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FACULDADE IETEC Vladimir Alexei Rodrigues Rocha GESTÃO DO CONHECIMENTO EM PROJETOS: UM ESTUDO DE MÚLTIPLOS CASOS EM ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS Belo Horizonte 2017

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FACULDADE IETEC

Vladimir Alexei Rodrigues Rocha

GESTÃO DO CONHECIMENTO EM PROJETOS:

UM ESTUDO DE MÚLTIPLOS CASOS EM ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS

Belo Horizonte

2017

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Vladimir Alexei Rodrigues Rocha

GESTÃO DO CONHECIMENTO EM PROJETOS:

UM ESTUDO DE MÚLTIPLOS CASOS EM ORGANIZAÇÕES BRASILEIRAS

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado da Faculdade Ietec, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Engenharia e Gestão de Processos e Sistemas. Área de concentração: Engenharia e Gestão de Processos e Sistemas Linha de pesquisa: Gestão de Processos, Sistemas e Projetos Orientador: Prof. Dr. George Leal Jamil Faculdade Ietec

Belo Horizonte

Faculdade Ietec

2017

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Rocha, Vladimir Alexei Rodrigues.

R672g Gestão do conhecimento em projetos: um estudo de múltiplos casos em organizações brasileiras / Vladimir Alexei Rodrigues Rocha. - Belo Horizonte, 2017.

136 f., enc.

Orientador: George Leal Jamil.

Dissertação (mestrado) – Faculdade Ietec.

Bibliografia: f. 124-130

1. Gestão de projetos. 2. Gestão do conhecimento. 3. Escritório de gerenciamento de projetos. I. Jamil, George Leal. II. Faculdade Ietec. Mestrado em Engenharia e Gestão de Processos e Sistemas. III. Título.

CDU: 658.5

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Faculdade Ietec Rua Tomé de Souza, 1065 – Belo Horizonte, MG – 30140-131 – Brasil – tel.: (31) 3116-1000

Vladimir Alexei Rodrigues Rocha. Gestão do Conhecimento em projetos: um estudo de múltiplos casos em organizações brasileiras.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Engenharia e Gestão de

Processos e Sistemas da Faculdade Ietec,

como requisito parcial à obtenção do título de

Mestre em Engenharia e Gestão de Processos

e Sistemas.

Área de concentração: Engenharia e Gestão

de Processos e Sistemas

Linha de pesquisa: Gestão de Processos,

Sistemas e Projetos

Orientador: Prof. Dr. George Leal Jamil

Faculdade Ietec

Aprovado pela banca examinadora constituída pelos professores:

__________________________________________________ Prof. Dr. Ricardo Rodrigues Barbosa – ECI/UFMG

__________________________________________________ Prof. Dr. José Helvecio Martins - IETEC

__________________________________________________ Prof. Dr. George Leal Jamil – IETEC - Orientador

Belo Horizonte, 18 de abril de 2017.

Faculdade IETEC Programa de Pós-graduação em Engenharia e Gestão de

Processos e Sistemas

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Dedico este trabalho à Flavia, querida esposa que tem me auxiliado nessa existência

a ser uma pessoa melhor. À minha filha Marcela, presente de Deus a iluminar nossos

dias. Aos meus pais Roney (em memória) e Cicinha por todo esforço que sempre

fizeram e que me trouxeram até aqui e me levarão mais longe! Ao meu irmão Juninho

pela amizade verdadeira!

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AGRADECIMENTOS

Os agradecimentos são muitos e, com o receio de citar alguns, e outros ficarem de

fora, peço desculpas desde já. Agradeço primeiro a Deus pela Vida!

A seara acadêmica é repleta de desafios e percorrê-la sozinho seria impossível.

Graças ao IETEC tive a oportunidade de ser orientado pelo Professor George Leal

Jamil, a quem agradeço com reverência pela paciência, recomendações, alertas e

orientações que levarei para a Vida. Seu exemplo de ética e sua bagagem inspiram-

me nessa caminhada e continuarão permeando meus passos. Ao meu Mestre

Professor Dr. Jamil todo apreço e gratidão!

Agradeço também aos Professores Mauri Fortes e Wanyr Ferreira pela oportunidade

em abrir novos horizontes de pesquisa e docência a um aprendiz sedento por

conhecimentos.

Agradeço a todos os Professores do IETEC pelo aprendizado, atenção e auxílio

nesses dois anos de profícuos estudos. Destaco, também com reverência, por sua

grande sabedoria e humildade, o Professor Dr. José Helvécio, a quem admiro por todo

aprendizado dentro e fora da sala de aula. Muito obrigado, Mestre!

O sentimento de gratidão ainda é presente quando lembramos da Família e dos

amigos. Uma pessoa que é querida ao meu coração e que sempre me incentivou

estudar é o amigo e mentor Luis Borges. Obrigado pelas oportunidades concedidas

no campo profissional, por abrir portas, pelos conselhos, pela amizade e por tão

grande presença de espírito em tudo. Você é um exemplo, Luis Borges!!!

Agradeço ainda aos meus entrevistados pela disponibilização de recursos

necessários à pesquisa, em especial ao Dr. Luiz Mazeo, Dr. Rodrigo Varella, Dr. José

Luciano, Sr. Edmilson Magalhães e o Sr. Gustavo Montes. Obrigado aos colegas

Rodrigo Oliveira e Rudy Cordeiro por auxiliarem na fase de entrevistas dessa

pesquisa!

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Não poderia deixar de agradecer a todos os colaboradores do IETEC na pessoa da

nossa querida Sirlene, a melhor Bibliotecária de BH. Vocês brilham!

Outro agradecimento especial é endereçado ao Carlo Demichelli, por sua experiência,

conselhos e amizade. Você é um amigo que fiz para a Vida! Aproveito para estender

os agradecimentos aos meus colegas de mestrado, que tornaram as aulas mais leves,

os desafios mais agradáveis e os problemas solúveis. Que Deus abençoe a

caminhada de cada um e que possamos desenvolver projetos juntos!

Vladimir Alexei Rodrigues Rocha

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“Aqueles que amam o conhecimento devem se familiarizar com o máximo de detalhes.”

Heráclito

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RESUMO A Gestão do Conhecimento no âmbito das organizações ainda é um desafio. Esse

desafio é intensificado quando se trata de organizações que possuem Escritório de

Gerenciamento de Projetos. Dentre outros fatores, isso ocorre pela natureza dos

projetos que são, por concepção, únicos – exclusivos – e finitos. A partir desse

contexto, a presente pesquisa investigou como ocorre a gestão do conhecimento em

projetos, tendo como base quatro organizações brasileiras, de diferentes segmentos

de negócio, utilizando como metodologia estudo de múltiplos casos, por julgamento

não probabilístico. Desenhou-se um modelo conceitual para o levantamento das

práticas intra e interprojetos, assim como processos de Gestão do Conhecimento. Os

resultados da pesquisa identificaram conhecimentos relevantes a serem gerenciados

e fatores influenciadores, além do mapeamento de diversas práticas de Gestão do

Conhecimento em Projetos. Como conclusões da pesquisa observou-se como

relevante a existência de contextos facilitadores nas organizações que favorecem a

realização da Gestão do Conhecimento em Projetos, o que levou a inferir que as

melhores práticas de Gestão do Conhecimento variam de acordo com o contexto

organizacional.

Palavras-chave: Conhecimento; Gestão do Conhecimento; Projetos; Gestão de

Projetos; Escritório de Gerenciamento de Projetos.

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ABSTRACT Knowledge Management in organizational contexts ambit is still a challenge. Such

challenge is intensified in organizations that have a Project Management Office.

Among other facts, this is due to the nature of the projects which are, by conceiving,

unique (exclusive) and finite. Considering this context, the present research

investigated how knowledge management in projects occurs, in four organizations of

Brazilian, from different business segments, using as methodology the multiple case

study, by non-probabilistic judgment. A conceptual model was designed for the survey

of intra and interproject practices, as well as the processes of Knowledge

Management. As a result of the research, relevant knowledge to be managed was

identified, and influencing factors, as well as the mapping of several practices of

Knowledge Management in Projects. As conclusions of the research it was observed

a relevant existence of facilitating contexts in the organizations that favor the

accomplishment of Knowledge Management in Projects. This led to the conclusion

that best practices of Knowledge Management differ according to the in organizational

context.

Keywords: Knowledge; Knowledge Management; Projects; Project Management; Project Management Office.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Processo de Gestão do Conhecimento ..................................................... 32

Figura 2 - Modelo SECI - quatro modos de conversão do conhecimento ................. 33

Figura 3 - Práticas intraprojeto consolidadas ............................................................ 49

Figura 4 - Práticas interprojeto consolidadas ............................................................ 49

Figura 5 - Estruturas organizacionais ........................................................................ 52

Figura 6 - Tipologia da pesquisa ............................................................................... 57

Figura 7 - Modelo conceitual da pesquisa ................................................................. 61

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Definições para dado, informação e conhecimento ................................ 16

Quadro 2 - O conhecimento na história da economia ............................................... 22

Quadro 3 - Mudança do paradigma Industrial para o Conhecimento ........................ 23

Quadro 4 - Diferentes abordagens para tipos de conhecimento ............................... 27

Quadro 5 - Diferenças entre conhecimento explícito e tácito .................................... 28

Quadro 6 - Diferentes propostas para os processos de Gestão do Conhecimento... 31

Quadro 7 - Repositórios de Memória Organizacional ................................................ 35

Quadro 8 - Intuição, interpretação, integração e institucionalização ......................... 36

Quadro 9 - Influenciadores no processo de Gestão do Conhecimento ..................... 38

Quadro 10 - Capacitação para o conhecimento - grade 5x5 ..................................... 40

Quadro 11 - Condições para aprendizagem – interprojeto ........................................ 41

Quadro 12 - Fatores influenciadores do compartilhamento de conhecimento .......... 43

Quadro 13 - Fatores influenciadores consolidados ................................................... 44

Quadro 14 - Práticas de GC em cada etapa do ciclo de vida de um projeto ............. 45

Quadro 15 - Gestão de Conhecimento em Projetos no ciclo de vida ........................ 46

Quadro 16 - Práticas por processo de aprendizagem e nível de análise .................. 47

Quadro 17 - Tipos de estruturas de EGP nas organizações ..................................... 51

Quadro 18 - Estruturas organizacionais em projetos ................................................ 52

Quadro 19 - Modelos Organizacionais ...................................................................... 53

Quadro 20 - Desafios da natureza dos projetos ........................................................ 54

Quadro 21 - Cuidados no emprego do Estudo de Caso ............................................ 58

Quadro 22 - Entrevistas, observação direta e documentação ................................... 59

Quadro 23 - Procedimento de coleta e análise de dados na ATTPS Tecnologia ...... 71

Quadro 24 - Fatores influenciadores no EGP da ATTPS .......................................... 72

Quadro 25 - Práticas intraprojetos de GC no EGP da ATTPS Tecnologia ................ 74

Quadro 26 - Práticas interprojetos de GC no EGP da ATTPS Tecnologia ................ 76

Quadro 27 - Procedimento de coleta e análise de dados no Banco Bonsucesso ..... 79

Quadro 28 - Fatores influenciadores no EGP do Banco Bonsucesso ....................... 81

Quadro 29 - Práticas intraprojetos de GC no EGP do Banco Bonsucesso ............... 83

Quadro 30 - Práticas interprojetos de GC no EGP do Banco Bonsucesso ............... 84

Quadro 31 - Procedimento de coleta e análise de dados na COPASA ..................... 89

Quadro 32 - Fatores influenciadores no EGP da COPASA ....................................... 91

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Quadro 33 - Práticas intraprojeto de GC no EGP da COPASA ................................. 93

Quadro 34 - Práticas interprojetos de GC no EGP da COPASA ............................... 95

Quadro 35 - Procedimento de coleta e análise de dados no EGP do CIT-SENAI..... 98

Quadro 36 - Fatores influenciadores no EGP do CIT-SENAI .................................... 99

Quadro 37 - Práticas intraprojeto de GC no EGP do CIT-SENAI ............................ 100

Quadro 38 - Práticas interprojetos de GC no EGP do CIT-SENAI .......................... 101

Quadro 39 - Diferenças entre os casos estudados ................................................. 103

Quadro 40 - Conhecimentos relevantes consolidados ............................................ 105

Quadro 41 - Fatores influenciadores na GC consolidados - facilitadores ................ 107

Quadro 42 - Fatores influenciadores na GC consolidados - dificultadores .............. 108

Quadro 43 - Práticas de GC intraprojeto consolidadas ........................................... 110

Quadro 44 - Práticas interprojetos de GC consolidadas ......................................... 111

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AO – Aprendizagem Organizacional

EGP – Escritório de Gerenciamento de Projetos

GC – Gestão do Conhecimento

GP – Gestão de Projetos

PMBOK – Project Management Body of Knowledge

PMI – Project Management Institute

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ............................................................................................... 15

2. OBJETIVOS ................................................................................................... 19

2.1 Geral ............................................................................................................... 19

2.2 Objetivos Específicos...................................................................................... 19

2.3 Justificativa ..................................................................................................... 19

2.3.1 Acadêmica ...................................................................................................... 19

2.3.2 Prática ............................................................................................................. 20

2.4 Amostra da pesquisa ...................................................................................... 20

2.5 Estrutura do trabalho ...................................................................................... 20

3. REVISÃO DA LITERATURA .......................................................................... 22

3.1 O Conhecimento ............................................................................................. 22

3.1.1 Economia do Conhecimento ........................................................................... 22

3.1.2 Conceito de Conhecimento ............................................................................. 25

3.1.3 Tipos de Conhecimento .................................................................................. 26

3.2 Conhecimento em projeto ............................................................................... 29

3.3 A Gestão do Conhecimento ............................................................................ 29

3.3.1 Processos de Gestão do Conhecimento......................................................... 31

3.4 Influenciadores na Gestão do Conhecimento ................................................. 37

3.5 Práticas de Gestão do Conhecimento ............................................................ 45

3.6 Gestão do Conhecimento em Organizações Projetizadas .............................. 50

3.6.1 Organizações Projetizadas ............................................................................. 50

3.6.2 Desafios: Gestão do Conhecimento em Organizações Projetizadas .............. 54

3.7 Sumário da Revisão da Literatura .................................................................. 56

4. METODOLOGIA ............................................................................................. 57

4.1 Tipologia da pesquisa ..................................................................................... 57

4.2 Modelo Conceitual .......................................................................................... 60

4.3 Amostra .......................................................................................................... 62

4.4 Coleta e análise dos dados ............................................................................. 63

4.5 Limitações da pesquisa .................................................................................. 67

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5. ANÁLISE DE DADOS .................................................................................... 69

5.1 Estudo de Caso .............................................................................................. 69

5.1.1 EGP ATTPS Tecnologia ................................................................................. 69

5.1.2 EGP Banco Bonsucesso................................................................................. 78

5.1.3 EGP COPASA ................................................................................................ 87

5.1.4 EGP CIT-SENAI ............................................................................................. 97

5.2 Análise integrada dos casos estudados ....................................................... 103

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 116

6.1 Conclusões ................................................................................................... 121

6.2 Limitações ..................................................................................................... 122

6.3 Recomendações para estudos futuros ......................................................... 123

REFERÊNCIAS ............................................................................................ 124

APÊNDICE A – Protocolo dos Estudos de Caso ...................................... 131

APÊNDICE B – Roteiro de entrevistas ...................................................... 133

ANEXO A – Tela inicial dos sistemas de gestão de projetos ................. 135

ANEXO B – Tela do sistema de recuperação de informações ............... 136

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1. INTRODUÇÃO

O conhecimento sempre foi importante na vida coletiva. É algo que dá prestígio a

estudiosos em diversos pontos da sociedade. Apenas recentemente o conhecimento

foi considerado fator de produção. Peter Drucker (1995) foi um dos pioneiros a

distinguir a transformação de uma economia de bens para uma economia baseada

em conhecimento.

A transformação da economia de bens, para a economia baseada em conhecimento,

traz mudança de paradigma nas organizações, pois a fonte de poder muda do nível

hierárquico ocupado, para o nível de conhecimento possuído (SVEIBY, 1997). Por sua

importância econômica, praticantes e acadêmicos passaram a estudar formas de

gerenciar o conhecimento nas organizações. Desenvolve-se, a partir disso, o campo

de estudo da Gestão do Conhecimento (GC).

De acordo com Nonaka e Takeuchi (2008), a Gestão do Conhecimento pode ser

definida como o processo de criar continuamente novos conhecimentos,

disseminando-os amplamente na organização e incorporando-os velozmente em

produtos/serviços, tecnologias e sistemas. Spender (2008) complementa que a

Gestão do Conhecimento está relacionada à otimização do valor econômico entregue,

realizando o potencial econômico do conhecimento quando ele talvez não esteja no

local correto ou de fácil acesso.

Para melhor compreensão da Gestão do Conhecimento, abordam-se neste capítulo,

fundamentos conceituais de “dado”, “informação” e “conhecimento” com o intuito de

apresentá-los sumariamente, evoluindo a discussão em maior profundidade no

capítulo de revisão da literatura.

Jamil (2005) define dado como sendo a representação convencionada de uma

grandeza qualquer, um sinal ou código, expresso em unidades padronizadas,

podendo ser obtido por observação, medição ou processo automático. Para

Informação, o autor trata como um elemento composto a partir de um conjunto de

dados relevantes para uma análise, contextualizados. Tal proposição é fundamentada

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pelo autor nos trabalhos de Kock, McQueen e Corner (1997), Setzer (1999), Bellinger,

Castro e Mills (2004).

Por sua vez, conhecimento é alvo de abordagens de estudos produzidos em vários

campos científicos e filosóficos. Segundo Davenport (1998), Nonaka e Takeuchi

(1997) e Alle (1997), citados por Jamil (2005), pode-se compreender o conhecimento

como o conjunto obtido pela informação e o contexto associado, envolvendo a

percepção do ambiente, do sistema em que foram compostas e coletadas e de como

este sistema atua. A partir dos dados, pode ser formada a informação, bem como

desta pode ser formado conhecimento sobre uma realidade ou fato. Essa premissa

está de acordo com obras basilares de Borko (1968), Buckland (1995), Bergeron

(1996) e Choo (1998), dentre vários outros autores também citados por Jamil (2005).

Davenport (1998) define dado como representação obtida por intermédio de simples

observação, facilmente estruturado, obtido por máquinas, frequentemente

quantitativo, facilmente transferível. Informação consiste em dados dotados de

relevância e propósito, assim como conhecimento seria a informação valiosa da mente

humana, incluindo reflexão, síntese, contexto, como demonstrado, em síntese, no

Quadro 1.

Quadro 1 - Definições para dado, informação e conhecimento

Dado

Informação

Conhecimento

Simples observações sobre

o estado do mundo –

facilmente estruturado,

facilmente obtido por

máquinas, frequentemente

quantificado, facilmente

transferível. Conjunto de

fatos distintos e objetivos,

relativos a eventos.

Matéria-prima essencial

para a criação da

informação (DAVENPORT,

1998).

Representação

convencionada de uma

Dados dotados de

relevância e propósito –

requer unidade de análise,

exige consenso em relação

ao significado, exige

necessariamente a

medição humana. Tem por

finalidade mudar o modo

como o destinatário vê algo.

Exercer algum impacto

sobre o julgamento e

comportamento

(DAVENPORT, 1998).

Elemento composto a partir

de um conjunto de dados

Informação valiosa da

mente humana – inclui

reflexão, síntese, contexto.

De difícil estruturação,

captura em máquinas,

frequentemente tácito e de

difícil transferência. Tem

origem e é aplicado na

mente dos conhecedores.

Mistura fluida de

experiência condensada,

valores, informação

contextual e insight

experimentado

(DAVENPORT, 1998).

(continua)

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grandeza qualquer, um

sinal ou código, expresso

em unidades padronizadas,

podendo ser obtido por

observação, medição ou

processo automático

(JAMIL, 2005)

relevantes para análise,

contextualizados. (JAMIL,

2005)

Conjunto obtido pela

informação e o contexto

associado, envolvendo a

percepção do ambiente, do

sistema em que foram

compostas e coletadas e de

como este sistema atua

(JAMIL, 2005)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Como conhecimento é algo de difícil estruturação (DAVENPORT, 1998), seu

funcionamento no contexto em que as organizações lidam com projetos como

ferramenta de gestão, torna-se ainda mais desafiador. Projeto, segundo PMI (2013),

é um empreendimento temporário para criar um produto, serviço ou resultado

exclusivo. Contém a noção de temporalidade – começo, meio e fim – e de

singularidade – único, exclusivo.

O PMI – Project Management Institute é uma das diversas associações criadas com

o objetivo de organizar e promover melhores práticas em gerenciamento de projetos.

Sua produção mais conhecida é o Guia PMBOK – Project Management Body of

Knowledge (Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos). As quatro

empresas pesquisadas neste estudo, trabalham com o conjunto de melhores práticas

difundido pelo PMI. Por isso, esta será a associação citada neste trabalho de

pesquisa. Outras associações que também atuam com gerenciamento de projetos,

são:

• IPMA – International Project Management Association – União Européia

• APM – Association for Project Management – Reino Unido

• OGC – Office of Government Commerce – Reino Unido

• AIPM – Australian Institute of Project Management – Austrália

• JPMF – Japan Project Management Forum - Japão

O Guia PMBOK, em sua sexta edição, encontra-se disponível, no período em que este

trabalho está sendo concluído, em sua versão “rascunho” para comentários (PMI,

2017). Por sua estrutura esboçada, é possível ter acesso ao implemento de três novos

Quadro 1 – Definição para dados, informação e conhecimento (conclusão)

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processos, destacando um deles pela relevância junto a esta pesquisa: gerenciar o

conhecimento do projeto, que faz parte do grupo de processos de execução na

área de conhecimento do Gerenciamento de Integração do projeto. Os outros dois

processos são: implementar respostas aos riscos e controlar recursos.

Em função das mudanças de paradigmas – economia industrial para economia do

conhecimento –, da natureza dos projetos – temporalidade e singularidade – e do

contexto das organizações, tem-se uma situação de solução desafiadora para a

Gestão do Conhecimento, objeto desta pesquisa.

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2. OBJETIVOS

2.1 Geral

Face a difícil estruturação do conhecimento (DAVENPORT, 1998), a temporalidade e

unicidade dos resultados de um projeto (PMI, 2013), o objetivo geral desta pesquisa

é investigar como ocorre a Gestão do Conhecimento em projetos desenvolvidos

em organizações brasileiras.

2.2 Objetivos Específicos

• Mapear conhecimentos em projetos;

• Analisar a aplicação das práticas de gestão do conhecimento em projetos;

• Identificar e analisar fatores que influenciam as práticas de gestão do

conhecimento em projetos.

2.3 Justificativa

Justifica-se sob duas perspectivas: acadêmica e prática.

2.3.1 Acadêmica

O trabalho contribui com o campo da Gestão do Conhecimento em Projetos, a partir

do mapeamento dos conhecimentos considerados para a execução dos projetos, da

identificação das práticas que viabilizam a gestão do conhecimento (tanto dentro de

um projeto quanto entre projetos) e dos fatores que influenciam esse processo.

Pode-se citar a edição especial sobre Gestão do Conhecimento em ambientes de

Projetos no International Journal of Project Management em 2003 (LOVE; IRANI,

2003). A partir dessa edição, em 2005, Peter Love e Zahir Irani, dois dos editores

desse periódico, nessa edição, lançaram junto com Patrick Fong, um livro que conta

com artigos de diversos colaboradores de universidades ao redor do mundo, sob o

título “Management of Knowledge in Project Environments”.

Além disso, estudar as práticas de gestão do conhecimento, especificamente em

empresas de origem brasileira, poderá promover a ampliação de conhecimentos para

estudos futuros sobre diferenças referentes às práticas de empresas de origem

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estrangeira, mas que estão presentes no Brasil, uma vez que tais empresas importam

as práticas de suas matrizes.

2.3.2 Prática

Realiza-se um mapeamento dos conhecimentos relevantes para organizações que

oferecem serviços de Escritório de Gerenciamento de Projetos, e que podem ser

utilizadas como base para um diagnóstico em outras organizações sobre como estão

sendo gerenciados esses conhecimentos.

O presente trabalho aponta fatores facilitadores e dificultadores para a gestão do

conhecimento. Sendo assim, podem-se investir esforços da organização no sentido

de incentivar os fatores percebidos como facilitadores e amenizar os dificultadores.

Destaca-se, o crescente número de profissionais certificados, no Brasil, em

gerenciamento de projetos, quando em 2008 existiam 7.258 profissionais e em 2016

esse número passou a ser de 17.622 (SOTILLE, 2017). Shenar e Dvir (2007) explicam

que a tendência dos projetos tomarem uma proporção cada vez mais significativa em

comparação às atividades de rotina, operacionais, acontece não só porque os ciclos

dos produtos estão cada vez se tornando mais curtos – demora menos tempo para o

lançamento de um produto/serviço acontecer –, mas também porque os consumidores

demandam mais variedade e opções. É neste ponto que os projetos aparecem como

diferenciadores.

2.4 Amostra da pesquisa

Envolveu organizações de origem brasileira de diferentes segmentos de atuação. A

escolha de empresas de origem brasileira é resultado do interesse em compreender

as práticas que foram desenvolvidas dentro do contexto do país e que não foram

importadas de matrizes no exterior.

2.5 Estrutura do trabalho

Foram apresentados na introdução, de forma sumária, conceitos que serviram de

base para definição dos objetivos (geral e específicos), justificativa (acadêmica e

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prática), amostra da pesquisa e a estrutura do trabalho. Os capítulos seguintes foram

estruturados da seguinte forma: revisão da literatura (referencial teórico), método da

pesquisa, estudos de casos individuais e integrado, considerações finais, onde são

expostas recomendações para pesquisas futuras e são discutidas as limitações e

contribuições desta.

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3. REVISÃO DA LITERATURA

Está estruturada partindo do geral para aspectos específicos: o conhecimento,

conhecimento em projeto, gestão do conhecimento, influenciadores na gestão do

conhecimento, práticas de gestão do conhecimento, gestão do conhecimento em

organizações projetizadas, finalizando com o sumário da revisão da literatura.

3.1 O Conhecimento

O primeiro passo para compreender os conceitos que fundamentam a pesquisa é

analisar o contexto da economia baseada no conhecimento, além dos aspectos

envolvidos na discussão do conceito de conhecimento e os diferentes tipos que o

conhecimento pode assumir.

3.1.1 Economia do Conhecimento

No mundo atual, conhecimento continua sendo fonte de poder. Entretanto, conforme

afirma Drucker (1995), na era pós-capitalismo, o poder provém da transmissão das

informações para torná-las produtivas, e não de ocultá-las.

Para compreender a economia baseada no conhecimento, é importante retomar

algumas perspectivas na história da economia para mostrar as mudanças de

perspectivas até chegarmos ao momento atual. Amorim (2007) faz uma retomada

histórica que se encontra resumida no quadro 2.

Quadro 2 - O conhecimento na história da economia

Pensador Contribuições

Adam Smith

(1723-90)

Conceito de que o crescimento da riqueza de um país está associado ao

aprofundamento da divisão do trabalho em sua economia;

Essa divisão separa os homens que executam as tarefas dos que

observam e propõem novas formas de produzir.

Karl Marx

(1818-83)

A lógica do capital cria um trabalhador que é quase uma extensão da

máquina, distanciando-se do conhecimento.

Proposta de trabalho cooperativo em que produto deixa de ser individual

para ser social. A dimensão social é atribuída ao conhecimento.

Alfred Marshall

(1842-1924)

Formula o conceito de capital humano: grau de capacitação da

comunidade para o trabalho qualificado, a inovação científica e

(continua)

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tecnológica, a liderança, a iniciativa e a organização no âmbito

empresarial privado e na vida pública.

Um dos gargalos para o desenvolvimento econômico poderia ser o baixo

nível educacional da população.

J. Schumpeter

(1883-1950)

Impulso fundamental para a dinâmica da economia, é dado pelo novo que

acarreta destruição criadora (destruição das oportunidades de

sobrevivência das estruturas velhas pela concorrência capitalista).

Neo-

Schumpeterianos

(atual)

Envolvidos na formulação de uma nova teoria do conhecimento

econômico que compreenda o papel do conhecimento e da tecnologia

enquanto geradores de produtividade e desenvolvimento.

Fonte: Adaptado de AMORIM, 2007.

Percebe-se que as diferentes proposições dos pensadores econômicos evidenciam a

mudança do papel do conhecimento na economia até o momento atual em que se

precisa ser repensado.

Sveiby (1997) faz uma comparação de diferentes aspectos sob o ponto de vista do

paradigma da Era Industrial e do paradigma da Era do Conhecimento que pode ser

visto no Quadro 3.

Quadro 3 - Mudança do paradigma Industrial para o Conhecimento

Aspectos Paradigma da Era Industrial Paradigma da Era do Conhecimento

Pessoas Geradores de custos ou recursos

Geradores de receita

Base de poder dos gerentes

Nível de hierarquia Nível de conhecimento

Informação Instrumento de controle Ferramenta de comunicação, recurso

Produção Operários processando recursos físicos para criar produtos tangíveis

Trabalhadores do conhecimento convertendo conhecimento em ativos intangíveis

Fluxo de informação Mediante a hierarquia organizacional

Mediante redes colegiadas

Fonte primária de receita

Tangível (dinheiro) Intangível (aprendizado, novas ideias, novos clientes, P&D)

Gargalos de produção Capital financeiro e habilidades humanas

Tempo e conhecimento

Manifestação da produção

Produtos tangíveis (hardware) Estruturas intangíveis (conceitos e softwares)

Fluxo da produção Direcionados pelas máquinas; sequencial

Direcionado pelas ideias; caótico

Efeito do tamanho Economia de escala no processo de produção

Economia de escopo nas redes

Relações com os clientes

Unidirecional via mercado Interativa via redes pessoais

Conhecimento Uma ferramenta ou recurso dentre outros

O foco no negócio

Propósito de aprendizagem

Aplicação de novas ferramentas

Criação de novos ativos

(conclusão)

Quadro 2 – O conhecimento na história da economia (conclusão)

Fonte: Adaptado de SVEIBY, 1997.

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A OECD (Organization for Economic Cooperation and Development) afirma que o

termo “economia baseada em conhecimento” deriva do completo reconhecimento do

lugar do conhecimento e tecnologia nas modernas economias de seus países

membros (OCDE, 1996).

Nesse contexto surge um novo papel: o trabalhador do conhecimento. Peter Drucker

foi um dos precursores a tratar desse tema. Ele aponta que no século XX, a força de

trabalho nos países desenvolvidos passou do trabalho manual e de fazer mover as

coisas - as fazendas, fábricas e minas - para o trabalho do conhecimento e em

serviços (DRUCKER, 1995).

A nova era do conhecimento traz desafios. Terra (2001) indica que o conhecimento é

difícil de quantificar ao contrário de outros ativos organizacionais como estoques

financeiros, recursos naturais e mesmo mão de obra qualificada. Além disso, uma de

suas características fundamentais é o fato de ser altamente reutilizável e, quanto mais

utilizado, mais aumenta seu valor, representando uma lógica de depreciação oposta

ao que usualmente se aplica.

Outro aspecto do conhecimento a ser destacado é que ele é parte fundamental do

Capital Intelectual das organizações. Isso é percebido na definição de Stewart (1998),

quando diz que o Capital Intelectual constitui matéria intelectual – conhecimento,

informação, propriedade intelectual, experiência – que pode ser utilizada para gerar

riqueza.

Edvinsson e Malone (1998) segmentam o Capital Intelectual em Capital Humano,

Capital Estrutural e Capital de Relacionamento. O Capital Humano envolve a

capacidade, conhecimento, habilidade e experiência individuais dos funcionários,

além de criatividade e inovação organizacionais.

O Capital Estrutural está relacionado à infraestrutura que apoia o Capital Humano e o

de Relacionamento. Como exemplo, têm-se propriedade intelectual e ativos de

estrutura – processo de gestão, cultura, sistemas de informação.

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O Capital de Relacionamento envolve o valor resultante do relacionamento com

clientes – marcas, lealdade dos clientes, nome da empresa, acordos de parceria,

acordos de franquia, canais de distribuição, dentre outros.

Stewart (1998) ressalta que as organizações precisam desenvolver formas de manter

o Capital Humano, por meio de laços com a organização ou pela remuneração. Além

disso, um dos princípios para gerenciar o Capital Intelectual proposto pelo autor

envolve estimular o trabalho em equipe, comunidades de práticas e outras formas

sociais de aprendizado. As equipes capitalizam o talento que passa a ser

compartilhado e menos dependente de um único indivíduo.

Percebe-se que o conhecimento possui relevância na economia e nas organizações,

sendo um recurso estratégico que as permite sustentar vantagem competitiva. Sendo

assim, é necessário analisar mais profundamente o que é esse ativo.

3.1.2 Conceito de Conhecimento

Definir conhecimento não é tarefa trivial. Grant (1996, p.110, grifo do autor) corrobora

esse desafio: “O que é conhecimento? Como a questão tem intrigado alguns dos

maiores pensadores do mundo, de Platão a Popper, sem a emergência de um

consenso claro, essa não é uma arena em que eu escolho competir.”

Nonaka e Takeuchi partem do conceito de conhecimento como crença verdadeira

justificada, que, segundo os autores, foi introduzida por Platão (NONAKA;

TAKEUCHI, 1997). No entanto, os autores abordam a questão da verdade da seguinte

forma:

Enquanto a epistemologia tradicional do Ocidente se concentrou na “verdade” como

atributo essencial do conhecimento, nós destacamos a natureza do conhecimento

como ‘crença justificada’. (NONAKA, TAKEUCHI, 1997, p.63)

Os autores complementam sua posição dizendo que consideram o conhecimento

como “[...] um processo humano dinâmico de justificar a crença pessoal com relação

‘à verdade’.” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p.63), contrapondo-se assim à

epistemologia tradicional que enfatiza a natureza absoluta, estática e não humana do

conhecimento, expressa de forma geral em proposições e pela lógica formal.

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Essa discussão está relacionada ao que Nakano e Fleury (2005) classificam como

duas perspectivas do conhecimento: cognitiva versus construtivista. A perspectiva

cognitiva vê o mundo como uma realidade pré-definida cuja existência é independente

da ação e história da organização e dos indivíduos. A tarefa da organização é produzir

a representação mais acurada da realidade, por meio da coleta e interpretação de

informações, para que sejam tomadas decisões acertadas. A crítica feita à perspectiva

cognitiva se refere ao argumento de que o conhecimento não pode ser desvinculado

de seu caráter subjetivo e dependência do contexto (NAKANO; FLEURY, 2005).

Já na perspectiva chamada construtivista, a realidade é construída por intermédio de

observações e reflexões do indivíduo, em sua interação com a situação existente.

Assim, segundo Nakano e Fleury (2005), o conhecimento nessa perspectiva é

socialmente construído e não há uma realidade pré-existente.

No presente trabalho, adota-se a perspectiva construtivista, uma vez que se entende

o conhecimento na mesma linha de pensamento de Nonaka e Takeuchi (1997), ou

seja, como “crença justificada”.

Percebe-se que dado, informação e conhecimento encontram-se em um contínuo, em

que um é base para a formação do outro. Entretanto, Davenport e Prusak (1998)

reconhecem que “pode ser difícil observar o ponto exato em que dados tornam-se

informação ou conhecimento, porém é fácil verificar sua ascensão na cadeia.”

(DAVENPORT; PRUSAK, 1998, p.8).

Spender (2008), citando Ackoff (1989), diferencia dado, informação e conhecimento,

adicionando a diferenciação em relação ao conceito de sabedoria. Segundo Ackoff

(1989), dado seria um fato cru, informação seria o dado com significado, conhecimento

seria a informação contextualizada, e sabedoria seria o conhecimento aproveitado

para a melhoria da condição humana.

3.1.3 Tipos de Conhecimento

É possível classificar o conhecimento sob diferentes pontos de vista. Pode-se

diferenciá-lo por forma de compreender a realidade, como fazem alguns autores de

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metodologia de pesquisa, como Martins e Theófilo (2009) e Marconi e Lakatos (2010),

ou classificá-lo segundo as diferenças em suas dimensões, como fazem Nakano e

Fleury (2005).

É possível também adotar a perspectiva ontológica (individual, grupo, organizacional

e interorganizacional) e epistemológica (tácito e explícito), conforme sugerido por

Nonaka e Takeuchi (1997). Outra forma de abordar o conhecimento é a que se

relaciona ao conteúdo (conhecimento sobre). O quadro 4 resume essas perspectivas.

Quadro 4 - Diferentes abordagens para tipos de conhecimento

Perspectiva Classificação

Compreensão da realidade Senso comum

Filosófico

Teológico

Científico

Por dimensão Codificabilidade

Complexidade

Transferibilidade

Agregabilidade

Apropriabilidade

Ontológica Indivíduo

Grupo

Organização

Interorganização

Epistemológica Tácito

Explícito

Conteúdo Conhecimento a respeito de algum conteúdo. Exemplo:

conhecimento sobre o mundo, conhecimento sobre

projetos, etc.

Fonte: Adaptado de MARTINS; THEÓFILO, 2009; NAKANO; FLEURY, 2005; NONAKA; TAKEUCHI, 1997.

Quando são abordados os diferentes tipos de conhecimento de acordo com sua

dimensão, Nakano e Fleury (2005) consolidam as perspectivas de diversos autores e

chegam às seguintes definições:

• Codificabilidade: refere-se ao grau em que o conhecimento pode ser

transformado em um conjunto de regras e relações, ou seja, codificado.

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• Complexidade: está ligada ao grau de esforço necessário para realizar essa

transformação.

• Transferibilidade: é o grau em que pode ser transferido sem degradações.

• Capacidade de agregação: capacidade dos diferentes elementos do

conhecimento serem combinados.

• Apropriabilidade: grau em que o indivíduo consegue receber retorno de igual

valor ao conhecimento que possui.

De acordo com a perspectiva epistemológica, Nonaka e Takeuchi (1997) diferenciam

o conhecimento em tácito e explícito. Segundo os autores, essa classificação foi

inicialmente abordada por Michael Polanyi em 1966. Esta diferenciação foi

posteriormente analisada por outros autores. O quadro 5 reúne alguns aspectos desta

distinção:

Quadro 5 - Diferenças entre conhecimento explícito e tácito

Conhecimento Explícito

Conhecimento Tácito

Pode ser expresso em palavras, números ou sons; é pronunciável, formulado em frases e capturado sob a forma de desenho e escrita

Fundamentado em uma teoria independente do contexto

Relacionado ao “saber sobre” (knowing about) É compartilhado na forma de dados, fórmulas

científicas, recursos visuais, fitas de áudio, especificações de produtos ou manuais

Pode ser rapidamente transmitido aos indivíduos, formal e sistematicamente

Tem uma característica universal, sendo capaz de atuar em diferentes contextos

É acessível por meio da consciência

Não é facilmente visível e explicável; grande parte é embutido e, logo, não pode ser articulado

Subjetivo, dependente do contexto específico Relacionado ao “saber como” (knowing how) Ligado aos sentidos, experiência tátil,

habilidades motoras, intuição, modelos mentais não-articuláveis ou regras de bolso implícitas; inclui intuições e palpites

Enraizado nas ações, procedimentos, rotinas, compromissos, ideais, valores e emoções

Altamente pessoal e difícil de formalizar, dificultando sua comunicação e compartilhamento

Pode ser acessível por meio da consciência, caso esteja mais inclinado ao lado explícito do que contínuo

Fonte: Adaptado de GRANT, 1996; MATURANA; VARELA, 2010; NONAKA; TAKEUCHI, 1997; NONAKA; VON KROGH, 2009; TAKEUCHI, NONAKA, 2008.

Takeuchi e Nonaka (2008) esclarecem que o conhecimento não é explícito ou tácito,

mas ambos ao mesmo tempo, dada a sua natureza paradoxal. Sendo assim, esses

dois componentes do conhecimento são complementares, como também

interpenetrantes. Nonaka e Von Krogh (2009) reconhecem que os conhecimentos

tácito e explícito não devem ser vistos como entidades separadas, mas como

mutuamente complementares e baseadas no mesmo contínuo. Além disso, estão de

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acordo com a noção de que o conhecimento tácito é um pré-requisito para a aplicação

de conhecimento explícito.

3.2 Conhecimento em projeto

Em estudo desenvolvido por Hanisch et al. (2009), os conhecimentos relacionados a

projetos podem ser classificados em:

• Conhecimento em projetos: metodologia de gestão de projetos e práticas de

comunicação em projetos.

• Conhecimento sobre projetos: visão geral do cenário dos projetos que estão

sendo ou que já foram realizados pela organização.

• Conhecimento entre projetos: conhecimento especialista, metodológico, de

procedimento e relacionado à experiência.

3.3 A Gestão do Conhecimento

Com a explosão da informação e a crescente preocupação com organização e

geração do conhecimento (JÚNIOR; CARVALHO; AZEVEDO, 2013), aquilo que, a

princípio, foi considerado como de fácil absorção, ganhou contornos de profundidade,

até que a Gestão do Conhecimento fosse estruturada da forma como atualmente é

depreendida.

Segundo Nonaka e Takeuchi (2008), autores referência no campo da Gestão do

Conhecimento, a definição de Gestão do Conhecimento pode ser expressa da

seguinte forma:

A gestão do conhecimento – definida como o processo de criar continuamente novos

conhecimentos, disseminando-os amplamente através da organização e incorporando-

os velozmente em projetos/serviços, tecnologias e sistemas – perpetua a mudança no

interior da organização. (Ibid., p.I).

Vê-se que os autores fazem a associação de gestão do conhecimento à criação de

novos conhecimentos, disseminação e incorporação dos mesmos. Além disso,

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acrescentam que a gestão do conhecimento permite perpetuar a mudança na

organização.

Dalkir (2005) propõe uma definição próxima, mas com um foco equalizado entre

criação e reutilização:

Gestão do Conhecimento é a coordenação deliberada e sistêmica das pessoas,

tecnologia, processos e estrutura organizacional, de forma a agregar valor por meio da

reutilização e inovação. Essa coordenação é alcançada por meio da criação,

compartilhamento e aplicação do conhecimento, assim como por meio da alimentação

de valiosas lições aprendidas e melhores práticas na memória organizacional, de forma

a promover aprendizagem organizacional contínua. (Ibid., p.3)

Nicolini e Meznar (1995), por sua vez, propõem que a mudança organizacional seja

uma evidência de aprendizagem. Unindo essa definição com a de Takeuchi e Nonaka

(2008), a gestão do conhecimento permitiria perpetuar a aprendizagem na

organização. Esse aspecto aponta para a necessidade de diferenciar Gestão do

Conhecimento (GC) e Aprendizagem Organizacional (AO).

Segundo Prange (2001), o conhecimento é a essência do processo de aprendizagem,

sendo necessário obtê-lo para comprovar que ocorreu aprendizagem. Além disso,

embasando-se em diferentes autores, define aprendizagem organizacional como “[...]

processos de aprendizagem individual e coletivos – tanto dentro como entre

organizações” (Ibid., p.42).

Fiol e Lyles (1985, p.803), assim como Prange, associam aprendizagem

organizacional com obtenção de conhecimento. Para esses autores, “Aprendizagem

Organizacional significa o processo de melhorar as ações por meio de um melhor

conhecimento e compreensão”.

É o que Santos e Sampaio (2016) dizem a respeito de algumas organizações que

possuem processos classificados como de alta complexidade. Essas organizações

tendem a ser mais adaptáveis ao seu ambiente e são, portanto, mais propensas à

evolução, o que deve resultar em um nível de aprendizagem organizacional mais

elevado.

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O presente trabalho está situado em ambos os campos do conhecimento (GC e AO),

apesar da ênfase no estudo da Gestão do Conhecimento. Ao estudar como as

organizações projetizadas realizam a gestão do conhecimento em projetos,

certamente se passará pelo entendimento de como conhecimentos são criados e

quais condições favorecem esse processo de aprendizagem organizacional. Não será

objetivo verificar, por exemplo, se ocorreu ou não aprendizagem organizacional nos

casos estudados.

3.3.1 Processos de Gestão do Conhecimento

A literatura propõe diferentes processos para a Gestão do Conhecimento. Dalkir

(2005) faz um levantamento de alguns desses processos propostos, que pode ser

visualizado no Quadro 6:

Quadro 6 - Diferentes propostas para os processos de Gestão do Conhecimento

Wiigs (1993)

Nickols (1999)

McElroy (1999)

Rollet (2003)

Buckowitz e Williams (2003)

Criação Aquisição Aprendizagem individual e de

grupo

Planejando Obter

Prospecção Organização Solicitação de validação de

conhecimento

Criando Usar

Compilação Especialização Aquisição da informação

Integrando Aprender

Transformação Armazenamento/ acesso

Validação do conhecimento

Organizando Contribuir

Disseminação Recuperação Integração do conhecimento

Transferindo Acessar

Aplicação Distribuição Mantendo Construir/ sustentar

Realização de valor

Conservação Acessando Livrar-se

Eliminação

Fonte: Adaptado de DALKIR, 2005.

Fleury e Fleury (2004) propõem uma síntese dos processos a partir de outros autores

destacando três principais processos: aquisição e desenvolvimento, disseminação e

construção da memória organizacional (figura 1).

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Figura 1 - Processo de Gestão do Conhecimento

Fonte: Adaptado de FLEURY; FLEURY, 2004.

Segundo os autores, a aquisição de conhecimentos e o desenvolvimento de

competências podem ocorrer por processos proativos (experimentação e inovação)

ou reativos – resolução sistemática de problemas, experiências realizadas por outros

como benchmarking, por exemplo, e contratação de pessoas. A memória

organizacional refere-se aos processos de armazenagem de informações com base

na história da organização, que podem ser recuperados, auxiliando na tomada de

decisão. (Ibid., 2004).

Nonaka e Takeuchi (1997) formularam o modelo SECI – socialização, externalização,

combinação e internalização – tendo em vista a criação do conhecimento a partir da

interação do conhecimento tácito e explícito. Essa interação é chamada pelos autores

de “conversão do conhecimento”, que ressalta ser “um processo ‘social’ entre

indivíduos, e não confinada dentro de um indivíduo” (Ibid., p.67, grifo dos autores). O

modelo pode ser visto na figura 2.

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Figura 2 - Modelo SECI - quatro modos de conversão do conhecimento

Fonte: NONAKA; TAKEUCHI, 1997.

Socialização – transformação do conhecimento tácito em tácito

Compartilhamento de experiências e geração de conhecimento tácito na forma de

modelos mentais ou habilidades técnicas compartilhadas, são exemplos

desenvolvidos pelos autores para explicar a aquisição do conhecimento tácito em

tácito. “Um indivíduo pode adquirir conhecimento tácito diretamente de outros sem

usar a linguagem.” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p.69) As experiências seriam o

segredo para aquisição do conhecimento tácito em tácito, nas palavras dos autores.

A experiência compartilhada é relevante dada à natureza tácita do conhecimento, que

demanda que o sentido seja estabelecido por meio das emoções associadas e

contexto específico nos quais essas experiências estão inseridas (Ibid.,1997).

Nonaka e Takeuchi (1997) exemplificam o processo de socialização por meio de dois

casos. O primeiro é da Honda a partir de sessões de brainstorming (método), que são

reuniões formais para discussões detalhadas para resolver problemas difíceis nos

projetos de desenvolvimento. Além de serem um fórum para o diálogo criativo, são

uma forma de compartilhar experiências e ampliar a confiança mútua entre os

participantes.

O segundo caso discutido por Nonaka e Takeuchi (1997) é da Matsushita Electric

Industrial Company, que precisava desenvolver uma máquina doméstica de fazer pão,

na década de 80. A chefe de desenvolvimento percebeu que o padeiro não só esticava

a massa mas também torcia, compreendendo o segredo da fabricação do pão.

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Percebe-se que houve uma socialização do conhecimento tácito do padeiro por meio

da observação, imitação e prática.

Externalização – transformação do conhecimento tácito em explícito

Processo de articulação do conhecimento tácito em conceitos explícitos, sob a forma

de metáforas, analogias, hipóteses e modelos. Para que se realize esse processo,

utiliza-se da linguagem, o que, muitas vezes, não é suficiente ou adequada para

expressar o que se busca. No entanto, essas lacunas são importantes para o processo

de reflexão e interação entre os indivíduos e, normalmente, o processo de

externalização é provocado pelo diálogo ou pela reflexão coletiva (Ibid., 1997).

Dentre os exemplos estudados por Nonaka e Takeuchi (1997) para o processo de

externalização, pode-se apontar o desenvolvimento do automóvel modelo Honda City,

que se baseou na metáfora da “evolução do automóvel” (como um ser humano que

evolui) e da analogia com uma “esfera” (máximo espaço para o passageiro e mínimo

para a área da superfície). Esse exemplo mostra a importância dada pelos autores ao

uso da metáfora e da analogia, pois permite expressar o conhecimento tácito,

conciliando discrepâncias de significado e criando novas formas de experimentar a

realidade.

Combinação – transformação do conhecimento explícito em explícito

Envolve combinar conjuntos diferentes de conhecimento explícito como, por exemplo,

documentos, reuniões conversas ao telefone ou redes de comunicação

computadorizadas. A recombinação das informações existentes por meio da

classificação, acréscimo, combinação e categorização do conhecimento pode levar a

novos conhecimentos. O treinamento formal nas escolas (ensino em um curso de pós-

graduação, por exemplo) ou o produto gerado por meio da interação do conhecimento

de dois departamentos diferentes podem ser exemplo de combinação (NONAKA;

TAKEUCHI, 1997, p.76-77).

Internalização – transformação do conhecimento explícito em tácito

A internalização é o processo de incorporar o conhecimento explícito ao conhecimento

tácito e está intimamente relacionada ao “aprender fazendo”. O processo de

documentação – verbalização e diagramação do conhecimento sob a forma de

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documentos, manuais ou histórias reais – facilita a transferência do conhecimento

explícito ajudando as pessoas a vivenciar a experiência dos outros, ou seja,

“reexperimentá-las” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p.77).

De acordo com os autores, o conhecimento tácito acumulado precisa ser socializado

com outros membros da organização de forma a iniciar uma nova espiral de criação

do conhecimento.

Entender como o conhecimento se integra à memória organizacional é importante na

medida em que assegura que o conhecimento individual se torna parte integrante da

organização. De acordo com Walsh e Ungson (1991), há seis repositórios de memória

organizacional, como se pode visualizar no Quadro 7.

Quadro 7 - Repositórios de Memória Organizacional

Repositório de memória

organizacional

Detalhamento

Indivíduos Membros da organização; armazenam conhecimento em sua memória. Observação: computadores pessoais seriam um acessório para o armazenamento de informações

Cultura Lições aprendidas do passado; armazenadas na linguagem, no modo de pensar compartilhado, nos símbolos, estórias e sagas, fofocas

Transformações Operações da organização; armazenadas nos procedimentos, regras sistemas de operação, práticas (de projetos, de RH, de planejamento)

Estruturas Desenho da organização (hierarquia e forma de distribuição das funções) + papéis sociais (expectativas criadas em torno dos papéis)

Ecologia Ambiente físico da organização => arranjo físico reforça ideias como autoridade e mérito

Arquivos externos Ex-membros, competidores, governo, mídia impressa, instituições financeiras => guardam informações sobre a empresa

Fonte: Adaptado de WALSH; UNGSON, 1991.

Oliveira (2000) critica três aspectos do modelo de Walsh e Ungson: (1) não reconhece

integralmente o papel de novos sistemas de informação como forma de memória

organizacional. Os autores apenas assinalam que computadores podem ser vistos

como acessórios aos indivíduos para manutenção da memória, (2) não aprofunda em

como as organizações geograficamente distribuídas desenvolvem memória

organizacional, e (3) não aponta os processos específicos pelos quais as

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organizações propositadamente coletam e armazenam conhecimento experiencial e

pelos quais os indivíduos o acessam.

Um ponto interessante trazido por Oliveira (2000) é o fato dos treinamentos realizados

na empresa promoverem a criação de laços sociais para futuras trocas de

conhecimento, entre si e com os profissionais seniores que ministraram os

treinamentos.

É o que Favier, Caballero e Cambas (2015) valorizam na gestão do conhecimento:

gestão, análise, localização, distribuição e extração de informações relacionadas com

a organização, suas atividades e seus negócios, sendo que o mais importante,

segundo os autores, é o conhecimento radicado nas pessoas e que pode ser

compartilhado a partir delas.

Outros autores que procuram compreender o processo de interação entre

aprendizagem individual e organizacional são Crossan et al. (1999). Os autores

propõem um modelo que chamam de “4Is”: intuição, interpretação, integração e

institucionalização. O modelo é resumido no Quadro 8.

Quadro 8 - Intuição, interpretação, integração e institucionalização

Processo

Nível Resultados Detalhamento

Intuição

Indivíduo Experiências Imagens Metáforas

É o reconhecimento pré-consciente de padrão ou possibilidades inerentes a um fluxo de experiências pessoais (definição de Weick)

Interpretação

Indivíduo/grupo Linguagem Mapas cognitivos Conversação/diálogo

É explicar por meio de palavras ou ações sobre um insight ou uma ideia para si mesmo ou para outros

Integração

Grupo/ Organização

Entendimento compartilhado

Ajustes mútuos Sistemas interativos

É o processo de desenvolver entendimentos compartilhados entre indivíduos e de tomar ações coordenadas por meio de ajustes mútuos. Diálogo e ações conjuntas são fundamentais para obter entendimento compartilhado.

(continua)

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37

É informal e para fins específicos, mas se recorrente pode se tornar institucionalizado.

Institucionalização

Organização Rotinas Sistema de

diagnóstico Regras e

procedimentos

É o processo de garantir que ações de rotina irão ocorrer. É o processo de embutir na organização a aprendizagem dos indivíduos e grupos. Inclui sistemas, estruturas, procedimentos e estratégia.

Fonte: Adaptado de CROSSAN et al., 1999.

À medida que as organizações amadurecem, os padrões de interação e comunicação

se tornam formalizados. Ressalta-se o ponto trazido pelos autores que, somente o

que alcança certo grau de consenso entre os membros influentes da organização, é

que se torna institucionalizado.

3.4 Influenciadores na Gestão do Conhecimento

O processo de gestão do conhecimento pode ser influenciado por vários fatores.

Sendo assim, é importante apresentar alguns deles já apontados na literatura

pesquisada.

Um esclarecimento inicial sobre o termo “influenciadores” é necessário: entende-se

que podem atuar tanto como facilitadores quanto dificultadores do processo de

transferência do conhecimento, dependendo de como se configuram na organização.

Por exemplo, a estrutura organizacional pode ser um facilitador (estrutura flexível) ou

dificultador (hierárquica). Sendo assim, adota-se o termo neutro “influenciadores” para

ser coerente com essa visão.

Os fatores facilitadores foram agrupados de forma a possibilitar uma visão do todo e

podem ser vistos no Quadro 9.

(conclusão)

(conclusão) Quadro 8 – intuição, interpretação, integração e institucionalização

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Quadro 9 - Influenciadores no processo de Gestão do Conhecimento

Autores Fatores influenciadores

Nonaka e Takeuchi (1997) “Condições capacitadoras”: Intenção Autonomia Flutuação e caos criativo Redundância Variedade de requisitos

Von Krough, Ichijo e Nonaka (2001) “Capacitadores do conhecimento” Instilar a visão do conhecimento Gerenciar as conversas Mobilizar ativistas do conhecimento Criar contexto adequado Globalizar o conhecimento local

Von Krough, Ichijo e Nonaka (2001) “Barreiras organizacionais” Necessidade de linguagem legítima Histórias organizacionais Procedimentos Paradigmas

Von Krough, Ichijo e Nonaka (2001) Ambiente de “solicitude” que possui as seguintes dimensões: Confiança mútua Empatia ativa Acesso à ajuda Leniência nos julgamentos

Prencipe et al. (2005) Condições para evolução da aprendizagem interprojeto: Complexidade técnica Duração do projeto Porte da organização Estilo da organização do projeto Alocação de pessoal

Koskinen e Pihlanto (2008) Fatores que afetam o compartilhamento de conhecimentos em um contexto de projeto: Gerente/líder do projeto Motivação para compartilhar conhecimento Confiança Atitude de se preocupar com o outro (caring

atitude) Sistema físico e proximidade Cultura organizacional e do projeto Valores Crenças, atitudes e premissas

Chiri e Klobas (2010) Fatores influenciadores da intenção dos indivíduos de compartilhar conhecimento

1) Condições organizacionais Comprometimento com a organização Recompensas e incentivos Confiança

2) Fatores intrínsecos ao indivíduo Orientação à aprendizagem

Chiri e Klobas (2010) Fatores influenciadores no compartilhamento de conhecimentos – Teoria do Comportamento Planejado Atitude em relação ao compartilhamento de

conhecimento Influência social percebida Grau de instrução (grau de controle e autoeficácia)

Fonte: Adaptado de Shinoda, 2012.

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Nonaka e Takeuchi (1997) propõem cinco condições capacitadoras da criação de

conhecimento:

a) Intenção: a aspiração da organização às suas metas e, geralmente, os esforços

para alcançar a intenção organizacional assumem a forma de estratégia. A intenção

é o critério básico para julgar o valor da informação e é expressa por padrões

organizacionais ou visões para avaliar e justificar o conhecimento criado.

b) Autonomia: relacionada ao nível individual, mas permitida pela organização. Nos

negócios, uma ferramenta poderosa é a equipe auto organizada, que inclui

membros de diferentes atividades organizacionais.

c) Flutuação e Caos Criativo: atitude organizacional aberta em relação aos sinais

ambientais, de forma a poder explorar a ambiguidade, a redundância e os ruídos

desses sinais para aprimorar o seu próprio sistema de conhecimento.

d) Redundância: existência de informações que transcendem as exigências

operacionais imediatas dos membros da organização; superposição intencional

de informações sobre atividades da empresa.

e) Variedade de Requisitos: propicia uma diversidade interna correspondente à

variedade e complexidade do ambiente em que a organização se insere. Implica

ter acesso rápido a uma ampla gama de informações, percorrendo o menor número

possível de etapas.

Von Krogh, Ichijo e Nonaka (2001), argumentam que o conhecimento não deve ser

gerido, pois, gestão implica controle de processos que talvez sejam intrinsecamente

incontroláveis ou, ao menos, que talvez sejam sufocados por um gerenciamento mais

intenso e discutem cinco “capacitadores do conhecimento”: (1) instalar a visão do

conhecimento, (2) gerenciar as conversas, (3) mobilizar os ativistas do conhecimento,

(4) criar o contexto adequado e (5) globalizar o conhecimento local. Todos os

capacitadores influenciam a nivelação do conhecimento, na medida em que ajudam a

promover a disseminação de informações em toda a organização e demolir as

barreiras à comunicação. O Quadro 10 mostra a relação das fases de criação do

conhecimento e dos capacitadores de conhecimento.

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Quadro 10 - Capacitação para o conhecimento - grade 5x5

Capacitadores

Compartilhamento de conhecimento

tácito

Criação de

conceitos

Justificação de

conceitos

Construção de

protótipos

Nivelação de conhecimento

Instilar a visão

Gerenciar as conversas

Mobilizar os ativistas

Criar o contexto adequado

Globalizar o conhecimento local

Fonte: Adaptado de VON KROUGH, Ichijo e Nonaka, 2001.

Legenda: sem ocorrência frequência/ocorrência regular frequência/ocorrência alta

O primeiro capacitador, “instilar a visão do conhecimento”, está relacionado à

“intenção” apontada por Nonaka e Takeuchi (1997). Esse aspecto legitima as

iniciativas de gestão do conhecimento em toda a empresa.

O segundo capacitador, “gerenciar as conversas”, é um dos aspectos centrais, pois

influencia todas as fases de criação do conhecimento. Segundo Von Krough, Ichijo e

Nonaka (2001), “gerenciar as conversas” está ligado ao estabelecimento de bons

relacionamentos, em um ambiente de solicitude, reduzindo as barreiras pessoais e

organizacionais.

O terceiro capacitador, “mobilizar os ativistas do conhecimento”, enfatiza as pessoas

que iniciam e coordenam os processos de criação de conhecimento. Essas pessoas

são capazes de inspirar as microcomunidades, coordenar o processo de criação de

conhecimento de várias equipes e localizar redundâncias e sinergias potenciais.

(KROUGH; ICHIJO; NONAKA, 2001).

O quarto capacitador, “criar contexto adequado”, tem uma relação estreita com o “ba”

(contexto capacitante), que será detalhado mais à frente e diz respeito à estrutura da

empresa, por meio da maneira como se constituem e interagem as equipes de projeto

determinando a extensão em que se valoriza o conhecimento. Segundo Von Krough,

Ichijo e Nonaka (2001), a criação do contexto adequado afeta todas as cinco fases da

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criação do conhecimento, sobretudo a justificação de conceitos e a nivelação de

conhecimentos.

Por fim, o quinto capacitador, “globalizar o conhecimento local”, enfatiza a

disseminação do conhecimento por meio dos muitos níveis organizacionais. Esse

capacitador é mais importante quando a criação e utilização de conhecimento estão

agregadas no tempo e no espaço, sendo fundamental, nesse caso, para fomentar o

conhecimento organizacional (KROUGH; ICHIJO; NONAKA, 2001).

Prencipe et al. (2005) discutem alguns fatores influenciadores que dizem ser

condições que definem a zona de manobra em que se dá a evolução da aprendizagem

interprojeto. São eles: complexidade técnica, novidade técnica, duração do projeto,

porte da organização, estilo da organização do projeto e alocação de pessoal. O

quadro 11 detalha cada um deles:

Quadro 11 - Condições para aprendizagem – interprojeto

Dimensões

Características

Complexidade técnica Conforme aumenta a complexidade mais provável que efeitos em cadeia gerem resultados não previstos

Projetos de grande complexidade demandam mecanismos mais informais de transferência de conhecimentos como reuniões face a face e encontros de gerentes de projetos

Novidade técnica O potencial para melhoria contínua é geralmente maior para projetos mais repetitivos do que naqueles que envolvem alto grau de customização

Interessante apontar que o nível de novidade técnica demandado varia não somente entre setores, mas entre os projetos de uma mesma empresa

Duração do projeto Tempo (duração e espaçamento de tempo entre projetos semelhantes) e grau de sobreposição com outros projetos influenciam a aprendizagem

Mudanças tecnológicas significativas podem ocorrer entre projetos muito distantes no tempo, além de ser difícil manter continuidade na experiência e conhecimento quando o projeto é muito longo

As lições aprendidas podem não ser retomadas para projetos semelhantes após um intervalo de tempo longo entre eles

Porte da organização As empresas maiores tendem a ter mais de uma unidade e funções muito variadas, demandam procedimentos mais formais do que empresas menores em que as pessoas se conhecem pelo nome e a aprendizagem interprojetos é fortemente personalizada

O uso de processos formais procura garantir maior harmonização entre as unidades dispersas geograficamente e funções diferentes

Em empresas maiores há a tendência de uso mais intensivo da tecnologia da informação (tanto para buscar e arquivar

(continua)

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informações quanto para ajudar na comunicação entre pessoas distantes)

Quando a empresa possui mais de uma unidade, o grupo corporativo procura identificar as diferenças e transferir as boas práticas

Estilo da organização do projeto

Essa condição indica como os projetos se relacionam entre si e com toda a organização. Variam entre os que envolvem grande orientação funcional e aqueles baseados em times de projetos dedicados

Orientação funcional, na qual disciplinas encontram-se agrupadas, permite maior gerenciamento da acumulação de conhecimento dos especialistas. Por outro lado, pode criar ilhas de conhecimento se não integrados

Em uma orientação fortemente projetizada o foco se volta às interações dentro do projeto e não entre projetos ou com outras partes da organização

Há empresas que tentam conseguir os benefícios dos dois estilos, por exemplo, promovendo rotação periódica de pessoal. Entretanto, a pressão de time e a restrição de recursos fazem com que raramente essas iniciativas possam ser colocadas em prática

Uma saída é a criação de comunidades de prática, em que profissionais de uma mesma área de conhecimento troca conhecimentos

Profissionais com conhecimento especializado podem ter que circular entre os diferentes projetos para compartilhar o conhecimento (ideia de “travelling experts”, ou “especialistas viajantes”)

Alocação de pessoal Quando for possível codificar e descontextualizar o conhecimento dos projetos, menor a ênfase em garantir a continuidade da alocação entre projetos

No entanto, se a experiência construída em times de projetos for vista como distribuída, coletiva e sensível ao contexto será importante manter pelo menos uma parte central de membros do time junta ao longo de diferentes projetos

Dependendo do timing do projeto (momento em que ocorre), as pessoas com experiência relevante podem não estar disponíveis

Há organizações que não consideram desejável manter a alocação de pessoas ao longo dos projetos, pois pode não favorecer novas ideias

Fonte: Adaptado de PRENCIPE et al., 2005.

Koskinem e Pihlanto (2008) levantam especificamente os fatores que influenciam o

compartilhamento de conhecimentos em um contexto de projetos, que estão

agrupados no Quadro 12.

(conclusão) Quadro 9 – Influenciadores no processo de Gestão do Conhecimento

(conclusão)

Quadro 11 – Condições para aprendizagem - intraprojeto

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Quadro 12 - Fatores influenciadores do compartilhamento de conhecimento

Fatores influenciadores do compartilhamento

Explicação

Gerente/líder do projeto Estabelece o tom da aprendizagem Referência para o time Facilitador em criar o contexto e situações para geração de

conhecimento

Motivação para compartilhar conhecimento

Motivação é um processo psicológico (interno) que direciona o comportamento

Pode ser extrínseca ou intrínseca Recompensas e reconhecimento são essenciais para promover

a motivação Salário, promoções, viagens podem motivar os indivíduos a

compartilharem conhecimento, mas a motivação genuína deriva do conteúdo e objetivos do trabalho serem interessantes

Importante que empresas demonstrem aos seus membros que estão sendo mensurados pelo que sabem e fazem individualmente

Confiança Reduz incerteza e complexidade Processo que depende da história: é construída de forma

incremental e acumulada Comunicação e definição de papéis facilitam a criação de

confiança Pode ser calculista (uma violação ou inconsistência a destrói),

baseada em papéis (premissas são assumidas em relação ao papel que as pessoas representam, importadas de outras configurações), em conhecimento (o indivíduo tem conhecimento suficiente acerca do outro que permita prever seu comportamento) e em identificação (conexão emocional, compreensão do outro)

Preocupar-se com o outro (Caring attitude)

Aspiração a ajudar outros a terem sucesso Inclui suporte emocional, instrumental, de informação e de

avaliação Sistema físico e proximidade Fatores ambientais interferem no desempenho do time

Alocação do espaço de trabalho baseada na necessidade e não na hierarquia, equipamentos e materiais adequados

Estrutura física deve encorajar interação entre as pessoas Importância da acessibilidade: influencia o tipo e frequência da

interação Cultura organizacional e do projeto

Envolvem as premissas e significados compartilhados Importância de estabelecer na cultura a necessidade de

compartilhar conhecimentos Necessidade de compreender e lidar com as diferentes

subculturas (da própria empresa, do cliente, das pessoas do time)

Valores Conceito abstrato Referem-se a objetivos pessoais como, status ou poder e os

meios de atingi-los Normas São expectativas de comportamentos adequados e inadequados Crenças, atitudes e premissas

Crenças são manifestações da cultura embutidas nas visões de mundos dos membros do projeto; o que as pessoas acreditam ser verdade

Atitudes conectam crenças e valores com sentimentos, envolvem uma predisposição a ação aprendida e podem resultar em preconceitos e estereótipos

Premissas são soluções para determinados problemas ditas como certas e são inconscientes

Fonte: Adaptado de KOSKINEN; PIHLANTO, 2008.

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Por fim, o grau de instrução pessoal refere-se a quanto uma pessoa se vê capaz, ou

tem controle sobre desempenhar um determinado comportamento, no caso, o

compartilhamento. Isso envolve o conceito de auto eficácia – quanto uma pessoa se

sente confiante para realizar um comportamento – e de controlabilidade – quanto

controle a pessoa possui sobre seu comportamento: oportunidades e recursos para

fazê-lo.

Os fatores influenciadores podem ser resumidos em cinco fatores mais amplos, como

se sugere no quadro 13.

Quadro 13 - Fatores influenciadores consolidados

Fatores influenciadores (consolidados)

Fatores apontados na literatura (autores)

Estratégia/Apoio da alta direção

Intenção, flutuação e caos criativo (NONAKA; TAKEUCHI, 1997) Instalar a visão do conhecimento; globalizar o conhecimento

local; paradigmas da empresa (KROUGH; ICHIJO; NONAKA, 2001)

Motivação para compartilhar conhecimento (KOSKINEN; PIHLANTO, 2008)

Cultura / Ambiente Autonomia, flutuação e caos criativo; variedade de requisitos (NONAKA; TAKEUCHI, 1997)

Gerenciar as conversas; criar o contexto adequado; linguagem; histórias organizacionais; paradigmas da empresa; ambiente de solicitude: confiança mútua, empatia ativa, acesso à ajuda, leniência nos julgamentos e coragem (KROUGH; ICHIJO; NONAKA, 2001)

Alocação (PRENCIPE et al., 2005) Confiança; atitude de se preocupar com o outro; cultura

organizacional e do projeto; valores; crenças, atitudes e premissas (KOSKINEN; PIHLANTO, 2008)

Estrutura/Papéis Redundância e variedade de requisitos (NONAKA; TAKEUCHI, 1997)

Mobilizar os ativistas do conhecimento (KROUGH; ICHIJO; NONAKA, 2001)

Estilo da organização do projeto; porte da organização; alocação de pessoal (PRENCIPE et al., 2005)

Gerente e líder do projeto; sistema físico e proximidade (KOSKINEN; PIHLANTO, 2008)

Processos/Tecnologia Redundância (NONAKA; TAKEUCHI, 1997) Globalizar o conhecimento local; procedimentos (KROUGH;

ICHIJO; NONAKA, 2001) Complexidade técnica; novidade técnica, duração do projeto

(PRENCIPE et al., 2005) Fatores individuais Autonomia (NONAKA; TAKEUCHI, 1997)

Dimensões da solicitude (KROUGH; ICHIJO; NONAKA, 2001) Motivação para compartilhar conhecimento, confiança;

preocupação com o outro (KOSKINEN; PIHLANTO, 2008)

Fonte: Adaptado de SHINODA, 2012.

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3.5 Práticas de Gestão do Conhecimento

Estudos anteriores analisaram práticas de gestão do conhecimento utilizadas em

algumas organizações. Sendo assim, é válido retomar alguns desses estudos, em

especial, aqueles com foco em organizações projetizadas.

Hanisch et al. (2009) apontam que os tipos de conhecimentos variam de acordo com

o ciclo de vida do projeto e dão exemplos de práticas de GC em cada etapa. O quadro

14 apresenta esses exemplos:

Quadro 14 - Práticas de GC em cada etapa do ciclo de vida de um projeto

Planejamento Busca de lições aprendidas de projetos passados Busca por conhecimentos técnicos e do cliente Avaliação de ideias do projeto com base em experiências de projetos

(viabilidade, risco, forma de implementação) Extração de conhecimento de projetos anteriores Possíveis sinergias com projetos paralelos

Implementação Aplicação do conhecimento de projetos concluídos para: o Planejamento e orçamento o Preparação da proposta (precificar) o Teambuilding (identificação de portadores de conhecimento) o Organização do projeto

Busca de documentos de melhores práticas em diferentes estágios de projeto

Identificação de especialistas na fase ou atividade específicas Uso de métodos de gestão de projetos consolidados e melhorados

(ferramentas, templates) Reutilização de pacotes de tarefa inteiros

Encerramento Arquivamento de lições aprendidas e documentos de melhores práticas para projetos futuros

Condução de entrevistas pós-projeto Teste e avaliação do conhecimento na base de conhecimentos Transferência pessoal de conhecimentos experiências para outros

times de projeto Checagem de metas de aprendizagem

Fonte: Adaptado de HANISCH et al., 2009.

Pode-se entender esses itens como práticas de gestão do conhecimento, pois são

ações que auxiliam o processo de Gestão do Conhecimento.

O ciclo de vida do projeto é um conjunto de fases do projeto, geralmente em ordem

sequencial, cujos nomes e quantidades são determinados pelas necessidades de

controle da organização ou organizações envolvidas no projeto. (PMI, 2013). O PMI

(2013) sugere, que independentemente do tamanho e complexidade, os projetos

podem ser mapeados para a estrutura de ciclo de vida que inclui: (1) início do projeto;

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(2) organização e preparação; (3) execução do trabalho do projeto; (4) encerramento

do projeto.

Após realizarem entrevistas com especialistas de nove setores diferentes (automotivo,

transporte, TI, construção, consultoria, químico entre outros), Hanisch et al. (2009)

levantaram as principais medidas tomadas, dentre os métodos de gestão de projetos,

para garantir o conhecimento entre os projetos. O quadro 15 indica essas medidas,

que também podem ser entendidas como o que é chamado de práticas neste estudo:

Quadro 15 - Gestão de Conhecimento em Projetos no ciclo de vida

Iniciação do projeto Alocação de acordo com base de competências/habilidades Uso de base de dados de erros típicos Acessar propostas similares desenvolvidas para projetos

semelhantes

Durante o ciclo de vida do projeto

Treinamento dos membros do projeto Revisões, lições aprendidas nos marcos do projeto, pontos de

checagem Avaliação por consultor externo/fornecedores e consulta de sua

experiência durante o ciclo de vida do projeto Reunião dos líderes do projeto com regularidade

Final do projeto (independente do ciclo de vida)

Lições aprendidas Revisão do projeto Resumo do projeto para avaliação do potencial de conhecimento

de projeto pelo escritório de gestão do conhecimento Debriefing

Fonte: HANISCH et al., 2009, tradução livre do autor.

Os autores separam a etapa de iniciação e finalização do ciclo de vida do projeto, o

que não está de acordo com o principal guia de referência em gestão de projetos do

PMI, o PMBOK (Project Management Body of Knowledge). Além disso, reúnem os

aspectos que independem do ciclo de vida com os da etapa de final do projeto, que

podem ser vistas como coisas distintas.

Prencipe et al. (2005) apresentam cenários com base em processos de aprendizagem

(acumulação de experiência, articulação de conhecimento e codificação do

conhecimento) e em níveis organizacionais (individual, grupo/projeto, organizacional).

Os cenários envolvem diferentes abordagens de acordo com a ênfase dada aos

processos e níveis, mas todos partem de uma base comum disposta no Quadro 16.

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Quadro 16 - Práticas por processo de aprendizagem e nível de análise

PROCESSO DE APRENDIZAGEM

Níveis de análise Acumulação de experiência

Articulação de conhecimento

Codificação de conhecimento

Individual Treinamentos on-the-job Rotação do pessoal Especialização

Pensamento figurativo

Pensar alto Rabiscos

Diário Sistema de

reporte Desenho de

sistema individual Grupo / Projeto Reutilização de

especialistas Pensamento grupal

desenvolvido Comunicação pessoa a

pessoa Encontros informais Imitação

Sessões de brainstorm

Revisões de projeto formais

Reuniões de debriefing

Reuniões pontuais Reuniões de lições

aprendidas ou pos-mortem

Correspondência intraprojeto

Plano de projeto / balanço

Marcos / prazos Atas de reunião Redação de case Arquivos de

histórico do projeto

Base de lições aprendidas intraprojeto

Organizacional Rotinas organizacionais informais, regras e processos seletivos

Departamentalização e especialização

Comunidades de práticas

Campos de Gerentes de Projetos

Retiros de conhecimento

Redes profissionais Facilitadores e

Gerentes de Conhecimento

Correspondência interprojeto

Reuniões interprojeto

Desenhos Mapas de

processo Processo de

gestão de projetos

Base de lições aprendidas

Fonte: PRENCIPE et al., 2005, p.202, tradução livre do autor.

As práticas de gestão do conhecimento, chamadas pelos autores de mecanismos de

aprendizagem interprojeto, foram levantadas a partir de uma mostra de 50 empresas

projetizadas que desenvolvem CoPS (Complex Product Systems) presentes na

Europa, América do Norte e Japão.

Um ponto interessante no modelo de Prencipe et al. (2005) são as diferentes lentes

utilizadas para analisar o mesmo cenário. Por exemplo, no cenário orientado ao social

(socially driven approach), enfatiza-se o nível de análise do indivíduo e os processos

de acumulação de experiência, pois o foco está em criar e compartilhar conhecimento

implícito e baseado na experiência. Sendo assim, a aprendizagem interprojetos tende

a ser informal, e envolve o aprendizado das novas práticas por meio de rotinas.

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Kotnour (2000) apresenta um modelo conceitual de aprendizagem em ambientes de

projeto e propõe a segmentação dos ciclos de aprendizagem em intraprojetos e

interprojetos.

O ciclo de aprendizagem intraprojeto é a criação e compartilhamento do conhecimento

dentro de um projeto (KOTNOUR, 2000). O ciclo de aprendizagem interprojetos, por

sua vez, corresponde à combinação e compartilhamento de lições aprendidas entre

projetos para aplicar e desenvolver novos conhecimentos (KOTNOUR, 2000).

Para consolidar as práticas dos estudos anteriores levantados, foi utilizada a

segmentação proposta por Kotnour (2000) em intra e interprojetos, no sentido dessas

práticas apoiarem os ciclos de aprendizagem correspondentes.

Além disso, as práticas intraprojetos foram classificadas de acordo com os processos

de Gestão do Conhecimento que parecem oferecer maior contribuição (recuperação,

criação/aquisição, compartilhamento e armazenamento).

Esses processos derivam da síntese proposta por Fleury e Fleury (2004) para os

processos de Gestão do Conhecimento em aquisição e desenvolvimento de

conhecimentos, disseminação e construção da memória organizacional. “Aquisição e

desenvolvimento” foi substituída por criação/aquisição, “disseminação” por

compartilhamento, e “construção da memória organizacional” foi separada em

recuperação e armazenamento.

As práticas levantadas nos estudos anteriormente analisados, foram consolidadas,

com base nas segmentações propostas por Kotnour (2000) e Fleury e Fleury (2004)

nas figuras 3 e 4:

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Figura 3 - Práticas intraprojeto consolidadas

Fonte: Adaptado de KOTNOUR, 2000; LÍCIO, 2005; HANISCH et al., 2009; PRENCIPE et al., 2005.

Figura 4 - Práticas interprojeto consolidadas

Fonte: Adaptado de KOTNOUR, 2000; LÍCIO, 2005; HANISCH et al., 2009; PRENCIPE et al., 2005.

Esse levantamento das práticas de gestão do conhecimento identificadas em estudos

anteriores é importante como base de comparação na coleta de dados da presente

pesquisa.

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3.6 Gestão do Conhecimento em Organizações Projetizadas

A partir da discussão do conceito de Gestão do Conhecimento e seus processos,

fatores influenciadores e práticas, é necessário contextualizar a GC em Organizações

Projetizadas. Para isso, será inicialmente apresentado o conceito de organização

projetizada e os desafios da GC nesse ambiente.

3.6.1 Organizações Projetizadas

Segundo Maximiano (2010), uma organização é um sistema de recursos que procura

realizar algum tipo de objetivo (ou conjunto de objetivos). Sendo assim, o conceito

abrange desde um pequeno comércio, departamento de uma empresa ou uma grande

corporação multinacional.

Uma organização projetizada apresenta um tipo específico de estrutura, voltada à

realização de projetos. Há diversas nomenclaturas para se referir a uma organização

projetizada, tais como: orientada a projetos, baseada em projetos, estruturada por

projetos (escritório de projetos).

Um Escritório de Gerenciamento de Projetos (EGP) tem a responsabilidade de manter

toda a propriedade intelectual relativa à gestão de projetos (KERZNER, 2006). Por

convenção, o PMI define um Escritório de Gerenciamento de Projetos (EGP) como

sendo uma estrutura organizacional que padroniza os processos de governança

relacionados a projetos, e facilita o compartilhamento de recursos, metodologias,

ferramentas e técnicas (PMI, 2013).

Escritório de projetos apresenta estrutura variada nas organizações, de acordo com o

controle e a influência nos projetos, conforme definido pelo PMI em seu Guia PMBOK.

No quadro 17 pode-se entender os tipos de estruturas do EGP.

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Quadro 17 - Tipos de estruturas de EGP nas organizações

Estrutura

Atividade

Nível de controle

Suporte

Desempenham papel consultivo nos projetos, fornecendo modelos, melhores práticas, treinamento, acesso a informações e lições aprendidas com outros projetos. Este tipo de EGP atua como repositório de projetos.

Baixo

Controle

Fornecem suporte e exigem a conformidade por intermédio de vários meios. A conformidade pode envolver a adoção de estruturas ou metodologias de gerenciamento de projetos usando modelos, formulários e ferramentas específicas, ou conformidade com a governança.

Médio

Diretivo Assumem o controle dos projetos por meio do seu gerenciamento direto.

Alto

Fonte: Adaptado de PMI, 2013.

Na presente pesquisa, o interesse reside em observar as práticas de gestão do

conhecimento em estruturas projetizadas, em seus Escritórios de Gerenciamento de

Projetos.

A figura cinco ilustra as diferenças entre a estrutura projetizada e outras estruturas

organizacionais sob o ponto de vista da realização de projetos (a parte pontilhada

indicada representa os recursos envolvidos em um projeto).

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Figura 5 - Estruturas organizacionais

Fonte: Adaptado de PMI, 2013.

O Gerente de Projeto (GP) é a pessoa designada pela organização executora para

atingir os objetivos do projeto (PMI, 2013). Percebe-se que, na estrutura projetizada,

os GPs se dedicam exclusivamente a projetos (não precisam se dividir com atividades

funcionais de uma área ou departamento) e têm maior autoridade sobre os recursos,

dado que estes também são exclusivos dos projetos. Essas diferenças estão

detalhadas no Quadro 18.

Quadro 18 - Estruturas organizacionais em projetos

Características Funcional Matricial Fraca

Matricial Balanceada

Matricial Forte

Projetizada

Autoridade do GP

Pouca ou nenhuma

Limitada Baixa a moderada

Moderada a alta

Alta a quase total

Disponibilidade de recursos

Pouca ou nenhuma

Limitada Baixa a moderada

Moderada a alta

Alta a quase total

Quem controla o orçamento

Gerente funcional

Gerente funcional

Misto Gerente de projeto

Gerente de projeto

Função do GP Tempo parcial

Tempo parcial

Tempo integral

Tempo integral

Tempo integral

Equipe administrativa

Tempo parcial

Tempo parcial

Tempo integral

Tempo integral

Tempo integral

Fonte: PMI, 2013.

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Koskinen (2010, tradução livre) acrescenta que empresas projetizadas são

organizações nas quais a maior parte dos produtos é feita sob medida para os clientes.

Nesse caso, se entendermos que os clientes podem ser tanto internos quanto

externos à organização, pode-se agregar à definição do conceito.

Maximiano (2010) apresenta alguns autores que comparam as organizações a

modelos ou imagens, o que pode ser útil para entender a natureza de uma

organização projetizada. O quadro 19 apresenta alguns desses modelos.

Quadro 19 - Modelos Organizacionais

Autor

Modelo / Imagem

Características

Henry Mintzberg Organizações profissionais Baseiam-se na gestão do conhecimento Poder no núcleo operacional da empresa

(pessoas envolvidas diretamente na entrega de produtos e serviços) que detém conhecimentos

Dominada por especialistas com treinamento avançado e que apreciam autonomia

Estrutura tende a ser democrática Gareth Morgan Organizações como

cérebros Inteligência e conhecimento espalhados em

todos os lugares – qualquer parte da organização pode reproduzir e fazer o papel do todo

Cada parte aprende por si e aprende a aprender

Charles Handy Athena / rede Athena é a deusa grega da sabedoria Cultura da tarefa, em que administrar é

resolver uma série de problemas Imagem da rede em que os recursos transitam

em todas as direções (estruturas matriciais e equipes temporárias) para realizar objetivos específicos

Burns e Stalker Modelo Orgânico Adaptado a condições instáveis Atua em ambientes com problemas complexos Todos são especialistas em tudo Preferem interação e comunicação informativa

(em lugar de ordens) Muitas vezes não tem organogramas (pouca

utilidade) Fonte: Adaptado de MAXIMIANO, 2010.

Há fatores comuns nas organizações caracterizadas pelos diversos autores, que

Maximiano (2010) apresenta: forte presença do conhecimento, dinamismo, pouca

hierarquia, direcionadas à resolução de problemas. Algumas dessas características

são identificadas também por Koskinen (2010) em organizações projetizadas, que as

compara com organizações funcionais.

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3.6.2 Desafios: Gestão do Conhecimento em Organizações Projetizadas

As organizações projetizadas têm desafios a serem vencidos para realizar a gestão

de seus conhecimentos. Turner (2005) colabora com essa afirmação:

Então ser capaz de gerenciar o conhecimento de gestão de projetos, ser capaz de

lembrar como entregar projetos com êxito e melhorar esse conhecimento, é crucial

para o sucesso da organização. Mas em empresas projetizadas, a gestão do

conhecimento é problemática, com novos conhecimentos criados em projetos

temporários e usados em outros projetos. (TURNER, 2005, p. ix-x).

Esse aspecto é também discutido por Pinto (2005), ao questionar como nós podemos

institucionalizar e tornar essas práticas sistemáticas, quando em sua própria natureza

a gestão de projetos representa um empreendimento único, no qual não é dirigido a

longo prazo, mas em todos os sentidos temporários.

A questão da natureza dos projetos, indicada por Pinto (2005), é relevante para a

compreensão da dificuldade de gerenciar conhecimentos em organizações baseadas

em projetos. Há dois aspectos-chave nessa definição: temporalidade e singularidade,

conforme já definido neste trabalho.

Temporalidade significa que o projeto tem começo e fim definidos: ele

necessariamente termina em algum momento, mesmo que demore muitos anos para

isso. Singularidade está relacionada à criação de produto, serviço ou resultado

exclusivo.

O quadro 20 apresenta desafios da natureza dos projetos (temporários e singulares)

para a Gestão do Conhecimento:

Quadro 20 - Desafios da natureza dos projetos

Temporalidade

Singularidade

Dificuldade de retenção: projetos não conseguem reter novas ideias (não têm memória em si) porque não possuem rotinas e estruturas organizacionais; podem levar à fragmentação do conhecimento organizacional

Baixa replicação: por serem únicos, não contam com o benefício da repetição (noção de curva de aprendizagem)

Ineficiência: se não conseguirem reaproveitar conhecimentos gerados, as organizações têm que criar soluções para cada problema

Novas relações: pessoas se encontram para determinado projeto e depois se separam, dificultando a continuidade do aprendizado.

Fonte: Adaptado de KOSKINEN; Pihlanto, 2008; LOVE et al., 2005; TURNER, 2005.

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Koskinen e Pihlanto (2008) se baseiam em diversos autores para adicionar algumas

fraquezas das empresas projetizadas: falha em trazer desenvolvimento e

aprendizagem no âmbito organizacional, dificuldade de conectar os projetos aos

processos de negócio da organização, falta de tempo para reflexão durante a

implementação dos projetos devido a cronogramas excessivamente otimistas e

constante falta de recursos, reunião de pessoas com competências altamente

especializadas, dificultando o estabelecimento de uma base de conhecimentos

comuns.

Lundin (2008) acrescenta que as organizações projetizadas sofrem do que chamou

de paradoxo da renovação:

Transformar experiências em aprendizagem sempre tem sido descrito como difícil

em um contexto interprojeto, especialmente em empresas projetizadas, onde os

participantes correm para um novo projeto conforme o anterior é concluído [...].

(LUNDIN, 2008, p.xi-xii).

Em meio à necessidade de se desenvolver produtos e serviços com maior agilidade,

Vargas (2016) aponta que o mercado de tecnologia vive o embate entre duas grandes

vertentes. A primeira ancorada nos princípios clássicos de gerenciamento de projetos

e a segunda foca nos métodos ágeis de desenvolvimento.

Na área de tecnologia, a gestão de projetos deve considerar que o desenvolvimento

de software é um processo essencialmente criativo (VARGAS, 2016), que reúne

profissionais com talentos e conhecimentos diferenciados, tendo como objetivo a

construção de um produto de valor. Frente às especificidades da área de tecnologia,

a gestão de projetos foi desafiada a ampliar e a adaptar suas práticas para melhoria

da produtividade e da qualidade de seus produtos. Esse contexto não é exclusivo da

área de tecnologia.

Apesar dos desafios vivenciados por organizações projetizadas, essas organizações

têm no conhecimento o seu principal ativo. Essa característica torna a gestão do

conhecimento em seus projetos uma questão central.

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3.7 Sumário da Revisão da Literatura

Abordou-se o contexto em que se situa a pesquisa, apontando a mudança para a

economia do conhecimento na qual o conhecimento atua como um dos principais

recursos estratégicos nas organizações.

Adicionalmente, no presente trabalho, o conhecimento é entendido como um recurso

organizacional estratégico. Além disso, discutiram-se as diversas perspectivas de

abordar os tipos de conhecimento.

Analisou-se o conceito de Gestão do Conhecimento e a sua diferenciação em relação

à Aprendizagem Organizacional. Registrou-se que a presente pesquisa permeia

ambos os campos, com foco na Gestão do Conhecimento.

Descreveu-se fatores que influenciam o compartilhamento do conhecimento, trazido

por diferentes autores. Apresentou-se ainda as práticas de gestão do conhecimento

identificadas em estudos anteriores.

Por fim, enfatizou-se a Gestão do Conhecimento em Organizações Projetizadas,

comentando as características desse tipo de organização e os desafios para a Gestão

do Conhecimento, especialmente devido à natureza temporal e singular dos projetos.

Em resumo, os assuntos discutidos na Revisão da Literatura visam retomar os

principais conceitos que estão presentes, de forma a nortear a pesquisa de campo, as

análises e considerações posteriores.

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4. METODOLOGIA

No presente capítulo e suas subseções, discorre-se a respeito do método empregado

na pesquisa, bem como a fundamentação do método, com o propósito de apresentar

o caminho trilhado até o alcance dos objetivos estabelecidos (MARTINS; THEÓFILO,

2009) no problema formulado.

4.1 Tipologia da pesquisa

A tipologia da pesquisa tem por objetivo explicitar a natureza, o método, a abordagem

e o caráter da pesquisa. A figura 6 indica a classificação em que se enquadra o

presente estudo:

Figura 6 - Tipologia da pesquisa

Fonte: Elaborador pelo autor, 2017.

Natureza

A presente pesquisa está classificada como de natureza exploratória com análise

descritiva, que “(...) são estudos exploratórios que têm por objetivos descrever

completamente determinado fenômeno, como, por exemplo, o estudo de caso para o

qual são realizadas análises empíricas e teóricas.” (MARCONI; LAKATOS, 2010,

p.171). As autoras esclarecem ainda que as descrições podem ser tanto qualitativas

quanto quantitativas.

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Método

O método adotado para realizar o estudo é o estudo de caso. Yin (2015) explicita que

o Estudo de Caso é o método adequado quando: a) as questões “como” e “por que”

são propostas; b) o investigador tem pouco controle sobre os eventos; c) o enfoque

está sobre um fenômeno contemporâneo da vida real.

Gil (2009) complementa as características de um estudo de caso, explicando que é

um delineamento de pesquisa (não é uma técnica de coleta de dados), preserva o

caráter unitário do fenômeno pesquisado (a unidade-caso – uma organização, por

exemplo – é estudada de um modo geral), investiga um fenômeno contemporâneo,

não separa o fenômeno de seu contexto (não se restringe deliberadamente as

variáveis a serem estudadas), é um estudo em profundidade e requer a utilização de

múltiplos procedimentos de dados.

O método pode ser empregado em uma única organização (estudo de caso único), ou

em mais de uma (estudo de casos múltiplos), segundo Yin (2015). O presente estudo

pode ser classificado como integrado, ou seja, envolvendo mais de uma unidade de

análise (YIN, 2015), pois a atenção é dirigida a duas delas: o projeto (práticas

intraprojetos) e interprojetos (práticas adotadas entre projetos).

Martins e Theófilo (2009) apontam alguns cuidados necessários quando se emprega

o método do estudo de caso para garantir a confiabilidade e validade da pesquisa.

Esses pontos foram resumidos no Quadro 21, abaixo, com a indicação de como serão

abordados no estudo.

Quadro 21 - Cuidados no emprego do Estudo de Caso

Cuidados necessários Explicação

Medidas a serem tomadas no presente estudo

Necessidade de entender o método do Estudo de Caso

Um grande número de pesquisas orientadas por Estudos de Casos apresenta análises intuitivas que não transcendem um simples relato histórico.

• Compreensão do método do Estudo de Caso antes da aplicação da pesquisa em campo: livros de referência e trabalhos de referência;

• Síntese dos achados da pesquisa, buscando profundidade e não extensão.

Redução do viés do pesquisador nos resultados

Uma das maiores limitações do Estudo de Caso é a possibilidade de contaminação pelas “respostas do pesquisador” (falsa sensação de

• Conscientização do pesquisador quanto ao risco de viés nos resultados;

(continua)

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certeza sobre as suas próprias conclusões).

• Utilização de múltiplas fontes de evidências na sustentação dos resultados;

• Embasamento das conclusões a partir das falas dos entrevistados, evidências empíricas na observação direta e nos documentos consultados.

Rigor científico É preciso enunciar com detalhes, o protocolo que orienta o estudo: plataforma teórica utilizada, proposições orientadas da investigação e planejamento detalhado do trabalho de campo.

• Elaboração do protocolo do estudo detalhado, incluindo a teoria preliminar existente, o planejamento da coleta e análise dos dados, o roteiro de questões e as possíveis fontes de evidências;

• Utilização de triangulação: múltiplas fontes de evidências.

Fonte: Adaptado de MARTINS; THEÓFILO, 2009.

As fontes de evidências a serem utilizadas no estudo serão: entrevistas,

documentação e observação direta. O quadro 22 reúne a definição de cada técnica,

seus pontos fortes e fracos.

Quadro 22 - Entrevistas, observação direta e documentação

Técnica

Definição

Ponto Forte

Ponto Fraco

Entrevistas

Coleta de informações, dados e evidências, cujo objetivo básico é entender e compreender o significado que entrevistados atribuem a questões e situações em contextos que não foram estruturados anteriormente, com base nas suposições e conjeturas do pesquisador

• Direcionadas: foco diretamente no tópico do estudo de caso;

• Perceptíveis: fornecem inferências e explanações causais recebidas

• Parcialidade na resposta devido à má formulação da pergunta;

• Incorreções devido à memória;

• Reflexividade: entrevistado dizer o que o entrevistador quer ouvir

Observação Direta

Procedimento empírico de natureza sensorial. Permite a coleta de dados de situações e envolve a percepção sensorial do observador.

• Realidade: cobre eventos em tempo real;

• Contextual: cobre o contexto do caso

• Consome tempo; • Seletividade: ampla

cobertura é difícil; • Reflexividade: ambiente

pode mudar com a presença do observador

Pesquisa Documental

Utilização de documentos como fontes de dados, informações e evidências. Podem ser escritos ou não (fotos, mapas, filmes).

• Estável: pode ser revisto;

• Discreta: não é resultado do estudo;

• Exata: contém referências exatas de um evento;

• Cobertura: pode cobrir longo período de tempo e muitos eventos

• Recuperabilidade: pode ser difícil encontrar;

• Possibilidade de parcialidade do autor do documento;

• Acesso: pode ser negado

Fonte: Adaptado de MARCONI; LAKATOS, 2010; MARTINS; THEÓFILO, 2009; YIN, 2010.

(conclusão)

(conclusão)

Quadro 21 – Cuidados no emprego do Estudo de Caso (conclusão)

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Abordagem

A pesquisa está alinhada às características de uma pesquisa qualitativa por buscar

compreender comportamentos humanos através de quadros de referência, incluir

observação natural, ser subjetivo - no ambiente em que o fenômeno ocorre -, orientada

para o processo (o “como” é enfatizado na análise do fenômeno) e holístico. Essas

características foram apontadas por Martins e Theófilo (2009) como identificadas com

essa abordagem de pesquisa.

Caráter

Quanto ao caráter da pesquisa, Nakano e Fleury (2005) diferenciam o caráter

prescritivo do caráter analítico de um estudo:

- Prescritivo: o objetivo da proposição do estudo será preconizar ações e princípios

para a modificação da organização;

- Analítico: a proposição é voltada para a elaboração de conceitos e construtos que

permitam a descrição, análise e compreensão do fenômeno.

A pesquisa está alinhada ao caráter analítico, uma vez que o problema da pesquisa

envolve compreender como as organizações realizam a gestão do conhecimento. Não

se busca como resultado final da pesquisa obter um manual de melhores práticas

organizacionais para realizar a gestão do conhecimento, e sim um entendimento de

como o fenômeno da Gestão do Conhecimento acontece nos contextos a serem

estudados.

4.2 Modelo Conceitual

Um modelo conceitual, segundo Leite e Costa (2007), ocorre na construção teórica

desenvolvida a partir da literatura pesquisada.

O modelo conceitual utilizado na pesquisa, procurou entender e evidenciar, com base

na literatura pesquisada, como as organizações realizam a gestão do conhecimento,

estruturando-se com base em práticas, classificadas como aquelas que favorecem a

gestão do conhecimento intra e interprojetos.

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Considerou-se relevante mapear tanto as práticas intra quanto interprojetos, por se

entender que ambos os tipos são complementares para a realização da gestão do

conhecimento em uma organização. As primeiras (intra) focadas em um projeto

específico, e as últimas (inter) no conjunto de projetos.

As práticas intraprojeto serão segmentadas de acordo com o processo de gestão do

conhecimento que mais contribuem: recuperação, criação/aquisição,

compartilhamento e armazenamento. Essa segmentação partiu de Fleury e Fleury

(2004), que propõem uma síntese dos processos de Gestão do Conhecimento:

aquisição e desenvolvimento de conhecimentos, disseminação e construção da

memória organizacional. Será adicionado o processo de recuperação que, em

pesquisa anterior (SHINODA, 2012), fora considerado relevante para compreender as

práticas intraprojeto.

Figura 7 - Modelo conceitual da pesquisa

Fonte: Adaptado de SHINODA, 2012.

Para que o modelo conceitual formulado seja compreendido, é necessário explicitar

o significado dos termos operacionais apresentados na figura 7.

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Definições operacionais do modelo conceitual desenvolvido

Conhecimento: é uma “crença justificada” (TAKEUCHI; NONAKA, 1997), resultante

de uma “mistura fluida de experiência condensada, valores, informação contextual e

insight experimentado” (DAVENPORT; PRUSAK, 1998).

Gestão do Conhecimento: o processo de criar continuamente novos conhecimentos,

disseminando-os amplamente por intermédio da organização e incorporando-os

velozmente em produtos/serviços, tecnologias e sistemas (TAKEUCHI; NONAKA,

2008).

Projeto: é um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço ou

resultado exclusivo. (PMI, 2013).

Organização: é um sistema de recursos que procura realizar algum tipo de objetivo

ou conjunto destes. (MAXIMIANO, 2010).

Práticas: um tipo de específico de atividade profissional ou de gerenciamento que

contribui para a execução de um processo, e que pode empregar uma ou mais

técnicas ou ferramentas. (PMI, 2013).

Gestão do Conhecimento intraprojeto: criação e compartilhamento de

conhecimentos no âmbito de um projeto (KOTNOUR, 2000).

Gestão do Conhecimento Interprojetos: combinação e compartilhamento de lições

aprendidas pelos projetos (KOTNOUR, 2000).

4.3 Amostra

A amostra da pesquisa foi escolhida por conveniência e composta por quatro

organizações: Escritório de Gerenciamento de Projetos da ATTPS Tecnologia,

Escritório de Gerenciamento de Projetos do Banco Bonsucesso S/A, Escritório de

Gerenciamento de Projetos da Superintendência de Projetos da COPASA e Escritório

de Gerenciamento de Projetos da Gerência de Apoio Técnico do SENAI/MG. Buscou-

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se a imparcialidade e liberdade de expressão, sem que o posicionamento do

pesquisador interferisse nas respostas dos entrevistados. Cada um dos estudos de

caso respeitaram os critérios a seguir.

Critérios

A escolha por estudar organizações que trabalham com projetos está relacionada às

dificuldades advindas da natureza dos projetos para a gestão do conhecimento, como

abordado na revisão da literatura. Essas dificuldades podem ser resumidas por

temporalidade – os projetos terminam e nem sempre os conhecimentos gerados são

integrados ao conhecimento organizacional – e singularidade – como cada um é

único, dificulta a repetição e a curva de aprendizagem. Dadas essas características,

decidiu-se por compreender a gestão do conhecimento nesse contexto.

A decisão por selecionar organizações brasileiras advém do interesse em estudar

práticas desenvolvidas no país. É um recorte que diferencia o foco de análise em

relação a outros estudos realizados no Brasil que desenvolveram pesquisas em

empresas globais e que possuem unidade no Brasil. Isso pode possibilitar

comparações, em estudos futuros, entre as práticas desenvolvidas nas organizações

genuinamente brasileiras, nas realizadas em organizações de origem estrangeira e

presentes no Brasil, ou mesmo organizações presentes em outros países.

4.4 Coleta e análise dos dados

O procedimento de coleta e análise dos dados envolveu:

a) Desenho do protocolo do estudo de caso

b) Realização dos estudos de casos individuais

c) Análise integrada dos casos

Protocolo do estudo de caso

O protocolo do estudo de caso é fundamental para garantir a qualidade da coleta de

dados. Gil (2009) afirma que o protocolo constitui importante elemento para garantir

que as decisões, até o final da pesquisa, estejam de acordo com os objetivos do

estudo, sendo um documento orientador das atividades do pesquisador.

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Entrevistas

Foram realizadas entrevistas com profissionais das empresas definidas com que o

pesquisador fez contato, informando os objetivos da pesquisa, utilizando roteiro com

tópicos de ordem prática e que foram explorados sobre o tema.

Decidiu-se ainda que seria importante levantar com os entrevistados quais desses

conhecimentos eram considerados relevantes. As práticas de gestão do

conhecimento mapeadas deveriam ser aquelas que auxiliam a organização a

recuperar, criar, compartilhar e armazenar esses conhecimentos.

Os contatos ocorreram de forma presencial (entrevistas), via telefone e por escrito (e-

mail).

Estudo de Casos

Para escolher os estudos de casos, levantou-se, inicialmente, possíveis organizações

que poderiam fazer parte da pesquisa. Contatou-se seis organizações que estavam

dentro dos critérios definidos com as quais existia um contato de alguém sênior nos

postos pesquisados. Dessas seis, quatro aceitaram no período que seria factível a

realização da pesquisa, sendo que as outras duas teriam disponibilidade e interesse

futuro em participar.

Para todas as entrevistas, o pesquisador fez contato prévio por e-mail e telefone,

apresentando e detalhando o objetivo da pesquisa, explicando que a pessoa havia

sido indicada para participar do estudo e perguntando sua disponibilidade para uma

entrevista de uma hora. O pesquisador não conhecia ou possui quaisquer vínculos de

relacionamento com os entrevistados.

Os resultados detalhados da coleta estão na seção de Análise Integrada dos Estudos

de Casos.

Em cada uma das organizações estudadas, contou-se com a interlocução de

profissionais em cargos de coordenação, gerência, superintendência e diretoria. É

oportuno salientar que os casos estudados nas organizações citadas acima ocorreram

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em seus Escritórios de Gerenciamento de Projetos. Em algumas dessas organizações

o Escritório de Gerenciamento de Projetos, com as mesmas atribuições, possui outra

nomenclatura. A pesquisa é adstrita aos projetos executados e os recursos

organizados no Escritório de Gerenciamento de Projetos.

As entrevistas consistiram em uma apresentação inicial dos objetivos da pesquisa e

os tópicos propostos para discussão. O autor levantou o perfil do entrevistado, tempo

de organização, posto ocupado, bem como as práticas de gestão do conhecimento

desenvolvidos em suas respectivas organizações.

Todas as entrevistas foram gravadas, resultando em 6 horas e 48 minutos de

gravação. Além disso, todas foram transcritas pelo próprio pesquisador, somando 39

páginas de transcrição (letra arial, tamanho 12, espaçamento 1,5).

Todos os estudos de caso seguiram a mesma estrutura: visão geral, resultados

coletados, conhecimentos relevantes, fatores influenciadores, práticas de gestão do

conhecimento intra e inter projetos e Síntese.

Análise integrada

Após a conclusão dos quatro estudos de caso, realizou-se a análise integrada. O

mesmo procedimento de análise de conteúdo foi utilizado, partindo, porém, das

categorias identificadas em cada caso.

Realizou-se uma releitura da literatura acessada, assim como novos materiais foram

pesquisados, tendo em vista comparar os resultados obtidos com estudos anteriores.

Análise de conteúdo

Trata-se de um conjunto de técnicas de análise das comunicações que utiliza

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens,

indicadores – quantitativos ou não – que permitam a inferência de conhecimentos

relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens

(BARDIN, 2008).

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A exploração do material é a aplicação sistemática das decisões tomadas e envolve

codificação, decomposição ou enumeração. Pode ser feita manualmente ou com

apoio de computador. O tratamento dos resultados foi feito de forma a ser significativo

e válido. Envolveu síntese e seleção dos resultados, inferências e interpretações.

Bardin (2008) indica ainda algumas regras que devem ser respeitadas pelo material

de análise selecionado:

Exaustividade: ter em conta todos os elementos do material selecionado. Na pesquisa

realizada, o conteúdo de cada entrevista foi considerado na íntegra, assim como os

documentos recebidos e as anotações realizadas a partir da observação. Foi feita uma

releitura ao final, para garantir que algo não foi excluído da análise.

Representatividade: a amostra escolhida deve ser representativa do universo. No

caso da pesquisa desenvolvida, os entrevistados selecionados foram profissionais

ocupantes de postos de liderança na execução das atividades dos respectivos

escritórios de projetos de suas organizações. O profissional entrevistado com menor

tempo de trabalho na organização contava com dois anos e meio consecutivos.

Homogeneidade: os documentos obtidos obedeceram a critérios precisos de escolha.

Na pesquisa, todas as entrevistas seguiram um roteiro similar – detalhamento da

pesquisa, descrição do perfil do entrevistado, levantamento dos conhecimentos

relevantes, das práticas intra e interprojetos e dos fatores influenciadores.

A exploração do material foi feita por meio de codificação, ou seja, os dados brutos

foram transformados de forma a representarem o conteúdo (BARDIN, 2008). Isso foi

feito por meio da leitura do conteúdo de cada entrevista e, simultaneamente, o registro

dos pontos citados nos blocos correspondentes e marcação do entrevistado que

proferiu o trecho.

O tratamento dos dados foi feito de forma qualitativa baseado mais na presença do

que na frequência de aparição. Apesar de ter sido feita uma contagem da frequência

em que cada aspecto foi mencionado, a escolha final dos conteúdos foi baseada na

presença destes nas falas dos entrevistas. Bardin (2008) esclarece que a análise

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qualitativa não rejeita toda e qualquer forma de quantificação, mas a diferença é que

a inferência é fundada na presença do índice (tema, palavra, etc.), e não sobre a

frequência de aparição em cada fala individual.

Por fim, foi realizada a interpretação dos dados e inferências. Bardin (2008) comenta

sobre esse processo dizendo que:

Se a descrição (a enumeração das características do texto, resumidas após

tratamento) é a primeira etapa necessária, e se a interpretação é (a significação

concedida a essas características) a última fase, a inferência é o processo intermédio,

que vem permitir a passagem, explícita e controlada, de uma à outra. (BARDIN, 2008,

p.41, grifo do autor).

Procurou-se sempre embasar as conclusões com o que se percebeu em cada estudo

de caso. Isso pode ser verificado na seção de Análise Integrada dos Estudos de

Casos.

4.5 Limitações da pesquisa

Limitações do pesquisador. Há possibilidade de viés na condução das entrevistas, na

forma de tentativa de induzir o entrevistado a dizer o que se deseja obter como

resultado, assim como na observação direta e na análise dos resultados. Para

amenizar essa limitação, o pesquisador estava ciente do risco e, antes de ir a campo,

realizou nova leitura do método e procedimentos, com o objetivo de embasar as

análises com evidências (gravações, imagens, por exemplo).

Além disso, pode-se reconhecer o fato de não se generalizar os resultados, dado o

método utilizado – estudo de casos múltiplos. Essa limitação está muito relacionada à

abordagem analítica do estudo que, se por um lado permite compreensão mais

aprofundada do tema, por outro, pode apresentar resultados de difícil aplicação prática

(NAKANO; FLEURY, 2005).

Há também as limitações próprias das técnicas de pesquisa empregadas (entrevista,

observação direta e análise documental) que já foram apontadas, de forma que o

pesquisador está ciente desse aspecto. Neste sentido, acredita-se ter sido possível

fortalecer os pontos fortes e atenuar os pontos fracos de cada técnica.

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Por fim, devem ser reconhecidas as limitações do escopo do trabalho, sendo que

outros setores e empresas distintas não serão analisadas. Apesar da limitação, esse

recorte é importante, para que se possa aprofundar a análise dentro do objetivo do

estudo.

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5. ANÁLISE DE DADOS

A análise de dados foi estruturada de forma a apresentar os resultados dos estudos

de casos individuais (EGP-ATTPS, EGP-Bonsucesso, EGP-COPASA, EGP-CIT-

SENAI) e, em seguida, discutir a análise integrada dos casos. Cada estudo de caso

apresenta a seguinte estrutura de tópicos:

• Visão geral - apresentação da organização;

• Resultados das coletas de dados – dados obtidos nas entrevistas;

• Características dos projetos – informações a respeito dos tipos de projetos;

• Conhecimentos relevantes – destaque de conhecimentos assim considerados;

• Fatores que influenciam;

• Práticas de Gestão do Conhecimento Intraprojetos;

• Práticas de Gestão do Conhecimento interprojetos;

• Síntese e considerações.

Para preservar a identidade dos entrevistados, foi atribuída uma letra para representar

cada um deles.

5.1 Estudo de Caso

5.1.1 EGP ATTPS Tecnologia

Visão Geral

A ATTPS Tecnologia é resultado da fusão de duas empresas: a PS, fundada em

Brasília, em 1989, e a ATT Informática, fundada em Belo Horizonte, em 1990. Ambas

atuando em nível nacional em consultoria de Projetos de Desenvolvimento de

Sistemas. Como empresas coligadas, atuaram conjuntamente nas oportunidades de

negócios em diversas localidades do Brasil, consolidando a sua fusão (juridicamente)

em 1996. Atualmente conta com mais de 400 colaboradores diretos.

Buscando maior dinamismo e especialização em suas áreas de negócio, a ATTPS

desenvolve seus produtos em quatro linhas: soluções de software para o segmento

financeiro, soluções de software para o segmento de previdência complementar

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fechada, soluções de software para o segmento de saúde complementar e Serviços

de TI (Tecnologia da Informação).

A solução para o segmento financeiro é composta por um conjunto de módulos

integrados, destinados ao registro, processamento, controle e gerenciamento das

operações das instituições, desde os cadastros básicos, passando pelos produtos

bancários, informações legais e gerenciais. O sistema opera por meio de

configurações e ajustes às particularidades operacionais de cada organização.

Para o segmento de previdência privada complementar fechada e empresas de

seguridade social, a solução de software de gestão é completa e integrada,

abrangendo as principais funções necessárias à gestão dos processos de negócios

da organização atendendo a múltiplas áreas. No segmento da saúde, o software da

empresa é especialmente desenvolvido para a automação de Operadoras de Planos

de Saúde.

Os Serviços de Tecnologias visam o desenvolvimento de softwares sob medida,

integrados, de gestão empresarial, compreendendo outsourcing de aplicações,

projetos e desenvolvimento de software, teste e homologação de software,

consultoria, gerência de projetos e infraestrutura de TI. O profissional entrevistado da

ATTPS é o gerente do Escritório de Gerenciamento de Projetos (EGP).

Resultados: coleta de dados

O estudo de caso do EGP da ATTPS Tecnologia foi desenvolvido entre os dias

07/out/2016 e 11/nov/2016. Foram realizados contatos preliminares por e-mail até o

agendamento da entrevista. O procedimento de coleta e análise de dados foi

detalhado no Quadro 23:

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Quadro 23 - Procedimento de coleta e análise de dados na ATTPS Tecnologia

Período O que foi feito?

07/out/16 a 08/nov/16 • Processo de negociação para viabilizar a entrevista com gestor do EGP da organização e agendamento da entrevista

• Envio do escopo a ser pesquisado para coleta de dados por parte do entrevistado

09/nov/16 a 11/nov/16 Período de coleta de dados: • 09/nov/16 – entrevista com gestor responsável pelo Escritório de

Projetos • 10/nov/16 – coleta de dados e informações no site da

Organização • 11/nov/16 – compilação dos dados obtidos da empresa

16/nov/16 a 01/dez/16 • Redação do conteúdo da entrevista

02/dez/16 a 15/dez/16 • Redação do caso

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Como pode ser observado, a coleta de dados na ATTPS Tecnologias ocorreu

principalmente em novembro (2016), quando o pesquisador realizou a entrevista.

Logo no início da entrevista, identificou-se que o interlocutor é o gestor responsável

pelos serviços desenvolvidos no Escritório de Projetos da empresa e, por isso, é a

pessoa habilitada para o fornecimento de informações pertinentes à rotina do

Escritório de Projetos, bem como a gestão do conhecimento em seus projetos. A

entrevista foi gravada e compilada. Realizou-se a transcrição pelo próprio

pesquisador.

Características dos projetos

Os projetos analisados são classificados pela organização em três categorias, de dois

tipos: projetos de implantação e projetos de investimento. Os projetos de implantação,

como o próprio nome diz, versam sobre a implantação das soluções desenvolvidas

pela ATTPS para os clientes, e nos clientes. Os projetos de investimento são aqueles

que a empresa entende serem importantes para a melhoria dos produtos oferecidos

pela empresa ao mercado, e sua melhoria de performance interna.

A similaridade entre os projetos fica a cargo dos tipos de projetos (implantação e

investimento). Nos projetos de investimento, que são em torno de quatro a cinco no

ano, a duração é elástica, variando de três meses a três anos, dependendo da

complexidade do projeto. Sempre ocorrem no início de cada exercício.

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Os projetos de implantação, possuem naturezas diferentes. Exemplo: quando um

projeto é para implantação de apenas um módulo adquirido por um cliente, o tempo

médio de duração do projeto é de três meses. Quando o cliente adquire o “produto

inteiro” pode demorar até dois anos o projeto.

Em média são desenvolvidos 35 projetos, simultaneamente, que encontram-se em

diversas fases (iniciação, planejamento, monitoramento e controle, encerramento).

Conhecimentos relevantes

Considerou-se, para efeitos de conhecimento relevante na organização pesquisada:

processos de gestão (métodos e modelos documentados, seguidos, discutidos,

resgatados com certa facilidade) e de negócio (tipos de produtos e serviços vinculados

à tecnologia da informação).

Fatores influenciadores

Foram identificados diversos fatores que influenciam de forma positiva a Gestão do

Conhecimento na organização, conforme apresentado no Quadro 24:

Quadro 24 - Fatores influenciadores no EGP da ATTPS

Fatores influenciadores

Influência

Projetos Integram as diversas atividades a serem desenvolvidas como um modelo de gestão

Escritório de Projetos Auxilia na organização, resgate, manutenção e integração das ferramentas de gestão e pessoas envolvidas

Metodologia Ritos metodológicos, processuais, estabelecem padrão, procedimentos e ações individuais e conjuntas

Sistema Permite organizar, por meio de SharePoint® e outras ferramentas da Microsoft® (MsProject® e pacote Office), dados, informações e conhecimentos dos projetos em uma base única.

Segmento do negócio Produtos e serviços desenvolvidos de acordo com a necessidade do cliente, exigindo inovação e tecnologias constantes

Mobilidade da equipe Colaboradores com as competências (conhecimentos, habilidades e atitudes), alocados de acordo com o tipo de projeto (investimento e implantação)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

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A gestão ser realizada por meio de projetos é considerado um aspecto facilitador,

porque permite melhor organização dos recursos, em função de suas características

de temporalidade e singularidade.

Por ser uma empresa de Tecnologia (segmento do negócio), a dinâmica das

transformações impostas pelos clientes, de acordo com o mercado, valoriza a

existência em sua estrutura de um Escritório de Gerenciamento de Projetos. A alta

direção acredita no modelo, tanto que investe na estrutura, atribuindo-lhe papel

estratégico na condução dos projetos.

Ponto forte para a gestão do conhecimento, além dos facilitadores destacados no

quadro 24, é a composição das equipes dos projetos alocadas em projetos de

implantação e de investimentos. Cada linha de negócio possui suas próprias equipes,

não existindo, na maior parte das vezes, a contratação de serviços terceirizados no

desenvolvimento dos projetos. O que desenvolvido nos projetos, ocorre por intermédio

de equipes dedicadas aos seus respectivos produtos.

Um ponto de atenção quanto às equipes de desenvolvimento é um possível turnover,

o que poderia ser um dificultador na gestão dos projetos com impacto em custos,

cronogramas e qualidade dos produtos e serviços desenvolvidos, assim como relativa

perda da gestão do conhecimento em projetos. A organização, com o objetivo de

minimizar os riscos, criou padrões de controle em todas as etapas dos processos,

fazendo com que os profissionais registrem suas rotinas dentro dos projetos.

O sistema adotado para o armazenamento das informações pertinentes aos projetos

foi desenvolvido a partir de uma plataforma de colaboração da Microsoft® adequado

às necessidades do negócio, seguindo as melhores práticas adotadas pelo PMI

(Project Management Institute).

Práticas de Gestão do Conhecimento - intraprojeto

O quadro 25 sintetiza as principais práticas identificadas que facilitam que a Gestão

do Conhecimento aconteça dentro dos projetos (intraprojeto):

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Quadro 25 - Práticas intraprojetos de GC no EGP da ATTPS Tecnologia

INTRAPROJETO

Recuperação

Criação/Aquisição

Compartilhamento

Armazenamento

• Registros de projetos anteriores (histórico)

• Comitês de conclusão e kickoff de projetos

• Consulta lições aprendidas

• Consulta sistema de gestão

• Gestor de projetos experiente

• Execução do projeto em si

• Reuniões técnicas • Brainstorming -

Interação entre equipes do EGP (auditorias de qualidade, GP, desenvolvedores)

• Benchmarking • Treinamentos • Participação de

especialistas (internos e externos) em novos produtos

• Planejamento do projeto (Termo de Abertura do Projeto)

• Preparação do plano do projeto

• Reuniões de planejamento e alinhamento de etapas e fases do projeto

• Status Report – acompanhamento do estado do projeto

• Registro das atividades planejadas, executadas e a desenvolver

• Disponibilização do projeto no sistema para consulta e acompanhamento

• Documentos adotados em cada fase do projeto

• Templates desenvolvidos e adotados como default (padrão)

• Registro de lições aprendidas, de acordo com os projetos

• Materiais disponibilizados na rede sobre o projeto

• Membros da equipe • Gestores do projeto

e do Escritório de Projetos

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

A recuperação do conhecimento de projetos ocorre de acordo com o tipo de projeto a

ser desenvolvido, tanto a forma de se gerenciar o projeto - planos do projeto,

cronogramas e demais documentos - quanto o escopo do que está sendo

desenvolvido - aspectos técnicos vinculados ao produto ou serviço. A partir da

plataforma de armazenamento, tendo como “guardião” o EGP, gerenciador do

portfólio de projetos, criou-se padrão, documentado em processos - à semelhança de

procedimento operacional padrão - permitindo que existam rituais semelhantes em

cada novo projeto, acrescido das lições aprendidas obtidas com os projetos

encerrados, ou em fases avançadas de execução.

As lições aprendidas nos projetos, destacadas pelo entrevistado, são percebidas

como uma maneira de se fazer Gestão do conhecimento na organização. Estas são

retomadas como forma de se corrigir planejamentos que, na fase de execução, não

saíram da forma adequada, evitando repetir erros do passado e garantindo a

reutilização de práticas que deram certo. As lições fazem parte dos rituais de iniciação

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dos projetos, nas reuniões com os comitês criados para a consulta de lições

aprendidas, seja na gestão ou no desenvolvimento do produto/serviço.

Exemplo citado como conhecimento relevante pelo entrevistado como forma de

evidenciar o uso das lições aprendidas:

Mudam-se os processos de trabalho a partir das lições aprendidas. Um

exemplo poderia ser o processo de instalação de software. Observou-se,

que o processo de instalação realizado pela equipe de suporte da

empresa, que tem mais conhecimento em HD (hard disc), Windows®,

Linux®, é mais eficaz do que quando instalado pela equipe do produto. A

partir da identificação nas lições aprendidas, o processo foi modificado.

(entrevistado A).

O compartilhamento de conhecimentos no projeto ocorre a partir do planejamento e

registro do projeto, quando são realizadas reuniões de alinhamento entre os

envolvidos, incluindo, segundo o entrevistado, os stakeholders – aqueles que

influenciam de alguma forma o projeto – e o sponsor (patrocinador). Com o projeto

registrado na plataforma de gestão, todos os envolvidos passam a ter acesso às

informações produzidas na execução do projeto. Relatórios periódicos são

desenvolvidos e apresentados para corrigir rotas, reconhecer as boas práticas e

manter todos em sintonia com o alcance das metas dos projetos.

Por fim, todos os documentos produzidos, reuniões de comitês, reuniões da equipe

executora, reuniões das equipes envolvidas – gestão, desenvolvimento e

acompanhamento – ficam armazenados em um sistema, desenvolvido a partir de uma

plataforma da Microsoft® (a empresa é parceira da organização), assim como todas

as demais ferramentas utilizadas, o que permite a checagem/auditoria dos passos e

procedimentos adotados ao longo do projeto.

Práticas de Gestão do Conhecimento: interprojeto

O quadro 26 consolida as principais práticas identificadas que facilitam a Gestão do

Conhecimento entre projetos:

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Quadro 26 - Práticas interprojetos de GC no EGP da ATTPS Tecnologia

Interprojetos

• Metodologia de Gerenciamento de Projetos

• Escritório de Gerenciamento de Projetos (EGP)

• Reuniões de acompanhamento

• Análise do portfólio por parte do EGP

• Benchmarking interno entre equipes de projetos

• Modelo de gestão

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

O contexto dos negócios (tecnologia) favorece o uso intensivo de metodologias de

gerenciamento de projetos com vistas ao aperfeiçoamento contínuo, e isso pode ser

observado quando o entrevistado reforça, mais de uma vez, o uso contínuo de

melhores práticas em gerenciamento de projetos.

Outro destaque, por parte do entrevistado é a existência do Escritório de

Gerenciamento de Projetos. Essa área centraliza a gestão dos projetos, programas e

portfólios, preservando os processos, seus procedimentos e os padrões adotados pela

organização. Isso favorece o resgate, repetição, compartilhamento, armazenamento

e aprimoramento do aprendizado com repercussão na gestão do conhecimento.

Além do método formal da gestão dos projetos, o EGP realiza reuniões periódicas

para discutir o avanço dos projetos com os atores responsáveis por suas respectivas

execuções no portfólio – projetos, programas, subportólios gerenciados em grupo.

Síntese e considerações da Gestão do Conhecimento dos Projetos no EGP da

ATTPS

Percebe-se que o conhecimento gerenciado pelo Escritório de Gerenciamento de

Projetos refere-se ao portfólio dos projetos desenvolvidos pela organização,

evidenciando intra e interprojeto com nível de organização capaz de permitir a

recuperação, aquisição, compartilhamento e armazenamento do conhecimento

produzido pelos projetos.

A organização possui uma média de 35 projetos, ocorrendo simultaneamente em

fases distintas, com baixa similaridade entre eles. Alguns projetos estão em fase de

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iniciação, outros planejamento, execução, monitoramento e controle, assim como

também na fase de encerramento. Todos com identificações específicas, registrados

na mesma plataforma operacional, de maneira a proporcionar recuperação e

utilização das informações armazenadas. Os rituais de gestão, assim como as lições

aprendidas, também estão armazenadas na mesma plataforma, permitindo assim,

segundo o entrevistado, melhor aproveitamento das informações e permitindo a

melhoria nos resultados dos projetos.

Quanto às práticas de Gestão do Conhecimento, houve um destaque para as lições

aprendidas, no sentido de que a prática pode ser melhorada. O processo de

recuperação é seguro e de fácil acesso, segundo o entrevistado, entretanto, há

espaço para melhoria desse processo, assim como das lições aprendidas.

Por fim, percebe-se no caso do EGP da ATTPS Tecnologia que a Gestão de Projetos

facilita a Gestão do Conhecimento, na medida em que a metodologia e seus

respectivos rituais (reuniões, processos, sistemas, produção de documentos)

trabalham com padrões de gestão, aprimorando seus métodos a cada projeto (de

investimento ou implantação), a partir do resgate contínuo de lições aprendidas

armazenadas em uma plataforma interativa, implementando práticas novas, práticas

exitosas, sempre em busca da melhoria de resultados.

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5.1.2 EGP Banco Bonsucesso

Visão geral

O banco foi fundado por uma família com tradição no mercado financeiro, quando, na

década de 1930, surgiu o Banco de Minas Gerais. Ao longo dos anos, a família

também investiu na formação de uma rede de varejo de automóveis, consolidando-se

no mercado automotivo.

Após cinco anos de mercado, a Financeira Bonsucesso transformou-se em um banco

múltiplo, de capital privado, tornando-se o Banco Bonsucesso S.A., atuando em outros

segmentos do mercado, notadamente de crédito consignado.

Em 2014, uniu-se ao banco Santander Brasil por meio de uma joint venture, fazendo

surgir o banco Olé Consignado. Ainda nesse ano, foi estruturada a Bonsucesso Asset,

com o objetivo de fornecer consultoria de investimentos nos mercados nacionais e

internacionais. Na atualidade, o banco avança no mercado de Adquirência. Produtos

comercializados: antecipação de recebíveis; câmbio; crédito e empréstimos;

investimentos; precatórios.

A área pesquisada no Banco foi o Escritório de Gerenciamento de Projetos (EGP),

que é vinculado à Governança de TI (Tecnologia da Informação).

Resultados: coleta de dados

O estudo de caso do EGP do Banco Bonsucesso foi desenvolvido entre os dias

07/out/2016 e 11/nov/2016. Foram realizadas conversas preliminares por e-mail até o

agendamento da entrevista. O procedimento de coleta e análise de dados foi

detalhado no Quadro 27:

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Quadro 27 - Procedimento de coleta e análise de dados no Banco Bonsucesso

Período O que foi feito?

14/out/16 a 04/nov/16 • Processo de negociação para viabilizar a entrevista com gestor do EGP da organização e agendamento da entrevista

• Envio do escopo a ser pesquisado para coleta de dados por parte do entrevistado

08/nov/16 a 11/nov/16 Período de coleta de dados: • 08/nov/16 – e-mail com comentários preliminares respondido

pelo Escritório de Gerenciamento de Projetos • 10/nov/16 - entrevista com gestor responsável pelo Escritório de

Projetos • 11/nov/16 – coleta de dados e informações no site da

Organização • 11/nov/16 – compilação dos dados obtidos da empresa

14/nov/16 a 30/nov/16 • Redação do conteúdo da entrevista

01/dez/16 a 10/dez/16 • Redação do caso

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

O profissional entrevistado no Banco Bonsucesso é o responsável pela Governança

de TI, área em que o Escritório de Gerenciamento de Projetos (EGP) está vinculada.

Com nove anos de organização, o profissional passou pela fábrica de softwares

interna, gestão de serviços, escritório de projetos e a governança de TI. Pessoa

habilitada para o fornecimento de informações pertinentes ao Escritório de

Gerenciamento de Projetos. Entrevista gravada e transcrita pelo pesquisador.

Características dos projetos

Na época do estudo, o portfólio de projetos administrados pelo EGP do Banco

Bonsucesso consistia em aproximadamente 200 projetos, sendo que, destes, 60 já

estão na fase de entrega do produto. Na empresa, os projetos são classificados por

tipo de produto, sendo distribuídos em projetos de Parceria Adquirência, Internet

Banking, Criação JV Santander, Separação Infra-estrutura de TI.

Com o Banco em constante processo de mudança (ampliação de portfólio de

negócios), os projetos gerenciados pelo Escritório de Projetos guardam pouca ou

quase nenhuma similaridade. Exemplo:

Projeto de criação de novos negócios envolve legislação específica que difere das

práticas de acordos comerciais comuns por se tratar de um mercado altamente

regulamentado (mercado financeiro). Já os projetos de separação de infraestrutura

de TI são projetos internos, especificamente de TI. Além de projetos pontuais,

menores, de melhorias dos processos e rotinas. (entrevistado B)

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As equipes de trabalho são definidas de acordo com a expertise de cada colaborador.

Isso permite que as equipes sejam organizadas em células multifuncionais contendo

profissionais dedicados ao desenvolvimento de softwares, infraestrutura, telefonia e

hardware.

Para a implantação e execução de inovações, o Escritório de Projetos é a área

responsável nessa organização. A média de duração dos projetos é de três meses.

Ainda segundo entrevistado, o entendimento da Gestão do Conhecimento, hoje, na

organização, está atrelado ao histórico dos projetos, sendo considerado conhecimento

relevante, principalmente, a documentação técnica – em conjunto com as lições

aprendidas.

Na prática da organização, há um ensaio, incipiente, da prática de gestão do

conhecimento, com vistas a expansão, por ser uma tendência natural pela exigência

do mercado tanto pela inovação quanto pela entrega do produto/serviço.

Conhecimentos relevantes

Dentre as diversas formas de conhecimento, destacaram-se duas, como sendo mais

relevantes: documentação técnica (desenvolvimento) e experiência (histórico de

execução dos projetos). A documentação técnica é relacionada ao desenvolvimento

dos softwares (plataforma, linguagem, dentre outros). A experiência diz respeito ao

know how (conhecimento do funcionamento dentro da organização) e seu histórico de

execução, acumulando conhecimento para atuação nos diversos projetos existentes

e ocorrendo ao mesmo tempo (em fases distintas, como já relatado).

Fatores influenciadores

Fatores que influenciam, de forma positiva a Gestão do Conhecimento na

organização, são relacionados no Quadro 28:

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Quadro 28 - Fatores influenciadores no EGP do Banco Bonsucesso

Fatores influenciadores

Influência

Cultura organizacional Principalmente na armazenagem e recuperação do conhecimento produzido pelos projetos.

Segmento do negócio Regulamentação do Banco Central exige uma série de normativos e, dentre esses, encontram-se aqueles que definem critérios de características de produtos e serviços a serem desenvolvidos.

Funcionamento em célula Equipe multidisciplinar atuando no mesmo espaço, auxiliando no intercâmbio e troca de experiências na execução dos projetos.

Governança Corporativa Em consequência à Governança Corporativa há a governança de TI, vinculada a uma diretoria de TI, que centraliza todos os esforços para o desenvolvimento dos produtos e serviços.

Sistema Para produtos, aqueles sistemas que são comuns ao mercado financeiro e como plataforma de trabalho e gestão de projetos SharePoint®, assim como “Project online”.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

A cultura organizacional, segundo Schein (2007), é um fenômeno dinâmico que nos

cerca em todas as horas, sendo constantemente desempenhada e criada por nossas

interações com outros e moldada por comportamento de liderança, e um conjunto de

estruturas, rotinas, regras e normas que orientam e restringem o comportamento.

Esse conjunto de estruturas e rotinas norteiam as atividades da organização, seja for

força externa - Banco Central - ou pela própria organização.

O mercado financeiro é regulamento pelo Banco Central do Brasil, cuja finalidade é

formular, executar, acompanhar e controlar as políticas monetária, cambial, de crédito

e de relações financeiras com o exterior; organizar, disciplinas e fiscalizar o Sistema

Financeiro Nacional, gerenciar o Sistema de Pagamentos Brasileiro e os serviços do

meio circulante (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2016a).

Os projetos gerenciados pelo EGP do Banco Bonsucesso, possuem equipes de

trabalho estruturadas em células. As células são agrupamentos de indivíduos com

formações específicas e com atuações distintas em fases diversas no

desenvolvimento do projeto – iniciação, planejamento, execução, monitoramento e

controle, encerramento. Essa estrutura permite que os “entregáveis” de cada etapa

do projeto ocorra a contento, conforme planejado, e sejam documentados, para que

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as etapas seguintes tenham como ponto de partida o que foi desenvolvido até aquele

momento.

O trabalho em célula, ao mesmo tempo em que é um fator facilitador por aproximar

colaboradores de formações específicas e atividades distintas, apresenta fragilidade

quando em uma dessas etapas de trabalho o script não é seguido adequadamente, e

isso faz com que haja quebra de ritmo, perda de tempo que impacta na rotina e,

consequentemente, comprometimento no cronograma de trabalho. É um ponto de

atenção por exigir sinergia entre os membros da equipe, em relação ao trabalho

desenvolvido para se cumprir o escopo do projeto.

O trabalho em célula nos projetos, é decorrente do crescimento da organização. O

crescimento, segundo Ripamonti e Kayo (2016), leva a maiores necessidades de

capital, exigindo uma estrutura de gestão mais organizada. Ainda segundo os autores,

o crescimento pode proporcionar dispersão de recursos e consequente diluição do

controle, levando a perdas significativas por parte de acionistas. Isso faz com que seja

necessário uma Governança Corporativa como mecanismos de gestão, inclusive

legal, para evitar perda de capital. O mesmo procedimento de controle de recursos,

em escala departamental, é adotado quando se tem na estrutura organizacional uma

Governança de TI. Pressupõe maior eficácia na aplicação dos recursos, inclusive

aqueles utilizados pelas células de projetos.

Por fim, e como consequência de um modelo de governança, a organização trabalha

com ferramentas integradas que permitem melhor armazenamento, recuperação e

manuseio tanto de informações quanto do conhecimento produzido nos projetos

anteriores (histórico dos projetos).

Práticas de Gestão do Conhecimento - intraprojeto

As principais práticas intraprojeto identificadas, encontram-se relacionadas no Quadro

29.

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Quadro 29 - Práticas intraprojetos de GC no EGP do Banco Bonsucesso

INTRAPROJETO

Recuperação

Criação/Aquisição

Compartilhamento

Armazenamento

• Alocação / apoio de pessoa com experiência anterior

• Passagem de “bastão” entre as etapas na célula de trabalho

• Materiais de projetos anteriores

• Ferramentas de gestão de projetos (Project online)

• Planejamento do projeto

• Reunião inicial • Treinamentos (on the

job) • Comunicações com

os clientes • Conversas informais • Reuniões

intermediárias (andamento do projeto)

• Reuniões de fechamento

• Pesquisa de satisfação

• Relatório final • Materiais gerados

no projeto • Relatório de

histórico dos projetos

Fonte: Elaborador pelo autor, 2017.

Nas práticas intraprojetos identificadas, um ponto citado como importante, na

recuperação do conhecimento intraprojeto é possuir profissionais experientes

tecnicamente – no domínio das ferramentas de tecnologia de desenvolvimento de

softwares – e em gestão de projetos. Ter pelo menos um profissional com experiência

em projetos auxilia na passagem do bastão e no esclarecimento de dúvidas quando

houver mudança de etapa do projeto em execução, já que todos trabalham na mesma

célula.

A consulta constante aos materiais produzidos por projetos anteriores, em termos de

estrutura de gestão de projetos, mesmo que o escopo do projeto seja diferente, auxilia

na preservação de métodos e rituais de gestão e, consequentemente, a recuperação

de informações e conhecimentos. A recuperação ocorre a partir do uso centralizado

de ferramentas de gestão de projetos, como o Project online.

O princípio de geração/criação de conhecimento para o EGP dentro do projeto

(intraprojeto) ocorre com o planejamento das atividades do projeto. Nessa fase é

organizado, em termos gerais, além dos atores que participarão do processo, os

recursos e as etapas/fases necessárias, bem como as áreas do conhecimento que

serão exploradas para obtenção dos resultados desejados.

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A partir do planejamento das atividades e o envolvimento dos atores responsáveis, a

célula de desenvolvimento dos projetos inicia seus trabalhos de compartilhamento por

meio de reuniões formais, registradas em atas (memória da reunião), realizando

treinamentos com o intuito de disseminar o conhecimento necessário à execução das

atividades e comunicando a todos os envolvidos (incluindo clientes). No decorrer do

projeto são realizadas reuniões intermediárias para apresentar o andamento do

projeto, colher críticas e sugestões, bem como estabelecer novos parâmetros, caso

sejam necessários. As reuniões de encerramento do projeto e a pesquisa de

satisfação em relação ao produto entregue também fazem parte da etapa de

compartilhamento.

Assim sendo, todas as informações e conhecimentos produzidos nos projetos são

armazenados em forma de relatório final, contendo uma etapa de reorganização dos

documentos produzidos e histórico de lições aprendidas.

Práticas de Gestão do Conhecimento: interprojeto

Encontram-se consolidadas no quadro 30:

Quadro 30 - Práticas interprojetos de GC no EGP do Banco Bonsucesso

Interprojetos

• Reuniões de alocação de recursos e mão-de-obra

• Rituais periódicos de acompanhamento

• Reuniões operacionais

• Produção de material de apoio a projetos (templates)

• Comunicações informais

• Projetos internos

• “Comitês” de acompanhamento

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

As reuniões de distribuição dos recursos e mão-de-obra a fazerem parte daquele time

de desenvolvimento dos referidos projetos ocorrem, na fase de planejamento, e um

dos critérios para alocação de mão-de-obra no projeto é a experiência.

O escritório de projetos do Banco adota rituais de acompanhamento dos projetos ao

longo de sua vigência - independentemente do tempo empregado na execução do

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projeto, há acompanhamento. Estas reuniões ocorrem tanto entre os membros que

coordenam as atividades do escritório de projetos quanto entre membros do escritório

e da célula de desenvolvimento do projeto. O EGP do Banco opera como uma matriz

forte na organização dos recursos em busca de soluções na gestão do portfólio de

projetos.

As reuniões operacionais são conduzidas pelas células com a participação do

escritório de projetos como facilitador do processo de alocação de recursos. Nessas

reuniões discute-se a execução propriamente dita do projeto e, consequentemente,

os métodos adotados e as possíveis necessidades de ajustes com vistas ao ganho de

performance.

Em sendo uma organização com operações no mercado financeiro, a cada nova

regulamentação, o escritório produz modelos de documentos a serem compartilhados

e utilizados por todos os projetos, de forma a manter o padrão, as regras e diretrizes

estabelecidas. A divulgação dos templates para os membros envolvidos nos projetos,

assim como para toda a empresa, é formal e registrada nas ferramentas de

comunicação entre os grupos e armazenada na ferramenta integrada de gestão para

consulta. Regista-se ainda, na entrevista, comunicações informais como forma de

divulgar e fortalecer as ideias concernentes aos projetos.

Por fim, os projetos internos de organização das rotinas e do gerenciamento do dia a

dia das atividades do escritório de projetos são relevantes para a garantir a fluidez das

informações e, consequentemente, agregar conhecimento às etapas de projetos.

Essa prática é fortalecida pelo desenvolvimento de comitês gestores que discutem

melhores práticas e seus respectivos aperfeiçoamentos.

Síntese e considerações da Gestão do Conhecimento dos Projetos no EGP do

Bonsucesso

Na época deste estudo, o EGP do Banco possuía aproximadamente 200 projetos em

andamento, sendo que destes, 60 já estavam em fase de encerramento, mas não

encerrados, ou seja, possuem atividades que redundarão em relatórios finais,

pesquisas de satisfação e produção de histórico das lições aprendidas. Aqueles

projetos administrados pelo EGP possuíam, em média, três meses de duração.

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Destacam-se, como conhecimentos relevantes, a produção de documentação técnica

e a experiência no desenvolvimento dos projetos. Os fatores considerados

influenciadores, dentre outros, forma a cultura organizacional, segmento do negócio,

funcionamento em célula, governança corporativa e sistema.

Diversas práticas de gestão intraprojeto e interprojetos foram identificados de forma

convergente entre si. As práticas adotadas intraprojeto podem ser acompanhadas de

entre os projetos por parte do escritório de projetos, garantindo melhor equalização

de recursos, que são finitos.

Por fim, percebe-se uma dinâmica elevada nas atividades de gestão de projetos, pois

a média de duração dos projetos é de três meses e o volume expressivo, mesmo

existindo estrutura funcional que comporte - o que obriga a maior número de recursos

humanos alocados na execução dos projetos em fases distintas.

Infere-se ainda, que a organização evidencie cuidados para com a gestão do

conhecimento, em função de possível aumento na rotatividade de colaboradores, seja

por influência do mercado ou pelo modelo de gestão adotado pela organização. Esse

cuidado é importante pela exiguidade do tempo de desenvolvimento dos projetos e a

preparação de novos colaboradores na organização.

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5.1.3 EGP COPASA

Visão Geral

A Companhia de Saneamento de Minas Gerais – COPASA, é uma empresa de

economia mista, cuja principal atividade é a prestação de serviços em abastecimento

de água, esgotamento sanitário e resíduos sólidos.

Em 05 de julho de 1963, por meio da Lei Estadual no 2.842 foi criada a Companhia

Mineira de Água e Esgotos (COMAG), com a finalidade de definir e executar uma

política ampla de saneamento básico para o Estado de Minas Gerais.

Em 1971, o Governo Federal institui o Plano Nacional de Saneamento (PLANASA). À

mesma época, o Departamento Municipal de Águas e Esgoto de Belo Horizonte

(DEMAE), responsável pela prestação desses serviços na cidade de Belo Horizonte,

incorporou-se à COMAG. A partir daí, a COMAG começou a passar por uma série de

modificações para se ajustar às necessidades da Política de Saneamento Básico do

Estado de Minas Gerais, entre elas, a alteração de seu nome para Companhia de

Saneamento de Minas gerais (COPASA), por meio da Lei 6.475/74.

Em 2006, a Companhia realizou sua Oferta Inicial de Ações (Initial Public Offering –

IPO), ingressando no Novo Mercado da BM&F BOVESPA, segmento diferenciado que

exige maior transparência e regras mais rígidas de governança corporativa. Em abril

de 2008, foi realizada uma oferta secundária de ações, em que o acionista Município

de Belo Horizonte alienou a totalidade de suas ações, e o acionista Estado de Minas

Gerais vendeu parte de suas ações, sem perder o controle acionário da Empresa.

No terceiro trimestre de 2016, a Companhia de Saneamento contava com 11.689

colaboradores. A maior parte dos colaboradores está ligada à área de Engenharia. A

Companhia está em 634 municípios do Estado de Minas Gerais quanto a concessões

de Água (que incluem sedes, vilas, povoados e outros). A Companhia ainda informa,

em seu sítio, informações oportunas a toda sociedade quanto ao abastecimento de

água, tratamento de esgotos, ligações, qualidade dos serviços prestados e informes

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quanto às condições em “rodízio” em função da escassez de água nos mais de

seiscentos municípios atendidos (COPASA, 2016).

O surgimento da superintendência de projetos ocorreu a partir da estruturação de uma

Diretoria de Planejamento e Gestão. Um dos primeiros passos foi entender o fluxo dos

projetos dos empreendimentos. Os projetos, em sua grande maioria, são de

engenharia, conforme relato do Superintendente até 2015. Era necessário

compreender como funcionava esse processo dentro da Companhia, para criar uma

metodologia de gestão.

Existiam problemas de comunicação entre as áreas na gestão dos projetos e ausência

de uma visão geral. Algumas áreas possuíam níveis avançados de controle e gestão,

enquanto outras áreas, os níveis eram muito baixos. A informação não transitava de

forma adequada entre os players.

A partir da criação da superintendência de projetos e da identificação de gargalos, a

estruturação de um modelo planejado de gestão ocorreu desde o planejamento

estratégico, definição das diretrizes, até a instrumentalização da empresa quanto ao

custo dos serviços desenvolvidos em cada empreendimento.

A Companhia passou a desenvolver estudos de viabilidade para cada projeto pois,

como a demanda é sempre maior do que os recursos disponíveis, segundo o

entrevistado, seria necessário adotar critérios para priorização dos projetos e um deles

ocorria pela mensuração do retorno do investimento dos recursos alocados no projeto.

Criou-se o conceito de “concepção” a partir do planejamento e dos estudos de

viabilidade. Os projetos dos empreendimentos (projetos gerais e não

específicos de obras) só seguiam o processo, após estudo de composição e

caracterização de acordo com a análise dos cenários. (entrevistado C).

Quem demandava os projetos nem sempre conhecia ou possui informações a respeito

de situações envolvidos como, por exemplo, a desapropriação de um terreno.

Quando se tratava da desapropriação para a instalação de uma rede de águas,

todo mundo gostava e até valorizava o imóvel. Mas e quando era uma

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desapropriação para instalação de redes de esgoto? Por mais que fosse

necessário, nem todos aceitavam. Sem contar as implicações ambientais. Uma

rede de esgotos opera por gravidade e é instalada normalmente em lugares

baixos, implicando ser próximo a cursos d’água, riacho. Para fazer a obra é

preciso estudo de impacto ambiental e, se não estivesse previsto no projeto,

geraria atraso e perda dos recursos investidos até então. (entrevistado C).

Resultados: coleta de dados

O estudo de caso do EGP da COPASA ocorreu no período de 27/set/16 a 30/nov/16.

O período compreende as atividades relacionadas no Quadro 31:

Quadro 31 - Procedimento de coleta e análise de dados na COPASA

Período O que foi feito?

27/set/16 a 17/out/16 • Período de viabilização para a realização da entrevista • Envio do escopo em forma de tópicos (por assunto) para o

entrevistado

18/out/16 a 21/out/16 Período de coleta de dados: • 18/out/16 – e-mail contendo assuntos a serem abordados, em

forma de tópicos • 24/out/16 – entrevista com Superintendente de Projetos • 26/out/16 – coleta de dados e compilação de informações

07/nov/16 a 18/nov/16 • Redação do conteúdo da entrevista

18/nov/16 a 30/nov/16 • Redação inicial do caso

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

A pesquisa adotou como referência um entrevistado que possui 34 anos de

organização (ao tempo da entrevista), com atuações nas áreas de obras, operacional,

comercial, reestruturação do projeto de saúde (cujo produto é um plano de saúde

especifico dos colaboradores da Companhia) e, nos últimos anos, atuou como

superintendente de projetos, área responsável pelo Escritório de Gerenciamento de

Projetos. Engenheiro de formação, a experiência adquirida ocorreu por intermédio

dessa diversidade de projetos e áreas dentro da Companhia.

Características dos projetos

A Companhia vive da prestação de serviços de engenharia. A maioria dos

colaboradores são engenheiros, e a composição do EGP se fez necessária para

organizar os recursos que existiam e que, constantemente, eram utilizados de forma

a evidenciar alguma falha em sua execução.

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É oportuno citar que a Companhia trabalha com a palavra “empreendimento” para

caracterizar “projeto geral”. Por exemplo: a instalação de uma ETE – Estação de

Tratamento de Esgoto - é um empreendimento, logo, um projeto geral. O projeto geral

é composto por diversos projetos específicos (de engenharia): projetos básico e

executivo, estudos ambientais, obras, fornecimento de materiais, mobilização social,

monitoramento de qualidade, dentre outros. Essa definição se aplica a todos os portes

de empreendimentos na Companhia, variando a complexidade e as fases dos

projetos.

Entre os anos de 2013 e 2015, a Companhia realizava em torno de 380

empreendimentos, de grande e de pequeno portes. Projetos de grande porte são

classificados como projetos estruturantes, que geram impacto grande na empresa.

Adota-se uma gestão diferenciada para os portes diferentes dos empreendimentos,

preservando-se os métodos definidos pela gestão de projetos no EGP. O tempo de

duração estimado para os projetos varia muito, existindo projetos com execução de

dias, até projetos que levam vários anos para sua conclusão. Em função dessas

diferenças, a Companhia adota, além dos controles do EGP, outros níveis de controle,

como financeiro, por exemplo.

Os empreendimentos são gerenciados em seus processos de planejamento pelo

EGP, mas cada Diretoria possui autonomia para o desenvolvimento, alocação dos

recursos (equipes) e execução de suas etapas. Isso implica maiores desafios,

segundo o entrevistado, na gestão do conhecimento, que envolve fazer circular o

conhecimento produzido por cada projeto, sabendo que suas respectivas diretorias

possuem autonomia na gestão.

Conhecimentos relevantes

Os conhecimentos apontados como relevantes para os empreendimentos de todos os

portes desenvolvidos pela Companhia, dentre outros, são: comunicação

(compreensão clara das tarefas que cada setor desempenha), conhecimento técnico

(visão sistêmica de todos os processos), seleção de projetos (critérios estabelecidos

para hierarquizar projetos para execução) e estudos de viabilidade dos projetos.

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Fatores influenciadores

Pelo porte da Companhia e a variabilidade dos seus empreendimentos, destacam-se

alguns fatores, em meio a outros de menor expressão, relacionados no Quadro 32:

Quadro 32 - Fatores influenciadores no EGP da COPASA

Fatores influenciadores

Influência

Superintendência de Projetos Criação do EGP vinculado a superintendência e reconhecido por seu know how;

Processos estruturados Estabelecimento de processos para a execução de todos os empreendimentos, independente do porte;

Documentação do empreendimento “Caderno” contendo procedimento de sistema, procedimentos operacionais e fluxos de movimentação;

Estudos de viabilidade dos projetos Caracterizar e classificar os empreendimentos, de forma a estabelecer prioridades na execução de acordo com as diretrizes estratégicas;

Comunicação Definição dos meios, frequência e armazenamento das informações referentes aos empreendimentos;

Experiência de Companhia A maior parte dos colaboradores em postos de liderança, na condução de empreendimentos são concursados há muitos anos, desenvolvendo atividades na Companhia e, por isso, conhecendo seu negócio.

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Conforme relatado na Visão Geral, a criação da Diretoria de Planejamento e Gestão

foi um divisor de águas e, consequentemente, a criação da Superintendência de

Projetos, vinculada a Diretoria, contando à época com gestor de larga experiência em

diversos projetos na organização, com missão extensa, porém clara, daquilo que

precisava ser desenvolvido, ainda que não tivesse estruturado os processos de

gestão, nos moldes em que foram construídos, organizou a gestão de projetos da

Companhia, permitindo, assim, melhor orientação na aplicação dos recursos.

A partir da Superintendência de Projetos, vinculada à Diretoria de Planejamento e

Gestão, o Escritório de Gerenciamento de Projetos cuidou de analisar a viabilidade

dos empreendimentos, estruturando-os com etapas pertinentes ao seu porte. Por mais

que a Companhia tenha em sua rotina atividades de planejamento, essa etapa, como

sendo uma ferramenta de gestão do empreendimento, só passou a ocorrer com os

processos estruturados, documentados e catalogados em um sistema de gestão.

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O pesquisador teve acesso ao “caderno” dos processos de gestão de um

empreendimento que fica disponível para acesso interno com níveis de hierarquia de

acesso - alguns usuários podem apenas consultar, outros podem baixar templates e

assim sucessivamente - e atualização periódica, na intranet - rede interna - conforme

práticas de gestão da qualidade adotadas pela Companhia. No caderno consta a

cadeia sucessiva dos processos, iniciando pelas Diretrizes estratégicas adotadas pela

gestão vigente, passando pelos empreendimentos e seus respectivos projetos, até o

encerramento do empreendimento.

Consta no caderno, ainda, procedimentos de sistemas, aquele com regras entre as

áreas e os procedimentos operacionais padrões. Todos com rastreabilidade de forma

a garantir sua utilização e recuperação.

A Companhia possui um sistema que armazena todos os empreendimentos

executados. Esse sistema possui critérios de classificação dos documentos. Os

documentos são identificados de acordo com a sequência abaixo - que pode ser

alfanumérica:

- Cidade – quatro dígitos

- Contrato – quatro dígitos

- Sistema – dois dígitos

- Tipo – dois dígitos

- Bloco – dois dígitos

- Aplicação – dois dígitos

- Sub-aplicação – cinco dígitos

- Documento – dois dígitos

- Sequência – três dígitos

- Revisão – um dígito

- Empresa – três dígitos

- Ano – quatro dígitos.

Os parâmetros de codificação acima, são utilizados para identificar e arquivar os

diversos tipos de documentos de um projeto, garantindo a confiabilidade da

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documentação durante seu desenvolvimento, em sua fase de utilização e posterior

arquivamento.

Com a estruturação de uma área responsável pela gestão dos empreendimentos, a

comunicação entre as áreas envolvidas no projeto, obteve um salto de qualidade. O

EGP é reconhecido pelos pares e demais players como área de suporte à gestão dos

empreendimentos e assim, com a visão sistêmica desde o estratégico até o

operacional, a comunicação foi estruturada intra e inter projetos.

Antes da realização desta pesquisa, os líderes de cada empreendimento possuíam,

no mínimo, cinco anos de experiência em empreendimentos na Companhia, e isso é

um fator de influência positiva pelo domínio com relação aos trâmites internos da

Companhia.

Práticas de Gestão do Conhecimento – intraprojeto

Práticas intraprojeto identificadas e destacadas no EGP da Companhia foram

relacionadas no Quadro 33:

Quadro 33 - Práticas intraprojeto de GC no EGP da COPASA

INTRAPROJETO

Recuperação

Criação/Aquisição

Compartilhamento

Armazenamento

• Sistema de armazenamento

• Profissionais envolvidos nos projetos

• Procedimentos operacionais

• Reuniões de brainstorming

• Documentos de planejamento do projeto

• Diretrizes da Diretoria

• Kickoff dos projetos • Memória das

decisões das reuniões iniciais

• Fóruns criados pelo EGP

• Reuniões técnicas • Reuniões com a

participação de terceiros especialistas (consultores)

• Fórum de lançamento do projeto

• Reuniões de acompanhamento

• Registro da evolução dos projetos e consequente compartilhamento com os demais players.

• Registro dos projetos no sistema

• Memórias das reuniões registradas no sistema de gestão

Fonte: Elaborador pelo autor, 2017.

A recuperação dos conhecimentos produzidos pelos empreendimentos ocorrem por

meio do sistema, reuniões de análise das demandas - brainstorming para entender os

pedidos e conseguir classifica-los -, documentos de planejamento dos projetos,

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diretrizes da diretoria aplicadas em empreendimentos anteriores, de acordo com o seu

porte. Estes são procedimentos aplicados a todos os projetos sob a gestão do

Escritório de Gerenciamento de Projetos vinculado à Superintendência, de Projetos

da Companhia. O que torna a recuperação mais fácil, segundo o entrevistado, é a

adoção de Procedimentos Operacionais Padrões (POP) para as atividades a serem

desenvolvidas. Há POP para recuperação do conhecimento produzido pelo

empreendimento, ainda que não seja manuseado com frequência, conforme

observado pelo entrevistado. O POP, é armazenado de forma eletrônica e

disponibilizado, via rede interna de comunicação virtual, para consulta e utilização por

parte dos membros envolvidos nos projetos, tanto da área de EGP, quanto das demais

áreas.

A criação do conhecimento intraprojeto foi destacada pelo entrevistado quando

ocorrem as reuniões de kickoff (reunião de início do empreendimento). Estas reuniões

em escala maior, envolvendo todos os players, é também utilizada em forma de

Fóruns, quando registram-se os milestones (marcos) de cada etapa do

empreendimento, dando visibilidade e oportunidade para que os envolvidos no

empreendimento se manifestem e consigam produzir novas e específicas reuniões

para o alinhamento e esclarecimento das dúvidas. Os fóruns também são percebidos

pelo EGP como ferramenta de compartilhamento do conhecimento produzido

intraprojeto.

Ocorrem ainda participações de terceiros consultorias especializadas ou dedicadas a

determinadas etapas do empreendimento na fase de planejamento, como recurso

para as atualizações que o EGP julgar pertinentes.

Por fim, registram-se no sistema os empreendimentos e seus respectivos

detalhamentos, bem como memórias das decisões tomadas nas reuniões de trabalho

entre os membros da equipe do EGP e outros players que julgarem necessários.

Práticas de Gestão do Conhecimento: interprojeto

Destacam-se as seguintes práticas de gestão interprojetos no Quadro 34:

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Quadro 34 - Práticas interprojetos de GC no EGP da COPASA

Interprojetos

• Comunicações estruturadas

• Reuniões periódicas

• Procedimentos Operacionais

• Caracterizações dos empreendimentos

• Metodologia executiva dos empreendimentos – criação de critérios de análise para viabilizar a

execução do projeto

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

A comunicação estruturada entre os empreendimentos só foi possível a partir da

criação da Superintendência de Projetos. Para que os players pudessem compartilhar

das mesmas informações e dos mesmos conhecimentos produzidos pelos projetos,

com o propósito de alcançar novos patamares de execução para empreendimentos

futuros, o Escritório de Gerenciamento de Projetos vinculado à Superintendência de

Projetos, estabelece critérios de comunicação voltados para a ampla difusão daquilo

que está acontecendo nos projetos.

A partir de ampla comunicação, o que, segundo o entrevistado, não é garantia de

plena compreensão, reuniões periódicas ocorrem com os players por etapa dos

empreendimentos. Quando o empreendimento está ainda na fase em que o projeto

“básico” (projeto de engenharia) está em desenvolvimento, ocorrem reuniões apenas

entre o EGP e os responsáveis pelo desenvolvimento do projeto - sejam internos ou

terceirizados.

Após cada empreendimento, as lições aprendidas ficam registradas no sistema.

Entretanto, antes do término do projeto, procedimentos operacionais são conferidos,

para que suas diretrizes sejam aperfeiçoadas. Cada modificação substitui a versão

anterior.

A análise realizada pelo EGP para caracterizar os empreendimentos vem se

aperfeiçoando desde a origem, na organização. Para estabelecer critérios seria

necessário tomar algumas decisões que deixariam empreendimentos de fora. Assim,

surgiram as metodologias executivas dos empreendimentos baseadas nas melhores

práticas adotadas pelo PMI (Project Management Institute).

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Recurso em toda organização é finito. Não dá para executar todos os

empreendimentos. Não existe recurso para isso. Nesse sentido analisamos

empreendimentos que, em termos econômicos teria resultados negativos,

porém, com profundos impactos sociais positivos. Por isso, todos os

empreendimentos passaram a ser classificados e caracterizados.

(entrevistado C).

Síntese e considerações da Gestão do Conhecimento dos Projetos no EGP da

COPASA

A empresa conta com mais de 11.000 colaboradores, distribuídos em 634 municípios,

e com a prestação de serviços de água e esgoto no Estado de Minas Gerais. Em 2006,

a COPASA criou a Diretoria de Planejamento e Gestão, vinculando a

Superintendência de Projetos, responsável pela execução dos empreendimentos.

Na Companhia, empreendimentos são considerados projetos gerais. Na gestão

destes projetos considerou-se, como conhecimentos relevantes, a comunicação para

garantir a compreensão clara dos pressupostos básicos dos empreendimentos,

conhecimentos técnicos, proporcionados pela visão sistêmica dos processos e pela

experiência dos profissionais alocados na gestão dos projetos. Instituiu-se, com a

criação de critérios, a seleção de empreendimentos que levavam em consideração os

estudos de viabilidade. Nem todos os projetos que chegam são executados.

No período de 2013 a 2015, realizaram 380 empreendimentos de diversos portes. O

conhecimento produzido nestes projetos foram destacados na forma de

conhecimentos gerados intraprojeto e interprojetos. A fase de implantação de

procedimentos e métodos exigiu adaptação de todos, contando com fator facilitador

(positivo) o reconhecimento da área de projetos como suporte e elo entre as áreas

que até então possuíam fragilidades na comunicação.

Considera-se, como ponto de atenção, a estruturação dos procedimentos de

comunicação, que possuem papel de garantir que as mensagens sejam decodificadas

e as operações realizadas conforme o planejado. Isso ocorre em função da dimensão

da Companhia, complexidade dos projetos e a alocação de recursos humanos em

várias localidades, durante o período de vigência dos projetos.

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5.1.4 EGP CIT-SENAI

Visão Geral

O SENAI é um polo de geração e disseminação de conhecimentos aplicados ao

desenvolvimento da indústria do Brasil e de Minas Gerais. Criado em 1942, por

iniciativa do empresariado do setor, o SENAI faz parte da Confederação Nacional da

Indústria (CNI) e do Sistema Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais

(FIEMG).

Com o apoio de diversas áreas da indústria, o SENAI é responsável pela formação

profissional de recursos humanos para a indústria, a prestação de serviços como

assistência técnica e tecnológica ao setor produtivo, serviços de laboratório, pesquisa

aplicada e informação tecnológica. Por meio de seus programas e projetos oferece

atendimentos adequados às diferentes necessidades da indústria, contribuindo para

seu fortalecimento.

Atua em duas frentes: educação profissional e serviços técnicos tecnológicos. O

objetivo do projeto educacional é a formação de cidadãos qualificados para atuar de

maneira autônoma, crítica, consciente e participativa, tanto no trabalho quanto na vida

cotidiana. É referência nacional na prestação de serviços técnicos tecnológicos, com

vistas a solucionar problemas tecnológicos de forma a fortalecer a competitividade da

indústria mineira.

A área do SENAI em que se realizou a pesquisa foi o Centro de Inovação Tecnológica.

O Centro possui serviços em consultoria tecnológica - processos produtivos e

desenvolvimento de novos produtos; metrologia - calibração e ensaios; laboratório de

ensaios e análises - ensaios em agregados siderúrgicos, mecânicos, metalográficos.

Serviços técnicos especializados em desenvolvimento de protótipos, preparação de

amostras e usinagem de corpos de prova e medição e inspeção de peças, consultorias

em eficiência energética, adequação aos requisitos das normas regulamentadoras

NR-10 e NR-12 e consultoria em melhoria de processo produtivo; pesquisa,

desenvolvimento e inovação de produtos e processos; serviços técnicos

especializados; e energia e eficiência energética.

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Resultados: coleta de dados

Os dados coletados no Centro de Inovação Tecnológica que abriga o Escritório de

Gerenciamento de Projetos, lotado na Gerência de Apoio Técnico, ocorreram

conforme descrito no Quadro 35:

Quadro 35 - Procedimento de coleta e análise de dados no EGP do CIT-SENAI

Período O que foi feito?

17/out/16 a 19/out/16 • Envio do escopo para o entrevistado e agendamento da entrevista

20/out/16 a 26/out/16 Período de coleta de dados: • 20/out/16 – e-mail confirmando agendamento • 21/out/16 – entrevista na Gerência de Apoio Técnico (EGP) • 26/out/16 – coleta de dados e compilação de informações

01/nov/16 a 18/nov/16 • Redação do conteúdo da entrevista

21/nov/16 a 30/nov/16 • Redação inicial do caso

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

O processo de conciliação das agendas foi menor do que nas outras organizações,

ocorrendo a entrevista ainda no mês de outubro, com a análise e composição das

informações a partir de novembro.

A entrevista ocorreu com o gestor, com mais de dois anos no cargo e com experiência

anterior em outras organizações na condução de projetos nacionais e internacionais,

sendo considerado o elemento mais adequado e com o conhecimento necessário para

fornecer informações a respeito da gestão e acompanhamento dos projetos da

organização.

Características dos projetos

Os projetos gerenciados, em sua grande maioria, dizem respeito a projetos de

Pesquisa & Desenvolvimento. Existem ainda projetos de Cooperação Técnica entre

instituições, cuja frequência é menor, assim como também sua movimentação. Esses

projetos funcionam como acordos estabelecidos entre organizações. Projetos de

Prestação de Serviços também existem; entretanto nem todos passam pelo EGP. A

Gerência de Apoio Técnico (GAT) realiza a gestão administrativa e financeira dos

projetos, cuja similaridade varia amplamente, assim como seu tempo de duração.

Os projetos de P&D são estruturados em dois módulos que se interpõem: execução

física e execução financeira. A execução física diz respeito ao desenvolvimento

propriamente dito do projeto, enquanto a execução financeira é a gestão dos subsídios

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para a realização e o desenvolvimento da pesquisa. Ambos são estruturados com

base em cronogramas que, por sua vez, possuem etapas, fases e períodos de

desembolsos por parte do cliente/financiador.

As equipes de desenvolvimento físico dos projetos não ficam próximas às atividades

de gestão da Gerência de Apoio Técnico. A execução física dos projetos ocorre nos

laboratórios existentes no SENAI de Minas gerais, em suas diversas localidades. A

gestão administrativa e financeira é realizada em Belo Horizonte, no Centro de

Inovação Tecnológica que abriga a GAT.

Conhecimentos relevantes

Foram considerados como relevantes o modelo de gestão de projetos administrativos

e financeiros, assim como o conhecimento técnico do funcionamento das atividades

do projeto, pela interface que existe entre a realização física e o suporte proporcionado

pelas atividades administrativas.

Para o desenvolvimento de uma atividade, é necessário intercâmbio

com outros laboratórios de P&D no Brasil e no mundo. Isso implica

em viagens, e a utilização desse recurso é gerenciada de acordo com

o planejado para o projeto, confrontando em passo posterior o

atingimento da meta com a realização da viagem. (entrevistado D).

Fatores influenciadores

Os fatores influenciadores encontram-se relacionados no Quadro 36:

Quadro 36 - Fatores influenciadores no EGP do CIT-SENAI

Fatores influenciadores

Influência

Biblioteca de projetos Espaço dedicado ao resgate de todo o histórico dos projetos

Fluxo de demandas Identificação do fluxo dos projetos, a partir do registro no setor de contratos

Complexidade dos projetos Gestão administrativa e financeira, bem como acompanhamento físico

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

O EGP do CIT-SENAI implantou uma ferramenta de gestão integrada de projetos de

nome Podio®. A estrutura de gestão dos projetos foi desenvolvida e personalizada de

acordo com a demanda da organização. Dentre as customizações desenvolvidas,

encontra-se a biblioteca de projetos. É um recurso fornecido pelo sistema e que

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permite a codificação da proposta – fase anterior ao projeto – registrar o projeto,

localizar e resgatar o projeto, contendo todas as operações, registros e anotações

realizadas pelo gestor do projeto, assim como aquisições, contratações, desembolsos,

memórias de reuniões e visitas realizadas ou recebidas.

A ferramenta citada permitiu ainda ao EGP sistematizar o fluxo de informações. A

partir da confirmação do contrato, junto ao setor responsável, o projeto ganha um

código de identificação que passa a seguir um fluxo até o encerramento de suas

atividades. Por se tratarem de atividades de controle e acompanhamento

administrativas e orçamentárias (financeiras), o grau de complexidade dos projetos é

regular, exigindo do Escritório de Projetos mais atenção quanto ao volume do que

suas particularidades.

Práticas de Gestão do Conhecimento – intraprojeto

As práticas de gestão do conhecimento intraprojeto, aquelas que ocorrem dentro do

projeto foram relacionadas no Quadro 37:

Quadro 37 - Práticas intraprojeto de GC no EGP do CIT-SENAI

INTRAPROJETO

Recuperação

Criação/Aquisição

Compartilhamento

Armazenamento

• Podio® • Reuniões

preliminares • Materiais de

projetos anteriores

• Planejamento da gestão do projeto

• Detalhamento do plano do projeto

• Kickoff com a presença do cliente

• Interação com o cliente

• Follow-up meeting • Interação com equipe

de execução física

• Membros da equipe • Podio®

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

A recuperação do conhecimento ocorre pelo uso sistematizado do sistema de

acompanhamento e gestão do projeto. De posse do histórico de projetos similares,

extrai-se do sistema os elementos que servirão para uma primeira reunião preliminar

entre os membros da equipe. Essa reunião precede a reunião de kickoff. Nela são

tratadas as lições aprendidas, cronogramas, aquisições e contratações realizadas,

bem como a identificação dos responsáveis - tanto na equipe de execução física

quanto administrativa/financeira. O material produzido pelo projeto – documentos

decorrentes das atividades desenvolvidas, atas de reuniões, decisões tomadas,

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dentre outros – servem como fonte de coleta de informações para produção de

conhecimento.

A criação de conhecimento foi identificada a partir do planejamento e detalhamento

do plano de trabalho do projeto. Seu compartilhamento ocorre por meio de reuniões

de kickoff com a presença do cliente, após o projeto ser confirmado pela área de

Contratos e possuir identificação própria.

No decorrer do projeto, são realizadas reuniões de acompanhamento (follow-up

metting) para alinhamento das expectativas e acompanhamento dos resultados

produzidos em cada etapa, junto à equipe de execução física e à equipe de execução

administrativa/financeira.

Por fim, os membros da equipe realizam o armazenamento dos conhecimentos

gerados naquele projeto. A experiência acumulada, projeto a projeto, fica dentro de

cada indivíduo que integrou o processo e, para que esse conhecimento não se perca,

é armazenado também no sistema de gestão de projetos (Podio®).

Práticas de Gestão do Conhecimento: interprojeto

As práticas de gestão do conhecimento entre os projetos gerenciados pelo EGP da

CIT-SENAI estão relacionados no Quadro 38:

Quadro 38 - Práticas interprojetos de GC no EGP do CIT-SENAI

Interprojetos

• Monitoramento dos resultados

• Sistema de registro dos projetos

• Comunicações informais

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

O monitoramento dos resultados dos projetos do CIT-SENAI ocorre em periodicidade

que varia de projeto para projeto. Fazem parte da rotina do Escritório de

Gerenciamento de Projetos os rituais de acompanhamento dos projetos. Identificam-

se e discutem-se pontos divergentes do planejamento e as medidas necessárias para

equacionar a situação.

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Apesar das diversas práticas formais de gestão dos projetos, principalmente nos

últimos dois anos e meio, com registros e atividades de planejamento, a troca informal

de informações referente à rotina dos projetos, ocorre de forma intensa. Isso é

facilitado pela cultura de proximidade entre os membros das equipes de projetos –

tanto na execução, quanto administrativa/financeira - com impacto direto na

comunicação.

Por fim, o sistema de registros mantêm padrão de identificação dos projetos, sendo

também explorados na Biblioteca de Projetos.

Síntese e considerações da Gestão do Conhecimento dos Projetos no EGP do

CIT-SENAI

A criação de uma Biblioteca por parte do Escritório de Gerenciamento de Projetos

merece destaque por organizar os conhecimentos produzidos em cada projeto,

sistematizando a forma como são armazenados, permitindo que sua recuperação seja

de fácil acesso.

O uso da ferramenta de gestão é recente e ainda está em fase de aperfeiçoamento

em seu desenvolvimento, assim como também na utilização por parte de outras áreas

envolvidas com o projeto.

A gestão administrativa e orçamentária de projetos possui rotinas claras de execução,

tendo a execução física do projeto grau maior de complexidade. Isso não impede,

porém, que a gestão administrativa enfrente desafios, pois a execução do projeto

ocorre em lugares diferentes, exigindo maior acompanhamento e interação por parte

da gestão do projeto.

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103

5.2 Análise integrada dos casos estudados

Os quatro casos estudados – EGP da ATTPS Tecnologia, EGP do Banco Bonsucesso,

EGP da COPASA e EGP do CIT-SENAI – possuem, como características comuns, o

fato de serem organizações brasileiras e projetizadas.

Por outro lado, os casos se diferenciam tanto por características mais gerais, como o

setor de atuação e dimensão. Os setores contemplados na pesquisa foram bancário,

informática, saneamento e gestão administrativa e orçamentária de projetos. O setor

bancário e o de informática reservam similaridades nos produtos e serviços

pesquisados: dizem respeito a desenvolvimentos de Tecnologia da Informação (TI).

O quadro 39 evidencia alguns desses aspectos.

Quadro 39 - Diferenças entre os casos estudados

Caso

Características

gerais

Características

particulares

• EGP ATTPS • Setor: informática • Organização privada • Desenvolvimento de

soluções em TI • Média de 35 projetos

segmentados em implantação e investimento

• Empresa atuante há mais de 25 anos em mercado de TI

• Estrutura organizacional classificada em matriz forte e projetizada

• EGP Bonsucesso • Setor: bancário • Organização privada • Solução de produtos

bancários • Empresa de origem

familiar (hoje é SA) • Média de 200 projetos

• Empresa pertencente a um grupo diversificado de negócios, existente desde 1930

• Alta regulamentação (Banco Central) • Estrutura matricial

• EGP COPASA • Setor: saneamento • Organização de economia

mista (maior acionista Gov.MG)

• Média de 380 projetos nos últimos dois anos

• Predomínio de projetos de engenharia

• Mais de 11 mil colaboradores distribuídos em 634 municípios

• Colaboradores são servidores públicos • Forte hierarquia e departamentalização • Muitos dos seus projetos impactam no

saneamento de cidades inteiras

• EGP CIT-SENAI • Terceiro Setor • Inovação e Tecnologia

Industrial • Projetos de cunho

administrativo e orçamentário

• Laboratórios distribuídos em MG

• Execução física ocorre por intermédio de outra equipe que não seja a gestora administrativa do projeto

• Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (recursos públicos e privados)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

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Essas diferenças influenciam a forma de realizar a Gestão do Conhecimento em cada

uma das organizações. Entretanto, diversos aspectos comuns foram identificados nos

casos estudados.

Resultados: coleta de dados

Em todos os Escritórios de Gerenciamento de Projetos pesquisados, os entrevistados

exerciam cargos de liderança. Os profissionais entrevistados tinham entre 2 e 34 anos

de atuação nas organizações. As gravações das entrevistas totalizaram seis horas e

quarenta e oito minutos. Todas foram transcritas pelo pesquisador, e o material

compilado resultou em 39 páginas (letra arial, tamanho 12, espaçamento 1,5). As

entrevistas ocorreram por meio de observação de campo, telefone e e-mail, sendo

reunidos em um arquivo digital (Word) e analisado junto com o material obtido.

Características dos projetos

Ocorre variabilidade nos projetos, em função da complexidade, duração e natureza,

dos projetos nas organizações pesquisadas. A ATTPS Tecnologia trabalha com

quatro linhas de projetos, conforme já citado. O Bonsucesso com projetos estruturais

e produtos financeiros. A COPASA com projetos de engenharia em sua grande

maioria, e o CIT-SENAI com projetos administrativos e orçamentários.

Foi identificada uma característica comum entre as equipes de projetos: a

multiplicidade de alocação dos colaboradores. Atuam em mais de um projeto, em

fases distintas (ou similares), de acordo com sua expertise e as características do

projeto.

Conhecimentos relevantes

A partir da análise integrada dos casos, foi possível identificar tipos de conhecimento

destacados como relevantes pelos entrevistados, ou seja, devem ser foco da Gestão

do Conhecimento em suas organizações. Grant (1996) reconhece que há diversos

conhecimentos relevantes para a empresa, mas não aponta quais poderiam ser esses

conhecimentos. De qualquer forma, não se pode afirmar que os conhecimentos

relevantes identificados nessa pesquisa, dizem respeito a todos os conhecimentos

encontrados em qualquer organização projetizada. Esses conhecimentos formam

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uma base de referência, surgida a partir dos casos estudados. O Quadro 40 apresenta

os conhecimentos mapeados.

Quadro 40 - Conhecimentos relevantes consolidados

Tipos de conhecimento Descrição

Processos de gestão Métodos e modelos documentados

Negócio Tipos de produtos e serviços vinculados à tecnologia da

informação

Documentação técnica

Documentos vinculados ao desenvolvimento (software) dos

produtos. Know how e seu histórico de execução (lições

aprendidas)

Experiência Histórico dos projetos (lições aprendidas)

Comunicação Compreensão clara das tarefas desempenhadas por cada

departamento/ator

Conhecimento Técnico Visão sistêmica de todos os processos (EGP)

Estudo de viabilidade dos

projetos

Definição de critérios seguindo diretrizes estratégicas da

organização para seleção de projetos (recursos finitos)

Modelo de gestão Conhecimento das atividades do projeto na execução

administrativa e orçamentária do projeto

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

É oportuno retomar uma teoria, trazida por Fleury e Fleury (2004), evidenciando a

diferença existente entre conhecimento e competência. Conhecimento está

relacionado ao que a pessoa precisa saber para realizar a tarefa. Só o conhecimento

não é suficiente para executar a tarefa. Seria necessário, ainda segundo os autores,

habilidades que definem em como agir e atitude (querer agir). O foco da pesquisa é o

conhecimento.

Os conhecimentos relevantes podem ser categorizados de forma a constituir grupos

de conhecimentos. Categorizam-se em: conhecimentos de gestão (processos de

gestão, modelo de gestão, negócio, comunicação e experiência) e conhecimentos

técnicos - documentação técnica, conhecimento técnico e estudo de viabilidade dos

projetos. Esse tipo de conhecimento, possui partes tácitas e partes explícitas, por isso

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podem ser adquiridos por meio de treinamentos estruturados – para os aspectos

codificáveis do conhecimento – ou por meio de capacitação no próprio ambiente de

trabalho, aplicável aos aspectos mais tácitos, que só aprendem por meio da

experiência.

Hanisch et al. (2009) mapearam três tipos de conhecimentos relacionados à área de

Gestão do Conhecimento em projetos: (I) conhecimento em projetos, (II)

conhecimento sobre projetos e conhecimento entre projetos(III). Os três tipos

encontram-se relacionados categorizados como conhecimento de gestão (sobre

projetos e entre projetos) e conhecimentos técnicos (em projetos).

É importante ressaltar que, durante a coleta de dados, percebeu-se a necessidade de

entender a orientação do conhecimento nas organizações.

Fatores influenciadores

Percebeu-se a existência de fatores que influenciam a forma de se realizar a Gestão

do Conhecimento. São influenciadores, por exemplo, o porte da organização, uma vez

que esse aspecto, influencia o grau de alinhamento entre o Escritório de

Gerenciamento de Projetos e as equipes executoras - quando as atividades do projeto

não ocorrem apenas no EGP. Quanto maior a organização, maior a necessidade de

formalização. Entretanto, quando se analisam os casos de forma integrada, não se

pode afirmar que esse fator exerce influência positiva ou negativa. Apenas exerce

influência.

O porte da organização parece influenciar o grau de formalização dos processos e a

necessidade de documentação dos conhecimentos. Nas organizações com número

de funcionários menor, praticamente todos se conhecem e existe uma tendência de

se buscar o conhecimento diretamente com a pessoa.

Segundo Prencipe et al. (2005), o porte da organização representa uma influência

importante nas práticas de conhecimento e estilos de aprendizagem. Para os autores,

em uma organização de pequeno porte, todos os funcionários estão situados em um

mesmo local. A maioria das interações ocorre face-a-face, e o estilo de gestão é

bastante informal. Procedimentos formais para desenvolver os projetos existem, mas

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não são respeitados em sua quase totalidade, parecendo existir baixo nível de

consciência desses procedimentos. Ainda segundo os autores, isso não é uma

desvantagem competitiva porque uma grande porção de funcionários trabalha na

organização há muito tempo, de maneira que, internalizaram a forma efetiva de como

as atividades são desenvolvidas na empresa.

Os fatores identificados como influenciadores na Gestão do Conhecimento foram

registrados no Quadro 41.

Quadro 41 - Fatores influenciadores na GC consolidados - facilitadores

Fator influenciador

De que maneira influencia a Gestão do Conhecimento

Estrutura organizacional

Existência nas organizações de um Setor de projetos, Escritório de

Gerenciamento de Projetos, Superintendência de Projetos e

Governança Corporativa como estruturas matriciais fortes e

projetizadas.

Metodologia

Processos estruturados, documentos do empreendimento, fluxo de

demandas, estudos de viabilidade, complexidade dos projetos,

operação em células, mobilidade da equipe

Sistema

Biblioteca de projetos e plataformas virtuais de gestão dos projetos,

melhorando a comunicação e minimizando impactos da distância

física, quando aplicável

Segmento do negócio

Intensidade da concorrência, cultura organizacional, busca contínua

por inovação, sazonalidade, podem influenciar os projetos

Experiência

Vivência dos profissionais na condução dos projetos, conseguindo

articular equipes na recuperação, criação, compartilhamento e

armazenamento dos conhecimentos adquiridos na gestão dos

projetos

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

A estrutura organizacional parece influenciar, de forma positiva, o grau de

formalização dos processos, reforçada pela metodologia quanto à organização e

registro dos documentos, procedimentos e operações dos projetos.

Os sistemas computadorizados são considerados pelos entrevistados como

imprescindíveis e aliados na disseminação do conhecimento, principalmente nas

organizações cujo produto/serviço é de tecnologia da informação. Tais sistemas

influenciam na integração dos atores e processos, permitindo maior acompanhamento

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dos resultados, tanto na gestão do projeto quanto no desenvolvimento do produto e

nas relações entre projetos.

Por sua vez, o segmento do negócio é um fator influenciador positivo por ser

determinante quanto a práticas e modelos de gestão adotados. A experiência é outro

fator influenciador para que a Gestão do Conhecimento em projetos, seja disseminada

e progressiva nas organizações.

É oportuno registrar que, mesmo com sistemas, métodos, procedimentos e estruturas

organizacionais identificadas como influenciadores positivos para a Gestão do

Conhecimento, a cultura organizacional, comunicação e a maturidade dos processos

foram percebidas como influenciadores que merecem atenção por exigirem constante

atuação de seus gestores para não se tornarem influenciadores negativos,

necessitando intervenções maiores no processo para a geração e compartilhamento

do conhecimento.

Como fatores influenciadores negativos, que são aqueles que apresentam

componentes dificultadores para a gestão do conhecimento em projetos, em comum

nas organizações pesquisadas, encontrou-se a resistência à cultura documental, não

priorização da gestão do conhecimento, falta de integração entre as áreas envolvidas

no projeto e rotatividade de pessoal, como pode ser observado no Quadro 42:

Quadro 42 - Fatores influenciadores na GC consolidados - dificultadores

Fatores influenciadores

Influência

Resistência à cultura documental Na organização, manuseio e arquivamento dos documentos

Não priorização da gestão do conhecimento Na recuperação, criação, compartilhamento e arquivamento do conhecimento

Falta de integração entre as áreas envolvidas no projeto

No cumprimento dos prazos previstos nos cronogramas de atividades dos projetos

Rotatividade de pessoal Na preservação de informações e conhecimentos difundidos nos projetos

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

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A quantidade de fatores influenciadores dificultadores, identificados e consolidados na

análise, é inferior ao número de fatores facilitadores, como pode ser observado.

Entretanto, a intensidade e a frequência com que foram observados considerou-se

relevante

A resistência à prática de documentar, manter atualizada e consultar a documentação

de projeto, faz com que o conhecimento se concentre nas pessoas da organização,

de maneira que elas sejam sempre acessadas por aqueles que necessitam do seu

conhecimento para aplicar nas atividades do projeto.

A não priorização da gestão do conhecimento nos projetos, frente às demandas

diárias também foi um fator dificultador encontrado nas empresas pesquisadas. É

oportuno esclarecer, todavia, que não se afirma que as organizações pesquisadas

não acreditem que a gestão do conhecimento seja uma atividade importante. As

atividades diárias da operação de uma organização, assim como as rotinas de um

projeto, são priorizadas em relação às atividades de gestão do conhecimento. Lício

(2005), colabora na discussão dessa dificuldade quando se comercializa um projeto.

Apesar de importante equalizar o conhecimento entre os profissionais do projeto,

quando pessoas são deslocadas para trabalhar em atividades internas ou de rotina

fora do projeto, essas horas de alocação são perdidas pois não são pagas pelo cliente

e sim absorvida organização.

Leiponen (2006), citado por Taminiau, Smit e Lange (2009), também discute esse

paradoxo dificultador no contexto do compartilhamento de conhecimentos, que diz que

por um lado há falta de atenção para a importância desse processo, mas por outro

lado os gestores percebem a necessidade e urgência do compartilhamento.

A falta de integração entre as áreas, na execução dos projetos, dificulta o

compartilhamento de conhecimento, conforme observado nas empresas pesquisadas.

Fenômeno que ocorre, tanto para aqueles que possuem unidades em diferentes

localidades, assim como nas organizações com escritório central. A conclusão de uma

atividade, desenvolvida por um profissional, era informada para o próximo profissional

a executar o serviço, entretanto, esse profissional ainda estava desenvolvendo outras

atividades.

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Por sua vez, a rotatividade de pessoal dificulta o acúmulo de conhecimentos ao longo

do tempo na organização e causa perda de eficiência nos projetos, porque, quando

há saída de um profissional do projeto é necessário investir tempo para ensinar às

novas pessoas da equipe, e o que aquela pessoa sabia de forma a dar continuidade

ao projeto. Para Dunford (2000), quando uma pessoa deixa a organização, uma

massa de conhecimentos sai diretamente pela porta com ela.

Práticas de Gestão do Conhecimento – intraprojeto

As práticas intraprojeto, ou seja, aquelas que são realizadas ao longo de um projeto,

foram consolidadas no Quadro 43. O detalhamento de cada prática ocorreu no estudo

de cada caso. Apenas os pontos mais relevantes são retomados.

Quadro 43 - Práticas de GC intraprojeto consolidadas

INTRAPROJETO

Recuperação

Criação/Aquisição

Compartilhamento

Armazenamento

• Registros de projetos anteriores (histórico, lições aprendidas)

• Comitês de conclusão e reuniões de início de projetos

• Sistema de gestão de projetos online

• Gestor e colaborador de projetos experientes

• Passagem de “bastão” entre as etapas na célula de trabalho

• Procedimentos operacionais

• Diretrizes da Diretoria

• Planejamento do projeto

• Detalhamento do plano do projeto

• Treinamentos • Participação de

especialistas (internos e externos) em novos produtos

• Fóruns criados pelo EGP

• Reuniões técnicas

• Planejamento do projeto (Termo de Abertura do Projeto)

• Status Report – acompanhamento do estado do projeto

• Disponibilização do projeto no sistema para consulta e acompanhamento

• Treinamentos (on the job)

• Comunicações com os clientes

• Conversas informais • Pesquisa de satisfação • Fórum de lançamento

do projeto • Kickoff com a presença

do cliente • Interação com o cliente • Interação com equipe

de execução física

• Templates desenvolvidos e adotados como default (padrão)

• Registro de lições aprendidas de acordo com os projetos

• Materiais disponibilizados na rede sobre o projeto

• Membros da equipe • Gestores do projeto e

do Escritório de Projetos

• Relatório final • Materiais gerados no

projeto • Memórias das

reuniões registradas no sistema de gestão

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

Percebe-se que algumas práticas se repetem nas organizações, modificando-se a

nomenclatura e, por isso, foram suprimidas do quadro consolidado. Junto às práticas

comuns, provenientes, em parte, pelo uso das melhores práticas difundidas pela

Associação de Projetos PMI (Project Management Institute), observam-se iniciativas

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ainda embrionárias. Apesar de contar com tempo de existência das organizações

pesquisadas.

Uma prática de recuperação do conhecimento adotada é o registro do histórico de

outros projetos. Esses materiais podem ser propostas com especificações técnicas de

um determinado cliente, estrutura analítica do projeto (EAP), cronograma, relatório

final, dentre outros.

Outra prática observada nas organizações foi a utilização de profissionais experientes

na recuperação de conhecimentos em projetos. O apoio de profissional experiente foi

identificado também nos estudos de Hanisch et al. (2009) que apontaram que a

consulta aos especialistas pode ser feita em uma fase do projeto ou em uma atividade

específica. A consulta a materiais de referência nessa pesquisa – registros de

projetos, procedimentos operacionais –, também foram observados pelos autores

citados.

O estudo de Hanisch et al. (2009) também apresentou a prática de busca de lições

aprendidas e erros típicos, além de melhores práticas ocorridas na gestão dos

projetos. Na presente pesquisa, essa prática foi observada quando os entrevistados

relataram o registro dessas lições no sistema de gestão de projetos de suas

respectivas organizações. Constam, no anexo um, exemplo dos sistemas utilizados

pelas empresas.

Práticas de Gestão do Conhecimento – interprojetos

As práticas interprojetos identificadas nos casos foram consolidadas no Quadro 44.

Os detalhamentos de como tais práticas são utilizadas em cada organização foram

feitos em seus respectivos estudos de casos. O quadro abaixo apresenta apenas os

pontos consolidados dos quatro casos estudados.

Quadro 44 - Práticas interprojetos de GC consolidadas

Armazenamento / recuperação Criação/Aquisição Compartilhamento

• Metodologia de Gerenciamento de Projetos

• Escritório de Gerenciamento de Projetos (EGP)

• Sistema de registro dos projetos

• Rituais periódicos de acompanhamento

• Procedimentos Operacionais • Caracterizações dos

empreendimentos

• Comunicações estruturadas • Comunicações informais • Produção de material de apoio a

projetos (modelos)

Fonte: Elaborado pelo autor, 2017.

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No caso das práticas interprojetos, os processos de armazenamento e recuperação

foram agrupados por serem muito relacionados – o que se faz para armazenar é muito

próximo do que se faz para recuperar conhecimentos. A gestão interprojetos, nas

quatro organizações pesquisadas, preserva as mesmas características das práticas

intraprojetos.

A documentação produzida na metodologia de gerenciamento de projetos – “como

fazer” projetos na organização – é uma prática que facilita o armazenamento e a

recuperação do saber da organização sobre as melhores práticas para desenvolver

projetos dentro do contexto da empresa e a recuperação desse conhecimento pelas

equipes envolvidas nas atividades do projeto.

Percebeu-se que o Escritório de Gerenciamento de Projetos, mesmo em fases

embrionárias, apesar de contar com lideranças experientes, apoio da diretoria,

documentação dos procedimentos e rotinas de gestão dos projetos, apresenta

práticas de gestão do conhecimento entre os projetos que requerem maior rigor no

controle das atividades, para minimizar riscos no armazenamento e recuperação,

criação e aquisição, assim como também no compartilhamento do conhecimento.

Segundo Shinoda (2012) é oportuno lembrar que para ser conhecimento, muitas

vezes os documentos precisam ser contextualizados, de forma que é necessário que

uma pessoa que fez parte do projeto explique o material para que ele faça sentido.

Em todos os casos estudados, esses documentos encontram-se na rede de arquivos

existentes, organizados de acordo com a estrutura de gestão adotada por cada uma

das quatro organizações pesquisadas.

Na comparação das práticas interprojetos mapeadas com estudos anteriores,

percebem-se algumas semelhanças. No processo de armazenamento/recuperação, o

estudo de Shinoda (2012) identificou a documentação de métodos e ferramentas de

como realizar projetos, que pode ser comparável à prática de metodologia de

gerenciamento de projetos mapeado nesta pesquisa. A prática de registrar os projetos

em sistemas, também foi citada por Hanisch et al. (2009), Lício (2005) e Prencipe et

al. (2005).

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No processo de aquisição do conhecimento, Prencipe et al. (2005) indicam os “retiros”

do conhecimento que, apesar dos autores não detalharem no que consiste

exatamente essa prática, pode-se supor, com base na definição de Nonaka e

Takeuchi (1995) quando dizem que a criação do conhecimento organizacional se

realiza por meio de conversões do conhecimento tácito em conhecimento explícito e

ocorre em quatro estágios - socialização, externalização, combinação, internalização

– que guarda relação nessa alternância de estágios, conforme ciclo em espiral de

continuidade ilimitada.

No processo de compartilhamento, as comunicações informais, produção de materiais

de apoio, comunicações estruturadas, desenvolvidas via intranet, murais e reuniões,

aproximam-se das reuniões interprojetos tratadas por Prencipe et al. (2005) e da

transferência experiencial para outros times de projetos identificadas por Hanisch et

al. (2009).

Apesar de semelhanças apresentadas, a comparação com estudos anteriores no que

se refere às práticas interprojetos também apresentam diferenças. No caso do

processo de armazenamento/recuperação, o estudo de Taminiau, Smit e Lange

(2009) cita práticas de documentos de casos, que não foram identificados nas

organizações estudadas, nessa pesquisa.

Observou-se, que as organizações pesquisadas realizam treinamentos para formação

e aprimoramento do conhecimento dos profissionais recém contratados e alocados

nos projetos. Para profissionais experientes e há mais de um ano nas organizações,

de acordo com o grau de complexidade dos projetos, alguns treinamentos externos,

como MBA, pós-graduações e outros são ofertados no Brasil e exterior, prática de

aquisição também relatada por Lício (2005).

Em relação ao compartilhamento interprojetos, as práticas são tanto formais, quanto

informais. Hanisch et al. (2009), identificaram a prática de avaliar sinergias entre

projetos paralelos que também foi observado nessa pesquisa, quando as

organizações realizam reuniões de início dos projetos e fazem uma análise geral dos

resultados e lições aprendidas com o objetivo de obter conhecimentos produzidos

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pelos projetos anteriores – histórico - com características de gestão e

desenvolvimento do produto/serviço similares.

As organizações pesquisadas ainda, utilizam recursos humanos alocados em mais de

um projeto, o que permite, segundo entrevistados, alinhamento entre os projetos que

são desenvolvidos simultaneamente. Duas organizações pesquisadas, possuem

unidades distribuídas em várias cidades e a distância física torna-se, agravante

quanto ao custo de deslocamento e a possível necessidade de adaptar a linguagem

e o sentido de urgência para a alocação dos recursos compartilhados entre os

projetos.

No que diz respeito ainda ao compartilhamento, Huysman e Wit (2004), apontam para

uma segunda onda de gestão do conhecimento em que o compartilhamento de

conhecimentos ganha destaque. A primeira onda estaria mais focada em aquisição,

troca e criação de conhecimento mais no âmbito individual, com o apoio de tecnologia

e introduzido pela administração. Já na segunda onda, o coletivo ganha destaque,

assim como o compartilhamento de conhecimentos tácitos.

Wang e Noe (2010), em seu estudo, a partir do levantamento na literatura sobre o

tema, aponta como benefícios de compartilhar conhecimentos: contribuir para a

aplicação do conhecimento, inovação e vantagem competitiva das organizações;

permite explorar e capitalizar os recursos baseados em conhecimento; reduz os

custos de produção e o tempo de desenvolvimento de projetos de novos produtos;

melhora o desempenho da equipe de projetos e da organização.

Ganguly, Mostashari e Mansouri (2011) também destacam alguns benefícios do

compartilhamento com base em estudos anteriores: aumenta a base de conhecimento

organizacional, estimula a criação de novos conhecimentos, estimula a inovação,

permite o aumento da capacidade de trabalho individual e o desempenho de time.

Percebe-se, de forma interessante, que entre os benefícios de compartilhamento

apontados pelos autores, está o estímulo a criação de conhecimentos.

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Os benefícios do compartilhamento, citado pelos autores, ajudam a entender o motivo

dessas práticas serem numerosas e diversificadas, não representando sobreposição

frente aos demais processos de Gestão do Conhecimento.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Gestão do Conhecimento é um dos principais temas emergentes para os próximos

anos, e que possui baixa incorporação nas organizações brasileiras (PROGEP-FIA,

2011). Em organizações projetizadas existem desafios adicionais à Gestão do

Conhecimento. Estes desafios são provenientes da própria natureza dos projetos.

Um projeto, segundo definições do PMI (2013), é um esforço temporário empreendido

para criar um produto, serviço ou resultado exclusivo. Percebe-se que a temporalidade

- término definido - e a singularidade - resultado exclusivo - são elementos essenciais

para a definição de projeto. Para Hanisch et al. (2009), esses dois aspectos são um

grande obstáculo para a aprendizagem organizacional em ambientes projetizados,

sendo importante a estruturação de processos que assegurem o conhecimento de

projetos para a empresa, de um modo geral.

Esses obstáculos são comentados ainda por Koskinem e Pihlanto (2008), que se

baseiam em autores diversos para apontar algumas fraquezas identificadas em

empresas projetizadas, dentre elas, falha em trazer desenvolvimento e aprendizagem

no nível organizacional, dificuldade de conectar os projetos aos processos de negócio

da organização e falta de tempo para reflexão durante a implementação dos projetos

devido a cronogramas excessivamente otimistas.

Tendo em vista esse contexto, o objetivo geral deste estudo foi investigar como ocorre

a Gestão do Conhecimento em projetos realizados em organizações brasileiras. Para

isso, foram construídos objetivos específicos de “mapear conhecimentos em projetos”,

“analisar a aplicação das práticas de gestão do conhecimento em projetos” e

“identificar e analisar fatores que influenciam as práticas de gestão do conhecimento

em projetos”.

Realizou-se levantamento na literatura para compreender o que já havia sido

pesquisado sobre o tema da Gestão do Conhecimento em Projetos. Foram

pesquisados conceitos e fundamentos. As definições e categorias pesquisadas

ajudaram a nortear a realização desta pesquisa, como segmentar os processos de

gestão do conhecimento em recuperação, aquisição, compartilhamento e

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armazenamento da Gestão do Conhecimento; categorizar suas práticas em intra e

interprojetos e organizar os fatores influenciadores que permitiram identificar

dificultadores e facilitadores.

Percebeu-se que há poucos estudos no Brasil que analisaram o tema Gestão do

Conhecimento em projetos. E mesmo fora do país, o tema ainda está em fase de

desenvolvimento.

A abordagem empregada no método desta pesquisa foi qualitativa, o estudo orientado

ao processo e o foco esteve em entender comportamentos humanos na realização de

suas atividades em projetos, características identificadas por Martins e Theófilo

(2009). A natureza da pesquisa foi exploratória e descritiva. A pesquisa exploratória é

adequada quando a revisão da literatura revela que existem ideias vagamente

relacionadas com o tema de estudo, de forma que se intencionou pesquisar e ampliar

estudos anteriores (SHINODA, 2012). Descritiva porque teve como objetivo descrever

determinado fenômeno (LAKATOS, 2010) que, no caso, foi a Gestão do

Conhecimento em Projetos, a partir da identificação e mapeamento de conhecimentos

relevantes, fatores influenciadores e práticas de gestão do conhecimento em

organizações brasileiras projetizadas.

O método utilizado para conduzir a pesquisa foi o estudo de caso. A partir da definição

do método, elaborou-se um roteiro de perguntas – Apêndice B – com o objetivo de

obter informações dos entrevistados da forma mais próxima à realidade dos fatos

vividos por cada um nas organizações. Estruturou-se um modelo conceitual para

levantamento das práticas de Gestão do Conhecimento a partir dos processos de

Gestão do Conhecimento consolidados por Fleury e Fleury (2004) e da segmentação

em intra e interprojetos proposta por Kotnour (2000). Esse modelo pode ser

visualizado na Figura 7.

A partir da revisão da literatura, definição do método e elaboração do modelo

conceitual, quatro casos foram selecionados, respeitando-se os critérios de pesquisar

em organização projetizada, brasileira e de segmentos diferentes. As organizações

estudadas foram os Escritórios de Gerenciamento de Projetos da ATTPS Tecnologia,

Banco Bonsucesso, COPASA e CIT do SENAI.

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As fontes de dados utilizadas foram, entrevistas, observação direta e análise de

documentos das organizações. Pela comparação das semelhanças e diferenças entre

os casos, foi possível chegar aos resultados deste estudo, que serão discutidos, a

seguir, como conhecimentos relevantes, fatores influenciadores e práticas de Gestão

do Conhecimento.

Foram identificados e considerados relevantes para as organizações pesquisadas, os

conhecimentos de processos de gestão, o próprio negócio, documentação técnica,

experiência, comunicação, conhecimento técnico, estudo de viabilidade dos projetos

e modelo de gestão.

Grant (1996), reconhece que há diversos conhecimentos relevantes para a empresa,

mas não aponta quais poderiam ser esses conhecimentos. Os conhecimentos

identificados como relevantes nesta pesquisa, diferem de outros estudos (SHINODA,

2012), e não se afirmaria que esses conhecimentos seriam considerados relevantes

em qualquer organização, entretanto, auxiliam na ampliação de uma base de

referência, contribuindo com a identificação de conhecimentos relevantes no âmbito

da gestão do conhecimento em projetos.

Esse conhecimento está relacionado à gestão do projeto em si – conhecimentos

técnicos, documentação técnica e estudos de viabilidade dos projetos; ao negócio –

processos de gestão, modelo de gestão e o próprio negócio; e permeando a gestão

do projeto e o negócio, comum aos dois, a comunicação.

Em pesquisas anteriores (SHINODA, 2012), ressaltou-se, durante a coleta de dados,

a necessidade de entender a orientação do conhecimento nas organizações. Por

orientação do conhecimento, entende-se o aspecto que norteia as atividades

desenvolvidas no âmbito da organização, na gestão dos projetos e equipes de

projetos do Escritório de Gerenciamento de Projetos. Essa orientação está

relacionada com a importância de alguns tipos de conhecimento para a organização.

Para a ATTPS Tecnologia, por exemplo, a orientação do conhecimento é para os

processos de gestão. Existe a preocupação em ter os processos de gestão dos

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projetos documentados, equipes com informações compartilhadas e o conhecimento

mínimo definido pelos procedimentos operacionais e descrições de cargos, das

tarefas a serem executadas.

No Banco Bonsucesso, de forma similar, a orientação do conhecimento é para a

documentação técnica. Preocupa-se em manter os documentos atualizados, para

melhor utilização do conhecimento produzido pela organização em projetos

anteriores, porque o volume de projetos ocorrendo simultaneamente é considerado

um ponto de atenção. Assim sendo, a organização busca a melhoria contínua do seu

modelo de gestão, compartilhando conhecimento, preservando e ampliando as bases

de documentação técnica.

Com a COPASA, a orientação do conhecimento, por exemplo, na fase de implantação

da gestão de projetos na Companhia, era voltada para estudos de viabilidade dos

projetos, porque os recursos são finitos e os pedidos de projetos estavam em volume

superior ao recurso disponível. Com o decorrer do tempo, mantendo-se até 2015, uma

segunda prioridade na orientação do conhecimento foi a comunicação. Há uma

preocupação em manter o alinhamento das informações e melhorar o fluxo de

informações entre os membros dos projetos. A realização de obras em localidades

diferentes, em todo o Estado de Minas Gerais, reforça a importância da comunicação,

seguida dos demais conhecimentos identificados.

Para o CIT do SENAI, a orientação do conhecimento é para a gestão técnica dos

documentos administrativos e financeiros. A equipe administrativa e financeira

gerencia os projetos que são executados em outra unidade, por meio de uma

plataforma virtual – Anexo A – que mantem os registros atualizados e permite que

sejam administrados a partir de uma base única, mesmo que as equipes executoras

– equipes que desenvolvem os projetos de inovação e tecnologia – estejam em outras

unidades.

Os fatores influenciadores foram analisados individualmente e classificados, na

consolidação, como facilitadores e dificultadores. É interessante levar em conta os

fatores quando se deseja compreender o contexto organizacional e avaliar as práticas

de gestão que fazem mais sentido. Por exemplo, em uma organização de tecnologia,

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documentar seus processos de trabalho faz parte da sua estrutura, desde a criação.

O mesmo nível de registro de informações pode não ocorrer em uma empresa

prestadora de serviços.

É oportuno destacar os fatores influenciadores facilitadores identificados nesse

estudo, quais sejam, a estrutura organização, metodologia, sistema, segmento do

negócio e experiência. Muitos desses fatores, contribuem para criar um contexto

facilitador à Gestão do Conhecimento.

Entre os fatores dificultadores identificados, encontram-se a resistência à cultura

documental, não priorização da gestão do conhecimento, falta de integração entre as

áreas envolvidas no projeto e a rotatividade de pessoal. Esses aspectos, facilitadores

e dificultadores, estão relacionados entre si, e respectivamente à estratégia,

processos e pessoas.

Baseado em estudos de Kotnour (2000), adotou-se nesse estudo, segmentar as

práticas em intra e inter projetos para compreender as atividades de gestão do

conhecimento na gestão do projeto e entre os projetos do Escritório de Gerenciamento

de Projetos de cada organização pesquisada.

Percebeu-se que as práticas intra e inter projetos concentram-se no armazenamento

e compartilhamento de conhecimentos. Não foi possível localizar na literatura

justificativa para o armazenamento e o compartilhamento receberem maior ênfase do

que os demais processos. Foram encontrados estudos que apontavam para os

benefícios desses processos de Gestão do Conhecimento.

Destaca-se ainda, a dificuldade de classificar algumas práticas no processo de

criação. Quando ocorre o processo de combinação indicado por Nonaka e Takeuchi

(1997) , isso pode levar a criar novos conhecimentos. Entretanto, se apenas forem

somados dois conhecimentos de áreas separadas sem, contudo, ser gerado um novo

conhecimento, a prática leva ao compartilhamento e não à criação.

Por fim, o estudo de Hanisch et al. (2009) aponta algumas práticas que sugerem a

inclusão de um processo adicional ao modelo conceitual utilizado na presente

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pesquisa: a avaliação. Reconhece-se nessa pesquisa a importância de adotar este

processo para reforçar conceitos e procedimentos da GC nas organizações.

6.1 Conclusões

O problema de pesquisa proposto – como ocorre a Gestão do Conhecimento em

projetos realizados em organizações brasileiras – foi respondido neste estudo a partir

do mapeamento dos conhecimentos relevantes, análise dos fatores influenciadores e

análise da aplicação das práticas de gestão do conhecimento desenvolvidas nos

quatro escritórios de gerenciamento de projetos pesquisados.

Pode-se inferir como uma das principais conclusões após a realização da pesquisa

que o contexto organizacional favorável – e, neste sentido, o favorável seriam

processos estruturados, colaboradores capacitados e avaliados continuamente no

resgate, criação, compartilhamento e armazenamento – seria o ponto mais relevante

para o aprimoramento da gestão do conhecimento.

Outra observação, diz respeito a algum possível “destaque” quanto à Gestão do

Conhecimento. Conclui-se, neste trabalho, à semelhança de trabalhos anteriores

(SHINODA, 2012), que o aspecto importante do Conhecimento a ser gerenciado varia

conforme o contexto, isto é, de acordo com as características e objetivos de cada

projeto, mantendo como desafio a temporalidade e a singularidade dos projetos (PMI,

2013).

Foi possível observar também que a Gestão do Conhecimento contribui para a Gestão

de Projetos por meio da sistematização dos seus processos, e quando estruturada

formalmente, favorece o reaproveitamento de conhecimentos já possuídos,

provocando sensível aumento da eficiência e, consequentemente, do aprendizado.

Por outro lado, a gestão de projetos também beneficia a gestão do conhecimento por

ser uma prática em expansão que auxilia na solução de problemas e novos negócios.

Percebeu-se ainda que o tempo dedicado à Gestão do Conhecimento, em geral,

depende do volume de projetos e a escassez de recursos, pequeno. A solução

sugerida por Sabbag (2009) de incluir a Gestão do Conhecimento como uma das

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áreas de “Um Guia do Conhecimento em Gerenciamento de Projetos”, com o objetivo

de estimular a melhoria contínua desse processo está em vias de ocorrer, segundo a

sexta edição do PMBOK que será lançada (PMI, 2017).

Por fim, cabe destacar alguns aprendizados auferidos ao longo da pesquisa. A

presença de profissionais experientes na implantação e condução da metodologia de

gerenciamento de projetos, com liderança consolidada pelo aprendizado – sucesso e

insucesso – em outros projetos e empreendimentos, favorecem a preservação e

disseminação do Conhecimento nas organizações.

6.2 Limitações

Há que se apontar a amplitude do problema de pesquisa que demandou analisar as

organizações desde sua estratégia, cultura, estrutura, gestão de pessoas, processos

até fatores influenciadores e práticas de gestão do conhecimento. Evidenciou-se que

estudar a gestão do conhecimento demanda compreender o contexto da organização,

pois o impacto é direto na forma como se lida com o conhecimento.

Pode-se ainda relatar a limitação do método. O estudo de caso não permite

generalizar os resultados para outros contextos diferentes dos casos analisados. A

generalização teórica é possível quando se considerar como base para estudos

futuros os conhecimentos relevantes, fatores influenciadores e práticas de gestão do

conhecimento em projetos.

Por fim, e não menos relevante, há a limitação do pesquisador que não possui

recursos para analisar todos os aspectos envolvidos no fenômeno complexo da

gestão do conhecimento. Os apontamentos e discussões com o orientador

minimizaram esse limite.

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6.3 Recomendações para estudos futuros

Pode-se testar a hipótese, em estudos futuros, de que as organizações percebem

como benefícios, práticas de gestão intra e inter projetos, apenas o armazenamento

e compartilhamento dos conhecimentos, comparando-os com recuperação e

criação/aquisição.

A gestão de projetos está estruturada em dez áreas do conhecimento (PMI, 2013):

gerenciamento da integração, escopo, tempo, custos, qualidade, recursos humanos,

comunicações, riscos, aquisições e partes interessadas do projeto. Como

recomendação para estudos futuros, dentre outros tantos, podem-se aplicar os

mesmos itens de observação dessa pesquisa – conhecimentos relevantes, fatores

influenciadores, práticas intra e interprojetos – por área do conhecimento.

Por fim, seria interessante ainda explorar por área de conhecimento na gestão de

projetos, utilizando métodos quantitativos, bem como comparar as práticas

identificadas com empresas que sejam referência – em seu segmento e/ou no

mercado de um modo geral. É possível ainda estudar apenas um dos processos

abordados nesta pesquisa: recuperação, criação, compartilhamento e

armazenamento.

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APÊNDICE A – Protocolo dos Estudos de Caso

Dados de identificação do estudo

Título da dissertação: “Gestão do Conhecimento em projetos: um estudo de

múltiplos casos em organizações brasileiras”

Período da coleta de dados: setembro/2016 a dezembro/2016

Estudos de casos: 3 a 5 (mínimo e máximo)

Dados básicos de caracterização das organizações

Setor

Fundação

Localização das unidades

Existência de área de Gestão do Conhecimento

Tipos de projetos

Critérios de escolha das organizações

Origem brasileira

Organização projetizada

Pertencente a setores diferentes – as empresas não devem atuar no mesmo setor

Critérios para entrevista

Entrevistado, em cada organização, deve ter no mínimo um ano na organização

Entrevistado deve ser de cargo de liderança – coordenação, gerência, consultoria,

superintendência, diretoria

Entrevistado deve ser da área responsável pelo gerenciamento de projetos da

organização

Possíveis fontes de evidências

Entrevistas – entender a importância, mapear conhecimentos relevantes,

principais fatores influenciadores e conhecimentos relevantes

Observação direta – observação do local de trabalho, observação da relação entre

as pessoas

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Documentos – site institucional, materiais corporativos, notícias na internet sobre

a empresa

Trabalho de campo

Procedimento para coleta de dados – agendamento de entrevistas por email, com

envio do escopo para o entrevistado, realização da entrevista, reunião de

documentos fornecidos pelo entrevistado, análise do conteúdo, transcrição,

redação, ajustes finais, análise conjunta, retorno à literatura para discutir os

resultados

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APÊNDICE B – Roteiro de entrevistas

Visão geral da organização

1. Qual a origem da organização?

2. Quais os principais produtos/serviços?

3. Como a organização está estruturada?

Características dos projetos

4. Que tipos de projetos são realizados na organização?

5. Como os profissionais estão alocados?

6. Qual a duração média dos projetos?

7. Características dos projetos.

Desenvolvimento da Gestão do Conhecimento

8. Quais conhecimentos são considerados relevantes para a organização?

9. Como é feita a Gestão do Conhecimento na organização?

10. A Gestão do Conhecimento é formalizada? Existem processos definidos?

11. Como foi o processo de desenvolvimento da Gestão do Conhecimento?

Estratégia, estrutura, papéis e cultura

12. Existe alguma menção explícita referente à Gestão do Conhecimento na

estratégia da organização?

13. A alta gestão apoia iniciativas de Gestão do Conhecimento? Se sim, de que

forma?

14. Existe uma área de Gestão do Conhecimento na organização?

15. Como acontece o acesso, transferência, troca e armazenamento de conhecimento

entre unidades da organização?

16. Como a cultura da organização influencia a Gestão do Conhecimento? (Fatores

influenciadores da gestão do conhecimento).

17. Existe tempo para a Gestão do Conhecimento?

18. A cultura de Gestão do Conhecimento é disseminada na organização? De que

maneira?

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Processos

19. Existem processos formais de Gestão do Conhecimento na organização? Se sim,

quais e como se configuram.

20. Existem informações dos projetos, consideradas confidenciais para os

funcionários? Se sim, como é o processo e essas informações?

21. Existe um sistema tecnológico de Gestão do Conhecimento na organização?

ERP, portal, intranet.

22. É realizada uma avaliação de como é feita a Gestão do Conhecimento na

organização?

Práticas

23. No contexto de um projeto, quais são as práticas/atividades realizadas para:

o Recuperar conhecimentos de projetos anteriores?

o Gerar novos conhecimentos?

o Compartilhar conhecimentos entre as pessoas da equipe?

o Armazenar os conhecimentos gerados?

o Em um contexto mais amplo – programas e portfólios – como ocorre a

recuperação, geração, compartilhamento e o armazenamento de

conhecimento nos projetos?

24. Em sua opinião, quais os fatores presentes na Organização que facilitam ou

dificultam as práticas de Gestão do Conhecimento acontecerem?

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ANEXO A – Tela inicial dos sistemas de gestão de projetos

Figura 08 – Anexo

Figura 9 – Anexo

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ANEXO B – Tela do sistema de recuperação de informações

Figura 10 - Anexo