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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE: ESTUDO DE CASO DE DOIS HOSPITAIS DE SÃO PAULO Caroline Varago (fei ) [email protected] Eloisa Zuccherelli (fei ) [email protected] Fernanda Santos de Sales (fei ) [email protected] Gabriela Scur (fei ) [email protected] Todos os geradores de resíduos de serviços de saúde devem elaborar obrigatoriamente um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde, abordando todas as etapas do manejo dos resíduos, desde a geração, segregação, acondicionamento e identificação, até as etapas de armazenamento e coleta externa. Uma unidade de saúde gera diferentes tipos de resíduos, que são caracterizados em grupos, e cada um deles possui especificidades quanto à sua periculosidade e necessidade de tratamento, além dos custos relacionados a estas atividades. Sendo assim, para obter uma eficiente gestão de resíduos, devem ser exploradas iniciativas, tanto no âmbito organizacional quanto o âmbito social, que possibilitem uma melhor segregação dos rejeitos, minimizando os custos e os impactos causados ao meio ambiente. Este artigo explora estas questões a luz de dois casos de hospitais localizados no Estado de São Paulo, um particular e outro público. Os resultados mostram uma diferença significativa na condução das ações de gerenciamento dos recursos e, por consequência, possíveis best practices a serem seguidas e também pontos de melhoria a serem atingidos. Palavras-chave: resíduos de serviços de saúde, Plano de Gerenciamento de Serviços de Saúde, manejo, segregação. XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

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GERENCIAMENTO DE RESÍDUOS DE

SERVIÇOS DE SAÚDE: ESTUDO DE

CASO DE DOIS HOSPITAIS DE SÃO

PAULO

Caroline Varago (fei )

[email protected]

Eloisa Zuccherelli (fei )

[email protected]

Fernanda Santos de Sales (fei )

[email protected]

Gabriela Scur (fei )

[email protected]

Todos os geradores de resíduos de serviços de saúde devem elaborar

obrigatoriamente um Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços

de Saúde, abordando todas as etapas do manejo dos resíduos, desde a

geração, segregação, acondicionamento e identificação, até as etapas

de armazenamento e coleta externa. Uma unidade de saúde gera

diferentes tipos de resíduos, que são caracterizados em grupos, e cada

um deles possui especificidades quanto à sua periculosidade e

necessidade de tratamento, além dos custos relacionados a estas

atividades. Sendo assim, para obter uma eficiente gestão de resíduos,

devem ser exploradas iniciativas, tanto no âmbito organizacional

quanto o âmbito social, que possibilitem uma melhor segregação dos

rejeitos, minimizando os custos e os impactos causados ao meio

ambiente. Este artigo explora estas questões a luz de dois casos de

hospitais localizados no Estado de São Paulo, um particular e outro

público. Os resultados mostram uma diferença significativa na

condução das ações de gerenciamento dos recursos e, por

consequência, possíveis best practices a serem seguidas e também

pontos de melhoria a serem atingidos.

Palavras-chave: resíduos de serviços de saúde, Plano de

Gerenciamento de Serviços de Saúde, manejo, segregação.

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Entre as fontes de degradação ambiental, os resíduos gerados na área da saúde representam

uma peculiaridade importante; não em termos quantitativos, mas pelo risco que representam à

saúde pública e ao meio ambiente, em função da presença de agentes patógenos.

De acordo com Schneider et al. (2001) o gerenciamento dos resíduos de serviços de saúde

tornou-se obrigatório, documento este que deve ser elaborado por profissional habilitado,

conforme as características do estabelecimento e aprovado em órgão competente.

Um fator importante que pode contribuir para o gerenciamento inadequado de RSS (Resíduos

de Serviço de Saúde) no Brasil diz respeito à polêmica sobre a periculosidade. Segundo

Naime et al. (2004), o que se observa no Brasil é que, apesar de todas as ações para mudar a

visão da sociedade e da própria gestão de RSS, a maioria da composição dos resíduos gerados

nas unidades de saúde ainda é considerada perigosa, o que parte do pressuposto de que todo

resíduo gerado nas unidades de serviço de saúde esteja contaminado. Esses resíduos

considerados perigosos vão, em grande parte, para tratamento em autoclaves ou incineradores.

A autoclavagem gera efluentes líquidos, que devem ser tratados antes do seu lançamento em

corpo de água ou rede de esgoto. Já a incineração gera poluentes químicos e gasosos que

devem ser processados em um equipamento de controle de poluição antes de serem liberados

para a atmosfera.

Analisando essas informações, observou-se uma oportunidade em estudar a eficiência da

gestão dos resíduos de saúde, visto que nem todos os componentes dos RSS são perigosos e

uma parcela significativa dos resíduos gerados na unidade de saúde poderia ser destinada

como resíduo comum, permitindo a reciclagem. Dessa forma, os geradores poderiam reduzir

custos no gerenciamento e garantir um encaminhamento adequado para a fração que

realmente representa perigo para os bens a proteger.

O maior desafio é saber como é realizado o gerenciamento em unidades de saúde, de forma

que esteja alinhado aos conceitos inclusos no Plano de Gerenciamento de Resíduos de

Serviços de Saúde (PGRSS) do hospital. Melhorias significativas podem ser encontradas

através do levantamento e análise de possíveis falhas no processo de gestão dos resíduos.

O objetivo deste trabalho é analisar todas as etapas do Plano de Gerenciamento de Resíduos

de Serviços de Saúde (PGRSS) dentro de unidades de saúde, desde o recebimento até seu

destino final, de modo a entender como uma organização procura otimizar a utilização de seus

recursos.

Os resíduos de serviços de saúde são geralmente considerados apenas aqueles provenientes de

hospitais, de clínicas médicas e de outros grandes geradores, tanto que os resíduos de serviços

de saúde são, muitas vezes, chamados de lixo hospitalar. A ABNT define na NBR nº 12.807

(1993) os resíduos hospitalares (ou de serviços de saúde) como aqueles resíduos produzidos

pelas atividades de unidades de serviços de saúde (hospitais, ambulatórios, postos de saúde

etc.).

1 INTRODUÇÃO

2. RESÍDUOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE

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A ANVISA e o CONAMA definem RSS como todos aqueles resultantes de atividades

exercidas nos serviços relacionados com o atendimento à saúde humana ou animal, inclusive

os serviços de assistência domiciliar e de trabalhos de campo; laboratórios analíticos de

produtos para saúde; necrotérios, funerárias e serviços onde se realizem atividades de

embalsamamento (tanatopraxia e somatoconservação); serviços de medicina legal; drogarias e

farmácias, inclusive as de manipulação; estabelecimentos de ensino e de pesquisa na área de

saúde; centros de controle de zoonoses; distribuidores de produtos farmacêuticos,

importadores, distribuidores e produtores de materiais e controles para diagnóstico in vitro;

unidades móveis de atendimento à saúde; serviços de acupuntura; serviços de tatuagem,

dentre outros similares. Por suas características, essas atividades necessitam de processos

diferenciados em seu manejo, exigindo ou não tratamento prévio à sua disposição final.

Segundo o Manual de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde da ANVISA, os

resíduos de serviço de saúde são aqueles resultantes de atividades exercidas por

estabelecimentos geradores que, por suas características, necessitam de processos

diferenciados no manejo, exigindo ou não tratamento prévio antes de sua destinação final.

De acordo com o Manual de Gerenciamento dos Resíduos dos Serviços de Saúde a

classificação dos RSS vem sofrendo um processo de evolução contínuo, na medida em que

são introduzidos novos tipos de resíduos nas unidades de saúde e como resultado do

conhecimento do comportamento destes perante o meio ambiente e a saúde, como forma de

estabelecer uma gestão segura com base nos princípios da avaliação e gerenciamento dos

riscos envolvidos na sua manipulação. Os RSS são classificados em função de suas

características e consequentes riscos que podem acarretar ao meio ambiente e à saúde.

De acordo com a ANVISA nº 306/04 e Resolução CONAMA nº 358/05, os RSS são

classificados em cinco Grupos, como detalhados na figura 1.

Figura 1: Classificação dos RSS segundo ANVISA e CONAMA

CLASSIFICAÇÃO DOS RESÍDUOS DE SERVIÇO DE SAÚDE

GRUPO A: Resíduos com a possível presença de agentes biológicos que, por suas características de maior

virulência ou concentração, podem apresentar risco de infecção. Ex.: bolsas transfusionais, sobras de amostras

de laboratório, peças anatômicas (membros), vísceras e filtros de ar e gases aspirados de área contaminada,

entre outros.

GRUPO B: resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio

ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Ex.:

produtos hormonais e antimicrobianos, resíduos contendo metais pesados, desinfetantes, efluentes de

processadores de imagem e de equipamentos automatizados de análises clínicas, entre outros.

GRUPO C: Quaisquer materiais resultantes de atividades humanas que contenham radionuclídeos em

quantidades superiores aos limites de eliminação especificados nas normas da Comissão Nacional de Energia

Nuclear – CNEN e para os quais a reutilização é imprópria ou não prevista.

GRUPO D: Resíduos que não apresentem risco biológico, químico ou radiológico à saúde ou ao meio

ambiente, podendo ser equiparados aos resíduos domiciliares. Ex.: papel higiênico, fraldas, peças

descartáveis, restos de alimentos, resíduos de limpeza, de gesso, entre outros.

GRUPO E: Materiais perfurocortantes ou escarificantes, tais como lâminas de barbear, agulhas, escalpes,

ampolas de vidro, brocas, limas endodônticas, pontas diamantadas, lâminas de bisturi, lancetas, tubos

capilares, micropipetas, lâminas e lamínulas, espátulas e todos os utensílios de vidro quebrados no laboratório

(pipetas, tubos de coleta sanguínea e placas de Petri) e outros similares.

Fonte: RDC ANVISA nº 306/04 e Resolução CONAMA nº 358/05

2.1 Classificação dos resíduos de serviços de saúde

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A geração de resíduos de serviço de saúde tornou-se alvo de grande preocupação em virtude

de sua composição e potencial periculosidade. A presença de materiais contaminados

dispostos juntamente com material não contaminado e que pode ser reutilizado é umas das

principais questões envolvidas.

A heterogeneidade que caracteriza a composição desses resíduos, como a presença frequente

de materiais perfurantes e cortantes e a existência eventual de quantidades menores de

substâncias radioativas de baixa intensidade contribui para o incremento dos riscos e

problemas acarretados tanto intra como extra estabelecimento de saúde.

Além disso, segundo Cussiol (2000), o volume dos resíduos do serviço de saúde está diretamente

relacionado com os seguintes fatores: complexidade da assistência prestada, número de

atendimento, recursos humanos, percentagem de ocupação dos leitos, porte do estabelecimento e

o índice de consumo de materiais descartáveis. Costa (2001) refere que nos hospitais é comum ser

adotada a taxa de geração de RSS, a qual corresponde à relação entre a quantidade média de

resíduos gerados diariamente e o número de leitos ocupados/dia.

Segundo a Organização Mundial Pan-Americana de Saúde a taxa de geração de RSS na América

Latina varia 1kg a 4,5 kg/leito/dia. Já Cussiol (2000) aponta que no Brasil a taxa é de 3 a 6

kg/leito/dia. Rebello (2001) afirma que um hospital com capacidade de 156 leitos, que realiza

seiscentas cirurgias/mês, mil e quinhentas internações/mês e dez mil atendimentos/mês, gera em

média nove toneladas/mês de resíduos infectantes.

O gerenciamento é tido como um instrumento capaz de minimizar, ou, até mesmo, impedir os

efeitos adversos causados pelos RSS, do ponto de vista sanitário, ambiental e ocupacional,

sempre que realizado racional e adequadamente.

De acordo com a resolução nº358/2005 do CONAMA, cabe aos geradores de resíduos de

serviço de saúde e ao responsável legal, o gerenciamento dos resíduos desde a geração até a

disposição final, de forma a atender aos requisitos ambientais e de saúde pública e saúde

ocupacional, sem prejuízo de responsabilização solidária de todos aqueles, pessoas físicas e

jurídicas que, direta ou indiretamente, causem ou possam causar degradação ambiental, em

especial os transportadores e operadores das instalações de tratamento e disposição final.

Essa resolução determina que deverá ser elaborado um Plano de Gerenciamento de Resíduos

de Serviços de Saúde – PGRSS.

De acordo com Almeida (2003) para gerenciar os RSS é necessário conhecer o

estabelecimento de saúde, identificar quais os tipos de resíduos produzidos, riscos

relacionados a eles, legislação pertinente ao assunto, situação dos equipamentos utilizados em

seu manejo, impactos ambientais associados, assim como conhecer qual a forma correta de

realizar o manejo dos RSS.

Conforme Almeida (2003), o gerenciamento correto dos resíduos sólidos significa não só

controlar e diminuir os riscos, mas também alcançar a minimização de resíduos desde o ponto

2.2 Composição e quantidade dos resíduos dos serviços de saúde

3. Gerenciamento dos Resíduos nos Serviços de Saúde

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de origem, que se elevaria também a quantidade e eficiência dos serviços que proporciona o

estabelecimento de saúde. Um sistema de manejo organizado desses resíduos, tanto interna

como externamente aos estabelecimentos de saúde, permitirá controlar e reduzir os riscos à

saúde associados aos resíduos sólidos.

De acordo com Silva (2004), as vantagens do desenvolvimento e aplicação do plano de

gerenciamento são: redução de riscos ambientais, redução do número de acidentes de

trabalho, redução dos custos de manejo dos resíduos, incremento da reciclagem e redução do

número de infecções hospitalares relacionadas ao manejo incorreto dos resíduos.

A resolução nº306/2004 da ANVISA diz que o PGRSS a ser elaborado deve ser compatível

com as normas locais relativas à coleta, transporte e disposição final dos resíduos gerados nos

serviços de saúde, estabelecidas pelos órgãos locais responsáveis por etapas descritas na

figura 2.

Figura 2- Etapas do manejo dos resíduos em um PGRSS

Fonte: ALMEIDA (2003)

Então, partindo da geração dos resíduos, estes são segregados, acondicionados e então,

identificados nos sacos plásticos e dispostos em lixeiras. Coleta interna I representa a retirada

dos resíduos das lixeiras, que são levados até um local para seu armazenamento temporário. A

coleta interna II refere-se ao transporte dos resíduos até o seu local para armazenamento

externo. É realizada a coleta externa, realizada por caminhões, que transportam os resíduos

para tratamento e destino final.

Ao implementar o PGRSS é necessário que a direção apoie as ideias e procure disponibilizar

todos os recursos de modo a equipar o estabelecimento com os equipamentos necessários de

modo a realizar a atividade de forma eficaz, além da participação de todo o pessoal envolvido

com o manejo dos resíduos e estes, devem estar capacitados e motivados para que o plano

tenha êxito.

O gerenciamento das rotinas e procedimentos dos estabelecimentos de saúde permite ao

estabelecimento administrar as relações entre suas atividades e o meio ambiente. As

atividades desenvolvidas por estes estabelecimentos podem causar impactos negativos ao

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meio ambiente, por isso deve-se gerenciar questões como a proteção ao meio ambiente,

resíduos perigosos, minimização dos riscos associados as atividades de serviços de saúde,

entre outras (ALMEIDA, 2003).

Quanto à forma de abordagem do problema em estudo, este trabalho definiu-se como uma

pesquisa qualitativa e exploratória. A metodologia utilizada foi o estudo de caso em duas

unidades hospitalares, uma particular e uma municipal, para análise do PGRSS. De acordo

com Yin (2001), a essência de um estudo de caso é que ele tenta iluminar uma decisão ou um

conjunto de decisões: por que elas foram tomadas, como elas foram implementadas e qual

resultado obtiveram.

Com o intuito de analisar o comprometimento das organizações acerca do PGRSS e do

conhecimento, por parte dos colaboradores de todas as etapas envolvidas no gerenciamento de

serviços de saúde, foi elaborado um questionário com 7 questões.

Por questões administrativas, não foi possível deixar o mesmo número de questionários em

ambos os hospitais. O Hospital Municipal autorizou somente 40, das quais foram respondidas

apenas 30 (75%). Já o Hospital Particular autorizou a distribuição de 50, das quais retornaram

apenas 44 preenchidas (88%).

Pesquisados sobre a existência do Plano de Gerenciamento de Resíduos do Serviço de Saúde

(PGRSS), identificou-se que grande parte dos colaboradores do Hospital Particular sabem da

existência (88%), enquanto esta porcentagem diminui para o Hospital Municipal (77%),

conforme demonstrado na figura 3.

Figura 3 - existência do PGRSS

4. METODOLOGIA

5. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

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Questionados se já tiveram contato ou tem conhecimento do conteúdo com o PGRSS, em

ambos os hospitais a grande maioria respondeu que sim (67% para o Hospital Municipal e

73% para o hospital Particular) (ver figura 4).

Figura 4 - Já teve contato e/ou tem conhecimento do PGRSS

Interrogados sobre a correta destinação e tratamento para cada tipo de resíduo gerados no

hospital, para o Hospital Municipal 57% dos entrevistados afirmaram que sabem sim como

ela é realizada enquanto 68% confirmaram esta mesma resposta para o Hospital Particular,

conforme figura 5.

Figura 5 - Sabe a correta destinação/tratamento de cada tipo de resíduo produzido

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Perguntados sobre acidentes devidos ao incorreto manuseio e/ou descarte dos resíduos, 40%

responderam que já se acidentaram e/ou sabe de algum acidente, para o Hospital Municipal,

enquanto essa mesma porcentagem sobe para 64% para o Hospital Particular, de acordo com a

figura 6.

Figura 6 - Já se acidentou/sabe de acidente devido ao incorreto manuseio e/ou descarte

Quando interrogados sobre o nível de conhecimento de gerenciamento e danos ambientais

causados à população pela falta de separação dos resíduos hospitalares dos demais lixos, os

colaboradores do Hospital Municipal responderam que 17% desconhecem, 47% tem pouco

conhecimento e 37% tem conhecimento. Já no Hospital Particular essas porcentagens foram

de 2%, 27% e 71%, respectivamente (ver figura 7).

Figura 7 - Nível de conhecimento sobre gerenciamento e danos ambientais

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Questionados se os colaboradores já participaram de algum treinamento e/ou palestra sobre a

correta separação e destinação dos resíduos e com qual frequência isto ocorreu, para o

Hospital Municipal, 53% disseram que sim, enquanto no Hospital Particular esta porcentagem

aumentou para 77%, conforme figura 8.

Figura 8 - Participação em algum treinamento/palestra

Para terminar a entrevista, os colaboradores foram questionados se gostariam de receber

informações sobre o gerenciamento de resíduos hospitalares e qual a forma mais fácil para

isto ocorrer. No hospital Municipal, todos responderam positivo a essa pergunta e 20% optou

pela opção panfleto para receber estas informações, 53% optou por palestras e 27% optou

pelo e-mail. Já no Hospital Particular, 2% disseram que não gostariam de receber

informações. Daqueles que responderam sim, 7% escolheram panfleto, 53% ficaram com a

opção palestras e 40% preferiram a opção e-mail (ver figura 9).

Figura 9 - Se gostaria de receber informações sobre o gerenciamento de resíduos

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De maneira geral, é possível constatar que o Hospital Particular oferece mais oportunidades

aos seus colaboradores, como treinamentos e palestras e, assim, quando comparado ao

Hospital Municipal, possui um maior grau de conhecimento sobre o gerenciamento dos

resíduos de serviços de saúde, enquanto apenas uma pequena porcentagem possui pouco

conhecimento.

Apesar da maioria dos questionamentos revelar que o Hospital Particular possui uma melhor

gestão, foi possível verificar que uma maior porcentagem de colaboradores já se acidentou ou

sabe de algum acidente ocorrido devido ao incorreto manuseio e/ou descarte dos resíduos. Por

outro lado, os colaboradores do Hospital de Cubatão demonstraram maior interesse em

receber informações sobre o gerenciamento dos resíduos.

Foi possível identificar alguns pontos de melhoria em diversas etapas do manejo em ambos os

hospitais. A figura 10 foi esquematizada para facilitar a identificação visual dos aspectos

levantados sobre todas as etapas do manejo do RSS, separados por cada grupo de resíduos de

cada hospital.

Figura 10- Resumo das etapas do manejo

5.1 Gestão dos Hospitais

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Nas etapas de geração, tratamento interno, coleta externa e tratamento externo, os campos que

foram preenchidos caracterizam a existência ou não destas etapas, referente a cada tipo de

resíduo. As demais etapas foram classificadas em três níveis: Corretamente (se a etapa do

manejo está sendo praticada da maneira adequada), Pontos de Melhoria (se foi verificado

algum aspecto que possua uma oportunidade de melhoria) e Incorretamente (se o

procedimento está sendo realizado de forma inadequada). Vale a pena ressaltar que este

último nível não foi encontrado em nenhum hospital.

Nos Grupos A e D, no estágio de segregação e acondicionamento do Hospital Municipal,

foram observados descartes indevidos de resíduos. Tal acontecimento pode ser explicado por

uma falta de informação, por parte dos funcionários, sobre a destinação adequada de cada tipo

de resíduo, como verificado na entrevista realizada (apenas 57% dos colaboradores apontaram

que conhecem a correta destinação). Esta falta de informação deve-se ao fato de que apenas

53% dos funcionários já participaram de algum treinamento ou palestra, devido à grande

rotatividade de colaboradores no hospital, principalmente no setor de enfermagem, o qual é

responsável por maior geração de resíduos infectantes.

Uma alternativa para esta problemática seria aumentar a quantidade de treinamentos ao longo

do ano, como por exemplo palestras, método pelo qual os funcionários mostraram maior

interesse em obter informações sobre o gerenciamento dos resíduos.

Outro ponto encontrado foi a indisponibilidade de sacos plásticos nas cores corretas para cada

tipo de lixeira, devido à falta de recursos financeiros do hospital. Tanto este aspecto, quanto o

descarte indevido, não foram encontrados no Hospital Particular, principalmente por este

possuir uma melhor infraestrutura.

Contudo, um ponto de melhoria foi encontrado quanto à segregação dos resíduos do Grupo D

no Hospital Particular. Em todos os leitos existem apenas lixeiras para resíduos infectantes,

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porém são gerados rejeitos do Grupo D onde grande parte é lixo reciclável. O resíduo

infectante passa por um tratamento que afeta o meio ambiente, além de trazer custos maiores

para o hospital. Logo, torna-se muito importante a realização da segregação da melhor forma

possível, disponibilizando lixeiras para lixo comum nos leitos.

Na etapa de identificação, referente aos resíduos do Grupo D do Hospital Municipal, por ter

sido encontrada uma lixeira com identificação incorreta, pode ser feito um replanejamento da

distribuição das lixeiras de resíduo comum pelo hospital, já que ao longo da visita foram

observadas diversas unidades dispostas próximas umas das outras, contendo uma quantidade

baixa de rejeitos descartados.

O armazenamento externo do Hospital Municipal não possui uma capacidade de

armazenamento de resíduos compatível com a quantidade gerada. Durante a visita foi possível

observar que o armazenamento dos resíduos comuns estava lotado, com dificuldades até para

abrir as portas, fato que dificultaria a coleta externa e possibilitaria atraso no cronograma das

atividades do hospital (higienização do ambiente após retirada do lixo para próximo

armazenamento). No Hospital Particular, o tamanho do armazenamento externo também é

insuficiente de acordo com a quantidade de resíduos gerada por dia, porém foi realizado um

replanejamento na quantidade de coletas externas para que o local não atinja sua capacidade

máxima.

6. CONCLUSÕES

As entidades pesquisadas estão em conformidade com as leis vigentes em relação à

estruturação do Plano de Gerenciamento dos Resíduos de Serviços de Saúde, porém, nas

etapas referentes ao manejo dos RSS foram encontradas algumas oportunidades de melhoria,

principalmente no que se refere à quatro aspectos principais: ambiental, econômico,

organizacional e social. No aspecto ambiental, a correta segregação dos rejeitos resulta em

uma menor proporção de resíduos infectantes gerados e também contribui para o aumento da

quantidade de resíduos comuns, que podem ou não ser reciclados. Se a quantidade de rejeitos

infectantes diminui, consequentemente o tratamento de incineração será menos utilizado,

reduzindo a quantidade de poluentes químicos e gasosos liberados ao meio ambiente. Da

mesma forma, a reciclagem e recuperação agregam valor aos resíduos comuns, minimizando

os fluxos encaminhados para a disposição final e a periculosidade dos resíduos a serem

dispostos.

No aspecto econômico, pelo fato de uma menor quantidade de resíduos infectantes ser

descartado, haverá uma diminuição nos gastos operacionais, visto que o processo de

incineração envolve maiores custos se comparado com outros possíveis tipos de tratamento ou

destinação final. Os rejeitos dos Grupos A e E seguem da coleta externa para o incinerador e,

após esta etapa, são despejados em aterros sanitários. Grande parte destes rejeitos contém uma

parcela de resíduos comuns, que não necessitam de tratamento prévio antes de sua disposição

nos aterros, ou seja, se tivessem sido segregados corretamente, seria possível eliminar uma

etapa no processo.

Já nos aspectos organizacionais, as instituições deverão reorganizar o cronograma de

treinamentos e palestras, além de reformular a logística de distribuição das lixeiras e alteração

no esquema de coleta interna e externa, devido a alteração na quantidade de resíduos gerados

de cada grupo.

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Em relação aos aspectos sociais, o engajamento dos profissionais é tão ou mais importante

que as medidas organizacionais e operacionais para o sistema de manejo de resíduos sólidos.

Para alcançar estes resultados, é necessária a conscientização de todos os envolvidos através

de treinamentos, palestras, distribuição de panfletos informativos e disponibilização das

informações na intranet da organização.

O presente estudo deu a oportunidade de identificar, ao longo de seu desenvolvimento,

algumas limitações de pesquisa. As diferentes complexidades dos hospitais, pelo fato da

diferença entre o tamanho das unidades, entre o número de atendimentos diários realizados e

das especialidades médicas oferecidas por cada um, sugerem a necessidade de se avaliar uma

amostra maior de hospitais, afim de abranger uma maior parcela do universo estudado.

Por mais que as organizações estudadas estejam realizando o mínimo necessário pela lei, é

possível observar que há diversas etapas que podem ser melhoradas através da aplicação de

iniciativas voltadas para a otimização de recursos, redução de custos, minimização da geração

de resíduos e divulgação da produção mais limpa, contribuindo para um melhor e mais

eficiente Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviços de Saúde.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA NACIONA DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA – ANVISA. Resolução nº 306, de 7 de dezembro de

2004. Dispõe sobre o Regulamento Técnico para o gerenciamento de resíduos de serviços de

saúde revogando a RDC nº33. Brasília, 2004.

ALMEIDA, V. L. DAES - Modelo para diagnóstico ambiental em estabelecimentos de saúde.

2003. 131 f. Dissertação (Pós-Graduação em Engenharia de Produção) – Universidade Federal

de Santa Catarina, Florianópolis.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT NBR 12807: Define os termos empregados em

relação aos resíduos dos serviços de saúde. Rio de Janeiro, 1 abr. 1993.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE - CONAMA. Resolução nº 358, de 29 de abril de 2005.

Dispõe sobre o tratamento e a disposição final dos resíduos dos serviços de saúde e dá

outras providências revogando RDC nº 5/93 e RDC nº 283/01. Brasília, 2005.

Costa (2001)

COSTA, A .M. P. Elaboração e avaliação da implantação de um “modelo básico” plano de gerenciamento

dos serviços de saúde em unidades hospitalares da região Metropolitana da Baixada Santista (S.P). 138 f.

2001. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) Faculdade de Saúde Pública-Universidade de São Paulo, São

Paulo.

CUSSIOL, N. A. de M. Manual de gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Belo

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