GeoturismoSlow_SãoPaulo

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GEOTURISMO E O MOVIMENTO SLOW EM PORTUGAL “uma vida rápida é uma vida superficial” Promove-se, desta forma, a compreensão e o usufruto da lentidão que, afinal de contas, não é estranha a quem orbita na área da Geologia e dos georrecursos, dado estar presente, por exemplo, na escala geológica do tempo e em muitos dos processos geológicos conhecidos ... Victor Lamberto 1 & Paulo Sá Caetano 2 1 Slow Food Alentejo, CERENA/Instituto Superior Técnico da UTL, Portugal; 2 CICEGE/Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL, Portugal O movimento Slow Food, despoletado em 1986, tem vindo a tornar-se um movimento crescentemente global, que está a desafiar o culto da velocidade, em áreas tão diversificadas como a alimentação, as cidades, a mente e o corpo, a medicina, o sexo, o trabalho, o lazer e as crianças (Honoré, 2006) Circuitos geoturísticos slow - principais objectivos: aumentar a consciência pública em relação à Geologia e aos georrecursos e sensibilizar as populações para a sua importância; encarar a Geologia e a Geodiversidade como o ponto de partida para a leitura do território, a camada de base sobre a qual assenta outra informação; aproximar as populações da natureza, valorizando os seus recursos, promovendo a sua recuperação para novos e antigos usos e dinamizando a economia local; procurar minimizar impactes negativos no território e o envolvimento da comunidade na conservação do património geológico e de outras especificidades da região; captar visitantes e aumentar o tempo de permanência nas regiões envolvidas, através do usufruto sustentado de património único e amiúde desconhecido; promover o desenvolvimento sustentado do interior do país, nomeadamente de comunidades rurais localizadas em zonas economicamente deprimidas. Em Portugal, ao longo dos últimos 15 anos, as actividades geoturísticas têm vindo a crescer exponencialmente. Contribuiu largamente para este aumento o programa de divulgação da ciência intitulado Ciência Viva, em particular através das acções Geologia no Verão. No entanto, na sua grande maioria, com excepção das actividades desenvolvidas nos recentemente criados Geoparques Naturtejo (em 2006) e Arouca (em 2009), estas actividades têm sido centradas na visita a locais com especial interesse geológico com o principal propósito de promover a ciência e os geossítios; para todos os efeitos, trata-se de turismo geológico. O projecto "Slow Itineraries", que o movimento Slow Food tem vindo a desenvolver em Portugal, promove a integração e o usufruto de paisagens, saberes e sabores de cada região, de uma forma lenta, respeitadora e valorizadora das comunidades locais e do território envolvidos, tendo sempre presente conceitos queridos ao movimento Slow, como a lentidão, o convívio, os produtos locais e sazonais, os alimentos bons, limpos e justos... Neste contexto e tendo como ponto de partida a geodiversidade da região visitada, foi criado um conjunto de itinerários com a designação de circuitos geoturísticos slow”, que pretendem valorizar o território onde se inserem, e onde o enquadramento e o património geológico surgem como ferramentas essenciais para a leitura da paisagem e como factor indutor de desenvolvimento e promoção turística, integrando outras áreas do saber e permitindo o usufruto do território de uma forma sustentável, mais aprofundada e, acima de tudo, lenta. Desta forma, o carácter já de si inovador do geoturismo é reforçado pela integração de outros saberes e da filosofia Slow. Os princípios inerentes a estas actividades geoturísticas aproximam-se, assim, do conceito de geoturismo mais como uma "abordagem" ao turismo do que como um "tipo" de turismo, à semelhança do entendimento inerente aos geoparques, apesar de não incluídos num território com essa classificação.

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Cartaz sobre o inovador projecto "Geoturismo Slow", apresentado em São Paulo (Brasil)

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  • GEOTURISMO E O MOVIMENTO SLOW EM PORTUGAL

    uma vida rpida uma vida superficial

    Promove-se, desta forma, a compreenso e o usufruto da lentido que, afinal de contas, no estranha a quem orbita na rea da Geologia e dos georrecursos, dado estar presente, por exemplo, na escala geolgica do tempo e em muitos dos

    processos geolgicos conhecidos ...

    Victor Lamberto1 & Paulo S Caetano21Slow Food Alentejo, CERENA/Instituto Superior Tcnico da UTL, Portugal; 2 CICEGE/Faculdade de Cincias e Tecnologia da UNL, Portugal

    O movimento Slow Food, despoletado em 1986, tem vindo a tornar-se um movimento crescentemente global, que est a desafiar o culto da velocidade, em reas to diversificadas como a alimentao, as cidades, a mente e o corpo, a medicina, o sexo, o trabalho, o lazer e as crianas (Honor, 2006)

    Circuitos geotursticos slow - principais objectivos: aumentar a conscincia pblica em relao Geologia e aos georrecursos e

    sensibilizar as populaes para a sua importncia; encarar a Geologia e a Geodiversidade como o ponto de partida para a leitura do

    territrio, a camada de base sobre a qual assenta outra informao; aproximar as populaes da natureza, valorizando os seus recursos, promovendo a

    sua recuperao para novos e antigos usos e dinamizando a economia local; procurar minimizar impactes negativos no territrio e o envolvimento da comunidade

    na conservao do patrimnio geolgico e de outras especificidades da regio; captar visitantes e aumentar o tempo de permanncia nas regies envolvidas,

    atravs do usufruto sustentado de patrimnio nico e amide desconhecido; promover o desenvolvimento sustentado do interior do pas, nomeadamente de

    comunidades rurais localizadas em zonas economicamente deprimidas.

    Em Portugal, ao longo dos ltimos 15 anos, as actividades geotursticas tm vindo a crescer exponencialmente. Contribuiu largamente para este aumento o programa de divulgao da cincia intitulado Cincia Viva, em particular atravs das aces Geologia no Vero. No entanto, na sua grande maioria, com excepo das actividades desenvolvidas nos recentemente criados Geoparques Naturtejo (em 2006) e Arouca (em 2009), estas actividades tm sido

    centradas na visita a locais com especial interesse geolgico com o principal propsito de promover a cincia e os geosstios; para todos os efeitos, trata-se de turismo geolgico.O projecto "Slow Itineraries", que o movimento Slow Food tem vindo a desenvolver em Portugal, promove a integrao e o usufruto de paisagens, saberes e sabores de cada regio, de uma forma lenta, respeitadora e valorizadora das

    comunidades locais e do territrio envolvidos, tendo sempre presente conceitos queridos ao movimento Slow, como a lentido, o convvio, os produtos locais e sazonais, os alimentos bons, limpos e justos...

    Neste contexto e tendo como ponto de partida a geodiversidade da regio visitada, foi criado um conjunto de itinerrios com a designao decircuitos geotursticos slow, que pretendem valorizar o territrio onde se inserem, e onde o enquadramento e o patrimnio geolgico surgem como ferramentas essenciais para a leitura da paisagem e como factor indutor de desenvolvimento e promoo turstica, integrando outras reas do saber e

    permitindo o usufruto do territrio de uma forma sustentvel, mais aprofundada e, acima de tudo, lenta.Desta forma, o carcter j de si inovador do geoturismo reforado pela integrao de outros saberes e da filosofia Slow.

    Os princpios inerentes a estas actividades geotursticas aproximam-se, assim, do conceito de geoturismo mais como uma "abordagem" ao turismo do que como um "tipo" de turismo, semelhana do entendimento inerente aos geoparques, apesar de no includos num territrio com essa classificao.