George.Reisman.~.Por.Que.O.Socialismo.É.Totalitário¿

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2/3/2014 Instituto Ludwig von Mises Brasil http://www.mises.org.br/ArticlePrint.aspx?id=98 1/7 Instituto Ludwig von Mises Brasil http://www.mises.org.br Por que o nazismo era socialismo e por que o socialismo é totalitário por George Reisman, sábado, 22 de fevereiro de 2014 Minha intenção é expor dois pontos principais: (1) Mostrar que a Alemanha Nazista era um estado socialista, e não capitalista. E (2) mostrar por que o socialismo, compreendido como um sistema econômico baseado na propriedade estatal dos meios de produção, necessariamente requer uma ditadura totalitária. A caracterização da Alemanha Nazista como um estado socialista foi uma das grandes contribuições de Ludwig von Mises. Quando nos recordamos de que a palavra "Nazi" era uma abreviatura de " der Nationalsozialistische Deutsche Arbeiters Partei" -- Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães --, a caracterização de Mises pode não parecer tão notável. O que se poderia esperar do sistema econômico de um país comandado por um partido com "socialista" no nome além de ser socialista? Não obstante, além de Mises e seus leitores, praticamente ninguém pensa na Alemanha Nazista como um estado socialista. É muito mais comum se acreditar que ela representou uma forma de capitalismo, aquilo que comunistas e marxistas em geral têm alegado. A base do argumento de que a Alemanha Nazista era capitalista é o fato de que a maioria das indústrias foi aparentemente deixada em mãos privadas. O que Mises identificou foi que a propriedade privada dos meios de produção existia apenas nominalmente sob o regime Nazista, e que o verdadeiro conteúdo da propriedade dos meios de produção residia no governo alemão. Pois era o governo alemão e não o proprietário privado nominal quem decidia o que deveria ser produzido, em qual quantidade, por quais métodos, e a quem seria distribuído, bem como quais preços seriam cobrados e quais salários seriam pagos, e quais dividendos ou outras rendas seria permitido ao proprietário privado nominal receber. A posição do que se alega terem sido proprietários privados era reduzida essencialmente à função de pensionistas do governo, como Mises demonstrou. A propriedade governamental "de fato" dos meios de produção, como Mises definiu, era uma consequência lógica de princípios coletivistas fundamentais adotados pelos nazistas como o de que o bem comum vem antes do bem privado e de que o indivíduo existe como meio para os fins do estado. Se o indivíduo é um meio para os fins do estado, então, é claro, também o é sua propriedade. Do mesmo modo em que ele pertence ao estado, sua propriedade também pertence. Mas o que especificamente estabeleceu o socialismo "de fato" na Alemanha Nazista foi a introdução do

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    Instituto Ludwig von Mises Brasil http://www.mises.org.br

    Por que o nazismo era socialismo e por que o socialismo totalitriopor George Reisman, sbado, 22 de fevereiro de 2014

    Minha inteno expor dois pontos principais: (1) Mostrar que a Alemanha Nazista era um estado socialista,

    e no capitalista. E (2) mostrar por que o socialismo, compreendido como um sistema econmico baseado

    na propriedade estatal dos meios de produo, necessariamente requer uma ditadura totalitria.

    A caracterizao da Alemanha Nazista como um estado socialista foi uma das grandes contribuies de

    Ludwig von Mises.

    Quando nos recordamos de que a palavra "Nazi" era uma abreviatura de "der Nationalsozialistische

    Deutsche Arbeiters Partei" -- Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemes --, a caracterizao

    de Mises pode no parecer to notvel. O que se poderia esperar do sistema econmico de um pas

    comandado por um partido com "socialista" no nome alm de ser socialista?

    No obstante, alm de Mises e seus leitores, praticamente ningum pensa na Alemanha Nazista como umestado socialista. muito mais comum se acreditar que ela representou uma forma de capitalismo, aquilo que

    comunistas e marxistas em geral tm alegado.

    A base do argumento de que a Alemanha Nazista era capitalista o fato de que a maioria das indstrias foi

    aparentemente deixada em mos privadas.

    O que Mises identificou foi que a propriedade privada dos meios de produo existia apenas nominalmentesob o regime Nazista, e que o verdadeiro contedo da propriedade dos meios de produo residia no

    governo alemo. Pois era o governo alemo e no o proprietrio privado nominal quem decidia o que

    deveria ser produzido, em qual quantidade, por quais mtodos, e a quem seria distribudo, bem como quais

    preos seriam cobrados e quais salrios seriam pagos, e quais dividendos ou outras rendas seria permitido

    ao proprietrio privado nominal receber.

    A posio do que se alega terem sido proprietrios privados era reduzida essencialmente funo de

    pensionistas do governo, como Mises demonstrou.

    A propriedade governamental "de fato" dos meios de produo, como Mises definiu, era uma consequncia

    lgica de princpios coletivistas fundamentais adotados pelos nazistas como o de que o bem comum vem

    antes do bem privado e de que o indivduo existe como meio para os fins do estado. Se o indivduo um

    meio para os fins do estado, ento, claro, tambm o sua propriedade. Do mesmo modo em que ele

    pertence ao estado, sua propriedade tambm pertence.

    Mas o que especificamente estabeleceu o socialismo "de fato" na Alemanha Nazista foi a introduo do

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    controle de preos e salrios em 1936. Tais controles foram impostos como resposta ao aumento naquantidade de dinheiro na economia praticada pelo regime nazista desde a poca da sua chegada ao poder,

    no incio de 1933. O governo nazista aumentou a quantidade de dinheiro no mercado como meio de financiar

    o vasto aumento nos gastos governamentais devido a seus programas de infraestrutura, subsdios e

    rearmamento. O controle de preos e salrios foi imposto em resposta ao aumento de preos resultante

    desta inflao.

    O efeito causado pela combinao entre inflao e controle de preos foi a escassez, ou seja, a situao na

    qual a quantidade de bens que as pessoas tentam comprar excede a quantidade disponvel para a venda.

    As escassezes, por sua vez, resultam em caos econmico. No se trata apenas da situao em que

    consumidores que chegam mais cedo esto em posio de adquirir todo o estoque de bens, deixando o

    consumidor que chega mais tarde sem nada -- uma situao a que os governos tipicamente respondem

    impondo racionamentos. Escassezes resultam em caos por todo o sistema econmico. Elas tornam aleatria

    a distribuio de suprimentos entre as regies geogrficas, a alocao de um fator de produo dentre seus

    diferentes produtos, a alocao de trabalho e capital dentre os diferentes ramos do sistema econmico.

    Face combinao de controle de preos e escassezes, o efeito da diminuio na oferta de um item no ,como seria em um mercado livre, o aumento do preo e da lucratividade, operando o fim da diminuio da

    oferta, ou a reverso da diminuio se esta tiver ido longe demais. O controle de preos probe o aumentodo preo e da lucratividade. Ao mesmo tempo, as escassezes causadas pelo controle de preos impedem

    que aumentos na oferta reduzam o preo e a lucratividade de um bem. Quando h uma escassez, o efeito deum aumento na oferta apenas a reduo da severidade desta escassez. Apenas quando a escassez

    totalmente eliminada que um aumento na oferta necessita de uma diminuio no preo, trazendo consigouma diminuio na lucratividade.

    Como resultado, a combinao de controle de preos e escassezes torna possveis movimentos aleatrios deoferta sem qualquer efeito no preo ou na lucratividade. Nesta situao, a produo de bens dos mais triviais

    e desimportantes, como bichinhos de pelcia, pode ser expandida custa da produo dos bens importantese necessrios, como medicamentos, sem efeito sobre o preo ou lucratividade de nenhum dos bens. O

    controle de preos impediria que a produo de remdios se tornasse mais lucrativa, conforme a sua ofertafosse diminuindo, enquanto a escassez mesmo de bichinhos de pelcia impediria que sua produo se

    tornasse menos lucrativa conforme sua oferta fosse aumentando.

    Como Mises demonstrou, para lidar com os efeitos indesejados decorrentes do controle de preos, ogoverno deve abolir o controle de preos ou ampliar tais medidas, precisamente, o controle sobre o que

    produzido, em qual quantidade, por meio de quais mtodos, e a quem distribudo, ao qual me referianteriormente. A combinao de controle de preos com estas medidas ampliadas constituem a socializao

    "de fato" do sistema econmico. Pois significa que o governo exerce todos os poderes substantivos depropriedade.

    Este foi o socialismo institudo pelos nazistas. Mises o chama de modelo alemo ou nazista de socialismo, emcontraste ao mais bvio socialismo dos soviticos, ao qual ele chama de modelo russo ou bolchevique de

    socialismo.

    O socialismo, claro, no acaba com o caos causado pela destruio do sistema de preos. Ele apenasperpetua esse caos. E se introduzido sem a existncia prvia de controle de preos, seu efeito inaugurar

    este mesmo caos. Isto porque o socialismo no um sistema econmico verdadeiramente positivo. meramente a negao do capitalismo e seu sistema de preos. E como tal, a natureza essencial do socialismo

    a mesma do caos econmico resultante da destruio do sistema de preos por meio do controle de

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    preos e salrios.

    (Quero demonstrar que a imposio de cotas de produo no estilo bolchevique de socialismo, com apresena de incentivos por todos os lados para que estas sejam excedidas, uma frmula certa para a

    escassez universal da mesma forma como ocorre quando se controla preos e salrios.)

    No mximo, o socialismo meramente muda a direo do caos. O controle do governo sobre a produopode tornar possvel uma maior produo de alguns bens de especial importncia para si mesmo, mas faz

    isso custa de uma devastao de todo o resto do sistema econmico. Isto porque o governo no tem comosaber dos efeitos no resto do sistema econmico da sua garantia da produo dos bens aos quais atribui

    especial importncia.

    Os requisitos para a manuteno do sistema de controle de preos e salrios trazem luz a naturezatotalitria do socialismo -- mais obviamente, claro, na variante alem ou nazista de socialismo, mas tambm

    no estilo sovitico.

    Podemos comear com o fato de que o autointeresse financeiro dos vendedores operando sob o controle depreos seja de contornar tais controles e aumentar seus preos. Compradores, antes impossibilitados de

    obter os bens, esto dispostos a -- na verdade, ansiosos para -- pagar estes preos mais altos como meio degarantir os bens por eles desejados. Nestas circunstncias, o que pode impedir o aumento dos preos e odesenvolvimento de um imenso mercado negro?

    A resposta a combinao de penas severas com uma grande probabilidade de ser pego e, ento, realmentepunido. provvel que meras multas no gerem a dissuaso necessria. Elas sero tidas como simplesmenteum custo adicional. Se o governo deseja realmente fazer valer o controle de preos, necessrio que

    imponha penalidades comparadas quelas dos piores crimes.

    Mas a mera existncia de tais penas no o bastante. O governo deve tornar realmente perigosa a conduode transaes no mercado negro. Deve fazer com que as pessoas temam que agindo desta forma possam, de

    alguma maneira, ser descobertas pela polcia, acabando na cadeia. Para criar tal temor, o governo deve criarum exrcito de espies e informantes secretos. Por exemplo, o governo deve fazer com que o dono da loja eo seu cliente tenham medo de que, caso venham a se engajar em uma transao no mercado negro, algum

    outro cliente na loja v lhe informar.

    Devido privacidade e sigilo em que muitas transaes no mercado negro ocorrem, o governo deve aindafazer com que qualquer participante de tais transaes tenha medo de que a outra parte possa ser um agente

    da polcia tentando apanh-lo. O governo deve fazer com que as pessoas temam at mesmo seus parceiros

    de longa data, amigos e parentes, pois at eles podem ser informantes.

    E, finalmente, para obter condenaes, o governo deve colocar a deciso sobre a inocncia ou culpa em

    casos de transaes no mercado negro nas mos de um tribunal administrativo ou seus agentes de polcia

    presentes. No pode contar com julgamentos por jris, devido dificuldade de se encontrar nmerosuficiente de jurados dispostos a condenar a vrios anos de cadeia um homem cujo crime foi vender alguns

    quilos de carne ou um par de sapatos acima do preo mximo fixado.

    Em suma, a partir da o requisito apenas para a aplicao das regulamentaes de controle de preos aadoo de caractersticas essenciais de um estado totalitrio, nominalmente o estabelecimento de uma

    categoria de "crimes econmicos", em que a pacfica busca pelo autointeresse material tratada como uma

    ofensa criminosa grave. Para tanto necessrio o estabelecimento de um aparato policial totalitrio, repleto

    de espies e informantes, com o poder de prises arbitrrias.

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    Claramente, a imposio e a fiscalizao do controle de preos requerem um governo similar Alemanha de

    Hitler ou Rssia de Stalin, no qual praticamente qualquer pessoa pode ser um espio da polcia e no qual

    uma polcia secreta existe e tem o poder de prender pessoas. Se o governo no est disposto a ir to longe,ento, nesta medida, o controle de preos se prova inaplicvel e simplesmente entra em colapso. Nesse

    caso, o mercado negro assume maiores propores.

    (Observao: no estou sugerindo que o controle de preos foi a causa do reino de terror institudo pelosnazistas. Estes iniciaram seu reino de terror bem antes da decretao do controle de preos. Como

    resultado, o controle de preos foi decretado em um ambiente feito para a sua aplicao.)

    As atividades do mercado negro exigem o cometimento de outros crimes. Sob o socialismo "de fato", a

    produo e a venda de bens no mercado negro exige o desafio s regulamentaes governamentais no que

    diz respeito produo e distribuio, bem como o desafio ao controle de preos. Por exemplo, o

    governo pretende que os bens que so vendidos no mercado negro sejam distribudos de acordo com seuplanejamento, e no de acordo com o do mercado negro. O governo pretende, igualmente, que os fatores de

    produo usados para se produzir aqueles bens sejam utilizados de acordo com o seu planejamento, e no

    com o propsito de suprir o mercado negro.

    Sobre um sistema socialista "de direito", como o que existia na Rssia sovitica, no qual o ordenamento

    jurdico do pas aberta e explicitamente tornava o governo o proprietrio dos meios de produo, toda a

    atividade do mercado negro, necessariamente, exige a apropriao indbita ou o roubo da propriedade

    estatal. Por exemplo, considerava-se que os trabalhadores e gerentes de fbricas na Rssia sovitica quetiravam produtos destas para vender no mercado negro estavam roubando matria-prima fornecida pelo

    estado.

    Alm disso, em qualquer tipo de estado socialista -- nazista ou comunista --, o plano econmico do governo

    parte da lei suprema do pas. Temos uma boa ideia de quo catico o chamado processo de

    planejamento do socialismo. O distrbio adicional causado pelo desvio, para o mercado negro, de

    suprimentos de produo e outros bens algo que o estado socialista toma como um ato de sabotagem aoplanejamento econmico nacional. E sabotagem como o ordenamento jurdico dos estados socialistas se

    refere a isto. Em concordncia com este fato, atividades de mercado negro so, com frequncia, punidas

    com pena de morte.

    Um fato fundamental que explica o reino de terror generalizado encontrado sob o socialismo o incrvel

    dilema em que o estado socialista se coloca em relao massa de seus cidados. Por um lado, o estado

    assume total responsabilidade pelo bem-estar econmico individual. O estilo de socialismo russo ou

    bolchevique declara abertamente esta responsabilidade -- esta a fonte principal do seu apelo popular. Poroutro lado, o estado socialista desempenha essa funo de maneira desastrosa, tornando a vida do indivduo

    um pesadelo.

    Todos os dias de sua vida, o cidado de um estado socialista tem de perder tempo em infindveis filas de

    espera. Para ele, os problemas enfrentados pelos americanos com a escassez de gasolina nos anos 1970 so

    normais; s que ele no enfrenta este problema em relao gasolina -- pois ele no tem um carro e nem a

    esperana de ter -- mas sim em relao a itens de vesturios, verduras, frutas, e at mesmo po.

    Pior ainda: ele forado a trabalhar em um emprego que no foi por ele escolhido e que, por isso, deve

    odiar. (J que sob escassezes, o governo acaba por decidir a alocao de trabalho da mesma maneira que

    faz com a alocao de fatores de produo materiais.) E ele vive em uma situao de inacreditvelsuperlotao, com quase nenhuma chance de privacidade. Frente escassez habitacional, pessoas estranhas

    so designados pelo governo a morarem juntas; famlias so obrigadas a compartilhar apartamentos. Um

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    sistema de passaportes e vistos internos adotado a fim de limitar a severidade da escassez habitacional emreas mais desejveis do pas. Expondo suavemente, uma pessoa forada a viver em tais condies deve

    ferver de ressentimento e hostilidade.

    Contra quem seria lgico que os cidados de um estado socialista dirigissem seu ressentimento e hostilidadese no o prprio estado socialista? Contra o mesmo estado socialista que proclamou sua responsabilidade

    pela vida deles, prometeu uma vida de bno, e que responsvel por proporcionar-lhes uma vida de

    inferno. De fato, os dirigentes de um estado socialista vivem um dilema no qual diariamente encorajam o

    povo a acreditar que o socialismo um sistema perfeito em que maus resultados s podem ser fruto dotrabalho de pessoas ms. Se isso fosse verdade, quem poderiam ser estas pessoas ms seno os prprios

    lderes, que no apenas tornaram a vida um inferno, mas perverteram a este ponto um sistema supostamente

    perfeito?

    A isso se segue que os dirigentes de um estado socialista devem temer seu povo. Pela lgica das suas aes

    e ensinamentos, o fervilhante e borbulhante ressentimento do povo deveria jorrar e engoli-los numa orgia de

    vingana sangrenta. Os dirigentes sentem isso, ainda que no admitam abertamente; e, portanto, a sua maiorpreocupao sempre manter fechada a tampa da cidadania.

    Consequentemente, correto, mas bastante inadequado, dizer apenas que "o socialismo carece de liberdade

    de imprensa e expresso." Carece, claro, destas liberdades. Se o governo dono de todos os jornais egrficas, se ele decide para quais propsitos a prensa e o papel devem ser disponibilizados, ento

    obviamente nada que o governo no desejar poder ser impresso. Se a ele pertencem todos os sales de

    assemblias e encontros, nenhum pronunciamento pblico ou palestra que o governo no queira no poder

    ser feita. Mas o socialismo vai muito alm da mera falta de liberdade de imprensa e de expresso.

    Um governo socialista aniquila totalmente estas liberdades. Transforma a imprensa e todo foro pblico em

    veculos de propaganda histrica em prol de si mesmo, e pratica cruis perseguies a todo aquele que ouse

    desviar-se uma polegada da linha do partido oficial.

    A razo para isto o medo que o dirigente socialista tem do povo. Para se proteger, eles devem ordenar que

    o ministrio da propaganda e a polcia secreta faam de tudo para reverter este medo. O primeiro devetentar desviar constantemente a ateno do povo quanto responsabilidade do socialismo, e dos dirigentes

    socialistas, em relao misria do povo. O outro deve desestimular e silenciar qualquer pessoa que possa,

    mesmo que remotamente, sugerir a responsabilidade do socialismo ou de seus dirigentes em relao misria

    do povo -- ou seja, deve desestimular qualquer um que comece a mostrar sinais de estar pensando por simesmo.

    por causa do terror dos dirigentes, e da sua necessidade desesperada de encontrar bodes-expiatrios para

    as falhas do socialismo, que a imprensa de um pas socialista est sempre cheia de histrias sobreconspiraes e sabotagens estrangeiras, e sobre corrupo e mau gerenciamento da parte de oficiais

    subordinados, e por que, periodicamente, necessrio desmascarar conspiraes domsticas e sacrificar

    oficiais superiores e faces inteiras do partido em gigantescos expurgos.

    E por causa do seu terror, e da sua necessidade desesperada de esmagar qualquer suspiro de oposio em

    potencial, que os dirigentes do socialismo no ousam permitir nem mesmo atividades puramente culturais que

    no estejam sob o controle do estado. Pois se o povo se rene para uma amostra de arte ou um sarau de

    literrio que no seja controlado pelo estado, os dirigentes devem temer a disseminao de idias perigosas.Quaisquer idias no-autorizadas so idias perigosas, pois podem levar o povo a pensar por si mesmo e, a

    partir da, comear a pensar sobre a natureza do socialismo e de seus dirigentes. Estes devem temer a

    reunio espontnea de qualquer punhado de pessoas em uma sala, e usar a polcia secreta e seu aparato de

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    espies, informantes, e mesmo o terror para impedir tais encontros ou ter certeza de que seu contedo

    inteiramente inofensivo do ponto de vista do estado.

    O socialismo no pode ser mantido por muito tempo, exceto por meio do terror. Assim que o terror relaxado, ressentimento e hostilidade logicamente comeam a jorrar contra seus dirigentes. O palco est

    montado, ento, para uma revoluo ou uma guerra civil. De fato, na ausncia de terror, ou, mais

    corretamente, de um grau suficiente de terror, o socialismo seria caracterizado por uma infindvel srie derevolues e guerras civis, conforme cada novo grupo dirigente se mostrasse to incapaz de fazer o

    socialismo funcionar quanto foram seus predecessores.

    A inescapvel concluso a ser traada a de que o terror experimentado nos pases socialistas no foi

    simplesmente culpa de homens maus, como Stalin, mas sim algo que brota da natureza do sistema socialista.

    Stalin vem frente porque sua incomum perspiccia e disposio ao uso do terror foram as caractersticasespecficas mais necessrias para um lder socialista se manter no poder. Ele ascendeu ao topo por meio de

    um processo de seleo natural socialista: a seleo do pior.

    Por fim, necessrio antecipar um possvel mal-entendido em relao minha tese de que o socialismo

    totalitrio por natureza. Diz respeito aos pases supostamente socialistas dirigidos por social-democratas,

    como a Sucia e outros pases escandinavos, que claramente no so ditaduras totalitrias.

    Neste caso, necessrio que se entenda que no sendo estes pases totalitrios, no so tambm socialistas.Os partidos que os governam podem at sustentar o socialismo como sua filosofia e seu fim ltimo, mas

    socialismo no o que eles implementaram como seu sistema econmico. Na verdade, o sistema econmico

    vigente em tais pases a economia de mercado obstruda, como Mises definiu. Ainda que seja mais

    obstrudo do que o nosso em aspectos importantes, seu sistema econmico essencialmente similar ao

    nosso, no qual a fora motora caracterstica da produo e da atividade econmica no o governo, mas

    sim a iniciativa privada motivada pela perspectiva de lucro.

    A razo pela qual social-democratas no estabelecem o socialismo quando esto no poder, que eles no

    esto dispostos a fazer o que seria necessrio. O estabelecimento do socialismo como um sistema

    econmico requer um ato massio de roubo -- os meios de produo devem ser expropriados de seus

    donos e tomados pelo estado. virtualmente certo que tais expropriaes provoquem grande resistncia por

    parte dos proprietrios, resistncia que s pode ser vencida pelo uso de fora bruta.

    Os comunistas estavam e esto dispostos a usar esta fora, como evidenciado na Unio Sovitica. Seu

    carter o dos ladres armados preparados para matar caso isso seja necessrio para dar cabo dos seusplanos. O carter dos social-democratas, em contraste, mais prximo ao dos batedores de carteira: eles

    podem at falar em coisas grandiosas, mas no esto dispostos a praticar a matana que seria necessria; e

    desistem ao menor sinal de resistncia sria.

    J os nazistas, em geral no tiveram que matar para expropriar a propriedade dos alemes, fora os judeus.

    Isto porque, como vimos, eles estabeleceram o socialismo discretamente, por meio do controle de preos,

    que serviu para manter a aparncia de propriedade privada. Os proprietrios eram, ento, privados da suapropriedade sem saber e, portanto, sem sentir a necessidade de defend-la pela fora.

    Creio ter demonstrado que o socialismo -- o socialismo de verdade -- totalitrio pela sua prpria natureza.

    Traduo de Fbio M. Ostermann

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