Geomorfologia Fluvial e Hidrografia Aula 8

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    VALES FLUVIAIS

    METAApresentar uma abordagem objetiva do tema mostrando como os rios esculpem os

    seus vales e assumem uma variedade de formas medida que canalizam gua para

    jusante.

    OBJETIVOSAo final desta aula, o aluno dever:

    entender o conceito e os processos para o desenvolvimento dos vales fluviais;

    conhecer a classificao dos vales de acordo com o controle estrutural; e

    caracterizar os tipos de vales de acordo com o perfil transversal.

    Aula

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    (Fontes: http://birdwatching.spea.pt)

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    Geomorfologia Fluvial e Hidrografia

    INTRODUO

    Vale fluvial a designao dada ao corredor ou depresso longitudinal,de tamanho e formas variadas, ocupado pelo curso de gua. Constitui-senuma forma topogrfica que abrange talvegue e duas vertentes com doissistemas de declives convergentes (GUERRA e GUERRA, 1997), Figura8.1. Ainda segundo os autores, a forma do vale e o seu traado relacionam-se com:

    Figura 8.1 Vale fluvial.(Fonte: Fonte: Suertegaray, 2003).

    - estrutura- natureza das rochas- volume do relevo- clima- fase em que se encontra no ciclo morfolgico

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    8DESENVOLVIMENTO DOS VALES FLUVIAISA formao e o desenvolvimento dos vales fluviais so resultantes da

    interferncia de trs linhas evolutivas:1. Escavamento do leito ou aprofundamento do talvegue relaciona-secom os vrios processos ligados com a dinmica fluvial, responsveis pelaeroso, transporte e sedimentao ao longo do curso de gua que so in-terdependentes dentro de relaes constantemente mutveis do fluxo e dacarga existente.2. Alargamento das vertentes est relacionado com a atuao dos processosmorfogenticos sobre as vertentes em ntima conexo com os processosfluviais atuantes no canal, cuja localizao funciona como nvel de baseResulta, principalmente, da atuao dos seguintes processos:

    a) eroso lateral ou areolar remove o material da base das vertentes oca-sionando solapamento basal e promovendo o desmoronamento de materiaisat o rio. Levada a efeito por torrentes ou correntes concentradas, a cargagrosseira do leito constitui o pavimento detrtico que impede o entalhamentono sentido vertical. A corrente erode e alarga as margens, depositando eremovendo o material, estabelecendo um equilbrio sempre precrio.

    Desmoronamento constitui-se numa poro do terrenoque se destaca, em massa, sobre um flanco abrupto, deixando

    na vertente uma cicatriz (nicho de arranmento). As causaspodem ser naturais ou antrpicas.

    b) escoamento pluvial sobre as encostas remove grande quantidade dedetritos, ocasionando o rebaixamento e ampliao das vertentes.c) formao de sulcos e ravinas nas vertentes relacionada com a ao dasenxurradas, torna visvel a intensidade do fenmeno denudacional (Figura 8.2).

    Os ravinamentos ocorrem em quase todas as regies climticas, tantoem vertentes suaves como nas mais ngremes e sua origem est relacionadacom:- superfcies desprovidas de vegetao pelo desmatamento ou pouco vegetadascomo nas regies semi-ridas;- terras agrcolas;- reas que sofreram mudanas ambientais ou climticas; e- reas que sofreram queimadas e superpastoreio.

    Nessas condies, os processos erosivos so intensificados pelo au-mento do escoamento ou pela incapacidade dos canais em absorver ofluxo de gua. Na atualidade, o termo badland descreve qualquer paisagemsemi-rida caracterizada pela dissecao erosiva em sulcos e ravinas nas

    formaes rochosas de pouca resistncia eroso.

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    Figura 8.2 Eroso por ravinamento nas Badlands de Dakota do Sul (EUA).

    (Fonte: Press et al., 2006).

    Badland terra imprpria para a agricultura, muito erodida pela erosopluvial, e cheia de sulcos ou valetas de profundidades variadas.Intemperismo conjunto de processos advindos da exposiocontinuada da rocha ao de agentes atmosfricos e biolgicosque promovem a desintegrao mecnica e a decomposio qumicadesta. Os fenmenos que atuam nos processos intempricos, separadaou intimamente, podem ser fsicos, qumicos, biolgicos ou fsico-

    qumicos e so eles que vo fazer a diferenciao do processo deintemperismo em vrios tipos: intemperimo fsico, intemperismoqumico e intemperismo biolgico.

    d) meteriozao ou intemperismo e os movimentos de massa do regolito a meteorizao responsvel pela formao do manto de alterao, cujosdetritos so removidos pelos movimentos de massa, reconhecidos comoimportantes processos geomrficos modeladores da superfcie terrestre.

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    Deslizamentos deslocamentos de massas de solo sobre umembasamento saturado de gua. Os deslizamentos dependem de vriosfatores, tais como: inclinao das vertentes, quantidade e freqnciadas precipitaes, ausncia de vegetao, vertentes de acentuadadeclividade, consolidao do material, etc. A ao humana muitas

    vezes pode acelerar os deslizamentos, atravs da utilizao irracionalde reas acidentadas.

    3. Aumento da extenso ou encompridamento dos vales pode ocorrerde trs maneiras:a) eroso regressiva, processo significativo para os pequenos vales;b) aumento da extenso das curvas mendricas; ec) prolongamento das desembocaduras devido ao entulhamento dos lagosou movimentos eustticos dos oceanos.

    Constituem-se no deslocamento de solo e rocha vertente abaixo, sob ainfluncia da gravidade, sendo desencadeados pela interferncia direta dagua e do gelo, que induzem um estado de fluidez no solo.

    So fenmenos comuns em terrenos acidentados ngremes, podendoocorrer em vertentes de baixa declividade. Grandes desmoronamentosso freqentes em regies tectonicamente ativas. Outros so causados ouinduzidos pela presso de gua no solo.

    De acordo com Leopold, Wolman e Miller (1964), citados por Big-arella (2003) as reas sujeitas a movimentos de massa possuem as seguintescaractersticas ou atributos:a) intemperismo profundo das rochas;b) presena de estruturas sedimentares favorveis e de litologia variada;c) presena de argilas expansivas;

    d) teor elevado de umidade;e) possibilidade de ao criogncia perene, sazonal ou de tempo menor;f) ocorrncia de terremotos; eg) vertentes perturbadas pela ao de ondas ou dos rios.

    As condies que favorecem os movimentos de massa dependem principal-mente da estrutura geolgica, da declividade da vertente (forma topogrfica),do regime de chuvas (em especial os episdios pluviais intensos), da perdade vegetao e da atividade antrpica, bem como pela existncia de espes-sos mantos de intemperismo e presena de nveis ou faixas impermeveisque atuam como planos de deslizamentos (CHRISTO FOLETTI, 1984).

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    Eustasia designa as variaes lentas do nvel dos mares. Osmovimentos eustticos podem ser positivos quando as guas invademas terras, tambm chamados de transgresses marinhas; negativos

    quando as guas se afastam da linha litornea, tambm denominadosregresses marinhas.

    CLASSIFICAO DOS VALES

    Os principais critrios para as classificaes dos vales esto relacionadoscom o controle estrutural e com a morfologia do perfil transversal.

    A classificao de acordo com o controle estrutural est relacionadacom os tipos de estruturas geolgicas que controlaram a sua evoluo:

    a) vales homoclinais so aqueles que acompanham, no flanco das dobrasou nas estruturas monoclinais, as camadas de rochas frgeis. Em geral, soos vales subseqentes da classificao gentica;b) vales anticlinais seguem os eixos dos anticlinais que foram entalhados(Figura 8.3);

    Figura 8.3 Estgios de desenvolvimento de cristas e vales em montanhas dobradas.(Fonte: Press, et al., 2006).

    c) vales sinclinais coincidem com os eixos dos sinclinais; ed) vales de falha seguem as depresses estabelecidas como consequncia

    direta do falhamento;

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    8e) vales de linhas de falha so resultantes da eroso que seguem as linhasde falha. O curso de alguns vales, ou trechos deles, pode estar controladopor sistemas de diclases.

    Em relao aos tipos bsicos de vales de acordo com o perfil transversal

    podemos citar, conforme Christofoletti (1981), Figura 8.4:

    Figura 8.4 Tipos bsicos de vales de acordo com o perfil transversal: (1) vales em garganta; (2) valeem V; (3) vale em mangedoura; (4) vales assimtrico; (5) vale com terraos fluviais; (6) vale em U.(Fonte: Christofoletti, 1981).

    1. Vales em garganta apresentam largura estreita e entalhes profundos,com vertentes quase verticais. Sua forma mais especfica encontrada emreas de rochas resistentes, podendo apresentar at centenas de metros deprofundidade, quando a amplitude altimtrica elevada.

    Nas regies de rochas frgeis, os rios de alta declividade e elevado poten-cial erosivo podem entalhar de modo muito rpido, sem que haja alargamentono sentido horizontal, fazendo com que a largura do vale, em sua parte supe-rior, seja menor que a do fundo do vale. Nas regies de rochas sedimentareshorizontais, o entalhamento fluvial atravessa rochas de desigual resistncia e operfil transversal apresenta vrios patamares estruturais, como Grand Canyondo Colorado, nos Estados Unidos (Figura 8.5).

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    2. Perfil de forma de V indicam uma relao equilibrada entre o entalha-mento e o alargamento. Geralmente, so esculpidos em material homogneoe as vertentes so simtricas (Figura 8.6).

    Figura 8.5 Canyon do Colorado(Fonte: www.mundodesbravador.com).

    Figura 8.6 Vale meandrante do rio San Juan, Utah (EUA), com a

    forma de V, virtualmente sem plancie de inundao.(Fonte: Press et al., 2006).

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    83. Vales de mangedoura ou calha quando o entalhamento diminui,aproximando-se de zero, h um alargamento cada vez maior do fundodo vale, atravs da expanso da plancie de inundao. Os limites comas vertentes so sempre ntidos e o perfil transversal, em seu conjunto,

    varivel, de acordo com a inclinao das vertentes.4. Vales em terraos fluviais a sucesso de fases de acumulao e deentalhamento pode originar, nas bordas do vale, o surgimento de vriosdegraus com sedimentos correlativos de tais fases.5. Vales assimtricos os perfis das vertentes do vale so muito diferentes,uma escarpada e a outra suave. A camada resistente responsvel pela ver-tente mais ngreme. Este tipo de vale comum nas reas com estruturasmonoclinais e dobradas e nas regies de canais mendricos encaixados,quando se verifica o deslocamento e a ampliao das curvas dos meandros.

    6. Vales com perfil em U so elaborados por uma sucesso de fases fluviaise glacirias, principalmente em rochas resistentes (Figura 8.7). As paredesdas vertentes so muito ngremes, quase verticais e retilneas e o fundo do

    vale geralmente amplo e plano. Ao longo do vale principal a embocadurados vales subsidirios se faz com ntida diferena altimtrica, constituindoos vales suspensos. Esto confinados em reas que sofreram glaciao enas regies de relevo crstico.

    Figura 8.7 Vale em forma de U.(Fonte: Whitman, 2006).

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    VALES MENDRICOS E VALES EPIGNICOS

    Os vales mendricos so aqueles que apresentam sinuosidade regulares,em virtude do escavamento fluvial. Os meandros, devido ao soerguimentoregional ou ao abaixamento do nvel de base, vo entalhando as camadassubjacentes e o vale passa a ter a mesma feio do rio mendrico antecedente.

    Os vales epignicos esto relacionados com o processo de epigemia, ouseja, entalhamento de um curso de gua em rochas tenras e duras, a partirde uma camada sedimentar. A epigenia ocorre:por antecedncia a rea onde est instalado o curso dgua afetada porum soerguimento tectnico e o rio manteve o seu curso original apesar dasmudanas nas rochas subjacentes e no relevo, formando uma garganta deparedes escarpadas.

    por superimposio o rio flui atravs de rochas sedimentares que sosobrejacentes s camadas dobradas, de diferentes resistncias. Ao longodo tempo, o rio entalha as rochas subjacentes, de um anticlinal soterrada,formando uma garganta ou desfiladeiro.

    CONCLUSO

    A dinmica dos ambientes fluviais, onde os processos de eroso, trans-porte e deposio ocorrem numa escala horria, envolve a atuao do curso

    de gua e dos processos morfogenticos atuantes nas vertentes, responsveispela formao dos vales. A formao e o desenvolvimento dos vales fluviaisresultam, sobretudo, dos processos de eroso linear e aerolar pelo rio bemcomo pela eroso regressiva das cabeceiras de drenagem, aumento de exten-so das curvas mendricas e prolongamento das desembocaduras fluviais.Os principais critrios para a classificao dos vales esto relacionados como controle estrutural e a morfologia do perfil transversal.

    RESUMO

    O contedo da aula sobre vales fluviais destaca os processos respon-sveis pelo seu desenvolvimento. Enfatiza a classificao dos vales emrelao ao controle estrutural, relacionado com a presena de dobras efalhas e discute os tipos bsicos de sua morfologia de acordo com o perfiltransversal. Finaliza diferenciando os vales mendricos dos epignicos.

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    8AUTOAVALIAO1. Que contedo terico considerou mais importante para o seu conheci-mento sobre os vales fluviais?2. Como situar essa aula em relao s redes de drenagem abordadasna aula 3?3. Faa um comentrio sobre os vales mendricos e epignicos, levandoem conta a geologia, ou seja, litologia e estrutura.4. Que tipo de informao possvel obter atravs dos vales anticlinais esinclinais?5. Como ocorre o processo de eroso ao longo do vale que tem o perfilem forma de V?

    PRXIMA AULA

    Na prxima aula voc ser apresentado ao estudo quantitativo de umabacia hidrogrfica atravs da anlise morfomtrica.

    REFERNCIAS

    BIGARELLA, Joo Jos. Estrutura e origem das paisagens tropicaise subtropicais. Florianpolis: Editora da UFSC, 2003.

    CHRISTOFOLETTI, Antonio. Geomorfologia Fluvial. So Paulo: Ed-gard Blucher, 1981.GUERRA, Antonio Teixeira; GUERRA, Jos Antonio Teixeira. Novodicionrio geolgico-geomorfolgico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,1997.