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Gênero, Linguagem e Diversidade... Barros & Ferreira Revista Diálogos N.° 18 Set. / Out. 2017 308 GÊNERO, LINGUAGEM E DIVERSIDADE: UM ESTUDO À LUZ DA SOCIOLINGUÍSTICA d.o.i. 10.13115/2236-1499v2n18p308 Emmanuella Farias de Almeida Barros 1 UFPE Erasmo da Silva Ferreira 2 UFPE/UPE Resumo: Este trabalho tem como objetivo norteador refletir, à luz dos fundamentos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista, acerca da “diferença” existente entre homens e mulheres embasados em Wodak e Benke (1997) , Lakoff (1973), West & Zimmerman (1975) e Tannen (2010), a fim de que possamos compreender como se constituem as relações entre esses homens e mulheres face à distribuição de poder no que concerne à desigualdade de gênero, conduzida pela interrupção na linguagem e sua representação político-ideológica como mecanismo de domínio, opressão e controle. Em grande medida os estudos de gênero, desenvolvidos no campo de atuação da antropologia, deram ênfase às relações de parentesco, identificando o significado e a dinâmica das desigualdades e do poder no contexto familiar. Posteriormente, tais pesquisas passaram a lançar luz sobre outras esferas sociais articulando o conceito de gênero aos conceitos de classe e raça/etnia e relativizando seu peso e significado em contextos sociais diversos e em segmentos populacionais distintos. 1 Mestra em Letras/Linguística UFPE. Pós-graduada em Ensino de Língua Portuguesa e suas Literaturas UPE. E-mail: [email protected] 2 Doutorando e Mestre em Linguística pelo PPGL-UFPE. Professor Assistente do Departamento de Letras da UPE/Campus Garanhuns. Especialista em Ensino da Língua Portuguesa. Graduou-se em Letras também na UPE. E-mail: [email protected]

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Revista Diálogos – N.° 18 – Set. / Out. – 2017 308

GÊNERO, LINGUAGEM E DIVERSIDADE: UM ESTUDO À

LUZ DA SOCIOLINGUÍSTICA

d.o.i. 10.13115/2236-1499v2n18p308

Emmanuella Farias de Almeida Barros1 – UFPE

Erasmo da Silva Ferreira2 – UFPE/UPE

Resumo: Este trabalho tem como objetivo norteador refletir, à luz dos

fundamentos teórico-metodológicos da Sociolinguística Variacionista,

acerca da “diferença” existente entre homens e mulheres embasados em

Wodak e Benke (1997) , Lakoff (1973), West & Zimmerman (1975) e

Tannen (2010), a fim de que possamos compreender como se constituem

as relações entre esses homens e mulheres face à distribuição de poder

no que concerne à desigualdade de gênero, conduzida pela interrupção

na linguagem e sua representação político-ideológica como mecanismo

de domínio, opressão e controle. Em grande medida os estudos de gênero,

desenvolvidos no campo de atuação da antropologia, deram ênfase às

relações de parentesco, identificando o significado e a dinâmica das

desigualdades e do poder no contexto familiar. Posteriormente, tais

pesquisas passaram a lançar luz sobre outras esferas sociais articulando

o conceito de gênero aos conceitos de classe e raça/etnia e relativizando

seu peso e significado em contextos sociais diversos e em segmentos

populacionais distintos.

1 Mestra em Letras/Linguística – UFPE. Pós-graduada em Ensino de Língua Portuguesa

e suas Literaturas – UPE. E-mail: [email protected]

2 Doutorando e Mestre em Linguística pelo PPGL-UFPE. Professor Assistente do

Departamento de Letras da UPE/Campus Garanhuns. Especialista em Ensino da Língua

Portuguesa. Graduou-se em Letras também na UPE. E-mail: [email protected]

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Palavras-chave: Sociolinguística Variacionista; Gênero; Linguagem;

Diversidade; Interrupção; Controle.

Abstract: This paper aims to reflect, in the light of the theoretical and

methodological foundations of Variationist Sociolinguistics, on the

"difference" existing between men and women based in Wodak and

Benke (1997), Lakoff (1973), West & Zimmerman (1975) and Tannen

(2010), so that we can understand how the relations between these men

and women are constituted by the distribution of power in relation to

gender inequality, driven by the interruption in language and its political-

ideological representation as a mechanism of domination, oppression and

control. To a large extent, gender studies, developed in that field of

anthropology, have emphasized kinship relations, identifying the

meaning and dynamics of inequalities and power in the family context.

Subsequently, such research began to shed light on other social spheres

by articulating the concept of gender to the concepts of class and race /

ethnicity and relativizing their ways and meaning in diverse social

contexts and different population segments.

Keywords: Sociolinguistic Variation; Gender; Language; Diversity;

Interruption; Control.

1. Considerações Iniciais

A Sociolinguística Variacionista é uma subárea da Linguística

que tem como objetivo de análise a língua em uso efetivo e real,

trabalhando as relações entre as estruturas linguísticas e os fenômenos

sociais, históricos e culturais na realização linguística.

Nessa perspectiva, a Sociolinguística considera a língua como

uma instituição social e, por essa razão, não pode ser apreendida como

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uma estrutura autônoma e imutável, contrapondo-se, assim, a

perspectivas estruturalistas.

Assim sendo, a corrente teórica que conduz as discussões neste

trabalho alude, principalmente, aos trabalhos fundadores liderados por

William Labov, a partir da década de 60, nos Estados Unidos. Essa

corrente teórica a qual nos filiamos, sustenta com propriedade que a

variação e a mudança são inerentes à língua e um de seus objetivos

centrais é justamente compreender quais são os fatores basilares que

condicionam a variação linguística, bem como a relevância de cada um

desses fatores na constituição do mapa em que se apresenta uma variável.

Perante esse cenário, este trabalho propõe uma reflexão a partir da

proposta de pesquisa instaurada por Wodak & Benke (1997),

perpassando as pesquisas relatadas por Lakoff (1973), Ostermann &

Fontana (2010), Zimmerman & West (1975), Tannen (2010), Goffman

(1981), Fishman (1966), entre outros.

Em suma, buscamos evidenciar que a lingua(gem) desempenha um

papel e representa um espaço de desigualdade na relação existente entre

homens e mulheres na sociedade em que estão inseridos.

2. As contribuições de Wodak e Benke: A Questão do Gênero na

Perspectiva da Sociolinguística Variacionista

O texto de Ruth Wodak e Gertraud Benke (1997), “Gênero como

uma variável sociolinguística: Novas perspectivas nos estudos de

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variação” faz uma revisitação às teorias que estudam a questão do gênero

na Sociolinguística, mostrando as principais pesquisas e os estudos bem-

sucedidos nesse segmento.

Os estudos sobre gênero e sexo em relação à linguagem surgiram,

por sua vez, em meados da década de 1970 e a partir disso ganharam

destaque dois campos de estudo: o primeiro se refere ao comportamento

do discurso entre homens e mulheres no nível fonológico; e, o segundo,

está relacionado ao estilo de conversa entre homens e mulheres. Embora

a ciência deva mostrar certa imparcialidade, muitas vezes, os autores

nesses campos deixaram em evidência nos seus textos concepções de

linguagens entre homens mulheres de maneira muito marcada e em

alguns casos discriminatória.

Dessa forma, enquanto as mulheres eram retratadas com um uso

linguístico de maneira insegura, solidária e com demasiada

expressividade emocional, os homens eram vistos como competitivos,

independentes e controladores.

Outro revés identificado em algumas pesquisas está relacionado ao

contexto da linguagem que é negligenciado. Em muitos casos, o que fica

enaltecido é o dispositivo biológico, mas os estudos acerca dos gêneros

na Sociolinguística precisam ser analisados cuidadosamente a partir das

Ciências Sociais, porque nesses estudos existem dispositivos ideológicos

que não podem ser simplesmente ignorados.

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Sendo assim, o sexo e o gênero se apresentam de maneira

dicotômica. De acordo com Wodak e Benke (1997) o sexo é uma

anatomia biológica diferente entre homens e mulheres, o gênero

corresponde à psicologia, a diferenças sociais e culturais entre machos e

fêmeas.

Desse modo, o desenvolvimento da identidade do gênero envolve

aspectos maiores do que a diferença biológica, ou seja, envolve regras de

comportamento, estruturas de poder, carrega marcas e regras sociais

diferentes.

Entretanto, é muito difícil separar as questões biológicas e

genéricas nesses estudos, por isso, as autoras argumentam sobre a

necessidade de o gênero ser estudado empiricamente, em uma correlação

com o sexo. Fazendo isso, o gênero como uma categoria construída

socialmente e contextualizada pode implicar necessariamente uma

contextualização pertinente dos usos da linguagem.

A partir do que foi apresentado, as autoras elaboram uma

revisitação às questões teóricas que perpassam a questão do gênero/sexo.

De início, as autoras esclarecem que havia uma deficiência de

modelos na linguagem utilizada por homens e mulheres. A linguagem

feminina era subordinada, considerada o sexo frágil, enquanto os homens

eram mais fortes por terem poder e prestígio na sociedade.

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Outro traço observado nas pesquisas era o papel dos estilos que

também tinham diferenças marcantes entre homens e mulheres. Enquanto

os homens possuíam um estilo competitivo, as mulheres um cooperativo.

O passo seguinte foi reconhecer que a categoria do gênero

desempenha um papel importante na conversa e é diferente em toda

situação de contexto, mas as discussões sobre contextos específicos eram

inadequadas e, por isso, ainda persistia o retrocesso porque os estudos de

gêneros e sexo permaneciam imbricados nos modelos anteriores.

Na sequência, os estudos alcançaram o processo de socialização,

isso quer dizer que os estudos começaram a perscrutar as diferenças no

aprendizado entre pessoas de sexo diferentes.

A abordagem socioconstrutivista, por outro lado, mostra que as

funções dos gêneros em instituições e no comportamento comunicativo

de ambos os sexos não são separadas. Em outras palavras, as funções dos

gêneros são produzidas, reproduzidas e atualizadas através do contexto

específico do gênero em distintas atividades de comunicação.

A última fase, por conseguinte, evidencia a relação entre o domínio

e as diferentes abordagens. Nesse sentido, há uma argumentação que

envolve tanto as questões sociais quanto as abordagens revisitadas para

mostrar um estudo de gênero holístico e dinâmico que comtemple cada

vez mais ferramentas e aspectos.

2.2. A Tradição Laboviana & o tratamento da mudança linguística

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Outra abordagem que não foi ignorada nessa pesquisa é a tradição

Laboviana. Os estudos nesse âmbito mostraram uma estratificação de

variáveis fonológicas de acordo com sexo/gênero, idade, status

econômico e contexto social, e, para explicar a variação intrapessoal e a

interpessoal em consonância com as teorias linguísticas, Labov utilizava

as regras de variação chegando, dessa maneira, a importantes conclusões.

De acordo com o autor, mulheres de todas as classes e idades usam

mais a variedade padrão do que os homens e isso acontece porque as

mulheres, por serem as líderes na criação dos filhos, utilizam mais a

consciência de prestígio3 e a hipercorreção na linguagem, procurando

repassar para os filhos os valores da alta linguagem utilizada.

Nessa direção, Labov procurava ir além de descrições e

explicações simples para explicar a variação entre diferentes classes,

embora a teoria explique que os métodos utilizados por ele não eram

demonstrativos o suficiente para mostrar o porquê de as mulheres

utilizarem mais a variedade padrão do que os homens.

Além de Labov, Trudgill (1978) se interessava em estudar essas

diferenças entre os homens e as mulheres no uso da linguagem padrão. A

análise de Trugdill estava um pouco mais voltada para as questões sociais

e de acordo com ele as mulheres em sua posição na sociedade por ser

menos segura que a do sexo oposto as forçava a necessariamente utilizar

3 A consciência de prestígio depende da posição social da mulher na sociedade.

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a variante de prestígio, seja para alcançar mais espaço, seja para uma

aceitação sem restrições.

Em outra perspectiva, os estudos de James e Lesley Milroy (1978)

rompem com os estudos sociofonológicos encontrados até então,

sobretudo nos procedimentos metodológicos. Com a nova forma de

pesquisa proposta, os pesquisadores são incluídos no grupo em que se

deseja elaborar o estudo e, além disso, eles utilizam dados que abordam

dois parâmetros: a densidade e a multiplicidade. Enquanto o primeiro se

refere ao número de pessoas participantes da rede e o número das relações

dessas pessoas com outras; o segundo, por seu turno, é o índice de

polifunções na rede.

Assim sendo, com essas novas abordagens de estudos sobre

variação, os resultados dos Milroy (1978) confirmam sim que as

mulheres usam mais a variedade padrão, mas oferecem explicações

diversas para confirmar esse fenômeno no processo de interação verbal.

Perante esse cenário, com a crescente popularização nos estudos

sobre gênero/sexo acabam surgindo, paralelamente, outras tradições de

pesquisa. Isso acontece principalmente porque o interesse na pesquisa de

variação de gêneros atinge outras áreas da Linguística e, com isso,

aparecem as contribuições da Análise do Discurso4, Análise da

4 A corrente teórica da Análise Crítica do Discurso (ACD) tem apresentado uma

contribuição relevante aos estudos relacionados à questão da desigualdade de gênero na

sociedade, bem como acerca das relações de poder entre homens e mulheres.

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Conversação, Etnografia da Fala; enfim, influências que além de

emergirem de outras áreas do saber evidenciam estudos europeus que

surgem da tradição da Dialetologia, do Bilinguismo e até do

Multilinguismo.

Contudo, críticas inspiradas nos movimentos feministas vêm

questionar a fundamentação teórica desenvolvida em torno desses

estudos que, muitas vezes, é discriminatória e inferioriza as mulheres na

sociedade. Destacamos três concepções que instauram as querelas.

A primeira abordagem é a biológica que, de acordo com as

pesquisas, praticamente não é utilizada, uma vez que a grande maioria

dos autores não acredita na determinação biológica para explicar esses

estudos.

A abordagem das duas culturas, por sua vez, argumenta a respeito

de que a linguagem é utilizada como um código para manter a identidade

de um grupo, nesse caso o status do homem depende de sua ocupação na

sociedade. Nessa perspectiva, a pesquisas apontam que a mulher usaria

uma variedade mais padrão porque geralmente trabalha em casa e tem a

função de educar os seus filhos o que justificaria – em certa medida – o

uso da linguagem padrão.

Por último, a abordagem do poder e domínio enfatiza que as

mulheres usam a variedade padrão para melhorarem suas posições na

sociedade patriarcal, aqui além das diferenças culturais subjacentes, fica

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claro as relações de poder que emanam desse tipo de estudo, pois os

papéis sociais não são neutros ideologicamente e politicamente.

Devido a isso, as correntes feministas apontam críticas

consistentes que corroboram para mostrar as desigualdades marcantes

nos estudos desenvolvidos. As críticas giram em torno de argumentos

que mostram que a diferença entre sexo e gênero é ignorada, que a

metodologia é sexista, que trabalhos com pequenas amostras não permite

generalizações, que o contexto de influência é prescindido, ou seja, são

críticas bem colocadas e que precisam ser corrigidas por uma questão de

justiça e reconhecimento social.

Dessa forma, os estudos no campo de atuação da Sociolinguística

tentam mostrar algumas alternativas para a abordagem da variação,

levando em conta pesquisas exitosas que, de algum modo, tentaram sanar

as diferenças.

O primeiro estudo que tem contribuído para diminuir a distância

do abismo que separa homens e mulheres na sociedade vem de uma

abordagem etnográfica e procura verificar como se dá o processo de

socialização entre homens e mulheres. Nessa pesquisa sociofonológica5,

há uma investigação acerca do conceito de comunidade de prática, em

5 Os pesquisadores se propõem a investigar tanto a variação das vogais na fala de

homens e mulheres como a projeção da autoimagem das pessoas para serem aceitas.

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que os pesquisadores buscam entender o processo de socialização em

dois grupos distintos, um tem o acesso mais fácil e o outro mais difícil.

Os resultados indicaram que as mulheres utilizam mais variações

para serem aceitas nos grupos, além de sofrerem uma pressão maior, já

que além da aceitação, elas precisam ser populares, enquanto os homens

encontram um caminho mais fácil.

A pesquisa apresentada posteriormente surge sob a influência da

corrente bilíngue e investiga um pequeno grupo de mulheres de Porto

Rico que vivem em uma comunidade nos EUA, Nova York. Nesse

sentido, Zentella (1997) investigou os conflitos os quais passavam essas

mulheres, conflitos de identidade, nacionalidade, idioma, as influências

culturais, ou seja, procurou entender como se dava a relação dessas

pessoas em um ambiente suscetível a variações.

As conclusões indicaram que o code-switching, mudança de

código, era um fator determinante na comunicação desse pequeno grupo,

por exemplo, as crianças que sofriam dupla influência sempre utilizavam

o código que era reportado a elas e as mulheres eram as líderes e as

responsáveis pela educação dos mais novos, devendo ser excelentes na

adoção do modelo bilíngue.

Nos últimos estudos apresentados, Ruth Wodak (1997 e outros) dá

ênfase à questão de estilo a linguagem. A primeira pesquisa que fala disso

é a investigação do estilo utilizado pelos réus em um tribunal, como eles

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se comportam, como utilizam o código e como respondem a partir de um

estilo e não de outro.

Nessa mesma perspectiva, o outro estudo verifica o estilo de

linguagem utilizado por mães e filhas. Isto é, a autora argumenta que, a

partir de suas pesquisas, é possível constatar que a influência do estilo de

linguagem da mãe sobre a filha só ganha força, quando a relação é bem

sucedida, mas quando a relação apresenta divergências essa influência

não é tão forte.

Diante do que foi apresentando e devida à importância que é levar

em conta um estudo do comportamento linguístico entre homens e

mulheres que concorde com implicações teóricas modernas das teorias

de gêneros, segue mais uma discussão que se articula em torno dessa

problemática.

3. Lakoff e a Linguagem da Mulher na Sociedade.

O texto de Robin Lakoff: “Linguagem e lugar da mulher” (1973)

trata das diferenças no uso da linguagem feita por homens e mulheres que

refletem não só diferenças culturais, mas sociais e ideológicas.

De maneira precisa somos conduzidos a refletir sobre como as

mulheres são discriminadas pelo uso da língua e como a linguagem é

dicotômica ao apresentar os papéis sociais dos gêneros. Sob esse ponto

de vista e pelas diferenças discutidas ao longo do trabalho entre homens

e mulheres no seu comportamento linguístico, tem-se a abordagem

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biológica citada antes com o trabalho de Wodak e Benke (1997), ao passo

que o sexo feminino é inferior e submisso.

Logo no início da discussão é apresentado o grande dilema que as

mulheres precisam conviver, quer dizer, as mulheres são ensinadas desde

cedo a se comportarem e a falarem como uma dama, com educação e

boas maneiras, mas ao mesmo tempo em que essas raízes ideológicas são

impregnadas na formação da identidade feminina, quando surge o

amadurecimento e as mulheres vão enfrentar a sociedade não são levadas

a sério, pelo seu jeito politicamente correto e muito polido na utilização

das palavras. Se desejam enfrentar a sociedade e falar mais forte e alto

do que o imposto pelo seu processo de socialização, são excluídas. Então,

de uma maneira ou de outra as mulheres são sempre colocadas “nos seus

lugares” e, por isso, há muito mais a ser elucidado e refletido em relação

à fala feminina, de modo que se possa encontrar uma forma de superar as

desigualdades sociais.

Um exemplo muito válido nessa apresentação da linguagem da

mulher não ser levada a sério está na frase abaixo:

A parede é malva.

Como é sabido, as mulheres tem um vocabulário de cores mais

extenso do que o dos homens e elas sabem distinguir cores com mais

precisão, mas sob a análise linguística a discussão que se desenvolve em

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torno da discriminação das cores é insignificante, fora da realidade,

características típicas do papel feminino na sociedade, a qual, só leva em

consideração o pensamento e a fala masculina, porque essa sim é

relevante.

Outra questão relevante é o uso de expletivos mais fortes ou mais

fracos. Em frases como:

Puxa vida, meu cabelo pegou fogo!

Meu Deus, ele sequestrou o bebê?

Qualquer pessoa poderia reconhecer que faz parte do vocabulário

feminino, e isso acontece principalmente, pelo processo de socialização

em que homens e mulheres são submetidos. Os garotos usariam um

palavrão no lugar de “puxa vida” e seria totalmente aceitável pela

sociedade machista que concorda que “macho fala palavrão e deve falar

grosso”, porque é isso que se espera de um “homem de verdade”. Por

outro lado, às mulheres cabem os expletivos mais fracos e, muitas vezes,

até sem sentido, porque elas devem sempre ser comportadas, recatadas,

educadas e bem vistas na sociedade, mesmo quando seu cabelo estiver

pegando fogo...

A restrição é outra marca da desigualdade social entre homens e

mulheres. Por exemplo, de acordo com Lakoff (1973), algumas palavras

fazem parte apenas do vocabulário do universo feminino e outras são

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neutras e podem ser utilizadas por ambos os sexos. Observemos o quadro

a seguir:

NEUTROS:

SOMENTE MULHERES:

Legal Adorável

Fantástico Encantador

Joia Doce

Bacana Lindo

Beleza Divino

Fonte: Lakoff (1973, p. 22)

Nesse ínterim, o sexo feminino por ter o estigma de uma linguagem

inferior precisa adequar seu vocabulário ao contexto social, pois uma

executiva de uma grande empresa não poderia utilizar palavras próprias

do “seu sexo” por provocar desconforto e falta de credibilidade aos

outros, ou seja, quanto mais próxima a linguagem das mulheres for da

linguagem dos homens, mais as mulheres terão aceitação.

A linguagem feminina apresentada até aqui traz as marcas de uma

discriminação que sob a ótica de um contexto histórico forte vai além dos

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usos linguísticos, mas é a partir desse último que se torna possível

visualizar com mais precisão o “lugar da mulher” na sociedade. Então,

seguindo com a discussão, uma característica pertinente da linguagem

das mulheres no Inglês é a presença do tag question.

O tag question, em bom “nordestinês” é representado pelo né?! Ou

seja, é uma pergunta em que se espera uma confirmação. Comparando as

frases abaixo é possível entender melhor:

John está?

John está aqui, não está?

Na primeira pergunta não se espera confirmação alguma, porque

ela é feita de maneira aberta e pela escolha das palavras há uma indicação

de que quem pergunta não tem qualquer ideia da resposta, enquanto quem

a responde pode dizer naturalmente sim ou não. Contudo, ao realizar um

tag question, exemplo da segunda frase, quem faz a pergunta está apenas

esperando uma confirmação e já indica saber algo a mais. Um tag

question pode ser utilizada em diversas situações conversacionais, mas

na linguagem das mulheres há uma perspectiva interessante.

Como mencionado antes, o uso linguístico feminino é passivo e,

sendo assim, o uso desse recurso em uma conversa pode indicar um apoio

na situação comunicativa abrindo espaço para que os homens dominem

a fala e o turno em uma dada conversa com mulheres.

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Além dessa maneira educada de confirmação na reposta de um

interlocutor, as boas maneiras utilizadas pelas mulheres nas escolhas

lexicais mais uma vez as caracterizam, como na frase a seguir:

Você poderia, por favor, fechar a porta?

Nessa frase além da ênfase no “por favor” mostrando a maneira

mais polida de se fazer pedidos, há a forma verbal “poderia” que alega a

decisão final no interlocutor, isto é, mais uma vez a subserviência é

enaltecida na linguagem utilizada pelas mulheres.

Conforme o que foi discutido e apresentado até agora, é possível

afirmar que a questão do gênero no estudo de Sociolinguística não

percorre um caminho único e nem pretende falar em verdades absolutas.

A linguagem das mulheres não pode ser considerada inferior e assim

permanecer, todos os estudos têm algo a dizer, têm uma certa inquietação

e olhares múltiplos que se voltam a questões importantes, por isso,

continuemos com a certeza que nenhuma discussão se encerra quando

termina o texto, mas permanece viva em nós em cada ato de hostilidade

sofrida por uma população feminina que anseia por mudanças e

melhorias para que, com efeito, encontrarem o seu “lugar na sociedade”.

4. West e Zimmerman: O Fenômeno da Interrupção em conversas

entre Homens e Mulheres

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Sem sair do contexto social que permeou toda a apresentação das

pesquisas, o texto “Pequenos Insultos” versa acerca do fenômeno das

interrupções nas conversas entre homens e mulheres. As análises

realizadas a partir das pesquisas de Fishman (1966) de conversas entre

casais íntimos heterossexuais revelam que os assuntos das conversas de

um casal são, essencialmente, escolhidos pelo homem. Mulheres, como

observa Fishman, precisam fazer mais perguntas, preencher mais

silêncios e usar mais iniciadores para ganhar atenção do que seus pares

masculinos.

Nesse sentido, West e Zimmerman (1975, p. 50) instauram um

exemplo emblemático acerca da interrupção:

Um exemplo poderoso: Numa reunião de professores

universitários os homens fazem mais interrupções em

reuniões de colegiado do que as mulheres. No estudo, a

mulher “mais interrompida” era a professora que ainda não

tinha o título de doutora, enquanto o homem “menos

interrompido” era o professor coordenador do

departamento.

Em um estudo posterior West e Zimmerman (1975) compararam

11 interações entre pessoas de diferentes sexos com 5 interações entre

pais/mães e filhos gravadas em consultório médico. Ao descobrir que os

pais e as mães interromperam seus filhos em 12 ocasiões, de um total de

14, percebemos que mulheres e crianças recebem, aparentemente,

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tratamento semelhante em conversas com homens e com adultos. A

pesquisa sugere, assim, que a interrupção repetida do parceiro

conversacional pode ser não só a consequência de status inferior daquele

que é interrompido, mas também um meio de estabelecer e manter esse

diferencial de status.

Nessa perspectiva, West e Zimmerman (1975) definem a

interrupção como violação de turno de fala dos falantes. Essa é a

perspectiva defendida por Schegloff, Jefferson & Sacks (1977) quando

asseveram que as interrupções representam o mecanismo de transição de

falantes como uma série ordenada de regras que os falantes utilizam para

produzir uma ordem normativamente delimitada de interação

conversacional.

Nesse sentido, Schegloff, Jefferson & Sacks (1977, p. 371)

asseveram ainda que:

Para cada local possível de transição de turno essas regras

dispõem, em ordem de prioridade, que: 1. O falante atual

possa selecionar o próximo falante na conversa e, se não

escolher essa opção; 2. Um próximo falante possa se

autosselecionar, e, se não o fizer; 3. O falante atual possa

continuar falando. O exercício de qualquer uma dessas

opções remete todo o conjunto de regras de volta à primeira

opção.

Para os autores, uma interrupção envolve uma “intrusão mais

profunda na estrutura interna do enunciado de um falante” do que uma

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sobreposição de falas, e penetra profundamente nos limites sintáticos de

um enunciado do falante corrente. Na realidade, é em função do que é

disposto pelo modelo que as interrupções podem ser vistas como

violações das regras da tomada de turnos de fala. O termo interrupção é

utilizado para referir-se somente àquelas incursões que têm o potencial

de interromper o turno de um falante, apesar de a interrupção ser um

produto de maior interação entre os falantes.

A forte marcação de assimetria na iniciação das interrupções

direciona, em consonância com a tese apresentada por Schegloff,

Jefferson & Sacks (1977, p. 378), para a seguinte conclusão: que “os

homens recusam uma posição igualitária das mulheres enquanto

parceiras conversacionais”, e que, “assim como a dominância masculina

é exercida pelo controle masculino das macroinstituições na sociedade,

ela é também exercida pelo controle de uma parte de uma

microinstituição”.

Assim procedendo, como em tantas outras áreas de desigualdade

sexual, o gênero é muitas vezes invocado para justificar ou racionalizar

outro aspecto daquilo que Goffman (1981) chama de “o arranjo entre os

sexos”. Por seu turno, West e Zimmerman (1975, p. 59) apresentam outra

hipótese para tentar justificar a resposta para a seguinte interrogação: Por

que os homens interrompem as mulheres?

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Outra explicação para a interrupção desproporcional dos

homens está focada no total de fala que se diz que as

mulheres produzem em interações entre pessoas de

diferentes sexos. Aqui, a ideia é de que as mulheres são

“tagarelas” que os homens podem estar sendo forçados a

interrompê-las “simplesmente para conseguir dizer alguma

coisa”.

Entretanto, os pesquisadores concluem que esse tema é distorcido

por nossos estereótipos sobre a quantidade da fala que as mulheres devem

falar. Pelo contrário, as pesquisas sugerem que são as mulheres, e não os

homens, que interrompem para “conseguir dizer alguma coisa”.

Em última instância, as interrupções em conversas entre homens e

mulheres são apenas um dos aspectos na relação de desigualdade entre

homens e mulheres na sociedade. Uma visão mais completa pode ser

obtida somente por meio do estudo de uma série de circunstâncias mais

amplas, que, por sua vez, dependem em larga escala dos arranjos das

instituições sociais.

5. Deborah Tannen: A Interrupção como Mecanismo de Dominação

e Controle.

A autora (2010, p. 67) inicia a sua discussão apresentando uma

piada que seu costumava contar e transcrevemo-la a seguir:

Uma mulher entrou com um pedido de divórcio. Quando o

juiz lhe perguntou por que ela queria o divórcio, ela

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explicou que seu marido não falava com ela havia dois

anos. O juiz perguntou ao marido: “Por que você não fala

com sua mulher há dois anos?” O marido respondeu: “Eu

não queria interrompê-la”.

Tannen utiliza esse exemplo para ilustrar que as afirmações acerca

das interrupções entre homens e mulheres “refletem e estimulam a

pressuposição de que a interrupção é um ato hostil, uma espécie de

bullyng conversacional.” (TANNEN, 2010, p. 68). Quem interrompe é

visto como um agressor mal-intencionado, e quem é interrompido, como

uma vítima inocente. A autora continua a querela asseverando que “essas

pressuposições estão fundadas na premissa de que a interrupção é uma

intrusão, um desrespeito ao direito alheio ao piso conversacional, uma

tentativa de dominação” (TANNEN, 2010, p.68).

Tannen (2010), corroborando com West e Zimmerman (1975),

ainda instaura uma discussão relevante no que concerne aos seguintes

questionamentos:

Os homens interrompem as mulheres: As pesquisas relatam que

os homens interrompem as mulheres, por meio de conversas

gravadas entre homens e mulheres, independentemente dos

assuntos envolvidos nas conversas. O mais relevante é observar a

ocorrência das interrupções e seus respectivos efeitos causados

entre os atores da interação e se os direitos de alguém foram

violados;

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Interrupção sem sobreposição de vozes: A sobreposição de

vozes consiste em duas vozes que falam simultaneamente, a

sobreposição não necessariamente condiciona uma interrupção,

ou seja, a violação do direito da fala de alguém;

Sobreposição de vozes sem interrupção: Determinar que a

sobreposição de vozes representa um sinal da dominação implica

em pensar, a priori, que na interação face a face um falante

deveria falar de cada vez, porém esse posicionamento representa

mais uma certa concepção ideológica que prática;

Sobreposição cooperativa bem-sucedida: Ocorre quando os

falantes, na interação verbal, não se preocupam com as

sobreposições de vozes e permitem uma intrusão se quiserem;

caso contrário, adiam a sua resposta ou ficam completamente

indiferentes à interrupção;

Sobreposição mal-sucedida: Caracteriza-se pela utilização

constante de perguntas “metralhadoras” na interação, em que o

fluxo verbal do outro fica sempre interrompido;

Diferenças culturais: A pesquisa antropológica sustenta que, em

muitas culturas do mundo, falar ao mesmo tempo pode ser algo

valorizado se considerarmos as conversas casuais, mas em outras

e em determinadas situações comunicativas pode representar uma

agressão;

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A sobreposição cooperativa das mulheres: A maioria das

mulheres, segundo as pesquisas, é favorável às conversas em que

mais de uma pessoa fala ao mesmo tempo, mas na base ideológica

do respeito ao turno de fala dos outros;

Explicações culturais: Vantagens e desvantagens: A interação

face a face entre pessoas que pertencem às mesmas culturas ou a

culturas diferentes pode causar tanto consequências agradáveis

quanto desagradáveis e, até mesmo, trágicas;

Uma advertência: A relação entre gênero e interrupção por um

lado, bem como etnia e estilo conversacional por outro, pode ser

preocupante, uma vez que na relação homem-mulher-etnia-

cultura a mulher ainda aparece, nessa escala “hierárquica”, em

posição inferior;

Quem está interrompendo? Uma possível resposta para essa

pergunta, visto que tanto os homens quanto as mulheres se

queixam da interrupção seria a seguinte: a distinção entre a fala

do tipo relato e a fala cooperativa. Dito de outra forma, as formas

linguísticas características que a maioria das mulheres usa para

criar uma dada comunidade, e a maior parte dos homens para

administrar o confronto.

Sobreposição não cooperativa: Na relação interacional homem-

mulher, enquanto as sobreposições cooperativas das mulheres

frequentemente irritam os homens, pois parece que a falante quer

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assimilar o tópico masculino, os homens frequentemente irritam

as mulheres usurpando ou alterando o tópico;

Quem está conduzindo? Em suma, a interrupção está

intimamente associada à questão de dominação e de controle,

muito embora possa está relacionada também a demonstração de

interesse e afeto. Homens e mulheres se sentem interrompidos

porque almejam objetivos diferentes por meio da interação. Ser

acusado de interrupção sem realmente existir intenção é tão

frustrante quanto se sentir pessoalmente interrompido,

principalmente quando você tem a certeza de que suas intenções

eram de boa-fé.

6. Considerações Finais

Abordamos neste trabalho o que julgamos ser fundamental nas

discussões iniciais instauradas pela Sociolinguística Variacionista e a

constituição de seu aparato teórico-metodológico, buscando, ao mesmo

tempo, elucidar, por meio das reflexões aqui apresentadas, as questões

que envolvem a relação de gênero, linguagem e sociedade.

Em última instância, conforme não objetivamos instaurar um juízo

de valor absoluto neste trabalho, acreditamos que nossas reflexões não se

fecham e nem tampouco se encerram aqui, uma vez que tantas outras

respostas que permeiam estes questionamentos poderiam ainda ser

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(re)tratadas, indagadas, (re)vistas e até mesmo refutadas, muito embora

possam também ser ratificadas.

Finalmente, as questões que acabamos de discutir formam, parece-

nos, uma base para investigações científicas contínuas referentes às

desigualdades existentes entre homens e mulheres na sociedade, contudo,

nem por isso pretendemos apresentar, nem muito menos resolver, todos

os problemas que podem ser desenvolvidos e instaurados por estas bases.

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