Gestão de Redes Sociais Para Parlamentares
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Poder Legislativo e redes sociais na internet: como a Cmara dos Deputados se utiliza do Facebook e Twitter para divulgao
dos trabalhos legislativos?
Fernanda Vasques Ferreira1
RESUMO: O presente artigo tem como objetivo analisar de que maneira a Cmara dos Deputados se apropria e utiliza as redes sociais na internet, como Facebook e Twitter, para divulgar os trabalhos legislativos. Para tal, como mtodo, a proposta consiste em uma reviso bibliogrfica sobre o jornalismo e as rotinas de produo na web, em especfico nas redes sociais na internet. Alm disso, este artigo prev um estudo sobre as pginas do Facebook e do Twitter da Cmara dos Deputados e a realizao de entrevista com a equipe responsvel pelo trabalho de apurao, produo, adequao do texto e postagem nas respectivas redes. O estudo se justifica na medida em que contribui para o entendimento das formas de utilizao das redes sociais na internet por uma das casas do Congresso Nacional. Alm disso, o trabalho permite a compreenso das rotinas produtivas de um centro poltico do poder legislativo, instncia de debates e discusses. Assim, considerando-se a preponderncia e emergncia de das redes sociais na internet e as novas configuraes que o jornalismo passa a ter, a pergunta que orienta este trabalho : de que maneira a Cmara dos Deputados se utiliza do Facebook e Twitter para divulgao dos trabalhos legislativos? PALAVRAS-CHAVE: Facebook. Twitter. Rotinas produtivas. Cmara dos Deputados.
Redes sociais.
Introduo
Desde o surgimento da rede mundial de computadores, as mudanas nos
processos comunicacionais aparentam acontecer em um espao de tempo cada vez
menor em comparao com as mudanas registradas nos e pelos meios de
comunicao tradicionais. Thompson (2005) discute em seu livro a emergncia da
comunicao mediada em contraposio comunicao face a face ou de co-presena.
A partir do sculo XX, os meios de comunicao de massa2 passam a desempenhar
papel importante na sociedade uma vez que so estes suportes que oferecem s
pessoas um recorte da realidade social conforme refletem Berger e Luckmann (2004).
1 Fernanda Vasques Ferreira doutoranda no Programa de Ps-Graduao da Faculdade de
Comunicao da Universidade de Braslia (UnB) e professora dos cursos de Comunicao - Jornalismo e Publicidade e Propaganda da Universidade Catlica de Braslia (UCB). 2 O conceito de massa aqui compreendido a partir da noo de meios de comunicao que se dirigem
a uma pluralidade de indivduos.
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O surgimento das redes sociais na internet e a consolidao delas como
espaos de compartilhamento de contedo e de relacionamento marca um momento
importante das comunicaes. Segundo Pierre Lvy (1988) a internet permite a
mudana do paradigma emissor receptor sustentado incialmente pela teoria
hipodrmica da Escola Americana ou communication research e permite que todos
passem a ser emissores e receptores ao mesmo tempo. Nas redes sociais na internet
isso se torna mais possvel ao passo que cada indivduo ou instituio, por meio de um
perfil, consegue produzir e compartilhar informaes e contedos para suas redes de
contatos.
De acordo com Parry (2012), desde o surgimento das primeiras formas escritas
(cuneiforme, hierglifos), passando pela institucionalizao do latim como idioma
oficial em Roma, a Acta Diurna afixada nas paredes do Senado Romano, o restrito
acesso aos livros e s bibliotecas, o conhecimento e as informaes ficaram restritas a
uma elite. Escribas, copistas e religiosos tinham acesso s informaes. Nesse sentido,
h que se destacar o grande feito de Gutenberg em 1454 quando inventou a prensa
e imprimiu a Bblia de 42 linhas. Esse foi um significativo momento de nossa passagem
histrica que marcou o desenvolvimento das comunicaes, pois com a prensa de
Gutenberg foi possvel ampliar as formas de registro e reproduo, aumentando as
chances de pluralizar o acesso a livros, folhas informativas, jornais e outros
documentos.
Segundo Hohfeldt (2002), a revoluo dos transportes aliada s tcnicas de
impresso desenvolvidas no sculo XV, o desenvolvimento do comrcio e a
urbanizao impulsionaram a consolidao do que chamamos hoje de meios de
comunicao de massa e que at recentemente se restringiam aos meios tradicionais
(impresso, rdio, televiso). Somente a partir de 1989 conhecemos a world wide web
(rede mundial de computadores) criada por Tim Bernes Lee. E foi a partir deste ano
que as transformaes no campo comunicacional se tornaram cada vez mais rpidas e
volteis incorporando novas formas de fazer comunicao, alterando processos e
padres antes consolidados nos ento meios tradicionais. Inicia-se uma era de
convergncia digital conforme Jenkins (2009) em que as produes na internet passam
a incorporar diferentes linguagens e produzir a sua prpria.
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Considerando o exposto, este artigo tem como pergunta norteadora: como se
d a utilizao das redes sociais Facebook e Twitter pela Cmara dos Deputados para
divulgao dos trabalhos legislativos? Assim, este trabalho visa analisar como a Cmara
dos Deputados se utiliza dessas duas plataformas para a divulgao dos trabalhos
legislativos. Tomam-se como pontos de partida aportes tericos a partir de uma
reviso bibliogrfica que consideram autores como Lvy (1998), Zago (2011),
Canavilhas (2001;2010), Wolf (2001). Este trabalho tambm utiliza entrevista realizada
com a coordenadora da Divulgao Institucional, ligada Assessoria de Imprensa da
Cmara dos Deputados. A entrevista associada s observaes das redes, contriburam
para a compreenso de como se do as rotinas de produo para o Twitter e para o
Facebook da instituio com vistas a contribuir para a avaliao das referidas
plataformas da Cmara dos Deputados na internet.
Rotinas produtivas tradicionais
Segundo Wolf (2001), a j consagrada e respeitada teoria do newsmaking se
articula entre dois limites: a cultura profissional dos jornalistas e a organizao do
trabalho e dos processos produtivos. Produzida a partir dos estudos de Kurt Lewin
sobre os processos de gatekeeping, a nfase dada pelos estudos dos emissores
estabeleceu marcos importantes em relao produo jornalstica a partir do mtodo
da observao participante e da sociologia das profisses. A inquietao sobre como as
notcias so produzidas, por que elas so como so e que critrios so levados em
conta para a constituio de um cardpio ou menu de assuntos para os leitores dos
jornais conduziram pesquisas importantes ao longo do sculo XX.
O objectivo declarado de qualquer rgo de informao fornecer relatos dos acontecimentos significativos e interessantes. Apesar de ser, evidentemente, um propsito claro, este objectivo , como muitos outros fenmenos aparecente simples, inextricavelmente complexo. O mundo da vida quotidiana - a fonte das notcias - constitudo por uma superabundncia de acontecimentos [...]. So esses acontecimentos que o rgo de informao deve seleccionar. A seleco implica, pelo menos, o reconhecimento de que um acontecimento um acontecimento e no uma casual sucesso de coisas cuja forma e cujo tipo se subtraem ao registo. O objectivo de selecionar tornou-se mais difcil devido a uma caracterstica posterior
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dos acontecimentos. Cada um deles pode exigir ser nico, fruto de uma conjuno especfica de foras sociais, econmicas, polticas e psicolgicas que transformaram um acontecimento neste acontecimento particular *...+ (TUCHMAN apud WOLF, 2001:188)
Ante o exposto, h uma clara necessidade de os rgos de imprensa
organizarem e selecionarem os acontecimentos a partir de uma ordenao hierrquica
que envolvem considerar alguns fatos e desprezar outros tantos. E essa organizao
implica considerar a cultura profissional calcada em cdigos, esteretipos e
convenes dos jornalistas, bem como as restries organizativas que determinam o
que notcia e legitimam o processo produtivo do jornalismo, estabelecendo-se assim
a noticiabilidade de cada acontecimento. Isso significa dizer: que caractersticas tem
um fato para ser transformado em notcia. Quer dizer, a noticiabilidade est
estreitamente relacionada com os processos de rotinizao e de estandardizao das
prticas produtivas (...) (WOLF, 2001:190). Essa teoria, portanto, contextualizada
conforme explica Hohfeldt:
A hiptese de newsmaking d especial nfase produo de informaes, ou melhor, potencial transformao dos acontecimentos cotidianos em notcias. Deste modo, especialmente sobre o emissor, no caso o profissional da informao, visto enquanto intermedirio entre o acontecimento e sua narratividade, que a notcia, est centrada a ateno destes estudos, que incluem sobremodo o relacionamento entre fontes primeiras e jornalistas, bem como as diferentes etapas da produo informacional, seja ao nvel da captao da informao, seja em seu tratamento e edio e, enfim, em sua distribuio. (HOHFELDT, 2002:204)
Nesse contexto, o estudo de Kurt Lewin, realizado em 1947, sobre os
gatekeepers ou portes selecionadores, sobre as dinmicas que agem no interior dos
grupos sociais, em especial no que se refere aos problemas ligados modificao dos
hbitos alimentares, sinalizou para a existncia de zonas que podem funcionar como
cancelas que podem bloquear o canal. Isso no se restringiria s questes alimentares,
mas se estenderia tambm sequncia de uma informao, dada por meio de canais
comunicativos em um determinado grupo. As zonas filtros so controladas por
sistemas objectivos de regras ou por gatekeepers. Neste ltimo caso, h um indivduo,
ou um grupo, que tem o poder de decidir se deixa passar a informao ou se a
bloqueia. (WOLF, 2001: 180)
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D. M. White passou a estudar esse conceito no desenvolvimento do fluxo de notcias
dentro de canais organizativos dos rgos de informao. A partir de um estudo de
caso - analisando como procede Mr. Gates, um jornalista com 25 anos de experincia,
que trabalha em uma cidade de cem mil habitantes e que tem a funo de selecionar,
chegou a seguinte estatstica:
A pesquisa de White revela que das 1333 explicaes para a recusa de uma notcia, cerca de 800 atribuam-na falta de espao e cerca de 300 referiam ou uma sobreposio com histrias j selecionadas, ou falta de interesse jornalstico, ou falta de qualidade da escrita. Outros 76 casos diziam respeito a acontecimentos em reas demasiado afastadas do jornal e, por isso, presumivelmente desprovidas de interesse para o leitor [...] (WOLF, 2001:181)
Esta constatao levou Lewin a cunhar o termo gatekeeping que, segundo
Shoemaker e Vos (2011: 11), significa: o processo de seleo e transformao de
vrios pequenos pedaos de informao na quantidade limitada de mensagens que
chegam s pessoas diariamente, alm de ser o papel central da mdia na vida
moderna. Segundo os autores, os leitores confiam em mediadores para transformar e
racionalizar os inmeros eventos e acontecimentos em um subgrupo gerencivel de
mensagens miditicas. Todavia, esse processo de seleo parece ser impossvel, mas
um longo e consolidado ritual composto por regras operativas do modo de fazer
notcias garante que isso seja possvel.
Desse modo, o que se apreende que no que corresponde organizao do
trabalho informativo dos emissores, o gatekeeper desempenha um papel
fundamental. Mas alm desse porto selecionador, outro elemento importante so os
valores-notcia que se encontram profundamente enraizados em todo o processo
informativo. Os valores-notcia so um componente da noticiabilidade. Eles constituem
a resposta a seguinte pergunta: quais os acontecimentos que so considerados
suficientemente interessantes, significativos e relevantes para serem transformados
em notcias? Esses valores funcionam, na prtica, conjuntamente a partir de
combinaes e no so importantes somente no processo de seleo. So linhas guias
para a apresentao do material sugerindo o que deve ou no ser realado para
apresentar ao pblico.
Os valores-notcia so, portanto, regras prticas que abrangem um corpus de conhecimentos profissionais que, implicitamente, e, muitas vezes, explicitamente, explicam e guiam os procedimentos
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operativos redactoriais. (...) Os valores-notcia so qualidades dos acontecimentos, ou da sua construo jornalstica, cuja presena ou cuja ausncia os recomenda para serem includos num produto informativo. Quanto mais um acontecimento exibe essas qualidades, maiores so as suas possibilidades de ser includo. (GOLDING E ELLIOTT apud WOLF, 2001:196)
A partir do exposto, possvel indicar que o gatekeeper e os valores-notcia so
fundamentais para o processo de produo informativa. Para tanto, pode-se resumir
que, tradicionalmente, centra-se na recolha, seleo e apresentao das notcias e que
para tal, os critrios descritos passam, fundamentalmente, pelos elementos
anteriormente discutidos neste trabalho.
Rotinas produtivas nas redes
O que a teoria do newsmaking preconiza na sua formulao inicial aponta para
rotinas produtivas calcadas em emissores que tendem a ser sempre os jornalistas.
Todavia, o advento das redes sociais na internet altera os fluxos informacionais e
promovem um remodelamento do processo comunicativo contemporneo.
Num jornal tradicional o leitor que discorda de uma determinada ideia veiculada pelo jornalista limita-se a enviar uma carta para o jornal e a aguardar a sua publicao numa edio seguinte, tendo habitualmente que invocar a Lei de Imprensa para o conseguir. Por vezes a carta s publicada dias depois e perde completamente a actualidade. Outras vezes o jornalista no responde, ou f-lo de forma a encerrar a discusso, fechando a porta a rplicas. No webjornal a relao pode ser imediata. A prpria natureza do meio permite que o webleitor interaja no imediato. Para que tal seja possvel o jornalista deve assinar a pea com o seu endereo electrnico. Dependendo do tema, as notcias devem incluir um "faa o seu comentrio" de forma a poder funcionar como um frum. No webjornalismo a notcia deve ser encarada como o princpio de algo e no um fim em si prpria. Deve funcionar apenas como o "tiro de partida" para uma discusso com os leitores. Para alm da introduo de diferentes pontos de vista enriquecer a notcia, um maior nmero de comentrios corresponde a um maior nmero de visitas, o que apreciado pelos leitores. (CANAVILHAS, 2001: 03)
possvel dizer que a produo jornalstica para a internet j superou trs
fases: a transposio do contedo original do jornal para a web sem alterao; a
insero de hiperlinks e multimdia e a terceira fase que se caracteriza por contedos
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efetivamente desenvolvidos para a web, levando em conta esse espao como sendo
legtimo na distribuio de notcias.
Coberturas minuto a minuto, difuso de ltimas notcias, informaes sobre bastidores da publicao jornalstica, envio de atualizaes diretamente do local do acontecimento via dispositivos mveis, dentre outros, seriam algumas possibilidades de utilizao do Twitter, que j vm sendo postas em prtica por organizaes jornalsticas de todo o mundo. (ZAGO, 2009:71)
Pavlik apud Jorge e Kwiatkoski (2013) explica que combinadas, essas
ferramentas fornecem aos profissionais da imprensa tcnicas cada vez mais eficazes na
busca de fontes, verificao dos fatos e at no cumprimento de prazos. Jorge e
Kwiatkoski (2013) explicam que a possibilidade de maior interao, criao de
contedo prprio, facilidade de distribuio e agilidade na difuso de informaes so
fatores que colaboram na construo do fenmeno das redes sociais na internet.
Com os jornalistas no diferente e as mdias sociais parecem estar inseridas em sua rotina. O recurso mdia social, como fonte para a construo da notcia, aparece como novo componente do fazer jornalstico. Uma pesquisa realizada pela Oriella PR Network (agncia de solues em comunicao), em 2012, com 600 jornalistas em 16 pases, apontou que 54% dos entrevistados utilizam atualizaes postadas nas mdias sociais em matrias. O nmero cai para menos que a metade, 26%, quando se trata de utilizar perfis de fontes desconhecidas. (JORGE E KWIATKOSKI, 2013: 09-10)
Assim, o jornalismo contemporneo contaria com a contribuio das redes
sociais para a busca de informaes atualizadas, alm de contribuir com a busca de
fontes, o que de certa forma revela uma mudana em relao ao paradigma clssico
das rotinas produtivas baseado em fontes. Estudo das duas autoras sobre o uso do
Twitter e Facebook no que respeita s rotinas produtivas do Jornal Correio Braziliense
concluiu que as respectivas redes invadiram as redaes a partir dos prprios
jornalistas que compem a equipe do jornal. E, assim, as pesquisadoras entendem que
as mdias sociais - Twitter e Facebook - contribuem para a busca de pautas, atualizao
e para a descoberta de novos acontecimentos. As duas plataformas, segundo o estudo,
aproximam jornalistas da redao histrias, fontes e personagens, incluindo a
participao do leitor em relao notcia.
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A diversidade de temas e de pessoas encontradas nesse novo espao, aliada rapidez com que os acontecimentos se desenrolam, so fatores que transformam sua presena nas redaes numa realidade cada dia mais concreta - apesar de essas mdias serem vistas ainda como entretenimento. (...) Segundo os entrevistados, o novo cenrio profissional no jornalismo exige: que o jornalista se conecte; que ele saiba manejar as ferramentas virtuais e buscar dados via rede; que esteja ligado a alguma mdia social. (JORGE E KWIATKOSKI, 2013: 17)
Os dados obtidos na pesquisa sobre o uso do Twitter e do Facebook no Jornal
Correio Braziliense apontam para uma tendncia de plena utilizao e ativa
dependncia das fontes presentes nas mdias sociais no processo de produo das
notcias, em especfico em editorias como cultura e poltica.
Sobre as alteraes nas rotinas produtivas na web, Canavilhas (2011, p. 04)
aponta que Sem limitaes espaciais, o jornalista pode publicar uma maior
quantidade de notcias nos mais variados formatos e com possibilidade de ligao a
outras fontes e documentos atravs de links. Se de um lado, a internet e a ausncia
de limitaes de espao contribuem, de outro, so obstculos para os leitores pelo alto
volume de informaes reunidos no espao ciberntico. O autor acrescenta
Aos meios de comunicao juntam-se ainda os contedos produzidos por empresas, instituies e utilizadores que alimentam sites, blogues e redes sociais, gerando-se um caudal informativo que os utilizadores no conseguem acompanhar. Esta realidade criou a necessidade de mecanismos de triagem, tendo surgido os leitores de feeders, as tags, etc. Ainda assim, a quantidade de informao na Web tal que os consumidores continuam procura de novos mecanismos de seleco. (CANAVILHAS, 2011:04)
Em um estudo realizado em 2010 e citado por Canavilhas (2011), 42% dos
americanos comeam o dia consultando as redes sociais (Facebook e Twitter). Cerca
de metade dos americanos optam pela leitura das notcias em redes sociais na internet
porque confiam na seleo noticiosa feita pelos amigos. A Pesquisa Brasileira de
Midia3, realizada em 2014, aponta que mais de 32% dos entrevistados citam as redes
sociais como sendo os sites de maior acesso entre eles, em especial o Facebook. A
pesquisa se ateve tambm ao nvel de confiana atribudo aos meios de comunicao
3 Pesquisa Brasileira de Mdia foi realizada pela Secretaria de Comunicao Social da Presidncia da
Repblica e divulgada em maro de 2014 e contempla todos os estados brasileiros com amostras representativas conforme metodologia apresentada no documento original.
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pelos entrevistados. As redes sociais, curiosamente, na pesquisa brasileira ficaram em
ltimo lugar, depois respectivamente do jornal impresso, rdio, televiso e blogs, o
que revela tambm uma diferena de consumo entre americanos e brasileiros,
conforme as duas pesquisas.
Segundo Canavilhas (2011, p. 05) esta realidade permite verificar que
primeira aco de gatekeeping dos jornalistas, segue-se uma segunda protagonizada
por utilizadores de referncia, porm esta segunda aco de seleco apresenta
caractersticas diferentes da anterior (...). Assim, segundo o professor e pesquisador,
as redes sociais na internet indicam pistas de leitura.
Canavilhas (2011) aponta para o surgimento de uma nova funo: a de
gatewatcher que funcionaria como um analista de mercados financeiros que orienta e
aconselha seus seguidores, no caso do Twitter, e seus amigos, no Facebook. Isso faz
com que um grupo de leitores seja transformado em uma comunidade e corresponde,
curiosamente, segundo o autor, a uma funo do jornalismo: ajudar o pblico receptor
a hierarquizar os acontecimentos conforme mencionado anteriormente. Assim, ao
contrrio do modelo tradicional do processo comunicativo, tem-se as comunidades
que so uma forma de comunicao bidirecional (muitos para muitos), marcada por
alguma relao de proximidade entre os membros das redes sociais na internet. Esse
seria o novo modelo do processo comunicativo caractersticos de meios que permitem
interatividade.
Os resultados permitem concluir que, em mdia, a aco dos gatewatchers representa 26% das leituras registadas numa notcia referenciada. Os outliers (12 e 58%) resultam de duas situaes especiais: no primeiro caso foram consideradas apenas as leituras directas (o jornal em causa no disponibiliza estatsticas na sua pgina) e no segundo trata-se de uma notcia que registava um baixo nmero de visitas pelo que a referncia teve um peso acima do habitual. Dado que visitas foram registadas em quatro perodos (1, 3, 6 e 24 horas depois da referncia) foi possvel verificar que no existe um aumento brusco do nmero de visitas, mas uma progresso linear. Esta constatao permite dizer que as leituras no resultam de visitas de impulso resultantes do surgimento da referncia no mural, mas de uma pesquisa dos amigos/seguidores no perfil do gatewatcher. Refira-se ainda que no se verificou a existncia de uma proporcionalidade directa entre o nmero de amigos/seguidores do gatewatcher e o nmero de leituras induzidas pela sua aco. A redistribuio de notcias usando as redes sociais tem igualmente efeitos ao nvel da interaco. Das dez notcias observadas, 3
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aumentaram o nmero de comentrios aps a referncia. Verifica-se ainda que a interaco no Facebook superior que ocorre no espao de comentrios da notcia. No total, as notcias registaram 32 comentrios enquanto no Facebook foram recebidos 83 comentrios. Este dado particularmente interessante porque confirma as redes sociais como um ambiente mais favorvel interactividade. Os dados apurados permitem ainda concluir que as referncias suscitam mais comentrios quando o gatewatcher assume alguma posio em relao ao teor da notcia. (CANAVILHAS, 2011: 09)
Todavia, a internet, ao potencializar novas formas de fazer jornalismo, pode
debilitar o processo de checagem em razo do fcil acesso e da rapidez da circulao
de informaes na internet. A realidade virtual acrescenta uma perspectiva nova na
percepo do jornalista no seu trabalho de conhecimento do real que de outra
natureza. Contm a realidade em si, mas disposta de modo a ser percebida em tempo
e espaos diferentes (BIANCO, 2004:05). A autora explica que, nesse contexto, os
jornalistas colhem informaes em um ambiente fragmentado, disperso e hiper-
especializado, sem hierarquias e sobre-informado que, se de uma forma possibilita
uma maior contextualizao e aprofundamento, de outro precariza os processos de
apurao e confirmao de informaes.
Twitter e Facebook: breve apresentao
O Twitter uma rede social criada na internet em 2006 que permite aos
usurios enviar e receber atualizaes pessoais de outros contatos por meio de tweets
de at 140 caracteres. As atualizaes so exibidas no perfil de um usurio em tempo
real e tambm enviada a outros usurios seguidores que tenham assinado receb-las.
J o Facebook um site e servio de rede social lanado em 2004. Em 2012, o
Facebook atingiu a marca de 1 bilho de usurios ativos. Em mdia 316.455 pessoas se
cadastram, por dia, no Facebook, desde sua criao em 4 de fevereiro de 2004. Os
usurios devem se registrar antes de utilizar o site, aps isso, podem criar um perfil
pessoal, adicionar outros usurios como amigos e trocar mensagens, incluindo
notificaes automticas quando atualizarem o seu perfil. Alm disso, os usurios
podem participar de grupos de interesse comum de outros utilizadores, organizados
por escola, trabalho ou faculdade, ou outras caractersticas, e categorizar seus amigos
em listas como "as pessoas do trabalho" ou "amigos ntimos".
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Twitter e Facebook da Cmara: um suporte para as mdias tradicionais
O perfil do Facebook da Cmara dos Deputados pode ser facilmente
encontrado pelo sistema de busca. A pgina est descrita como oficial e coordenada
pela Secretaria de Comunicao Social do rgo. No que diz respeito s observaes
preliminares, o perfil tem, em mdia, 11 mil curtidas4. Percebe-se pouca interao
entre os internautas com perfis na rede. Algumas notcias so comentadas outras so
curtidas, mas em regra, no h grande participao dos internautas no sentido de
comentar ou curtir as informaes divulgadas na pgina do Facebook.
J o Twitter possui 285 mil seguidores com 3.621 twetts postados5. Percebe-se
postagem mais frequente que no Facebook. Todavia, o nmero de seguidores
bastante baixo6 considerando-se o uso da internet no Brasil, conforme Pesquisa
Brasileira de Mdia realizada em 2014. Pesquisa realizada pela ComScore7 aponta que
90,8% dos internautas brasileiros acessam redes sociais e passam quase cinco horas
mensais nelas.
As duas redes sociais na internet Twitter e Facebook da Cmara dos Deputados
foram criadas, respectivamente em 2009 e 2014. Segundo a coordenadora de
Divulgao Institucional da Cmara dos Deputados, os perfis institucionais da Cmara
nas redes sociais foram criados pela Secretaria de Comunicao Social como um
reforo de divulgao dos contedos publicados pelos veculos da Casa (TV Cmara,
Rdio Cmara, Jornal da Cmara e Agncia Cmara). Desde 2012, os perfis
institucionais vm sendo utilizados tambm como forma de divulgar as enquetes e
videochats hospedados no portal da Cmara na internet.
4 Dados extrados e atualizados em 24 de agosto de 2014.
5 Dados extrados e atualizados em 24 de agosto de 2014.
6 A coordenadora de Divulgao Institucional, Gisele Rodrigues, esclareceu que outros rgos
governamentais, por exemplo, o Ministrio da Justia tem uma rea especfica para trabalhar com redes sociais, por isso, tambm registra nmeros mais elevados e significativos do que os da Cmara dos Deputados, que no tem equipe especfica destinada ao trabalho. 7 Disponvel em: http://www.dinaweb.com.br/pesquisa-comscore-revela-perfil-de-brasileiros-nas-redes-
sociais/ Acessado em: 24 de agosto de 2014.
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De acordo com a coordenadora da rea responsvel, os posts remetem, em
quase cem por cento dos casos, s notcias e a outros contedos hospedados no portal
da Cmara na internet. Quando isso no acontece, os links encaminham para
contedos de outros rgos pblicos, geralmente relacionados s informaes de
utilidade pblica.
Consideramos as redes sociais como complemento, uma forma de
reforar a divulgao das atividades da Cmara, com espao para
comentrios do cidado. Nossos veculos primrios de comunicao
so a TV, a rdio, o jornal e o portal da Cmara na internet, que
transmite, em tempo real, todos os debates e votaes, alm de
publicar notcias atualizadas a todo tempo. Alm disso, programas de
rdio e TV tambm permitem a participao do cidado.
(RODRIGUES, 2014)
Na viso da coordenadora, o perfil do Facebook acessrio e, segundo ela, no
h possibilidade real de utilizao da rede para divulgao das atividades legislativas.
Via de regra a Comisso de Legislao Participativa funciona mais que o perfil do
Facebook para fomentar a participao popular. Na prtica, o Twitter mais factual do
que o Facebook dadas as caractersticas dos posts - com at 140 caracteres - permitir a
produo de informao sobre as deliberaes legislativas de modo mais rpido e
acompanhando em tempo real algumas coberturas. No fazemos postagens em
tempo real no Facebook. Apenas no Twitter, durante votaes e debates mais
importantes, remetendo para as notcias publicadas no portal da Cmara, refora a
coordenao.
Sem rotina produtiva institucionalizada
Desde a implantao do projeto, no houve alteraes significativas no que
respeita s rotinas produtivas para a produo de informaes nas duas redes da
Cmara dos Deputados - o Twitter e Facebook. No produzimos contedo jornalstico
especfico para as redes. Os posts com contedo voltados exclusivamente para as
redes sociais so preparados para divulgar enquetes ou outras aes que envolvem
participao popular. Nesses casos, os posts so feitos para estimular a participao do
cidado. Para isso, so produzidas imagens especficas, com um tratamento mais
publicitrio, explica a coordenadora de Divulgao Institucional, Gisele Rodrigues.
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Que valores-notcia para as redes?
Em relao aos valores-notcia, Gisele Rodrigues explica que h indefinies
ainda a esse respeito da produo especfica para o Facebook e Twitter. Todavia,
conforme exposto anteriormente os perfis do Twitter e do Facebook da Cmara dos
Deputados considera como informaes relevantes aquelas oriundas do prprio rgo
e de outros rgos, alm de enquetes sobre assuntos relativos pauta da Casa.
importante destacar que, ao serem consideradas um brao das mdias
tradicionais e, portanto, um complemento, as redes no cumprem efetivamente um
papel preponderante na divulgao das atividades deliberativas da Cmara dos
Deputados, restringindo-se, assim, a serem espaos de reproduo do que produzido
institucionalmente, sem grandes adaptaes ou gesto de contedo. Isso reiterado
pelas observaes feitas s pginas e tambm pela entrevista com a coordenadora da
Divulgao Institucional do rgo.
Ela destaca que os critrios de noticiabilidade para definir o que vai ou que no
vai entrar nas redes devero ser definidos por um guia de referncia para uso das
redes sociais pela Cmara que est em fase de finalizao para que os critrios sejam
menos subjetivos e para padronizar o uso. Segundo a coordenadora de Divulgao
Institucional, as diferentes reas que mantm perfis relacionados Casa - exemplo:
biblioteca, visitao, TV e rdio, entre outras - sigam um padro mnimo de identidade
visual e alguns critrios de publicao, para que se evite a duplicao desnecessria de
contedos e se fidelizem os pblicos especficos.
Divulgao dos trabalhos: h pouca participao
Segundo Gisele Rodrigues, as redes sociais so espaos que permitem a
manifestao do cidado por meio de comentrios: Essas manifestaes so
compiladas periodicamente e consolidadas em relatrios de participao popular que
tambm renem dados sobre outras manifestaes (enquetes, contatos por meio do
Disque-Cmara e @faleconosco, entre outras). Os relatrios so enviados aos
deputados e s principais reas polticas e administrativas da Cmara para
conhecimento.
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Questionada em entrevista sobre a participao do internauta nos dois perfis
(Twitter e Facebook), a coordenadora explicou que os perfis so abertos aos
comentrios do internauta. H um monitoramente dos comentrios de forma a
responder aos internautas sempre que estes faam perguntas objetivas em relao s
notcias divulgadas. Mas ela reiterou: No respondemos provocaes ou crticas
fora de contexto. S exclumos os comentrios ofensivos, segundo previsto nos termos
de uso. Existem filtros que evitam a publicao de postagens do pblico que faa
meno a palavres.
Consideramos as redes sociais como complemento, uma forma de
reforar a divulgao das atividades da Cmara, com espao para
comentrios do cidado. Nossos veculos primrios de comunicao
so a TV, a rdio, o jornal e o portal da Cmara na internet, que
transmite, em tempo real, todos os debates e votaes, alm de
publicar notcias atualizadas a todo tempo. Alm disso, programas de
rdio e TV tambm permitem a participao do cidado.
(RODRIGUES, 2014)
Concluso
Considerando a preponderncia do uso das redes sociais na internet conforme
as pesquisas indicadas, o tempo mdio dedicado pelos brasileiros s redes e a
possibilidade de ampliao do espao pblico miditico por meio do uso delas a partir
de instncias que representam o Estado, a pesquisa realizada a partir da inquietao
sobre a maneira que a Cmara dos Deputados utiliza as redes sociais - Twitter e
Facebook - para dar visibilidade aos trabalhos legislativos demonstra que, apesar de
ser consenso a presena de brasileiros na internet e nas redes, por outro lado, a
Cmara dos Deputados, uma instncia do Poder Legislativo, ainda no tem configurada
uma prtica jornalstica especfica para a divulgao das informaes nas duas pginas
oficiais que mantm.
H que se destacar que, nas observaes feitas pela autora em relao s
publicaes, bem como em relao ao nmero de seguidores, curtidas e outras
informaes relevantes para a anlise, como a periodicidade de postagens, as duas
pginas oficiais da Cmara dos Deputados no revelam utilizao expressiva do
Facebook e do Twitter pelo rgo. A entrevista com a coordenadora da Divulgao
Institucional tambm denota que a Cmara no tem uma equipe especfica para tratar
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as informaes para as redes sociais na internet, sugerindo em sua fala a falta de
infraestrutura e de investimentos especficos para essa rea.
Assim, no so observadas prticas que constituam uma rotina produtiva
especfica para o Facebook e para o Twitter da Cmara dos Deputados. O que se
observa, de fato e que foi confirmado pela entrevista realizada pela autora deste
trabalho, que as notcias divulgadas nos perfis das duas redes so resultado do
trabalho das mdias tradicionais da Casa, revelando pouca inovao e adaptao a esse
novo ambiente, bem como a ausncia de rotinas produtivas especficas que deem
conta da especificidade do ambiente virtual e das redes em particular.
No que respeita participao popular, por mais que seja um espao aberto ao
pblico com algum tipo de monitoramento, os perfis no demonstram a efetividade da
participao popular no que respeita ao andamento legislativo da Casa, s propostas,
s votaes e deliberaes de um modo geral. Sobretudo, o que se constata que os
perfis do Facebook e do Twitter efetivamente funcionam como um brao, um suporte
e um simples complemento das mdias tradicionais (rdio, TV e jornal impresso) e
nesse sentido no tm definidas prticas e linguagens especficas para as redes na
internet. Infere-se que isso pode influenciar e gerar tambm a reduzida e tmida
participao dos internautas nos dois perfis. E, sem dvida, demonstra que os perfis do
Twitter e do Facebook da Cmara dos Deputados efetivamente no tm
expressividade junto ao pblico e guardam a dificuldade de se estabelecerem como
mdias efetivas na divulgao dos trabalhos legislativos da Casa.
importante retomar a discusso feita por Jorge e Kwiatkoski (2013) que
apresenta pesquisa realizada pela Oriella PR Network em 2012 e que aponta que de
um universo de 600 jornalistas em 16 pases, 54% dos entrevistados utilizam
informaes postadas nas mdias sociais para matrias. E, em uma avaliao
preliminar, possvel inferir que uma das formas de produzir informao, buscando
gerar uma agenda mais positiva do Poder Legislativo, seria utilizar as redes sociais j
implantadas para divulgao dos trabalhos a despeito das divulgaes, tambm
importantes, da grande mdia e/ou mdias tradicionais. Esse espao poderia contribuir
para alterar a agenda e pautar jornalistas e cidados para deliberaes importantes
que acontecem na Cmara dos Deputados e, que por vezes, so marginalizadas
enquanto pautas jornalsticas em detrimento de escndalos que envolvem a Casa.
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Considerando os dados das recentes pesquisas abordadas neste artigo relativos
consumo e acesso, Twitter e Facebook no poderiam ser considerados braos dos
meios tradicionais de comunicao da Cmara, mas talvez, um espao efetivo de
construo de agenda que envolvesse o interesse dos cidados promovendo maior
debate e maior participao popular, podendo, inclusive, aumentar o interesse de
internautas pela esfera poltica.
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