geral1

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aquando da minha busca pela compreensão dos três anos de estudo de arquitectura que antecedem o momento em que escrevo, apercebo-me que, a dado momento, foi despertado em mim um súbito interesse por aquilo que, numa primeira instância, achei ser arquitectura vernacular. desde que entrei em contacto com arquitectura, identifiquei-me com obras de certa forma minimais, sem muito ornamento, de desenho simples e muito claro. durante os primeiros dois anos do meu periodo académico procurei alcançar este tipo de pensamento arquitectónico, sem resultados que demonstrassem sucesso nesta busca. durante o meu terceiro ano na escola de arquitectura deparei-me com um livro que me despertou o interesse pela arquitectura vernacular, Architecture Without Architects, livro de Bernard Rudofsky publicado em 1964 a propósito da exposição com o mesmo título e do mesmo autor no MOMA em Nova Iorque. após analisar o livro e pesquisar mais sobre o assunto, apercebi-me que esta arquitectura sem arquitectos de Bernard Rudofsky tinha em muito a ver com o “tipo de pensamento arquitectónico” que procurara uns tempos antes, mesmo não havendo um pensamento arquitectónico erudito por detrás dos produtos de arquitectura que o livro ilustra. esta realização levou-me a intensificar a minha busca pela arquitectura vernacular e em parte pela arquitectura moçarabe, com a qual nunca havia tido contacto em estudo, tinha apenas visitado alguns vestígios deixados pelos povos árabes no sul de Espanha.

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  • aquando da minha busca pela compreenso dos trs anos de estudo de arquitectura que antecedem o momento em que escrevo, apercebo-me que, a dado momento, foi despertado em mim um sbito interesse por aquilo que, numa primeira instncia, achei ser arquitectura vernacular. desde que entrei em contacto com arquitectura, identifiquei-me com obras de certa forma minimais, sem muito ornamento, de desenho simples e muito claro. durante os primeiros dois anos do meu periodo acadmico procurei alcanar este tipo de pensamento arquitectnico, sem resultados que demonstrassem sucesso nesta busca.durante o meu terceiro ano na escola de arquitectura deparei-me com um livro que me despertou o interesse pela arquitectura vernacular, Architecture Without Architects, livro de Bernard Rudofsky publicado em 1964 a propsito da exposio com o mesmo ttulo e do mesmo autor no MOMA em Nova Iorque. aps analisar o livro e pesquisar mais sobre o assunto, apercebi-me que esta arquitectura sem arquitectos de Bernard Rudofsky tinha em muito a ver com o tipo de pensamento arquitectnico que procurara uns tempos antes, mesmo no havendo um pensamento arquitectnico erudito por detrs dos produtos de arquitectura que o livro ilustra. esta realizao levou-me a intensificar a minha busca pela arquitectura vernacular e em parte pela arquitectura moarabe, com a qual nunca havia tido contacto em estudo, tinha apenas visitado alguns vestgios deixados pelos povos rabes no sul de Espanha.

  • o estudo da arquitectura sem erudio, sem o pesar dos modelos, das referncias, uma arquitectura onde o seu objectivo acima de tudo evidente, uma arquitectura que claramente o saciar de uma necessidade do homem, fez-me questionar a pertinncia do estudo acadmico da disciplina. se esta arquitectura, to capaz e eficaz, tem origem numa mente sem estudo arquitectnico, apenas uma clara percecpo e conhecimento dos problemas que se prope solucionar, qual a necessidade de um estudo aprofundado da disciplina se nada mais necessrio que uma mente perspicaz e inteligente para dar resposta s necessidades do homem?aps me ter debatido com esta questo, aps sucessivas birras projectuais em que tentava ignorar conhecimentos que havia j adquirido numa tentativa ingnua de alcanar a essncia que encontrava nestas obras, apercebi-me de uma possvel resposta para a questo.

    arquitectura no pode ser apenas uma resposta a um problemaa arquitectura surge talvez quando a resposta a um problema ultrapassa esse propsito. nunca desprezando o objectivo primordial, mas arquitectura , talvez, mais do que uma resposta para um determinado programa, que est limitado a um determinado tempo e circunstncia. arquitectura talvez algo mais intemporal, um acumular de conhecimentos e experincias com demasiados anos para serem esquecidos, o culminar do saber num determinado ponto temporal.

  • esta resposta, que na verdade apenas uma sugesto, o incio de um estudo, apaziguou em certa medida o meu percurso acadmico. sem uma derradeira resposta, nem sequer um caminho a seguir, pareceu-me, apenas, uma direco possvel para o meu estudo. este ano lectivo, tentei centrar os meus estudos num outro tema. a opo, ou talvez s casualidade, de ter iniciado a minha pesquisa no livro 21 Apuntes de Rafael Moneo, cujo captulo sobre o Museu Nacional de Arte Romana em Mrida me despertou particular interesse devido preocupao que o arquitecto revelou, no s quanto s ruinas romanas sobras as quais implantou a sua proposta, como tambm envolvente e carga histrico-arquitectnica da cidade, trouxe-me novas preocupaes para considerar. a utilizao no mimtica dos sistemas construtivos, materiais e elementos arquitectnicos romanos revelam uma abordagem ao problema no s de construir sobre o construido, mas tambm de construir entre o construido, que me interessou particularmente, tendo-se mantido este livro, em particular este captulo, como um material a que recorro frequentemente.

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