reversveis do fgado, sendo txica
para as clulas NK ("Natural Killer"). Sua sntese no o resultado da expresso de um
gene, mas sim o resultado da construo enzimtica de subunidades produzidas nos
substratos que permitem o crescimento bacteriano.
A cereulida termoestvel (resiste a mais de 30 minutos a 121 C); resistente
protelise (insensibilidade tripsina e pepsina); estvel em pH entre 2 e 11, produzidas
exclusivamente por cepas isoladas de arroz , macarro e leite em p; sintetizada entre 25 e
30 C, mas no a 40 C.
Os vmitos aparecem logo aps a ingesto dos alimentos contaminados, sendo
provvel que a cereulida seja produzida antes da esporulao bacteriana. Dada a sua
resistncia, a toxina emtica no destruda pelo cozimento ou por enzimas digestivas.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
6. Proteases
B. cereus sintetiza muitas proteases, incluindo uma protease neutra. Ela uma
metaloprotease, cuja atividade exige Zn++
. A sua atividade exercida sobre a hemoglobina,
a casena e a albumina. A partir de sobrenadantes de cultivos da cepa Soc 67, Makinen e
Makinen isolaram uma enzima que degrada o colgeno solvel e solvel assim como a
gelatina. Esta enzima semelhante a colagenase do Clostridium histolyticum.
PATOGNESE
Nos animais, o aborto e a mastite so importantes. Os abortos ocorrem em bovinos e
ovinos e a bactria pode ser isolada em cultura pura a partir da placenta, bem como do
contedo do abomaso, fgado, bao, rins e pulmes do feto. Nos ruminantes, a mastite est
ligada introduo de ATMs contaminados dentro do bere. Esse tipo de mastite possui
gravidade varivel, desde uma fibrose com diminuio na produo de leite ou at uma
mastite gangrenosa fatal.
TOXINFECO
As toxinfeces causadas por B. cereus tem uma freqncia certamente subestimada,
porque elas so geralmente menos graves.
Na Noruega, ela a causa mais comum dentre as doenas transmitidas por alimentos.
Essa intoxicao decorrente da ingesto de alimentos deixados temperatura ambiente
durante muitas horas aps sua preparao, permitindo o crescimento bacteriano
significativo (normalmente h mais de 105 UFC/g de alimento e este nmero pode chegar a
5 x 1010
).
Os esporos no so resistentes ao calor, mas algumas linhagens produzem esporos
mais resistentes que na presena de gordura parece haver um efeito protetor.
Estas toxinfeces so descritas em ces, variando de duas formas: a forma
gastroentrica e a forma emtica. Alguns doentes apresentam sinais simultaneamente s
duas formas clnicas.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Os alimentos implicados so diversos, incluindo sopas, pratos de arroz, macarro,
legumes, pur de espinafre, salada de cenoura ralada, lentilhas, salada de tomate, pur de
batata, comida desidratada (pimenta, ovo em p, caril em p), produtos lcteos, leite em p,
cremes, sorvetes, pes, biscoitos, carne de peru, carne de porco, carne, molho de carne,
ovos, camaro, lagosta etc.
A forma gastroentrica mais freqente em pases europeus e na Amrica do Norte.
Aps um perodo de incubao superior a 6 horas (normalmente cerca de 8-16 horas,
mas pode chegar a mais de 24 horas), ela se traduz por clicas abdominais, diarria e
tenesmo quando vmito e febre so raros (No entanto, durante o grupo de origem alimentar,
23% dos pacientes teve um episdio febril).
A cura ocorre geralmente dentro de 12-24 horas, mas alguns pacientes apresentam
sintomas que evoluem dias, podendo exigir internao.
As complicaes so raras, no entanto, algumas cepas de colonizam o intestino
delgado, provocando formas mais graves, causando risco de vida.
A forma gastroentrica no parece resultar da ingesto das toxinas pr-formadas
porque as toxinas envolvidas, incluindo HBL e CYTK NHE as quais so frgeis e sensveis
s proteases do trato digestivo. provvel que as toxinas responsveis pela forma de
gastrenterite so produtos dentro do tubo digestivo aps a multiplicao bacteriana. No
entanto, isso no significa que estas toxinas no so produzidas em alimentos e produo de
enterotoxinas nos alimentos parece possvel. Do ponto de vista epidemiolgico, as cepas de
sorotipos H 1, 2, 6, 10, 12 e 19 so os mais envolvidos.
A forma emtica tem um perodo de incubao de 1 a 5 horas e os principais sinais
persistem de 6 a 24 h, incluindo nuseas, vmitos e s vezes diarria. Esta forma quase
sempre resulta da ingesto de arroz cozido e raramente macarro e lcteos (leite em p).
Em todos os casos, os alimentos foram deixados a temperatura ambiente antes do
consumo ou utilizao no fabrico de alimentos (arroz frito).
A patogenia envolve a ingesto da toxina pr-formada. As estirpes mais
frequentemente envolvidos so os antgenos flagelar 1, 3, 5, 8, 12 e 19.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
As linhagens de B. cereus esto presentes no leite cru, no leite pasteurizado, no creme
de leite e em diversos alimentos produzidos a partir de derivados do leite, como o sorvetes.
Um percentual importante destas cepas psicotrpico, ou seja, capaz de crescer a 7
C. Essas caractersticas fenotpicas no permitem diferenciar essas cepas do B.
weihenstephanensis e provvel que algumas destas cepas pertenam espcie B.
weihenstephanensis. Estas cepas so responsveis pelas alteraes (nem sempre muito
visvel nas sobremesas) que so eventualmente capazes de produzir toxinas a temperaturas
entre 4 e 21 C. A toxina produzida em quantidades significativas quando a contagem
bacteriana de bactrias superior a 107/ mL. Em sobremesas lcteas ricas em acar e / ou
pH cido, a produo da toxina inibida. Esses fatos explicam, em grande parte, o pequeno
nmero de B. cereus por alimentos associados ao consumo de produtos lcteos
acondicionados e armazenados em condies adequadas de higiene.
DIAGNSTICO LABORATORIAL
Isolamento
O isolamento durante a infeco ser realizado em agar nutriente suplementado com
sangue e incubados por 24 h a 37 C. Durante a toxinfeco alimentar o microrganismo
deve ser identificado nas fezes, vmito ou no alimento suspeito.
O Bacillus cereus nestas amostras, est presente entre uma flora complexa, podendo
estar na forma de esporos.
Os esporos podem ser selecionados pelo tratamento pelo calor ou lcool. O
tratamento pelo calor consiste em colocar uma parte da amostra em um volume igual de
gua destilada e esquentar durante 10 minutes a 80 C (ou 15 min a 62,5 C). O tratamento
pelo lcool realizado misturando partes iguais da amostra e etanol a 95% esterilizado por
filtrao. A mistura deixada a temperatura ambiente durante 1 h.
A amostra tratada e no tratada por calor ou lcool so semeadas em paralelo em AS
(gelose nutritiva) e em meios que permitem uma melhor orientao de diagnstico e/ou
meio seletivos. Esses meios contem polimixina como agente seletivo, permitindo a
identificao presuntiva, por evidenciar a presena da lecitinase (Presente na gema de ovo)
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
e ausncia da acidificao do manitol e a falta de acidificao de manitol (presena do
manitol e de um indicador de pH).
Quando as fezes so examinadas trs ou mais dias aps o episdio da doena
transmitida pelo alimento aconselhvel fazer o enriquecimento prvio. A amostra, tratada
pelo calor (no lcool) colocada em caldo TSB, contendo 100.000 UI / L de polimixina
em seguida, incubadas por 18-24 horas.
IDENTIFICAO
O diagnstico do gnero se baseia na morfologia, afinidade tintorial, tipo respiratrio
e visualizao do esporo. essencial estabelecer que as colnias suspeitas sejam formadas
por bactrias Gram positivas, formadoras de esporos e capaz de crescer em condies
aerbias. A esporulao uma caracterstica fundamental. O exame microscpico de
contraste de fase evidencia esporos que parecem brilhantes e de formas regulares. Uma
alternativa mais trabalhosa consiste em pesquisar a presena de esporos aps a colorao
com Verde Malachita
A identificao baseada nas caractersticas bacteriolgicas e o diagnstico
diferencial por meio de testes apresentados nos quadros I e II abaixo.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Quadro I. Caractersticas diferenciais entre espcies do g Bacillus cereus"
Espcies B.
anthracis
B.
cereus*
B.
mycoides**
B.
pseudomycoid
es**
B.
thuringiensis
B.
weihenstephanensis*
Aspecto
colnias no
AS no
incubada em
CO2
Colnias
em cabea
de medusa
Col. circulares ou
irregulares,
aspecto cremoso
ou granuloso
Colnias
rizides
Colnias
rizoides
Colnias
brancas ou
acinzentadas
Colnias circulares ou
irregulares, aspecto
cremoso, chatas ou
Granulosas
Hemlise
AS ovino
em 24 horas
-
+
+f
+
+
Cresc. a
temp inferior a
7 C em meio
agitado
-
-
-
-
+
Motilidade - +/- - - +/- +/-
Presena de
cristal para-
esporal
-
-
-
-
+
-
Sensibilidade
a Penicilina
+***
-
-
-
-
Lise fago
gama
+
-
-
-
-
ADH - d d + d
Acidificao
do Glicerol
-
+****
+
+
+
Espcies B.
anthracis
B.
cereus*
B.
mycoides**
B.
pseudomycoid
es**
B.
thuringiensis
B.
weihenstephanensis*
+ : 85 % da cepas so positivas. +f : 85 %das cepas so fracamente positivas. +/- : 50 a 84 % das cepas so positivas. - :
menos de 15 % das cepas so positivas. * : Segundo Lechner e colaboradores somente a capacidade de crescer a 7 C em
aerobiose em caldo agitado (caract. positiva para o B. weihenstephanensis e caract. negativa para o B. cereus) e a
capacidade de cultivo a 43 C (caract. negativa para o B. weihenstephanensis e caract. positiva para o B. cereus) permitem
diferenciar o B. cereus e o B. weihenstephanensis. Esta concluso contestada pelos trabalhos de STENFORS, L.P. &
GRANUM, P.E. Psychrotolerant species from the B. cereus group are not necessarily B. weihenstephanensis. FEMS
Microbiol. Lett., 2001, 197, 223-228.] ** : Segundo Nakamura, B. mycoides e o B. pseudomycoides se diferenciam pela
composio de seus cidos graxos. *** : Entretanto 3 % das cepas do B. anthracis resistem a penicilina. Logan e Berkeley
(1984) propuseram uma identificao baseada na utilizao da API 20E e API 50CHB. Apenas 12 testes foram
investigados usando API 20E (ONPG, ADH, LDC, ODC, citrato, H2S, uria, TDA, indol, VP, nitrato de gelatina). As
galerias so inoculadas com uma suspenso nmero 3 na escala de McFarland. A incubao realizada a 30C e a leitura
realizada aps 24 e 48 horas de incubao. Os ensaios deram resultados negativos para todas as cepas estudadas no so
mencionadas. Os nmeros so percentagens de cepas dando um resultado positivo.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Seus resultados so apresentados no Quadro II. Quadro II. Utilizao do API 20E e API 50CHB na identificao do B. cereus
Galeria API 20E B. cereus
(119 cepas)
B. cereus "emtica"*
(30 cepas)
ADH 60 17
Citrato 86 100
Uria 22 0
VP 92 100
Gelatina 100 100
Nitrato 80 87
Galeria API 50 CHB B. cereus
(119 cepas)
B. cereus "emtica"*
(30 cepas)
Amido 96 6
Amidalina 8 0
Arbutina 91 60
Celobiose 84 43
D-frutose 98 100
L-fucose 0 3
Beta-gentiobiose 18 0
N-acetilglicosamina 99 100
D-glicose 100 100
D-turanose 15 6
Esculina 100 100
Galactose 6 6
Galeria API 50 CHB B. cereus
(119 cepas)
B. cereus "emtica"*
(30 cepas)
Galeria API 50 CHB B. cereus
(119 cepas)
B. cereus "emtica"*
(30 cepas)
Gluconato 29 40
Alfa-metil-D-glicosdio 2 0
Glicerol 92 70
Galeria API 20E B. cereus
(119 cepas)
B. cereus "emtica"*
(30 cepas)
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Glicognio 92 10
Lactose 8 0
Maltose 98 100
D-manose 0 3
Melezitose 1 0
Ribose 97 93
Sacarose 47 83
Salicina 87 0
Trealose 98 100
Galeria API 50 CHB B. cereus
(119 cepas)
B. cereus "emtica"*
(30 cepas)
*: Cepas associadas sndrome emtica e as cepas dos sorovares 1, 3, 5 e 8 esto associados a tal sndrome.
DETECO DE TOXINAS
As toxinas HBL e NHE podem ser detectadas nas fezes, alimentos ou de colnias
isoladas pelo cultivo das fezes. O teste BCET-RPLA da Oxoid detecta o componente L2 de
toxina HBL, atravs da tcnica de aglutinao passiva. O teste Tecra (3M) detecta a
protena de 45 kDa da toxina NHE por ELISA sanduche. Como os kits de deteco
utilizam antgenos diferentes, pode haver diferenas nos resultados. Alm disso, essas
estirpes podem no expressar ou expressar essas 2 toxinas j caracterizadas e outras toxinas
envolvidas na patognese que no so detectadas pelos kits comerciais. Finalmente,
interessante notar que outras estirpes alem do B. cereus (B. thuringiensis e certamente B.
weihenstephanensis) podem produzir toxinas HBL e / ou NHE. No existe kit para a
deteco da toxina emtica. A inoculao de extratos de alimentos suspeitos ou filtrados de
cultivos em musaranhos ou deteco da perda da motilidade de espermatozides suno no
vivel na prtica rotineira.
A toxina emtica geralmente detectada no alimento, vmitos ou na s colnias
isoladas das fezes para a pesquisa do efeito citopatognico.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
TSA
As cepas de B. cereus produzem beta-lactamases de amplo espectro e so resistentes
aos beta-lactmicos, incluindo cefalosporinas de terceira gerao. Eles so resistentes ao
trimetoprima, mas geralmente sensveis aos aminoglicosdeos, clindamicina, ciprofloxacina,
vancomicina, cloranfenicol e eritromicina.
No homem, o tratamento de infeces oculares uma emergncia mdica e o
tratamento geralmente envolve associaes de gentamicina-clindamicina. A vancomicina e
o imipenem so utilizados com sucesso.
A associao vancomicina e aminoglicosdeos parece ser o tratamento de escolha
preferencial para infeces generalizadas e meningites.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Bacillus thuringiensis
Prof. Marcos Gomes
HISTRICO
O B. thuringiensis, assim como o B. cereus um patgeno oportunista, pertence
famlia de Bacillus cereus latu sensu .
Em 1901, um bilogo japons, Ishiwata Shigetane, descobriu uma bactria no
descrita como o agente causador de uma doena no bicho da seda. O B. thuringiensis foi
originalmente considerado um risco para a criao do bicho da seda, mas tornou-se o centro
no controle de insetos. Ele forma um cristal para-esporo, durante a fase estacionria de seu
ciclo de crescimento, mas foi inicialmente caracterizado como um patgeno de insetos.
Em 1956, Angus demonstrou que a atividade inseticida era atribuda, em grande
parte, ou completamente (dependendo do inseto) s incluses proticas e cristalinas
formadas no curso da esporulao. Esta observao levou ao desenvolvimento de
bioinseticidas com base em B. thuringiensis para controle de certas espcies de insetos,
especialmente entre as ordens Lepidoptera, Diptera e Coleoptera.
Em 1982, Gonzalez e colaboradores revelaram que os genes que codificavam a
produo de cristais de protenas estavam em um plasmdio transmissvel.
Em 1981, Schnepf e Whiteley clonaram e caracterizaram os genes para a produo de
cristais de protena (cry) do ADN plasmidial do B. thuringiensis subsp. kurstaki HD-1,
txica para as larvas do tabaco.
O B. thuringiensis tornou-se rapidamente de interesse comercial, como alternativa aos
inseticidas qumicos sintticos aplicados na agricultura e na silvicultura, sendo neste
momento, o agente mais utilizado no controle de pragas.
Os primeiros produtos inseticidas de B. thuringiensis foram comercializados, na
Frana, no final dos anos 1930 (Lambert et al. 1992).
Em 1995, o bioinseticida baseado no B. thuringiensis representaram cerca de 2% do
mercado global de inseticidas. Em 1995, a Agncia de Proteo Ambiental dos Estados
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Unidos, registrou 182 produtos "Bt-base", mas em 1999 representavam menos de 2 % das
vendas de todos os inseticidas (Carpenter et al. 2001,). Como pragas de insetos se tornaram
resistentes aos inseticidas qumicos. O uso do milho Bt tem aumentado bastante.
Em 1992, Beegle e Yamamoto relataram que as primeiras formulaes Bt
apresentaram vrios problemas. Os produtos continham freqentemente cristais de
protenas do B. thuringiensis de baixa potncia, pois a padronizao estava baseada na
contagem de esporos, ao invs da potncia,
Referncias Bibliogrficas Recomendadas para o Gnero Bacillus spp Agata, N.; Ohta, M.; Mori, M.; Isobe, M. A novel dodecadepsipeptide, cereulide, is an
emetic toxin of Bacillus cereus. FEMS Microbiol. Lett., v. 129, p. 17-19, 1995.
Aizawa, T.; Urai, M.; Iwabuchi, N.; Nakajima, M.; Sunairi, M. Bacillus trypoxylicola sp.
nov., xylanase-producing alkaliphilic bacteria isolated from the guts of Japanese
horned beetle larvae (Trypoxylus dichotomus septentrionalis). Int. J. Syst. Evol.
Microbiol., v. 60, p. 61-66, 2010.
Anderson Borge, GI.; Skeie, M.; Sorhaug, T.; Langsrud, T.; Granum, PE. Growth and
toxin profiles of Bacillus cereus isolated from different food sources. Int. J. Food
Microbiol., v. 69, p. 237-246, 2001.
Andersson, A.; Granum, PE.; Rnner, U. The adhesion of Bacillus cereus spores to
epithelial cells might be an additional virulence mechanism. Int. J. Food Microbiol.,
v. 39, p. 93-99, 1995.
Andersson, A.; Rnner, U.; Granum, PE. What problems does the food industry have with
the spore-forming pathogens Bacillus cereus and Clostridium perfringens?. Int. J.
Food Microbiol., v. 28, p. 145-155, 1995.
Andersson, MA.; Mikkola, R.; Helin, J.; Andersson, MC.; Salkinoja-Salonen, M. A novel
sensitive bioassay for detection of Bacillus cereus emetic toxin and related
depsipeptide ionophores. Appl. Environ. Microbiol., v. 64, p. 1338-1343, 1998.
applications. v. 7, p. 207-296, 1996.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
AnthraxGuidelines2008/en/index.html 2008
Ariel, N.; A. Zvi, A.; Makarova, K.S.; Chitlaru, T.; Elhanany, E.; Velan, B.; Cohen, S.; A.
M. Friedlander, A.M.; Shafferman, A. Genome-based bioinformatic selection of
chromosomal Bacillus anthracis putative vaccine candidates coupled with proteomic
identification of surface-associated antigens. Infect. Immun., v. 71, p. 4563-4579,
2003.
Ash, C.; Farrow, JAE.; Wallbanks, S.; Collins, MD. Phylogenetic heterogeneity of the
genus Bacillus revealed by comparative analysis of small-subunit-ribosomal RNA
sequences. Lett. Appl. Microbiol., v. 13, p. 202-206, 1991.
Baesman, SM.; Stolz, JF.; Kulp, TR.; Oremland, RS. Enrichment and isolation of Bacillus
beveridgei sp. nov., a facultative anaerobic haloalkaliphile from Mono Lake,
California, that respires oxyanions of tellurium, selenium, and arsenic. Int. J. Syst.
Evol. Microbiol., v. 60, p. 1985-1986, 2010.
Baik, KS.; Lim, CH.; Park, SC.; Kim, EM.; Rhee, MS.; Seong, CN. Bacillus rigui sp.
nov., isolated from wetland fresh water. Int. J. Syst. Evol. Microbiol., v. 60, p. 2204-
2209, 2010.
Balczar, JL.; Pintado, J.; Planas, M. Bacillus galliciensis sp. nov., isolated from faeces of
wild seahorses (Hippocampus guttulatus). Int. J. Syst. Evol. Microbiol., v. 60, p.
892-895, 2010.
Bouvet, P. Infections d'origine alimentaire. Bulletin de l'Association des Anciens Elves
de l'Institut Pasteur, v. 176, p. 113-127, 2003.
Bowen, JE.; Turnbull, PCB. The fate of Bacillus anthracis in unpasteurized and
pasteurized milk. Letters Appl. Microbiol., v. 15, p. 224-227, 1992.
Brossier, F.; Mock, M.; Sirard, J.C. Antigen delivery by attenuated Bacillus anthracis new
prospects in veterinary vaccines. J. Appl. Microbiol., v. 87, p. 298-302, 1999.
Cho, SL.; Jung, MY.; Park, MH.; Kim, W. Bacillus chungangensis sp. nov., a halophilic
species isolated from sea sand. Int. J. Syst. Evol. Microbiol., v. 60, p. 1349-1352,
2010.
Claus, D.; Berkeley, RCW. Genus Bacillus Cohn 1872, 174AL
. In: Sneath, PHA.; Mair,
NS.; Sharpe, ME.; Holt, JG. (Eds.) eriology,
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
vol. 2, The Williams & Wilkins Co., Baltimore, 1986, pp. 1105-1139.
Claus, D.; Fritze, D. Taxonomy of Bacillus. In : Bacillus, Harwood, CR. Editor, Plenum
Publishing Corporation, 1989, 5-26.
De Vos, V.; Turnbull, PCB. Anthrax. In: Coetzer, JAW.; Thomson, GR.; Tustin, RC.
(Eds.), Infectious Diseases of Livestock, with Special Reference to Southern
Africa, 2nd Ed. Oxford University Press Southern Africa, Cape Town, South Africa
(chapter 153).2004.
Denizci, AA.; Kazan, D.; Erarslan, A. Bacillus marmarensis sp. nov., an alkaliphilic,
protease-producing bacterium isolated from mushroom compost. Int. J. Syst. Evol.
Microbiol., v. 60, p. 1590-1594, 2010.
Dirckx, JH. Virgil on anthrax. Am. J. Dermatopathol., v. 3, p. 191-195, 1981.
Donnio, PY.; Le Deaut, P.; Schuttler, C.; Avril, JL. Caractrisation et signification
clinique des souches de Bacillus isoles par hmocultures. Md. Mal. Infect., v. 17, p.
110-112, 1987.
Drobniewski, FA. Bacillus cereus and related species. Clin. Microbiol. Rev., v. 6, p. 324-
338, 1993.
Drysdale, M.; Bourgogne, A.; Hilsenbeck, S.G.; Koehler, T.M. atxA controls Bacillus
anthracis capsule synthesis via acpA and a newly discovered regulator, acpB. J.
Bacteriol., v. 186, p. 307-315, 2004.
Ferreira, JLM.; Riet-Correa, F.; Schild, AL.; Mendz, MC.; Delgado, LE. Doenas
diagnosticadas no ano de 1990. Laboratrio Regional de Diagnstico. Editora e
Grfica Universitria da UFPel. Pelotas, RS, 53p. 1990.
Forsyth, G.; Logan, NA.; De Vos, P. Revue taxonomique du genre Bacillus. Bull. Soc. Fr.
Microbiol., v. 13, p. 114-129, 1998.
Fouet, A.; Mock, M. Regulatory networks for virulence and persistence of Bacillus
anthracis. Curr. Opin. Microbiol., v. 9, p. 160-166, 2006.
Gaviria Rivera, AM.; Granum, PE.; Priest, FG. Common occurrence of enterotoxin genes
and enterotoxicity in Bacillus thuringiensis. FEMS Microbiol. Lett., v. 190, p. 151-
155, 2000.
-
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Tpicos em Bacteriologia Veterinria 2013
FAVET-UFRGS
Prof. Marcos JP Gomes
Guinebretiere, MH.; Broussolle, V.; Nguyen-The, C. Enterotoxigenic profiles of food-
poisoning and food-borne Bacillus cereus strains. J. Clin. Microbiol., v. 40, p. 3053-
3056, 2002.
Guinebretire, MH.; Sanchis, V. Bacillus cereus sensu lato. Bull. Soc. Fr. Microbiol., v.
18, p. 95-103, 2003.
Haeghebaert, S.; Le Querrec, F.; Vaillant, V.; Delarocque Astagneau, E.; Bouvet, P. Les
toxi-infections alimentaires collectives en france en 1998. Bull. Epidmiol.
Hebdomadaire, 2001, n15.
Hahn, U.K.; Aichler, M.; Boehm, R.; Beyer, W. Comparison of the immunological memory
after DNA vaccination and protein vaccination against anthrax in sheep. Vaccine, v. 24, p.
4595-4597, 2006.
Hanna, PC.; Ireland, JAW. Understanding Bacillus anthracis pathogenesis. Trends in
Microbiol., v. 7, n. 5, p. 180-182, 1999.
Hemadi, R.; Zaltas, M.; Paton, B.; Foster, CS.; Baker, AS. Bacillus-induced
endophtalmitis: new series of 10 cases and review of the literature. British J.
Ophthalmol., v. 74, p. 26-29, 1990.
Henderson, I.; Duggleby, CJ.; Turnbull, PC. Differentiation of Bacillus anthracis from
Bacillus cereus group Int. J. Syst. Bacteriol., v. 44, p.
99 105, 1994.
Henderson, I.; Yu, D.; Turnbull, PC. Differentiation of Bacillus anthracis and other
Bacillus cereus group -derived sequences. FEMS Microbiol.
Lett., v. 128, p. 113 118, 1995.
Hilliard, NJ.; Schelonka, RL.; Waites, KB. Bacillus cereus bacteremia in a preterm
neonate. J. Clin. Microbiol., v. 41, p. 3441-3444, 2003.
Hsueh, PR.; Teng, LJ.; Yang, PC.; Pan, HL.; Ho, SW.; Luh, KT. Nosocomial
pseudoepidemic caused by Bacillus cereus traced to contaminated ethyl alcohol from a
liquor factory. J. Clin. Microbiol., v. 37, p. 2280-2284, 1999.
Hugh-Jones, ME.; De Vos, V. 2002. Anthrax and wildlife. Rev. Sci. Tech. Off. Int. Epiz.,
v. 21, p. 359 383, 2002.
http://www.invs.sante.fr/beh/2001/15/index.htmhttp://www.invs.sante.fr/beh/2001/15/index.htm