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Estrada Real

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    CULTURA E DESENVOLVIMENTO NA ESTRADA REAL

    Altino Barbosa Caldeira - Arquiteto - [email protected]

    Arquiteto do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional IPHAN

    Professor da Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais - PUC-Minas

    Av. Dom Jos Gaspar, 500 Belo Horizonte/MG

    BRASIL CEP: 30.535-901

    Joo Francisco de Abreu Gegrafo [email protected]

    Pr-Reitor de Pesquisa e Ps-Graduao da

    Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais PUC-Minas

    Trecho da Estrada Real nos Estados de Minas

    Gerais, So Paulo e Rio de Janeiro, com as

    cidades situadas na ponta de cada trecho e a

    cidade de Ouro Preto, no centro.

    A Estrada Real um importante marco

    do perodo colonial brasileiro, pois ao

    longo do seu percurso podemos usufruir

    de uma rica paisagem cultural que rene

    um significativo patrimnio histrico

    material e imaterial, constitudo de

    elementos naturais e artefatos

    agenciados pela mo humana,

    representados por construes isoladas

    na rea rural, por inmeros vilarejos e

    distritos que fazem parte das cidades

    que foram, um dia, as vilas mineradoras

    e que deram identidade s Minas

    Gerais.

    Alm dos bens mveis e imveis tombados pelo Instituto do Patrimnio Histrico e

    Artstico Nacional em Minas Gerais neste territrio, existe, ainda, um acervo de bens de

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    interesse cultural nos Estados de So Paulo e Rio de Janeiro, que foram documentados e

    organizados em um banco de dados que esto sendo apresentados, neste trabalho, com a

    utilizao de recursos tecnolgicos que permitem a sua visualizao e interatividade

    com o usurio do sistema. O produto apresentado em um DVD-Rom contendo

    informaes sobre quase duzentos municpios contguos, com mapas de identificao

    destes bens, reunindo textos e fotografias reunidas sobre mais de seiscentos itens.

    A Estrada Real foi criada no sculo XVII pela Coroa portuguesa com o objetivo

    de controlar e fiscalizar a circulao das riquezas e mercadorias que transitavam entre

    Minas, onde se minerava ouro e diamante, e o Rio de Janeiro, onde se situava o porto de

    onde essas riquezas eram enviadas, por navio, a Portugal. Como era proibida a

    utilizao de qualquer outra via para circulao no interior do pas, pela Estrada Real

    passavam ambulantes, comerciantes, militares, nobres e membros da famlia real,

    msicos, aventureiros, viajantes como os europeus que descreveram o pas, assim como

    os responsveis pelas idias revolucionrias que disseminaram o sonho de liberdade que

    pretendia transformar o Brasil em uma repblica independente. Ao redor dos seus mil e

    duzentos quilmetros surgiram vilas, povoados e cidades. Pelo Caminho dos

    Diamantes, que ligava Diamantina Vila Rica, capital administrativa situada no centro

    da provncia, as pedras, extradas da mineraes, eram transportadas. Somente por este

    caminho e pelo Caminho Velho, que ligava Vila Rica a Paraty e pelo Caminho Novo,

    que unia a mesma Vila Rica ao porto do Rio de Janeiro, era permitida a passagem legal

    do ouro e do diamante produzido neste territrio, por onde chegavam ao mar.

    A Lei n 13.173/99, no pargrafo 5, do Artigo 2 (BRASIL, 1999), resguarda os

    patrimnios cultural, histrico, natural e paisagstico no trecho da Estrada Real

    pertencente a Minas Gerais, tornando-se entre outros aspectos, um importante marco da

    arquitetura colonial. Assim, a realizao deste projeto de pesquisa vem suprir uma

    demanda especfica que se justifica pela necessidade de se definir, com preciso, os

    caminhos existentes no passado e as transformaes que ocorreram neste trecho do

    Brasil, ao longo dos ltimos trs sculos. Os inmeros bens culturais existentes nos

    municpios que compem o territrio da Estrada Real nos levaram a propor um estudo

    detalhado desses bens com o intuito de conscientizar as comunidades e os rgos

    pblicos sobre a sua importncia no cenrio cultural. Cientes de que a

    preservao do nosso patrimnio histrico e artstico se faz a partir do conhecimento

    desses bens, detectamos que as dificuldades em proteg-los passam, muitas vezes, pela

    ausncia de informaes sobre este acervo.

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    O apoio financeiro para o projeto partiu da FAPEMIG. Executado por uma

    instituio como a Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais, o trabalho contou

    com a participao efetiva de professores, doutorandos e mestrandos do programa de

    ps-graduao em Geografia/Tratamento da Informao Espacial da PUC-Minas, bem

    como de alunos bolsistas de graduao e de tcnicos de instituies conveniadas.

    Paisagens urbanas e rurais foram documentadas por meio de fotografias e mapas dos

    municpios (Fig. 1) e dos trechos a serem visitados, aos quais foram adicionados textos

    descritivos sobre a sua origem e desenvolvimento. Consultas a arquivos de instituies

    pblicas, como o IPHAN, o IEPHA e o IEF, em Minas Gerais, assim como arquivos da

    Biblioteca Nacional e do INEPAC, no Rio de Janeiro, permitiram localizar as

    informaes que foram utilizadas como referencias para os trabalhos de campo.

    O projeto destaca, alm do reconhecido acervo cultural pertencente ao conjunto

    das cidades histricas de Minas Gerais e aos bens tombados em nvel federal, estadual e

    municipal, a presena de stios arqueolgicos, de grutas e cavernas, fazendo referncia,

    ainda, s bacias hidrogrficas, s pequenas hidroeltricas e, por meio de textos inditos

    sobre estes temas, ressalta a sua importncia para as comunidades que detm a sua

    guarda.

    Munidos de GPS, os grupos partiram para a execuo dos levantamentos e do

    conhecimento in loco do acervo de cada municpio, utilizando equipamentos digitais e

    fichas de registro previamente preparadas. A estas fichas foram acrescidas informaes

    histricas, descries formais e registros grficos dos bens edificados (plantas, cortes e

    fachadas), assim como representaes iconogrficas como fotografias antigas e atuais,

    mapas, desenhos e pinturas.

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    Figura 1. Mapa dos municpios

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    Entre os bens constantes da lista formada por mais de 1000 itens, encontram-se

    os bens arquitetnicos, urbansticos e paisagsticos que devem ser protegidos. Definida

    a posio geogrfica destes bens e a partir da coleta de dados em arquivos e a

    construo de textos referentes aos aspectos de interesse deste territrio, foi montado

    um produto em forma de DVD-ROM. Seu contedo constitudo de informaes

    sobre cada municpio visitado e sobre cada um dos bens de interesse cultural,

    individualmente. A difuso dessas informaes ir fortalecer o conhecimento sobre

    estes bens culturais, possibilitando que aes em prol de sua preservao possam ser

    empregadas com mais eficincia e objetividade. Outra forma de proteo legal, desses

    bens culturais a adoo do tombamento, que poder ocorrer em nvel municipal,

    estadual ou federal, aos bens que ainda no esto listados, com o apoio das

    comunidades detentoras dessa herana.

    A partir da montagem do banco de dados, estas informaes foram organizadas

    em suporte digital, possibilitando-nos oferecer a toda a comunidade acadmica e

    cientfica o resultado desta pesquisa. A disseminao destas informaes possibilitar a

    valorizao dos remanescentes da Estrada Real e de suas referencias histricas mais

    importantes, abrindo espao para o desenvolvimento e o desdobramento de novas

    pesquisas sobre a ampla diversidade encontrada neste objeto de estudo.

    Tanto o patrimnio edificado quanto o patrimnio natural so assuntos de

    interesse deste trabalho. Na arqueologia, o texto especfico diz, por exemplo, que se

    estima existirem cerca de 20.000 stios pr-coloniais em Minas Gerais, dos quais so

    registrados no IPHAN, apenas cerca de 800. Entretanto, avalia-se que os stios sem

    registro, porm j conhecidos, somem pelo menos outros 800. O levantamento

    arqueolgico da regio da Estrada Real certamente nos revelar ainda muitos stios

    desconhecidos 1. Alm disso, o artigo revela que a arqueologia histrica da Estrada

    Real se torna muito mais concreta na medida em que estudos sobre o seu percurso se

    tornam mais evidentes, sendo que nos trechos calados, nos registros e nos stios

    descrits neste trabalho existem, ainda, muitos outros vestgios arqueolgicos.

    Para o prof. Miguel ngelo Andrade, bilogo, um dos participantes do projeto,

    atualmente, ao se abordar o termo Estrada Real, deparamos com diferentes

    interpretaes que se diversificam de acordo com o olhar de cada indivduo. Segundo

    ele, podemos ver a Estrada Real sob os mais variados pontos de vista. Entre eles, 1 DELFORGE, Alexandre Henrique, A Arqueologia Da Estrada Real, IPHAN/13SR, Belo Horizonte, 2007

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    podemos ressaltar os aspectos tursticos, histricos e geogrficos que, a partir de uma

    abordagem atual, se verifica a necessidade de se conciliar o desenvolvimento com a

    preservao dos patrimnios histrico e ambiental 2. Ele afirma que, apesar das perdas

    de identidade geogrfica e arquitetnica sofridas pela Estrada Real, durante o longo

    perodo em que esteve abandonada pelas diversas esferas da sociedade, neste momento

    esto sendo tomadas medidas para promover estudos cientficos, tombamentos de

    patrimnios naturais, arquitetnicos e tursticos, como os que so propostos neste

    projeto, na tentativa de minimizar esse quadro. Neste trabalho, o professor Miguel

    avalia o valor cultural associado, por exemplo, Reserva da Biosfera da Serra do

    Espinhao, identificando seu importante repositrio de material gentico, com

    considerveis pores de flora e fauna, que devem ser objeto de permanente trabalho

    para a conservao e implantao do desenvolvimento sustentvel.

    A Serra do Espinhao, situada no territrio da Estrada Real, sendo considerada

    uma das mais ricas do mundo devido sua importncia biolgica, geomorfolgica e

    histrica deve ser objeto de medidas urgentes para a conservao de todo o seu

    complexo montanhoso, que se constitui em uma reserva da biosfera.

    De acordo com Andrade (2007), o sistema da Serra do Espinhao rene 11

    unidades de conservao de proteo integral, j demarcadas, a saber:

    Parque Nacional da Serra do Cip Parque Nacional das Sempre Vivas, Parque Estadual do Itacolomi, Parque Estadual da Serra do Rola Moa, Parque Estadual do Rio Preto, Parque Estadual do Biribiri, Parque Estadual do Pico do Itamb, Estao Ecolgica Estadual de Tripu, Estao Ecolgica Estadual de Fechos, Parque Estadual da Serra do Intendente e o Parque Natural Municipal do Salo de Pedras.

    Destes, os parques Estaduais do Itacolomy e do Pico do Itamb, mereceram

    estudos mais aprofundados nesta pesquisa.

    2 ANDRADE, Miguel ngelo, 2007.

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    Outro participante do projeto, o arquiteto Carlos Henrique Rangel, do Instituto

    Estadual do Patrimnio Histrico e Artstico IEPHA/MG, considera que a proteo

    dos bens municipais se fortaleceu com a implementao de polticas visando a

    preservao do patrimnio cultural, a partir da criao, em 1971, do IEPHA/MG

    consolidando-se com a redefinio dos critrios do repasse da cota-parte do ICMS aos

    municpios mineiros, definida a partir da lei n.12.040, de 28 de dezembro de 1995.

    Essa lei determinou de fato a descentralizao das polticas pblicas, pois o municpio

    que investir em educao, meio ambiente, agricultura, sade e patrimnio cultural,

    dentre outros critrios, recebe repasse financeiro referente a cada um desses itens

    separadamente.

    Ele afirma que coube ao IEPHA determinar os critrios para que o municpio

    pudesse fazer jus ao repasse do ICMS PATRIMNIO CULTURAL. Atravs da

    Diretoria de Promoo, o instituto exerce um papel importante na capacitao e

    assessoramento no desenvolvimento da poltica de descentralizao da proteo ao

    Patrimnio cultural do Estado junto aos municpios.

    Por outro lado, segundo Carlos Fernando de Moura Delphim 3, compete ao

    IPHAN - Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional - promover, de forma

    articulada com outros rgos voltados para a preservao do patrimnio cultural, todos

    os estudos necessrios preservao de qualquer bem de valor histrico, sobretudo de

    uma rota de to elevado valor como a Estrada Real. Tais estudos, segundo ele, visam a

    levantar bens passveis de tombamento, a inventariar stios arqueolgicos, paisagens

    culturais e outros, alm de identificar manifestaes de patrimnio imaterial.

    O IPHAN, historicamente, um rgo surgido em uma poca em que as maiores

    ameaas ao patrimnio pairavam apenas sobre uma ou outra edificao. Em seguida,

    passaram a ameaar centros histricos urbanos at chegar s atuais propores, em que

    fraes significativas de territrio devem ser objeto de cuidados. Por isto, este Instituto

    deve, doravante, adotar medidas mais amplas e diversificadas para defesa do patrimnio

    nacional, dentre as quais o tombamento apenas uma delas.

    Ele sugere que o DEPAM Departamento de Proteo dos Bens Materiais, do

    IPHAN, dever encaminhar s superintendncias de Minas Gerais, Rio de Janeiro e So

    Paulo a solicitao de levantamento contendo o maior nmero de bens de valor natural e

    culturais existentes ao longo da Estrada Real. Sugere, ainda, que este trabalho seja 3 DELPHIM, Carlos Fernando de Moura. Estrada Real, IPHAN/Depam, Rio de Janeiro, 2007

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    enriquecido pela parceria com rgos pblicos e organizaes civis de cada estado e de

    seus municpios, o que de fato est sendo feito neste trabalho de pesquisa. Para ele, a

    Estrada Real dever ser considerada como um Itinerrio Cultural, segundo a definio

    do ICOMOS. De acordo com esta definio, um itinerrio cultural poderia ser

    comparado a uma bacia hidrogrfica, que definida pelo conjunto de terras que faz a

    drenagem da gua proveniente de mananciais e das precipitaes para um curso de gua

    principal. Desse modo, deve-se entender como Itinerrio Cultural da Estrada Real, no

    apenas a via de circulao principal, mas toda a rea geogrfica circundante, onde quer

    que se encontrem stios e paisagens de valor cultural. Carlos Fernando ressalta, ainda,

    que um Itinerrio Cultural harmoniza, integra e no se choca com outras categorias de

    bens culturais atuais e pretritos como monumentos, paisagens naturais, paisagens agro-

    pastoris, reas silvestres, cidades e stios histricos, tnicos, industriais, arqueolgicos,

    geolgicos, paleontolgicos e/ou outros. Define, antes de tudo, um sistema conjunto,

    reala seus significados, relaciona e articula os componentes em uma viso plural, mais

    completa e mais justa da histria, favorecendo a comunicao entre diferentes grupos

    sociais, promovendo e consolidando a compreenso de valores at ento isolados e

    contribuindo para a cooperao na defesa do patrimnio cultural brasileiro.

    Ainda segundo Carlos Fernando, a grande fora inovadora do conceito Itinerrio

    Cultural revelar o contedo do patrimnio dentro de um quadro to instvel e em

    constante mobilidade que a paisagem, girando, todavia, em torno de um eixo, no caso

    a Estrada Real, uma via de comunicao fisicamente determinada e caracterizada por

    uma dinmica prpria e especfica e pela funcionalidade histrica a servio de um fim

    concreto e determinado.

    Sendo assim, a Estrada Real rene, resulta e reflete movimentos interativos de

    pessoas e de intercmbios multidimensionais, contnuos e recprocos. Bens, idias,

    conhecimentos e valores entre povos, paises, regies ou continentes ao longo de

    considerveis perodos de tempo. Gera uma fecundao mltipla e recproca, no espao

    e no tempo, das culturas afetadas que se manifestam tanto em seu patrimnio tangvel

    quanto intangvel. Integra as relaes histricas e os bens culturais associados a sua

    existncia em um sistema dinmico.

    Todos os Itinerrios Culturais acham-se inscritos em um contexto natural e

    cultural, para os quais contribui caracterizando, enriquecendo e conferindo novas

    dimenses e significados, em um processo interativo. O conceito apia-se

    necessariamente na existncia de elementos tangveis, dos quais, neste caso, a Estrada

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    Real o centro ordenador. Esses elementos representam o testemunho patrimonial e a

    confirmao fsica de sua existncia. Entretanto, seu sentido e significado so

    conferidos por fatores intangveis.

    Muitos elementos relacionados com a funcionalidade da rota histrica

    constituem condies bsicas para as manifestaes patrimoniais tangveis. Citem-se

    postos de armazenamento, postos fiscais e alfandegrios, locais de parada e descanso,

    fazendas e outras propriedades rurais, pontes, aquedutos, pomares, quintais, jardins,

    cafezais, lugares sagrados, de culto e devoo. Construes coloniais, edificaes

    religiosas como cemitrios, igrejas, capelas, ermidas, herdades, hospitais. Mercados,

    portos, construes militares e industriais, pontes, meios de comunicao e transportes,

    jazidas, minas, pedreiras, mineraes e outros estabelecimentos comerciais e industriais

    ligados a produo, que reflitam as aplicaes e avanos tcnicos, cientficos e sociais

    de diferentes pocas. Ncleos urbanos, paisagens culturais, museus, unidades de

    conservao, reservas ecolgicas, locais de prtica de esportes como o trekking, roteiros

    de caminhada pela f, por ecoturismo, passeios de aventura, estaes de guas minerais,

    lugares onde se pode desfrutar de culinria tpica, dentre muitos outros, alm de todos

    os outros elementos culturais de carter imaterial que atestam o dilogo entre os

    habitantes instalados ao longo do percurso do Itinerrio Cultural.

    Um dos textos que enriquecem este projeto diz respeito presena de grutas e

    cavernas na Estrada Real 4. De acordo com o Cadastro Nacional de Cavernas do Brasil

    da Sociedade Brasileira de Espeleologia (CNC) e o Cadastro Nacional de Cavernas

    (CODEX) da Redespeleo Brasil, na Estrada Real existem cerca de 4490 cavernas

    conhecida no pas, sendo possvel afirmar que uma infinidade de outras cavernas ainda

    est por ser descoberta e cadastrada. Dentre os Estados que compem a Estrada Real,

    Minas Gerais o que possui maior nmero de cavernas registradas. De acordo com o

    artigo, escrito especialmente para este projeto, trechos da Estrada Real encontram-se

    sobre os calcrios do Grupo So Joo Del Rei (MG) e sobre os Dolomitos da Formao

    Gandarela e da Formao Fecho do Funil (prximas a Ouro Preto, MG).

    4 TRAVASSOS, Luiz Eduardo Panisse, VARELA, Isabela Dalle e GUIMARES, Rose Lane. reas Crsticas, Cavernas e a Estrada Real, PUC.Minas, Laboratrio de Estudos Ambientais do programa de Ps-graduaao em Geografia da PUC.Minas, Belo Horizonte, 2008

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    As formaes no-carbonticas encontradas so, principalmente, os quartzitos

    do Parque Estadual do Ibitipoca, de So Tom das Letras e de Carrancas (Grupo

    Andrelndia) e os quartzitos da Serra do Caraa (Grupo Caraa), entre outros. Os

    autores citam Auler (2004b) para confirmar a importncia dessas reas quartzticas que

    reside, principalmente, no fato de que nosso continente abriga o carste em quartzito

    mais bem desenvolvido do mundo com cavernas que ocupam posio de destaque no

    cenrio cientfico mundial. A Gruta do Centenrio (1 lugar), a Gruta da Bocaina (2

    lugar) e a Gruta das Bromlias (4 lugar) encontram-se entre as 10 mais extensas

    cavernas quartzticas da Amrica do Sul. Alm disso, a Gruta do Centenrio e a Gruta

    da Bocaina ocupam o 1 e o 2 lugar, respectivamente, em relao sua profundidade

    (481m e 404m). O artigo explica que os mais de 1.400 km da Estrada Real so

    constantemente exaltados por proporcionarem opes de lazer na terra, gua e no ar.

    Entretanto, a estrutura para as aventuras no subterrneo ainda no est homognea e

    totalmente desenvolvida em termos de proteo aos turistas e ao prprio ambiente. Por

    essa razo, ainda existem inmeras cavernas que no fazem parte dos roteiros

    tradicionais da Estrada Real devido ao seu alto nvel tcnico ou por sua fragilidade

    ambiental.

    De acordo com os autores deste artigo, ainda so escassos ou inexistentes os

    trabalhos que abordam, especificamente, as cavernas ao longo da Estrada Real. Neste

    sentido, eles realizaram uma primeira abordagem sobre o tema, baseando-se no

    conhecimento que dispunham at o momento em que foram convidados a escrever

    sobre o assunto para este Mapeamento Interativo. Vale a pena ressaltar, ento, que a

    identificao das cavernas foi feita mais sob carter de reconhecimento geral, devendo

    ser ampliada e sistematizada em futuro prximo pelos prprios autores ou por aqueles

    que se interessarem pela temtica. Em nenhum momento foi inteno dos autores

    esgotar to rico tema em to pouco tempo. O que se busca com o trabalho a incluso

    dessa nova abordagem nos estudos acadmicos sobre o geoturismo nacional.

    O territrio da Estrada Real tem a oferecer, portanto, uma gama infinita de

    possibilidades de novos estudos e pesquisas. Podemos vislumbrar e oferecer aos

    estudiosos, caminhos reais para a preservao de recursos hdricos e de stios de

    importncia cultural para as geraes sucessivas.

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    Referncias Bibliogrficas: ABREU, Joo Capistrano de. Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil 5. ed. Brasilia. Ed. UNB, 1963 ABREU, J. F. e CALDEIRA, A.B. Sntese do Atlas Digital dos Bens Mveis e Imveis tombados pelo IPHAN em Minas Gerais, Belo Horizonte, Editora PUC-Minas, 2007. AULER, A.; ZOGBI, L. Espeleologia: noes bsicas. So Paulo: RedespeleoBrasil, 2005. AULER, A. Amrica, South. In: GUNN, J. Encyclopedia of cave and karst science. New York: Fitzroy Dearbom, 2004a. p. 59-60. AULER, A. Quartizite caves of South America. In: GUNN, J. Encyclopedia of cave and karst science. New York: Fitzroy Dearbom, 2004b. p. 611-613. AULER, A.; RUBBIOLI, E.; BRANDI, R. As grandes cavernas do Brasil. GBPE: Belo Horizonte, 2001. BRASIL. Estrada Real: Turismo Ecolgico. So Paulo: Empresa das Artes, 2005. BRASIL. Constituio (1988). Texto consolidado at a Emenda Constitucional n 56 de 20 de dezembro de 2007. Braslia: Senado, 2007. Disponvel em: < http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/> Acesso em 01 de Mar. 2008. CARVALHO,V.do C.; SILVA, M.A.C.da; OLIVEIRA,D.V. Potencialidades espeleotursticas da rea crstica do Municpio de Luminrias. PASSOS Revista de Turismo y Patrimnio Cultural, v.5, n.3, 383-390, 2007. CASAL, M.A. de. (1754-1821) Corografia braslica ou relao histrico-geogrfica do Reino do Brasil [pelo] Pe. Manuel Aires de Casal. Belo Horizonte/So Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1976. CASSIMIRO, R.; RENGER, F. Visita da Expedio Langsdorff Gruta Casa da Pedra, municpio de So Joo del-Rei Minas Gerais. O Carste, v.17, n.1, 12-21, 2005. DEQUECH, V. O Fundador da Espeleologia no Brasil. O Carste, v.12, n.2, p.84-87, 2000. DUTRA, G.M.; RUBBIOLI, E.L.; HORTA, L.S. Gruta do Centenrio, Pico do Inficionado (Serra da Caraa), MG: A maior e mais profunda caverna quartztica do mundo. In: SCHOBBENHAUS, C.; CAMPOS, D.A.; QUEIROZ, E.T.; WINGE, M.; BERBERT-BORN, M. Stios geolgicos e paleontolgicos do Brasil, (Edit.). Stios Geolgicos e Paleontolgicos do Brasil. DNPM/CPRM-Comisso Brasileira de Stios Geolgicos e Paleobiolgicos (SIGEP), Braslia, p.431-441, 2002. Disponvel em Acesso em 01 de Mar. 2008. GBPE Grupo Bambu de Pesquisas Espeleolgicas. Projetos - Pico do Inficionado, 2008. Disponvel em: < http://www.bambui.org.br/projetos.htm> Acesso em 01 de Mar. 2008. HAMILTON-SMITH, E. Management assessment in karst areas. Acta Carsologica, Ljubljana, v.31, n.1, p.13-20, 2002. HOLLANDA, Srgio Buarque de. Mones. 3a ed So Paulo Brasiliense, 1990 KOHLER, H.C. Geomorfologia Crstica. In: TEIXEIRA GUERRA, Antnio Jose; CUNHA, Sandra Baptista da. Geomorfologia: uma atualizao de bases e conceitos. Rio de Jneiro: Bertrand Brasil, 2003, p.309-334.

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