Georges Resumo

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Privilégios consuetudinários Fertilidade local decorrente da própria ocupação humana Dependência das florestas, bosques e pastos livres para a subsistência 3. A Economia Medieval e a condição periférica da Europa Ocidental no Mediterrâneo (sécs. XI-XV) Parte 1 – A Expansão Agrícola dos Séculos IX-X 1. A Aldeia camponesa como espaço econômico fundamental nos séculos IX-X - Enraizamento geográfico

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Privilégios consuetudinários Fertilidade local decorrente da própria ocupação humana Dependência das florestas, bosques e pastos livres para a subsistência

3. A Economia Medieval e a condição periférica da Europa Ocidental no Mediterrâneo (sécs. XI-XV)

Parte 1 – A Expansão Agrícola dos Séculos IX-X 1. A Aldeia camponesa como espaço econômico fundamental nos séculos IX-X

- Enraizamento geográfico

Mansos: parcelas aráveis atribuídas às famílias camponesas Appendicia: direitos de exploração de terras comuns (baldios), hortas, bosques, etc.

Por vezes, mais do que uma família por manso Por vezes, mesma família dispunha de mais mansos (desigualdade camponesa) Área arável altamente variável Nem toda família dispõe de um manso (retalhos de terras não integrados à comunidade) Famílias maiores nem sempre tem os maiores e melhores mansos Sistema de tributação repousa sobre base tributária irreal

- Estrutura territorial da aldeia camponesa

- Mansos eram a base da tributação, quando aldeias estavam sob controle de um senhor

2. O Manso camponês era uma definição precisa?

- Em tese, manso é terra para manter uma família, suficiente para o trabalho de uma charrua

Manso senhorial: como o manso camponês, tem por função manter a família do senhor Mansos camponeses Appendicia

3. As Vilas e a Economia Senhorial

- Grandes fortunas dispunham de inúmeros conjuntos de terras dispersos (vilas) - Dispersão das vilas provém dos processos de doação de terras (leigos para clérigos) e partilhas hereditárias - Estrutura territorial de uma vila senhorial

Ter liberdade para comer o quanto quiser e desperdiçar alimentos é sinal de status Alimentar outros seres humanos é um ato de poder Poder pessoal deriva do número de alimentandos e dependentes na “casa” aristocrática

Administradores precisavam de planejamento para elevar produção e evitar privações ao senhor Não é busca do lucro, e sim busca do ócio.

4. A Função da Economia Medieval é o consumo - Na economia camponesa, trabalho e excedente tem por função a maior privação de necessidades possível - Na economia senhorial, propriedade e investimento tem por função o “ócio aristocrático” - Consumo de alimentos é elemento de hierarquização social - Para manter o ócio aristocrático é preciso administração econômica “racional”

Exploração extrativa nas appendicia era absolutamente fundamental

5. Perfil da ocupação territorial na Europa (séculos IX-X)

- Concentração de população em poucas áreas férteis - Grandes vazios populacionais em áreas cuja técnica não permite exploração - Disponibilidade de mão-de-obra é altamente desigual entre regiões - Territórios selvagens vs. áreas superpovoadas: miséria dos dois lados

6. Forças produtivas limitam a ocupação do território

- Tecnologia limitava a exploração agrícola a alguns tipos de solos - Expansão das aldeias era entravada pela tecnologia disponível - Superpovoamento gerava doença e conflito, permitindo o controle populacional - Muita mão-de-obra era necessária para pouco retorno na agricultura

Uso do ferro era diminuto na construção de instrumentos agrícolas Tornava dependência dos camponeses perante o senhor ainda mais intensa

7. Domínio da tecnologia era fator de hierarquização

- Aluguel dos moinhos rendia tanto cereal aos senhores quanto o próprio manso senhorial - Arados e aivecas permitiam a ocupação de solos considerados “improdutivos” - Camponeses, contudo, tinham pouco acesso a estes instrumentos (predomínio da enxada)

Condições climáticas no sul eram diferentes, requerendo outra sazonalidade Fontes se restringem à propriedades reais e eclesiásticas (renovatio)

Fontes indicam péssima produtividade, mas celeiros cheios Grau de previsibilidade deveria ser pequeno

8. A produtividade da economia agrícola medieval

- Mito do “sistema de três campos”

- Longos pousios, dispersão de sementes, pouco adubo - Produtividade incerta (2:1, 1,5:1)

Utilizada amplamente para o trabalho no manso senhorial (renda-trabalho) Muitos escravos eram instalados em mansos camponeses (chamados servis) Jovens da família serviam na casa senhorial Eram bens móveis (comercializáveis) Trabalhando somente no manso senhorial, eram mantidos com as taxas dos moinhos

Distribuição do trabalho agrícola era desigual ao longo do ano Em épocas de pico, contrato de trabalhadores para completar as equipes Muitos eram expropriados, imigrantes, mas nem todos Jornaleiros eram pagos com dinheiro (raramente), alimentos, ou mesmo com mansos

9. As relações de produção na economia medieval dos séculos IX-X

- Escravos (servus)

- Assalariados

Normalmente forneciam animais e alimentos (renda-espécie) Quando obrigados a fornecer renda-trabalho, em muitos casos usavam seus escravos

Geralmente escravos com posse da terra, mas não necessariamente Pagavam fundamentalmente renda-trabalho Eram os primeiros a ser alocados para missões fora dos domínios do senhor (“noites”)

- Agricultores em mansos livres (libellarii)

- Agricultores em mansos servis

Em muitos casos, dispersão geográfica das tenures camponesas sob controle de um senhor Casa senhorial pode ser apenas centro de cobrança, tendo ao redor somente mansos servis Na Germânia, presença hegemônica de escravos Nos domínios senhoriais italianos trabalham assalariados e escravos, mas a maioria os foreiros são libellarii

10. Existe um “modelo clássico” capaz de descrever historicamente a economia senhorial?

- Modelo clássico de interpretação não se verifica na maior parte das unidades senhoriais

Rendas das igrejas rurais Empregos sazonais oferecidos ao camponeses livres Manejo da justiça, da proteção e socorro mútuo

11. As aldeias livres e suas relações com a economia senhorial

- Nem toda economia medieval pertence à economia senhorial - Há muitas aldeias livres, onde camponeses compram e vendem terras, enriquecem, etc. - Comunidade aldeã pode congregar camponeses de dentro e de fora dos domínios senhoriais - Havia, contudo, formas de um senhor explorar aldeias livres

Vasto desperdício de mão-de-obra

Rede de transporte para levar bens de uma a outra vila era necessária

12. A importância dos transportes na economia senhorial

- Domínios senhoriais dispersos normalmente em muitas vilas distantes entre si - Senhores utilizavam terras em diferentes regiões e climas para diferentes produtos - Numa própria vila, as terras podem não ser contíguas (cortadas por colinas, pântanos, terras de outros senhores) - Grande parte das missões impostas aos servos fora do domínio (“noites”) eram missões de transporte

- Aristocracia vagava pelos seus domínios dispersos

Produtividade incerta gerava épocas de abundância e outras de fome Viajantes, transportadores, soldados, todos precisam ser alimentados enquanto não trabalham Mercado per denerata: pequenas dimensões, sem função “interna” ao sistema econômico Senhores cobravam impostos pela atividade comercial eventual de seus camponeses

Dificuldade de transportes levava administradores das vilas a, eventualmente, vender o produto Senhores interessados em moedas metálicas, e pagamentos dos foreiros não eram suficientes Esmolas e doações eram, contudo, mas freqüentes que vendas

13. Importância do comércio na economia agrária medieval

- Para a economia camponesa

- Para a economia senhorial

Dons, contra-dons, partilhas, doações (especialmente para a Igreja) Domínios se desfaziam e se recriavam com freqüência, em regiões cada vez mais apartadas Mansos recém-criados tinham grande autonomia (pela distância, pela falta de mão-de-obra) O deslocamento de camponeses para novos mansos era recompensado pela métayage

A perda de terras de um senhor deixava seus camponeses ociosos Perder camponeses era o mesmo que perder dependentes, e logo, poder

Mansos lotados conviviam com mansos vazios Se havia superpopulação em um manso, ele era dividido, e tributação se impunha sobre as partes Comércio enriquecia algumas famílias, que compravam e vendiam terras Equilíbrio entre a tributação e capacidade de produzir era rompido

14. A economia medieval em crise permanente

- Estrutura territorial das vilas era mutante

- Instabilidade na constituição dos mansos camponeses (servis ou livres)

“Feudos” eram concedidos a senhores laicos Oblatos � filhos da nobreza decadente administram terras que foram da família (“terceirização”)

Monges não podiam se deslocar para as diversas vilas monacais para consumir seus produtos Regime alimentar pressupunha regra estrita Faziam contratos com administradores autônomos (firmarius) Os Firmarii tinham autonomia para exigir corvéias e vender a produção caso achassem conveniente

Parte 2 – As Mudanças nos Séculos XI-XIII 1. Expansão da propriedade eclesiástica, retração da propriedade laica

- Resultado de dois séculos de doações e transferências para a Igreja, feitas por nobres e camponeses - Novas terras resultavam em problema para a Igreja Católica: como administrá-las?

- Mosteiros não compartilhavam da “economia de consumo” laica

Muitos nobres detinham terras de dimensões camponesas

Expansão das terras aráveis sobre bosques e florestas Conflito com os direitos consuetudinários da aldeia camponesa Expansão sobre terras de baixa fertilidade Expansão da fronteira agrícola muito além do potencial e da técnica disponíveis

2. Diferenciação social e econômica no interior da aristocracia laica: a pequena nobreza

- Empobrecimento de grande parte da aristocracia laica - Expansão da “pequena nobreza”

- Nobreza empobrecida tenta compensar suas perdas através do arroteamento

Grandes Senhores tornam-se “suseranos” de aristocratas empobrecidos Em troca de terras, vassalos prestam juramento de lealdade militar e política Os vassalos normalmente gerenciam a agricultura e não contam com administradores

3. Os “Grandes Senhores” dos séculos XI-XIII

- Se grande parte da aristocracia empobrecia, uma pequena parcela expandia seu poder econômico - Grandes Senhores completamente desligados do mundo da produção - Vassalagem

Poder de estabelecer a paz, a guerra e a justiça Poder de tributar em troca de “proteção”

Tradicionalmente, escravos são objeto do direito privado, e homens livres, do direito público Grandes senhores submetem progressivamente mansos livres e servis ao seu poder Diluição das fronteiras entre o público e o privado Grandes senhores submetem à sua influência escravos sob poder de outros senhores menores

4. Os “Grandes Senhores” e a expansão do poder privado (séculos XI-XIII)

- Expansão do poder privado é conclusão do processo de dissolução do Império Carolíngio - Castelos dos grandes senhores tornam-se centros de novas espacialidades políticas - Senhores apropriam-se do poder de Ban (“poder banal”)

- As fronteiras entre mansos livres e mansos servis é diluída

1/3 de toda indenização paga a terceiros, após decisão judicial Multas de valores variados, decorrentes de infrações Taxas sobre casamentos, para compensar a perda de um jovem recrutável para o serviço doméstico Direito de mão-morta Taxas diversas (policiais, colheita, passagem, transporte, comerciais, etc)

5. As vantagens econômicas do exercício do poder banal

- Administração da justiça rendia muito mais que qualquer atividade agrícola

Administradores dos moinhos, igrejas, da lei, tudo em nome dos poderes banais Em duas ou três gerações, alcançavam fortuna compatível com pequena nobreza Acabavam rompendo seus laços com senhores e conquistando poder banal para si Tinham laços locais e conhecimento das comunidades, o que facilitava o poder pessoal

5. Surgimento da “aristocracia camponesa”: ministeriais e meirinhos

- Ascensão social de famílias camponesas responsáveis pela administração econômica ou da justiça

6. Comutação da renda-trabalho em renda-dinheiro (século XII)

- Requisição de corvéias e renda-espécie começa a cair em desuso - Base de cobrança apresenta tendência à individualização (manso perde importância como unidade tributária) - Recursos monetários obtidos eram usados para o pagamento de jornaleiros no manso senhorial - Redução da exploração direta pelos senhores (expansão dos mansos camponeses, redução do senhorial)

Dividas penhoradas colocavam terras nas mãos de financistas urbanos “Novos ricos” vindo das cidades compram terras e direitos senhoriais (banais) Camponeses ricos também foram capazes de comprar terras e direitos senhoriais

7. Mobilização da riqueza e economia monetária em expansão (séculos XII-XIV)

- Expansão do consumo suntuário e da necessidade de moeda pela aristocracia rural - Endividamento torna-se comportamento normal entre aristocratas - Expansão do poder dos credores urbanos sobre o campo - Endividamento da aristocracia

Valor dos bens era convertido em moeda, e fixado em contrato Contratos eram normalmente hereditários e não-reajustáveis Inflação então depreciava o valor das obrigações servis em dinheiro

8. Expansão monetária dos séculos XII-XIII beneficiava camponeses

- Aviltamento da moeda, desvalorização e encarecimento do preço da terra - Conversão da renda-trabalho para renda-dinheiro seguia a tradição:

Dívidas pagas com transferência de produtos agrícolas para os credores Financistas obtinham alimentos sem se preocupar com a sazonalidade dos preços e da oferta Financistas chegavam a substituir camponeses como fornecedores de alimentos para a cidade Muitos destes credores não eram financistas urbanos, e sim senhores feudais

9. Endividamento do campesinato cancelou vantagens obtidas com a inflação

- Necessidade de moeda por parte dos camponeses levava a operações de penhora e venda de terras - Intocabilidade da propriedade da terra já era letra morta - Camponeses fragmentavam seus mansos, vendendo ou alugando seus direitos em troca de moeda - Endividamento com credores

10. Aldeias e cidades, os poderes banais e as cartas de franquia

- Grandes senhores vendiam “franquias” para livrar aldeias e cidades de seu poder banal - As somas em dinheiro eram vastas, e em muitos casos, o próprio senhor banal financiava a compra da franquia - Neste caso, dependência se renova sob outra lógica (a da dívida monetária contratual) - Franquias restabeleciam a separação entre francus e servus e fixavam obrigações em contrato (evitando o arbítrio)

Chuvas torrenciais, com ponto extremo em 1315-1317 Início da “Pequena Era Glacial” e fim do “Ótimo Climático Medieval”

Cultura dos cereais se torna impossível na Islândia Altitude das florestas se retrai, diante do avanço das geleiras

Parte 3 – A Crise do Século XIV 1. Causas imediatas da crise do século XIV

- Expansão demográfica e agricultura em terras inférteis � crise agrícola e fome - Alterações climáticas

- Início do processo de formação dos Estados Modernos: guerras, tributos, pilhagens - Epidemias e a Peste Negra (1348-1349)

Proteção contra as guerras e saques Salários urbanos ainda eram mais altos que os rurais

2. Alteração das tendências econômicas no século XIV

- Declínio demográfico leva à suspensão do processo de comutação da renda feudal - Salários rurais disparam e preços dos bens agrícolas despencam - Retração do processo de assalariamento no campo e da expansão da economia monetária - Fim dos arroteamentos e retração da área plantada na Europa - Reconcentração populacional nas áreas anteriormente férteis - Êxodo para as cidades

Antigos ministeriais, fracassados com o declínio da economia senhorial Comerciantes e financistas urbanos Camponeses prósperos (vão contratar os mais pobres e romper solidariedade da aldeia)

3. Falência geral da economia senhorial no século XIV

- Camponeses sobreviventes têm terra em abundância - Carência geral de mão-de-obra leva ao declínio da exploração direta e ao arrendamento - Arrendamento leva ao absenteísmo � aristocracia ruma para as cidades - Parcelamento dos domínios e retração da grande exploração rural - Quem eram os novos arrendatários? - Retração das rendas feudais em detrimento das rendas agrícolas - Aristocracia perde progressivamente os poderes banais diante do avanço dos Estados Modernos

Soberanos, para manter lealdade e obter subsídios monetários, preservam poderes banais Declínio populacional não levou ao arrendamento Poder dos senhores permitiu a chamada “segunda servidão”

Nos arredores de Gênova, vida urbana reanimava o “feudalismo” rural Comerciantes urbanos financiaram senhores feudais para a renovação de suas propriedades Coltura Promiscua � aproximar o campo feudal da cidade mercantil

4. Dois casos distintos de fortalecimento da economia senhorial no século XIV

- Germânia - Norte da Itália

5. O exemplo distinto da Inglaterra

- No século XI, não há declínio do poder real em favor dos poderes banais - Assembléias de homens livres continuavam a administrar a justiça em nome do “País” - Distinção entre servus e francus se mantém por todo o período - Estrutura fundiária deixada por Guilherme I se preserva (pequenos e fragmentados dos domínios senhoriais) - Sheriffs eram o poder do Rei e garantia da autoridade pública - Como poderes banais não foram fragmentados, senhores foram obrigados a expandir sua renda agrícola

Leituras recomendadas

BLOCH, Marc. A Sociedade Feudal. Lisboa, Edições 70, 1970.

CIPOLLA, Carlo. Before the Industrial Revolution: european society and economy, 1000-1700. 3° ed. Londres, Routledge,

1993.

DUBY, Georges. Economia Rural e Vida no Campo no Ocidente Medieval. Lisboa, Edições 70, 1987, 2 vol.

HODGETT, Gerald A. J. História Social e Econômica da Idade Média. 2a. ed. Rio de Janeiro, Zahar, 1982.

Le GOFF, Jacques. As raízes medievais da Europa. Trad. Jaime Clasen. Petrópolis, Vozes. 2007,

Detalhes de uma aldeia (residências e appendicia)

O uso dos bosques e florestas, no extrativismo e na alimentação dos animais

Uso comum dos bosques e florestas: a caça

O trabalho no manso senhorial : ao fundo, a área plantada; à frente, celeiro

Família camponesa livre trabalha faixa arável de seu manso; ao fundo, manor senhorial

Um manso livre: a tosa das ovelhas

Senhor alimenta seus dependentes: dominando o homem por meio do alimento

Camponeses levam seus grãos para serem moídos

Família aristocrática deslocando-se para uma nova vila

O mercado urbano