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26 Revista Contabilidade & Finanças - USP Armando Catelli Cláudio Parisi Edilene Santana Santos Revista Contabilidade & Finanças - USP, São Paulo, n. 31, p. 26 - 44, janeiro/abril 2003 RESUMO Num ambiente global de intensas mudanças com- petitivas, a mensuração dos ativos, especificamente dos ativos fixos, requer a superação da rigidez dos custos históricos e da depreciação linear, próprios da contabi- lidade tradicional, e a adoção de critérios que permi- tam avaliar adequadamente a realidade econômica desses ativos. Partindo da premissa de que o patrimônio líquido deve representar o valor da empresa, e de que sua variação expressa o resultado econômico, o Siste- ma de Gestão Econômica – Gecon conceitua e mensura os ativos fixos pelo valor presente dos seus benefícios futuros para a empresa. Como sistema de gestão voltado para decisões econômicas, o Gecon explicita um modelo de decisão para o evento investi- mento em ativos fixos. Nessa decisão são considera- dos os custos diretos dela decorrentes, bem como os benefícios econômicos resultantes do uso do ativo fixo pela empresa, mensurados pelo seu custo de oportu- nidade. Considerando a empresa como conjunto de áreas de responsabilidade conceituadas como centros de resultado, o Gecon identifica a contribuição de cada área envolvida na decisão para a obtenção do resulta- do econômico do investimento e, portanto, para o re- sultado da empresa. O fluxo de resultados do investi- mento é gerenciado durante toda a sua vida útil, desde o momento da tomada de decisão inicial até o momen- to final da decisão de desativação ou desinvestimento. Palavras-chave: ativo fixo, investimento, gestão eco- nômica, custo de oportunidade, contabilidade gerencial. ABSTRACT In a global environment that is going through intense competitive changes, the measurement of assets, specifically fixed assets, makes it necessary to overcome the rigidity of historical costs and straight- line depreciation, characteristic of traditional accounting, and to adopt criteria that allow for the adequate evaluation of the economic reality of these assets. Starting from the premise that net equity must represent company value and that its variation expres- ses economic income, the Economic Management System – Gecon – conceptualizes and measures fixed assets by the present value of their future benefits for the company. As a management system directed towards economic decisions, Gecon formulates a decision model for the investment event in fixed assets. In this decision, the resulting direct costs are considered, as well as the economic benefits that result from the use of the fixed asset by the company, which are measured at their opportunity cost. Considering the company as a set of responsibility areas that are conceived as result centers, Gecon identifies the contribution of each area involved in the decision to the economic income of the investment and, consequently, to company income. The income flow of the investment is managed throughout its useful life, from the initial decision-making moment until the final moment of the deactivation or divestment decision. Keywords: fixed asset, investment, economic management, opportunity cost, management accounting. Armando Catelli Professor Doutor do Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA/USP Fundador e coordenador do Núcleo GECON Cláudio Parisi Professor de pós-graduação da FECAP Mestre e Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USP Pesquisador do Núcleo GECON. Edilene Santana Santos Professora das Faculdades IBMEC Recebido em 07.01.2002 Aceito em 18.02.2003 2ª Versão 12.03.2003 GESTÃO ECONÔMICA DE INVESTIMENTOS EM ATIVOS FIXOS 1 1 Artigo originalmente apresentado no VI Congresso Internacional de Custos. Braga, Portugal, 17.09.1999.

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RESUMO

Num ambiente global de intensas mudanças com-petitivas, a mensuração dos ativos, especificamente dosativos fixos, requer a superação da rigidez dos custoshistóricos e da depreciação linear, próprios da contabi-lidade tradicional, e a adoção de critérios que permi-tam avaliar adequadamente a realidade econômicadesses ativos. Partindo da premissa de que o patrimôniolíquido deve representar o valor da empresa, e de quesua variação expressa o resultado econômico, o Siste-ma de Gestão Econômica – Gecon conceitua emensura os ativos fixos pelo valor presente dos seusbenefícios futuros para a empresa. Como sistema degestão voltado para decisões econômicas, o Geconexplicita um modelo de decisão para o evento investi-mento em ativos fixos. Nessa decisão são considera-dos os custos diretos dela decorrentes, bem como osbenefícios econômicos resultantes do uso do ativo fixopela empresa, mensurados pelo seu custo de oportu-nidade. Considerando a empresa como conjunto deáreas de responsabilidade conceituadas como centrosde resultado, o Gecon identifica a contribuição de cadaárea envolvida na decisão para a obtenção do resulta-do econômico do investimento e, portanto, para o re-sultado da empresa. O fluxo de resultados do investi-mento é gerenciado durante toda a sua vida útil, desdeo momento da tomada de decisão inicial até o momen-to final da decisão de desativação ou desinvestimento.

Palavras-chave: ativo fixo, investimento, gestão eco-nômica, custo de oportunidade, contabilidade gerencial.

ABSTRACT

In a global environment that is going through intensecompetitive changes, the measurement of assets,specifically fixed assets, makes it necessary toovercome the rigidity of historical costs and straight-line depreciation, characteristic of traditionalaccounting, and to adopt criteria that allow for theadequate evaluation of the economic reality of theseassets. Starting from the premise that net equity mustrepresent company value and that its variation expres-ses economic income, the Economic ManagementSystem – Gecon – conceptualizes and measures fixedassets by the present value of their future benefits forthe company. As a management system directedtowards economic decisions, Gecon formulates adecision model for the investment event in fixed assets.In this decision, the resulting direct costs areconsidered, as well as the economic benefits that resultfrom the use of the fixed asset by the company, whichare measured at their opportunity cost. Consideringthe company as a set of responsibility areas that areconceived as result centers, Gecon identifies thecontribution of each area involved in the decision tothe economic income of the investment and,consequently, to company income. The income flow ofthe investment is managed throughout its useful life,from the initial decision-making moment until the finalmoment of the deactivation or divestment decision.

Keywords: fixed asset, investment, economicmanagement, opportunity cost, management accounting.

Armando CatelliProfessor Doutor do Departamento de Contabilidade e Atuária da FEA/USPFundador e coordenador do Núcleo GECON

Cláudio ParisiProfessor de pós-graduação da FECAPMestre e Doutor em Controladoria e Contabilidade pela FEA/USPPesquisador do Núcleo GECON.

Edilene Santana SantosProfessora das Faculdades IBMEC

Recebido em 07.01.2002 • Aceito em 18.02.2003 • 2ª Versão 12.03.2003

GESTÃO ECONÔMICA DE INVESTIMENTOS EM ATIVOS FIXOS1

1Artigo originalmente apresentado no VI Congresso Internacional de Custos. Braga, Portugal, 17.09.1999.

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1. INTRODUÇÃO

Em 1993 a empresa Pratt & Whitney, uma dasmaiores fabricantes de motores de aviões do mundo,contratou consultores japoneses para renovar os seusprocessos industriais. Um dos resultados da introdu-ção do novo processo de “produção enxuta” foi quevários equipamentos de alta tecnologia – entre osquais uma enorme máquina revestidora de pás deturbinas, de última geração, no valor de 80 milhõesde dólares – tiveram que ser abandonados, cedendolugar a outros, não tão sofisticados, mas que aumen-taram a produtividade, flexibilidade e lucratividade daempresa (Womack & Jones, 1998, p.165-208).

Alguns anos antes, como menciona PeterDrucker (1992, p. 205), a General Motors havia in-vestido “no mínimo 30 bilhões, talvez 40 bilhões dedólares em automação”, mas tal investimento, quetornaria sua linha de montagem mais eficiente, defato tornou-a menos flexível e seus custos de mão-de-obra, ao invés de se reduzirem, aumentaram para28%, contra 15% da Ford e 16% da Toyota nos Esta-dos Unidos (id. p. 220).

Ninguém poderá negar que nos dois exemplosacima os investimentos em ativos fixos foram prece-didos de cuidadosos procedimentos de avaliação emensuração. Mas tudo indica que tal análise não deveter considerado todos os aspectos relevantes de taisinvestimentos.

É evidente que o êxito ou fracasso de um investi-mento não pode ser atribuído exclusivamente ao seumétodo de mensuração. Contudo, os exemplos acimae muitos outros mostram que os sistemas demensuração se diferenciam pela capacidade maior oumenor de atingir, no processo de decisão empresarial,a realidade econômica subjacente, da qual dependeo sucesso ou o fracasso dos investimentos.

Nesse sentido, as deficiências da contabilidadede custos tradicional vêm sendo identificadas hámuitos anos, tendo sido até mesmo responsabi-lizadas pela perda de competitividade das empresasamericanas na década de 802 . Assim, em 1987,Johnson & Kaplan publicaram o hoje clássicoRelevance Lost, embora sua acuidade na crítica à

contabilidade tradicional não tenha sido pelos própri-os autores acompanhada de uma superação radicaldas deficiências que recuperasse satisfatoriamentea relevância perdida.3

Em 1990 Peter Drucker, ao projetar parâmetrosfuturos da administração, preconizou “uma nova con-tabilidade de manufatura, que seria melhor chama-da de ‘economia da manufatura’ [e que] difere radi-calmente da contabilidade de custos tradicional emseus conceitos básicos. Seu propósito é integrar amanufatura com a estratégia de negócios” (id. p. 202).

Dentro das mesmas preocupações, desde o finaldos anos 70, na Universidade de São Paulo, o Prof.Armando Catelli dirigia suas reflexões para a supe-ração das insuficiências da contabilidade de custostradicional diante das necessidades de informaçãoda gestão empresarial e da lógica do processodecisório. Como resultado de sua experiência comoexecutivo e consultor de empresas, unida a seu pen-dor de investigação, foram desenvolvidos, junto aoPrograma de Pós-Graduação em Controladoria eContabilidade da FEA/USP (Faculdade de Economia,Administração e Contabilidade da Universidade deSão Paulo), os princípios, conceitos e procedimen-tos do Sistema de Gestão Econômica – Gecon.

O intenso interesse dessa abordagem da conta-bilidade gerencial se mostra nos mais de 80 traba-lhos publicados até o presente, entre teses dedoutoramento e de livre docência, dissertações, li-vros e numerosos artigos científicos, bem como emcontínua atividade de consultoria empresarial.

Este trabalho, na linha da Gestão Econômica,parte da constatação de que no ambiente econômi-co atual, de crescente competitividade em escalaglobal e intensas mudanças tecnológicas e de mer-cado, a adequada mensuração dos ativos para to-mada de decisão empresarial exige a superação darigidez e estática dos conceitos contábeis tradicio-nais, baseados em custos históricos e depreciaçãolinear.

Assim, este trabalho tem por objetivo apresentarprincípios e critérios de mensuração mais flexíveis erelevantes, que possam promover o gerenciamentoeficaz dos investimentos da empresa, particularmente

2Thomas Pryor escreveu em 1988 na Business Week: “A contabilidade de custos está afundando as empresas americanas. Se quisermos nos manter competitivos, temos que

mudar (nossos sistemas de custos).” (Apud Shank & Govindarajan, 1997, p.IX).

3Para uma abordagem crítica do ABC – Activity Based Costing, ver Catelli & Guerreiro (1994, p.322-328).

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em ativos fixos. Para tal, inicialmente, será mostradocomo os princípios do Gecon se aplicam a todas asatividades da empresa.

A visão da empresa, no seu todo, como investi-mento, não será aqui detalhada. Mas, os critérios deavaliação de ativos, adotados pela gestão econômica,são os mesmos que regem o mercado de capitais navaloração das empresas do ponto de vista do investi-dor, sobretudo a adoção do fluxo de caixa descontado .

Com efeito, como demonstraram os PrêmiosNobel Franco Modigliani e Merton Miller, é avaloração contábil das empresas sob critérios eco-nômicos – e, dentro de certos limites, não a suaestrutura financeira e de capital e nem sequer a dis-tribuição de dividendos – que representa o seu valorrelevante, o seu valor efetivo, de mercado:

“That [market] value, according to M&M[Modigliani & Miller] is determined solelyby corporate investment and operatingdecisions, by those ‘real decisions’ thatproduce the firms operating cash flows.(More precisely, the value of the firm wasformulated by M&M as the discountedpresent value of ‘future cash flows from thefirm present assets and future growthoppor tunities’ net of ‘the additionalinvestment necessary to initiate and sustainthose flows’)” (Chew, 1993, p. xii).

2. A GESTÃO ECONÔMICA DAEMPRESA

A Gestão Econômica busca, simultaneamente,contribuir para o desenvolvimento da ciência contábile responder às necessidades atuais das empresas,desenvolvendo uma visão metodologicamente con-sistente e abrangente, que enfoca a organização sobos aspectos operacional-estrutural, econômico egerencial de suas atividades. Procura, desse modo,recuperar a relevância da informação contábil medi-ante a tradução de princípios teóricos rigorosos emmodelos praticáveis pelos gestores das empresas.

Como sistema gerencial, a Gestão Econômicase caracteriza por uma visão holística da empresa,pela mensuração por conceitos econômicos de mer-cado e pelo enfoque na gestão de negócios, centradanas decisões tomadas em cada evento empresarial.

2.1 A Empresa como Sistema

A visão holística consiste na visão da empresacomo um todo sistêmico, composto de elementosinterdependentes e integrados na busca de um ob-jetivo comum: a eficácia da organização. Essa vi-são contrasta com a visão linear e funcionalistatradicional do taylorismo, que dividia as empresasem unidades compartimentadas, estruturadas porum comando centralizado. Na visão sistêmica, astradicionais áreas funcionais são consideradas nassuas interações entre si e com o ambiente, medi-ante os subsistemas que compõem o todosistêmico da organização.

“Através do desempenho de suas fun-ções, a empresa encontra-se em um pro-cesso interativo contínuo com o meioambiente, obtendo recursos, transforman-do-os em produtos e atendendo aos seusobjetivos. Esse processo desenvolve-sea par t i r da interação entre seussubsistemas, ou seja, as pessoas(subsistema social), condicionadas pordeterminados princípios (subsistemainstitucional), ocupando determinadospostos com autoridade e responsabilida-de pré-definidas (subsistema formal), to-mam decisões (subsistema de gestão)sobre recursos (subsistema físico), utili-zando informações (subsistema de infor-mação), para que a empresa alcance seuobjetivo” (Guerreiro, 1989, p.154).

Desse modo, todas as atividades da empresa sãoconsideradas sistêmicas, consistindo em interaçõesentre os diversos subsistemas da empresa.

Assim, a compreensão do sistema não podeser obtida mediante a análise de suas partes se-paradamente.

“Com efeito, não é da mera soma das partesque se constitui o sistema, mas sim, dasconexões e interações entre os seus elemen-tos, das quais resulta para o conjunto algode novo e único, que não está contido emcada uma de suas partes isoladamente.A abordagem sistêmica tem, portanto, comoponto de partida, esse resultado novo quesurge da interação dos elementos do siste-

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ma. É a partir do todo, resultante da integraçãodas partes, que essas mesmas partes po-dem ser conceituadas e identificadas nassuas diversas funções e interações” (Santos& Ponte, 1998, p.708).

A Gestão Econômica, dentro da visão sistêmica,considera a empresa como um conjunto orgânicode áreas de responsabilidade, cujos gestores to-mam decisões com vista ao resultado global daorganização. As áreas de responsabilidade, quepodem ou não coincidir com as tradicionais áreasfuncionais, são consideradas centros de resulta-do, contribuindo para a formação do resultado dotodo sistêmico.

A visão sistêmica se aplica igualmente àconceituação dos ativos, em particular dos ativos fi-xos, objeto deste trabalho.

Assim, não só o conceito genérico de ativo fixo,

como cada elemento concreto integrante do ativo,como uma máquina ou um imóvel, só pode sercompreendido em função do que representa parao todo sistêmico da empresa. Os ativos fixos, comoelementos do subsistema físico da empresa, sãoconsiderados nas suas interações com os outrossubsistemas, mediante as quais são valorados. Otipo de imóvel, sua localização, as máquinas eequipamentos, certamente representam maior oumenor importância ou valor, na medida em que con-tribuem para a consecução dos objetivos do tododa empresa, para a realização de sua missão, parasuas estratégias de produtos e mercados, para asdecisões das pessoas envolvidas em razão deseus cargos e funções, e muitas outras interaçõessistêmicas.A Figura 1 representa o sistema em-presa, seu fluxo produtivo e respectivos ativos dosubsistema físico, em interação com os demaissubsistemas e com o macro-sistema ambiental4.

Será a seguir examinada a adoção de critérios econômicos de mercado na valoração do lucro e dos ativosna Gestão Econômica.

4 “Neste contexto, o subsistema físico corresponde ao ferramental que pessoas (subsistema social), com determinada autoridade e responsabilidade (subsistema formal),

municiadas das informações necessárias (subsistema de informações) e condicionadas por determinados princípios (subsistema institucional), interagem no processo de

tomada de decisões (subsistema de gestão). Através da interação desses subsistemas são executadas as funções empresariais (compra, venda, finanças ,etc.), no sentido de

a empresa cumprir a sua missão” (Guerreiro, 1989, p.170-171).

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2.2 Mensuração por Critérios Econômicosde Mercado

Desde a década de 60, muito se tem discutidosobre a validade dos princípios adotados pela conta-bilidade na produção da informação. No final da déca-da de 80, Johnson & Kaplan (1987) em RelevanceLost, mostraram quão pouco se tem progredido nodesenvolvimento de conceitos e práticas contábeisadequadas à gestão dos negócios.

O foco principal da maioria das críticas efetuadasestá na falta de solidez dos princípios contábeisadotados. Como afirmam Hendriksen & Van Breda(1992, p. 126) o grande problema da ênfase dadapelo processo contábil e da estrutura dos relatóriosconvencionais é que termos contábeis, como lucrolíquido e receita, e métodos de mensuração, como ocusto histórico, têm pouco ou nenhum significado emrelação aos fenômenos do mundo real.

Para Philips (1963, p.697), a maioria dos proble-mas que os contadores têm para desenvolver práti-cas contábeis julgadas sólidas está no inevitável con-flito decorrente da necessidade de números que se-jam ao mesmo tempo realísticos e objetivamentemensuráveis.

Consciente dessa tensão constante entre a ob-jetividade e relevância da mensuração contábil, a Ges-tão Econômica adota os critérios que, simplesmente,vigoram no mundo econômico e que incorporam tan-to a objetividade refletida nas transações que criamriqueza efetiva, como os aspectos de subjetividade eprojeções sobre o futuro, inerentes a todos os relaci-onamentos humanos, em particular aos negócios.

Desde o início dos esforços de se medir a rique-za, a economia e a contabilidade se concentraramnas mudanças patrimoniais dos empreendimentos,como já consta nos inventários e balanços antigos.Assim, já em 1546, Gottlieb “usou uma demonstra-ção resumida5 (ativos à esquerda e passivos e capi-tal anterior à direita) para mostrar que a diferençaentre os totais é o cálculo do lucro, o qual quandoadicionado ao lado menor produz novos totais iguais”.Tratava-se, com efeito, de um dos primeiros balan-ços conhecidos (Litleton & Zimmerman, 1962, p.78).

Desde as origens até hoje, como destacou IrwingFisher, o capital é considerado um estoque de ri-queza e o lucro um fluxo de benefícios gerados pelocapital. Adam Smith e, mais recentemente, Hicksconsideram tais benefícios como lucro apenas namedida em que excedam o valor de manutençãodo capital.6

A questão surge na medida em que a contabilida-de, pressionada pelos conceitos de lucro distribuívele tributável, se concentra em critérios conservado-res e objetivos que mensuram o patrimônio pelosvalores nominais do custo histórico, reconhecendoganhos e lucros apenas quando realizados pela ven-da. Restringe-se, assim, a capacidade de mensurar,tanto o fluxo de benefícios que constitui o lucro, comoo valor do patrimônio, do capital da empresa, comofonte desses benefícios. Esse desvirtuamento emnome da objetividade conduz a informações que seafastam da realidade – perdendo justamente a obje-tividade – capazes, por exemplo, de produzir perfispatrimoniais de empresas com valor muito superiorao que lhes é atribuído pelo mercado de capitais.

A Gestão Econômica, como visão de negócios,adota os critérios econômicos de mercado para amensuração do lucro e do valor do patrimônio daempresa. Tais valores são inseparáveis, uma vez queo lucro é o benefício gerado pelo patrimônio, alémdo necessário para manter esse patrimônio intacto eo patrimônio, por sua vez, é mensurado pelo fluxodos benefícios futuros que pode gerar, reduzidos aovalor presente.

Assim, comenta Guerreiro (1992, p.5):“Em termos econômicos, o lucro é vistocomo a quantia máxima que a firma podedistribuir como dividendos e ainda continu-ar tão bem ao final do período como esta-va no começo. Continuar tão bem, econo-micamente falando, é interpretado comomanter o capital intacto em termos do va-lor descontado do fluxo de recebimentoslíquidos futuros. O lucro econômico é gera-do, portanto, assim que exista um aumen-to no patrimônio líquido. Por outro lado, paramensurar o lucro como incremento do

5 Demonstração resumida é uma tradução livre para summary account.

6 Ver Irving Fisher, apud Hendriksen & Van Breda (1992, p.279-283). Ver também Guerreiro (1989, p.185-187).

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patrimônio líquido é necessária a avaliaçãode todos os ativos da empresa com basenos recebimentos líquidos futuros espera-dos. O lucro é mensurado através do cres-cimento do patrimônio líquido originado pelamanipulação dos ativos. Sob esse prisma,os ativos de qualquer natureza são“recebíveis” esperados para fluir para a em-presa período a período”.

Do mesmo modo, Martins (1972, p.30) considera“o potencial de resultado econômico a verdadeira ca-racterização de um elemento como ativo, e não sóisso, considerâmo-lo como sendo ele próprio o realativo de uma entidade”.

Quadro 1 sintetiza as principais diferenças entreos critérios econômicos e os adotados tradicional-mente pela contabilidade.

Dentro dessa conceituação, todas as ativida-des da empresa até o nível mínimo das transações,

são efetuadas segundo critérios econômicos. Assim,todas as decisões dos gestores são escolhas entrevariáveis de mercado, tanto nas transações inter-nas como nas externas. Com efeito, o conceito delucro, como fluxo dos benefícios a partir dos ativosda empresa, não ocorre apenas na venda, mas égerado progressivamente, nas diversas fases do ci-clo produtivo, sendo mensurado na Gestão Econô-mica mediante transações entre as áreas de res-ponsabilidade, entre essas e o mercado, bem comopor impactos de alterações do ambiente sobre opatrimônio da empresa, independentes das deci-sões dos seus gestores, ou seja, os chamados im-pactos tempo-conjunturais7 .

Para mensurar os resultados progressivosdessas transações, a Gestão Econômica adotacritérios como preços de transferência baseadosno custo de oportunidade, cujo conceito passa-se brevemente a examinar, conforme Catelli &Santos (2001, pp. 6-8).

7Ver, sobre eventos tempo-conjunturais, Barros & Nossa (1998, 51-66).

Quadro 1: Lucro Contábil versus Lucro Econômico

LUCRO CONTÁBIL

Maior objetividade

Apurado pelo confronto entre receitas realizadas pelas vendas

e custos consumidos (ativos expirados).

Os ativos são avaliados na base de custos originais.

Ênfase em custos.

Os ganhos são reconhecidos apenas na realização pela venda.

Não se efetuam ajustes em função de mudanças nos níveis de

preços dos bens na economia.

Vinculação do lucro à condição de distribuição de dividendos.

Não reconhecimento do “Goodwill”.

Utilização de regras e de critérios tradicionais.

Fonte: adaptado de Guerreiro (1992, p.196-197).

LUCRO ECONÔMICO

Maior subjetividade

Apuração pelo incremento no valor presente do patrimônio

líquido.

Os ativos são avaliados pelo valor presente do fluxo de

benefícios futuros.

Ênfase em valores.

Reconhecimento de ganhos quando identificados nos ativos,

com base no mercado.

São efetuados ajustes devidos a mudanças nos níveis de preços

dos bens na economia.

Vinculação do lucro à condição de aumento da riqueza,

independentemente da condição de distribuição de dividendos.

Reconhecimento do “Goodwill”.

Utilização de regras e critérios econômicos.

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2.3. O Custo de Oportunidade na GestãoEconômica

O “homo oeconomicus” existe num mundo escas-so e isso faz com que o seu comportamento racionalseja sempre uma escolha entre diferentes alternati-vas. A aceitação de uma alternativa necessariamen-te exclui ou sacrifica outras. O benefício excluído éconsiderado pelos economistas como uma perda deoportunidade e denominado “custo de oportunidade”da decisão. Como Heymann & Bloom (1990, p. xi)observam – estranhando que um conceito de 200anos de idade não tenha ainda sido totalmente com-preendido – “ o conceito de custo de oportunidade esua mensuração estão estreitamente associados àteoria da escolha, ao conceito de valor e à estruturada tomada racional de decisões”.

Ijiri (1967, p. 34 ss) ilustra a decisão básica devalor com o simples exemplo do homem que vive so-zinho numa cabana na floresta. Ele tem que escolherentre o benefício de satisfazer sua fome indo coletarnozes e o benefício de ficar descansando na cabana(que é sacrificado se ele decidir sair para coletar no-zes). Se ele escolhe satisfazer sua fome, incorre numaperda de repouso. Essa perda do benefício do des-canso (o sacrifício) é o custo de oportunidade da de-cisão de satisfazer a fome. A ação de sair édesencadeada sempre que há uma diferença entre obenefício de satisfazer a fome e o custo de oportuni-dade desta escolha (a perda ou sacrifício do descan-so), ou seja, sempre que há um diferencial de benefí-cio-sacrifício – um diferencial de utilidade. A ação decoletar nozes termina quando o benefício marginaldecrescente (satisfação da fome) iguala o sacrifíciomarginal crescente (o esforço de ir coletar), momentoem que o diferencial de utilidade passa a decrescer.

Heymann & Bloom (1990, p. 10) observam que usu-almente as decisões envolvem diversas alternativase, neste caso, “o custo de oportunidade é determinadopelo mais valioso benefício sacrificado” de modo que:

“The [opportunity] cost of committingresources to any par ticular use isdetermined by the value of the resourcesin their best alternative use. By committingthem to one use, all other possible uses areexcluded. Some of these excluded uses aremore valuable than others. It is the most

valuable of them which is alone relevant indetermining what has been sacrificed bycommitting the resources elsewhere – or indetermining the ‘cost’ of committing themelsewhere”. (Solomons, 1966, apudHeymann & Blomm, id., p. 10-11)

Devido a essas características o custo de oportu-nidade não é uma abordagem “de custo”, como “custode produção”, “custo de manutenção”, etc., emboratodo custo, como sacrifício de recurso, possa ser con-siderado custo de oportunidade. De fato, a abordagemdos custos de oportunidade tem por foco a valoraçãoeconômica, o preço como percepção de valor, a medi-da da receita (contra o custo de oportunidade) da al-ternativa escolhida – em suma, os trade-offs envolvi-dos nas escolhas que criam valor econômico.

Em economia internacional, os custos de oportu-nidade foram estudados desde o início do Séc. XIXcomo vantagem comparativa (Ricardo, 1937;Leontieff, 1985, p. 116 ss; Heymann & Bloom, 1990,p. 27 ss), no conceito de vantagem competitiva dasnações de Porter (1990b, p. 1ss) e, atualmente, naabordagem gerencial da cadeia internacional de va-lor (Hughes et al., 1998, p. 80-94). O custo de opor-tunidade do capital, estudado por muitos economis-tas, além de Ricardo e Leontieff, por exemplo, porIrving Fisher (1965) vem sendo divulgado pela abor-dagem do Economic Value Added (EVA®) que avaliao resultado das empresas após dedução do custode oportunidade do capital investido (Chew, 1993; AlEhrbar, 1998; Bown, 1999 e Monczka & Morgan,2000, entre outros).

A aplicação de custos de oportunidade na conta-bilidade financeira é bastante restrita – “opportunitycosts are not recorded by accountants” – como no-tam Heymann & Bloom (1990, p. 101). Do mesmomodo, observa Martins (2000, p. 33):

“O conceito de custo de oportunidade é umdos mais relevantes na economia e nasdecisões... Mas sua não consideração naContabilidade é (uma) mentira com a qualconvivemos... A consideração do custo docapital próprio como sendo nulo é algo in-sustentável conceitualmente...”.

Na contabilidade gerencial, os custos de oportu-nidade do capital foram usados no RKW, no começodo Séc. XX, bem como por Slatter, Anthony e outros

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(Martins, 2000, p.33 ss) e, operacionalmente, sãoaplicados na determinação de preços de transferên-cia em transações intra-firma, em geral entre unida-des de negócios (Heymann & Bloom, 1990, p. 107;Cats-Baril et al., 1998). Atualmente os custos de opor-tunidade são utilizados na Contabilidade GerencialEstratégica (por ex. Ward,1993), bem como na Ges-tão Econômica.

Assim, a mensuração do resultado na GestãoEconômica é efetuada mediante a consideração damelhor alternativa, dentro de parâmetros do mer-cado. Por exemplo, nas transações que envolvemprazos de compra ou venda é considerada a inci-dência de taxas de juros de oportunidade pela me-lhor alternativa de mercado, ou seja, pelas melho-res taxas de aplicação ou captação que a empresaobteria no mercado8 .

Mais genericamente, os parâmetros de valoraçãoe de custo de oportunidade da Gestão Econômicasão os preços correntes de mercado a vista, tantode bens e serviços como taxas de juros. Pelos mes-mos critérios econômicos, o valor do dinheiro no tem-po é considerado mediante a aplicação dos concei-tos de valor presente e moeda constante.

A ponderação de alternativas para a determina-ção do custo de oportunidade de uma decisão é efe-tuada no pressuposto de que sejam de risco equiva-lente. Por exemplo, a taxa de juros de oportunidadeconsiderada na venda a prazo para o cliente A ou Bserá a mesma, desde que ambos tenham o mesmorisco de inadimplência, ou similar, dentro dosparâmetros da decisão (volume da venda, prazo dopagamento, etc). Do mesmo modo a comparação en-tre as taxas de juros de CDB oferecidas por dois ban-cos supõe que ambos tenham o mesmo “ranking” derisco de liquidez.

Esses critérios, aplicados ao conceito de ativo,possibilitam identificar e mensurar os ativos da em-presa segundo as características dos benefíciosdeles decorrentes, como a seguir9 :

♦as disponibilidades (caixa, bancos) valem o queexpressam. Com efeito exprimem o valor mo-netário de liquidez corrente, dado pelo poderaquisitivo da moeda na data.

♦os valores a receber são avaliados pelo seu va-lor presente, considerando a taxa de juros decaptação da empresa no mercado e a probabi-lidade de recebimento. A taxa de captação é ocusto de oportunidade expresso pela alternati-va de a empresa captar recursos no mercadopara financiar os recebíveis.

♦os estoques valem o seu preço de mercado,segundo a fase de processamento em que seencontram. O preço de mercado é dado pelomenor preço corrente de venda do produto ouseu equivalente.

♦as máquinas, os equipamentos produtivos eoutros recursos, cuja utilização ocorre de ma-neira gradual ao longo do tempo, sãomensurados pelo valor de mercado de seusserviços futuros, ajustado a valor presente, con-siderando a taxa de juros e a probabilidade derealização desses serviços. A oportunidade é aalternativa de obtenção dos mesmos serviços,por exemplo, mediante aluguel de um equipa-mento semelhante.

A importância da utilização de critérios eco-nômicos na gestão empresarial, apesar das difi-culdades de se medir aspectos incertos e subje-tivos, já vem sendo considerada em algumas prá-ticas da própria contabilidade societária. Assim,alguns ativos tradicionalmente mensurados pelocusto, hoje são contabilizados pelo fair value, ouseu valor de mercado, conforme o SFAS nº 115prescreve para os investimentos em títulos (debtand equity securities). Tratamento similar se ob-serva para os derivativos, incluídos nos balançosa partir de 15/06/99, conforme o SFAS 133.Transparece, assim, uma tendência consistentena contabilidade americana para a contabilizaçãopelo critério mark to market.

Com efeito, abordando os critérios de mensuraçãodos ativos, o AAA (American Accounting Association)já definia em 1957: “conceitualmente, a medida devalor de um ativo é a soma dos preços futuros demercado dos fluxos de serviços a serem obtidos,descontados pela probabilidade de ocorrência e pelofator juro, a seus valores atuais”.

8 Sobre os custos de oportunidade dos recursos financeiros e funções da área financeira, ver também Catelli et al.(1999).

9 A esse respeito, ver Reis (1998, p. 691).

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Do mesmo modo, Bodenhorn (1961, p.585-6) pre-coniza que o contador deve aplicar o fluxo de caixadescontado na contabilização de ativos fixos,

“(...) reconhecendo ganhos e perdas de ca-pital tão logo a administração reconheça queeles ocorreram. O contador pode objetar queisso é uma coisa excessivamente difícil defazer (altamente subjetiva), uma vez queisso envolve uma estimativa contínua dosretornos futuros, que serão obtidos em cadaprojeto. Eu posso arguir somente que é onegócio da administração fazer tais estima-tivas, e tais estimativas são também conti-nuamente feitas pelos investidores. (...) Oobjetivo do contador de um valor estávelpara os ativos da firma é na melhor das hi-póteses uma miragem. O fato é que o valorda firma, e o valor dos ativos da firma, flu-tuam constantemente através do tempo,assim que os lucros futuros pareçam sermaiores ou menores. Um procedimentocontábil que ignora esse fato óbvio é sim-plesmente um exercício contábil que nãoteria interesse para o homem de negócios.”10

Dessa forma, a consideração de qualquer ativo naGestão Econômica inclui, no cálculo do seu valor pre-sente, o risco, como probabilidade de ocorrência dovalor esperado. Por isso, a mensuração do valor deum ativo, mediante o seu custo de oportunidade, in-clui a consideração da probabilidade de ocorrência,como risco envolvido em cada alternativa de deci-são. Por outro lado a taxa de juros de mercado para aempresa, como custo de oportunidade dos recursosfinanceiros envolvidos na decisão, inclui tanto o va-lor do dinheiro no tempo como o risco atribuído pelomercado à empresa.

O Enfoque na Gestão de NegóciosA Gestão Econômica integra, em sua visão

sistêmica, a adoção de critérios econômicos namensuração das atividades da empresa e o enfoquede negócios como parâmetro de decisão para os seusgestores, na busca do resultado econômico de suasáreas de responsabilidade, consideradas centros de

resultado, que objetivam o resultado otimizado do todo.Nessa abordagem, os gestores, em todas as suasatividades, têm em vista, não apenas a diminuiçãode custos, mas a geração de benefícios superioresaos custos incorridos, como sua contribuição para oresultado da organização.

Pela concepção de área de responsabilidade, ogestor atua como “dono do negócio” ou seja, comoelemento pró-ativo dotado de empowerment para cri-ar valor na sua área, contribuindo para o valor globalda organização. É o que Peter Drucker, em 1990,preconiza para a empresa de 1999: “a transforma-ção de gerentes funcionais em gerentes de negóci-os, cada um com um papel específico, mas todosmembros da mesma produção e do mesmo elenco(1992, p. 208).

Nessa concepção os gestores partem do pontode vista de que o resultado global da empresa éproduzido a partir das atividades realizadas nas suasrespectivas áreas de responsabilidade. Assim, atu-ando sistemicamente, o gestor de área não visa sim-plesmente a maximização do seu desempenho den-tro de sua área, mas sim a sua melhor contribuiçãopara o resultado do todo. Assim, o resultadoobjetivado pelas áreas de responsabilidade é o re-sultado otimizado e não simplesmente maximizado.

As áreas de responsabilidade consideradas comocentros de negócios, contribuem para a geração doresultado, em todos os seus níveis de decisão, des-de as mais gerais até as mais pontuais, abrangendotodas as suas atividades, eventos e transações.

Por outro lado, para efeito de decisão, muitasdas transações efetuadas pelo gestor envolvem asmesmas variáveis e provocam impactos econômi-cos semelhantes no resultado e patrimônio daempresa. Assim, essas transações são classifica-das em eventos, conforme sua relevância dentrodas características de cada empresa. Como dizPereira (1998, p. 14) “um evento econômico refe-re-se a um conjunto de transações de mesma na-tureza, cujo impacto econômico pode sermensurado da mesma forma (...). A transação con-siste (...) no menor nível em que pode ser identifi-cado o resultado econômico”.

10 Ver também Guerreiro (1989, p.195-6).

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Pode-se, assim, dizer que só a contabilidade queatinge a geração do resultado nesse nível mínimode detalhamento, no qual são efetivamente gera-dos todos os resultados da empresa, ou seja, sóuma contabilidade baseada em eventos é efetiva-mente gerencial.

Sendo assim, a Gestão Econômica, a partir da

11Sobre o tratamento dos modelos de decisão na Gestão Econômica, ver Almeida (1996) e Santos & Ponte (1998).

estrutura lógica subjacente à tomada de decisão emcada evento, constrói um modelo de decisão11 genéri-co que, pelo fato de aplicar-se a cada evento, aplica-se também a todas as decisões da empresa. Tal mo-delo exprime as variáveis que impactam o resultadoeconômico de cada decisão, permitindo ao gestor aescolha da melhor alternativa, conforme segue.

A configuração do modelo de decisão básico, ao ex-pressar uma síntese estrutural lógica de todas as deci-sões, possibilita o raciocínio congruente dos gestoresna busca do resultado global e a utilização de critériosuniformes na avaliação dos diversos impactos das suasdecisões.

Os impactos operacional, financeiro, econômico epatrimonial das decisões dos gestores são representa-dos no quadro 3, a qual mostra como cada evento re-produz as diversas dimensões do fluxo de negócios queocorre no todo do sistema em empresa.

A dimensão operacional enfoca o impacto da deci-são no ciclo produtivo, pelo qual recursos são processa-dos, transformando-se em produtos. A gestão operacionalpreocupa-se com a qualidade e quantidade de recursosconsumidos e bens e serviços gerados, com os prazosde produção e entrega e, em geral, com a eficiência eprodutividade.

A dimensão financeira envolve a utilização de recur-sos financeiros e a administração dos prazos de paga-mento e recebimento em função dos juros e outros cus-tos de capital, que caracterizam a gestão do impactofinanceiro das decisões.

A dimensão econômica exprime a integração do flu-xo produtivo e do fluxo financeiro, no fluxo de custos ereceitas, que gera o resultado econômico (gestão eco-nômica) da decisão.

A dimensão patrimonial parte do princípio de que oresultado econômico corresponde a uma diferença nopatrimônio da empresa ocorrida em consequência darespectiva decisão. A gestão patrimonial preocupa-secom os impactos da decisão na estrutura dos seus ati-vos (por exemplo, diminuição do estoque e aumento docaixa ou diminuição do caixa e aumento dos ativos fi-xos) e passivos (por exemplo, aumento dos ativos fixose do exigível a longo prazo).

Quadro 2: Modelo de Decisão na Gestão Econômica

ALTERNATIVA A ALTERNATIVA B ALTERNATIVA C

Receitas Operacionais

(-) Custos/Despesas Operacionais

(=) MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO OPERACIONAL

Receitas Financeiras

(-) Despesas Financeiras

(=) MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO FINANCEIRA

(-) Custos/Despesas Fixas

(=) RESULTADO ECONÔMICO

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Quadro 3: Dimensões Operacional, Econômica, Financeira e Patrimonial das Decisões

Fonte: Adaptado de Catelli et al.(1997) e Pereira (1999).

O enfoque de negócios pode ser sintetizado numavisão integrada do resultado como parâmetro de to-das as decisões dos gestores, das transações à em-presa como um todo. Assim, conforme a expressãodo quadro 4, os resultados das transações (T) , clas-sificadas e acumuladas em eventos (E ), integram osresultados das atividades (A) e, estes, os resultadosdas áreas de responsabilidade ou divisões (D) cujosomatório compõe o resultado da empresa (EM):

Quadro 4: Processo de Acumulação de Resultados

∑T = E ⇒ ∑E = A ⇒ ∑A = D ⇒ ∑D = EMOnde:T = TransaçãoE = EventoA = AtividadeD = DivisãoEM = Empresa

Fonte: Parisi (1995, p.53).

3. GESTÃO ECONÔMICA DEINVESTIMENTOS EM ATIVOS FIXOS

Mais do que outros elementos do sistema empre-sa, os ativos fixos, na sua identificação e mensuração,manifestam-se em interação com os demais elemen-tos do sistema empresa. Por isso, o tratamento dosativos fixos realça os aspectos integrativos da visãosistêmica e gerencial da Gestão Econômica.

Partindo-se do conceito genérico de ativo comoum gerador potencial de benefícios futuros, a iden-tificação de ativos fixos, bem como sua distinçãodos demais ativos é obtida considerando-se a di-versidade dos impactos desses benefícios na con-secução dos objetivos da organização. Assim, navisão sistêmica da empresa esses impactos podemser visualizados sob os enfoques da gestãooperacional, financeira, econômica e patrimonial, namedida em que contribuem para a eficácia da orga-nização, na obtenção dos resultados presentes efuturos da empresa.

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3.1 Gestão Operacional, Financeira,Econômica e Patrimonial dos Ativos Fixos

Sob o enfoque operacional, os ativos fixos sãoutilizados de modo gradual, durante anos, no cicloprodutivo de transformação, enquanto que os ativoscorrentes são consumidos rapidamente, de modo in-tegral. O gerenciamento operacional deve levar emconta que os ativos fixos, por sua natureza, sãodeterminantes de muitos outros ativos e atividadesoperacionais, configurando o perfil da mão-de-obra,as características do processo de produção, porexemplo, se em grandes ou pequenos lotes, os tiposde matéria-prima e outros insumos, o perfil daestocagem, as relações com fornecedores, asespecificações e a qualidade dos produtos, a estru-tura de custos de produção, o volume produzido, osprazos de entrega, etc.

A contribuição do ativo fixo para o resultado (mar-gem) operacional obedece a variáveis de eficiência,flexibilidade, qualidade, etc., determinadas pela suainteração com os demais subsistemas da empresaque atuam no ciclo produtivo.12 Essa margem é obti-da reduzindo-se a valor presente os benefícios a se-rem gerados pelo ativo fixo, líquidos dos custos deaquisição e de manutenção.

Esses benefícios não podem ser confundidoscom os produtos da empresa, uma vez que o pro-cesso de produção, além dos ativos fixos nele utili-zados, exige a interação de outros fatores e elemen-tos da organização. Assim, os benefícios geradospelos ativos fixos são os serviços específicos queestes ativos desempenham dentro da operação daempresa, por exemplo, no caso de máquinas, dadospelo número de horas-máquina utilizados.

A manutenção é considerada um recurso sacri-ficado, diretamente identificado ao ativo e a ele ine-rente porque é condição de continuidade do ativona sua identidade funcional e operacional, motivopelo qual é deduzida dos benefícios futuros paraque sejam obtidos os benefícios líquidos. Do pon-to de vista do capital investido, a manutenção cons-titui um desembolso adicional de capital, necessá-rio para assegurar o valor do investimento, ou seja,

sua capacidade sustentada de gerar fluxos de be-nefícios.

Sob o enfoque financeiro, os ativos fixos consti-tuem investimentos de capital, geralmente de somaselevadas, de retorno incerto e a longo prazo, deven-do esse risco ser considerado para efeito de remu-neração do capital, bem como para a gestão daliquidez da empresa. A consideração da taxa de ris-co é feita, por exemplo, mediante a aplicação de pro-babilidades na projeção dos resultados.

Os mesmos critérios se aplicam aos ativos cor-rentes, diferenciando-se, porém, pelo horizonte decurto prazo, que reduz a incerteza, pela utilizaçãode um volume normalmente menor de recursos fi-nanceiros, bem como maior liquidez em relação aosativos fixos. A margem de contribuição financeira deum ativo fixo ocorre quando o mesmo é financiado ataxas de juros inferiores às taxas de aplicação daempresa no mercado13 .

As decisões de investimento são frequentementeacompanhadas por decisões de financiamentos, taiscomo, leasing, project finance etc., que são tratadaspor eventos econômicos específicos, expressos nasmargens financeiras, que podem ser consolidadasno resultado global do investimento.

Do ponto de vista econômico, o ativo fixo deveproduzir um fluxo de benefícios futuros superioresao fluxo de todos os custos, operacionais e financei-ros, por ele ocasionados. O resultado econômico doinvestimento que constitui o ativo fixo sintetiza, por-tanto, na forma de custos e receitas, todos os even-tos presentes e futuros originados pelo ativo. O in-vestimento em ativo fixo é, portanto, um evento que,como todos os outros eventos da empresa, deve gerarum resultado positivo, como tal, contribuindo para oresultado do todo.

Ao contrário dos eventos que impactam o resulta-do de curto prazo, como no caso de transações comativos correntes, o investimento em ativos fixos impactao resultado durante os vários anos da vida útil desseativo. Esses impactos sucessivos constituem os flu-xos de custos e receitas que ocorrerão no futuro, masque podem ser projetados desde hoje, constituindo abase da decisão do investimento. Essa projeção leva

12Ver por exemplo, Cortés (1997).

13Do mesmo modo, já visto anteriormente, que se pode obter uma margem financeira numa compra a prazo a custos financeiros abaixo da taxa de oportunidade de aplicação

da empresa.

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em conta variáveis econômicas como inflação, taxade juros, variações na demanda, competitividade daempresa, preços de mercado, custos, riscos e incer-teza, etc. Todos esses fatores são combinados,projetados e mensurados, formando os fluxos acimareferidos de custos e benefícios operacionais e finan-ceiros. Computam-se, separadamente, reduzindo-sea valor presente mediante aplicação de taxas de des-conto, os custos e benefícios operacionais projetados- que constituem a margem operacional -e os custose benefícios financeiros projetados - que constituema margem financeira. O valor presente líquido obtidoconstitui o resultado do investimento.

Sob o aspecto patrimonial, o ativo fixo é consi-derado um estoque gerador de riqueza (uma árvoreque dá frutos, na imagem de Solomons, apud Guer-reiro,1992, p.6), provocando variações no valor dopatrimônio da empresa através do tempo. A gestãopatrimonial considera ainda outras interaçõespatrimoniais com outros ativos (por exemplo, seuimpacto no caixa, caso a vista,) ou com passivos (seuimpacto na estrutura de capitais, caso a prazo).

No momento inicial do investimento, uma vezdecidido e contratado, o valor patrimonial do ativoé dado pelo fluxo dos serviços futuros, desconta-dos pela probabilidade de ocorrência e pela taxa dejuros; a variação patrimonial é dada pelo valor pre-sente dos serviços futuros do ativo, líquido do va-lor de aquisição.

Num determinado momento da vida útil do ativofixo, o seu valor patrimonial é dado pelos benefíciosfuturos da sua vida remanescente, descontados pe-los juros e probabilidade de ocorrência. O valor davariação patrimonial entre este momento e o momen-to anterior é a diferença entre o valor presente dofluxo dos benefícios remanescentes, líquidos dosseus custos, em relação aos dois momentos, ou seja,é o consumo de parte dos serviços do ativo, que cons-titui a sua depreciação.

No fim da vida útil do ativo para a empresa, o seuvalor é dado pela receita líquida de venda no estadoem que se encontra. A variação patrimonial é a dife-rença entre a receita líquida de venda e o valor pre-sente líquido dos serviços remanescentes do bempara a empresa.

3.2 O Gerenciamento Econômico doInvestimento

Na aplicação dos critérios acima ao processo degestão econômica dos investimentos em ativos fi-xos, podem-se distinguir quatro momentos relevan-tes a serem analisados: a decisão de investir (mo-mento t

0), a efetivação do investimento, dada, por

exemplo, pela aquisição, construção, montagem oupreparação do ativo fixo (momento t

1), a utilização

dos benefícios do ativo fixo (momentos t2 a t

n ) e a

decisão de alienação ou abandono do investimento(momento t

n+1).

No momento t0, o gestor coloca-se diante da de-

cisão de investir ou não para ter acesso aos benefí-cios e serviços de um determinado ativo fixo. Comefeito, supõe-se, como ocorre frequentemente, queos mesmos serviços do ativo fixo podem ser obtidosmediante outras alternativas possíveis como, porexemplo, o aluguel do equipamento. Esta decisãopode ser denominada “decisão de Investir” no ativofixo. Caso não se opte pelo aluguel, mas pela com-pra do equipamento, esta pode ser realizada comrecursos próprios (decisão de “Compra à Vista”) oufinanciada (decisão de “Compra a Prazo”).

Trata-se, portanto, de três eventos distintos (de-cisão de investir, decisão de adquirir uma determi-nada máquina e a decisão de financiar a aquisiçãoda máquina). Esses eventos são específicos, na me-dida em que apresentam impactos distintos nopatrimônio, sendo seus resultados atribuídos às res-pectivas áreas de responsabilidade, segundo o mo-delo de gestão da empresa.

Assim, supondo-se um modelo de gestão de em-presa com característica descentralizadora, a deci-são de investir, em benefício de uma determinadaoperação produtiva, cabe normalmente ao gestor daárea de responsabilidade Produção, o qual pode, al-ternativamente, alugar o equipamento. As decisõesenvolvidas na compra da máquina são do gestor deCompras, ao qual compete analisar os diversos pre-ços e condições dos fornecedores, sendo avaliadopelo resultado obtido nessa decisão. As condiçõesfinanceiras do investimento, conforme o modelo degestão da empresa, estão normalmente a cargo da

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área financeira, apta a melhor negociar linhas de fi-nanciamento, prazos e taxas, produzindo uma contri-buição financeira para o resultado econômico do in-vestimento.

Esses parâmetros, aplicados ao modelo genéri-co de decisão da Gestão Econômica representadono quadro 2, formam o Modelo da Decisão de Inves-timento, conforme quadro 10.

No exemplo, supõe-se que os gestores da em-presa já decidiram que, para fabricar ou modificarum determinado produto, necessitam utilizar os ser-viços de um ativo fixo, por exemplo, um torno mecâ-nico, do qual a empresa não dispõe. Supõe-se quehaja no mercado um torno adequado, que pode seralugado ao valor de $2,00 por hora de serviço, ou seradquirido ao preço a vista de mercado $60.000,00; no

14Não cabe aqui detalhar que tipo de linha de financiamento deve ser considerada como parâmetro de mercado para os custos de oportunidade de investimento, uma vez que

tal depende das características da empresa e do investimento e da configuração e circunstâncias, às vezes voláteis, de cada mercado financeiro. Parece claro, porém, que

devem ser usadas taxas distintas das empregadas nos financiamentos de curto prazo.

entanto, o gestor de compras, prevê que, após nego-ciação, o ativo pode ser adquirido por $58.000,00. Seucusto de manutenção será de $1,00 a hora e o tornoserá utilizado por 5 períodos, com o volume de horasde serviço e de manutenção, conforme segue.

Quadro 5: Número de Horas de Utilização e de

Manutenção

Período Horas-Máquina Horas-Manutenção

1 10.000 500

2 10.000 600

3 10.000 600

4 10.000 800

5 10.000 800

As taxas de juros de mercado previstas para aempresa, por período, são de 10% na aplicação e12% na captação e a inflação prevista é zero. Porrazões de simplicidade didática, o exemplo nãoconsidera as probabilidades de ocorrência doseventos projetados. A empresa pode obter um fi-nanciamento especial para a máquina em umaagência de fomento pelo custo de 9% por período,pagável em 5 prestações iguais no final de cadaperíodo, segundo o Sistema Francês de amortiza-ção ou Tabela Price.

Conhecidos os valores iniciais acima, a primeiramedida do decisor é obter o valor presente do fluxode serviços futuros do ativo, o que é feito mediante aaplicação de uma taxa de desconto de oportunida-de, equivalente aos juros de captação do mercado,neste caso, 12%. Entende-se, com isso, que a área

de responsabilidade que decide o investimento in-clui na sua decisão a remuneração do capital à mes-ma taxa que a empresa o tomaria no mercado14 .

A seguir é calculado o valor presente dos custos demanutenção do ativo fixo pelo seu período previsto deuso na empresa, aplicando-se ao fluxo desses desem-bolsos futuros a taxa financeira de oportunidade pre-vista para aplicação, no caso, 10%. Entende-se queos custos de manutenção são provisões para gastosfuturos, cuja oportunidade, como se verifica para to-dos os passivos, decorre da não utilização imediatado dinheiro, o qual poderia ser aplicado no mercado.

Do valor presente dos serviços futuros do torno, édeduzido o valor presente dos seus custos futuros demanutenção, obtendo-se o valor presente líquido dosserviços, ou seja, dos benefícios gerados pelo ativo,conforme quadro 6.

Quadro 6: Apuração do Valor Presente dos Serviços do Ativo e sua Manutenção

Valor dos Serviços Valor da Manutenção Valor Presente Líquido

Período Futuro Presente Futuro Presente dos Serviços

1 20.000,00 17.857,14 500,00 454,55 17.402,59

2 20.000,00 15.943,88 600,00 495,87 15.448,01

3 20.000,00 14.235,61 600,00 450,79 13.784,82

4 20.000,00 12.710,36 800,00 546,41 12.163,95

5 20.000,00 11.348,54 800,00 496,74 10.851,80

5 5.000,00 2.837,13 - - 2.837,13

Total 105.000,00 74.932,66 3.300,00 2.444,36 72.488,30

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O valor presente dos serviços futuros proporcio-nados pelo ativo, líquido dos seus custos futuros demanutenção, também a valor presente, constitui o valordo ativo para a empresa, numa aplicação direta doconceito de ativo definido anteriormente.

O valor presente líquido do investimento nesseativo é dado pelo valor do ativo para a empresa,como acima apurado ($ 72.488), deduzido do seuvalor de mercado, no caso, $60.000,00, perfazen-do, o total de $12.488. Este valor constitui o resul-tado operacional da decisão de investir no torno,constituindo o motivo último da decisão do gestorda área de Produção de fazer o investimento, ad-quirindo o ativo.

Ao efetivar a compra do torno, conforme o mode-lo de decisão descrito no quadro 10, o gestor da áreade responsabilidade Compras procura negociar umpreço mais vantajoso que o vigente no mercado, afim de obter nesta transação uma margem de contri-buição para o resultado do investimento e da empre-sa. Esta margem é obtida, considerando-se o valorde compra do ativo ao preço vigente de mercado,como custo de oportunidade, pelo qual o torno serátransferido por Compras à Produção ($60.000,00), eque constitui a receita de oportunidade de Compras.Esse valor é deduzido do custo efetivo da máquina($58.000,00), resultando na margem de $2.000,00na compra da mesma.

Assim, conforme o mesmo quadro 10, a mar-gem operacional do investimento é dada pela mar-gem operacional da aquisição dos serviços do ati-vo, de responsabilidade da área de Produção ($12.488), somada à margem operacional da aquisi-

ção do torno, de $ 2.000,00, obtida pela área deCompras.

A Área Financeira, por sua vez, opta por financiaro investimento, utilizando uma linha de fomento demercado, a taxas favoráveis (9%) em relação à taxade aplicação de 10%, considerada como parâmetropara efeitos de custo de oportunidade financeira. Nes-te caso, o parâmetro é a taxa de aplicação, e não ade captação. Com efeito, entende-se que, ao optarpor financiar o investimento, a área financeira deixade utilizar recursos de capital dos acionistas, que po-dem aplicá-lo no mercado financeiro. É claro que, sea empresa não conseguisse uma taxa de financia-mento inferior à taxa de remuneração do capital pró-prio, que é a taxa de aplicação, ela não utilizaria ofinanciamento, mas sim o aporte de capital. A razãode os recursos de capital próprio serem remunera-dos pela taxa de aplicação é que o acionista temcomo custo de oportunidade a aplicação de seus re-cursos no mercado financeiro. Ao aplicar seus recur-sos na empresa, embora com maior risco do que nomercado financeiro, o acionista aceita essa taxa comomínima, uma vez que espera da empresa resultadoseconômicos adicionais aos desta aplicação.

Desse modo, conforme quadros 7, 8 e 9, a mar-gem financeira foi obtida tomando-se como receitafinanceira de oportunidade o valor presente dos ju-ros de oportunidade do financiamento à taxa de apli-cação de 10%, perfazendo o total de $14.817. Dessevalor se deduziu o valor presente dos juros exigíveis,negociados para o financiamento, de $13.268,chagando-se à margem de contribuição financeirade $1.549.

Quadro 7: Juros Incorridos no Financiamento

Período Saldo Devedor Amortização Juros 9% Prestação

0 58.000,00

1 58.000,00 9.691,36 5.220,00 14.911,36

2 48.308,64 10.563,59 4.347,78 14.911,36

3 37.745,05 11.514,31 3.397,05 14.911,36

4 26.230,74 12.550,60 2.360,77 14.911,36

5 13.680,15 13.680,15 1.231,21 14.911,36

Total 0,00 58.000,00 16.556,81 74.556,81

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Revista Contabilidade & Finanças - USP, São Paulo, n. 31, p. 26 - 44, janeiro/abril 2003

Quadro 8: Juros de Oportunidade do Financiamento

Período Saldo Devedor Amortização Juros 10% Prestação

0 58.000,00

1 58.000,00 9.500,25 5.800,00 15.300,25

2 48.499,75 10.450,28 4.849,97 15.300,25

3 38.049,47 11.495,31 3.804,95 15.300,25

4 26.554,16 12.644,84 2.655,42 15.300,25

5 13.909,32 13.909,32 1.390,93 15.300,25

Total 58.000,00 18.501,27 76.501,27

Quadro 9: Cálculo da Margem Financeira: Custos (-) Receitas Financeiras de Oportunidade

Custo 9% Custo Oportunidade 10%

Valor no final Valor Valor no final Valor Margem

Período do período Presente do período Presente Financeira

1 5.220,00 4.745,45 5.800,00 5.272,73 527,27

2 4.347,78 3.593,20 4.849,97 4.008,24 415,04

3 3.397,05 2.552,26 3.804,95 2.858,71 306,46

4 2.360,77 1.612,44 2.655,42 1.813,68 201,25

5 1.231,21 764,49 1.390,93 863,66 99,17

Total 16.556,81 13.267,84 18.501,27 14.817,03 1.549,19

O resultado econômico do investimento ($16.037),conforme quadro 10, é obtido pela soma da margemoperacional dos serviços do ativo (torno) ($12.488)com a margem operacional de aquisição do torno($2.000), que formam a margem de contribuiçãooperacional do investimento ($14.488), com a mar-gem de contribuição financeira do investimento ($1.549).

Quadro 10: Modelo da Decisão de Investimento

Receita Operacional dos Serviços 74.933

(-) Custos Operacionais dos Serviços

Custo de Aquisição dos Serviços (60.000)

Custo de Manutenção dos Serviços (2.444)

(=) Margem Operacional dos Serviços 12.488

Receita Operacional da Compra do Torno 60.000

(-) Custos de Aquisição (58.000)

(=) Margem Operacional de Aquisição 2.000

(=) MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO OPERACIONAL 14.488

Receitas Financeiras 14.817

(-) Despesas Financeiras (13.268)

(=) MARGEM DE CONTRIBUIÇÃO FINANCEIRA 1.549

(=) RESULTADO ECONÔMICO 16.037

A decisão de investimento tomada em t0 projetou

todo o ciclo de vida do ativo na empresa, até a suaalienação. Todos os valores considerados em t

0 são

valores projetados e planejados, portanto, não neces-sariamente idênticos aos valores que ocorrerão naimplementação real do investimento e durante a suavida útil real.

Assim, o resultado econômico do investimento emt0, conforme acima, é um resultado esperado, que

deverá ser continuamente monitorado e comparadoao resultado realmente obtido na implantação e ciclode vida efetiva do ativo.

Durante o ciclo de vida (de t2 a t

n), os serviços do

ativo, do torno no caso, vão sendo consumidos embenefício do ciclo de produção de outros bens e ser-viços que contribuem para o resultado da empresa.Ocorrem assim, a depreciação e a manutenção, daqual já se tratou anteriormente. Entretanto, pode omonitoramento mostrar a conveniência de sereinvestir no ativo, prolongando sua vida útil, ouincrementando seu potencial de benefícios futuros.

O conceito econômico de depreciação foi aceitoem 1957 pela AAA, que considera que o ativo

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representa um estoque de serviços que pode serliberado durante a vida do ativo; o declínio nessepotencial de serviço constitui a depreciação, a qualpode ocorrer por deterioração física, consumo pelouso ou perda do valor econômico por obsolescênciaou por mudanças na demanda (Hendriksen & vanBreda, 1992, p.529; Iudícibus, 1997; e Ramos,1968).

Segundo Reis (1997, passim), há que se distin-guir entre a perda de valor como fenômeno de na-tureza tempo-conjuntural, que foge ao controle dagestão (como obsolescência, mudança na deman-da, etc.), da depreciação propriamente dita, que con-siste no consumo do ativo, ocasionado pelas suashoras de uso na produção de bens e serviços, acujo valor agregado se incorpora. Segundo esseautor, a depreciação não é a perda de valor do bem,embora ela ocasione uma diminuição de valor, massim exclusivamente a realização do potencial dosbenefícios do ativo.

O enfoque econômico da depreciação faz comque esta seja considerada, não um custo indireto,vinculado ao período e alocado a produtos e áre-as de responsabilidade por meio de rateios, massim como um custo variável, por hora-máquina uti-lizada, diretamente identificado aos produtos ge-rados pelo ativo.

Esse conceito possibilita ainda que os custos dedepreciação sejam somente identificados com ativi-dades e áreas de responsabilidades que exerçamcontrole sobre os mesmos, de forma que os respec-tivos gestores sejam avaliados apenas pela gestãodos custos e benefícios que efetivamente controlam.Esse princípio da controlabilidade é fundamental nosistema de avaliação de desempenhos da GestãoEconômica, como ficou acima ressaltado na apura-ção das diversas margens de contribuição que com-põem o resultado do investimento.

A decisão de desinvestir ou abandonar um ativofixo (em t

n+1), que conserva um potencial futuro de

serviços, decorre do fato de esses serviços não maiscontribuírem para o resultado da empresa. Tal podeocorrer por razões funcionais como reorganizaçãodo processo produtivo, mudança da linha ouespecificações de produtos, introdução de novastecnologias etc.

Do ponto de vista econômico, um parâmetro bási-co para o desinvestimento de um ativo durante a suavida útil é que o total dos benefícios a serem geradosem sua vida remanescente seja inferior ao seu valorlíquido de realização no mercado. Tal ocorre, neces-sariamente, quando o seu potencial específico deserviços se consumiu inteiramente, momento em quedeixa de ter valor operacional, convertendo-se emsucata, ou quando o custo de manutenção previstotorna-se, num determinado momento real, superior aovalor esperado dos benefícios futuros.

O momento adequado para o desinvestimento éaquele em que o ativo, não servindo mais à empre-sa, mantém ainda um fluxo de benefícios futuros parao potencial comprador, de tal modo que possa al-cançar um preço de venda, no mínimo, suficiente paracobrir os diversos custos, inclusive de oportunidade,incorridos no desinvestimento.

4. CONCLUSÃO

Mais do que outros temas contábeis, amensuração dos ativos fixos traz à tona o problemada tensão entre objetividade e relevância, cuja bus-ca originou e fez desenvolver até hoje a ciênciacontábil.

Se esta sempre esteve intimamente relacionadacom a ciência e as realidades econômicas (Littleton& Zimmerman, 1962, p.170, passim) o seu afasta-mento tem preocupado estudiosos e afetado a eficá-cia das empresas, a relevância das informações e opróprio rigor da objetividade científica almejada.

A Gestão Econômica considera sistemicamentea empresa, numa abordagem renovada dos critérioseconômicos da mensuração contábil e numa visãogerencial, “de negócios”, voltada para a otimizaçãodo resultado econômico das decisões dos gestores,nas transações, eventos, atividades e áreas de res-ponsabilidade, na busca do resultado global da or-ganização.

A inseparabilidade entre resultado e patrimônioreflete-se no conceito de ativo, em particular de ati-vo fixo, como elemento gerador de benefícios futu-ros, mensurados pelo valor presente do seu fluxo decaixa líquido, descontado as taxas de oportunidadede mercado.

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No exame dos investimentos em ativos fixos, arecuperação da objetividade e relevância no tratamen-to dos custos, evitando as arbitrariedades dos ratei-os, converte custos, tradicionalmente fixos de de-preciação, em custos variáveis, por hora de utiliza-ção, perfeitamente identificados aos produtos, bemcomo aos eventos, atividades e áreas.

Possibilita-se, assim, a análise de desempenho apartir de parâmetros de fato controláveis pelosgestores. O reconhecimento e, com este, a própriaconsecução dos resultados sob a forma de margensde contribuição das decisões permite a otimizaçãooperacional, financeira, econômica e patrimonial doinvestimento, como evento gerador de riqueza.

O modelo de decisão de investimento permite oseu gerenciamento e acompanhamento de todo o seuciclo de vida, estendendo a abrangência damensuração contábil ao fluxo dos acontecimentos

futuros que valoram, desde o momento da decisãoinicial, os ativos e as empresas.

Assim, a contabilidade, dentro de sua origem eevolução até o presente de mudanças ecompetitividade, voltada para o futuro, pode afirmar:

“What we cannot know about the futurewill not be known no matter how hard theprophets stare into thei r assor tedcrystals; but what can be known, and itis on the skeptic’s own showing far fromnegligible, can be rationally used to carryus into the future wi th someunderstanding of what we are doing andof the resources on which we can drawto meet its risks and surprises, whateverthey may prove to be, with intelligenceand resolution” (Murphy, 1957, apudLittleton & Zimmermnan, 1962, p.15).

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