I CONFERNCIA LATINO-AMERICANA DE CONSTRUO SUSTENTVEL X ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUDO 18-21 julho 2004, So Paulo. ISBN 85-89478-08-4.

GESSO ACARTONADO E ISOLAMENTO ACSTICO: TEORIA VERSUS PRTICA NO BRASILMarco Losso (1); Elvira Viveiros (2)(1) Arquiteto, M.Eng., Consultor em Acstica, acustica@acustica.arq.br (2) Professor, D.Eng, Unidade de Acstica, Laboratrio de Conforto Ambiental, ARQ/UFSC, elvira@arq.ufsc.br

RESUMOO gesso acartonado um componente de construo de paredes internas existente h muitas dcadas no exterior e, nos ltimos anos, vem obtendo mais espao no mercado nacional. Diversos benefcios so apresentados pelas empresas produtoras das placas de gesso e, dentre eles, um chama especial ateno: o isolamento sonoro. Esse um aspecto de fundamental importncia pois, apesar das placas de gesso possurem baixa densidade, sabe-se que elas podem alcanar um bom desempenho de isolamento, atravs de diferentes especificaes chegando, at, a superar as tradicionais paredes de alvenaria. Entretanto, limitaes de ordem prtica, no Brasil, tornam a realidade um pouco distinta e detalhes de execuo comprometem a eficincia do sistema. O presente trabalho apresenta uma anlise comparativa entre teoria e prtica das condies de isolamento sonoro de paredes de gesso acartonado encontradas na cidade de Curitiba. Primeiramente feita uma previso terica do isolamento a ser oferecido pelas componentes, a seguir so discutidas as possibilidades de comprometimento desse desempenho e, por fim, avaliam-se as condies encontradas in situ em diferentes obras. So apresentadas, ento, as diferenas entre os desempenhos tericos e os obtidos na prtica. Palavras-chave: isolamento acstico, gesso acartonado, desempenho de edificaes

1.

INTRODUO

A construo civil, assim como outras reas, vem apresentando cada vez mais um acelerado processo de renovao tecnolgica de seus componentes, materiais, tcnicas e mtodos. Atualmente, diversas empresas construtoras buscam nas inovaes a melhoria qualitativa e tambm produtiva (PESSANHA et al 2002), impondo assim, novos desafios aos mtodos convencionais, sejam de habitaes, estruturas ou edificaes em geral. Existe uma contnua busca por materiais de alto desempenho, em um espectro mais amplo de propriedades, ao mesmo tempo que outros aspectos igualmente importantes so considerados, como baixo custo de implantao, manuteno e rapidez de execuo. Por outro lado, verifica-se que os usurios dessas edificaes esto com um nvel de exigncia cada vez maior. Aspectos qualitativos e quantitativos esto sendo amplamente considerados ao se propor e, posteriormente, ao se ocupar o objeto arquitetnico. Edifcios que no cumprem satisfatoriamente os objetivos que so propostos podem ter seu uso e operao comprometidos, sofrendo baixa taxa de ocupao devido aos problemas construtivos existentes. Acompanhando o processo em curso, um material que est ganhando mercado na construo civil nacional o gesso acartonado, que forma um sistema construtivo de vedaes internas tambm chamado de sistema construtivo a seco. Esta designao refere-se ao mtodo de produo e montagem, no qual consegue-se produzir uma vedao com materiais industrializados e prfabricados, com mnima gerao de resduos. Diversas so as vantagens apresentadas, principalmente pelas empresas produtoras e pelos entusiastas do sistema, mas assim como todos os mtodos construtivos, esse, tambm, possui aspectos positivos e negativos quanto ao seu desempenho. Uma importante propriedade no desempenho de vedaes em habitaes capacidade da partio em oferecer isolamento acstico. Atualmente, devido a dinmica do mundo contemporneo, h grande

necessidade de produo de espaos protegidos frente poluio sonora existente. GUEIROS e PINGUELLI ROSA (2001) propem a hiptese que quando a prpria rua possui caracterstica ruidosa, ela inevitavelmente ser uma fonte de doenas para o seu entorno, incluindo edificaes, a menos que altos custos com materiais sejam empregados. Esta situao pode ser encontrada em nossas cidades, cujos rudos externos facilmente adentram nos edifcios. Por outro lado, a demanda por privacidade solicita que se alcance razovel isolamento sonoro entre parties internas de edificaes, separando acusticamente os ambientes (BELDERRAIN 1998). Assim, est o sistema de gesso acartonado oferecendo o isolamento sonoro requerido? O gesso acartonado pode ser considerado um material que tem uma performance acstica significativa? O presente artigo apresenta um estudo de desempenho, no que tange o isolamento sonoro de parties, do sistema de construo a seco atravs de placas de gesso acartonado, considerando os detalhes de construo, as interfaces com outros materiais e superfcies, as peculiaridades, a qualidade da mo-de-obra e as diferenas entre teoria e prtica de execuo usualmente encontradas nas obras brasileiras.

2. 2.1

O GESSO ACARTONADO Breve histrico no Brasil

Apesar de estar presente desde 1974, o gesso acartonado comeou a ganhar expressiva importncia no Brasil na segunda metade da dcada de 90. At ento, o sistema era praticamente uma novidade para projetistas, construtoras e para o pblico em geral. Entretanto, o uso de tal sistema j estava difundido e consolidado h muito tempo no exterior. Diversos pases j esto em um estgio de desenvolvimento do produto bastante adiantado, com uso expressivo em relao a outros sistemas de vedao interna. Nos Estado Unidos, por exemplo, aproximadamente 90% dos fechamentos internos so realizados com gesso acartonado (CORBIOLLI 1995). A partir da verificao do potencial de crescimento desse sistema nacionalmente, as principais empresas fabricantes mundiais comearam a migrao em direo ao mercado brasileiro. O material que tinha uma produo bastante incipiente, passa a ser produzido em larga escala no pas, trazendo, assim, a queda no custo aliada complementao do sistema com a produo de acessrios especiais. Dessa forma, conjugando aspectos econmicos com vantagens oferecidas pelo material, o mercado apresentou um crescimento expressivo, como apresentado na Figura 1 e, atualmente, o sistema j se encontra bastante difundido no mercado interno. Pessoas leigas, bem como arquitetos, engenheiros e profissionais montadores, j conhecem razoavelmente bem o sistema, incluindo muitas de suas peculiaridades. Entretanto, algumas caractersticas ainda se encontram em fase de estudos, objetivando avaliar o desempenho em diferentes quesitos onde o mercado brasileiro se difere de outros pases e, portanto, precisam ser melhor estudados para elaborao de desempenhos conclusivos.

Consumo de chapas de gesso (*1000 m2)

14000 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0 1972 1982 1992 1995 Ano 1998 2000 2002

Figura 1 Histrico do consumo de chapas de gesso acartonado no Brasil. Fonte: Abragesso (2004)

2.2

O Sistema construtivo

O sistema de construo de gesso acartonado composto basicamente por trs elementos: a) as placas de gesso, b) os elementos estruturais e c) os acabamentos e acessrios. Todos os elementos possuem diversos componentes para adaptao a necessidades especficas de cada caso. A seguir ser explanado um pouco de cada elemento e do processo de montagem convencional. A placa de gesso acartonado comum formada por uma mistura de gesso (gipsita natural) em sua parte interna, revestida por um papel do tipo kraft em cada face. Existem outros tipos de placas especiais para usos especficos, como para reas midas (banheiros e cozinha) e para proporcionar maior resistncia ao fogo. O que diferencia essas placas so aditivos incorporados ao gesso com o objetivo de melhorar a propriedade especfica a que se destina. A Tabela 1 apresenta algumas caractersticas fsicas encontradas em chapas de gesso acartonado de trs dos principais fabricantes no Brasil.Tabela 1 Caractersticas fsicas de chapas de gesso acartonado encontradas no Brasil.

Fabricante Espessura (mm) Knauf (a) Lafarge (b) Placo (c)(a), (b)

Largura (m)

Comprimento (m)

Resistncia flexo transversal (kN) 0,21 0,21 n/d

Resistncia Densidade flexo superficial da longitudinal massa (kg/m2) (kN) 0,60 0,55 n/d 8,5 a 12,0 8,0 a 12,0 n/d

12,5 12,5 12,5

1,20 1,20 1,20

1,80 a 3,00 1,80 a 3,00 1,80 a 3,00

segundo Referncia Tcnica IPT nos 012 e 017; (c) segundo catlogo do fabricante.

As chapas de gesso acartonado so montadas em ambos os lados de estruturas metlicas leves que, por sua vez, so fixadas na estrutura principal da edificao (lajes, vigas, pilares). As placas so montadas seqencialmente at a vedao da toda a superfcie. Na parte interna da parede fica um vazio, por onde podem passar tubulaes eltricas e hidrulicas. Entre cada placa existe uma junta que, alm de separ-las, serve para absorver esforos mecnicos oriundos de movimentaes estruturais das prprias placas e/ou da estrutura principal da edificao. Tambm, outras movimentaes, como dilataes e retraes trmicas, so absorvidas pelas juntas. A ltima etapa da montagem consiste em realizar a vedao das juntas entre placas ou entre elementos construtivos (laje-placa por exemplo). Para isto so utilizadas fitas de papel microperfuradas, massas especiais flexveis, para evitarem-se fissuras, e colas para calafetao. Por fim, a partio est pronta para receber seu acabamento final, podendo-se utilizar os acabamentos convencionais aplicados comumente em alvenarias. Para as portas e janelas so normalmente deixados os vos abertos para posteriormente colocao das esquadrias, cujo procedimento feito de duas maneiras. Atravs da aplicao de espuma expansiva de poliuretano ou atravs de parafusamento do caixilho no perfil metlico leve ou nas tiras de madeiras previamente deixadas em espera para tal finalidade. O processo de montagem descrito o de mais simples execuo de uma parede de gesso acartonado, tambm o de custo mais baixo e o mais utilizado no Brasil. Apesar de ser o processo mais rpido, no significa que seja tambm o de melhor desempenho nas diversas situaes. Para melhoria do sistema possvel a utilizao de mtodos e materiais conjugados e complementares, como a utilizao de duas ou mais placas sobrepostas na espessura ou a colocao de mantas de l mineral no vazio interior, para maior isolamento sonoro e propriedades trmicas e, ainda, a utilizao de mais elementos estruturais metlicos visando o aumento da resistncia a cargas apoiadas.

2.3

Vantagens do sistema

O sistema de construo a seco possui vantagens que vo desde a produo, passando pelos mtodos construtivos empregados em obra, alcanando o consumidor final e o desempenho ps-ocupao. O processo de produo racionalizado garante rapidez na confeco das placas de gesso e nos demais componentes, que possuem alto grau de industrializao. No h procedimentos artesanais, garantindo assim, alm da rapidez, um controle de qualidade mais apurado. Em relao as qualidades do sistema em obra, pode-se citar, a reduo do quantidade de material transportado, em termos de volume e peso, facilidade de execuo das instalaes que so feitas evitando-se quebras, mnimo desperdcio e retrabalho pois um mtodo industrializado, reduo da mo de obra para execuo e reduo do peso em relao as alvenarias, com conseqente diminuio de custos com estrutura e fundaes e reduo tempo de execuo da obra (PLACO s/d). Para o consumidor, as vantagens so: a possibilidade de maior flexibilizao nos lay-outs conforme preferncia do usurio, pois as paredes no necessitam ser locadas sobre vigas, quando utilizado mtodos adequados na especificao da laje, possibilidade de execuo de paredes e superfcies curvas, ganho de at 4% de rea til com a reduo das espessuras das paredes (CIOCCHI 2003), facilidade de execuo de eventuais manutenes nas instalaes e/ou reformas, boa resistncia ao fogo devido a grande quantidade de gua (20%) incorporada em sua composio e, desempenho ainda melhor quando utilizadas placas especiais, isolamento trmico, pois a camada de ar entre placas atua como isolante e, isolamento acstico, que segundo os fabricantes, o sistema atende as mais exigentes especificaes, especialmente quando utilizado l mineral no vazio interior (PLACO s/d).

3.

ISOLAMENTO SONORO

A transmisso sonora entre dois ambientes pode ocorrer de duas maneiras: atravs da transmisso via ar e atravs da transmisso via slido. Portanto, para uma partio ser considerada como isolante sonora deve ser capaz de proporcionar razovel isolamento areo e estrutural. Em se tratando de uma partio de gesso acartonado, em um primeiro momento, deixar-se- de fora a contribuio da absoro sonora das placas de gesso, pois a parcela absorvida desprezvel quando comparada a parcela incidente. Portanto, a propriedade de isolamento sonoro pode ser melhor compreendida a partir das consideraes apresentadas a seguir.

3.1

Diferena de impedncia

A capacidade de acoplamento da energia sonora ao passar por uma mudana de meio, no caso fludoslido, ou ar-parede, inversamente proporcional a diferena de impedncia entre os meios. Portanto, materiais com impedncia muito diferente em relao ao ar permitiro uma menor capacidade de acoplamento e, por conseguinte, menor transmisso da energia sonora, o que significa maior capacidade de isolamento sonoro da partio. A impedncia matematicamente definida pelo produto da densidade especfica do meio pela velocidade do som no meio em questo. Esses valores para diversos materiais esto apresentados na Tabela 2.

Tabela 2 Algumas propriedades de diversos materiais utilizados na construo civil.

Material Chumbo (a) Ao (a) Alumnio (a) Concreto (a,b) Vidro (a) Tijolo (b) Borracha (a) Gesso (c,d) Cortia (a)

Densidade (kg/m3) 11.300 7.700 2.700 2.600 2.300 1.800 1.100 960 240

Velocidade do som (m/s) 1.200 5.050 5.150 3.100 5.200 3.700 1.450 6.800 500

Impedncia (Rayls) 1,36*107 3,89*107 1,39*107 8,06*106 1,19*107 6,66*106 1,54*106 6,52*106 1,25*105

(a) KINSLER (1982); (b) GERGES (2000); (c) para espessura de 12,5mm; (d) EVEREST (2001); (e) catlogo de fabricantes

3.2

Lei da Massa

A transmisso da energia sonora atravs de um slido depende fundamentalmente da freqncia sonora incidente. Diferentes faixas de freqncias resultam em padres distintos de transmisso sonora. A Figura 2 ilustra uma curva tpica da Perda de Transmisso, PT, para uma partio ao longo da freqncia (GIBBS 1998).

Perda de Transmisso- PT (dB)

controle pela rigidez

controle pela massa

coincidncia

ressonncia

Frequncia (Hz)

Figura 2 Curva da Perda de Transmisso, PT, de uma partio simples. (GIBBS 1998) A capacidade de isolamento de uma partio pode ser descrita por um nmero nico, o ndice de Reduo Sonora Ponderado, Rw (Weighted Sound Reduction Index) ou pela Classe de Transmisso Sonora, STC (Sound Transmission Class). De uma forma geral, os parmetros que descrevem a capacidade de isolamento de uma partio consistem, basicamente, na razo da energia sonora incidente sobre a energia sonora transmitida, expressa em decibis. A regio controlada pela massa muito importante para a maioria dos casos em acstica de edificaes. Essa regio de freqncia tem seu desempenho regido pela massa da partio e h um

acrscimo de 6 dB no isolamento para cada oitava avanada. Assim, para uma parede proporcionar maior isolamento sonoro necessrio que ela seja composta por materiais de alta densidade e/ou espessuras significativas. Na construo civil so, portanto, parties de alvenarias de tijolos macios, concreto, pedras e materiais metlicos como chumbo. Da mesma forma, observa-se que alvenaria de tijolos furados, paredes de madeira, materiais usados para absoro acstica, como chapas de poliuretano e, tambm, materiais leves em geral no apresentam desempenho satisfatrio. Segundo EGAN (1988), quanto maior a massa do material, maior a resistncia ao movimento do elemento e, ento, menor a quantidade de energia transmitida. Por essa razo, a expresso que descreve a perda de transmisso nessa regio comumente conhecida como Lei da Massa. No caso da freqncia do som incidente coincidir com a freqncia de ressonncia (freqncia natural) da parede, o isolamento oferecido cair significativamente, pois a parede passar a vibrar com grande amplitude, apresentando, ento, eficiente radiao sonora. Provavelmente essa situao ao efeito contrrio do desejado, amplificando o nvel de presso sonora do som incidente.

3.3

Paredes duplas

Considerando a utilizao de componentes duplas, o comportamento da onda sonora atravs da passagem em 5 meios (ar-slido-ar-slido-ar) uma estratgia interessante nos casos onde se deseja aumentar a capacidade de isolamento sem que isso signifique aumento da densidade, conforme a Lei da Massa. A existncia da camada de ar entre duas paredes paralelas aumenta de forma no proporcional o isolamento oferecido, quando comparado com o simples aumento de massa. Dobra-se a massa, mas o resultado final maior do que o incremento de 6 dB inicialmente projetado. A mudana de impedncia que ocorre cada vez que a onda troca o meio favorece o bom desempenho do conjunto. Entretanto, o espaamento entre as placas necessita ser razoavelmente grande em funo do comprimento de onda incidente. Tambm, a colocao de material absorvente dentro da camada de ar melhora o desempenho do conjunto, pois contribui com a perda de energia atravs da absoro sonora e pela eliminao de possveis ressonncias na cavidade. Com relao espessura das paredes do material slido, o ideal que elas tenham espessuras diferentes para evitarem a excitao de uma mesma freqncia de ressonncia. Nesse caso, se uma das paredes entra em ressonncia a outra permanece fora dessa faixa (curva da perda de transmisso) contribuindo para eficincia do todo.

3.4

reas abertas

Outra importante questo a se considerar a existncia de aberturas nas paredes. Uma partio, para ter um bom isolamento sonoro, necessita que todos os seus elementos possuam boa capacidade de isolamento e, satisfeita essa condio, que tenham capacidade isolante semelhante. KINSLER (1982) cita, dentre vrios, alguns aspectos que podem contribuir para diminuio na capacidade de isolamento. Dentre eles, fendas e pequenas aberturas na periferia de paredes, selamento pobre entre paredes e forros ou tetos e forros rebaixados. GERGES (2000), semelhantemente, afirma que as reas abertas (portas e janelas) e aberturas em geral podem diminuir a eficincia de isolamento sonoro sendo que, em alguns casos, pode haver inclusive aumento do nvel sonoro em determinadas freqncias, devido a ressonncias localizadas. O autor, ainda, apresenta um grfico, mostrado na Figura 3, onde descrito o efeito de aberturas no resultado final da partio em termos de perda de transmisso. Atravs desta figura, pode-se verificar que a quantidade de aberturas e frestas em uma partio no proporcional ao decrscimo de isolamento sonoro. SEEP et al (2000) afirmam que em termos de reduo de rudo, uma parede como uma corrente: a sua resistncia dada pelo elo mais fraco. Assim, uma parede composta por componentes com diferentes desempenhos de isolamento, tais como portas, janelas e a prpria alvenaria, ter seu desempenho final ditado pelo elemento de menor performance.

% rea abertaPT com abertura (dB)30 25 20 15 10 5 0 5 10 15 20 25 30 35

0,1

1 2 5 10 20 50

PT sem abertura (dB)

Figura 3 Perda de transmisso de parede com diferentes percentuais de abertura. Um elemento muito utilizado em sistemas de gesso acartonado a espuma expansiva empregada na interface entre caixilho-parede. Muitas empresas fabricantes do material e at mesmo as produtoras de caixilhos e portas recomendam a aplicao dessa espuma em seis pontos ao redor do caixilho. O restante do espao existente fica aberto, deixando frestas, reduzindo, portanto, a capacidade de isolamento do conjunto.

3.5

Amortecimento estrutural

Em se tratando da transmisso sonora via slido, a energia sonora encontra um eficiente caminho de propagao atravs dos materiais usualmente empregados na construo civil. Quando uma fonte sonora qualquer se acopla a uma superfcie slida, o som pode ser transmitido rapidamente para locais distantes e pode sofrer um aumento no nvel de presso sonora atravs da maior radiao para os ambientes ou atravs da combinao da freqncia de ressonncia do material com a freqncia da energia sonora incidente na superfcie. BISTAFA (1991) aponta que nas instalaes hidrulico-sanitrias prediais, rudos so originados desde as vibraes do sistema de recalque dgua at o sistema de esgotamento de guas servidas e, se propagam pela estrutura da edificao. O autor ainda afirma que grande parte dessas situaes geradoras de rudos podero ser evitadas com um projeto abrangente e empregando-se materiais e aparelhos com caractersticas acsticas controladoras. Assim como a diferena de impedncia pode evitar a transmisso sonora, a utilizao de estratgias no sentido de se evitar a transmisso de uma material para o outro um dos meios mais importantes para anular a transmisso via slido. Isso pode ser obtido com a utilizao de materiais resilientes entre uma partio e uma fonte sonora ou entre diferentes componentes de uma parede ou piso (BATISTA e SLAMA 1996), bloqueando o caminho de propagao e, conseqentemente, aumentando o isolamento sonoro.

4. 4.1

DISCUSSO Desempenho de isolamento sonoro em laboratrio

Os fabricantes nacionais de gesso acartonado disponibilizam resultados de isolamento acstico obtidos em medies feitas pelo Instituo de Pesquisas Tecnolgicas IPT, apresentados na Tabela 3. Os desempenhos avaliados foram para diferentes configuraes de montagem, com uma ou duas chapas de cada lado e com e sem l de vidro no interior das placas.

Tabela 3 Propriedades acsticas de paredes de gesso acartonado. (IPT-2000, IPT-2002)

Fabricante/ No total de camadas Especificao da parede de chapas de gesso Knauf W111-73/48/600 W115-195/70/600 Lafarge D 100/75/600 D 125/75/600 Placo 73/48/600 98/48/600 1st 12,5/ 1st 12,5 2st 12,5/ 2st 12,5 2 BR 12,5 4 BR 12,5 2 x 12,5 GKB-AK 4 x 12,5 GKB-AK

ndice de reduo sonora ponderado (Rw) Sem l de vidro Com l de vidro

34 51

44 (50 mm) 61 (50 mm)

39 45

45 (75 mm) 50 (50 mm)

36 42

43 (50 mm) 49 (50mm)

O IPT recomenda que o desempenho para paredes internas entre habitaes contguas seja Rw mnimo de 50 dB. No h recomendao para valores entre ambientes de uma mesma habitao, mas pode-se presumir que haja uma tolerncia um pouco maior. Os valores obtidos para paredes com uma chapa de gesso em cada lado do perfil metlico no apresentam resultado que atinjam a meta de 50 dB, ficando todos abaixo de 39 dB. O acrscimo de l mineral auxilia na obteno de melhores resultados, entretanto, ainda assim, esto abaixo do valor recomendado, chegando a 45 dB. Apenas configuraes com duas placas de cada lado chegam aos valores recomendados. Por outro lado, comprova-se que o simples aumento da camada de ar ajuda para incrementar o desempenho. Paredes similares quanto ao nmero de placas e mesma massa, Placo 98/48/600 e Lafarge D125/75/600, tm resultados de 42 e 45 dB, respectivamente. A Tabela 4 mostra valores recomendados por GERGES (2000) para algumas condies de privacidade, dessa vez quantificados pela classe de transmisso sonora e a Tabela 5 apresenta resultados de isolamento sonoro conduzido por BARING (2000).Tabela 4 Valores recomendados para CTS em diferentes condies. (GERGES-2000)

Condies de privacidade Conversao em voz alta inaudvel Conversao em voz alta fracamente audvel Conversao em voz alta com muita ateno para escutar e entender Conversao em voz alta audvel com murmrio Conversao em voz alta audvel e no inteligvel Conversao em voz alta e razoavelmente entendida Conversao normal e facilmente entendida

Classe de Transmisso Sonora 52 47 45 43 35 30 25

Tabela 5 Propriedades acsticas de diversos componentes de paredes. (BARING-2000)

Espessura Configurao de parede (cm) 10,0 7,3 (1,25+4,8+1,25) 12,5 10,0 (1,25+7,5+1,25) 14,0 (2,5+9,0+2,5)

Classe de Transmisso Sonora 34 37 41 49 62

Blocos de concreto celular revestido com massa corrida Gesso acartonado com chapas simples, montantes simples, espao interno sem enchimento Blocos cermicos de vedao, revestido com argamassa Gesso acartonado, chapas simples, montante simples, espao interno com enchimento de l de vidro de 16kg/m3 Gesso acartonado, chapas duplas, montante defasado, espao interno com enchimento de l de vidro de 16kg/m3

Os valores de classe de transmisso sonora apresentados na Tabela 5 mostram que uma parede de alvenaria de blocos de vedao de 12,5 cm tem um desempenho de 41 contra 49 de uma parede de gesso acartonado com espessura de 10 cm com l de vidro. Apesar de possuir menor espessura, a incorporao da l de vidro tornou o sistema de gesso acartonado mais eficiente quanto ao desempenho de isolamento sonoro. Mesmo apresentando melhor resultado, essa especificao ainda apresenta deficincia em relao ao isolamento sonoro, pois GERGES (2000), coloca que um valor de CTS de 47 proporciona uma condio de privacidade onde a conversao em voz alta ainda, fracamente audvel.

4.2

Exemplos na construo civil brasileira

Um aspecto prtico importante a interface entre caixilho-parede, conforme descrito no item 3.4. Usualmente, o sistema tradicional de insero de tacos de madeira e fechamento com argamassa no utilizado no sistema do gesso acartonado por incompatibilidade de materiais, pois a argamassa no adere ao gesso. Quando utilizado, a argamassa no aplicada e a fixao dos calos de madeira feita diretamente no montante metlico. Assim, com a existncia de frestas entre caixilho-parede, tem-se uma situao diferente das vedaes de alvenaria e argamassa, que permitiam melhor selamento nas interfaces. A Figura 4 apresenta, primeiro, a forma como um fornecedor recomenda a instalao do caixilho com espuma de expanso e, nas fotos seguintes, situaes encontradas em obras na cidade de Curitiba, onde pode ser observada a possibilidade de vazamentos sonoros significativos.

Vedao precria

a)

b)

c)

Figura 4 Exemplo de utilizao da espuma expansiva na colocao de caixilho e situaes encontradas em obras em Curitiba. Fonte: a) catlogo de fornecedor b,c) acervo dos autores.

Em relao as juntas entre placas, essas devem ser intercaladas de maneira a no coincidir a posio em cada lado do montante (SEEP 2000). A junta um elemento fraco acusticamente, mesmo com o uso da fita e da massa para nivelamento. CIOCCHI (2003) coloca que, as massas e fitas para juntas ainda no foram normalizadas, fato que pode contribuir para uma possvel piora do sistema. H muitos casos onde foram verificados a utilizao de pasta de gesso comum para execuo do nivelamento. Esta uma situao grave pois o gesso comum no flexvel, no absorvendo assim as deformaes que a partio est sujeita e, conseqentemente, aparecendo fissuras e trincas que aumentam o vazamento sonoro. Esse detalhamento deve ser parte do projeto executivo de montagem ou projeto para produo conforme sugerido por TANIGUTI e BARROS (1998), ou na ausncia desses, deve ficar a cargo do profissional montador os cuidados na vedao. Em obras avaliadas foram encontradas condies precrias de montagem das placas, que eram cortadas e fixadas deixando-se juntas com at 1,5 cm. Ao serem questionados sobre a forma de execuo, os montadores explicavam que no tem problema deixar uma junta desse tamanho pois a fita e a massa de nivelamento fazem a vedao. sabido que no basta um bom projeto de isolamento sonoro se no houver igual cuidado na execuo e essa conscientizao deve chegar at a obra. A condio de transmisso da energia sonora via slido pode adquirir grande importncia se as fontes sonoras no estiverem desacopladas das paredes e elementos construtivos, conforme item 3.5. A Figura 5 ilustra diversos casos encontrados cuja capacidade de isolamento prejudicada, pois a partio que deveria atenuar o rudo passa a ser a principal responsvel pelo aumento da energia sonora transmitida, resultante do aumento da rea de irradiao sonora. As fontes de rudo esto diretamente conectadas aos montantes, s peas de madeiras de reforo estrutural ou s chapas de gesso, sendo que a utilizao de materiais resilientes teriam a funo de desacoplar estruturalmente os elementos. No caso das caixas de interruptores, a soluo a utilizao de duas faixas de montantes alternados, sem ligao entre si.

a)

b)

c)

d)

Figura 5 Situaes de transmisso sonora encontradas na prtica: a) tubulaes em contato direto com montantes; b) tubulaes em contato direto com placas de gesso acartonado; c) caixas de interruptores de ambientes distintos fixadas na mesma estrutura; d) configurao de montagem favorvel acusticamente. Fonte: Sr. Vanil Rocha.

4.3

O desempenho de isolamento sonoro na teoria e na prtica

Uma anlise preliminar dos dados apresentados j suficiente para concluir-se que uma situao inadequada pode facilmente ser encontrada devido s deficincias encontradas em obra. Para quantificar o desempenho de uma partio com condies similares as encontradas na prtica, utilizar-se- uma parede de gesso acartonado, como a Knauf W111-73/48/600, com desempenho de

Rw de 34 dB e dimenses conforme Figura 6. Considerando a folga de 1cm recomendada pelos fabricantes, entre placas de gesso e demais superfcies, e as reas abertas na interface caixilho-parede, pode-se chegar a uma rea aberta de 0,15 m2 em uma rea total de parede de 12,5 m2. A porcentagem de rea aberta para o exemplo de 1,2 %. Entrando, entrando com estes valores na Figura 3, chega-se a um resultado de perda de transmisso de aproximadamente 20 dB ao invs de 34 dB iniciais. Conclui-se, ento, que uma parede que j no apresenta resultado satisfatrio, tem um desempenho, na prtica, ainda pior, comprometendo a habitabilidade do local que utiliza essa especificao.

Parede de gesso acartonado Parede de alvenaria rea aberta (esp:1cm)

Laje

Figura 6 Configurao para quantificao de desempenho de parede de gesso acartonado, com reas abertas preenchidas de preto. O sistema de vedao de gesso acartonado, em diversos casos, no est sendo suficiente para proporcionar um adequado desempenho de isolamento sonoro. CIOCCHI (2003) relata que o Sindicato da Indstria da Construo do Estado de So Paulo (SINDUSCON-SP) realizou estudo de ps-ocupao em unidades comerciais e residenciais com intuito de se medir a satisfao dos usurios de imveis com divisrias de gesso acartonado. O estudo, realizado em 52 unidades de 16 edifcios, concluiu que, dentre os itens que geraram maior insatisfao, est o nvel de rudo. O autor ressalta ainda que 44% das unidades analisadas no possuam recheio de material absorvente (l de vidro ou rocha). O mesmo estudo tambm concluiu que os problemas encontrados so atribudos a especificaes inadequadas e problemas de execuo ou manuteno deficientes. Esses resultados vo ao encontro das concluses obtidas neste artigo, pois a correta especificao e execuo so decisivos no desempenho do sistema.

5.

CONSIDERAES FINAIS

O presente trabalho abordou consideraes a respeito do isolamento sonoro proporcionado pelo sistema de vedao de gesso acartonado. Pretendeu-se destacar aspectos de projeto e de execuo que influem no desempenho acstico final do sistema. Conclui-se que o gesso acartonado pode ter desempenho adequado de isolamento sonoro, quando atendidas as configuraes recomendadas na especificao e com correta execuo. Por outro lado, situaes foram apresentadas onde pode haver falncia do isolamento requerido. No Brasil observa-se que, atualmente, grande porcentagem das paredes so constitudas de uma chapa de gesso de cada lado do montante metlico, sem l mineral no interior. De acordo com os resultados obtidos em ensaios de laboratrio, essa configurao pode ser considerada inadequada. Observa-se, tambm, que a qualidade da mo de obra pode ser decisiva para obteno de valores in situ semelhantes aos de laboratrio. Montagem e execuo podem alterar uma condio terica adequada para uma, na prtica, inadequada.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICASABRAGESSO, Associao Brasileira do Gesso. http://www.abragesso.org.br Acesso em 30/03/2004. BARING, J. G. de A. A qualidade acstica dos edifcios e a contribuio das parede de gesso acartonado. Revista Tchne. p. 69-73. set/out-2000. BATISTA, N.; SLAMA, J. Qualidade Acstica da Edificao. I Simpsio Brasileiro de Metrologia em Acstica e Vibraes. Petrpolis. 1996. BELDERRAIN, M. Desenvolvimento de Parede Dupla como Divisria Acstica. I Congresso Ibero-Americano de Acstica, I Simpsio de Metrologia e Normalizao em Acstica e Vibraes do Mercosul. Florianpolis. P. 371-374. 1998. BISTAFA, S. Conscientizao para o Problema do Rudo nas Instalaes Hidrulicas Prediais. Revista de Acstica e Vibraes, vol.9, jun-1991 CIOCCHI, L. Use corretamente o gesso acartonado. Revista Tchne. P. 42-45. julho-2003 CORBIOLLI, N. Mercado Futuro: fundao da Placo coloca o grupo ingls BPB no Brasil. Construo. No 2498, p. 10. dez/1995. EGAN, M. Architectural Acoustics. McGraw-Hill Inc. 1998. EVEREST, F. Master Handbook of Acoustics. McGraw-Hill Inc. 2001. GERGES, S. Rudo: Fundamentos e controle. Florianpolis: NR Editora. 2000. GIBBS, B. Acoustic Confort by Architectural Design. I Congresso Ibero-Americano de Acstica, I Simpsio de Metrologia e Normalizao em Acstica e Vibraes do Mercosul. Florianpolis. 1998. GUEIROS, T.; PINGUELLI ROSA, L. Urban Noise: Sick Streets Sick Buildings. In: Proc. of 17th International Congress on Acoustics. Rome. 2001. IPT Instituto de Pesquisas Tecnolgicas. Referncia Tcnica no 012. Emisso: 06/2000, Validade: 05/2002. So Paulo. IPT Instituto de Pesquisas Tecnolgicas. Referncia Tcnica no 017. Emisso: 04/2002, Validade: 05/2004. So Paulo. KINSLER, L et al. Fundamental of Acoustics. John Wiley & Sons. 1982. PESSANHA, C. et al. Inovaes e o Desenvolvimento Tecnolgico: Um Estudo em Pequenas e Mdias Empresas Construtoras de Edificaes. IX ENTAC. Foz do Iguau. p.15671574. 2002. PLACO. Manual de especificao e instalao. Sistema Placosil. s/d. SEEP, B. et al. Classroom Acoustics: A Resource for Creating Learning Environment with Desirable Listening Conditions. Acoustical Society of America. 2000. TANIGUTI, E.; BARROS, M. Tecnologias de Produo de Vedao Vertical Interna com o Uso de Placas de Gesso Acartonado. VII ENTAC. Florianpolis. p.219-226. 1998.

AGRADECIMENTOSAgradecemos aos Srs. Vanil Rocha e Jos Rochinski pelo auxlio na obteno de dados para o estudo.