Gestão Fiscal do Espírito Santo
Transcript of Gestão Fiscal do Espírito Santo
Gestão fiscal do
Espírito santo aprendizado para o futuro
sECrEtaria DE EstaDo Da FaZEnDaGOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Gestão fiscal do
Espírito santo aprendizado para o futuro
sECrEtaria DE EstaDo Da FaZEnDaGOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
paulo Cesar Hartung GomesGovernador do Estado do Espírito Santo
Bruno pessanha negrisSecretário de Estado da Fazenda
Gustavo assis GuerraSubsecretário de Estado da Receita
Dineia silva BarrosoSubsecretária do Tesouro Estadual
silvio Henrique Brunoro GrilloSubsecretário de Estado para Assuntos Administrativos
José Monteiro nunes FilhoCorregedor
João antônio nunes da silva Presidente do Conselho Estadual de Recursos Fiscais
paulo MazzocoCoordenador da Unidade de Coordenação de Projeto
pedro ozéias de souzaGerente de Arrecadação e Cadastro
sergio pereira ricardoSubgerente de Análise Econômico-Fiscal
Dina Lopes Ferreira DuarteSubgerente da Dívida Ativa
Joana da penha Demuner das nevesGerente de Atendimento ao Contribuinte
Fernando Hostt netoGerente de Contabilidade
Fabiana Del CaroSubgerente de Análise e Orientação Contábil
Evandro de andrade siqueiraSubgerente de Informações Legais e Gerenciais
Bruno pires DiasSubgerente de Normas e Procedimentos Contábeis
suzana Gonçalves de souza José GuerraSubgerente de Avaliação e Monitoramento Contábil
Francisco Costa de andradeGerente de Desenvolvimento Fazendário
Maria Elizabeth pitanga CostaSubgerente de Avaliação e Desenvolvimento Organizacional
Maria da penha Zanoni BritoSubgerente de Desenvolvimento dos Recursos Humanos
ricardo silva VolkersGerente de Finanças
Maria Felícia Fachetti Gabriel JeveauxSubgerente de Programação Financeira
angela Celina Hott GomesSubgerente da Dívida Pública
Martinho de Freitas salomãoSubgerente de Execução Financeira
Luiz roberto Barros da rochaSubgerente de Regularidade Fiscal
Edésio Medeiros assadGerente de Tecnologia da Informação
Benedito Marcos norbertoSubgerente de Tecnologia da Informação
Mônica de araújo saldanhaGerente Fiscal
antonio Carlos de paula LessaSubgerente de Substituição Tributária
Herval José Borini CezarinoSubgerente de Programação Fiscal
neuza rodrigues BittencourtSubgerente de Importação e Exportação
Geraldo José pinheiroSubgerente Fiscal - Região Metropolitana
Marise Machado BorgoSubgerente Fiscal - Região Nordeste
Marco antônio FontanaSubgerente Fiscal - Região Noroeste
Henrique Barros DuarteSubgerente Fiscal - Região Sul
Margaria Maria roconGerente de Infraestrutura Física e Gestão de Contrato
Fernanda Furtado DiasSubgerente de Infraestrutura Física e Gestão de Contratos
João alfredo Ferreira reisenGerente Técnico-Administrativo
Giovani de almeida alvesSubgerente Técnico-Administrativo
adaiso Fernandes almeidaGerente Tributário
rowena rodrigues FragaSubgerente de Legislação Tributária
Ângela Maria silva Jardim de oliveiraSubgerente de Orientação Tributária
rosinéa Gregório CamiloSubgerente de Preparação para Julgamento de Processo
Elineide Marques MaliniRepresentante do Espírito Santo na Comissão Técnica Per-manente do ICMS no CONFAZ
ColaboraçãoMaria Teresa de Siqueira Lima - Coordenadora da Equipe de Pesquisa
Daniel Hirschmann
Edésio Medeiros Assad
Flávia Santos Silvares
Gustavo Assis Guerra
Maíra Pires Cabral Piccin
Pedro de Oliveira
Paulo José Noia
Rogério Zanon da Silveira
Sergio Pereira Ricardo
Vera Caser
revisãoTríade Comunicação
Projeto gráfiCo e diagramaçãoLink Editoração
imPressãoGSA Gráfica e Editora
foto CaPaNova Ponte da Passagem feita pelo fotógrafo Vitor Nogueira, estampa painel
da nova Agência da Receita Estadual de Vitória
elaboraçãoAequus Consultoria S/S Ltda
GoVErno Do EstaDo Do Espírito santo
1
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9antECEDEntEs
rEaDEquação Do pErFiL DE EnDiViDaMEnto
p. 20 p. 34p. 28 p. 48
p. 08
p. 10
p. 12
p. 58
p. 56
p. 18 p. 32p. 22 p. 42 p. 52
iMpaCto nos MuniCípios
Captação DE noVos rECursos
o Espírito santo no ContExto naCionaL
Gasto púBLiCo
LEGaDo E DEsaFios
CrisE E a rECupEração
rECupEração Da arrECaDação
Sum
ário
Um Novo Espírito Santo
Uma Fazenda cada vez mais moderna
Gestão fiscal do Espírito Santo Aprendizado para o futuro
Notas metodológicas
Referências
8 9
Alguns passos foram decisivos para o êxito da trajetória, dentre eles o
realinhamento governamental, com os choques ético e de gestão. Um dos mais
urgentes enfrentamentos efetivados foi a recuperação financeiro-orçamentária
do Espírito Santo, algo fundamental para que o Estado pudesse fazer jus à sua
razão de existir: atender, com obras e serviços, ao povo que o sustenta.
Em virtude das medidas moralizantes, que colocaram a ética republi-
cana como norte do trabalho, o restabelecimento da normalidade financei-
ro-orçamentária foi uma conquista de início da caminhada. Pautamos nossa
ação por uma condução austera da máquina pública, extinguindo cerca de
400 regimes especiais. Trabalhamos comprometidos com a responsabilida-
de fiscal, o equilíbrio nas contas públicas, a redução dos gastos e o comba-
te incessante à sonegação.
Multiplicamos crescentemente a nossa capacidade de investimentos.
No período de oito anos da nossa administração, o volume de investimento au-
mentou de R$ 150 milhões em 2003 para mais de R$ 1 bilhão em 2009, cifra
também alcançada em 2010.
Tão importante como esse significativo crescimento é o fato de que to-
dos os municípios capixabas foram contemplados com obras e serviços. Além
disso, o impacto positivo do desempenho da arrecadação estadual repercutiu
nas finanças dos municípios capixabas. Entre 2003 e 2008, as transferências
de ICMS do Estado para eles cresceram 83,1%, enquanto a média nacional teve
evolução de 42,5% no período.
Outro aspecto que merece destaque é que, ao longo desses oito anos, a apli-
cação de verbas nas áreas sociais, especialmente em educação e em saúde, se man-
teve sistematicamente acima dos percentuais mínimos estabelecidos pela legislação.
Um Novo Espírito Santo
Os resultados alcançados realçam o papel importante exercido pela Secretaria de Estado da Fa-
zenda nesse processo, em razão do aperfeiçoamento do sistema de arrecadação tributária. O uso de fer-
ramentas atuais de gestão, entre as quais investimento em tecnologia da informação e a nota fiscal eletrô-
nica, contribuiu para o aprimoramento do trabalho.
A simplificação fiscal e a redução da carga tributária são outros exemplos que devem ser mencio-
nados. Nesse sentido, o investimento em qualificação profissional e o empenho dos servidores exerceram
papel relevante para essa evolução. Da mesma forma, precisamos ressaltar que o incremento da arrecada-
ção foi alcançado sem aumento de impostos e de outros tributos.
Vale enfatizar que os resultados alcançados no âmbito da Secretaria de Estado da Fazenda vêm sen-
do construídos coletivamente, com uma equipe competente, hoje liderada por Bruno Negris, sucessor dos
secretários José Teófilo Oliveira, Cristiane Mendonça e Roberto Penedo.
Com satisfação, apresentamos esta publicação aos capixabas, como forma de prestar contas do traba-
lho desenvolvido na Secretaria da Fazenda. O conteúdo aborda, em especial, a gestão financeira do Estado im-
plementada nos últimos oito anos, contextualizando-a no panorama da economia brasileira nos últimos 20 anos
e seus reflexos no Espírito Santo. Fala de passos decisivos da caminhada de travessia empreendida a partir de
2003 – uma jornada que nos levou ao Novo Espírito Santo.
Paulo HartungGovernador do Estado do Espírito Santo
A caminhada de travessia que empreendemos a partir de 2003
nos levou a uma nova fronteira histórica, como bem temos
experimentado nestes últimos oito anos. Fomos muitíssimo além
do imaginado, considerando-se o cenário que encontramos, marcado
por desgoverno, corrupção endêmica e falência da capacidade do
Executivo de prestar serviços e entregar obras públicas.
AlAIR CAlIARI
Palácio anchieta, sede do governo do estado
10 11
Marilândia
SantaLeopoldina
VilaVelha
Itaguaçu
Laranja da Terra
Itarana
Presidente Kennedy
JerônimoMonteiro
Mimoso do Sul
Guaçui
Irupi
Ibitirama
Anchieta
Domingos Martins
Afonso ClaudioSanta Maria de
Jetibá
Rio Bananal
Linhares
Pancas
Montanha
Conceiçãoda Barra
Vila Pavão
Ecoporanga
JaguaréÁguia
Branca Mantenópolis
AltoRio
Novo
Santa Teresa
Ibiraçu
Mucurici
Vila Valério
Ponto Belo
João NeivaSão Roque do Canaã
Viana
Alegre
Alfredo Chaves Guarapari
MarechalFloriano
Sooretama
ÁguaDoce do
Norte
São Gabriel da Palha
Barra deSão Francisco
BoaEsperança
AtílioVivacquaSão José
do Calçado Apiacá
BaixoGuandu
Muqui
MunizFreire
Iúna
DivinoSão Lourenço
Marataízes
Iconha
Rio Novo do Sul
Nova Venécia
Colatina
Aracruz
Pinheiros
Castelo
SãoDomingosdo Norte
Canário
Fundão
Serra
Brejetuba
São Mateus
VendaNova doImigranteConceição
do Castelo
Dores doRio Preto
Itapemirim
Piúma
Vargem Alta
Ibatiba
Cachoeiro deItapemirim
Bom Jesusdo Norte
Cariacica
GovernadorLindenberg
Vitória
Pedro
Dentro dessa filosofia, está continuamente sendo construída uma Fa-
zenda mais moderna e eficiente, centro do processo de reconstrução do Estado.
Os servidores da Secretaria de Estado da Fazenda concluem um perí-
odo de oito anos comemorando não apenas os números da arrecadação e in-
vestimentos no Estado, mas também uma série de melhorias que permitem
maior agilidade nas rotinas e constante aperfeiçoamento nos serviços presta-
dos à sociedade.
Criamos, por exemplo, a Gerência de Atendimento ao Contribuinte, que
será responsável por implementar um padrão de excelência nas Agências da
Receita Estadual.
Diminuímos o número de servidores comissionados, realizamos mere-
cidas promoções funcionais e nomeamos novos auditores fiscais. Além disso,
o Tesouro Estadual ganhou nova estrutura, com a consolidação da carreira de
consultor do Executivo.
Outra medida importante foi o fechamento de todos os postos fiscais, o
que proporcionou mais agilidade e redução de custos no transporte de merca-
dorias dentro do Espírito Santo. O fechamento dos postos foi possível graças à
adoção de mecanismos mais modernos de gestão tributária, como a Nota Fiscal
Eletrônica e o Sistema Público de Escrituração Digital (Sped), estando relaciona-
do a um trabalho mais investigativo e inteligente de combate à sonegação fiscal.
Ainda na área administrativa, adotamos novos mecanismos de contro-
le e agilidade nos processos de compra, contratação de serviços e, em espe-
cial, realização de obras, como a Central de Auditorias da Subgerência Fiscal
da Região Metropolitana e a nova agência de atendimento ao contribuinte da
Receita Estadual em Vitória.
Uma Fazenda cada vez mais moderna
Em 2003, teve início no Espírito Santo um novo modelo de gestão
pública. Um modelo baseado na responsabilidade fiscal, na
meritocracia e na vontade de tornar cada vez melhor a rotina do
servidor e o atendimento ao cidadão.
Também aperfeiçoamos o site da Se-
cretaria da Fazenda e aumentamos a oferta de
serviços pela internet, por meio do projeto MAIS
FÁCIL. Instituímos, em parceria com a Junta Comer-
cial do Espírito Santo (Jucees), o Cadastro Simplifica-
do (Cadsim), que facilita e agiliza o trabalho dos em-
preendedores na abertura de empresas.
Fortalecemos a imagem do Tesouro e da Re-
ceita Estadual, adotando suas logomarcas, e inaugura-
mos, em cada Subgerência Regional, o Portal da Receita,
ferramenta que torna mais transparente aos servidores e à
sociedade os números da arrecadação de ICMS, IPVA, ITCD e
taxas, além dos números relativos à Nota Fiscal Eletrônica (NF-e)
e ao Conhecimento de Transporte Eletrônico (CT-e).
Outra realização importante foi a assinatura do contrato de emprés-
timo com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que vai permitir
diversos investimentos na Secretaria da Fazenda, como na formação de servi-
dores, na consultoria aos contribuintes, na adaptação às novas normas de con-
tabilidade e na aquisição de equipamentos de informática até o ano de 2015.
Cabe lembrar que apenas comemoramos essas conquistas hoje graças
à dedicação dos quase mil servidores da Fazenda. Agradecemos o empenho de
cada um deles, na certeza de estarmos construindo um Estado cada vez melhor.
bruno Pessanha NegrisSecretário de Estado da Fazenda
Agências de atendimento
Auditorias regionais
12 13
O Espírito Santo exibe atualmente uma das melhores situações
financeiras entre os estados brasileiros. Essa condição foi
alcançada após uma ampla reestruturação das contas públicas
implementada pelo governo que assumiu o Estado em 2003,
num processo que reverteu completamente o quadro de total
deterioração fiscal que caracterizava as finanças do setor público
capixaba até então.
Nos últimos 15 anos, as finanças dos estados brasileiros passaram por
profundas modificações. Na segunda metade da década de 1990, após a im-
plantação do Plano Real, a situação das unidades da federação era muito pre-
cária. Para se ter uma ideia, em 2000, quando a Secretaria do Tesouro Nacio-
nal (STN) passa a disponibilizar os dados dos balanços patrimoniais, o endivida-
mento de curto prazo dos entes subnacionais correspondia a 15,1% da receita
corrente disponível, sendo que no Espírito Santo o percentual chegava a 47%.
No período 1995/1999, o gasto médio com pessoal consumia 66,4% da
receita corrente disponível e, no caso capixaba, chegava a insustentáveis 87%.
De fato, o quadro das finanças estaduais era motivo de forte preocupação e, nes-
se cenário desolador, a situação do Espírito Santo era ainda mais desconfortável.
Nos primeiros anos desta década, a situação começou a ser revertida,
mas era ainda muito ruim. Foi só a partir de 2004, impulsionada pelo crescimento
econômico e sob a tutela da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que a situação
começa a ganhar novos contornos. Os indicadores apontam para uma melhora
sem precedentes das contas públicas dos estados brasileiros nos anos seguintes.
Nesse ambiente, o Espírito Santo passa a apresentar, progressivamente, indicado-
res que o colocam na vanguarda desse processo (confira mais detalhes no Box 1).
Gestão fiscal do Espírito Santo Aprendizado para o futuro
VITOR NOGuEIRA
rodovia es-381,
liga são mateus
a Nova venécia
14 15
em 2000, constituiu um complemento essencial à
estratégia preconizada pelo Programa de Reestru-
turação e Ajuste Fiscal. A LRF estabeleceu uma sé-
rie de mecanismos de controle das finanças públi-
cas em todas as esferas de governo, destacando-se
os expedientes voltados a limitar a expansão exces-
siva de gastos de pessoal e custeio.
A Lei também proibiu novos refinanciamentos
de dívidas de entes federados junto à União e criou a
necessidade de os governos das três esferas se com-
prometerem com metas com relação à geração de
superávits primários, ou seja, metas de economia de
receitas compatíveis com as necessidades de paga-
mento dos juros e amortização das dívidas passadas.
Assim, a LRF fortaleceu os compromissos fir-
mados pelos estados nos acordos fechados no âmbi-
to do Programa. De fato, ao contrário do que ocorria
no passado, quando os estados sucessivamente des-
cumpriam suas obrigações de refinanciamento com a
União, a partir de 2000 os contratos tiveram que efe-
tivamente ser cumpridos, pois a inadimplência resul-
taria na suspensão das transferências federais refe-
rentes ao Fundo de Participação dos Estados (FPE) e
da parcela do Imposto sobre Produtos Industrializados
(IPI) sobre exportações, entre outras penalidades. As-
sim, garantiu-se o pagamento dos serviços das dívi-
das e evitou-se a explosão do endividamento estadual.
No Espírito Santo, já em 1996 foi aprovada
a Lei Estadual nº 5.276, que instituiu o Programa de
Desestatização, Reestruturação e Ajuste no Estado,
sendo o acordo de refinanciamento da dívida junto
à União firmado em dezembro de 1997.
box 1 As dívidas dos estados e a Lei de Responsabilidade Fiscal
Um dos elementos que contribuiu para a longa per-
sistência do processo inflacionário brasileiro foi o
descontrole das dívidas dos estados (e de alguns
dos grandes municípios brasileiros), situação que se
manteve pelo menos até o início dos anos 1990. Du-
rante muitos anos esses governos financiaram gas-
tos, contraindo dívidas junto aos bancos estaduais,
dos quais eram acionistas majoritários.
Como as dívidas eram crescentes, a saúde
dessas instituições financeiras piorava sistematica-
mente e não eram incomuns pedidos de socorro ao
Banco Central para impedir que os bancos quebras-
sem, até porque isso poderia resultar em um efeito
em cadeia no sistema financeiro nacional. Na prá-
tica, portanto, os governos dos estados acabavam
desfrutando de um poder de “criar dinheiro”, já que
tinham a possibilidade de gastar além da sua capa-
cidade de arrecadação e de se financiar junto a seus
próprios bancos.
Um ponto central de apoio ao Plano Real,
que acabou com o crônico processo inflacionário
brasileiro em 1994, foi justamente a retirada des-
se poder de emissão monetária por parte dos esta-
dos que, caso não eliminado, tenderia a dificultar a
queda da inflação, já que alimentava a demanda de
bens e serviços exercida por esses entes, o que, por
sua vez, tendia a pressionar os preços.
Para tanto, o governo federal organizou um
processo em que a União assumiu as dívidas que
os estados e municípios tinham junto aos bancos e
ao mercado financeiro em geral (através de títulos)
e refinanciou seus débitos por 30 anos, em termos
de compromissos assinados no âmbito do Programa
de Reestruturação e Ajuste Fiscal, instituído pela Lei
nº 9.496, de 11 de setembro de 1997.
A adesão dos estados ao Programa foi pra-
ticamente total. Ao todo, 24 Unidades da Federação,
além do Distrito Federal, assinaram os termos, pelos
quais se comprometeram a implantar uma reforma
abrangente em suas finanças, incluindo: a) a ven-
da de empresas estatais, particularmente conces-
sionárias estaduais de distribuição de energia elé-
trica, além de outros ativos; b) a privatização/liqui-
dação dos bancos estaduais; e c) a implementação
de programas de ajuste fiscal para viabilizar o pa-
gamento das prestações decorrentes do refinancia-
mento de suas dívidas pela União.
A intenção da medida, portanto, era não ape-
nas interromper o processo de emissão monetária por
parte dos entes subnacionais, mas também forçá-
-los a iniciar o pagamento de suas dívidas, as quais,
na situação anterior, vinham sendo recorrentemen-
te “roladas” junto a seus próprios bancos.
Justamente nesse sentido, a LRF, aprovada
Nova Ponte da
Passagem, em vitóriaAlAIR CAlIARI
16 17
As iniciativas do Governo Estadual somente tiveram sucesso graças à
prática deliberada do Governo Estadual de obter sucessivos superávits orçamen-
tários (geração de receitas em volume superior a de despesas), o que permitiu
eliminar o insustentável endividamento de curto prazo que o Estado vinha car-
regando há vários anos (Gráfico 1).
Além de ter saldado todos os compromissos atrasados com servidores
e fornecedores, o governo capixaba passou a gerar uma vigorosa poupança fi-
nanceira, que se manteve elevada por vários anos consecutivos desde 2003
(Gráfico 2). A adequação do endividamento foi fundamental para permitir que
o aumento da arrecadação e a gestão controlada dos gastos pudessem resul-
tar em efetiva elevação da capacidade de investimento público – indicador que
melhor traduz o sucesso da estratégia de ajuste. O processo de saneamento financeiro foi importante para que o Espíri-
to Santo pudesse desfrutar de uma posição privilegiada durante o ciclo de cres-
cimento da economia brasileira, no período entre 2004 e 2008. Impulsionada
pela excepcional expansão da economia capixaba e pelas ações de combate à
sonegação, a arrecadação do Estado cresceu consideravelmente nesses anos,
permitindo ao governo realizar um conjunto de investimentos essenciais para o
desenvolvimento do parque produtivo local, exercendo assim um papel comple-
mentar fundamental no processo de crescimento econômico local.
Por outro lado, na crise mundial que atingiu o Brasil entre o final de 2008
e a maior parte de 2009, o governo do Espírito Santo encontrava-se em uma
situação particularmente confortável, com sobras de caixa que lhe permitiram
manter elevados níveis de investimentos a despeito do comportamento adver-
so da arrecadação. Dessa forma, a gestão das contas estaduais durante a crise
assumiu um caráter essencialmente anticíclico, atenuando seus impactos ne-
gativos e contribuindo para a rápida recuperação do nível de atividade econômi-
ca no Estado a partir de 2010.
GRÁFICO 1 • evolução do resultado orçameNtário do estado do esPírito saNto, 1995-2009
Em R$ milhões (IPCA médio de 2009)
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009).
1995
-684,7
143,9
2001
-529,3
1997
486,8
2003
-727,5
1999
538,5
2005
395,9
2007
-120,1
1996
0,820
02
-710,1
1998
336,9
2004
-103,4
2000
172,9
2006
917,4
2008
-283,3
2009
-61,6
-410-268,4
180,9
837,3
1.509,4
-840,8
-1.265,3
-1.559,8
197,2
-1.458,2
1.064,2
2.538,52.285,6
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009).
GRÁFICO 2 • evolução da (iN)sufiCiêNCia fiNaNCeira do estado do esPírito saNto, 1995-2009
Em R$ milhões (IPCA médio de 2009)
1995
2001
1997
2003
1999
2005
2007
1996
2002
1998
2004
2000
2006
2008
2009
-2.128,8
PRODEST
data Center
do instituto de
tecnologia da
informação e
Comunicação do
espírito santo
(Prodest)
17
18 19
Embora a situação fosse melhor que a vigente
durante a segunda metade dos anos 1990, quando as
finanças do Estado estiveram profundamente afetadas
pelas consequências do ambiente de baixa inflação da
fase pós-Real sobre o setor público em geral (confira
mais detalhes no Box 2), o orçamento estadual ainda
era cronicamente deficitário no início da presente dé-
cada. Os atrasos nos salários dos servidores eram sis-
temáticos, e os pagamentos de juros e amortizações
devidos sofriam frequentes interrupções.
Naturalmente, esse contexto impunha enormes
restrições à capacidade de execução de políticas por
parte do governo. Além do investimento público do Es-
pírito Santo se mostrar baixo face às necessidades de
infraestrutura e serviços sociais, a efetiva capacidade
do Estado de investir era negativa, ou seja, os gastos
com investimentos não tinham cobertura em termos
de arrecadação e resultavam em acúmulo de compro-
missos em atraso.
Dessa forma, durante vários anos até 2003, o
Espírito Santo acumulou enormes volumes de dívidas
com vencimentos no curto prazo, sem lastro em suas
disponibilidades de recursos em caixa. Sistematicamen-
te, a administração estadual iniciava o exercício finan-
ceiro com a receita já comprometida com a necessida-
de de saldar dívidas em atraso junto aos servidores pú-
blicos e aos fornecedores de suprimentos, bens e ser-
viços contratados em anos anteriores.
Para que se tenha uma ideia, ao final de 2002,
o volume de compromissos em atraso (restos a pa-
gar) montava R$ 1,3 bilhão, valor correspondente a
37,9% de toda a receita corrente disponível arreca-
dada naquele ano.
Naquele momento, o Espírito Santo ocupava a
terceira pior situação de endividamento de curto prazo
entre todos os estados brasileiros. Sua insuficiência fi-
nanceira só era superada pela do Rio Grande do Sul e
Paraná, cujas dívidas de curto prazo atingiram 56,7% e
39,9% da receita corrente disponível, respectivamente.
Para reverter essa situação, o governo que
assumiu o Estado em 2003 adotou um conjunto de
medidas voltadas a expandir o potencial de arrecada-
ção e controlar os gastos do setor público. Ao mesmo
tempo, montou uma engenharia financeira perspicaz,
com a venda futura de royalties para a União. Essa es-
tratégia efetivamente mudou a forma de administra-
ção das finanças estaduais, colocando o Espírito San-
to em uma posição diferenciada face às demais uni-
dades da federação, dadas a precocidade e a magni-
tude do ajuste empreendido.
box 2 As contas públicas no pós-Plano Real
Até 1994 o Brasil viveu sob um verdadeiro “regime in-
flacionário”, com aumentos de preços que, em mui-
tas ocasiões, superavam os 10% ao mês. Ao final de
1989, quando chegou-se ao estágio da hiperinflação,
os preços cresceram até 89% num único mês. O setor
público adaptou-se de tal forma a esse regime que sua
gestão financeira passou a depender da inflação para
garantir o mínimo de equilíbrio entre receitas e des-
pesas. A arrecadação tendia a crescer conforme a in-
flação, já que os tributos eram calculados sobre o va-
lor dos bens e serviços.
Com as despesas, porém, o cenário era dife-
rente, porque os salários do funcionalismo - de longe
o principal item de gasto - não tinham mecanismo de
reajuste automático à inflação. Num contexto de per-
manente aceleração inflacionária, a prática de deixar de
reajustar, durante alguns meses, os salários dos servi-
dores era em geral suficiente para adequar o valor das
despesas ao das receitas.
Quando a inflação cedeu, a partir do Plano
Real, em 1994, esse poderoso mecanismo de ajus-
te via corrosão automática do valor real dos gastos
deixou de existir. Adicionalmente, o desempenho da
economia manteve-se fraco durante a segunda me-
tade dos anos 1990, comprometendo a arrecadação.
Esse novo cenário explicitou a fragilidade financeira
da maioria dos estados e de muitos municípios, cuja
situação fiscal vinha sendo camuflada pela inflação
permanente. A partir dali, grande parte das unidades
da federação passaria a apresentar déficits orçamen-
tários recorrentes.
No Espírito Santo, a situação logo após o Plano
Real beirava o colapso. Em 1994, o Estado abriu mão
de sua participação na Espírito Santo Centrais Elétricas
Antecedentes1
As contas públicas do Espírito Santo, no início de 2003, refletiam um
quadro de baixa capacidade de arrecadação, descontrole de gastos
e alto nível de endividamento junto a servidores e fornecedores,
configurando um perfil claramente insustentável.
(Escelsa), empresa estadual de distribuição de energia.
Os recursos com a venda das ações, que deveriam ter
sido empregados para capitalizar o fundo estadual de
previdência, foram pulverizados, naquele ano eleitoral,
em convênios com os municípios e para complementar
o pagamento da folha de pessoal, pois já começavam
as dificuldades de quitá-la mensalmente.
Em 1995, o governo que assumia concedeu um
reajuste de 25% aos servidores públicos logo no pri-
meiro trimestre da gestão, o que fez com que apenas o
gasto com pessoal consumisse mais de 90% da recei-
ta corrente disponível arrecadada naquele ano. Nessas
circunstâncias, o espaço para a realização dos demais
gastos (administrativos, financeiros e de investimento)
tornou-se extremamente reduzido, sendo necessária a
contratação de sucessivas operações de Antecipação
de Receita Orçamentária (ARO) a fim de tapar as des-
pesas não cobertas por recursos correntes do tesouro
estadual. Como resultado, o Estado registrou um rombo
orçamentário equivalente a 26,5% da receita corrente
disponível, a quarta pior posição do país.
A situação das finanças capixabas permane-
ceria bastante vulnerável durante toda a segunda me-
tade dos anos 1990. A política financeira adotada pelo
Estado estava fora de sintonia com o ambiente de bai-
xa inflação, especialmente com relação às despesas
de pessoal, que consumiram em média 87% da recei-
ta corrente disponível entre 1995 e 1999.
O orçamento do Espírito Santo manteve uma
situação cronicamente deficitária nesse período, com
as despesas superando, em média, mais de 20% das
receitas correntes disponíveis. Esse quadro de forte
deterioração das finanças públicas capixabas somen-
te seria revertido de maneira definitiva a partir de 2003.
1918
20 21
Nesse mesmo momento, o Espírito Santo se diferenciou das de-
mais unidades federadas pela intensidade com a qual promoveu seu ajus-
te. O Estado apresentou um bom desempenho, ao aumentar em 7,9% sua
receita corrente disponível em termos reais, ao contrário dos demais, que
assistiram a uma queda de 2%.
Mesmo diante do aumento de receita, o Estado realizou um corte pro-
fundo em seus gastos com pessoal (-5,9%), custeio (-5,1%) e, notadamen-
te, investimentos (-44,8%), ao mesmo tempo em que realizou a operação de
venda da receita futura de royalties. O conjunto dessas medidas tornou pos-
sível reverter o quadro de endividamento de curto prazo e dar início ao pro-
cesso de adequação da folha de pagamento de pessoal à capacidade de fi-
nanciamento do Estado.
A venda dos royalties foi importante para o processo de ajuste fiscal do
Estado. A operação foi concretizada em 2003, após a aprovação da Lei Estadual
nº 7.467, de 23 de junho de 2003, que autorizou o Poder Executivo a utilizar o
crédito antecipado dos royalties no limite máximo de R$ 360 milhões.
Essa iniciativa permitiu que, já em 2003, ingressassem no caixa do Es-
tado a quantia de R$ 254,1 milhões (em valores da época). Desse total, R$ 143
milhões foram destinados ao Fundo Estadual de Previdência e R$ 111 milhões
Readequação do perfil de endividamento
Em 2003, os governos estaduais recém-eleitos,
sob o impacto da crise que reduziu suas receitas
totais disponíveis em 5%, promoveram um corte
nos gastos, notadamente em pessoal (-5,1%) e
investimentos (-28,1%), ao mesmo tempo em que
reduziram o endividamento de curto prazo, que
passou de R$ 25,1 bilhões para R$ 21,7 bilhões,
de 2002 para 2003.
serviram para quitar a dívida com a União, que, por
conta da regularização da situação do Estado, libe-
rou uma caução de R$ 42,3 milhões. Entre 2004
e 2005, o Estado recebeu mais R$ 124,5 milhões,
também relativos à venda antecipada de royalties.Os recursos obtidos da venda da receita fu-
tura de royalties foram essenciais para trazer maior
tranquilidade à administração das finanças estaduais.
De um lado, a estrutura de ativos do Fundo de Pre-
vidência se ajustou aos compromissos relacionados
aos benefícios dos segurados, eliminando a neces-
sidade de o Tesouro Estadual aportar volume ainda
maior de recursos em um momento posterior, quan-
do o desequilíbrio teria inevitavelmente se acumula-
do. De outro, impediu-se que o custo financeiro da
dívida do Estado junto à União sofresse um acrésci-
mo expressivo, o que seguramente traria problemas
financeiros à frente.
escola estadual
dom josé dalvit,
em montanha
2AlAIR CAlIARI
22 23
box 3 Política tributária e desenvolvimento no Espírito Santo
Desde a década de 1970, o Espírito Santo con-
ta com um importante mecanismo de estímulo às
atividades produtivas. O Fundap, instituído pela Lei
Estadual nº 2.508, de 22 de maio de 1970, conce-
de incentivos financeiros a empresas com sede no
Espírito Santo que realizem operações de importa-
ção pelos portos estaduais. O mecanismo tem con-
tribuído para estimular o crescimento de toda uma
cadeia de serviços em torno das atividades de ex-
portação, além de demandar um conjunto de inves-
timentos na infraestrutura portuária.
Mais recentemente, em 2003, o governo do
Espírito Santo criou outro instrumento de política tri-
butária voltado a impulsionar o desenvolvimento da
atividade econômica local, o Invest-ES, que apoia pro-
jetos de investimento que envolvam renovação tec-
nológica, aumento da competitividade, geração de
emprego e renda e contribuam para reduzir as de-
sigualdades sociais e regionais.
Também em 2003 foi criado o Compete-ES.
Voltado nesse caso para a competitividade setorial,
o Programa tem como objetivo contribuir para a ex-
pansão e modernização dos setores produtivos pre-
sentes no Estado. No âmbito do Compete-ES, gover-
no e iniciativa privada, juntos, estabelecem um con-
junto de ações indutoras ao aumento da competitivi-
dade das organizações, visando dar-lhes maior com-
petitividade no contexto local, nacional e internacio-
nal, de tal forma a garantir um desenvolvimento sus-
tentável dos negócios em território capixaba.
Além disso, era fundamental aprofundar a
condição da política tributária indutora do desenvol-
vimento, através da criação de uma estrutura de in-
centivos que contribuísse para o aumento da gera-
ção de empregos e alimentasse o próprio crescimen-
to da receita de tributos, via estímulo de atividades
relevantes para a economia capixaba.
Para lidar com o problema do baixo potencial
arrecadador, foi feita uma profunda revisão das normas
tributárias vigentes no Estado. Entre as ações mais im-
portantes, pode-se citar o cancelamento de cerca de
400 regimes especiais de ICMS, que configuravam
privilégios fiscais injustificáveis, e a cassação de limi-
nares que impediam determinadas empresas de sub-
meterem-se ao regime de substituição tributária, algu-
mas delas dos segmentos de bebidas e combustíveis.
No âmbito dos incentivos fiscais à atividade
produtiva, foram reduzidos os encargos tributários de
microempresas e empresas de pequeno porte, assim
como de alguns setores econômicos com forte presen-
ça na economia local (metal-mecânico, moveleiro, ves-
tuário, calçadista, laticínios, avicultura, suinocultura e
outros), e de determinados produtos (alimentação, hi-
giene e limpeza, e óleo diesel, dentre outros).
Essas ações de aperfeiçoamento efetivamente
reduziram a carga tributária sobre a atividade produti-
va no Estado, e vieram reforçar o papel desempenha-
do por três importantes mecanismos de concessão de
incentivos financeiro e fiscal: o Fundo de Desenvolvi-
mento das Atividades Portuárias (Fundap), o Progra-
ma de Incentivo ao Investimento no Estado do Espí-
rito Santo (Invest-ES) e o Programa para Incremento
da Competitividade Sistêmica do Estado do Espírito
Santo (Compete-ES) – veja mais detalhes no Box 3.
Simultaneamente ao processo de revisão da
legislação tributária, a Receita Estadual passou por
uma profunda reestruturação. Os auditores fiscais pas-
saram por um amplo programa de capacitação e no-
vas tecnologias passaram a ser empregadas na atu-
ação do fisco estadual, potencializando a sua capaci-
dade de monitorar as atividades econômicas e coibir
a sonegação por meio de ações de inteligência fiscal.
Essa série de medidas permitiu que, já em
2003, a receita do ICMS – principal item de arre-
cadação do Espírito Santo – registrasse um cresci-
mento real de 6,9%, desempenho particularmente
expressivo, tendo em vista que esse foi um ano de
crise para a economia brasileira. De fato, a baixíssi-
ma expansão de 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB)
em 2003, repercutiu diretamente na arrecadação do
ICMS em todo o país, contribuindo para que o tributo
registrasse queda real de 0,8% em relação a 2002
no conjunto dos estados brasileiros.
A partir de então, o volume de ICMS arreca-
dado no Espírito Santo aumentaria continuadamen-
te, sob o impacto do intenso ciclo de crescimento
da economia brasileira iniciado em 2004, no qual a
base produtiva do Estado acabou desempenhando
um importante papel (confira mais informações no
Box 4). Entre 2003 e 2008, o ritmo de aumento da
arrecadação do ICMS capixaba ficou entre os cinco
maiores do Brasil (Gráfico 3 e Tabela 1).
Recuperação da arrecadação
No campo da receita, as ações se voltaram principalmente para
a adequação da legislação tributária às necessidades do Estado.
Esse movimento foi guiado por uma dupla preocupação. Era preciso
eliminar diversas distorções que acabavam por deprimir a capacidade
de arrecadação do fisco estadual.
3
usina de tratamento de gás natural (foto),
termelétrica e indústria de gás químico
são empreendimentos em linhares
Espírito Santo
Todos os estados
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009) e Brasil (2010a)
1995
80
160
120
200
100
180
140
220
2001
1997
2003
1999
2005
2007
1996
2002
1998
2004
2000
2006
2008
2009
GRÁFICO 3 • evolução da arreCadação do iCms No estado do esPírito saNto e No CoNjuNto dos estados do brasil, 1995-2009
Ano base 1995 = 100
ARquIVO PETRObRAS (uTGC)
24 25
box 4 A dinâmica da economia capixaba e a evolução do ICMS
A base econômica do Estado do Espírito Santo foi
moldada a partir de grandes investimentos dos se-
tores extrativo mineral, de siderurgia e celulose,
datados da década de 1970. Foram projetos de-
senvolvidos no âmbito do II Plano Nacional de De-
senvolvimento (PND), programa voltado ao enfren-
tamento de gargalos na estrutura produtiva do país,
por empresas como Companhia Vale do Rio Doce,
Companhia Siderúrgica de Tubarão (atual Arcelor-
Mittal Tubarão), Samarco Mineração e Aracruz Ce-
lulose. Os estímulos exercidos por esse núcleo di-
nâmico ampliaram a demanda por serviços espe-
cializados, especialmente em logística de transpor-
te rodoviário e portuário.
Além desses fatores estritamente econômi-
cos, a política de incentivos financeiros do setor pú-
blico estadual definiu o perfil da economia capixa-
ba e ampliou o potencial de arrecadação tributária.
No período mais recente, com o aumento das ativi-
dades de prospecção de petróleo e a perspectiva de
exploração da camada pré-sal, os investimentos da
Petrobras e de outras empresas da cadeia produti-
va petrolífera e de gás também passaram a ter pa-
pel relevante na economia local.
Nos últimos anos, a economia do Espírito San-
to tem sido palco de um processo de ganhos de es-
calas em importantes setores da indústria em termos
de dinamismo e tecnologia. Para se ter uma dimen-
são desse movimento, em 1996 as empresas capixa-
bas dos setores de extração mineral e petróleo, meta-
lurgia básica, celulose e metal-mecânica respondiam
por 26% do Valor de Transformação Industrial nacional
(indicador medido pelo IBGE, cujo conceito se aproxi-
ma da ideia de valor adicionado). A parcela, que já era
bastante significativa, atingiu em 2007 impressionantes
37,6% do total nacional, indicando que o Estado cons-
truiu de fato uma vocação econômica associada aos se-
tores mais dinâmicos do ramo de bens intermediários.
Essa base econômica industrial fez com
que o Espírito Santo se sobressaísse durante o ci-
clo recente de crescimento da economia brasilei-
ra de 2004-2008. Capitaneada pelo desempenho
de sua indústria exportadora, que experimentou
sensível elevação de preços no mercado interna-
cional, pela logística privilegiada de seus portos e
pelos diversos segmentos da economia local im-
pulsionados por essas atividades, a economia ca-
pixaba cresceu à frente do PIB nacional. Os dados
disponíveis indicam que o PIB do Espírito Santo
cresceu em média 5,3% ao ano no período 2002-
2007, contra 4% de crescimento do PIB nacional.
Acompanhando esse movimento, o ritmo de
expansão do ICMS no período 2003-2008 atingiu
em média 12,9% ao ano em termos reais, enquan-
to o conjunto dos estados do Brasil registrou cres-
cimento médio de apenas 7,4%. Particularmente no
segmento da indústria, o recolhimento de ICMS ca-
pixaba manteve um crescimento excepcional, 20%
ao ano entre 2003 e 2008 em termos reais. Como
consequência dessa performance, a participação do
Espírito Santo no ICMS arrecadado no país nesse pe-
ríodo saltou de 2,5% do total para 3,2%.
O ritmo de expansão do ICMS é um elemen-
to crucial para explicar o processo de ajuste fiscal
do Espírito Santo. Em 2008, esse tributo respon-
dia por percentual superior a 45% da receita total
disponível do Estado. Em 2010, já em plena recu-
peração da crise econômica mundial que atingiu
o Brasil ao final de 2008, a arrecadação do ICMS
deverá crescer, em termos reais, 5,8%, contribuin-
do de maneira fundamental para o crescimento da
receita do setor público capixaba.
A expansão econômica também impulsio-
nou o crescimento do Imposto sobre a Propriedade
de Veículos Automotores (IPVA), que, sob o impacto
do grande aumento da frota de veículos estimulado
pela expansão do crédito em melhores condições
de juro e prazo, registrou uma elevação de 19,7%
ao ano, em termos reais, no mesmo período, a mais
alta entre todos os estados brasileiros (Gráfico 4).
Outro fator decisivo foi a mudança de pro-
cedimento da Receita Estadual, que passou a atu-
ar em duas frentes. Uma primeira iniciativa foi a
adoção da tabela de preços de veículos automoto-
res elaborada pela Fundação Instituto de Pesqui-
sas Econômicas (Fipe), da Fundação Getulio Var-
gas (FGV), o que lhe permitiu ampliar a classifica-
ção dos modelos que servem como referência à
definição da base de cálculo, que passaram de 1,8
mil para cerca de 11 mil modelos.
Esse trabalho ampliou a base tributária do
IPVA, ao mesmo tempo em que conferiu uma maior
GRÁFICO 4 • evolução da arreCadação de iPva No estado do esPírito saNto e No CoNjuNto dos estados do brasil, 2001-2009
Ano base 2001 = 100
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009) e Brasil (2010a)
Espírito Santo
Todos os estados
2001
2003
2005
2007
2002
2004
2006
2008
2009
50
250
150
100
300
200
estado e regiãotaxa média anual de crescimento real¹
1999-2003 2003-2008 2008-2009
São Paulo 2,9% 7,8% -1,9%
Rio de Janeiro 4,1% 4,6% 0,3%
Minas Gerais 5,1% 9,9% -6,9%
Espírito Santo 7,1% 12,9% -11,8%
sudeste 3,7% 7,8% -3,1%
total dos estados 5,9% 7,4% -1,1%
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1999-2009) e Brasil (2010a).Nota: ¹ valores corrigidos pelo IPCA médio de 2009.
TABELA 1 • taxa média aNual de CresCimeNto real da arreCadação do iCms dos estados da região sudeste e do CoNjuNto dos estados do brasil, Por Período, 1999-2009
Centro de referência de assistência social (Cras),
em águia branca. a rede conta com 114 centros em
funcionamento em 71 municípios no estado
AlAIR CAlIARI
26 27
GRÁFICO 6 • evolução da reCeita CorreNte disPoNível do estado do esPírito saNto e do CoNjuNto dos estados do brasil, 1995-2009
Ano base 1995 = 100
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009) e Brasil (2010a)
Espírito Santo
Todos os estados
1995
2001
1997
2003
1999
2005
2007
1996
2002
1998
2004
2000
2006
2008
2009
80
100
120
140
160
180
200
220
240
260
Diante desse cenário, é possível afirmar que
a recuperação da arrecadação capixaba ocorrida nos
últimos anos foi intensa e contribuiu para transformar
a estrutura de financiamento do governo do Espírito
Santo, estabelecendo um novo patamar para a sus-
tentação das ações do setor público.
Associado ao comportamento satisfatório
dos demais itens da arrecadação, esse desempe-
nho dos impostos e das receitas decorrentes da
exploração do petróleo e gás fez com que a recei-
ta do Espírito Santo aumentasse de maneira ex-
pressiva a partir de 2003.
Embora esse movimento tenha sido um fe-
nômeno nacional, o processo de adequação da es-
trutura tributária do Espírito Santo e a performan-
ce de sua economia contribuíram para que o Esta-
do apresentasse um desempenho nitidamente des-
tacado em relação ao conjunto da federação (Gráfico
6). Entre 2003 e 2008, a receita corrente do Espírito
Santo cresceu, em média, 12,3% ao ano, em termos
reais, contra 8,3% da média nacional. Esse ritmo foi
o sexto mais intenso entre todos os estados do país.
fonte: adaptado de Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (2010)
GRÁFICO 5 • evolução dos royalties e das PartiCiPações esPeCiais do Petróleo e gás Natural, No estado do esPírito saNto e demais estados, 2000-2009
Ano base 2000 = 100
Espírito Santo
Demais estados
2001
2000
2003
2005
2007
2002
2004
2006
2008
2009
200
1000
600
1400
0
800
400
1200
1600
justiça tributária ao minimizar as iniquidades administrativas na arrecadação do
imposto. Simultaneamente, o Estado adotou medidas punitivas mais severas, pas-
sando a inserir os inadimplentes com o IPVA no Cadastro Informativo do Registro
de Pendências de Pessoas Físicas e Jurídicas (Cadin), deixando-os assim impedi-
dos de obter a certidão negativa de débito estadual.
Da mesma forma, as receitas de compensações financeiras pela explora-
ção de petróleo e gás natural, os royalties e as participações especiais (veja mais
detalhes no Box 5), cresceram consideravelmente a partir de 2006, impulsionados
pelo início da produção nos campos petrolíferos de Golfinho e Jubarte e pela eleva-
ção do preço internacional do petróleo (Gráfico 5). Em 2008 o Espírito Santo alcan-
çaria a segunda posição no ranking dos 10 estados receptores de royalties no país.
box 5 Royalties e participações especiais: receitas associadas à exploração de petróleo e gás natural
Os royalties de petróleo são uma compensação fi-
nanceira paga em contrapartida ao direito de explo-
ração e produção de petróleo e gás natural. As em-
presas concessionárias os recolhem mensalmente
ao Tesouro Nacional, que repassa esses recursos
aos beneficiários: estados e municípios que sediam
os campos de petróleo e gás, além do Comando da
Marinha, Ministério da Ciência e Tecnologia e Fundo
Especial administrado pelo Ministério da Fazenda.
O montante dos royalties corresponde a um
percentual entre 5% e 10% da produção de petró-
leo e gás natural, definido de acordo com as con-
dições geológicas, expectativas de produção e ou-
tras características do campo. A distribuição entre
os beneficiários é feita por um cálculo complexo.
Além dos royalties, existe uma compensa-
ção financeira complementar, realizada em caso
de grande volume de produção de petróleo ou
gás natural ou de grande rentabilidade, a chama-
da Participação Especial.
O valor das compensações financeiras pela
exploração de petróleo e gás natural depende di-
retamente do volume produzido, do preço desses
insumos no mercado internacional e do valor do
dólar no mercado doméstico de divisas estrangei-
ras, cuja variação acaba afetando o valor dos in-
sumos em reais.
Com relação ao uso dos recursos por par-
te dos estados e municípios beneficiários desse tipo
de receita, há duas restrições: é vedada a sua desti-
nação tanto ao pagamento de dívidas, exceto àque-
las para com a União e suas entidades (como o Ins-
tituto Nacional do Seguro Social – INSS), quanto ao
custeio da folha de pessoal.
28 29
Entre 2003 e 2008, as transferências do ICMS do Estado aos municípios
tiveram um crescimento acumulado de 83,1% em termos reais, passando de R$ 1
bilhão para R$ 1,8 bilhão, em valores corrigidos pelo Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA). Esse desempenho equivaleu a quase o dobro da média
nacional, que registrou crescimento de 42,5% em termos reais no período (Tabela 2).
Comparativamente aos demais municípios do
Brasil, o ICMS per capita dos capixabas, em 2003, era
de R$ 308,00, valor 36,6% acima da média nacio-
nal de R$ 225,40. Essa diferença aumentou ao lon-
go da presente década, atingindo 77,1% em 2008.
O Espírito Santo passou então a ocupar a liderança
regional no ranking do ICMS per capita, ano em que
o repasse por habitante alcançou R$ 530,58. Os mu-
nicípios capixabas receberam 81,1% a mais que os
vizinhos fluminenses (R$ 292,9), 71,9% a mais que
os mineiros (R$ 308,69), e 9,4% acima das cidades
paulistas (R$ 485,19) – Gráfico 7.
Impacto nos municípios
O desempenho da arrecadação dos tributos
estaduais impactou fortemente as finanças dos
municípios capixabas, que assistiram a um aumento
sem precedentes das transferências constitucionais
e voluntárias por parte do Estado. Esses recursos
representaram cerca de um terço do conjunto das
receitas dos municípios capixabas, sendo o item
mais importante a parcela de 25% da arrecadação
estadual do ICMS transferida aos municípios,
conforme estabelece a Constituição Federal.
4
estado e regiãoem r$ milhões (iPCa médio de 2009) variação (%)
2003 2008 2009 2008/2003 2009/2008
Espírito Santo 1.001,1 1.832,5 1.656,8 83,1 -9,6
Minas Gerais 3.838,4 6.127,5 5.555,3 59,6 -9,3 Rio de Janeiro 3.774,3 4.649,0 4.731,8 23,2 1,8
São Paulo 13.788,2 19.898,4 19.336,9 44,3 -2,8
sudeste 22.397,3 32.488,1 31.253,3 45,1 -3,8
brasil 39.867,7 56.820,6 55.285,9 42,5 2,7
fonte: adaptado de Aequus Consultoria (2010).
TABELA 2 • traNsferêNCias da ParCela CoNstituCioNal de 25% do iCms total aos muNiCíPios dos estados da região sudeste e do CoNjuNto dos estados do brasil, 2003, 2008 e 2009
Espírito Santo Minas Gerais Rio de Janeiro São Paulo Todos os estados
GRÁFICO 7 • evolução das traNsferêNCias da ParCela CoNstituCioNal de 25% do iCms total Per CaPita, dos estados da região sudeste e do CoNjuNto dos estados do brasil, 2003, 2008 e 2009
Em R$ (IPCA médio de 2009)
2003 2008 2009
200
400
100
0
300
500
fonte: adaptado de Aequus Consultoria (2010)
rodovia es-375
ligando vargem
alta a iconha
AlAIR CAlIARI
30 31
Além disso, a boa performance da arrecadação estadual com as com-
pensações financeiras decorrentes da exploração do petróleo e gás permi-
tiu ao governo do Estado instituir o Fundo para a Redução das Desigualda-
des Regionais (FRDR), importante mecanismo de compensação do efeito con-
centrador das transferências do ICMS aos municípios (confira mais detalhes
no Box 6). No biênio 2007-2008, o FRDR respondeu em média por 8,4% dos
investimentos realizados pelos governos municipais das cidades contempla-
das com recursos do Fundo.
Além das transferências constitucionais e legais, os municípios capixa-
bas assistiram a um forte aumento das transferências voluntárias. Após uma for-
te contenção em 2002 e 2003, as transferências estaduais de capital no Espírito
Santo apresentaram acentuada expansão nos anos seguintes, atingindo o ápice
em 2006, quando totalizaram R$ 154,3 milhões (Gráfico 8).
Os recursos transferidos voluntariamente pelo Estado têm se constitu-
ído numa importante fonte complementar para os investimentos dos municí-
pios capixabas, notadamente para as pequenas cidades. Considerando o perí-
odo 2005-2008, ou seja, um ciclo completo da administração municipal, eles
responderam por 27,1% do total dos investimentos efetuados pelas cidades
com até 50 mil habitantes. Naquelas com população acima desse número, o
percentual cai para 6,5%. Em que pese esse indicador, o maior volume de re-
cursos também foi carreado para as cidades com população até 50 mil habi-
tantes, que ficaram com 69,2% das transferências voluntárias, contra 30,8%
das demais, no mesmo período.
box 6 O Fundo para a Redução das Desigualdades Regionais
Embora em termos globais o valor do ICMS per ca-
pita transferido aos municípios capixabas seja par-
ticularmente elevado na comparação com as cida-
des dos demais estados brasileiros (em 2008 o va-
lor de R$ 529,86 por habitante foi 80,9% superior
ao dos municípios fluminenses, 71,7% maior que
os mineiros e 9,2% acima dos paulistas), a distri-
buição do tributo é altamente concentrada em um
número pequeno de prefeituras.
Em grande medida isso se deve ao fato de
que, por determinação constitucional, 75% da trans-
ferência de ICMS aos municípios deve ser feita de
acordo com o valor adicionado nas respectivas cida-
des. Além disso, como alguns poucos municípios do
Estado concentram as atividades de exploração de
petróleo e gás, a repartição dessas receitas dentro
do território estadual tende a ser altamente desigual.
Para atenuar essas disparidades, o Governo
Estadual instituiu, em 2006, o FRDR, formado por re-
cursos provenientes dos royalties de petróleo e gás.
Os recursos destinados ao Fundo são calculados
aplicando-se uma alíquota de 5% à parcela de 30%
da receita de royalties do petróleo e gás do Estado.
Cada município tem direito a recursos do Fundo de
forma diretamente proporcional a sua população e
inversamente proporcional ao respectivo índice de
participação na quota-parte do ICMS.
Assim, os critérios beneficiam os municípios
mais populosos e com valores de quota-parte do
ICMS abaixo da média. Foram excluídos dos repas-
ses do Fundo os municípios com índices de partici-
pação acima de 10%, bem como aqueles beneficia-
dos com royalties de petróleo em percentual superior
a 2% do total repassado aos municípios do Estado.
Partindo do princípio de que os recursos
naturais de petróleo e gás são finitos, a legisla-
ção que estabeleceu o FRDR obrigou a aplicação
dos recursos exclusivamente em investimentos,
visando à criação de infraestrutura capaz de ala-
vancar as potencialidades socioeconômicas locais.
Essa fonte de recursos tem sido particularmente
importante para muitos municípios capixabas. No
biênio 2007-2008, o FRDR respondeu em média
por 8,4% dos investimentos realizados pelos go-
vernos municipais das cidades contempladas com
recursos do Fundo.
GRÁFICO 8 • evolução das traNsferêNCias de CaPital voluNtárias do estado do esPírito saNto aos muNiCíPios, 2001-2009
Em R$ milhões (IPCA médio de 2009)
2001
2003
2005
2007
2002
2004
2006
2008
2009
0
20
40
60
80
100
120
140
160
fonte: adaptado de Espírito Santo (2010b)
18,7 10,5
14,0
39,5
77,5
154,3
125,8
113,3 119,0
sessenta e
seis unidades
saúde da família
estão sendo
implantadas em
50 municípios
SECRETARIA DE ESTADO DA SAúDE
32 33
Os recursos levantados através dessas operações foram destinados ao
financiamento de investimentos específicos associados ao Programa Rodoviá-
rio do Espírito Santo II, ao Programa Pró-moradia, e ao Programa de Investimen-
tos em Transporte Coletivo e na Circulação Urbana da Região Metropolitana da
Grande Vitória (Transcol III).
Além disso, operações contratadas em gestões anteriores tiveram con-
tinuidade em seus desembolsos, incluindo o empréstimo junto à CEF no âmbito
do Programa Nacional de Apoio às Fazendas Estaduais (Pnafe) e financiamentos
concedidos pelo Banco Mundial, destinados a projetos de ampliação do serviço
de coleta e tratamento de esgoto do Programa de Despoluição e Saneamento
do Espírito Santo (Prodesan), e obras de abastecimento de água, integrante do
Projeto Águas Limpas, do governo capixaba.
Esses vários empréstimos complementaram os recursos próprios apli-
cados pelo Governo Estadual na infraestrutura, e se mantiveram absolutamente
compatíveis com a capacidade de pagamento do Estado. De fato, a situação de
endividamento de longo prazo do setor público capixaba, medida pela relação
Captação de novos recursos
A completa inversão da situação de endividamento
de curto prazo associada à expansão da receita
foram fatores decisivos para melhorar o perfil do
endividamento do setor público capixaba. O Governo
Estadual realizou inclusive novas operações de
crédito sem prejudicar a saúde financeira de suas
contas. Entre 2003 e 2008 o Estado contraiu
empréstimos junto ao Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID), à Caixa Econômica Federal
(CEF) e ao Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES).
5
terminal urbano
de integração
juiz alexandre
martins de Castro
filho, em itaparica,
vila velha. foram
entregues quatro
novos terminais
(jardim américa,
são torquato,
Coqueiral de
itaparica e
jacaraípe) e
reformado o de
laranjeiras
entre a dívida consolidada líquida (dívida com prazo superior a 12 meses, dedu-
zida dos haveres financeiros) e a receita corrente líquida, teve uma trajetória ex-
tremamente favorável no período 2002-2008 (Gráfico 9).
GRÁFICO 9 • ProPorção da dívida CoNsolidada líQuida em relação à reCeita CorreNte líQuida do estado do esPírito saNto, 2000-2009
2000
2001
2003
2005
2007
2002
2004
2006
2008
2009
0%
20%
40%
60%
80%
100%
120%
140%
fonte: adaptado de Brasil (2010b)
98%
83%
116%
102%
73%
44%34%
19%10% 8%
AlAIR CAlIARI
34 35
A partir daí, durante todo o primeiro ano de governo, a administração
das finanças do Estado buscou não só manter a despesa abaixo da arrecadação
corrente, mas também regularizar compromissos vencidos, envolvendo especial-
mente os salários dos servidores e os pagamentos a fornecedores.
Ao final de 2002, existia em torno de três folhas de pessoal em atraso.
Essa dívida foi totalmente equacionada ainda durante o primeiro ano de governo
e, desse momento em diante, o pagamento ao funcionalismo passou a ser feito
rigorosamente em dia. De forma semelhante ao que ocorreu com os salários dos
servidores, foram regularizados compromissos pendentes de custeio da máqui-
na, envolvendo serviços e suprimento de insumos por terceiros.
Esse processo de regularização das dívidas de curto prazo no primeiro
ano de governo obrigou a administração a fazer um esforço de contenção das
demais despesas, para impedir que o Estado fechasse o ano novamente no ver-
melho. Os gastos com pessoal, em 2003, ficaram 5,9% abaixo dos registrados
em 2002, em valores já descontados da inflação. No caso do custeio, a queda
real no primeiro ano de governo atingiu 5,1%.
Tais reduções são significativas, levando-se em conta que a despesa de
pessoal é regida por mecanismos legais que acarretam o crescimento vegeta-
tivo de vários de seus componentes, e que os contratos de fornecimento de in-
sumos e serviços normalmente têm cláusulas de reajuste conforme a inflação.
Particularmente, no que diz respeito ao gasto com custeio, o governo negociou
Gasto público
A mudança na forma de gestão da despesa pública foi outro elemento
central do ajuste fiscal do Espírito Santo. A mencionada situação de
intenso desequilíbrio financeiro do início de 2003 exigia medidas
imediatas de adequação dos gastos do Estado à sua base de
financiamento. Assim, uma das primeiras ações do governo logo
após o início do mandato foi substituir o projeto de lei orçamentária
para o exercício, ainda em tramitação na Assembleia Legislativa, por
uma proposta elaborada em bases realistas, com cortes significativos
nas despesas programadas para todos os poderes.
6
reduções de preços em diversos contratos junto a empresas fornecedoras, o que
foi fundamental para a redução de gastos.
Mas o item que sofreu maior retração em 2003 foi o de investimento,
que caiu 44,8% em termos reais em relação ao exercício anterior. Naquele ano,
o Estado investiu apenas R$ 150 milhões, o menor volume desde 1999. Esse
sacrifício das despesas, que caracterizou os momentos iniciais da gestão inicia-
da em 2003, decorreu do imperativo de readequar a estrutura de gastos do Es-
tado ao seu potencial de arrecadação, em um cenário marcado por um volume
significativo de compromissos vencidos.
Tratava-se, portanto, de criar as condições necessárias à retomada dos
gastos fundamentais para a atuação do setor público no Estado num momento
seguinte, em um patamar ainda mais elevado, porém compatível com sua real
capacidade de financiamento.
Após a contenção de 2003, a despesa de pessoal entrou em ascensão,
crescendo a uma taxa média de 6,8% ao ano, em termos reais, até o ano de
2008. Entretanto, esse aumento do valor da folha decorreu não da ampliação das
contratações, mas da política de recuperação dos vencimentos dos servidores
empreendida pelo governo, a partir do diagnóstico de que a qualidade dos ser-
viços prestados à população ficava muitas vezes aquém do desejado, entre ou-
tras razões, devido à baixa remuneração de diversas categorias de servidores e
à ausência de perspectivas de progressão nas carreiras (Tabela 3).
vínculo empregatício 2004 2006 2008 2009variação 2009/2004 Composição
2009 (em %)absoluta relativa (em %)
Efetivos 31.481 31.874 30.651 30.945 -536 -1,7 57,9
Comissionados 2.402 2.897 3.407 3.458 1.056 44,0 6,5
Designação temporária 22.647 16.599 18.771 17.702 -4.945 -21,8 33,1
Outros 1.436 1.568 1.062 1.324 -112 -7,8 2,5
total 57.966 52.938 53.891 53.429 -4.537 -7,8 100,0
fonte: adaptado de Espírito Santo (2010c, d).
TABELA 3 • Número de servidores ativos do Poder exeCutivo do estado do esPírito saNto, Por víNCulo emPregatíCio, 2004, 2006, 2008 e 2009 (mês de referêNCia - juNHo)
rodovia leste-oeste
ligando Cariacica a
vila velha
AlAIR CAlIARI
36 37
Além disso, iniciou-se um processo de revisão de cargos, salários e pla-
nos de carreira, que vem se estendendo até o período atual, no qual 31 catego-
rias de servidores (pertencentes às administrações direta e indireta) já tiveram
seus Planos de Cargos e Salários reestruturados.
Foi o que aconteceu, por exemplo, com os servidores de carreira da
área fazendária. Em 2006, entrou em vigor o sistema de remuneração por
subsídio para os auditores fiscais da Receita Estadual e para os auxiliares fa-
zendários, que estruturou a carreira fazendária e adequou a remuneração dos
auditores a padrões nacionais. O novo sistema ajustou a situação dos aposen-
tados e pensionistas e a dos auditores da ativa que desempenhavam funções
equivalentes, mas que se encontravam em situação desigual de remuneração.
Em 2009, no mesmo sentido das medidas implantadas para os auditores
fiscais, foi estruturada a carreira dos consultores do executivo no âmbito Tesou-
ro Estadual. Tendo por atribuição o controle e contabilidade dos gastos públicos,
eles passaram a receber também pelo sistema de remuneração por subsídio.
Essas medidas, que contemplavam as áreas da receita e do tesouro, de-
ram novo vigor à Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz), acarretando impac-
tos significativos para a melhoria da gestão fazendária e para a execução dos
processos de trabalho nos campos da tributação, da arrecadação, da fiscaliza-
ção e do registro e controle do orçamento público, contribuindo decisivamente
para as metas de equilíbrio das finanças públicas no Estado do Espírito Santo.
De qualquer forma, apesar do crescimento real, os gastos com pessoal, que
durante anos constituíram o principal problema das finanças estaduais, reduziram
consideravelmente sua pressão sobre o orçamento. Com um ritmo de expansão
muito inferior ao do crescimento da arrecadação, a folha de pagamento passou de
68,7% da receita corrente disponível em 2002 para 46,8% em 2008 (Gráfico 10).
GRÁFICO 10 • evolução da reCeita CorreNte disPoNível e da desPesa Com Pessoal do estado do esPírito saNto, 1995-2009
Em R$ milhões (IPCA médio de 2009)
1995
1996
1998
1999
2001
2004
2006
2002
2005
1997
2000
2003
2007
2009
2008
2.000
2.500
3.000
3.500
4.000
4.500
5.000
6.000
5.500
6.500
7.000
Receita corrente disponível
Despesa com pessoal
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009)
Da mesma maneira, os gastos com o pagamento de juros e amor-
tizações das dívidas do Estado reduziram sua proporção na receita corren-
te disponível. Depois de terem alcançado níveis elevados nos primeiros anos
do ajuste fiscal, entre 10% e 14%, quando o governo saldou o compromisso
de amortização extraordinária da dívida com a União, os gastos com juros e
amortizações passaram a consumir uma parcela declinante da arrecadação
do Estado, para atingir 5,7%, em 2008.
Nesse novo cenário das finanças públicas do Espírito Santo, as despe-
sas com custeio e investimento ganharam espaço dentro do orçamento. O au-
mento dos custos foi uma consequência direta da ampliação da oferta de ser-
viços públicos e dos gastos operacionais e de manutenção decorrentes da ex-
pansão dos investimentos.
A ampliação do gasto com serviços foi particularmente elevada na saú-
de, em função do Espírito Santo ter passado à condição de Gestão Plena do
Sistema Único de Saúde (SUS). A partir daí, a Secretaria de Estado da Saúde
(Sesa) ficou responsável por gerir a maior parte dos pagamentos de serviços
Hospital estadual
Central, em vitória,
com 172 leitos
AlAIR CAlIARI
37
38 39
box 7 Prioridades do gasto público capixaba: Saúde, Educação e Transportes
As áreas de governo em que o gasto público do
Estado do Espírito Santo mais se destacou nos
últimos anos foram Educação e Saúde. Enquanto
os gastos em Educação mais que dobraram entre
2000 e 2008 (crescimento real de 104,1%), no
caso da Saúde o aumento foi ainda maior (126,4%
no período). Juntas, essas áreas respondiam, em
2008, por mais de 35% do orçamento do gover-
no capixaba.
A priorização dessas áreas é evidente dian-
te da observação de indicadores de gasto no Es-
pírito Santo em comparação ao que ocorreu em
outros estados.
Na Educação, o Espírito Santo despendia
R$ 1.208,23 por aluno em 2002, ocupando a pe-
núltima posição no ranking dos 27 estados bra-
sileiros. Em 2008, esse valor foi de R$ 3.483,27,
o nono maior gasto estadual por aluno. O cres-
cimento de 188% durante o período foi o maior
entre todos os estados. Embora esse comporta-
mento seja em parte explicado pela queda ocor-
rida no número de alunos, decorrente do proces-
so de municipalização do Ensino Fundamental, o
crescimento do gasto também contribuiu para a
boa performance capixaba nessa área.
Com relação à Saúde, o Espírito Santo pas-
sou da 12ª posição, com R$ 141,94 por habitante
em 2002, para a oitava em 2008, com R$ 316,27
per capita. Essa posição foi alcançada porque o
Estado registrou o quarto maior aumento na des-
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (2008).
GRÁFICO 11 • distribuição da desPesa sob a ótiCa fuNCioNal, 2008
Legislativa
Administração
Judiciária
Segurança pública
Essencial à justiça
Saúde
Transporte
Educação
Outras
Agricultura
20,4%
7,9%
2,2%
17,5%
17,9%
11,3%
3,5%
11,4%
2,8%
5%
pesa com saúde dentre todos os estados nesse
período, tanto no total quanto por habitante.
Outra área do gasto público que mereceu
destaque no Espírito Santo nos últimos anos foi a
de Transportes. Apesar de representar uma fatia
pequena da despesa total, o setor registrou o se-
gundo maior incremento em termos relativos no
período de 2000 a 2008 (Gráfico 11).
prestados por unidades de saúde (de origem públi-
ca e privada) conveniadas ao SUS no Estado. Como
consequência, os recursos que antes eram transfe-
ridos do Fundo Nacional de Saúde diretamente aos
prestadores de serviços passaram a entrar no cai-
xa do Espírito Santo, e o Estado aumentou sua des-
pesa no mesmo volume (mais detalhes no Box 7).
Os investimentos, que antes eram efetuados sem capacidade de finan-
ciamento, ganharam progressivamente peso crescente nos orçamentos estadu-
ais, chegando a representar 15,6% do conjunto dos gastos efetuados em 2008
(Gráfico 12). Dada a intensa rigidez que caracteriza o gasto público no Brasil,
esse percentual é revelador não apenas da determinação do governo de dire-
GRÁFICO 12 • PartiCiPação dos iNvestimeNtos Na desPesa total e CaPaCidade de iNvestimeNto do estado do esPírito saNto, 1995-2009
1995
1996
1998
1999
2001
2004
2006
2002
2005
1997
2000
2003
2007
2009
2008
-40%
-30%
-20%
-10%
0%
10%
20%
30%
Investimento / Despesa total
Capacidade de investimento
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009)
escola estadual
mário gurgel,
em vila velha
SECRETARIA DE ESTADO DA EDuCAçãO
40 41
ano despesa com investimento
resultado orçamentário
suficiência financeira
1995 152,4 -684,7 -61,6
1996 226,3 -120,1 -840,8
1997 234,6 -529,3 -268,4
1998 249,8 -710,1 -1.559,8
1999 148,5 -727,5 -2.128,8
2000 324,0 -103,4 -1.434,7
2001 303,0 143,9 -2.049,5
2002 271,6 0,8 -1.686,1
2003 149,9 486,8 174,0
2004 245,9 336,9 139,4
2005 519,9 538,5 837,3
2006 835,3 172,9 1.064,2
2007 840,0 395,9 1.509,4
2008 955,9 917,4 2.538,5
2009 1.178,0 -283,3 2.285,6fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009).
TABELA 4 • evolução da desPesa Com iNvestimeNto, do resultado orçameNtário e da sufiCiêNCia fiNaNCeira do estado do esPírito saNto, 1995-2009
Em R$ milhões (IPCA médio de 2009) ano Caixa do tesouro Convênios operações
de créditooutras fontes total
2000 153.753,3 74.776,4 14.221,9 3.032,0 245.783,7
2001 208.854,6 57.725,7 33.988,0 2.463,7 303.031,9
2002 123.538,2 49.144,9 91.277,3 7.655,1 271.615,5
2003 78.279,2 35.153,5 29.348,0 7.090,6 149.871,4
2004 204.352,6 26.729,4 3.518,6 11.341,2 245.941,9
2005 464.429,2 20.379,9 8.734,7 26.311,5 519.855,4
2006 773.636,1 20.223,8 25.563,4 15.897,0 835.320,3
2007 665.938,1 28.038,7 119.892,6 26.161,4 840.030,7
2008 796.592,3 47.475,4 94.420,3 17.397,0 955.885,0
2009 1.029.620,0 33.257,0 100.258,2 14.820,6 1.177.955,8
TABELA 5 • iNvestimeNto total Por foNte de reCurso No estado do esPírito saNto, 2000-2009
Em R$ mil (IPCA médio de 2009)
fonte: adaptado de Espírito Santo (2010b)
ano Caixa do tesouro Convênios operações
de créditooutras fontes total
2000 62,6 30,4 5,8 1,2 100,0
2001 68,9 19,0 11,2 0,8 100,0
2002 45,5 18,1 33,6 2,8 100,0
2003 52,2 23,5 19,6 4,7 100,0
2004 83,1 10,9 1,4 4,6 100,0
2005 89,3 3,9 1,7 5,1 100,0
2006 92,6 2,4 3,1 1,9 100,0
2007 79,3 3,3 14,3 3,1 100,0
2008 83,3 5,0 9,9 1,8 100,0
2009 87,4 2,8 8,5 1,3 100,0fonte: adaptado de Espírito Santo (2010b)
TABELA 6 • PartiCiPação das foNtes de reCurso No total dos iNvestimeNtos do estado do esPírito saNto, 2000-2009
Em %
cionar uma parcela expressiva dos recursos provenientes do aumento das re-
ceitas para gastos com investimentos, mas também do enorme grau de suces-
so da estratégia de crescimento da arrecadação.
É verdade que, em ocasiões anteriores a 2003, o investimento do Go-
verno Estadual até chegou a responder por uma fatia importante da despesa to-
tal (em 2000, por exemplo, atingiu 8,6%). Porém, até então, o Estado apresen-
tava uma situação cronicamente deficitária, ou seja, tais gastos eram feitos sem
efetiva cobertura em termos de receita, criando uma situação de desequilíbrio
financeiro para os exercícios seguintes.
Já a partir de 2003, o que se viu foi uma situação completamente diferen-
te, com a expansão do investimento público de forma simultânea ao registro de
crescentes superávits orçamentários, o que permitiu ao Estado investir e ao mes-
mo tempo gerar poupança financeira sob a forma de sobras de caixa (Tabela 4).
Outra característica do avanço dos investimentos foi o profundo aumento
da parcela financiada com recursos do Tesouro Estadual após o ajuste fiscal. No
período de 2000 a 2003, 58,2% dos investimentos eram bancados com esses
recursos, sendo o restante financiado basicamente por empréstimos. Já entre
2004 e 2008, 85,5% em média dos investimentos foram financiados pelo cai-
xa do Estado. As operações de crédito representaram apenas 7,4% nesse perí-
odo (Tabela 5 e Tabela 6).
Penitenciária regional e Centro Prisional feminino,
em Cachoeiro de itapemirim. a construção de 26
novas unidades vai gerar 9.984 vagasAlAIR CAlIARI
42 43
Conforme já mencionado, o setor público capixaba substituiu os crônicos
déficits orçamentários por contínuos superávits a partir de 2003, passando a gerar
recorrentes sobras de caixa ao final de cada exercício. Mais do que isso, esse mo-
vimento de saída do vermelho, empreendido pelo Estado, configurou a mais pro-
funda reversão de endividamento de curto prazo entre todos os estados brasileiros.
O passivo a descoberto de R$ 1,3 bilhão em 2002 (valor corresponden-
te a 36,3% da receita corrente disponível daquele ano), o terceiro pior do país,
se converteu em uma poupança financeira (ativo financeiro superior ao passi-
vo financeiro) equivalente a 4,8% da receita corrente disponível no ano seguin-
te, colocando o Espírito Santo na terceira posição no ranking nacional desse in-
dicador (Figura 1). Desde então, enquanto o passivo financeiro se manteve es-
tável, o ativo registrou contínua elevação (Gráfico 13).
Além disso, o resultado primário do Estado – indicador que exclui das
receitas totais os ganhos de aplicações financeiras e, dos gastos totais, os ju-
O Espírito Santo no contexto nacional
A evolução recente dos principais indicadores fiscais do Estado frente
às demais unidades federadas deixa evidente o sucesso da estratégia
de ajuste e reequilíbrio patrimonial empreendida pelo Governo Estadual
a partir de 2003. Os índices não só posicionam o Espírito Santo entre
os estados de melhor saúde financeira, como refletem um salto sem
precedentes na qualidade das finanças estaduais, que, alguns anos
antes, estavam entre as mais frágeis do país.
7
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (2002-2003).
FIGURA 1 • iNversão da situação de iNsufiCiêNCia fiNaNCeira No estado do esPírito saNto, 2002/2003
r$ 1,3 BiLHão
iNsufiCiêNCia fiNaNCeira
2002
25ª posição no ranking dos estados, em relação à receita corrente disponível
r$ 180,9 MiLHõEs
2003PouPaNça fiNaNCeira
3ª posição no ranking dos estados, em relação à receita corrente disponível
GRÁFICO 13 • evolução do ativo e Passivo fiNaNCeiros No estado do esPírito saNto, 1995-2009
Em R$ milhões (IPCA médio de 2009)
1995
1996
1998
1999
2001
2004
2006
2002
2005
1997
2000
2003
2007
2009
2008
0
500
1.000
1.500
2.000
2.500
3.000
3.500Ativo financeiro
Passivo financeiro
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009).
rodovia
desembargador
antônio josé miguel
feu rosa, em serraVITOR NOGuEIRA
44 45
Na segunda metade dos anos 1990, o gasto com pessoal consumia, em
média, 87% de toda receita corrente disponível do Governo Estadual, enquan-
to a média nacional era de 66,4%. A partir de 2003, a proporção de tais gastos
sobre a receita corrente foi cedendo paulatinamente, para alcançar 46,8% em
2008, percentual abaixo da média nacional, que atingiu 55,2%. Essa situação
foi alcançada graças ao extraordinário crescimento da arrecadação de forma si-
multânea ao estrito monitoramento das despesas feito pelo governo.
O resultado direto desse movimento foi o alargamento da base de finan-
ciamento do investimento público. De fato, a capacidade de investimento do Esta-
1995
1996
1998
1999
2001
2004
2006
2002
2005
1997
2000
2003
2007
2009
2008
500
1.000
0
-500
-1.000
-1.500
GRÁFICO 14 • evolução do resultado Primário CoNsolidado do estado do esPírito saNto, 1995-2009
Em R$ milhões (IPCA médio de 2009)
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009)
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009) e Brasil (2010a)
GRÁFICO 15 • evolução da PartiCiPação da desPesa Com Pessoal sobre a reCeita CorreNte disPoNível, do estado do esPírito saNto e do CoNjuNto dos estados do brasil, 1995-2009
1995
1996
1998
1999
2001
2004
2006
2002
2005
1997
2000
2003
2007
2009
2008
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Espírito Santo
Todos os estados
GRÁFICO 16 • evolução da PartiCiPação da desPesa Com juros, eNCargos e amortizações da dívida Na reCeita CorreNte disPoNível do estado do esPírito saNto e do CoNjuNto dos estados do brasil, 1995-2009
1995
1996
1998
1999
2001
2004
2006
2002
2005
1997
2000
2003
2007
2009
2008
10%
0%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
Espírito Santo
Todos os estados
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009) e Brasil (2010a)
ros e amortizações nominais pagos – manteve-se permanentemente positivo
até 2009. Esse desempenho mostra que o Governo Estadual foi capaz de criar
na sua estrutura de receita e despesa uma capacidade sólida de arcar com o
pagamento dos custos financeiros de sua dívida (Gráfico 14).
Por outro lado, a partir de 2003, as despesas de pessoal e os gastos com ju-
ros e amortizações, itens que até então configuravam problemas crônicos do Estado,
reduziram consideravelmente a pressão sobre a arrecadação (Gráfico 15 e Gráfico 16).
RENATO VICENTINI
Prédio da auditoria regional metropolitana da receita estadual
no bairro da glória, vila velha, iniciativa integrante do programa
de modernização da secretaria de estado da fazenda
46 47
do, ou seja, o volume de arrecadação corrente que “sobra”, deduzidas as despesas
com pessoal, custeio e serviço da dívida, não apenas se tornou permanentemente
positiva, como aumentou significativamente ao longo dos últimos anos. Isso per-
mitiu um crescimento do volume de recursos investidos pelo governo do Espírito
Santo em ritmo bem superior ao das demais unidades da federação (Gráfico 17).
GRÁFICO 17 • evolução da desPesa Com iNvestimeNtos No estado do esPírito saNto e No CoNjuNto dos estados do brasil, 2000-2009
Ano base 2000 = 100
2001
2004
2006
2002
2005
2000
2003
2007
2009
2008
50
0
100
150
200
250
300
350
400
Espírito Santo
Todos os estados
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009) e Brasil (2010a).
Com esse desempenho, o Espírito Santo melhorou significativamente sua
posição no indicador que mede a parcela da receita destinada para os investimen-
tos. Nos primeiros quatro anos da presente década, o indicador capixaba sem-
pre ficou abaixo da média nacional. Já a partir de 2005 superou ligeiramente a
média do conjunto dos estados brasileiros, sendo que em 2008 seu percentu-
al foi de 13,6% da receita total contra 9,8% na média dos demais (Gráfico 18).
GRÁFICO 18 • evolução da desPesa Com iNvestimeNto em relação à reCeita total disPoNível do estado do esPírito saNto e do CoNjuNto dos estados do brasil, 2000-2009
2001
2004
2006
2002
2005
2000
2003
2007
2009
2008
4%
2%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009) e Brasil (2010a).
Espírito Santo
Todos os estados
Também o volume de investimento por habitante do Espírito Santo
melhorou consideravelmente. Até 2004, o investimento público per capita
capixaba era inferior à média nacional e um dos menores do país, situação
que se inverteu em 2005, quando o Espírito Santo assumiu definitivamen-
te a liderança do indicador na Região Sudeste (Gráfico 19). Em 2008, o Es-
tado registrou o décimo maior investimento público por habitante entre to-
dos os estados do Brasil.
GRÁFICO 19 • evolução da desPesa Com iNvestimeNto Per CaPita do estado do esPírito saNto e dos CoNjuNtos dos estados da região sudeste e do brasil, 2000-2009
Em R$ (IPCA médio de 2009)
2001
2004
2006
2002
2005
2000
2003
2007
2009
2008
50
0
100
150
200
250
300
350
400
Espírito Santo
Todos os estados
Região Sudeste
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (1995-2009) e Brasil (2010a).
SECRETARIA DE ESTADO DE GESTãO E RECuRSOS humANOS
Na Central
faça fácil,
em Cariacica,
a população
encontra reunidos
serviços de 16
órgãos públicos.
No atendimento
da secretaria
de estado da
fazenda, por
exemplo, é
possível obter
guias para
pagamentos
de impostos e
taxas e certidões
negativas
de débito
48 49
No Espírito Santo, o vínculo estreito da atividade produtiva local (ain-
da pouco integrada e centrada em grandes projetos de exportação, no setor
metal-mecânico, papel e celulose e pedra ornamentais) com o padrão de di-
namismo econômico internacional fez com que a queda na arrecadação fos-
se especialmente aguda.
O recuo da receita corrente capixaba, de 6,2%, foi um dos mais inten-
sos do Brasil em 2009, puxado pela retração do ICMS (-11,8%) e das trans-
ferências do FPE (-10%), cuja queda, nesse último caso, foi bastante acen-
tuada em razão dos incentivos fiscais sobre o IPI, criados pelo governo fede-
ral para estimular a economia. Para se ter uma ideia da magnitude das per-
das, o Estado deixou de contar com um volume de receita corrente equiva-
lente a 43,7% do montante gasto em investimento em 2008.
Apesar do cenário de forte queda da arrecadação, o setor público capi-
xaba sustentou o padrão de gastos dos anos anteriores, acompanhando o mo-
vimento do conjunto dos estados brasileiros. No caso dos gastos com pessoal,
o aumento de 7,6% foi mais intenso do que o observado na média dos estados
brasileiros, de 2,9%. Os investimentos, por sua vez, cresceram 23,2%, exata-
mente o mesmo percentual do conjunto dos estados (Gráfico 20).
Crise e recuperação
A crise financeira que impactou a economia
mundial no final de 2008 provocou uma forte
retração da atividade produtiva no Brasil. A
economia começou a se recuperar já ao final
do primeiro semestre de 2009, mas no cômputo
desse ano o PIB nacional acabou registrando
uma retração de 0,2%. A receita corrente
disponível dos estados, que vinha crescendo
aceleradamente a uma taxa média anual de
8,3% no período de 2003 a 2008, sofreu um
recuo de 3,3% em relação a 2008.
8
GRÁFICO 20 • variação da reCeita CorreNte disPoNível, iCms, desPesa Com Pessoal e iNvestimeNto do estado do esPírito saNto e do CoNjuNto dos estados do brasil, eNtre 2008 e 2009
-10%
-15%
-5%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
Receita corrente disponível
-6.2%
-3.3%
-11,8%
-1,1%
23,2% 23,2%
ICMS
7,6%
2,9%
Despesa com pessoal
Despesa com investimento
Espírito Santo
Todos os estados
fonte: adaptado de Balanço Geral do Estado do Espírito Santo (2008-2009) e Brasil (2010a).
investimentos na
Praia Central,
em marataízes,
afetada por
erosões, estão
recuperando
seu potencial
turístico e
devolvendo a
balneabilidade
ao município
AlAIR CAlIARI
50 51
Essa expansão do gasto público em meio à retração generalizada da
economia somente foi possível porque o Estado tinha acumulado um conside-
rável colchão de reservas financeiras nos anos anteriores. Em 2008, o Espírito
Santo exibia um volume de reservas financeiras de R$ 2,5 bilhões (ou R$ 1,7
bilhão, se excluídas as reservas técnicas do instituto estadual de previdência),
o maior dentre todos os estados do país. Com relação à receita corrente, a pro-
porção das reservas financeiras do Espírito Santo (37,9% da receita corrente)
era a terceira no ranking nacional, inferior apenas à de Roraima e Tocantins, que
acumulavam uma poupança equivalente a 51,7% e 40,9% da receita corrente.
Uma parcela correspondente a 18,3% dos recursos disponíveis (des-
considerando os recursos previdenciários) foi utilizada para compensar a queda
da arrecadação e bancar os gastos públicos ao longo de 2009. Mesmo assim, o
Estado chegou ao final de 2009 mantendo o maior volume de poupança finan-
ceira do Brasil, no valor de R$ 2,3 bilhões, (R$ 1,4 bilhão se excluídos os valo-
res do instituto estadual de previdência).
A crise tornou evidente, portanto, a importância da solidez fiscal do setor pú-
blico capixaba. A base financeira construída ao longo dos últimos anos fez com que o
governo atravessasse o momento de retração do nível de atividades sem sobressaltos
e permitiu que adotasse uma postura anticíclica, atenuando o impacto da crise sobre o
emprego e a renda do Estado, o que foi fundamental para estimular a economia local.
Os números referentes ao ICMS em 2010 são animadores. Após o duro
golpe sofrido em 2009, a arrecadação do imposto está em plena ascensão (Grá-
fico 21). No acumulado até setembro de 2010, em valores corridos pelo IPCA, a
arrecadação estadual do ICMS superou a de 2009 em 8,3% (Gráfico 22). Supe-
rou em 4,5% até mesmo que a de 2008, considerado um excelente ano em ter-
mos de arrecadação do ICMS. De forma consistente, o Espírito Santo vai supe-
rando os efeitos da crise financeira internacional sobre suas finanças.
GRÁFICO 21 • evolução da arreCadação meNsal do iCms, exClusive o iCms sobre a imPortação, do estado do esPírito saNto, jaNeiro de 2008 a setembro de 2010
Em R$ milhões (IPCA de set/2010)
370
350
390
410
430
450
470
490
510
530
550
set
jul
fev
dez jul
mai
dez
out
mai
mar ou
t
ago
abr
ago
jun
jan/
2010no
v
jun
abr
nov
set
abr
fev
set
jul
mar
mar
jan/
2009 ag
o
jun
fev
mai
jan/
2008
fonte: adaptado de Espírito Santo (2010b).
GRÁFICO 22 • evolução da arreCadação aCumulada de jaNeiro a setembro do iCms No estado do esPírito saNto, exClusive o iCms sobre a imPortação, 2008-2010
Em R$ milhões (IPCA de set/2010)
3.500
3.600
3.700
3.800
3.900
4.000
2008
3.787,4
2009
3.655,2
2010
3.958,0
fonte: adaptado de Espírito Santo (2010b).
viaduto no
cruzamento da
avenida Carlos
lindenberg e
rodovia darly
santos, em vila
velha. a obra
vai melhorar
a mobilidade
urbana e o
transporte
de cargas no
município
AlAIR CAlIARI
51
52 53
Quando um ente gasta sucessivamente além do que permite sua base
de receitas, tende a surgir um volume crescente de compromissos em atraso,
o que acaba contaminando a relação da administração com seus fornecedores
e prejudicando todo o planejamento da execução das políticas por parte da má-
quina pública. A programação das ações pelos gestores públicos passa a ser
sucessivamente minada pela desorganização financeira do governo, com efeitos
deletérios sobre o seu funcionamento geral e o alcance das diversas políticas.
O ajuste fiscal, portanto, é uma condição fundamental para que o orça-
mento público deixe de ser uma peça de caráter meramente burocrático e se
transforme em um efetivo instrumento de planejamento das ações do setor pú-
blico, incorporando o aprimoramento das previsões, o conhecimento dos custos,
a identificação das necessidades financeiras e a correção de rumos.
Esse é, sem dúvida, um caminho longo, já que requer uma mudança na
lógica de funcionamento de práticas típicas da administração pública que, du-
rante décadas, foram se consolidando no Brasil. De qualquer forma, uma ges-
tão financeira responsável constitui o ponto de partida dessa mudança e, nesse
sentido, o governo capixaba nos últimos anos foi particularmente bem-sucedi-
do, porque deu início a esse processo de transformação.
O segundo legado relaciona-se a um conjunto de investimentos es-
senciais para o Estado. A base financeira construída nos últimos anos per-
mitiu ao Governo realizar um grande volume de investimentos, que nos últi-
mos dois anos giraram em torno de R$ 1 bilhão ao ano, marca bastante sig-
nificativa para os padrões capixabas.
Legado e desafios
A mudança no padrão de gestão das contas públicas
do Espírito Santo, iniciada em 2003, deixou dois
grandes legados para o Estado nos próximos anos.
O primeiro decorre da melhora generalizada das
condições de gestão financeira, notadamente no
que se refere à recuperação da capacidade de
planejamento do Governo Estadual.
9
Apesar de sua enorme importância, esses
legados não devem obscurecer os grandes desafios
que se colocam para o Estado nos próximos anos. O
primeiro tem a ver com os possíveis efeitos que uma
eventual reforma tributária – cuja discussão deverá
voltar à pauta em breve – trará para o Espírito San-
to. Dois itens são particularmente importantes para
as finanças públicas capixabas, os critérios de re-
partição do FPE e a legislação referente às receitas
associadas à exploração de petróleo e gás natural.
Em 24 de fevereiro de 2010, o Supremo Tri-
bunal Federal (STF) se manifestou pela inconstitu-
cionalidade dos atuais critérios de distribuição do
FPE e estabeleceu o prazo até dezembro de 2012
para que novos critérios sejam aprovados. Até o
vencimento desse prazo continua em vigor a atual
sistemática de distribuição.
O Congresso Nacional tende a evitar o en-
frentamento de questões que embutem conflitos fis-
cais de ordem federativa, dada a grande dificulda-
de de conciliação de interesses tão diversos quan-
to os do conjunto dos estados que compõem a fe-
deração. Por esse motivo, os congressistas não de-
o novo Hospital
dório silva,
com obras já
iniciadas, contará
com 371 leitos,
com capacidade
para 10 mil
atendimentos
por mês
SECRETARIA DE ESTADO DA SAúDE
SECRETARIA DE ESTADO DA SAúDE
Com a reforma
e ampliação, o
novo Hospital
são lucas
contará com
248 leitos
54 55
finiram os critérios para a distribuição do FPE, tare-
fa que lhes foi delegada pela Lei Complementar nº
62, de 28 de dezembro de 1989.
Uma proposta de consenso está sendo ela-
borada por um Grupo de Trabalho criado pelo Con-
selho Nacional de Política Fazendária (Confaz), que
reúne os secretários de Fazenda de todos os es-
tados do Brasil. O FPE é a segunda maior fonte
de recursos do orçamento do Espírito Santo, ain-
da que o Estado receba apenas 1,5% do total re-
partido no Brasil.
No que diz respeito às receitas provenientes
da exploração do petróleo e gás, a disputa federa-
tiva em torno desses recursos tende a se intensifi-
car nos próximos anos, tendo em vista as perspec-
tivas de ganho associadas à exploração do petróleo
e gás da camada pré-sal. A participação do Gover-
no Estadual nas discussões sobre a forma de distri-
buição dessas receitas e as regras de sua aplicação
é fundamental, considerando que o Estado recebe
uma fatia importante do total em termos nacionais.
O segundo desafio a ser enfrentado se refere à continuidade da so-
lidez fiscal alcançada pelo Estado nos últimos anos. A saúde financeira do
setor público capixaba somente poderá se manter na presença de um pro-
cesso permanente de monitoramento da estrutura do gasto e de sua base
de financiamento.
Nesse sentido, os próximos anos requerem a continuidade dos inves-
timentos na estrutura de arrecadação da Secretaria da Fazenda, que necessi-
ta estar permanentemente apta para lidar com os vários desdobramentos da
dinâmica própria das atividades econômicas locais.
Em paralelo, a execução das despesas e o planejamento das ações do
setor público deverão levar em conta que a atual estrutura de serviços do Es-
tado ampliou-se consideravelmente, dada a grande expansão do investimen-
to no período recente. Assim, a administração pública terá que ser capaz de
dar continuidade à melhora da qualidade dos serviços existentes e, simulta-
neamente, controlar uma estrutura ampliada de gastos de custeio associada
à expansão dos investimentos.
Tais desafios, portanto, reforçam a importância dos próximos governos
serem capazes de preservar os ganhos decorrentes das mudanças na forma
de condução das finanças públicas capixabas empreendidas nos últimos anos,
contribuindo para que o Estado desempenhe um papel de importância crescen-
te no cenário nacional.
o novo estádio
estadual Kleber
andrade, em
Cariacica, ficará
pronto em 2012.
sua capacidade
será ampliada
para 23 mil lugares
e o local contará
com um edifício
educacional e
uma pista oficial
de atletismo
SECRETARIA DE ESTADO DA CulTuRA
SECRETARIA DE ESTADO DE ESPORTES
o Cais das artes,
em vitória, contará
com um teatro
com capacidade
de 1.350 lugares,
museu climatizado,
área expositiva
de 3 mil metros
quadrados e praça
com cafés, livrarias
e espaços para
espetáculos cênicos
54
56 57
1 • foNte dos dados estaduaisOs dados apresentados ao longo do trabalho foram retira-dos do banco de dados “Execução Orçamentária dos Esta-dos (1995-2009)”, disponibilizado pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN). No caso do Espírito Santo, utilizou-se o Ba-lanço Geral do Estado dos anos de 1995 a 2009.
2 • ajustes da reCeita e desPesaA receita total disponível (RTD) e a receita corrente disponível (RCD) foram calculadas com o objetivo de mostrar a real ca-pacidade de desembolso do Estado. Ou seja, excluíram-se os valores que efetivamente não ingressaram nos cofres estadu-ais, como as transferências constitucionais e legais aos mu-nicípios, as contribuições sociais ao sistema de previdência e as deduções para o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério (Fundef) e Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Bási-ca e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb).
No caso do Espírito Santo, exclui-se também a parcela do ICMS do Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuá-rias (ICMS/Fundap), que é repassada às empresas. A des-pesa também foi ajustada para poder ser confrontada com as receitas disponíveis. Dessa forma, excluiu-se da despesa corrente o mesmo valor das Contribuições Sociais que foram eliminados da receita, bem como a despesa com as transfe-rências constitucionais aos municípios. Também foi deduzi-da da despesa de capital, a parcela das inversões financei-ras destinada às empresas do sistema Fundap.
3 • reCeita CorreNte líQuidaDe acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), corres-ponde à receita corrente, excluídas as transferências consti-tucionais aos municípios, as contribuições dos servidores ao sistema de previdência, as compensações financeiras en-tre os diversos regimes de previdência social e as deduções para o Fundef/Fundeb.
O cálculo da receita corrente disponível, explicitado acima, é bem próximo, porém a receita corrente líquida é o parâme-tro oficial para os cálculos dos limites estabelecidos pela LRF.
4 • desPesa Com PessoalO banco de dados sobre as finanças estaduais, disponível no site da STN, apresenta algumas dificuldades de análise dos gastos com pessoal. A primeira refere-se à forma agre-gada de apresentação dos dados até o ano de 2001, o que impede a análise de alguns subitens do plano de contas.
Outra dificuldade que se impõe, por causa dessa agre-gação, é a impossibilidade de se fazer determinados ajus-
Notas Metodológicas
• Para o ano 2001: soma das despesas informadas nas rubri-cas “Despesas de Pessoal” e “Transferências a Pessoas”.
5 • desPesa de CusteioO conceito de despesa de custeio abrange toda a despesa corrente, exceto as de pessoal (conforme cálculo acima) e os pagamentos de juros e encargos da dívida.
6 • CaPaCidade de iNvestimeNtoA capacidade de investimento expressa a magnitude do valor disponível para investimentos em relação aos recursos cor-rentes. Seu cálculo exclui da receita corrente disponível toda a despesa corrente, juntamente com as amortizações da dí-vida, como mostra a equação abaixo:
7 • resultado PrimárioO resultado primário exclui das receitas totais os ganhos de aplicações financeiras e, dos gastos totais, os juros nomi-nais pagos. É, portanto, a diferença entre a receita total e a despesa total, após os referidos ajustes. O principal objeti-vo desse cálculo é avaliar a sustentabilidade da política fis-
cal em um dado exercício financeiro, tendo em vista o pata-mar da dívida consolidada e a capacidade de pagamento da mesma no longo prazo.
8 • dívida CoNsolidada líQuidaA dívida consolidada refere-se às obrigações cujo prazo de exigibilidade é superior a 12 meses. Subtraindo-se as dispo-nibilidades de caixa, as aplicações financeiras e os demais haveres financeiros, chega-se à dívida consolidada líquida.
9 • eNdividameNto de Curto PrazoO endividamento de curto prazo, utilizado nesse trabalho, foi medido pelo conceito de (in)suficiência financeira, que con-siste na diferença entre o ativo financeiro e o passivo finan-ceiro. Quando o resultado for positivo há suficiência finan-ceira, caso contrário, há insuficiência financeira.
10 • atualização de valoresOs valores apresentados nas tabelas e nos gráficos, à exceção do que estiver expressamente mencionado, foram corrigidos dos efeitos da inflação. O índice de preços utilizado foi o Índice Na-cional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As correções foram feitas pelo IPCA médio de 2009, relacionado na Tabela 7.
tes com o objetivo de padronizar algumas contas. A par-tir de 2002, quando as contas passaram a ser apresenta-das segundo o Plano de Contas da União e de forma mais aberta, a despesa com pessoal foi um dos itens que mais sofreu diferenciações entre os estados, principalmente no que se refere à contabilização de aposentadorias, pensões, contribuição para entidades fechadas de previdência e apli-cação direta entre órgãos.
Buscando amenizar tais limitações, foram adotadas duas metodologias de cálculo para a despesa com pessoal: uma para o Estado do Espírito Santo, utilizando como fonte os Ba-lanços Gerais do Estado; e outra para os demais estados do Brasil, utilizando os dados da STN.
a) despesa com pessoal no espírito santo: No Espíri-to Santo, a partir de 2005, a despesa com os inativos (apo-sentadorias, reformas e pensões), custeada pelo Instituto de Previdência e Assistência Jerônimo Monteiro (IPAJM), que era registrada como um subelemento de categoria Pessoal e En-cargos Sociais, passou a ser contabilizada na categoria Ou-tras Despesas Correntes, causando uma queda abrupta nas despesas com Pessoal e Encargos Sociais.
Visando a promover um ajuste entre os anos da série apresentada e uniformizar a base de comparação dos da-dos, foi necessário subtrair o valor da receita de Contribui-ção Social (que é bastante próxima da despesa do IPAJM) do valor da despesa com Pessoal e, a partir de 2005, so-mar o gasto com aposentadorias, reformas e pensões, que passaram a ser contabilizados em Outras Despesas Corren-tes. Esse procedimento serviu também para adequar a des-pesa corrente às deduções das Contribuições Sociais reali-zadas no cálculo da Receita Corrente Disponível. Resumin-do, o cálculo da despesa com pessoal para todos os anos da série apresentada é o seguinte:
Despesa de pessoal = pessoal e Encargos sociais + (aposentadorias, reformas e pensões que estão registradas em outras Despesas Correntes) - receita de Contribuições sociais orçamentárias e intraorçamentárias
b) despesa com pessoal nos demais estados brasi-leiros: O cálculo para a despesa com pessoal dos demais estados é o seguinte:
• Para os anos 1995-1999 e 2002-2008: toda a despe-sa informada na rubrica “Pessoal e Encargos Sociais”;
• Para o ano 2000: soma das despesas informadas nas rubricas “Pessoal Ativo”, “Encargos”, “Inativos” e “Pensionistas”; e
Capacidade de investimento = (RCD-Despesa corente-Amortizações da dívida)RCD
ano multiplicador
1995 2,5983
1996 2,2446
1997 2,0992
1998 2,0342
1999 1,9400
2000 1,8123
2001 1,6963
2002 1,5641
ano multiplicador
2003 1,3635
2004 1,2791
2005 1,1969
2006 1,1488
2007 1,1084
2008 1,0489
2009 1,0000
TABELA 7 • multiPliCadores de Correção de Preços, Com base Na média aNual do CálCulo meNsal do iPCaAno base 2009 = 1
fonte: adaptado de Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010b).
i O ICMS Fundap é o imposto recolhido de empresas com sede no Espírito Santo e que realizem operações de importação. Parte dessa arrecadação é utilizada como incentivo financeiro na forma de financiamento para que essas empresas apliquem em novos projetos ou na expansão de suas atividades e, assim, ampliem também a arrecadação do ICMS. A gestão dos recursos financeiros do sistema Fundap é feita pelo Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A – Bandes.
58
AEQUUS CONSULTORIA. Banco de dados aequus. Base de da-dos. Vitória. 2010.
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ESPÍRITO SANTO (Estado). Secretaria de Estado da Fazenda. Ba-lanço Geral 1997. Vitória, 1998. 287 p.
ESPÍRITO SANTO (Estado). Secretaria de Estado da Fazenda. Ba-lanço Geral 1998. Vitória, 1999. 412 p.
ESPÍRITO SANTO (Estado). Secretaria de Estado da Fazenda. Ba-lanço Geral 1999. Vitória, 2000. 393 p.
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REFERÊNCIAS