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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA COLÉGIO POLITÉCNICO DA UFSM CURSO TÉCNICO EM GEOPROCESSAMENTO GEOPROCESSAMENTO APLICADO A AGROMETEOROLOGIA E ECOLOGIA DE CULTIVOS RELATÓRIO DE ESTÁGIO José Eduardo Minussi Winck Santa Maria/RS, Julho de 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA

COLÉGIO POLITÉCNICO DA UFSM

CURSO TÉCNICO EM GEOPROCESSAMENTO

GEOPROCESSAMENTO APLICADO A

AGROMETEOROLOGIA E ECOLOGIA DE

CULTIVOS

RELATÓRIO DE ESTÁGIO

José Eduardo Minussi Winck

Santa Maria/RS,

Julho de 2015

GEOPROCESSAMENTO APLICADO A

AGROMETEOROLOGIA E ECOLOGIA DE CULTIVOS

José Eduardo Minussi Winck

Relatório apresentado ao Curso Técnico em Geoprocessamento do Colégio

Politécnico da UFSM, como requisito para obtenção do título de Técnico em

Geoprocessamento

Orientador: Prof. Dr. Alessandro Miola

Supervisora: Prof. Drª. Isabel Lago

Santa Maria, RS

2015

Universidade Federal de Santa Maria

Colégio Politécnico da UFSM

Curso Técnico em Geoprocessamento

A Comissão examinadora, abaixo assinada,

aprova o Relatório de Estágio

GEOPROCESSAMENTO APLICADO A

AGROMETEOROLOGIA E ECOLOGIA DE CULTIVOS

ELABORADO POR

JOSÉ EDUARDO MINUSSI WINCK

COMISSÃO EXAMINADORA:

Prof. Dr. Alessandro Carvalho Miola

(Presidente/Orientador)

Profª. Drª. Ana Caroline Benedetti

Eng. Agr. Thiago Schmitz Marques da Rocha

Santa Maria, RS

Julho de 2015

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq),

Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, pelo financiamento de experimentos com a

cultura da soja, através da Chamada Pública Universal 2012 – Processo n 471860/2012-3.

APRESENTAÇÃO

O Estágio Supervisionado em Geoprocessamento foi executado pelo acadêmico José Eduardo

Minussi Winck, acadêmico do último semestre do Curso Técnico em Geoprocessamento do

Colégio Politécnico da Universidade Federal de Santa Maria, RS. O acadêmico atuou como

bolsista de Apoio Técnico no Grupo de Agroclimatologia do Departamento de

Fitotecnia/CCR/UFSM, coordenado pelo Professor Nereu Augusto Streck, desde agosto de

2010 e é acadêmico do último semestre do Curso de Agronomia da UFSM. A disciplina

CPTCE046 – Estágio Supervisionado foi realizada no Setor de Agrometeorologia e Ecologia

de Cultivos pertencente ao Departamento de Fitotecnia, no Centro de Ciências Rurais da

Universidade Federal de Santa Maria, sob supervisão da professora Professora Drª Isabel

Lago. O período de atividades desenvolvidas no departamento iniciou em 09 de março de

2015 e terminou no dia 03 de julho de 2015, totalizando uma carga horária de 300 horas.

RESUMO

Relatório de Estágio Supervisionado em Geoprocessamento

Curso Técnico em Geoprocessamento

Colégio Politécnico da UFSM

GEOPROCESSAMENTO APLICADO A AGROMETEOROLOGIA E

ECOLOGIA DE CULTIVOS

Autor: José Eduardo Minussi Winck

Orientador: Alessandro Carvalho Miola

Local e data da defesa: Santa Maria/RS, 03 de julho de 2015

No relatório de estágio estão descritas as principais atividades desenvolvidas no Estágio

Supervisionado em Geoprocessamento, realizado no Departamento de Fitotecnia da

Universidade Federal de Santa Maria, estado do Rio Grande do Sul, durante o período de 09

de março de 2015 até 03 de julho de 2015. As atividades desenvolvidas durante este período

compreenderam a comparação de diferentes métodos de interpolação pelo software ArcGIS

10.2 para dados de precipitação no estado do Rio Grande do Sul, a elaboração de mapas de

produtividade de milho e precipitação acumulada durante dez safras agrícolas no Rio Grande

do Sul e a avaliação da relação do NDVI (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada) de

imagens de satélite com o Índice de Área Foliar (IAF) de três lavouras de soja em dois anos

agrícolas. A realização do estágio possibilitou um grande ganho de conhecimento técnico

através da exploração da capacidade dos dados para gerar informações por meio de análises

espaciais interativas.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Fachada do Departamento de Fitotecnia da UFSM...................................... 09

Figura 2. Modelos de variograma da Krigagem........................................................... 13

Figura 3. Precipitação acumulada no mês de abril de 2015 no estado do Rio Grande

do Sul com dados interpolados em quatro tipos de Krigagem Ordinária..... 15

Figura 4. Divisão do estado do Rio Grande do Sul sete Mesorregiões conforme o

IBGE (Centro Ocidental Rio-grandense (1); Centro Oriental Rio-

Grandense (2); Metropolitana de Porto Alegre (3); Nordeste Rio-

grandense (4); Noroeste Rio-grandense (5); Sudeste Rio-grandense (6);

Sudoeste Rio-grandense (7).......................................................................... 19

Figura 5. Precipitação acumulada entre os meses de agosto e abril no estado do Rio

Grande do Sul em dez anos agrícolas........................................................... 20

Figura 6. Produtividade da cultura do milho no estado do Rio Grande do Sul em dez

anos agrícolas................................................................................................ 21

Figura 7. Características típicas de resposta espectral da vegetação verde.................. 25

Figura 8. Comportamento do NDVI com a evolução do IAF da soja.......................... 28

Figura 9. Evolução do Índice de área Foliar (IAF) e o NDVI de imagens de satélite

OLI/Landsat-8 em 3 lavouras comercias: Restinga Seca na

safra2013/2014 (a), Restinga Seca na safra 2014/2015 (b) e Tupanciretã

na safra 2014/2015 (c)................................................................................... 29

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Estações meteorológicas automáticas, pertencentes ao INMET, no Estado

do Rio Grande do Sul...................................................................................... 12

Tabela 2. Comparativo entre os dados observados de precipitação acumulada em abril

de 2015 com dados simulados por quatro variogramas no método de

interpolação Krigagem Ordinária.................................................................... 16

Tabela 3. Ocorrência do ENOS de 2003 a 2013............................................................. 22

Tabela 4. Localização, cultivar utilizada e data de semeadura das lavouras de soja do

estudo................................................................................................................ 26

Tabela 5. Fator de correção utilizado para o cálculo de área foliar para cada cultivar.... 27

Tabela 6. Imagens do satélite Ladsat-8 utilizadas no estudo.......................................... 27

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 08

2. DEPARTAMENTO DE FITOTECNIA DA UFSM.................................... 09

3.ATIVIDADES DESENVOLVIDAS..................................................................... 10

3.1 Comparativo de métodos de interpolação para dados de precipitação do estado

do Rio Grande do Sul.......................................................................................................... 10

3.1.1 Introdução..................................................................................................................... 10

3.1.2 Materiais e Métodos..................................................................................................... 11

3.1.3 Resultados.................................................................................................................... 14

3.1.4 Conclusões.................................................................................................................... 16

3.2 Análise da variabilidade anual da produtividade de milho e precipitação

acumulada através de Sistemas Geográficos de Informação (SIG) em dez anos

agrícolas no estado do Rio Grande do Sul ....................................................................... 17

3.2.1 Introdução..................................................................................................................... 17

3.2.2 Materiais e Métodos..................................................................................................... 18

3.2.3 Resultados.................................................................................................................... 19

3.2.4 Conclusões.................................................................................................................... 23

3.3 Relação entre índice de área foliar de lavouras de soja com índice vegetação

(NDVI) de imagens de satélite Landsat-8.......................................................................... 24

3.3.1 Introdução..................................................................................................................... 24

3.3.2 Materiais e métodos ..................................................................................................... 26

3.3.3 Resultados.................................................................................................................... 28

3.3.4 Conclusões.................................................................................................................... 30

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 31

REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 32

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1. INTRODUÇÃO

O Estágio Supervisionado em Geoprocessamento é uma disciplina do Curso Técnico

em Geoprocessamento que possibilita ao aluno adquirir experiências, atuando com a

orientação de um professor da instituição e a supervisão de um profissional da área, em

órgãos de pesquisa, empresas e diversas áreas de atuação onde possa empregar o

conhecimento que foi adquirido ao longo do curso, agregando novas vivências e

aprendizados.

O estágio foi realizado no Departamento de Fitotecnia da Universidade Federal de

Santa Maria. Optou-se em desenvolver o estágio nesse local, por ser uma oportunidade de

integrar os conhecimentos adquiridos no Curso de Técnico em Geoprocessamento com os

conhecimentos adquiridos no Curso de Agronomia.

As principais atividades desenvolvidas no período de estágio compreenderam a

comparação de diferentes métodos de interpolação pelo software ArcGIS 10.2 para dados de

precipitação no estado do Rio Grande do Sul, a elaboração de mapas de produtividade de

milho e precipitação acumulada durante dez safras agrícolas no Rio Grande do Sul e a

avaliação da relação do NDVI (Índice de Vegetação por Diferença Normalizada) de imagens

de satélite com o Índice de Área Foliar (IAF) de 3 lavouras de soja em 2 anos agrícolas.

A organização de banco de dados de produtividade e precipitação foram as atividades

que demandaram de um maior acompanhamento do estagiário. Os métodos de interpolação

dos dados de precipitação comparados foram krigagens linear, circular, esférico, exponencial,

gausseano e spline. Para relacionar os dados de índice de vegetação (NDVI) com o índice de

área foliar da soja foram obtidas 13 imagens do satélite Landsat – 8, sensor OLI (Operational

Land Imager).

9

2. DEPARTAMENTO DE FITOTECNIA DA UFSM

O Departamento de Fitotecnia (Figura 1) foi criado em 1964, com a finalidade de

abrigar os professores da Faculdade de Agronomia das áreas de Genética e Melhoramento de

Plantas, Estatística, Climatologia, Ecologia, Agricultura, Olericultura, Fruticultura e

Paisagismo.

Figura 1. Fachada do Departamento de Fitotecnia da UFSM.

O Estágio Supervisionado em Geoprocessamento foi desenvolvido especificamente no

Grupo de Pesquisa em Agrometeorologia e Ecologia de Plantas supervisionado pela

professora Drª. Isabel Lago.

O grupo de pesquisa conta com salas de professores, sala de trabalho, galpão para

ferramentas e uma área experimental de aproximadamente 1 ha, onde desenvolve-se pesquisas

na área de agrometeorologia e fenologia de cultivos. O ambiente de trabalho é bastante amplo

e refrigerado, dispondo de excelente infraestrutura e equipamentos computacionais, que

deram completo suporte para realização do estágio.

10

3. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS

As principais atividades desenvolvidas durante o estágio foram análises de

interpolações para variáveis meteorológicas como a precipitação, o estudo da influência das

chuvas no comportamento da produtividade de milho no estado do Rio Grande do Sul e a

comparação da evolução de índices de desenvolvimento da soja como o IAF e o NDVI de

imagens de satélite.

A seguir será feita uma descrição detalhada de cada uma das atividades desenvolvidas.

3.1 Comparativo de métodos de interpolação para dados de precipitação do estado

do Rio Grande do Sul

3.1.1 Introdução

A precipitação é uma das variáveis meteorológicas que pode ocasionar implicações

nos setores produtivos da sociedade (ALVES & VECCHIA, 2011). O regime pluviométrico é

de extrema importância para o dimensionamento de projetos para irrigação, projetos agrícolas

(JUNIOR et al., 2012) e estudos de minimização de erosão hídrica (REIS et al., 2005).

O conhecimento da variabilidade espacial da precipitação é importante para diversos

ramos das ciências agrárias e ambientais, como, por exemplo, na produção das culturas, no

manejo dos recursos hídricos, na avaliação ambiental e em estudos de erosão hídrica.

Técnicas de interpolação em dados de precipitação permitem a avaliação da sua variabilidade

espacial. No entanto, o manuseio inadequado da técnica pode mascarar o resultado estimado,

subestimando ou superestimando os resultados finais.

Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) apresentam diversos métodos de

espacialização, que auxiliam no acompanhamento das variáveis nas séries históricas, quanto a

sua resolução temporal e espacial. A utilização de técnicas de espacialização, disponíveis nos

SIG’s, facilita a verificação da forma como estas precipitações se distribuem no espaço, bem

como a associação com diferentes fatores do ambiente (REIS et al., 2005). Para que se

permita a espacialização de dados de precipitação são necessários dados pontuais para tentar

chegar a uma aproximação dos dados de precipitação para toda a região através de uma

interpolação matemática.

11

O uso de interpoladores para se espacializar os dados de chuvas se faz extremamente

necessário pelo fato de se haver uma enorme escassez de estações pluviométricas no país,

deficiência cada vez mais notável conforme se distancia do litoral e dos grandes centros

populacionais (MARCUZZO et al., s/d).

Para dados climáticos, o método de interpolação mais utilizado é o Krigagem que é

um método geoestatístico que estima os valores da superfície a partir de pontos com valor de

Z (SOUZA et al., 2011). Este método de interpolação utiliza funções matemáticas para

acrescentar pesos maiores nas posições mais próximas ao pontos amostrais e pesos menores

nas posições mais distantes, e criar assim os novos pontos interpolados com base nessas

combinações lineares de dados. A partir de gráficos como o variograma, a superfície de dados

é criada, e pode-se ter uma idéia da segregação espacial das variáveis (CPRM, 2008).

O variograma é a descrição matemática do relacionamento entre a variância dos

pontos observados e a distância que separa estes pontos. No método de Krigagem

normalmente são usados quatro tipos de variogramas: linear, esférico, exponencial e

gaussiano. Portanto a Krigagem compreende um conjunto de técnicas geoestatísticas de ajuste

usadas para aproximar dados pelo princípio que fixado um ponto no espaço, os pontos no seu

entorno são mais relevantes do que os mais afastados. Isto pressupõe a existência de

dependência entre os dados, exigindo saber até onde espacialmente esta correlação importa

(ISAAKS; SRIVASTAVA, 1989).

Em diversos estudos, sobre os melhores métodos de interpolação, tem-se observado

que para cada região um determinado método torna-se o mais apropriado, principalmente,

pela variabilidade espacial. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é verificar o melhor tipo

de variograma na Krigagem para a representação da precipitação acumulada para o Estado do

Rio Grande do Sul.

3.1.2 Metodologia

A área compreendida por este estudo foi o Estado do Rio Grande do Sul. Os dados

interpolados são oriundos de 28 estações meteorológicas automáticas do Instituto Brasileiro

de Meteorologia (INMET) (Tabela 1).

12

Tabela 1. Estações meteorológicas automáticas, pertencentes ao INMET, no Estado do Rio Grande do Sul.

Município Coordenadas (SIRGAS 2000) Precipitação

acumulada (mm) Lat (º) Long (º)

Frederico Westphalen -27,395686 -53,429421 110

Santo Augusto* -27,854345 -53,791179 125,2

São Luiz Gonzaga -28,417113 -54,962403 210,2

São Borja -28,650092 -56,016291 6,6

Cruz Alta -28,603440 -53,673597 175,6

Ibirubá -28,653458 -53,111881 201,8

Soledade -28,859211 -52,542387 142,6

Passo Fundo -28,226805 -52,403582 193,6

Lagoa Vermelha -28,222381 -51,512845 0,2

Erechim -27,657710 -52,305805 29

Vacaria -28,513602 -50,882738 44,8

São José dos Ausentes -28,748634 -50,057880 174,2

Torres -29,350359 -49,733263 163,2

Canela -29,368788 -50,827231 174,2

Bento Gonçalves* -29,164581 -51,534202 136,6

Campo Bom -29,674293 -51,064042 112,6

Porto Alegre* -30,053536 -51,174766 76

Teutônia -29,450334 -51,824283 121,2

Santa Cruz do Sul -29,872113 -52,381980 41,4

Santa Maria -29,724960 -53,720469 130,8

Santiago -29,191599 -54,884653 99,8

Alegrete* -29,709083 -55,525486 46,2

Uruguaiana -29,839870 -57,081899 22,8

Quaraí -30,368578 -56,437165 9,2

São Gabriel -30,341450 -54,310917 119,8

Bagé -31,347800 -54,013300 21,2

Caçapava do Sul -30,545317 -53,467050 26,8

Camaquã -30,807953 -51,834240 74,2

Canguçu -31,403298 -52,700699 57,2

Rio Grande -32,078780 -52,167738 64,2

Jaguarão* -32,534825 -53,375860 85

Chuí -33,742297 -53,372218 65,8

Mostardas -31,248279 -50,906279 48,8 *Estações utilizadas para comparação com valores modelados pelas interpolações

Foram utilizados dados de precipitação acumulada no mês de abril de 2015 de todas as

estações climatológicas. O software utilizado para a interpolação dos dados de precipitação

foi o ArcGIS 10.2.1.

No método da Krigagem a variação espacial é quantificada por um semivariograma. O

semivariograma é um gráfico de dispersão da semivariância versus distância dos pontos

13

amostrados (MARCUZZO et al., s/d). O semivariograma é calculado a partir dos pontos

amostrados usando a seguinte equação:

em que, h – é uma distância, n é o número de pontos amostrados separados pela distância h,

y(h) – é a semivariância para a distância h, s – é a quantidade de pares de pontos separados

pela distância h, z(x) – é o valor da amostra na localidade x, e z(x+h) - é o valor da amostra na

localidade separada da localidade x pela distância h.

A Figura 2 mostra os principais modelos de variograma, sendo a parte mais importante

do variograma a sua forma próximo a origem, uma vez que são os pontos mais próximos os

que possuem maior peso no processo de interpolação (CPRM, 2008).

Figura 2. Modelos de variograma da Krigagem.Fonte: CPRM, 2008

14

Foi realizada a interpolação dos dados através do método de Krigagem Ordinária e

comparado os diferentes variogramas deste método: linear, exponencial, gaussiano e esférico.

O tamanho do pixel utilizado na interpolação foi de 1 km².

Cinco estações meteorológicas automáticas do INMET foram escolhidas ao acaso e

não foram utilizadas na interpolação para permitir a avaliação da exatidão dos diferentes

variogramas. Após a interpolação foi comparado os valores reais destas cinco estações

meteorológicas com os simulados pela interpolação e calculado a raiz do erro quadrado médio

(RMSE) para cada tipo de variograma pela seguinte fórmula:

em que RMSE = raiz do erro quadrado médio; Pis = valor estimado pelo método de

Interpolação; Pio = valor observado; N = número de observações.

3.1.3 Resultados

Na Figura 3 é possível realizar uma avaliação visual comparativa dos dados de

precipitação acumulada nos diferentes métodos de Krigagem Ordinária. Os quatro

variogramas utilizados evidenciaram as variações dos valores de precipitação acumulada no

Estado do Rio Grande do Sul.

15

Figura 3. Precipitação acumulada no mês de abril de 2015 no estado do Rio Grande do Sul com dados

interpolados em quatro tipos de Krigagem Ordinária.

Para os valores de precipitação acumulada do município de Santo Augusto, Bento

Gonçalves, Jaguarão e Porto Alegre o modelo que mais se aproximou dos valores observados

foi o modelo esférico, porém, para o município de Alegrete o modelo que mais se aproximou

do valor observado foi o Gaussiano.

16

Na tabela 2 estão descritos os valores reais de precipitação acumulada e os valores

simulados pelos modelos de interpolação.

Tabela 2. Comparativo entre os dados observados de precipitação acumulada em abril de 2015 com dados

simulados por quatro variogramas no método de interpolação Krigagem Ordinária.

Localização Observado

(mm)

Simulado (mm)

Município Latitude Longitude Linear Exponencial Esférico Gaussiano

Santo Augusto -27,854345º -53,791179º 125,2 137,7101 133,2187 120,5843 139,9479

Bento Gonçalves -29,164581º -51,534202º 136,6 107,4217 106,8810 108,1939 104,6065

Alegrete -29,709083º -55,525486º 46,2 74,5096 72,4652 81,3667 72,0637

Jaguarão -32,534825º -53,375860º 85 61,2174 61,9637 64,7062 61,4195

Porto Alegre -30,053536º -51,174766º 76 101,2822 103,9991 98,2359 103,9990

RMSE 24,5524 23,7359 24,3770 25,4953

A análise do RMSE foi realizada para verificar a acurácia dos resultados numéricos,

pois quanto menor o valor do RMSE melhor é a simulação. O modelo que possuiu o menor

valor de RMSE foi o modelo Exponencial, sendo considerado o melhor modelo para

interpolação de dados de precipitação no estado do Rio Grande do Sul.

Verificou-se que o modelo Esférico, apesar de apresentar os valores simulados mais

próximos aos valores observados em quatro estações meteorológicas, não é o modelo que

melhor representa a precipitação acumulada no estado. Isto pode ser explicado pela grande

diferença dos valores simulados com o observado em todos os métodos de interpolação, pois

o comportamento pluviométrico é dependente de fatores como microclima, condições de

relevo, fluxo de massas de ar e tipo de ocupação do solo, que não são levados em

consideração nos modelos de interpolação.

3.1.4 Conclusões

O modelo geoestatístico de interpolação Krigagem, apresenta falhas na simulação de

dados de precipitação devido ao elevado RMSE apresentado pelos diferentes

semivariogramas. Dentre os semivariogramas da Krigagem observou-se que o método mais

representativo para dados de precipitação acumulada foi o modelo Exponencial.

17

3.2 Análise da variabilidade anual da produtividade de milho e precipitação

acumulada através de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) em dez anos agrícolas

no Estado do Rio Grande do Sul

3.2.1 Introdução

A cultura do milho é de extrema importância para o agronegócio do Rio Grande do

Sul, pois o cereal é um dos principais commodities agrícolas brasileiros, sendo o estado o

quarto maior produtor de milho em grão no país, com uma produção aproximada de 5,4

milhões de toneladas do grão (CONAB, 2015).

Na última década a cultura do milho apresentou uma queda da área plantada, embora

não acentuada, contrastando com o aumento da quantidade produzida (ATLAS

SOCIOECONÔMICO DO RIO GRANDE DO SUL, 2013). No entanto, o nível médio

nacional de produtividade é muito baixo, cerca de 5000 kg/ha, segundo dados do IBGE,

demonstrando que os diferentes sistemas de produção de milho deverão ser ainda bastante

aprimorados para se obter aumento na produtividade e na rentabilidade que a cultura pode

proporcionar (CRUZ et al, 2006). Esta baixa produtividade, está associada dentre outros

fatores à restrições causadas pela baixa disponibilidade de água do solo ou pela alta demanda

evaporativa durante períodos de estiagem.

O período de crescimento e desenvolvimento do milho é limitado pela água,

temperatura e radiação solar ou luminosidade. A cultura do milho necessita que os fatores

climáticos, principalmente a temperatura, pluviosidade e fotoperíodo, atinjam níveis

considerados ótimos, para que o seu potencial genético de produção se expresse ao máximo

(CRUZ et al, 2006).

O milho por sua vez é cultivado em regiões com precipitações que variam de 300 a

5.000 mm anuais, sendo que a quantidade de água consumida por uma planta de milho

durante o seu ciclo está entre 380 e 600 mm dependendo das condições climáticas

(ALDRICH et al., 1982; ALBUQUERQUE, 2010).

No estado do Rio Grande do Sul, poucas vezes o milho encontra situações de cumprir

todo o ciclo em condições ideais de disponibilidade hídrica (MALUF et al., 2000). Em

algumas regiões, é freqüente a ocorrência de estiagens durante a estação de cultivo, o que se

agrava quando coincide com o florescimento.

18

Maluf et al. (1986 apud 2000) concluíram que as maiores limitações à obtenção de

altos rendimentos de milho no Rio Grande do Sul são impostas pela deficiência hídrica, que

ocorre com maior freqüência no oeste, sudoeste e sudeste do Estado, nas regiões do Vale do

Rio Uruguai, Campanha, Depressão Central, Litoral Sul e Serra do Sudeste.

Tendo em vista a existência de variações pluviométricas no estado do Rio Grande do

Sul, e a importância da cultura do milho para o estado torna-se necessário estudos

regionalizados para a obtenção de informações condinzentes sobre o efeito climático sobre a

variabilidade anual da produtividade do milho na Mesorregião do Noroeste Rio-grandense,

demonstrados através de mapas elaborados com auxílio de ferramentas de geoprocessamento.

A caracterização dos sistemas de produção de milho envolve um grande número de

informações, necessitando o auxilio de um sistema informatizado para acompanhar a

dinâmica espaço-temporal da cultura. Como a maioria das informações envolvidas neste

trabalho são de natureza geográfica, conclui-se que o uso de um SIG é mais indicado para

contribuir nesta análise, que um sistema de informações convencionais (FARIA, 2000).

3.2.2 Metodologia

A área de estudo é o Estado do Rio Grande do Sul, compreendido por 497 municípios

(Figura 4), numa área de aproximadamente 281 730,223 km².

Para a realização deste trabalho foram consultadas as seguintes fontes de dados:

INMET/BDMEP – Banco de dados meteorológicos para ensino e pesquisa: fonte dos

dados de precipitação referente a séries históricas, das safras em estudo.

IBGE/SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação Automática: fonte dos dados de

produtividade média de milho para o Estado do Rio Grande do Sul.

A partir da base de dados de precipitação foi realizada uma interpolação entre as

estações climatológicas do estado para cada ano agrícola no período compreendido entre os

meses de agosto e maio do ano seguinte, utilizando o software ArcGIS 10.2.1. O método de

interpolação utilizado para confecção dos mapas foi o Krigagem Ordinária Exponencial.

Para a verificação da variabilidade da produtividade ocasionada por eventos climáticos

foram confeccionados os mapas de produtividade média no estado para cada ano agrícola a

ser estudado e comparado com os mapas de precipitação ano a ano. Foi também identificado

19

nos últimos 10 anos a ocorrência e caracterização do fenômeno El Nino Oscilação Sul -

ENOS e a sua influência no acréscimo ou decréscimo da produtividade de milho nas

mesorregiões do estado (Figura 4).

Figura 4. Divisão do estado do Rio Grande do Sul sete Mesorregiões conforme o IBGE (Centro Ocidental Rio-

grandense (1); Centro Oriental Rio-Grandense (2); Metropolitana de Porto Alegre (3); Nordeste Rio-grandense

(4); Noroeste Rio-grandense (5); Sudeste Rio-grandense (6); Sudoeste Rio-grandense (7). Disponível em:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_mesorregi%C3%B5es_do_Rio_Grande_do_Sul.

3.2.3 Resultados

A Figura 5 apresenta a variabilidade da precipitação acumulada no Estado do Rio

Grande do Sul no período de safra (01/08 a 31/05) em dez anos agrícolas.

Verificou-se independente do ano e da ocorrência do fenômeno ENOS que as

Mesorregiões do Sudoeste Rio-grandense e Sudeste Rio-grandense apresentam um menor

regime pluviométrico do que o restante do estado. Os menores valores de precipitação

acumulada durante as safras nessas regiões é um dos fatores que reflete na produtividade da

cultura do milho nos municípios destas regiões, como pode ser observado na Figura 5, onde

os menores valores de produtividade estão representados em tons de amarelo. A Mesorregião

do Noroeste Rio-grandense é a que apresenta um maior regime pluviométrico e, juntamente

com a Mesorregião Nordeste apresentam os maiores valores de produtividade de milho,

representado na Figura 6.

20

Figura 5. Precipitação acumulada entre os meses de agosto e abril no Estado do Rio Grande do Sul em dez anos

agrícolas.

21

Figura 6. Produtividade da cultura do milho no Estado do Rio Grande do Sul em dez anos agrícolas.

22

A Tabela 3 mostra os anos de ocorrência do fenômeno ENOS e a sua intensidade.

Tabela 3. Ocorrência do ENOS de 2003 a 2013.

Ano agrícola ENOS Intensidade

2003/2004 Neutro

2004/2005 El Nino Fraco

2005/2006 La Nina Fraco

2006/2007 El Nino Fraco

2007/2008 La Nina Moderado

2008/2009 La Nina Fraco

2009/2010 El Nino Moderado

2010/2011 La Nina Forte

2011/2012 La Nina Fraco

2012/2013 Neutro

Comparando as intensidades do fenômeno ENOS com os mapas de precipitação

acumulada na Figura 5 e com os mapas de produtividade da Figura 6, verifica-se que o ano

2003/2004 e 2012/2013 foram caracterizados como anos neutros, sendo o ano 2012/2013 com

um maior valor de precipitação acumulada e um dos anos com as melhores produtividades em

todo o estado.

O ano 2007/2008 foi caracterizado como ano de La Nina moderada, porém apresentou

valores de precipitação acumulada maiores que nos anos 2005/2006, 2008/2009 e 2011/2012

que foram caracterizados como anos de La Nina fraco. Já o ano de 2010/2011 (ano de La

Nina forte) apresentou valores acumulados de precipitação maiores na Mesorregião Noroeste

Rio-grandense do que nos anos 2003/2004, 2004/2005, 2005/2006, 2008/2009 e 2011/2012,

sendo que em alguns municípios a produtividade de milho apresentou a mesma tendência,

evidenciando os valores de baixa precipitação e produtividade na Mesorregião do Sudoeste

Rio-grandense.

O ano 2009/2010 considerado de El Nino moderado apresentou altos valores de

precipitação acumulada em todo o estado do Rio Grande do Sul, sendo que em algumas

regiões do estado esse aumento das chuvas não foi acompanhado do aumento de

produtividade. Isto pode ser explicado por fatores como o nível tecnológico das propriedades

de cada região, a temperatura média do ar, distribuição destas chuvas durante o período de

safra e diferenças de solos entre as regiões do Planalto e Fronteira do Estado.

23

3.2.4 Conclusões

Há diferenças no regime pluviométrico entre as Mesorregiões do Estado do Rio

Grande do Sul. A precipitação é um dos fatores determinantes para a baixa produtividade em

alguns municípios das Mesorregiões Noroeste e Nordeste Rio-grandense. As baixas

produtividades das Mesorregiões Sudeste e Sudoeste Rio-grandense sofrem influência do

baixo regime pluviométrico e de outras variáveis como alta temperatura do ar, tipo de solo e

nível tecnológico baixo das lavouras.

24

3.3 Relação entre Índice de Área Foliar de lavouras de soja com Índice de Vegetação

por Diferença Normalizada (NDVI) de imagens de satélite Landsat-8

3.3.1 Introdução

A cultura da soja é a principal commodity agrícola do Brasil, que é o segundo maior

produtor mundial do grão (CONAB, 2014). Houve um crescimento na produção e na

produtividade da soja brasileira de 741,3% e 174,9%, respectivamente, entre as safras de

1976/1977 e 2013/2014 (CONAB, 2014). No Rio Grande do Sul (RS), também houve essa

tendência de aumento da área e na produtividade média da cultura da soja, destacando-se o

ano agrícola 2013/2014 quando foram cultivados aproximadamente 4,9 milhões de hectares e

produzidas 13,2 milhões de toneladas, sendo a maior safra de soja na história deste Estado

(CONAB, 2014).

O aumento da área cultivada e da produtividade da soja no Brasil e no RS deve-se a

incorporação de novas tecnologias de produção nos últimos anos, como por exemplo, a

utilização de cultivares precoce (grupo de maturação menor que 6.4) e tipo de crescimento

indeterminado, em substituição às cultivares semeadas até os anos 2000, que apresentavam

quase na sua totalidade ciclo médio ou longo e tipo de crescimento determinado (BARNI e

MATZANAUER, 2000), semeaduras precoces e tardias, e também o cultivo em áreas de

terras baixas, local onde tradicionalmente é cultivado arroz irrigado.

O Sensoriamento Remoto permite obter informações que auxiliam extensionistas e

consultores a entender melhor aspectos relacionados ao crescimento e ao desenvolvimento

dessas novas cultivares (VERNETTI E VERNETTI JUNIOR, 2009). Entre as principais

informações obtidas por meio do Sensoriamento Remoto estão os Índices de Vegetação, tendo

aplicações no monitoramento e avaliações das propriedades biofísicas dos alvos vegetados,

como por exemplo, porcentagem de cobertura do solo, índice de área foliar, biomassa e vigor

da vegetação (EPIPHANIO et al., 1990). De acordo com Almeida et al. (2005), os índices de

vegetação, expressos em valor numérico, resultam da combinação de dois ou mais

comprimentos de onda e permitem a detecção de presença e estado da vegetação em questão.

Analisando a assinatura espectral da folha verde na Figura 7, observa-se que na região

do visível (0,4 a 0,7 µm ) a reflectância é relativamente baixa em função da forte absorção da

radiação pelos pigmentos, essa absorção está relacionada ao processo de fotossíntese e ocorre

nas bandas centradas aproximadamente em 0,45 µm (azul) e 0,65 µm (vermelho), em

25

oposição a um pico de reflectância em torno de 0,550 µm (verde). Por essa razão, a vegetação

sadia para o olho humano aparece em tons de verde (VENTURIERI, 2007). Já na região do

infra-vermelho próximo (0,7 a 1,3 µm) a maior reflectância resulta da interação da radiação

com a estrutura celular superficial da folha e está relacionada com os aspectos fisiológicos da

folha e varia com o seu conteúdo de água na estrutura celular superficial, por isso é um forte

indicador de sua natureza, estágio de desenvolvimento, sanidade, etc. Deste modo, o potencial

dos índices de vegetação deflagra-se na capacidade de geração de informações acerca da

distribuição espacial e estado fisiológico de grandes culturas como a soja.

Figura 7. Características típicas de resposta espectral da vegetação verde. Fonte: HOFFER, 1978.

A determinação da área foliar é importante na avaliação da eficiência fotossintética das

plantas, na determinação de danos bióticos e abióticos na cultura, em estudos de análise de

crescimento e por ser um grande condicionante da produtividade comercial da cultura

(SETIYONO et al., 2008).

Com isso, esforços científicos com o objetivo de conhecer os estágios de

desenvolvimento mais críticos para a determinação dos componentes de rendimento, sob

diferentes condições ambientais, tem sido tema de vários autores (KANTOLIC and SLAFER,

26

2005; MEOTTI et al., 2012). Assim, estudos básicos que descrevem de forma detalhada o

desenvolvimento das novas cultivares de soja em resposta às diferentes disponibilidades

edafoclimáticas necessitam ser realizados no RS e no Brasil (RICHTER et al., 2014). A

caracterização do crescimento de plantas de soja poderá auxiliar a assistência técnica e os

produtores de soja a definir práticas de manejo para alcançar o potencial genético de cada

cultivar. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi caracterizar a relação entre o Índice de

Área Foliar (IAF) com o NDVI de imagens de satélite Landsat-8, sensor OLI.

3.3.2 Metodologia

O estudo foi desenvolvido em duas lavouras comerciais de soja nos anos agrícolas de

2013/2014 e em três lavouras no ano agrícola 2014/2015 no estado do Rio Grande do Sul

(Tabela 4),.

Tabela 4. Localização, cultivar utilizada e data de semeadura das lavouras de soja do estudo

Local Coordenadas (SIRGAS 2000) Ano

agrícola Cultivar

Data de

semeadura Latitude Longitude

Água Santa 28º16”20.75” S 52º1”52.29” W 2014/2015 P95R51 RR 08/11/2014

Restinga Seca 29º6”45.17” S 53º26”5.03” W 2013/2014 NS6262 RR 20/11/2013

2014/2015 NS5909 RR 13/11/2014

Tupanciretã 29º6”45.17” S 54º0’2.89” W 2013/2014 NS4725 RR 19/11/2013

2014/2015 TMG7161 RR Inox 27/10/2014

A área foliar nas lavouras de soja foi determinada a partir de dados coletados em

experimentos conduzidos em lavouras comerciais financiados com recursos do Projeto

Chamada Pública Universal CNPq/2012 Processo nº 471860/2012-3, onde foi coletado folhas

de 2 metros lineares em cada ponto amostral e determinado a sua matéria seca (MS) e,

determinado a MS e a área foliar de 10 folhas de soja através da metodologia proposta por

Richter et al. (2014), que estabeleceu coeficientes de calibração (Tabela 5) para cada cultivar

para poder se estimar a área foliar específica pelo somatório do produto do maior

comprimento e maior largura de cada folíolo da planta, conforme a equação:

AF = {[Σ(C*L)]*Fc}

em que, AF é a Área Foliar, C e L são, respectivamente, o maior comprimento e a maior

largura do folíolo central de cada folha e, Fc é o fator de correção para cada cultivar conforme

Richter et al. (2014).

27

Tabela 5.Fator de correção utilizado para o cálculo de área foliar para cada cultivar. Fonte: RICHTER et al.,

2014.

Após o cálculo da área foliar das 10 folhas e dos seus valores de MS de folhas, pode-

se calcular a área foliar dos 2 metros lineares. Para cálculo do IAF utilizou-se a seguinte

equação:

IAF = AF/(El*2)

onde IAF é o Índice de Área Foliar, AF é a área foliar específica em 2 metros lineares e, El é

o espaçamento entre-linhas da lavoura.

Os dados de IAF utilizados foram aqueles em que a data de coleta da MS de folhas se

encontrou próxima a data da coleta da imagem pelo satélite. No total utilizou-se 5 imagens do

satélite Landsat-8 do ano agrícola 2013/2014 e 8 imagens do ano agrícola 2014/2015 para

análise do NDVI das lavouras de soja. As imagens (Tabela 6) foram adquiridas no site da

NASA (http://earthexplorer.usgs.gov/) onde selecionou-se apenas as imagens sem

interferência de nuvens.

Tabela 6. Imagens do satélite Ladsat-8 utilizadas no estudo.

Município Safra Imagem Data

Restinga Seca

2013/2014

LC82230812013352LGNOO 18/12/2013

LC82230812014019LGN00 19/1/2014

LC82230812014035LGN00 4/2/2014

2014/2015

LC82220812014348LGN00 14/12/2014

LC82230812015006LGN00 6/1/2015

LC82230812015022LGN00 22/1/2015

Tupanciretã

2013/2014 LC82230802014019LGN00 19/1/2014

LC82230802014035LGN00 4/2/2014

2014/2015 LC82230802014339LGN00 5/12/2014

LC82230802015006LGN00 6/1/2015

Cultivar Fator de correção

BMX Turbo RR 2,0531

P95R51 RR 1,9560

NS6262 RR 2,0185

NS5909 RR 2,1420

NS4725 RR 2,0185

TMG7161 RR Inox 2,1362

28

LC82230802015022LGN00 22/1/2015

LC82230802015038LGN00 7/2/2015

Água Santa 2014/2015 LC82220802014348LGN00 14/12/2014

O processamento das imagens foi feito por meio do software ENVI 5.0. De posse dos

dados de refletância da superfície de cada banda após a correção atmosférica foi calculado o

índice de vegetação NDVI para comparação com os dados de IAF em cada lavoura. Desta

forma, com o auxílio do software ENVI 5.0, foram determinados os valores de NDVI pela

seguinte equação:

NDVI = ((IVP – VERMELHO) / (IVP + VERMELHO))

em que, IVP é a reflectância no infravermelho próximo e VERMELHO é a reflectância no

vermelho.

3.3.3 Resultados

Com base nos dados espectrais obtidos nas 3 lavouras comerciais de soja em dois anos

agrícolas, foi possível identificar uma tendência nos perfis espectrais das imagens

selecionadas, onde os pontos amostrais com maiores valores de IAF apresentaram uma maior

reflectância na banda do infravermelho próximo, resultando num maior valor de NDVI.

Enquanto que nos pontos onde o valor de IAF era menor, os valores de NDVI também foi

menor (Figura 8).

Figura 8. Comportamento do NDVI com a evolução do IAF da soja

0,5

0,55

0,6

0,65

0,7

0,75

0,8

0,85

0,9

0,95

1

0,93 1,43 1,68 3,10 3,72 3,98 4,13 4,58 5,04 5,10

ND

VI

IAF

29

Observou-se que há uma relação entre a evolução do IAF da soja com o NDVI das

imagens. Esta relação não é linear devido as diferenças das cultivares e das condições

ambientais em que elas estão expostas. Verificou-se que quando os valores de IAF estão entre

1,4-1,5 os valores de NDVI apresentam uma tendência logarítmica de aumento. Este

comportamento ocorre devido ao fechamento das entre-linhas de uma lavoura de soja ocorrer

com IAF próximo a estes valores (HEIFFIG et al., 2006), aumentando assim os valores de

reflectância da lavoura na banda do infra-vermelho próximo.

Fracionando os dados para 3 lavouras comerciais (Restinga Seca 2013/2014, Restinga

Seca 2014/2015 e Tupanciretã 2014/2015) (Figura 9), verificou-se que a evolução do IAF é

acompanhada dos valores de NDVI no decorrer do ciclo da cultura.

Figura 9. Evolução do Índice de área Foliar (IAF) e o NDVI de imagens de satélite Landsat-8, sensor OLI em 3

lavouras comercias: Restinga Seca na safra2013/2014 (a), Restinga Seca na safra 2014/2015 (b) e Tupanciretã na

safra 2014/2015 (c).

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0

1

2

3

4

5

6

26 64 78

ND

VI IA

F

Dias após a semeadura (DAS)

a

Índice de Área Foliar

NDVI

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0

1

2

3

4

5

6

28 53 68

ND

VI IA

F

DAS

b

Índice de Área Foliar

NDVI

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0

1

2

3

4

5

6

44 71 86 99

ND

VI IA

F

DAS

c

Índice de Área Foliar

NDVI

30

Ocorre um aumento dos valores de NDVI até o valor de IAF máximo, e um

decréscimo com a diminuição do IAF no fim do ciclo da cultura, ocasionado pelo

amarelecimento das folhas causado pela senescência e perda de água das mesmas,

modificando o conteúdo celular das células do mesófilo foliar e consequentemente alterando

os valores de reflectância da lavoura na banda do infra-vermelho próximo.

3.3.4 Conclusões

O Índice de Vegetação por Diferença Normalizada (NDVI) é um eficiente indicativo

do Índice de Área Foliar de lavouras de soja por levar em consideração a energia absorvida e

refletida pelo dossel vegetativo. Torna-se necessário estudos mais específicos que

estabeleçam relações matemáticas que permitam aferir a relação entre índices de vegetação

obtidos através de imagens de satélite com o crescimento e desenvolvimento da cultura da

soja.

31

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do estágio supervisionado foi alcançado, a participação em atividades

práticas que exigiram o conhecimento adquirido durante o Curso Técnico em

Geoprocessamento. Durante o período, realizou-se estudos aplicados que envolvessem o

Geoprocessamento e a agrometeorologia de cultivos. Os resultados obtidos nestes estudos

propiciaram ao acadêmico a interação entre suas duas áreas de formação, a agronomia e o

Geoprocessamento.

Como resultado destes estudos se verificou a importância do Geoprocessamento

através de Sistemas Geográficos de Informação (SIG) na espacialização de dados

climatológicos e de produção, possibilitando a integração e análise de dados de diferentes

fontes permitindo explorar a capacidade dos dados para gerar informações por meio de

análises espaciais interativas. Como por exemplo, a espacialização da precipitação e a sua

influência na produtividade regional de culturas agrícolas e as relações entre índices de

vegetação, calculados pela reflectância das plantas nas imagens de satélite, e a sanidade,

desenvolvimento ou produtividade das culturas.

32

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