GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E...

14
GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN LOCO DO ESPAÇO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DO MUNICÍPIO DE CANUDOS BA. Tailson Oliveira Silva 1 [email protected] UNEB/Campus XI Mikaelly Freitas de Oliveira Carvalho 2 [email protected] UNEB/Campus XI Adineide Oliveira dos Anjos 3 [email protected] UNEB/Campus XI GT6: Educação: formação, ensino e prática docente. RESUMO A produção deste artigo é resultado da experiência vivenciada no âmbito do PIBID/UNEB/Campus XI, correspondente à realização de uma aula de campo no município de Canudos-BA, com alunos do Ensino Fundamental II, proporcionada pela Escola Ana Oliveira, instituição parceira do nosso subprojeto “Formação docente e Geografia escolar: das práticas e saberes espaciais à construção do conhecimento geográfico”. Neste texto discutiremos a importância da Aula de campo enquanto metodologia potencializadora nos estudos de conceitos e temas da Geografia escolar, auxiliando na compreensão do espaço Geográfico fruto das relações homem/natureza. Assim como relatamos as experiências e percepções dos alunos decorridas durante todo o processo da realização desta atividade, bem como a culminância de todo o trabalho com a realização da Amostra Fotográfica intitulada “Canudos em flash: um olhar aprendiz. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem. PALAVRAS-CHAVE: Aula de Campo. Geografia Escolar. Ensino-aprendizagem. PIBID. 1 Graduanda do curso Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) campus XI- Serrinha-Ba; Bolsista de Iniciação à docência (PIBID/CAPES/UNEB). 2 Graduanda do curso Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) campus XI- Serrinha-Ba; Bolsista de Iniciação à docência (PIBID/CAPES/UNEB). 3 Professora atuante na educação básica, licenciada em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Campus XI- Serrinha-BA; Pós-graduada em Geografia Física pela Faculdade do Noroeste de Minas Gerais (FINOM) e Bolsista supervisora (PIBID/CAPES).

Transcript of GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E...

Page 1: GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem.

GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO:

ESTUDO IN LOCO DO ESPAÇO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DO MUNICÍPIO DE

CANUDOS – BA.

Tailson Oliveira Silva1

[email protected] – UNEB/Campus XI

Mikaelly Freitas de Oliveira Carvalho2

[email protected] – UNEB/Campus XI

Adineide Oliveira dos Anjos3

[email protected] – UNEB/Campus XI

GT6: Educação: formação, ensino e prática docente.

RESUMO

A produção deste artigo é resultado da experiência vivenciada no âmbito do PIBID/UNEB/Campus

XI, correspondente à realização de uma aula de campo no município de Canudos-BA, com alunos do

Ensino Fundamental II, proporcionada pela Escola Ana Oliveira, instituição parceira do nosso

subprojeto “Formação docente e Geografia escolar: das práticas e saberes espaciais à construção do

conhecimento geográfico”. Neste texto discutiremos a importância da Aula de campo enquanto

metodologia potencializadora nos estudos de conceitos e temas da Geografia escolar, auxiliando na

compreensão do espaço Geográfico fruto das relações homem/natureza. Assim como relatamos as

experiências e percepções dos alunos decorridas durante todo o processo da realização desta atividade,

bem como a culminância de todo o trabalho com a realização da Amostra Fotográfica intitulada

“Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para

o processo de ensino-aprendizagem.

PALAVRAS-CHAVE: Aula de Campo. Geografia Escolar. Ensino-aprendizagem. PIBID.

1 Graduanda do curso Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) campus XI-

Serrinha-Ba; Bolsista de Iniciação à docência (PIBID/CAPES/UNEB). 2 Graduanda do curso Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) campus XI-

Serrinha-Ba; Bolsista de Iniciação à docência (PIBID/CAPES/UNEB). 3 Professora atuante na educação básica, licenciada em Geografia pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB)

Campus XI- Serrinha-BA; Pós-graduada em Geografia Física pela Faculdade do Noroeste de Minas Gerais

(FINOM) e Bolsista supervisora (PIBID/CAPES).

Page 2: GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem.

INTRODUÇÃO: ASSIM COMO NUMA VIAGEM... A PARTIDA

A escola, como espaço de construção do conhecimento deve ser pensada, questionada

e avaliada enquanto instituição formadora de cidadãos atuantes na sociedade. É na escola que

os sujeitos têm acesso aos saberes que possibilitarão compreender e intervir na realidade

vivida. Deste modo, os conhecimentos adquiridos, permitirão problematizar as relações

sociais visando transformar a atual conjuntura social.

Nesta perspectiva, o ensino deve ser mediado por metodologias que contemplem

práticas pedagógicas diferenciadas e inovadoras, capazes de transformar os métodos ditos

tradicionais que deixam lacunas no processo de ensino-aprendizagens, em aulas dinâmicas,

lúdicas e integradoras, em que os alunos possam ser construtores dos seus próprios

conhecimentos. Porém, essa transformação exige esforço, interesse, recursos e tempo para

planejamento e execução.

Podemos citar como exemplo de metodologia que ressignifica a prática docente, a

introdução da aula de campo no contexto da Geografia Escolar, visto que é de fundamental

importância, pois proporciona estudos contextualizados dos conteúdos e temas da Geografia,

e possibilita aos estudantes a compreensão dos fenômenos estudados de forma integrada.

A aula de campo, enquanto metodologia potencializadora dos estudos geográficos

subsidiou a escrita deste artigo. O uso desta metodologia se justifica por proporcionar a

ampliação dos processos formativos dos alunos da Educação Básica, já que torna possível à

construção do conhecimento com as observações e análises dos fenômenos espaciais,

socioeconômicos, ambientais e históricos in loco. Neste sentido, a aula de campo objeto de

discussão deste texto foi articulada pela escola Municipal Ana Oliveira, situada no município

de Teofilândia-Ba, escola parceira do subprojeto do Programa Institucional de Bolsas de

Iniciação à Docência – PIBID, no âmbito do subprojeto Formação Docente e Geografia

Escolar: das práticas e saberes espaciais à construção do conhecimento Geográfico4. A

referida aula de campo foi realizada no dia 09 julho de 2016, em que os discentes tiveram a

4 O subprojeto do PIBID na Licenciatura em Geografia da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Campus

XI, intitulado “Formação Docente e Geografia Escolar: das práticas e saberes espaciais à construção do

conhecimento geográfico” (BATISTA; OLIVEIRA; PORTUGAL, 2013), contempla 45 bolsistas de iniciação à

docência, 9 professores supervisores, 3 professoras coordenadoras de área e está sendo desenvolvido em 6

escolas no município de Conceição do Coité, Serrinha e Teofilândia. Os objetivos do referido subprojeto são

“Articular a Universidade à escola básica, por meio do desenvolvimento de ações situadas no campo da

formação do professor de Geografia; promover a inserção dos licenciandos em Geografia no contexto das

escolas da rede pública de ensino fundamental e médio dos municípios de Serrinha, Teofilândia e Conceição do

Coité-BA; apropriar-se de diferentes linguagens enquanto possibilidades de mediação para trabalhar temáticas e

conteúdos presentes na Geografia da escola básica; concretizar momentos de socialização, discussão e reflexão

sobre as produções e ações pedagógicas dos professores e bolsistas de iniciação à docência em Geografia.

(BATISTA, OLIVEIRA, PORTUGAL, 2013, p. 12)

Page 3: GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem.

oportunidade de conhecer e estudar o município de Canudos na Bahia, tendo como tema

mediador dessa proposta pedagógica “O Sertanejo: identidade de um povo”5. Assim,

buscamos valorizar o exercício das aulas de campo com um procedimento metodológico e

pedagógico de grande importância para a construção do conhecimento.

Ao estimular o estudo das questões regionais e locais pelas categorias de observação e

análise in loco, buscamos aprofundar a compreensão do espaço estudado interligando o uso de

métodos e técnicas informacionais, levantamento e interpretação de dados geográficos,

históricos e estatísticos. Esta proposta teve como finalidade analisar o espaço histórico-

geográfico, as relações socioeconômicas, os processos de configuração histórico-política-

territorial e ambiental do município de Canudos, assim como sua relevância identitária para o

Brasil e para o sertão baiano.

1. Aula de campo: potencializadora metodologia no Ensino de Geografia

A aula de campo é uma prática importante para a contextualização dos conceitos e

temas da Geografia, abordagem de fatos, fenômenos e processos geográficos. Dessa forma,

acreditamos que essa metodologia pode contribuir de forma significativa no processo de

ensino-aprendizagem, instigando o aluno a observar de maneira mais crítica a realidade que o

cerca. Diante deste contexto, Callai (2003) nos convida a pensar um ensino de Geografia

contextualizado, onde o aluno possa se perceber enquanto cidadão e ser social:

A geografia que o aluno estuda deve permitir que ele se perceba como

participante do espaço que estuda, onde os fenômenos que ali ocorrem são

resultados da vida e do trabalho dos homens e estão inseridos num processo

de desenvolvimento. Não é aquela geografia que mostra um panorama da

terra e do homem, fazendo uma catalogação enciclopédica artificial, em que

o espaço considerado e ensinado é fracionado e parcial, e onde o aluno é um

ser neutro, sem vida, sem cultura e sem história. (CALLAI, 2003, p. 58)

Corroborando com a ideia de Callai, o professor enquanto mediador do conhecimento

deve permitir que o aluno possa compreender que a paisagem é resultado de múltiplas

relações humanas, se transformando constantemente, sendo o mesmo co-participante deste

processo. Nesta perspectiva a aula de campo, tem como principal aporte instigar o aluno a

pensar e olhar a realidade a partir de um conhecimento prático e pessoal.

Sobre a importância da Geografia escolar, Cavalcanti enfatiza:

Cabe reafirmar e explicitar a importância da Geografia escolar para a

formação geral de cidadãos. Na relação cognitiva de crianças, jovens e

5 “O Sertanejo: identidade de um povo”, foi o tema do eixo temático da aprendizagem correspondente ao

segundo semestre escolar. Esta temática foi direcionada para o desenvolvimento de projetos que fizeram parte

da proposta pedagógica da escola municipal Ana Oliveira no ano de 2016.

Page 4: GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem.

adultos com o mundo, o raciocínio espacial é necessário, pois as práticas

sociais cotidianas têm uma dimensão espacial. Os alunos que estudam essa

disciplina já possuem conhecimentos nessa área oriundos de sua relação

direta e cotidiana com o espaço vivido. Sendo assim, o trabalho de educação

geográfica é o de ajudar os alunos a analisarem esses conhecimentos, a

desenvolverem modos de pensamento geográfico, a internizarem métodos e

procedimentos, de captar a realidade vivida e „apresentada‟ pela geografia

escolar, tendo consciência de sua espacialidade. Esse modo de pensar

geográfico é importante para a realização de práticas sociais variadas, já que

essas práticas são sempre práticas sócio-espaciais (CAVALCANTI, 2006, p.

34).

Nessa perspectiva é importante pensar em práticas que contribuam para o ensino-

aprendizagem dos educandos. Sendo assim, acreditamos que essa metodologia pode

contribuir de forma significativa no processo de aprendizagem, instigando o aluno a observar

de maneira mais crítica a realidade vivida. Portanto, defendemos que o professor enquanto

mediador deve ser responsável pelo correto direcionamento do planejamento das aulas, de

modo a tornar o aluno um ser construtor de seus conhecimentos e conhecedor da realidade

que o cerca. Pontuschka (1999) defende que:

O educador precisa saber realizar a leitura analítica do espaço geográfico e

chegar à síntese, criando situações no interior do processo educativo para

favorecer as condições necessárias ao entendimento da Geografia como uma

ciência que pesquisa o espaço construído pelos homens, vivendo em

diferentes tempos, considerando o espaço como resultado do movimento de

uma sociedade em suas contradições e nas relações que estabelece com a

natureza nos diversos tempos históricos. (PONTUSCHKA, 1999, p. 135)

Ainda Segundo Compiani e Carneiro (1993), aula de campo desempenha na prática

educativa quatro funções:

Ilustrativa, cujo objetivo é ilustrar os vários conceitos vistos nas salas de

aula; motivadora, onde o objetivo é motivar o aluno a estudar determinado

tema; treinadora, que visa a orientar a execução de uma habilidade técnica; e

geradora de problemas, que visa orientar o aluno para resolver ou propor um

problema. (COMPIANI; CARNEIRO, 1993, p. 90)

Tendo em vista que a Geografia é uma ciência que objetiva formar cidadãos críticos,

reflexivos e participativos, a adoção da aula de campo como prática metodológica torna-se

essencial para a compreensão da realidade, pois a mesma possibilita sair da sala de aula, indo

além da abordagem dos conhecimentos teóricos. Esta metodologia ainda permite uma relação

concreta entre o que é lido, dito e visto. Possibilita assim que se chegue a conclusões coletivas

e individuais, importante fator para a construção do conhecimento. Castrogiovanni; Callai;

Kaercher, (1999), afirmam:

Page 5: GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem.

A aula de campo é um rico encaminhamento metodológico para analisar a

área de estudo (urbana ou rural), de modo que o aluno poderá diferenciar,

por exemplo, paisagem de espaço geográfico. Parte-se de uma realidade

local, bem delimitada para se investigar a sua constituição histórica e as

comparações com os outros lugares, próximos ou distantes. Assim a aula de

campo jamais será apenas um passeio, por que terá importante papel

pedagógico no ensino de Geografia. (CASTROGIOVANNI; CALLAI;

KAERCHER, 1999, p. 99)

A prática da aula de campo, enquanto metodologia para tornar o ensino contemplativo,

diversificado e contextualizado, exige por parte do professor intencionalidades e objetivos

precisos, além de um planejamento bem elaborado. A ida a campo, não deve ser de maneira

nenhuma pensada como a fase inicial, nem como o término do processo da atividade

planejada. O planejamento deve contemplar ações que serão desenvolvidas por parte do

professor tanto no período antecedente, quanto no posterior á realização da visita ao campo.

É importante ressaltar que as aulas de campo não devem ser realizadas de maneira

equivocada, distorcida da real função dessa proposta pedagógica que é possibilitar uma

aprendizagem prazerosa e diversificada. Pois, o que muitas vezes acontecem é que essas

“viagens” viram passeios, excursões, e acabam desperdiçando uma oportunidade que deveria

ser aproveitada para explorar o potencial do universo dos espaços e paisagens como

laboratório de produção de conhecimento in loco. Deste modo, evidencia-se também, a

necessidade dos alunos estarem cientes dos objetivos elencados para a realização dessas

atividades, da importância dessas atividades para compreensão dos fenômenos estudados,

bem como os roteiros a serem visitados, e as propostas de trabalho e atividades pós-campo.

3. Percursos realizados... etapas e o campo

Aula de campo foi desenvolvida com os alunos da escola Ana Oliveira, seguindo uma

sequência didática organizada por etapas. Primeiramente, houve a exposição do filme “Guerra

de Canudos”6, cuja intenção foi apresentar os fatos históricos documentados no longa

metragem que exemplifica um pouco da história deste acontecimento. Os alunos puderam

6“Guerra de Canudos” é um filme lançado no ano de 1997 sob a direção de Sergio Resende, que narra a história

real da peregrinação de Antônio Conselheiro e seus seguidores na ultima década do século XIX pelo sertão

Nordestino, difundindo seus ideais religiosos, políticos e sociais. Este movimento que ganhou robustez foi

duramente massacrado pelas tropas da república no ano de 1897, em uma guerra que dizimou grande parte da

população residente do vilarejo fundado por Antônio Conselheiro as margens do Rio Vaza Barris, que ficou

conhecido como Canudos. A Guerra de Canudos representa para o Brasil, um dos maiores acontecimentos de

tensão social vivido pelo país. A precariedade, pobreza, miséria, e a concentração de terras foram agravadores

sociais para que os sertanejos buscassem melhorias de vida e culminou em um intenso massacre realizado pelas

tropas Federais, dizimando não somente vidas, mas sonho e esperança.

Page 6: GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem.

perceber por meio da película fílmica e posteriormente a discussão empreendida, algumas

especificidades da Guerra (combates, estratégias de ataque e defesa), assim como analisar o

contexto histórico e social do período que foram determinantes para a ocorrência da luta

armada. Depois, para subsidiar o acesso à informação sobre o atual município de Canudos,

foram realizados com os discentes, leituras de mapas temáticos e estudo de dados sobre

Canudos, encontrados no IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, e SUDENE

– Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste, assim como em outros órgãos

governamentais.

A entrega do roteiro, com os locais a serem visitados sequenciou as ações. A partir de

uma breve explanação das abordagens passíveis de análise que poderiam ser percebidos nos

pontos de visitação, os alunos puderam compreender a variedade de informações que iriam

ser visualizadas nos locais a serem visitados. Deste modo, foi notável, certa curiosidade por

parte dos alunos pela possibilidade de está próximo da história, pisar em terras onde no

passado fora palco de um importante acontecimento histórico, religioso, político e social,

além de perceber as atividades contemporâneas que se imprimem neste espaço e dinamizam a

economia local.

Durante o percurso, entre os municípios de Teofilândia a Canudos, os alunos foram

orientados a observarem as paisagens próximas à rodovia BR 116 norte. Assim puderam

perceber a configuração e ocupação do solo, as mudanças significativas da vegetação e dos

tipos de solo, a presença marcante do bioma da caatinga arbórea arbustiva, com seu aspecto

acinzentado, ainda que estivesse no fim do período chuvoso na região. Nos municípios de

Araci, Tucano e Euclides da Cunha, os alunos ficaram surpresos quanto à existência de

grandes lavouras de milho e feijão destinadas à comercialização. Paisagem esta que contrasta

com a realidade vivenciada pelos discentes, já que as lavouras cultivadas destes grãos,

normalmente são pequenas e destinadas à subsistência familiar.

Chegando ao município de Canudos o primeiro ponto de parada foi uma visita guiada

ao “Sitio do Tomaz”, onde se cultiva produtos agrícolas específicos da região semiárida,

destinados à subsistência, assim como comercialização no mercado local. No sítio, foi

notável à organização do trabalho realizado a partir das relações familiares, de associativismo

e cooperativismo muito presente no Território do sisal, neste tinha implantado uma unidade

da COOPERCUC – Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá7. Os

7 COOPERCUC – Cooperativa agropecuária familiar de Canudos, Uauá e Curaçá. Consiste em uma pequena

fábrica de beneficiamento de frutas oriunda da cooperação entre comunidade local, igreja e organizações de

apoio financeiro.

Page 7: GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem.

principais produtos cultivados nesta propriedade são: feijão, quiabo, hortaliças, tomate, andu

(Cajanus Cajan), maracujá silvestre (Passiflora cincinnata), e a planta que chamou mais

atenção dos alunos, o Mandacaru sem espinhos, importante para alimentação do rebanho. A

curiosidade vem do fato, de que na área vivida pelos alunos se encontra somente a espécie do

cacto com espinhos. O lavrador (dono da propriedade) explica que o cultivo do cacto sem

espinhos foi possível por intermédio da ação da Embrapa/Semiárido (Empresa Brasileira de

pesquisa Agropecuária) situado no município de Petrolina-PE, que apresentou esta espécie da

planta, assim como forneceu apoio técnico para a sua produção na região.

A visita a este sítio foi necessária para que os alunos pudessem compreender ações

desenvolvidas voltadas para o convívio com a seca. A paisagem acinzentada da caatinga ao

redor do sítio se contrastava com as pequenas áreas onde o verde era dominante por conta da

irrigação com água captada da chuva durante o período de precipitação e armazenadas em

tanques construídos especificamente para este fim. Os discentes envolvidos na aula de campo

vivenciam realidades parecidas da encontrada no sítio, já que estão situados na área de

abrangência do semiárido nordestino, e os impactos da seca já lhes são conhecidos. Porém,

eles apreenderam que a seca enquanto fenômeno climático, não poderá ser combatido, mas

que políticas governamentais e implementação de ações de convivência com o fenômeno são

extremamente relevantes, e indispensáveis, pois possibilitam a realização de diversas

atividades importantes para a reprodução da vida.

O Parque Estadual de Canudos foi o ponto visitado a posteriori. Este parque é uma

reserva ecológica e histórica onde os alunos, por intermédio de um guia local, conheceram o

espaço (cenário vivo) onde de fato ocorreu a guerra. Os aspectos geográficos da área foram

bastante explorados durante o percurso pelo parque. Os alunos assimilaram a importância do

conhecimento sobre aquele espaço, na ocasião da guerra, nas defesas e ataques dos soldados

de Antônio Conselheiro, que ainda não alcançando a vitória, enfrentou de forma corajosa e

valente, as tropas enviadas pelo governo brasileiro. Depois sequenciou as visitas ao IPMC –

Instituto Popular Memorial e MAC – Memorial Antônio Conselheiro, ambos os museus que

guardam a história desse município.

A visita ao perímetro irrigado Vaza Barris (fig.1) sequenciou as atividades.

Contemplado pela construção do açude do Cocorobó8, o município de Canudos tem se

8A barragem do Cocorobó situada no Rio Vaza Barris, próximo a atual cidade de Canudos, concretizou-se no

ano de 1967 pelo governo militar, com o auxilio do órgão DNOCS (Departamento Nacional de Obras contra a

seca). Suas aguas submergem o sitio histórico da antiga cidade de Canudos. É fonte de suprimento para o

abastecimento do município de Canudos, assim como auxilia para o desenvolvimento da agricultura irrigada,

piscicultura e também ao turismo.

Page 8: GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem.

destacado principalmente na produção de banana, a partir da técnica de irrigação com a

utilização da água do açude mencionado acima. Os alunos conheceram a partir do diálogo

com um produtor local as fases de produção da fruta, as relações de trabalho, as alternâncias

de preços no mercado, e o sistema de irrigação por meio dos sulcos. Ao deparar-se com uma

mudança brusca da paisagem, de uma caatinga com aspecto seco em contraposição com áreas

relativamente extensas e verdes, os alunos puderam ampliar o entendimento sobre a

importância do uso da água para as atividades humanas, e como a dinâmica do município

sofre modificações mediante a implantação destas áreas agrícolas.

Figura 1: Visita ao perímetro irrigado Vaza Barris, Canudos-Ba, 2017.

Fonte: Adineide Oliveira dos Anjos

Diante do que foi exposto, podemos evidenciar a importância dos diálogos

empreendidos em cada ponto visitado, a partir dos guias, moradores locais, produtores

agrícolas, entre outros, que por meio de seus relatos possibilitou compreender os fatos

históricos e geográficos que influenciaram e configuram atualmente as relações estabelecidas

nos locais visitados. É imprescindível mencionar a importância do exercício da observação

como um dos métodos de análise das áreas visitadas, para leitura e interpretação das

paisagens, isto é, o olhar como fundamental para materialização da informação já aprendida.

Também devemos mencionar o valor dos registros fotográficos capturados pelos alunos, das

diferentes paisagens, objetos, elementos e aspectos observados, estes que serviram como

recurso e auxiliaram a realização da atividade pós-campo, isto é, a Amostra Fotográfica.

4. A Amostra Fotográfica: registro e recordações experienciadas

Page 9: GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem.

A atividade desenvolvida no pós-campo foi à realização da Amostra Fotográfica

intitulada “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. Esta amostra se concretizou a partir das

observações e dos registros fotográficos captados pelos alunos durante o período da aula de

campo, sendo organizada e pensada no intuito de explorar os diversos olhares dos estudantes

sobre aquilo que julgaram ser as paisagens de maior relevância e que abarcassem o tema da

amostra, expondo para toda comunidade escolar os locais visitados, a fim de instigar a

curiosidade dos demais colegas da escola, incentivando a participação dos mesmos nas aulas

de campos posteriores.

Nossa intenção com esta proposta pedagógica se justifica pela necessidade de

trabalhar com imagens no ensino de Geografia, pois compreendemos o quão importante são

as imagens para a percepção dos espaços e suas representatividades nas configurações das

paisagens ao longo dos tempos. Como nos falam Santana e Barbosa (2015),

O uso da imagem oportuniza a visualização ou imaginação do fato ou

acontecimento que está ou não presente fisicamente, seja na de sala, na

escola no dia a dia, lembrando que a mesma é um grande auxílio para o

estudo da paisagem. Neste contexto servindo para transportar a realidade

geográfica por meio de dispositivos imagéticos, se constituindo uma

estratégia importante para estimular a produção de interpretações

geográficas, na medida em que favorecem a reelaboração de cenários a partir

da percepção daqueles que puderam estar presentes no momento de sua

captura, ou seja, da sua construção e transformação do meio. E, por

conseguinte, irá desenvolver o ensino-aprendizagem do alunado na escola.

(SANTANA; BARBOSA, 2015, p. 4)

O trabalho com imagens possibilita a construção de conceitos geográficos, enriquece o

conteúdo e torna mais fácil a aprendizagem. As fotografias são exemplos de recursos

didático-pedagógicos que através do visível é possível viajar pelo mundo, bem como instigar

o aluno a perceber ainda mais a sua realidade, os lugares da sua vivência, pois quando o

mesmo fotografa o que está à sua volta, pode ter uma outra percepção e compreender, a partir

de outra perspectiva, o objeto observado.

Para apresentar um bom design e compreensão das fotos expostas, foram necessários,

com o auxílio de computadores, a seleção e a edição das fotografias para exposição. Assim,

com as fotografias selecionadas, cada equipe elaborou textos para os títulos e as legendas das

fotografias captadas, incorporando a moldura, numeração e o nome do autor/fotógrafo. Após

este minucioso trabalho feito com os alunos, onde exploraram criatividade, imaginação e

conhecimento, aconteceu enfim a Amostra Fotográfica.

A Amostra Fotográfica foi realizada no pátio da escola Ana Oliveira nos turnos

matutino e vespertino no dia 27 de agosto de 2016. As equipes responsáveis pela amostra

Page 10: GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem.

divulgaram seus trabalhos em todas as turmas da escola fazendo publicidade visando

apresentar a proposta do trabalho e pedir a colaboração de todos para apreciação e votação.

Foi distribuído cédulas de votação possibilitando ao público escolher três fotos que melhor

representasse as três categorias: “Canudos do Passado”, “Canudos do presente” e

“Resistência do povo Sertanejo”.

Todos os estudantes, professores e funcionários da escola, foram convidados para

apreciar e participar da eleição proposta, instigando-os a observarem as fotos coletadas, e

assim colaborar dando suas opiniões por meio do voto nas fotos que mais contemplassem as

três categorias supracitadas, tomando como pressuposto de analise: o olhar do fotógrafo, sua

finalidade na captura da paisagem, criatividade no título dado, e também a legenda construída.

As fotografias mais votadas que representaram as categorias destacadas estão apresentadas a

seguir, respectivamente: (fig. 2, 3 e 4)

“Canudos do Passado”

Figura 2: Quadro Guardas em missão, foto tirada no museu de Canudos, 2016.

Fonte: Jaciene Santana Santos, 2016.

Page 11: GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem.

“Canudos do presente”

Figura 3: Andando pelo Sítio Tomaz, numa manhã de sábado de Julho de 2016 em Canudos-BA.

Fonte: Joiciane Santana de J. Cerqueira, 2016

“Resistência do povo Sertanejo”

Figura 4. Mandacaru sem espinhos. Sítio Tomaz Canudos - BA, julho de 2016.

Fonte: Tamires Gama, 2016.

Mediante ao que foi apresentado, é possível afirmar que a leitura das paisagens in loco

e o levantamento fotográfico de todas as áreas traçadas no roteiro, como resultado final dessa

proposta de trabalho, proporcionou aprendizados variados. Isto ficou explicito, nos

depoimentos feitos por muitos alunos, que tiveram essa oportunidade de vivenciar uma aula

de campo como primeira experiência durante todo seu percurso estudantil.

Com a finalidade de avaliarmos a importância das atividades desenvolvidas para o

processo formativo dos alunos, podemos afirmar, tomando como base as respostas coletadas,

que os objetivos da proposta foram alcançados. As respostas dos discentes envolvem várias

adjetivações para caracterizar a aula de campo, que vão desde divertida, legal, interessante,

aula diferenciada, inesquecível, sensacional e explicativa, conforme as narrativas abaixo:

Page 12: GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem.

Foi uma experiência muito boa e uma forma interessante de explicar algo

sobre um lugar histórico, e observar ao mesmo tempo onde aconteceu a

guerra. (ALUNO 1)

De uma forma geral achei muito interessante, foi uma experiência

totalmente incrível visitar um local que tem uma grande história envolvida.

(ALUNO 2)

Quando questionados sobre a importância da Amostra Fotográfica, os alunos

adjetivaram a atividade desenvolvida, como:

Impressionante, pois aquilo que nos interessou foi mostrado para o público

e pudemos expressar por meio da exposição de fotografias (ALUNO 3).

Foi bom, pois algumas pessoas que não foram para Canudos, conheceram

os lugares visitados através das imagens que mostramos. (ALUNO 4).

Foi um trabalho exemplar, além de ter participado da viagem para um lugar

espetacular, ainda tive o prazer de fazer registros fotográficos para serem

expostos em uma Amostra fotográfica. (ALUNO 5)

Referente à contribuição da aula de campo e da Amostra Fotográfica para a

aprendizagem e formação histórico-geográfica, a estudante relata que:

Acho que estas atividades contribuem para a minha aprendizagem, pois foi

uma forma mais fácil de compreender o que foi vivido pelas pessoas

envolvidas na guerra, além de ter sido uma forma criativa de aprender e se

divertir ao mesmo tempo. (ALUNO 6)

O excerto acima é um exemplo das nossas percepções sobre o trabalho realizado. Os

resultados conquistados se deram de forma ímpar, superando nossas expectativas e nos

enchendo de orgulho com a dedicação, curiosidade, empenho e satisfação dos alunos ao

realizarem tanto a viagem quanto à amostra das imagens (fotografias) capturadas. Os

discentes envolvidos demonstraram maturidade, aprendizado e empenho em todo o processo

que envolveu a aula de campo.

5. A chegada: de lembranças às considerações

A aula de campo é uma metodologia que ressignifica a prática do professor na sala de

aula, pois ajuda a compreender a espacialidade dos fenômenos sobre diferentes olhares e

perspectivas. Para grande parte dos alunos era evidente a contemplação do novo, do

histórico, do real. A imaginação voava longe ao conhecer um espaço que no passado foi palco

de um dos acontecimentos mais marcantes da história do Brasil, e também como o município

Page 13: GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem.

de Canudos ganha notoriedade regional na atualidade, a partir do aproveitamento da água do

açude do Cocorobó para o desenvolvimento de atividades econômicas, contrastando com a

percepção comumente associada a um espaço pobre e marcado pela seca.

Podemos dizer que a aula de campo gerou resultados significativos. Os alunos

puderam compreender em contato com o real, fatos passados, como por exemplo, os motivos

que levaram na última década do século XIX, no meio do sertão baiano, a ocorrência deste

conflito armado tão marcante na história do país, assim como puderam conhecer aspectos

cotidianos do atual município de Canudos. O planejamento com os objetivos elencados foram

cumpridos, e finalizados com a realização da Amostra Fotográfica, que representou a

percepção dos estudantes acerca do que foi vivenciado em campo. Deste modo, concluímos

que a realização da aula de campo subsidiou o processo de ensino, e possibilitou

aprendizagens aos alunos mediante a vivência de atividades ancoradas na articulação teoria-

prática.

REFERÊNCIAS

CALLAI, C. C. O ensino de geografia: recortes espaciais para análise. In:

CASTROGIOVANNI, A. C. (Org.) Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. 4. ed.

Porto Alegre: Editora da UFRS, 2003. p. 57-63.

CASTROGIOVANNI, A. C.; CALLAI, H. C.; KAERCHER, N. A. Geografia em sala de

aula: práticas e reflexões. Porto Alegre: ed. da Universidade Federal do Rio Grande do Sul /

AGB – seção Porto Alegre, 1999.

CAVALCANTI, L. S. Geografia, escola e construção do conhecimento. 9. ed. Campinas:

Papirus, 2006.

COMPIANI, M. e CARNEIRO C. D. R. Investigaciones y experiências educativas: Os

papeis didáticos das excursões geológicas. Ensenanza de las Ciências de laTierra. 1993, p .

90-97

PONTUSCHKA, Nídia N. A geografia: pesquisa e ensino. In: CARLOS, Ana F. (Org.).

Novos rumos da geografia. São Paulo: Contexto, 1999. p. 111-142

SANTANA, Luzia Martins de; BARBOSA, Jailma do Ramo. O uso da leitura da imagem nas

aulas de geografiae para o estudo da paisagem no ensino da geografia: reflexões a partir da

experiência vivencia da relações na teoria prática. In: ENID – Encontro Nacional de iniciação

a docência da UEPB, Anais...João Pessoa: UEPB, 2015.

FILMOGRAFIA

Page 14: GEOGRAFIA ESCOLAR E AULA DE CAMPO: ESTUDO IN … · “Canudos em flash: um olhar aprendiz”. E reafirmamos a necessidade do uso desta metodologia para o processo de ensino-aprendizagem.

Guerra de Canudos. Direção: Sérgio Rezende. Produção: Paulo Halm e Sérgio Rezende.

Brasil, 1997. Duração: 165 min.