GESTÃO DE ESTOQUE (MELHOR)

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Cadernos de Pós-Graduação – administração, São Paulo, v. 4, n. 1, p. 139-152, 2005. 139

Aspectos da gestão dos estoques no gerenciamento dos sistemas

de abastecimento de mercadorias em empresas varejistas e atacadistas

Daniel Augusto MoreiraDoutor em Educação – USP

Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração – Uninove.[Brasil]

[email protected]

Mauro Takeo IhyMestrando em Administração – Uninove.

[Brasil][email protected]

Até meados da década de 1990, o Brasil enfrentava um cenário de inflação alta, com as empresas atacadistas e varejistas obtendo significativos ganhos atrelados às aplicações de seus recursos. Essas empresas estavam acostumadas a operar com altos estoques, aumentos de preços constantes e altas margens. A partir de 1994, esse cenário foi alterado, e a busca de eficiência e excelência operacional tornou-se primordial para a competitividade das empresas Também a partir de 1994, apoiada na es-tabilização econômica e na liberalização das leis de mercado introduzidas pelo governo, houve outra grande modificação no cenário da distribuição brasileira. O objetivo do presente trabalho é o estabe-lecimento de uma conexão entre o gerenciamento do estoque e os sistemas de abastecimento de mer-cadorias em empresas varejistas e atacadistas. Para tanto, serão detalhados as várias definições e os principais conceitos apresentados pelas diversas correntes teóricas a respeito do tema. O artigo busca cumprir uma finalidade explicativa e sintetizadora, agrupando importantes noções sobre estoques e abastecimento, mostrando os elos existentes entre elas. A seção 2.1 detalha o conceito de estoque, as características e objetivos da gestão de estoques, os tipos de estoque, e discute elementos da política e da estratégia de estoques. A seção 2.2 trata dos sistemas de abastecimento, destacando-se o tratamen-to dado ao planejamento e orçamento de compras. Nas considerações finais (Seção 3) são ressaltados os traços de ligação entre estoques e sistemas de abastecimento.

Palavras-chave: Controle da produção, Varejo, Estoques.

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1 Introdução

Até meados da década de 1990, quando o cenário era de inflação alta, as empresas ataca-distas e varejistas tinham significativos ganhos atrelados às aplicações de seus recursos. Essas empresas estavam acostumadas a operar com altos estoques, aumentos de preços constantes e altas margens. A partir de 1994, esse cenário foi alterado, e a busca de eficiência e excelência operacional tornou-se primordial para a com-petitividade das empresas (LAVALLE, 2004).

Também a partir de 1994, apoiada na es-tabilização econômica e na liberalização das leis de mercado introduzidas pelo governo, houve outra grande modificação no cenário da dis-tribuição brasileira, com a entrada de empre-sas varejistas globais como Wal-Mart, Sonae e Ahold (PARENTE, 2002).

Aliado a esses fatores, houve o desen-volvimento do perfil dos consumidores, que se tornaram mais exigentes e conscientes de seus direitos, o acirramento da concorrência e do crescente número de fusões e as aquisições ocorridas no varejo brasileiro. Essas mudanças no mercado foram suficientes para expor a ine-ficiência das operações e trouxeram a necessi-dade das empresas de se adaptar às novas regras do mercado, ou seja, mudar o antigo comporta-mento entre a indústria, atacado e varejo (an-teriormente marcado por posições adversárias), cuja negociação determinante era basicamente o preço. Nesse cenário, cada um buscava maxi-mizar seus ganhos, mesmo que isso implicasse a redução dos lucros dos seus aliados comerciais (SILVEIRA e LEPSCH, 1997).

Esta situação criou um importante desa-fio para o comércio de distribuição, que foi e é a tentativa de equilibrar objetivos conflitantes entre um investimento adequado em estoque,

a minimização das faltas de mercadorias e as negociações de ofertas e volumes. A gestão de estoques tem se tornado complexa, pois a cada ano as redes incorporam novas lojas em regiões diferentes do Brasil, o que se alia ao constante lançamento de novos produtos. Um supermer-cado de porte médio tem de operar com cerca de 10 a 20 mil itens (ou SKU – stock keeping unit), ao passo que em um hipermercado tal nú-mero atinge um nível entre 30 e 50 mil itens (PARENTE, 2000).

Fleury, Wanke e Figueiredo (2000, p. 29) afirmam que os clientes e consumidores estão cada vez mais exigentes e isso reflete em de-manda por níveis crescentes de serviços logís-ticos. Juntamente com esses fatores, os autores afirmam que “a forte pressão por redução de estoques vem induzindo clientes institucionais para compras mais freqüentes e em menores quantidades, com exigências de prazos de en-trega cada vez menores, livres de atrasos ou erros. Por outro lado, o consumidor final, com seu estilo de vida crescentemente marcado pe-las pressões do trabalho, valoriza cada vez mais a qualidade dos serviços na hora de decidir que produtos e serviços comprar.”

Um dos fatores de competitividade em uma empresa comercial é a forma como ela ge-rencia sua política de abastecimento e estoques, que está diretamente relacionada com as ativi-dades da logística. Conforme Wanke (2003), as empresas buscam cada vez mais garantir a disponibilidade do produto com o menor nível de estoque possível, motivadas pelos seguintes fatores:

• A variedade crescente do número de pro-dutos, que torna mais complexa e traba-lhosa a sua gestão, desde o ponto de pedi-do até o de estoque de segurança.

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• O elevado custo do capital, reflexo das altas taxas de juros brasileiras, o que torna a ma-nutenção dos estoques cada vez mais cara.

Essa crescente variedade de produtos é uma conseqüência direta do ciclo de vida dos mesmos, que é cada vez menor. Isso faz com que os produtos tornem-se obsoletos mais rapi-damente e, como conseqüência, os estoques dos varejistas e atacadistas perdem valor, exigindo que seus preços sejam remarcados. Portanto, qualquer excesso de estoque pode correr o risco de se tornar obsoleto, dificultando cada vez mais o correto planejamento das compras (FLEURY, WANKE e FIGUEIREDO, 2000).

Todavia, ainda não há um sistema eficaz de gestão de abastecimento que satisfaça a ne-cessidade ideal ou a redução de estoques sem prejudicar o nível de serviço (LIMA, 2003). Há outros processos que dependem da administra-ção do abastecimento, como os inventários, os estoques intermediários e os custos financeiros. O aumento do giro das mercadorias é melhor para o consumidor, que terá à sua disposição bens sempre renovados e conseqüentemente de melhor qualidade.

O objetivo do presente trabalho é o es-tabelecimento de uma conexão entre o geren-ciamento do estoque e os sistemas de abasteci-mento de mercadorias em empresas varejistas e atacadistas. Para tanto, serão detalhados as várias definições e os principais conceitos apre-sentandos pelas diversas correntes teóricas a respeito do tema. O artigo busca cumprir uma finalidade explicativa e sintetizadora, agrupan-do importantes noções sobre estoques e abaste-cimento, mostrando os elos existentes. A seção 2.1 detalha o conceito de estoque, as caracte-rísticas e objetivos da gestão de estoques, os ti-pos de estoque, e discute elementos da política

e da estratégia de estoques. A seção 2.2 trata dos sistemas de abastecimento, destacando-se o tratamento dado ao planejamento e orçamento de compras. Nas considerações finais (Seção 3) são ressaltados os traços de ligação entre esto-ques e sistemas de abastecimento.

2 Gestão de estoques e sistemas de abastecimento

A gestão do estoque procura responder às seguintes perguntas principais: qual o volume adequado de estoque? qual o giro apropriado? quanto comprar e com que freqüência, de quais fornecedores e sob que condições? (PARENTE, 2000).

Bertaglia (2003) coloca que o grande desa-fio das organizações refere-se ao correto balan-ceamento dos estoques (em termos de produção e logística) em relação à demanda de mercado e ao serviço ao cliente. Dessa forma, o gerencia-mento e o controle de estoque devem ter enfo-que prioritário dentro das atividades da cadeia de abastecimento.

Todas as decisões que envolvem estoques geralmente são de alto risco e causam alto impac-to na cadeia de abastecimento (BOWERSOX, 2001). Também causam grande impacto na logística, pois essa área sempre está relaciona-da à guarda, à movimentação física, aos for-necedores e aos transportes, entre outros. No caso de haver estoques inferiores às quantida-des desejadas, a conseqüência será a perda de vendas e de clientes, o que poderá causar perda de participação no mercado. Por outro lado, se houver um nível alto de estoques poderá haver perdas financeiras, redução da lucratividade, deterioração e obsolescência das mercadorias (HONG, 1999).

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Simchi-Levi, Vaninski e Simchi-Levi (2003) comentam que, há alguns anos, muitos autores afirmavam que aperfeiçoar o nível de serviço e o de estoques eram objetivos que não poderiam ser alcançados ao mesmo tempo. Na verdade, os recentes progressos da tecnologia da informação, e o melhor entendimento das estratégias da cadeia de abastecimento, fizeram com que surgissem abordagens inovadoras que permitem à empresa atingir os dois objetivos simultaneamente.

Dubelaar, Chow e Larson (2001) final-mente colocam que o gerenciamento efetivo do estoque é crítico para o sucesso das empresas varejistas e atacadistas. Afirmam ainda que há poucas publicações e pesquisas empíricas que examinam o relacionamento entre o estoque do varejo, as vendas e os serviços a clientes.

2.1 Estoques

Segundo Fleury, Wanke e Figueiredo (2000), apesar de muitos autores considerarem a gestão de estoques sob uma perspectiva inte-grada aos processos logísticos como base para o gerenciamento da cadeia de abastecimento, ela ainda é um tema pouco explorado na literatura.

Porém, cada vez mais a gestão de esto-ques é vista como elemento fundamental para a redução e controle de custos totais e melho-ria do nível do serviço prestado pela empresa. O estoque aparece na cadeia de abastecimento sob diversas formas (matérias-primas, produ-tos em processamento, produto semi-acabado e produtos acabados). Cada uma dessas formas exige procedimentos distintos de planejamen-to e controle, influenciando a gestão de estoque (WANKE, 2003).

O investimento em estoques geralmente re-fere-se a valores substanciais e, apesar do aumen-to do lançamento de novos produtos, a logística

tem conseguido reduzir os estoques por meio do uso de estratégias como por exemplo o Just in Time (JIT), cujo processo implica a chegada da matéria-prima no momento em que será utiliza-da ou as ferramentas do ECR (Efficient Consumer Response), que é baseada na melhoria da integra-ção da cadeia do abastecimento (BOWERSOX, 2001). Stassen e Waller (2002) afirmam que au-mentar a variedade de novos produtos, ou seja, ter uma maior profundidade no sortimento, nor-malmente implica um adicional de investimento em estoque e, como conseqüência, um possível excesso de estoque em alguns itens e um aumen-to de falta de produtos.

Obviamente, todas as organizações gosta-riam de erradicar os excessos de seus estoques e somente manter um nível que pudesse cobrir emergências futuras. Os efeitos do excesso de estoques são relatados por Crandall e Crandall (2003) em uma pesquisa realizada pela AMR Research em julho de 2000, que projetou um excesso de estoque de US$ 60 bilhões somente nos Estados Unidos e de US$ 120 bilhões no restante do mundo. Nessa pesquisa, 68% das empresas comentaram que os excessos têm efei-to adverso em seus resultados financeiros.

2.1.1 Características e objetivo da gestão

de estoques

O gerenciamento e manutenção dos esto-ques implicam em riscos de investimentos e pos-sibilidade de obsolescência e roubos. A natureza e extensão do risco variam dependendo da posi-ção da empresa no canal de distribuição.

Bowersox (2001) coloca que, para o fabri-cante, o risco do estoque tem uma conotação de longo prazo, pois o investimento em estoque começa com matérias-primas e componentes, inclui estoque de produção em processo e ter-mina em produtos acabados. Já o atacadista

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possui uma exposição ao risco menor do que a dos fabricantes, porém seu estoque é maior em termos de volumes e de mais longa duração do que o dos varejistas. Geralmente os atacadistas compram dos fabricantes em grandes quanti-dades para revender aos varejistas em pequenas quantidades. A grande vantagem dos atacadis-tas é a sua capacidade de oferecer a seus clientes uma grande variedade de produtos (sortimento) na quantidade desejada. O risco dos atacadis-tas relaciona-se com produtos sazonais, que os obrigam a formar estoques com antecedência, aumentando o risco do estoque. Outro fator que vem aumentando o risco é que os clientes varejistas estão transferindo ao atacadista a res-ponsabilidade de manter os estoques.

Para os varejistas, a gestão do estoque é fundamentalmente uma questão de compra e venda. O risco do estoque do varejista pode ser considerado amplo, mas não profundo, pois a ênfase é dada à rotação ou giro do estoque. Apesar de os varejistas possuírem um amplo sortimento de produtos, cada produto (indivi-dualmente) não possui grandes estoques.

Se a demanda for por um curto período de tempo, o fabricante, o atacadista e o varejista terão de manter um estoque antes do período crítico de vendas, portanto manter esse equilí-brio é de fundamental importância para conci-liar os aspectos econômicos de produção com as variações do consumo.

2.1.2 Tipos de estoques

Podem-se distinguir os seguintes tipos de estoque (BOWERSOX, 2001; LAMBERT, STOCK e VANTINE, 1999):

2.1.2.1 Estoque cíclico

São os estoques de produtos fabricados em lotes, cuja quantidade supre a demanda de um

determinado período ao final do qual outro lote é fabricado, reiniciando o ciclo. A produção de lotes está relacionada aos aspectos de economia de escala (quanto maior o tamanho do lote, me-nor o custo fixo da produção) e às restrições tec-nológicas (o projeto requer que o produto seja produzido em quantidades especificadas).

2.1.2.2 Estoque em trânsito

São as mercadorias que estão se movimen-tando de um local para outro. Pode ser o es-toque da fábrica para o centro de distribuição, ou mesmo os estoques de produtos acabados que se encontram em viagem e que serão entre-gues aos clientes. Esse tipo de estoque gera um grau de incerteza, pois os transportadores não dispõem de informações sobre a localização de veículos e sobre a data e hora exatas de chegada no destino. As empresas podem, ou não, ter a propriedade do estoque em trânsito, dependen-do da forma como foi negociada a compra.

2.1.2.3 Estoque de segurança

Sandvig (1998) comenta que uma pesquisa feita em algumas companhias de manufatura nos Estados Unidos descobriu que, dos US$ 6 milhões de investimento que essas companhias faziam em estoques, 50% representavam es-toque de segurança. Se houvesse uma simples revisão na alocação do estoque de segurança, a redução do investimento em estoques seria aproximadamente de US$ 2 milhões.

O estoque de segurança é necessário para a empresa, pois a protege contra o excesso de demanda sobre as quantidades projetadas ou sobre um mal planejamento dos tempos de espera no ciclo das atividades. Esse tempo de espera geralmente surge no recebimento e pro-cessamento de pedidos ou no transporte das mercadorias.

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2.1.2.4 Estoque especulativo

ou de proteção

São ocasionados por situações que visam a satisfazer a demanda. Por exemplo, os materiais podem ser adquiridos em quantidades maiores que o necessário para obter um maior desconto devido a um aumento previsto de preço, falta de materiais ou até mesmo para proteger contra uma possível greve.

2.1.2.5 Estoque sazonal

O estoque sazonal deriva do estoque espe-culativo, que envolve aquisição do mesmo antes do início de um período maior de vendas. São casos em que a demanda do produto varia ao longo do tempo de uma forma previsível e cícli-ca, podendo-se manter uma produção durante o período de baixa demanda para poder aten-der aos pedidos durante o período de pico.

2.1.2.6 Estoque parado

O estoque parado acontece quando não houve qualquer tipo de demanda ou movimen-tação durante um certo período de tempo. O estoque pode se tornar obsoleto e, para evitar essa situação, as empresas devem tomar atitudes como transferir os produtos para outro depósi-to ou loja. Com isso, evitam-se os problemas da obsolescência, como por exemplo a redução ou remarcação de preço.

2.1.2.7 Estoque médio

O estoque médio compreende a quantida-de de matérias-primas, componentes, estoque em processo e produtos acabados normalmente mantidos em estoque dentro de um determina-do intervalo de tempo. O nível do estoque mé-dio é definido conforme a política de estoques e a capacidade das instalações físicas.

2.1.2.8 Estoque básico

O estoque básico é a porção do estoque médio que se recompõe pelo processo de rea-bastecimento ou reposição. O pedido de repo-sição deve ser emitido quando o estoque dispo-nível ainda é maior que a demanda dos clientes e suficiente para atender o prazo de reabasteci-mento das mercadorias.

2.1.3 Política, gerenciamento e estratégia

de estoques

As políticas de estoques são as decisões que regulamentam o momento correto da compra, a quantidade ideal a ser comprada, os melhores preços e os níveis de segurança, sen-do que as decisões de localização de fábricas e centros de distribuição são características im-portantes do processo. Essas políticas também definem a localização dos estoques, que podem ser mantidos nas instalações fabris (postergar a distribuição) ou, se houver uma política voltada à especulação, mantidos na ponta da cadeia em centros de distribuição regionais (mais próxi-mos ao mercado de atuação). Também fazem parte da formulação da política de estoques as seguintes decisões: quando pedir o reabas-tecimento, quanto manter em estoques de se-gurança e quanto pedir (BERTAGLIA, 2003; BOWERSOX, 2001; WANKE, 1999).

O gerenciamento de estoques é o proces-so que integra e verifica as políticas da empre-sa com relação aos estoques. Para implementar as políticas determinadas pelo gerenciamento de estoques, é necessário que as organizações criem procedimentos internos de controle, ve-rificando freqüentemente os níveis de estoque e suas variações (BOWERSOX, 2001).

Gurgel (2000) também coloca que o con-trole dos estoques envolve as tarefas de coor-denação dos fornecedores, armazenamento,

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distribuição e registro das existências de todas as mercadorias. Alerta que as vendas atuais poderão não ser uma boa indicação para o pla-nejamento das vendas em um futuro próximo, devido às mudanças comportamentais dos con-sumidores e do ambiente competitivo do mer-cado de distribuição.

Para alinhar o abastecimento com a de-manda, Bertaglia coloca que:

A demanda de consumo tem sofrido

mudanças significativas nos últimos

anos. Os consumidores são mais exi-

gentes e demandam maior variedade

de produtos. Além disso, novos requi-

sitos são impostos, como velocidade de

entrega, acesso e disponibilidade, me-

lhor serviço e variedade de produtos.

Vender soluções com lucro e manter

a satisfação do cliente é um binômio

difícil de ser alcançado pelas empre-

sas atualmente. A sincronização das

operações de abastecimento, incluin-

do a manufatura, com a demanda do

consumidor é chave para o sucesso

das organizações. Quanto mais as

empresas tiverem acesso às informa-

ções nos pontos de venda, mais pre-

cisas serão as estimativas e projeções.

(BERTAGLIA, 2003, p. 220).

Portanto, ter as informações precisas so-bre níveis de estoque e pedidos não significa que o gerenciamento será mais eficaz. Utilizar essas informações de uma maneira eficiente faz com que o processo torne-se mais complexo, devido ao conhecimento de alguns fatores que devem ser considerados e, para isso, é preciso criar no-vos processos e informações com a finalidade de evitar impactos no gerenciamento e no con-

trole de estoques. Esses fatores influenciam as estratégias de estoques das empresas varejistas e atacadistas e são conhecidos como estoques obsoletos, rupturas de estoques (stockout) e in-ventários.

2.1.3.1 Estoques obsoletos

Estoque obsoleto é o estoque que fica pa-rado, sem movimentação, ou seja, é a perda da utilidade do produto. O conceito de obsoles-cência pode ser ampliado para produtos que se tornam obsoletos pelo modelo ou pelo desuso (BOWERSOX, 2001). As organizações têm excesso de estoques ou estoque obsoleto em di-versos graus. É um problema crítico o gerencia-mento dos estoques de produtos de movimen-tação lenta ou obsoletos, tanto para as empresas da indústria, como também para os distribui-dores e varejistas (ROSENFIELD, 1989).

Para Fleury, Wanke e Figueiredo (2000), essa situação torna-se cada vez mais crítica nas organizações varejistas e atacadistas devido à conseqüência direta da política de lançamen-tos contínuos de novos produtos. Isso faz com que os produtos antigos tornem-se obsoletos. O maior exemplo desse fenômeno acontece na área de informática, que lança em média um modelo novo a cada quatro meses. Cada novo modelo gera a obsolescência tecnológica dos modelos antigos, que ainda se encontram nos estoques dos participantes do canal de distribuição, fa-zendo com que essas empresas tenham de re-marcar os preços ou liquidar os produtos.

Marullo (1997) sugere duas opções para reduzir os estoques obsoletos: redução dos pre-ços ou doação dos produtos para instituições de caridade. Em ambos os casos, a empresa pode conseguir uma redução dos impostos para seus custos de inventário.

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De qualquer forma, a tomada de decisão deve ser feita rapidamente com o intuito de des-cartar as mercadorias, pois manter essas merca-dorias em estoque na esperança de vender “al-gum dia” não irá poupar os recursos financeiros da empresa (KUCHTA, 1998).

2.1.3.2 Rupturas de estoque (stockout)Ballou (2001) afirma que o objetivo prin-

cipal do gerenciamento do estoque é assegurar que o produto esteja disponível no tempo e nas quantidades desejadas pelos consumidores, não ocorrendo ruptura ou falta de estoque (stockout). Bowersox (2001) conceitua disponibilidade como sendo a capacidade da organização em ter o produto em estoque no momento em que ele é desejado pelo cliente. Para assegurar essa disponibilidade, geralmente as empresas recor-rem a dois grupos de estoque: estoque básico (determinado pelas previsões das necessidades futuras) e estoque de segurança (para cobrir a demanda acima dos volumes previstos).

Zinn e Liu (2001) comentam que a ruptu-ra de estoque não é um problema simples den-tro das organizações do comércio. Uma pes-quisa realizada nos Estados Unidos em 1996 mostrou que em numa tarde típica durante a semana havia em um supermercado 8,2% de itens com falta de estoque. Apesar desse per-centual, houve um progresso se compararmos esses dados aos de uma pesquisa similar feita em 1968, na qual encontraram 12,2% de itens com ruptura de estoque.

Para Jensen (1992), o custo da ruptura de estoque é um conceito teórico importante, particularmente dentro da teoria de controle de estoque. Ao mesmo tempo em que muitos autores têm dificuldade de medir empiricamen-te o custo, esse conceito não é usado dentro da esfera do controle de distribuição de custo.

Fitzsimons (2000), porém, conduziu um estudo cujo resultado mostra que a falta de produtos na prateleira provoca uma resposta severa dos consumidores e que estes demonstraram que não gostariam de retornar à mesma loja em sua próxima compra.

Emmlhainz, Emmlhainz e Stock (1991), citaram seis possíveis reações dos consumido-res frente a uma falta de produtos: 1) ir para outra loja, 2) não comprar, 3) comprar de outra marca, 4) comprar um outro produto, 5) com-prar um de diferente tamanho da mesma marca e 6) não comprar agora. Esses mesmos autores realizaram uma pesquisa na qual removeram 5 produtos das prateleiras de um supermercado. Os resultados indicaram que as reclamações de ruptura de estoque são mais variadas e nume-rosas do que se pensava previamente. De acor-do com esse estudo, 39% dos clientes que não encontraram o produto foram para outra loja. Para o varejista, isso significa perda da venda atual e da futura. Outros 21% dos clientes não compraram o produto, porém planejam retor-nar à mesma loja e comprar o item. De qual-quer modo, alguns desses clientes podem (de fato) ter ido a uma outra loja. Em geral, não é interessante ao fabricante da marca ou produto apresentar ruptura de estoque, e para o varejis-ta isso significa perda de venda.

2.1.3.3 Inventários

Periodicamente as organizações de bens e serviços realizam auditorias nos seus esto-ques para fins contábeis e gerenciais. Conforme Gurgel (2000), em algumas organizações os inventários são mal executados, devido às difi-culdades da operação e aos custos incorridos e também porque a direção administrativa subes-tima a importância desse elemento dentro dos processos de controle de estoque, o que preju-

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dica a confiabilidade dos controles contábeis da empresa.

Há duas técnicas válidas para efetuar a contagem dos estoques: o inventário físico geral e o inventário rotativo ou parcial. O inventário físico geral corresponde à paralisação da orga-nização por um período, para realizar a conta-gem de todos os itens, permitindo identificar as quebras no estoque. A contagem parcial corres-ponde a inventariar um certo número de itens ou grupo de itens dentro de uma freqüência es-tabelecida e contínua (BERTAGLIA, 2003).

A implantação da contagem rotativa ou parcial permite à organização solucionar pro-blemas relacionados às diferenças encontra-das entre o valor teórico apontado no sistema computadorizado de controle de estoque e a contagem física dos itens. Outras vantagens do uso da contagem rotativa ou parcial consistem na identificação e correção das causas dos pro-blemas, na concentração dos esforços em áreas críticas, em ter um planejamento mais confiável e em manter um controle de estoque em níveis mais adequados. Segundo Bertaglia (2003), os critérios de seleção dos itens a serem conta-dos variam de empresa para empresa, porém a maioria utiliza os critérios ABC, nos quais os itens de valores mais altos devem ser contados com maior freqüência.

Para Bertaglia (2003), a grande vantagem da contagem rotativa ou parcial é a possibilida-de de descobrir as causas dos erros, pois o esto-que é dinâmico e quanto mais demora houver na procura das diferenças encontradas, menor será a possibilidade de identificar a causa. As principais causas de erros no controle de es-toque são: sistemas inadequados de entrada e saída; procedimentos de armazenagem mal elaborados; inversão de códigos de produtos e layout de armazenagem inadequado (posições

de difícil acesso, espaço inadequado, seqüência de armazenagem dispersa).

2.2 Sistemas de abastecimentoSe o conceito do gerenciamento da cadeia

de abastecimento prega a integração dos pro-cessos de negócios desde o usuário final até os fornecedores, o sistema de abastecimento tem por objetivo planejar as atividades de compra, controle de estoque, recebimento e movimenta-ção de mercadorias especificamente nas empre-sas varejistas e atacadistas (GURGEL, 2000). Nessa definição, o sistema de abastecimento engloba as atividades de um segmento especí-fico da logística integrada que é a logística de abastecimento. Conforme Gurgel (2000), as principais atividades da logística de abasteci-mento são: planejamento do abastecimento, compras (pedidos) e estoques.

Hong (1999) comenta que a logística de abastecimento também envolve as relações en-tre a empresa fornecedora e a empresa compra-dora (cliente e fornecedor), alinhando os planos estratégicos com objetivo de reduzir os custos da cadeia de abastecimento. Nesse ambiente, o processamento de pedidos de compras torna-se mais simples e integrado com o processo de abastecimento.

2.2.1 Operação do fluxo de mercadorias

do varejo/atacado

Para o entendimento do sistema de abas-tecimento, é necessário entender a dinâmica do fluxo de mercadorias, que é uma das atividades logísticas da operação de empresas varejistas e atacadistas.

Gurgel (2000) comenta que a dinâmica logística consiste na execução de tarefas que de-vem ser supridas de informações e assim facilitar a melhoria das operações, resultando no melhor

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atendimento ao consumidor final. Para isso é necessário examinar esse fluxo de informações juntamente com o fluxo das mercadorias, ou seja, verificar o momento da colocação de pedidos dos clientes, o sistema de transporte das cargas e o sistema de recebimento de mercadorias nos esta-belecimentos comerciais do cliente (lojas).

Conforme Bertaglia (2003) e Gurgel (2000), o processo inicia com a emissão do pe-dido, que deve ter as informações a respeito das quantidades das mercadorias necessárias para cada cliente. Todo pedido resulta na emissão de uma nota fiscal pelo fornecedor, que deve ser enviada ao estabelecimento comercial do cliente, que inicia os seguintes processos: rece-bimento, conferência e análise das mercadorias e movimentação.

O recebimento de mercadorias é uma ati-vidade resultante do pedido de compra enviado ao fornecedor (indústria), a qual consiste em verificar as quantidades e a qualidade e, de-pendendo do produto, o seu prazo de validade. Ao receber os produtos, deve-se conferir se as quantidades estão de acordo com aquelas soli-citadas no pedido e se as mercadorias estão em perfeitas condições (sem avarias). Os produtos considerados perecíveis devem passar por uma análise de qualidade, que verifica se as especifi-cações do produto estão de acordo com o esta-belecido entre o fornecedor e comprador.

As atividades de movimentação consistem em levar as mercadorias recebidas até o local fi-nal da armazenagem ou enviá-las diretamente para as prateleiras da área de vendas.

Todas essas operações requerem que os funcionários de recebimento de mercadorias desses estabelecimentos tenham vários cuida-dos no momento do recebimento, pois ocorrem muitas situações de não-conformidade com os pedidos de compras, tais como diferenças de

quantidades, qualidade, preços, faltas, deso-bediência ao prazo de entrega, entre outras. Nesses casos, Gurgel (2000) afirma que o ideal é devolver a mercadoria no ato do recebimento, com o próprio transporte do fornecedor.

2.2.2 Planejamento de compras

O desenvolvimento adequado do ciclo de abastecimento de mercadorias é uma das ope-rações críticas que envolvem as empresas vare-jistas e atacadistas. Segundo Parente (2000), o processo de compras necessita de um plane-jamento adequado para uma gestão eficiente. Conforme o referido autor, há diferentes práti-cas e abordagens adotadas no planejamento de compras:

• de cima para baixo: quando a direção es-tabelece um valor em unidade monetária para as compras de toda a empresa. Os compradores devem distribuir esse mon-tante entre as várias categorias e por lojas;

• de baixo para cima: os compradores fazem a estimativa por produto, passando para categoria e departamento, até consolidar no nível de toda a empresa.

• Interativa: são definidas linhas gerais de orçamentos financeiros, com revisões e modificações periódicas para assegurar que as metas financeiras e estratégicas es-tão sendo cumpridas.

2.2.3 Orçamento de compras

O orçamento de compras é um sistema que mantém um controle do fluxo de mercadorias enquanto as vendas estão ocorrendo, ao longo do período de um mês. Prevê também eventuais sobras de recursos ao final de cada período, de-vendo fazer com que o orçamento de compras tenha êxito nas metas de vendas, rotatividade

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de estoques e de margem, além de comprar mer-cadorias em quantidade e com datas de entrega que permitam igualdade no final do período entre o estoque real e o estimado no orçamento de compras (DOMINGUES, 2001).

No segmento do varejo, é comum a prática da demarcação de preços, tornando necessário ajustar a meta de compras do mês. As demarca-ções incluem não somente a redução de preços, mas também as quebras de mercadorias, cau-sadas por roubos ou avarias. As demarcações reduzem o valor do estoque e com isso torna-se necessário efetuar novas compras.

Parente (2000), comenta ainda outra prá-tica comum adotada nas empresas comerciais, que se denomina “open to buy” (ou saldo dispo-nível para compra), que representa a diferença entre o que o varejista planeja comprar e o que já comprou. Esse processo verifica o cumprimento das previsões de compras, por meio do registro das compras já entregues e também das com-pras já efetuadas, porém ainda não recebidas. Na prática, indica ao comprador o montante de mercadorias que ainda pode comprar durante um período específico, sem comprometer o or-çamento de compras para esse mesmo período.

Por outro lado, Dvorak e Van Paasschen (1996) afirmam que o “open to buy” restringe as negociações para que o comprador possa atingir o “budget” (orçamento), deixando muitas vezes as lojas com estoque baixo e realizando as com-pras na última semana do mês, fazendo com que as lojas ou o centro de distribuição tenham pouco trabalho no final de mês e acumulando as operações de recebimento e distribuição para o início do próximo mês.

2.2.4 Planejamento unitário das compras

As avaliações da gestão financeira, de fluxo de caixa, de estoques, de vendas e de compras,

normalmente são expressas em unidades mone-tárias. Quando se avaliam produtos individual-mente, pode-se trabalhar tanto com previsões em unidades monetárias como em unidades físicas (por exemplo: quilos, litros ou quanti-dades unitárias). Porém, quando o comprador está decidindo sobre o volume de compras, a estimativa geralmente é desenvolvida com base em unidades físicas (PARENTE, 2000).

Após o estabelecimento do orçamento de compras, é necessário planejar o abastecimen-to, ou seja, definir o volume de compras e esto-ques e com isso estabelecer o mix de produtos que irá compor a categoria. Para essa definição, o comprador deve adotar diferentes métodos de planejamento de compras, dependendo do tipo de produto. Há dois tipos de classificação de produtos: os produtos contínuos e descon-tínuos. Segundo Parente (2000), os produtos contínuos são as mercadorias com longo ciclo de vida, que fazem parte do mix de produtos da loja por um longo período de tempo. Como exemplo de produtos contínuos, temos as mer-cadorias pertencentes às categorias de limpeza, perfumaria, eletrodomésticos entre outros. Os produtos descontínuos são itens com ciclo de vida curto, que fazem parte do mix de produtos de uma loja apenas durante um período de tem-po. Exemplos de produtos descontínuos são as mercadorias da categoria de confecção (moda), geralmente desenvolvidas para um período ou estação do ano.

O acerto do planejamento de compras, tanto para os produtos contínuos como para os descontínuos, é um elemento fundamen-tal para o sucesso das empresas comerciais. Fundamentado no histórico das vendas da cate-goria, o comprador deve desenvolver suas previ-sões e fazer exercícios de análise que assegurem

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a consistência da sua estimativa e, conseqüente-mente, do seu planejamento de compras.

2.2.5 Organização de compras

O tema centralização versus descentra-lização de compras provoca muitos debates e estudos. Para Parente (2000) e Gurgel (2000), nas redes varejistas e atacadistas que possuem várias lojas, a decisão sobre a organização de compras será definida nos seguintes tipos de estrutura:

2.2.5.1 Compras centralizadas

Nessa estrutura, as decisões de compras para as diferentes lojas são tomadas em um único local, geralmente no escritório central da organização. A compra centralizada é recomen-dada quando há concentração de lojas geografi-camente próximas e cujas unidades são de porte médio.

Esse tipo de organização propicia maiores descontos devido ao maior volume de compras, à melhor integração dos esforços e ao maior controle sobre a gestão dos produtos, das com-pras e dos estoques.

Como desvantagem, os autores citam a menor flexibilidade e a não-adequação às neces-sidades específicas de cada loja, além da menor agilidade e envolvimento do pessoal das lojas.

2.2.5.2 Compras descentralizadas

Nessa estrutura, as decisões de compras são tomadas em cada loja ou região. Esse tipo de organização pode ser adotado quando as lo-jas estão localizadas geograficamente distantes e/ou quando os clientes apresentam preferên-cias diferentes, ou ainda quando algumas lojas apresentam volumes expressivos de venda.

As desvantagens desse tipo de organiza-ção é que elas pioram as condições de compra

devido ao baixo volume e a um menor controle sobre a gestão de compras e dos estoques.

Para Bertaglia (2003), uma vantagem das compras descentralizadas é que oferecem uma velocidade maior de atendimento, influencian-do ainda o custo do transporte.

2.2.5.3 Compras semidescentralizadas

Procuram incorporar a vantagem das al-ternativas descritas acima, comprando itens mais estratégicos e de maior volume de forma centralizada, enquanto compram os de menor quantidade localmente. Geralmente as organi-zações com atuação em vários Estados praticam esse tipo de organização de compras.

3 Considerações finais

Buscou-se estabelecer neste artigo uma conexão entre o gerenciamento do estoque e os sistemas de abastecimento, mostrando as várias definições e principais conceitos exis-tentes nas diversas correntes teóricas a respei-to do tema.

Com a evolução da informatização nas organizações comerciais, ficou possível obter resultados mais ágeis e um maior controle das operações internas, permitindo uma maior in-tegração entre os vários setores da empresa. Ficou possível também conhecer melhor a de-manda dos clientes, provocando melhorias no sortimento de produtos, um maior controle do estoque e a conseqüente redução do capital de giro parado em estoque. Portanto, a tecnologia é uma ferramenta indispensável para as orga-nizações atacadistas e varejistas obterem in-formações da gestão corporativa como vendas e estoques, quase simultaneamente à sua reali-zação.

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Os sistemas de abastecimento não podem estar dissociados da política e da gestão de es-toques adotada pela companhia. Devem ser operados em conjunto e ser complementares na condução das estratégias de estoques e abaste-cimento. Isto permitirá um maior foco no con-trole dos fatores que afetam as estratégias de estoques das empresas comerciais, que são os estoques obsoletos, a ruptura de estoques e os inventários.

Tendo uma política e estratégias para esses aspectos do gerenciamento do estoque, a em-presa terá maior facilidade em planejar as ativi-dades dos sistemas de abastecimento. A melho-ria nos processos do sistema de abastecimento permite redução do tempo de fornecimento de mercadorias, recebimento de produtos de me-lhor qualidade, redução de estoques e facilita a integração e o estabelecimento de relações mais duradouras entre cliente e fornecedor. O gran-de desafio e ao mesmo tempo a grande opor-tunidade estão na implementação de melho-rias no sistema de abastecimento associadas a uma melhor gestão dos estoques, que trarão às empresas participantes maior competitividade dentro do mercado em que atuam.

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Aspects of stocks management in the administration of the goods supplying systems in retail and

wholesale companies

Up to the mid-nineties, Brazil faced a high inflation scenario, where wholesale and re-tail firms obtained significant advantages with the application of their monetary re-sources. These firms were used to operating with high-level inventories, constant price rises, and high profit margins. In 1994 this scenario was changed and the search for op-

erational efficiency and excellence became paramount for competitiveness. Also in 1994, due to an economic stabilization and a loosening of market restrictions by the gov-ernment, there was another great change in the scenario of Brazilian distribution. The objective of this paper is to establish a link between inventory management and supply systems of wholesale and retail companies. So as to do this, several definitions and the main concepts on the theme offered by theo-retical trends in the area will be presented. The study intends to have an explanatory and synthesizing function, grouping impor-tant notions related to inventories and sup-plies and showing the links between them. Section 2.1 explores in detail the concept of inventory, the characteristics and objectives of inventory management and types of inven-tory, besides discussing elements of invento-ry policies and strategy. Section 2.2 analyses supply systems, emphasizing the treatment given to purchase planning and budget. The final considerations (Section 3) underscore the main linking points between inventories and supply systems.

Key words: Production control. Retail, Supplies.

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