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GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL Secretaria de Estado da Educação – SEED Superintendência da Educação – SUED Políticas e Programas Educacionais – DIPOL Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE GESTÃO ESCOLAR: DESAFIOS E POSSIBILIDADES FERREIRA, Juara R Arthury de Almeida.¹ SOUZA, Angelo.² ¹ ALMEIDA, Juara R Arthury de Almeida Ferreira Professora do Colégio Estadual Professora Lindaura Lucas em São José dos Pinhais PR, participante do PDE/2008 junto a SEED-PR, [email protected] ² SOUZA, Ângelo.R.. Professor orientador do projeto PDE pela UFPR, em parceria com a SEED-PR, [email protected] Curitiba 2009

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GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁSECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

Secretaria de Estado da Educação – SEEDSuperintendência da Educação – SUED

Políticas e Programas Educacionais – DIPOL Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE

GESTÃO ESCOLAR: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

FERREIRA, Juara R Arthury de Almeida.¹ SOUZA, Angelo.²

¹ ALMEIDA, Juara R Arthury de Almeida Ferreira Professora do Colégio Estadual Professora Lindaura Lucas em São José dos Pinhais PR, participante do PDE/2008 junto a SEED-PR, [email protected] ² SOUZA, Ângelo.R.. Professor orientador do projeto PDE pela UFPR, em parceria com a SEED-PR, [email protected]

Curitiba2009

GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁSECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

Secretaria de Estado da Educação – SEEDSuperintendência da Educação – SUED

Políticas e Programas Educacionais – DIPOL Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE

JUARA R. ARTHURY DE ALMEIDA FERREIRA

GESTÃO ESCOLAR: DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Caderno Temático apresentado como requisito junto ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE da Secretaria Estadual de Educação – SEED em parceria com a Universidade Federal do Paraná, Departamento de Educação, do Setor de Ciências Humanas

Curitiba2009

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É melhor tentar e falhar,Que preocupar-se a ver a vida passar.

É melhor tentar, ainda que em vão,Que sentar-se fazendo nada até o final.

Eu prefiro na chuva caminhar,Que em dias tristes em casa se esconder.

Prefiro ser feliz, embora louco, Que em conformidade viver .

Matin Luther King

3

sumário

APRESENTAÇÃO.......................................................................................... 06

INTRODUÇÃO............................................................................................... 07

UNIDADE I..................................................................................................... 09

TEMA 1: O QUE É GESTÃO ESCOLAR?............................................... 09

1.1 – Objetivo da unidade didática.................................................. 09

1.2 – Conteúdos................................................................................ 09

1.3 – Conversando sobre..................................................................

1.3.1 - O significado de gestão escolar .............................................

1.3.2 – Contexto histórico de gestão escolar.....................................

1.3.2.1 – Período de estudos clássicos..............................................

1.3.2.2 – Período de estudos críticos.................................................

1.3.2.3 – Período compreendido entre 1987 e 2004 Tendências das

pesquisas brasileiras na área de gestão................................

1.3.3.- Princípios da gestão escolar...................................................

1.3.4 – Concepções e estilos de gestão escolar...............................

1.3.5 – Administração X Gestão Escolar............................................

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27

30 1.5 –Referências.............................................................................. 32

TEMA 2 : O PAPEL DO GESTOR ESCOLAR.......................................

34

2.1 - Objetivo da unidade didática................................................... 34

2.2 - Conteúdos................................................................................. 34

2.3 - Conversando sobre................................................................... 2.3.1 – A função do diretor no contexto escolar..................................

2.3.2 – Competências dos diretores escolares....................................

2.3.3 – Gestão pedagógica..................................................................

35

35

38

42

4

2.3.4 – Gestão Administrativa..............................................................

2.3.5 – Gestão de Resultados.............................................................

2.3.6 – Liderança.................................................................................

43

45

47

2.4 - Referências................................................................................ 55

APRESENTAÇÃO CADERNO TEMÁTICO

Este caderno foi elaborado dentro do Programa de Desenvolvimento

Educacional PDE da Secretaria de Estado da Educação, desenvolvendo dois

temas sobre gestão escolar.

5

Ele diz respeito ao Projeto de Intervenção Pedagógica, O perfil do

Diretor nas Articulações para Melhoria da Qualidade na Educação Pública

(FERREIRA, 2008), que em um primeiro momento visa auxiliar os diretores

escolares no aprofundamento dos seus conhecimentos e dar suporte aos

mesmos nessa difícil tarefa de conduzir os processos no interior do ambiente

escolar.

O primeiro tema tratará do conceito de gestão escolar sob a ótica de

diversos autores fazendo um resgate histórico sobre os conceitos de

administração e gestão escolar; sintetizando as principais idéias sobre direção

e gestão escolar no Brasil nos diferentes períodos da história e identificando os

tipos de gestão existentes.

No segundo tema focaremos o papel do Gestor Escolar como o grande

responsável pelas articulações no interior da escola, ora como administrador,

como gestor pedagógico e gestor de resultados. Também trabalharemos com

os conceitos e tipos de liderança.

O caderno, esta organizado com dois temas e contém:

1. Visão geral do tema.

2. Objetivos a serem alcançados pelos diretores;

3. Conteúdos que serão desenvolvidos na unidade temática;

4. Conversando sobre...– fundamentação teórica sobre os conteúdos

tratados;

5. Bibliografia

O presente documento pretende mobilizar os diretores a refletir sobre

seu verdadeiro papel no processo educativo, de forma articulada e

compromissada com a qualidade do ensino na escola pública.

Introdução

O material produzido Gestão Escolar: Desafios e Possibilidades é

destinado aos diretores dos Colégios Estaduais de Ensino Fundamental e

Médio do Município de São José

6

Baseio-me na minha própria experiência como diretora de escola, onde

observo o atual funcionamento das escolas e os resultados por elas

apresentados. Pesquisas vêm demonstrando uma intima ligação entre as

formas de organização da escola e a aprendizagem dos alunos. Estas buscam

saber quais características de uma escola que fazem a diferença em relação à

qualidade de ensino, nas pesquisas vem se destacando que uma série de

fatores são determinantes para o sucesso das escolas, como, capacidade de

liderança dos diretores, características organizacionais, clima de trabalho na

escola, oportunidades de reflexões entre os membros da escola, participação

dos pais, existência de estrutura física e de recursos adequada e gestão

democrática entre outros. Precisamos construir uma escola verdadeiramente

democrática que assegure aos alunos a aprendizagem, esta escola com

condições organizacionais e pedagógicas que possibilitem isso. Uma escola

que consiga valorizar o potencial de seus professores e funcionários, pois

sabemos que o trabalho dos professores é fundamental para a aprendizagem.

O principal objetivo em um primeiro momento deste material é auxiliar os

diretores escolares no aprofundamento dos seus conhecimentos e dar suporte

aos mesmos nessa difícil tarefa de conduzir os processos no interior do

ambiente escolar promovendo um espaço que propicie as reflexões, construir e

reconstruir conceitos, trocar experiências, no sentido de estimular, valorizar e

permitir ao profissional envolvido, a ressignificação e revalidação da sua prática

profissional. Pretende-se ainda, oportunizar aos diretores, a socialização de

várias questões ligadas à sua prática, assim como fornecer subsídios

significativos ao seu trabalho.

Para pensar sobre a atuação do professor, diante das exigências do

mundo contemporâneo e a realidade em que este profissional desenvolve seu

trabalho, ou seja, as condições às quais ele esta submetido para exercer a sua

profissão, impõe-se uma reflexão sobre o verdadeiro significado de ser diretor.

De que forma este profissional se enxerga na sua profissão? Como ele se

coloca diante dela e da sociedade? Até que ponto ele é capaz de valorizar o

seu papel de ser Diretor?

Este trabalho busca contribuir para a melhoria da prática profissional

daqueles que escolheram “Estar Diretor”. Seja buscando a competência

técnica, ou lutando por melhores condições de trabalho, que garantam o

7

exercício desta competência e ainda, procurando desempenhar tal função, de

maneira competente e compromissada com os deveres e responsabilidades

que constituem a especificidade deste cargo.

Para tanto, as bases de discussões deste Caderno Temático apóia-se

em autores que enxergam o gestor/diretor e sua prática como um dos

elementos mais importantes na escola (LIBÂNEO, 2004; 2008 LUCK, 1998;

2006; 2008 PARO, 2001, 2006; 2007; SAVIANI,1997; SOUZA, 2001; 2005;

2006) .

”Os educadores comprometidos com a transformação social precisam dispor de conhecimentos para repensar formas de funcionamento das escolas, de desenvolvimento da profissionalização e profissionalidade, de participação nas relações cotidianas da comunidade escolar (professores, pais e alunos), de avaliação etc., que considerem ao mesmo tempo a realidade socioeconômica e cultural em que se inserem a escola e os professores e as condições concretas dentro da escola e da sala de aula que garantam a justiça social do ponto de vista da escolarização.” Libâneo 2004.

Unidade I

Tema 1: O QUE É GESTÃO ESCOLAR

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1.1 Objetivos

• Reconhecer o conceito de gestão escolar

• Identificar através do tempo o contexto histórico da gestão escolar.

• Identificar os tipos de gestão.

• Relacionar as diferenças existentes entre administração e gestão

escolar.

1.2 Conteúdos

• Significado de gestão escolar.

• Contexto histórico da gestão escolar.sob o olhar de diversos autores.

• Princípios da gestão escolar.

• Formas de gestão.

• Administração X Gestão Escolar.

1.3. Conversando sobre......1.3.1.O significado de gestão

9

Pode-se iniciar esse texto com a origem da palavra Gestão que advém

do verbo latino gero, gessi, gestum, gerere, cujo significado é levar sobre si,

carregar, chamar para si, executar, exercer e gerar. Desse modo, gestão é a

geração de um novo modo de administrar uma realidade, sendo, então, por si

mesma, democrática, pois traduz a idéia de comunicação pelo envolvimento

coletivo, por meio da discussão e do diálogo.

Para Libâneo, a gestão é a atividade pela qual são mobilizados meios e

procedimentos para atingir os objetivos da organização, envolvendo,

basicamente, os aspectos gerenciais e técnicos-administrativos. Gestão é a

atividade que põe em ação o sistema organizacional.

Para Souza, a gestão escolar pode ser compreendida como um

processo político, de disputa de poder, explicitamente ou não, através da qual

as pessoas agem sobre ela pautam-se predominantemente pelos seus próprios

olhares e interesses acerca de todos os passos desse processo, com vistas a

garantir que as suas formas de compreender a instituição e os seus objetivos

prevaleçam sobre os dos demais sujeitos, ao ponto dos demais sujeitos a

agirem como eles pretendem.

Para Luck, é o ato de gerir a dinâmica cultural da escola, afinado com as

diretrizes e políticas educacionais públicas para a implementação de seu

projeto político-pedagógico e compromissado com os princípios da democracia

e com os métodos que organizem e criem condições para um ambiente

educacional autônomo de participação e compartilhamento e auto-controle.

Para Paro (1986), gestão e administração (aqui tratados pelo autor como

sinônimos) é a utilização racional de recursos para a realização de fins

determinados.

CONVERSANDO SOBRE...

10

1.3.2.Contexto histórico de gestão escolar sob o

olhar de diversos autores

Para pensarmos sobre a atuação do diretor, diante das exigências do

mundo contemporâneo, impõe-se uma reflexão sobre o movimento pela

qualidade da educação entendendo o movimento da gestão como um conjunto

de ações desenvolvidas principalmente no interior da escola que aponte para

as exigências de um “modelo” educacional satisfatório, pelo menos nos termos

da lei e das relações entre instituição escolar e sociedade.

Acredito ser bastante interessante fazer um apanhado histórico sobre a

administração escolar e posteriormente gestão escolar no Brasil, pois através

desse contexto histórico podemos fazer algumas reflexões sobre a atual

política de gestão nas escolas públicas e uma comparação entre o perfil e o

papel que os diretores desempenhavam-nos diferentes períodos apontados.

Para isso vamos tomar como referência Souza, 2006, onde fez uma

análise profunda, em sua tese de doutorado, dos autores e os divide em três

períodos: período de estudos clássicos, período de estudos críticos e período

pós 1987.

Citaremos algumas passagens que se fazem fundamentais para o

entendimento deste temas de pesquisa.

1.3.2.1 PERÍODO DE ESTUDOS CLÁSSICOS

Compreende o período de 1930 a meados da década de 70 e serão

analisados os seguintes autores: Carneiro Leão, Querino Ribeiro, Lourenço

Filho, Anísio Teixeira, Myrtes Alonso e Benno Sander.

11

Antônio Carneiro Leão, de 1939 trata-se de uma obra muito importante

sobre administração escolar no país, além de ter sido a primeira sistematização

na área, foi por muito tempo um dos mais citados referenciais para o estudo da

administração escolar e da educação comparada. O autor procura articular os

conceitos e exemplos da administração escolar nos diferentes países e

sistemas de ensino pelo mundo. Na visão de Leão o diretor da escola deve ser

sempre um professor. O autor confunde direção e administração escolar, ou

seja, o processo de identificação de problemas, de planejamento, de tomada

de decisões, de acompanhamento e controle e avaliação das ações escolares

é todo ele centrado na figura do diretor: “o diretor é a alma da escola. Diz-me

quem é o diretor que te direi o que vale a escola” (Leão, apud Souza, 2006,

p.29).

Prof. José Querino Ribeiro, 1952, representa talvez a primeira bem

sucedida tentativa no país de apresentação de um ensaio que busca ao

mesmo tempo sugerir formas de organização e administração da escola e

teorizar sobre esses aspectos. A obra está dividida em duas partes: a primeira

parte são os fundamentos da administração escolar, que vai da complexidade

da escola moderna até a identificação do problema da administração escolar,

passando por discussões acerca dos princípios e responsabilidades da escola

e pelas fontes de inspiração da administração escolar. F. W. Taylor e H. Faiol

são os principais autores citados por Ribeiro na sua apresentação teórica.

Esses autores eram a expressão mais expoente mundialmente da chamada

administração científica, que se apresentava na área da educação como uma

espécie de antídoto às tradicionais (e conservadoras) formas de se pensar e

organizar a escola. A segunda parte do livro apresenta os aspectos, tipos,

processos, meios e objetivos da administração escolar, numa perspectiva de

conceituação dos elementos e orientação do trabalho da administração escolar.

O autor reconhece que a administração escolar tem a tarefa de organizar e

coordenar os trabalhos escolares, a partir de informações coletadas na própria

fonte dos problemas educacionais, uma vez que admite que nenhuma

regulação estatal acerca dos currículos possa cercear a liberdade de condução

da ação pedagógica do professor. Para tanto, é necessário um clima de ação

12

coletiva na escola, superando-se as tradicionais formas hierárquicas da

organização escolar (Ribeiro apud Souza, 2006, p. 33).

O autor termina sua obra mostrando os três problemas fundamentais

para a administração escolar:

a) apreender os ideais propostos pela Filosofia da Educação para, em

função deles, determinar os objetivos da escola; b) conhecer a Política

de Educação para, em função dela, adotar um estilo de ação adequado;

c) aproveitar as contribuições da ciência para o conhecimento dos

elementos humanos envolvidos no processo de escolarização e, em

função dele, empregar as técnicas mais convenientes às atividades da

escola (Ribeiro apud Souza, 2006, p.37).

Manuel Bergstron Lourenço Filho, em 1941 já havia trazido

contribuições importantes para a área da administração escolar. Em 1963 em

sua obra denominada “Organização e Administração Escolar”, a inicia

afirmando acerca da relação entre escola e vida social que “assim como seja

cada sociedade, assim serão suas escolas” (Lourenço Filho apud Souza, 2006

p.39), permitindo compreender que a escola não é espelho da sociedade, mas

que ela em grande parte reproduz aspectos significativos da organização da

vida social.

Para o autor, as pessoas sobre as quais se concentram as atividades

administrativas são os alunos, os professores, os diretores e os dirigentes do

sistema de ensino. Em ordem ascendente, os dirigentes do sistema de ensino

estão hierarquicamente acima dos diretores, que estão acima dos professores,

que estão acima dos alunos. É curioso que o autor não se preocupe com os

familiares dos alunos e com os demais trabalhadores não-docentes da escola,

possivelmente porque para ele aqueles sujeitos concentram as atividades

essenciais do fazer escolar. De qualquer forma, o conjunto de situações

concretas que envolvem essas pessoas sobre as quais a organização e gestão

escolar se debruçam cotidianamente implica sempre na idéia de ter opções,

isto é, administração significa ter opção, pois nas situações nas quais não haja

vários caminhos possíveis, não se requerem tomar decisões, não é necessário

procurar definir e agir com mais eficiência, não havendo assim ação

administrativa (Lourenço Filho apud Souza, 2006 p.41). E, em um contexto de

13

opções, as atividades fundamentais do dirigente escolar estão, segundo o

autor, em:

a) Reunir informações sobre a situação problemática, tal como

realmente se apresente;

b) Decidir no sentido de modificar esse estado de coisas, a fim de que

os objetivos assentados possam ser obtidos com a eficiência desejada.

As tarefas fundamentais do organizador e administrador resumem-se (...) em duas apenas (...): informar-se e decidir. (Lourenço Filho apud Souza, 2006 p. 41).

Anísio Teixeira. O pensamento deste autor é bastante importante, pois

apresenta e mapea os principais pensamentos sobre a área da Gestão Escolar

durante o século passado, pois Teixeira foi, um dos maiores autores a tratar

sobre a educação no Brasil em toda a sua história, logo, quando pensador

desta envergadura escreve sobre a Gestão Escolar, precisamos observar suas

idéias. Em 1960 proferiu a palestra “Que é Administração Escolar?” na abertura

do l Simpósio Brasileiro de Administração Escolar.

O autor se posiciona de forma diversa ao longo desses anos sobre

assuntos do campo da gestão escolar. Essas mudanças de pensamento

decorrem de avaliações e posição política do autor, o que espelha uma

condição muito presente ao longo de toda a sua trajetória profissional: a de um

intelectual que estava no centro da política educacional.

Myrtes Alonso se destaca com o texto adaptado de sua tese defendida

em 1974, “O papel do diretor na administração escolar”, datado de 1976. Trata-

se de um estudo importante considerando a sua abrangência teórica e o

período em que foi escrito. Contudo, caminha numa espécie de contramão dos

trabalhos de crítica que começavam a surgir e que colocavam sérias restrições

à concepção de administração escolar até então defendidas. A autora deixa

bastante clara sua concepção de que a administração escolar é uma

especialização da ampla área da administração. Esta idéia de especialização

da administração geral explica por que o diretor da escola é, para ela, a figura

que expressa por excelência as funções administrativas naquela instituição

(Alonso apud Souza, 2006 p. 53). Existe em seu livro uma diferenciação entre

14

“funções administrativas” e “funções técnicas”. O papel do diretor na escola não

é de desenvolver um trabalho técnico pedagógico, mas é sim uma tarefa

administrativa. Essas tarefas administrativas são compreendidas pela autora

como organização, planejamento, supervisão do trabalho escolar e tomada de

decisão.

Este trabalho do administrador escolar se desdobra nas funções de

“organização e direção do trabalho escolar, desenvolvimento de atividades de

liderança ou estimulação e manutenção do comportamento humano produtivo,

ao controle dos resultados e apreensão do seu valor social” (Alonso apud

Souza, 2006 p. 57).

Benno Sander A idéia central desse trabalho reside na identificação dos

referenciais dos principais autores do campo da administração escolar, no

Brasil e no exterior. O resumo desses levantamentos que produz aponta,

segundo o autor, para o reconhecimento de duas grandes correntes de

pensamento no campo da administração da educação: a administração do

consenso e a administração do conflito. Para o autor há quatro critérios de

acordo com os quais a administração da educação se orienta e que estão

relacionados com essas dimensões: “relevância (dimensão humana),

efetividade (dimensão sociopolítica), eficácia (dimensão pedagógica) e

eficiência (dimensão econômica)” (Sander apud Souza, 2006 p 63). Esses

critérios e dimensões se expressam na função do administrador da educação,

cujas competências podem assim ser vislumbradas:

A competência humana do administrador da educação revela-se na capacidade para conceber soluções e na liderança para implantá-las sob a ótica da relevância para a plena realização dos participantes da comunidade educacional. A competência sociopolítica define o talento do administrador da educação para perceber o ambiente externo e sua influência sobre o sistema educacional e seus participantes, e a habilidade de adotar uma estratégia de ação para a efetiva satisfação das necessidades e

15

demandas sociais e políticas do sistema educacional. A competência pedagógica do administradorda educação reflete sua capacidade para formular objetivos educacionais e para desenhar cenários e meios pedagógicos eficazes para a sua consecução. Finalmente, a competência econômica do administrador da educação refere-se à sua eficiência para otimizar a captação e utilização dos recursos e elementos técnicos e racionais a serviço dos objetivos do sistema educacional. (Sander, apud Souza, 2006 p. 63).

Síntese das idéias sobre a direção e a gestão escolar no Brasil

Direção Escolar Gestão Escolar

16

AU

TOR

ES C

LÁSS

ICO

S O diretor deve ser um professor.

O diretor como defensor da política

educacional.

O diretor deve se colocar a serviço

do professor.

O papel pedagógico do diretor está

em desenvolver

ações administrativas para garantir

as condições de funcionamento das

ações pedagógicas.

O elemento mais importante não é

o administrador, mas o professor.

O papel do diretor não é técnico-

pedagógico, mas sim.Administrativo.

O papel do diretor é manter o

equilíbrio, conduzindo a escola nos

processos de mudança.

O diretor é o responsável pela

implementação dos objetivos

educacionais.

O diretor é o pólo de poder central

da escola. Este poder vem da

legislação e das expectativas que a

escola tem para com ele, o que

resulta em pressões legais e sociais.

Gestão e direção se confundem.

As atividades que são próprias da escola

são o fundamento para a AE.

A administração científica possui

princípios e métodos que cabem na

escola.

A AE é uma especialização da

administração.

A AE é necessária pela complexificação

da educação escolar, em tamanho e em

problemas.

É necessário um clima de ação coletiva

na escola.

Escola eficiente e eficaz: condição para

garantir o acesso de todos.

Objetivo da AE: tornar as escolas mais

eficientes.

A consecução dos objetivos escolares de

forma eficiente e a coordenação do

esforço coletivo é o foco da AE.

A AE ocorre antes, durante e depois das

funções pedagógicas escolares: Antes =

planejamento; durante = comando e

assistência; depois = medição e avaliação.

A AE deve garantir a unidade e a

economia, através da divisão do trabalho,

mas sem perder a unidade.

Distinção entre ação administrativa e

ação operativa:pensar e fazer.

Administração significa ter opção, logo

significa tomar decisões.

O processo administrativo se resume

em: reconhecimento de um problema;

planejamento;coordenação; verificação do

resultado; exame para evitar a reaparição

do problema.(Souza, 2006, p. 193)

1.3.2.2 PERÍODO DE ESTUDOS CRÍTICOS

17

Este período se inicia no final da década de 70. Os principais autores

aqui citados estão Miguel Arroyo, Maria Dativa S. Gonçalves, Maria de Fátima

C. Félix.

Miguel Arroyo o artigo intitulado “Administração da educação, poder e

participação”, publicado em janeiro de 1979 trata, como o título sugere, das

relações políticas que cercam a administração da educação, procurando

construir uma linha crítica aos modelos implantados no país que procuravam

ao ver do autor, torná-la uma tarefa meramente técnica e, com isto, buscavam

identificar as causas dos problemas educacionais brasileiros com razões

tipicamente técnicas. Isto é, se os problemas educacionais eram ocasionados

por incompetência ou incapacidade técnica, a administração científica, calcada

na racionalidade da empresa privada – modelo que inspirava a administração

educacional no país resolveria esses problemas. Para esta concepção então

dominante na administração educacional no país.

Para Arroyo praticamente equivale o poder público com a empresa

privada, observando que ambos operam sob raciocínios semelhantes no que

tange ao processo de racionalidade administrativa.

Arroyo se preocupa com o papel do dirigente escolar e educacional, que

deve, em sua concepção, superar a pretensa neutralidade que se lhe atribuem

os cursos de formação básica e continuada e os documentos legais,

percebendo a natureza política do trabalho escolar e reconstruindo nas

análises macro-sociais sobre a escola. Trata-se de um período em que ao

administrador é reclamado amplo conhecimento sobre as técnicas de gestão e

organização, mesmo que com conhecimentos superficiais sobre o real objeto

com o qual deveria lidar: a educação escolar e o processo educativo.

Maria Dativa Gonçalves. 1980 As sínteses da autora sobre os trabalhos

que analisa apontam para a constatação de que se trata de estudos que

confirmam que todas as instituições e organizações têm elementos comuns,

permitindo a constituição de teorias gerais da administração aplicáveis a todas

elas e que, nas escolas, haveria a necessidade de se articular a burocracia e a

organização profissional, para o seu desenvolvimento administrativo e

18

institucional. Todavia, ela reconhece que os autores dos trabalhos que analisa

destacam as articularidades da “empresa educacional”, as quais demandam

elementos administrativos particulares, mesmo que sob a defesa de uma teoria

geral da administração.

Maria de Fátima C. Félix produziu um trabalho de crítica aos modelos

de administração escolar vigente no país até o início dos anos 80 foi, com a

publicação da sua dissertação de mestrado, intitulada “Administração Escolar:

um problema educativo ou empresarial?” (1984). O trabalho tinha como

objetivo ajudar na construção “deste movimento crítico, mediante uma análise

da Administração Escolar, explicitando as relações que se estabelecem entre o

sistema escolar e a evolução do capitalismo” (Félix apud Souza, 2006 p.79).

A partir desse objetivo a autora procura deixar claro ao leitor que as

análises que se apresentam no seu livro confrontam a administração escolar

como ferramenta operacional da política educacional, e as relações entre esta

política e a política mais ampla do Estado.

E a hipótese que guia o trabalho da autora aponta para a idéia de que a

administração escolar tem como principal papel garantir ao Estado o controle

sobre a educação, tendo em vista a crescente burocratização dos sistemas de

ensino. Tal controle permitiria ao Estado adequar a educação ao seu projeto de

desenvolvimento econômico e também seria condição para uma avaliação

sobre os produtos da educação numa perspectiva da produtividade.

Aborda em sua obra o estudo das relações o estudo das relações entre

a organização do sistema escolar e o desenvolvimento do capitalismo no

Brasil; a contraposição entre a administração de empresa e a administração

escolar; e o estado capitalista brasileiro e a burocratização do sistema escolar.

Acácia Z. Kuenzer Zung A autora faz considerações sobre alguns

aspectos da teoria da administração escolar, a qual se sustenta em aspectos

mais prescritivos, evidenciando uma natureza pouco científica. Além disso, faz

críticas à naturalização da divisão social do trabalho, apresentada pelas teorias

da administração como parte integrante da natureza humana e não como

produto social, bem como também se soma aos demais autores do período no

19

que se refere às críticas ao entendimento de que a administração educacional

é uma aplicação da administração no ambiente educacional .

Vitor Paro o autor procura demonstrar como as duas tendências então

dominantes no pensamento da administração educacional brasileira de então

estavam equivocadas. De uma parte, a concepção que advogava que a escola

poderia ser administrada pelos mesmos procedimentos da empresa capitalista,

e de outra, a concepção que avaliava ser desnecessário qualquer tipo de

organização administrativa na escola; ambas incorriam, na visão de Paro, no

mesmo engano de não levarem em conta que a administração escolar recebia

decisivas influências e impactos dos determinantes sociais e econômicos,

pois para o autor a...atividade administrativa não se dá no vazio, mas em condições históricas determinadas para atender a necessidades e interesses de pessoas e grupos. Da mesma forma, a educação escolar não se faz separada dos interesses e forças sociais presentes numa determinada situação histórica (Paro, 1988, p. 13).

Paro conclui seu trabalho afirmando que a administração escolar

transformadora não pode ignorar a realidade em que se encontra a

organização das escolas, ao contrário, é partindo dessa realidade que a

transformação necessária emergirá, na qual a figura do diretor, então uma

personagem central e de responsabilidade última pela escola, não pode ser

ignorada e deve ser atraída para os compromissos de transformação social em

busca não da conquista do poder por grupos mais avançados e menos

conservadores, mas na luta primeira pela transformação do poder.

Esses trabalhos do período do início dos anos 80 têm algumas

características bastante similares:

a) estão todos voltados à crítica aos modelos de organização e gestão

das escolas até então dominantes na literatura especializada e na prática

escolar e educacional. Os autores “críticos” colocam no centro da sua análise

os trabalhos dos períodos anteriores, desfocando-os um pouco. A exceção fica

por conta de Paro, o qual, a despeito das críticas, enxerga alguma positividade

naqueles trabalhos, mas a qualifica normalmente como ingenuidade;

20

b) são todos os trabalhos com perfil teórico, ou de análise de produção

teórica, não havendo, em nenhum desses casos, articulação com pesquisas

empíricas que tomassem a escola e a sua gestão como objeto de estudos;

c) há um pressuposto para esses trabalhos: a administração escolar

como aplicação da administração científica nas escolas contribui para a

manutenção das condições econômicas, sociais e políticas da sociedade;

d) os instrumentos e processos da gestão escolar, como estavam sendo

tratados pelos autores clássicos e como eram entendidos na organização

prática das escolas, na visão desses autores críticos, são fenômenos

essencialmente tecnocráticos, assim como o perfil do dirigente escolar,

reconhecido por esses autores como de um gerente em uma empresa

produtiva, cuja tarefa era de garantir a produtividade, de um lado, ou, mais o

controle dos trabalhadores da educação.

21

Síntese das idéias sobre a direção e a gestão escolar no Brasil

Direção Escolar Gestão EscolarA

UTO

RES

CR

ÍTIC

OS

Crítica à concepção do

Diretor como um gerente,

própria da administração

capitalista.

O diretor deve ser um

educador, antes de tudo.

O diretor como

coordenador do trabalho

coletivo.

Crítica aos modelos técnicos de AE implantados até

então no país.

Crítica aos pensadores brasileiros e estrangeiros

pela linearidade entre a AE e a administração em

geral.

Crítica ao uso da administração científica na AE.

Crítica à ideologização da teoria administrativa.

Crítica à AE que tem como principal papel garantir

ao Estado o controle sobre a educação.

Críticas à naturalização da divisão social do

trabalho.

Crítica às teorias da administração por sua

pretensa neutralidade técnica.

Crítica à administração conservadora pela

negligência técnica em favor de uma ação política

conservadora: aplicação de um tecnicismo vazio.

Administração é o uso racional de recursos com

vistas a determinados fins.

Administração como racionalização do trabalho e

coordenação do trabalho coletivo.

Administração, em última análise, são métodos.

Educação escolar é um fenômeno muito específico

que demanda tratamento específico.

Percebem a dimensão política da administração.

A AE deve estar articulada com os objetivos

escolares

Administração transformadora: percepção política e

intervenção técnica.

Participação da sociedade na administração

transformadora.

Autogestão.(Souza,2006, p. 193)

1.3.2.3 PERÍODO COMPREENDIDO ENTRE 1987- 2004 TENDÊNCIAS DA PESQUISA BRASILEIRA NA ÁREA DA GESTÃO ESCOLAR

22

A pesquisa no campo, a partir dos anos 80, herdou importantes marcas

daquela crítica, destacadamente:

a) o reconhecimento da gestão escolar como um processo político

pedagógico;

b) a preocupação com temas até então pouco importantes, como a

democratização da gestão escolar.

Todavia, mesmo sendo possível se afirmar que o período da crítica à

escola clássica da gestão escolar inspirou uma seqüência de estudos na área

durante as décadas de 80 e 90, é também possível se observar o surgimento

de novos temas e abordagens nas pesquisas na área.

A produção acadêmica do campo da gestão escolar no Brasil neste

período foi de 514 (quinhentos e catorze) trabalhos de mestrado e doutorado.

Os temas no início dos anos 80 que mais se evidenciaram eram o papel do

diretor, o perfil do diretor, forma de escolha dos diretores escolares, relação

entre o papel do diretor e o sucesso escolar a partir da segunda metade dos

anos 90, surgiram outros assuntos com práticas e desafios do diretor,

formação, prática cotidiana dos dirigentes escolares.Gestão democrática,

projeto político pedagógico, APMF, avaliação institucional, grêmio estudantil.

Poucos estudos sobre a questão de gênero.

Síntese das idéias sobre a direção e a gestão escolar no Brasil

23

Direção Escolar Gestão Escolar

PÓS-

1987 Papel do diretor: articulador da

organização e gestão Escolar.

Preocupação central com as formas

de escolha da função de diretor.

Na identificação do perfil do diretor, a

preocupação com as contradições da

função: representante do poder público

X representante da comunidade

escolar; função administrativa X função

pedagógica

.O diretor no centro das relações de

poder.

Gestão é um processo político.

A democracia na escola.

Gestão democrática.

Conselhos de escola, junto com a

eleição de diretores, como as

expressões da gestão democrática.

A Gestão e as relações de poder na

escola.

O projeto político-pedagógico como

uma ferramenta da organização e

gestão escolar.

Autonomia na gestão escolar.(Souza,2006.p.193)

Todos, na escola, por meio do trabalho pedagógico, são responsáveis

pelo andamento do processo de ensino e aprendizagem. A administração

escolar se desenvolve no atendimento ao conjunto de características que a

escola apresenta.“Tanto a teoria como a prática sugere que o estilo de

liderança e gestão do diretor será crucial em qualquer escola...” (COLS, 2006, p. 118)

Isto serve para compreender que uma boa atuação do diretor e o bom

funcionamento da escola podem significar preocupação com a educação e ao

mesmo tempo contribuir com a elevação do nível cultural dos alunos. Nessa

perspectiva é possível pensar na educação como um instrumento que

possibilite às camadas populares uma ampliação do universo cultural. O

funcionamento da escola e, sobretudo, a qualidade da aprendizagem dos

alunos dependem de boa direção, ou seja, de formas democráticas e eficazes

de gestão do trabalho escolar. É preciso estar claro que a direção e a

administração da escola são meios para garantir os objetivos educacionais.

Libâneo, 2003, defende estudos que mostram que o modo de

funcionamento de uma escola faz diferença nos resultados escolares dos

alunos. Embora as escolas não sejam iguais, não sendo possível estabelecer

regras e procedimentos organizacionais de validade geral, as pesquisas

contribuem para a indicação de características organizacionais que podem ser

24

úteis para a compreensão do funcionamento delas, considerados os contextos

e as situações escolares específicas.“... O perfil do diretor e da gestão escolar são elementos que se somam

a um conjunto de outros aspectos responsáveis pelos resultados escolares, mas não deixam de ser variáveis importantes para a compreensão dos resultados estudantis, permitindo-se concluir que há uma espécie de efeito gestão nas escolas públicas de educação básica no Brasil...” (SOUZA, 2006, p. 276)

Conversando sobre.....1.3.3..Princípios da Gestão Escolar

A gestão escolar, como área de atuação, constitui-se, pois, em um meio

para a realização das finalidades, princípios, diretrizes e objetivos educacionais

orientadores da promoção de ações educacionais com qualidade social, isto é,

atendendo bem a toda a população, respeitando e considerando as diferenças

de todos os seus alunos, promovendo o acesso e a construção do

conhecimento a partir de práticas educacionais participativas, que fornecem

condições para que o educando possa enfrentar criticamente os desafios de se

tornar um cidadão atuante e transformador da realidade sociocultural e

econômica vigente, e de dar continuidade permanentemente aos seus estudos.

Para que as organizações funcionem e, assim, realizem seus objetivos,

requer-se a tomada de decisões e a direção e controle dessas decisões. É

esse processo que denominamos de gestão.

Para o gestor escolar torna-se, entretanto, imprescindível conhecer a

dimensão do conjunto organizacional, isto é, a escola como realidade global,

ser capaz de adaptá-la às novas exigências que a localidade deseja.

A organização e a gestão da escola visam:

• Promover as condições, os meios e todos os recursos necessários ao

ótimo funcionamento da escola e do trabalho em sala de aula;

• Promover o envolvimento das pessoas no trabalho por meio da

participação e fazer o acompanhamento e a avaliação dessa

participação, tendo como referência os objetivos da aprendizagem.

• Garantir a realização da aprendizagem de todos os alunos.

25

A gestão escolar constitui uma das áreas de atuação profissional na

educação destinada a realizar o planejamento, a organização, a liderança, a

orientação, a mediação, a coordenação, o monitoramento e a avaliação dos

processos necessários à efetividade das ações educacionais orientadas para a

promoção da aprendizagem e formação dos alunos.

Gestão escolar é o ato de gerir a dinâmica cultural da escola, afinado

com a s diretrizes e políticas educacionais públicas para a implementação de

seu projeto político pedagógico e compromissado com os princípios da

democracia e com os (soluções próprias, no âmbito de suas competências), de

participação e compartilhamento (tomada de decisões conjunta e efetivação de

resultados) e auto-controle (acompanhamento e avaliação com retorno de

informações)

Compete, pois, à gestão escolar estabelecer o direcionamento e a

mobilização capazes de sustentar e dinamizar a cultura das escolas, para

realizar ações conjuntas, associadas e articuladas, sem as quais todos os

esforços e gastos são despendidos sem muito resultado, o que, no entanto,

tem acontecido na educação brasileira, uma vez que se tem adotado, até

recentemente, a prática de buscar soluções tópicas, localizadas, quando, de

fato, os problemas são globais e inter-relacionados.

Cabe ressaltar que a gestão escolar é um enfoque de atuação, um meio e não um fim em si mesmo. O fim último da gestão é a aprendizagem efetiva e significativa dos alunos, de modo que , no cotidiano que vivenciam na escola desenvolvam as competências que a sociedade demanda, dentre as quais se evidenciam pensar criativamente: analisar informações e proposições diversas, de forma contextualizada; expressar idéias com clareza, oralmente e por escrito; empregar a aritmética e a estatística para resolver problemas; ser capaz de tomar decisões fundamentadas e resolver conflitos.( LUCK, 2008)

...CONVERSANDO SOBRE 1.3.4.Concepções e estilos de gestão escolar

26

Segundo Libâneo os processos de gestão assumem diferentes

concepções conforme a intencionalidade em relação às finalidades sociais e

políticas da educação. Em um extremo temos a concepção técnico-científica e

em outro a sócio-critíca.

Na concepção técnico-científica prevalece a visão mais burocrática e

tecnicista da escola. A escola funciona como uma realidade neutra e objetiva,

deste modo pode ser planejada, organizada e controlada de modo a obter altos

índices de eficácia e eficiência.A direção é centralizada no papel do diretor, as

decisões vem de cima para baixo onde não existe a participação coletiva.

Valorizam a estrutura organizacional, normas , regulamentos. Este modelo é o

mais comum encontrado na realidade brasileira.

Na concepção sócio-crítica a escola é concebida como um sistema que

agrega pessoas para que ocorra intencionalmente ações de interações

sociais.A organização escolar não é algo um espaço neutro e sim um espaço

que deve ser construído na coletividade escolar.Tanto o processo de gestão

como o de tomada de decisão se dão no coletivo.

Conforme os últimos estudos sobre os estilos de gestão escolar Libâneo

classifica quatro concepções de gestão: a técnico-científica, a autogestionária,

a interpretativa e a democrática-participativa.

Concepção técnico-científica, esta baseia-se na hierarquia de cargos e

funções, nas regras e procedimentos administrativos, visando sempre a

racionalização dos trabalhos e a eficiência dos serviços escolares. Também

conhecida em sua visão mais conservadora como administração clássica ou

burocrática. Na versão mais recente é conhecida como modelo de gestão da

qualidade total, utilizada de forma mais veemente em práticas de gestão da

administração empresarial.

Concepção autogestionária sua base esta na responsabilidade coletiva sem

a presença de uma direção centralizada.Existe uma tendência nessa

concepção de recusar o exercício da autoridade e as formas sistematizadas de

organização e gestão.Valoriza muito a capacidade do grupo criar, instituir as

suas próprias regras.

Concepção interpretativa a base desta concepção se encontra na percepção

de que a escola é uma realidade social subjetivamente construída.

27

Concepção democrática-participativa baseia-se na relação orgânica entre a

direção e a participação dos membros da equipe. Acentua a importância da

busca de objetivos comuns assumidos por todos. Defende uma forma coletiva

de tomada de decisões, após a decisão tomada cada pessoa deve se

responsabilizar por sua parte, admitindo a avaliação sistemática.

O quadro da próxima página auxilia na distinção das principais características

de cada concepção de organização e gestão escolar.

Concepções de organização e gestão escolarTÉCNICO

CIENTÍFICA

AUTOGESTIONÁRIA INTERPRETATIVA DEMOCRÁTICO-

PARTICIPATIVA

28

Prescrição detalhada de

funções e tarefas,

acentuando a divisão

teórica do trabalho

escolar.

Poder centralizado no

diretor, destacando-se as

relações de

subordinação, em que

uns têm mais autoridade

do que outros.

*Ênfase na

administração

regulada(rígido sistema

de normas, regras,

procedimentos

burocráticos de controle

das atividades),

descuidando-se, às

vezes, dos objetivos

específicos da instituição

escolar.

Comunicação linear ( de

cima para baixo)

baseada em normas e

regras.

Mais ênfase nas tarefas

do que nas pessoas.

Vínculo das formas de

gestão interna com as

formas de autogestão

social (poder coletivo na

escola para preparar

formas de autogestão no

plano político).

Decisões coletivas

(assembléias, reuniões),

eliminação de todas as

formas de exercício de

autoridades e de poder.

Ênfase na auto-

organização do grupo de

pessoas da instituição, por

meio de eleições e de

alternativas no exercício de

funções.

Recusa a normas e a

sistemas de controles,

acentuando a

responsabilidade coletiva.

Crença no poder instituinte

da instituição e recusa de

todo o poder instituído. O

caráter instituinte dá-se

pela prática da participação

e da autogestão, modos

pelos quais se contesta o

poder instituído.

Ênfase as inter-relações,

mais do que nas tarefas.

A escola é uma realidade

social subjetivamente

construída, não dada nem

objetiva.

Privilegia menos o ato de

organizar e mais a “ação

organizadora” com valores e

práticas compartilhados.

A ação organizadora valoriza

muito as interpretações, os

valores, as percepções e os

significados subjetivos,

destacando o caráter humano

e preterindo o caráter formal,

estrutural , normativo.

Definição explicita, por

parte da equipe escolar, de

objetivos sociopolíticos e

pedagógicos da escola.

Articulação da atividade

de direção com a

iniciativa e a participação

das pessoas da escola e

das que se relacionam

com ela.

Qualificação e

competência profissional.

Busca de objetividade no

trato das questões da

organização e da gestão,

mediante coleta de

informações reais.

Acompanhamento e

avaliação sistemáticos

com finalidade

pedagógica: diagnóstico,

acompanhamento dos

trabalhos, reorientação de

rumos e ações, tomada de

decisões.

Todos dirigem e são

dirigidos, todos avaliam e

são avaliados.

Ênfase tanto nas tarefas

quanto nas relações.

(Libâneo, Oliveira, Toschi, 2008)

CONVERSANDO SOBRE ....1.3.5.Administração x Gestão Escolar

29

Mudanças de paradigma de administração para gestão

Organização e ações dos dirigentesADMINISTRAÇÃO GESTÃO

• O direcionamento do trabalho

consiste no processo racional,

exercido objetivamente de fora para

dentro, de organização das condições

de trabalho e do funcionamento de

pessoas, em um sistema ou unidade

social.

• Ao administrados compete manter-se

objetivo, imparcial e distanciado dos

processos de produção, como

condição para poder exercer controle

e garantir seus bons resultados.

• Ações e práticas que produzem bons

resultados não devem ser mudadas,

a fim de que estes continuem sendo

obtidos.

• A autoridade do dirigente é centrada

e apoiada em seu cargo.

• O dirigente exerce ação de comando,

controle e cobrança.

• A responsabilidade maior do dirigente

é a de obtenção e garantia de

recursos necessários para o

funcionamento perfeito da unidade.

• O dirigente orienta suas ações pelo

princípio da centralização de

competências e especialização da

tomada de decisões.

• O direcionamento do trabalho

consiste no processo intersubjetivo,

exercido mediante liderança, para a

mobilização do talento humano

coletivamente organizado, para

melhor emprego de sua energia e de

organização de recursos, visando à

realização de objetivos sociais.

• Ao gestor compete envolver-se nos

processos sob sua orientação,

interagindo subjetivamente com os

demais participantes, como condição

para coordenar e orientar seus

processos e alcançar, melhores

resultados.

• A alteração contínua de ações e

processos é considerada como

condição para o desenvolvimento

contínuo; a sua manutenção, mesmo

que favorável, leva à estagnação.

• A autoridade do dirigente é centrada

e apoiada em sua competência e

capacidade de liderança.

• O dirigente exerce ação de

orientação, coordenação, mediação e

acompanhamento.

Mudanças de paradigma de administração para gestão Organização e ações dos dirigentes

ADMINISTRAÇÃO GESTÃO• A responsabilidade funcional é • A responsabilidade maior do dirigente

30

definida a partir de tarefas e funções.

• Avaliação e análise de ação e de

desempenho são realizadas com foco

em indivíduos e situações

específicas, considerados

isoladamente, visando identificar

problemas.

• O importante é fazer mais, em caráter

cumulativo.

é a sua liderança para a mobilização

de processos sociais necessários

• O dirigente orienta suas ações pelo

princípio da descentralização e

tomada de decisão compartilhada e

participativa.

• A responsabilidade funcional é

definida a partir de objetivos e

resultados esperados com as ações.

• Avaliação e análise de ação e de

desempenho são realizadas com foco

em processos, em interações de

diferentes componentes e em

pessoas coletivamente organizadas,

todos devidamente contextualizados,

visando identificar desafios.

• O importante é fazer melhor em

caráter transformador.Luck Heloísa – vinhetas de aulas,2008

1.5 REFERÊNCIAS

31

TESES E DISSERTAÇÕES CITADAS:

FRANCISCO, Iraci José. 2006 A Atuação do Diretor de Escola Pública: Determinações Administrativas e Pedagógicas do Cotidiano Escolar. Dissertação de Mestrado em Educação (História, Política, Sociedade). São Paulo: PUC-SP.

SOUZA, Ângelo Ricardo de. 2006. O Perfil da Gestão Escolar no Brasil. Tese de Doutorado (Educação: História, Política, Sociedade). São Paulo: PUC-SP.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A gestão da Escola VER COMO FAZ A REFERENCIA????

CHIAVENATO, Idalberto. Administração de Empresas: uma abordagem contigencial. São Paulo– SP: Markron Books, 1994, 3ª edição

LIBÂNEO, José Carlos. A organização e a Gestão da Escola: Teoria e Prática.Goiânia: Editora Alternativa,2001.

LIBÂNEO, José Carlos et al. Educação Escolar: políticas, estrutura e organização; 6ª ed. São Paulo: Cortez, 2008.

LUCK, Heloísa. Dimensões de gestão escolar e suas competências. Curitiba: Editora Positivo, 2008.

PARO, Vitor Henrique . Administração Escolar: introdução crítica. 14ª. Edição. São Paulo: Cortez, 2006.

___________. 1995. Por dentro da escola pública. São Paulo: Xamã.

___________.2006. Gestão democrática da escola pública. 3ª edição, Ed. Ática.

SAVIANI, Dermeval. 1996. Educação: do senso comum à consciência filosófica. 12ª. Edição. Campinas: Autores Associados.

SOUZA, Ângelo R. et al. 2005a. Gestão e Avaliação da Escola Pública. I: Gestão Democrática da Escola Pública. Curitiba: Editora UFPR.

___________.2005b. Gestão e Avaliação da Escola Pública. II:Planejamento e trabalho coletivo. Curitiba: Editora UFPR.

___________. 2005c. Gestão e Avaliação da Escola Pública. V: Caderno de Hipertextos. Curitiba: Editora UFPR.

32

___________. 2005d. Gestão e Avaliação da Escola Pública. IV: Gestão e avaliação da educação escolar. Curitiba: Editora UFPR.IO, Marina Rodrigues Borges. A Gestão da Escola. Porto Alegre,Artmed/Rede Pitágoras, 2004. 256p.

UNIDADE I

Tema 2: O PAPEL DO GESTOR ESCOLAR

2.1 Objetivos

33

• Identificar as funções do gestor no contexto escolar.

• Reconhecer o papel dos gestores escolares.

• Identificar o papel do diretor como gestor pedagógico, administrativo e

de resultados.

• Diferenciar os tipos de liderança.

.

2.2 Conteúdos• A função do gestor no contexto da escola.

• Competência do Gestor escolar.

• Trabalho com as estâncias colegiadas.

• Gestor pedagógico

• Gestor administrativo

• Gestor de resultados

• Liderança.

2.3 CONVERSANDO SOBRE......2.3.1 A função do diretor/gestor no contexto

escolar

34

Primeiro é importante evidenciar que a direção escolar é compreendida

como uma função desempenhada na escola, com a tarefa de dirigir a

instituição, através de um conjunto de ações e processos caracterizados como

político pedagógicos. Em uma frase, a função do diretor é a de coordenar o

trabalho geral da escola, lidando com os conflitos e com as relações de poder,

com vistas ao desenvolvimento mais qualificado do trabalho pedagógico. O

diretor é o coordenador do processo político que é a gestão da escola, é

entendido como o executivo central da gestão escolar. (Souza,2006)

Segundo Libâneo a direção da escola, além de uma das funções do

processo organizacional, é um imperativo social e pedagógico. O significado do

termo direção, no contexto escolar, difere de outros processos direcionais,

especialmente os empresariais. Ele vai além da mobilização das pessoas para

a realização eficaz das atividades, pois implica intencionalmente, definição de

um rumo educativo, tomada de posição ante objetivos escolares sociais e

políticos, em uma sociedade concreta. A escola, ao cumprir sua função social

de mediação, influi significativamente na formação da personalidade humana;

por essa razão, são imprescindíveis os objetivos políticos e pedagógicos.

O processo educativo, portanto, por sua natureza, inclui a compreensão

do conceito de direção por todos os segmentos da escola. Sua adequada

estruturação e seu ótimo funcionamento constituem fatores essenciais para

atingir eficazmente os objetivos da formação. Ou seja, o trabalho escolar

implica uma direção.

Com base nesse princípio mais geral, há que se destacar o papel

significativo do diretor da escola na gestão da organização do trabalho escolar.

A participação, o diálogo, a discussão coletiva, a autonomia são práticas

indispensáveis da gestão democrática, mas o exercício da democracia não

significa ausência de responsabilidade. Uma vez tomadas as decisões

coletivamente, participativamente, é preciso colocá-las em prática. Para isso, a

escola deve estar bem coordenada e administrada.

Não se quer dizer com isso que o sucesso da escola reside unicamente

na pessoa do diretor ou em uma estrutura administrativa autocrática – na qual

ele centraliza todas as decisões. Ao contrário, trata-se de entender o papel do

diretor como o de um líder cooperativo, o de alguém que consegue aglutinar às

35

aspirações, os desejos, as expectativas da comunidade escolar e articula a

adesão e a participação de todos os segmentos da escola na gestão em um

projeto comum. O diretor não pode ater-se apenas às questões administrativas.

Como dirigente, cabe-lhe ter uma visão de conjunto e uma atuação que

apreenda a escola em seus aspectos pedagógicos, administrativos, financeiros

e culturais.

O diretor coordena, organiza e gerencia todas as atividades da escola,

auxiliando pelos demais elementos do corpo técnico-administrativo e do corpo

de especialistas. Atende às leis, aos regulamentos e às determinações dos

órgãos superiores dos sistemas de ensino e às decisões no âmbito da escola

assumidas pela equipe escolar e pela comunidade.

Segundo Saviani, o diretor apresenta-se, como o responsável máximo

no âmbito da unidade escolar e seu papel é garantir o bom funcionamento da

escola” (Saviani, 1996, p.207).

Já Vitor Paro, vê uma situação bastante contraditória na função do

diretor, quando observa o uso político desta função pelo sistema de ensino,

quando lhe é transferido a função de gerente, de controlador do trabalho

escolar. O diretor por muitas vezes é o porta voz das pessoas da comunidade

escolar, de um lado e preposto do estado do outro. Aí percebe-se a natureza

política do cargo do diretor.(...) o diretor se vê permanentemente colocado entre

dois focos de pressão: de um lado, professores, pessoal da escola em geral, alunos e pais, reivindicando medidas que proporcionem melhores condições de trabalho e promovam a melhoria do ensino; de outro, o Estado, não satisfazendo a tais reivindicações e diante do qual o diretor deve “responder pelo cumprimento, no âmbito da escola, das leis, regulamentos e determinações” dele emanadas, evitando, inclusive, que as ações dos primeiros venham a representar quaisquer ameaças aos interesses dominantes (Paro, 1988, p.133)

O diretor escolar atua diversas vezes como o juiz que julga e disciplina,

que define o certo e o errado; como legislador que define as regras; como

burocrata administrador que deve ordenar e assinar papéis (Souza et.ali 2005,

p 51). Essas não são tarefas menores, mas são o que Santos Guerra chama

de “tarefas pedagogicamente pobres” (1994,pp169-170). Infelizmente o que se

percebe hoje é o uso do tempo dos diretores cada vez maior com tais tarefas

deixando a essência pedagógica em segundo plano.

36

A escola é uma instituição de natureza educativa. Ao diretor cabe, então, o papel de garantir o cumprimento da função educativa que é a razão de ser da escola. Nesse sentido, é preciso dizer que o diretor de escola é, antes de tudo, um educador; antes de ser administrador ele é um educador (Saviani, 1996, p 208)

Para Luck (2008) o diretor escolar é o profissional que tem a função de

liderar e organizar o trabalho de todos na escola, de modo a orientá-los no

desenvolvimento do ambiente educacional capaz de promover aprendizagens e

formação dos alunos, no nível mais elevado possível, de modo que estejam

capacitados a enfrentar os novos desafios que são apresentados. É o líder,

mentor, coordenador e orientador principal da vida da escola e todo o seu

trabalho educacional, não devendo sua responsabilidade ser diluída entre

todos os colaboradores da gestão escolar, embora possa ser com eles

compartilhada. (...) ao diretor compete zelar pela escola como um todo, tendo

como foco de sua atuação em todas as ações e em todos os momentos a

aprendizagem e formação dos alunos.

A implementação de práticas alternativas de organização e gestão da

escola depende muito da atuação da direção e da sua equipe pedagógica.

Partimos do princípio que o diretor de escola é o responsável pelo

funcionamento administrativo e pedagógico, portanto necessita de

conhecimentos tanto administrativos quanto pedagógicos. Sabemos que na

escola o diretor desempenha predominantemente a gestão geral da escola e,

especificamente, as funções administrativas (relacionadas com o pessoal, com

a parte financeira, com as instalações e os recursos materiais, com a

supervisão geral das obrigações de rotina do pessoal, relações com a

comunidade) repassando a parte pedagógica para as pedagogas.

Segundo Libâneo (2004) o papel do diretor deve ser do profissional

que detém os conhecimentos e habilidades para exercer liderança, iniciativa e

utilizar práticas de trabalho em grupo para assegurar a participação de alunos,

professores, especialistas e pais nos processos de tomada de decisões e na

solução de problemas.

O papel dos diretores vem tomando um novo aporte devido a uma série

de mudanças que estão ocorrendo na sociedade, o crescimento populacional e

a urbanização da sociedade têm levado a criação de escolas maiores, bem

mais complexas em suas tarefas e organizações. A necessidade de um vínculo

37

maior com as famílias, uma vez que muitas das responsabilidades antes

conferidas aos pais vêm sendo repassadas a escola como orientação sexual,

orientação para novas necessidades da vida urbana, educação para o trânsito,

educação ambiental, entre outros atributos. Também conforme a postura do

diretor e os encaminhamentos que ele dá à escola vão representar o respeito e

credibilidade da escola perante a sua comunidade. Precisamos entender o

papel do diretor como um líder, uma pessoa que consegue aglutinar as

aspirações, os desejos, as expectativas da comunidade escolar e articular a

adesão e a participação de todos os segmentos da escola na gestão de um

projeto comum.Novos desafios e exigências são apresentados à escola, que

recebe o estatuto legal de formar cidadãos com capacidade de não só enfrentar esses desafios como de superá-los. Como conseqüência, para trabalhar em educação, de modo a atender as demandas, trona-se imprescindível que se conheça a realidade e que se tenham competências necessárias para realizar contextos educacionais os ajustes e mudanças de acordo com as necessidades e demandas emergentes no contexto da realidade externa e no interior da escola. (LUCK ,2008)

CONVERSANDO SOBRE.... 2.3.2 Competências dos Diretores Escolares

Na escola, o diretor é o profissional a quem compete à liderança e

organização do trabalho de todos os que nela atuam, de modo à formação dos

alunos, no nível mais elevado possível, de modo que estejam capacitados a

enfrentar os novos desafios que são apresentados.

Demanda do diretor capacidade conceitual sobre a educação; a gestão

escolar e seu trabalho, mediante visão de conjunto e uma perspectiva sobre a

natureza da educação; o papel educacional da escola e dos profissionais que

nela atuam; a demanda educacional dos alunos; a relação da escola com a

comunidade.

Segundo Penin (2001) uma das competências básicas do diretor escolar

é promover na comunidade escolar o entendimento do papel de todos em

relação à educação e a função social da escola mediante a adoção de uma

38

filosofia comum e clareza de uma política educacional de modo a haver

unidade e efetividade no trabalho de todos.

A Secretaria de Estado da Educação do Paraná indica que o diretor

deve possuir uma série de atribuições das quais muitas delas depende um

bom conhecimento legal, administrativo, financeiro, pedagógico e de

resultados. Estaremos trabalhando com noções básicas sobre estes tipos de

gestão a partir das competências exigidas pela SEED para o cargo de diretor

escolar.

Compete ao diretor (a) segundo as especificações da SEED:

-Cumprir e fazer cumprir a legislação em vigor;

-Responsabilizar-se pelo patrimônio público escolar recebido no ato da

posse;

-Coordenar a elaboração e acompanhar a implementação do Projeto

Político-Pedagógico da escola, construído coletivamente e aprovado pelo

Conselho Escolar;

-Coordenar e incentivar a qualificação permanente dos profissionais

da educação;

-Implementar a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino,

em observância às Diretrizes Curriculares Nacionais e Estaduais;

-Coordenar a elaboração do plano de Ação do estabelecimento de ensino

e submetê-lo à aprovação do Conselho Escolar;

-Convocar e presidir as reuniões do Conselho Escolar, dando

encaminhamento às decisões tomadas coletivamente;

-Elaborar os planos de aplicação financeira sob sua responsabilidade,

consultando a comunidade escolar e colocando-os em edital público;

-Prestar contas dos recursos recebidos, submetendo-os à aprovação

do Conselho Escolar e fixando-os em edital público;

-Coordenar a construção coletiva do Regimento Escolar, em consonância

com a legislação em vigor, submetendo-o à precisão do conselho escolar e,

após, encaminhá-lo ao Núcleo Regional de Educação para a devida

39

aprovação;

-Garantir o fluxo de informações no estabelecimento de ensino e deste com

os órgãos da administração estadual;

-Encaminhar aos órgãos competentes as propostas de modificações

no ambiente escolar, quando necessária, aprovadas pelo Conselho Escolar;

-Deferir os requerimentos de matrícula;

-Elaborar, juntamente com a equipe pedagógica, o calendário escolar,

de acordo com as orientações da Secretaria de Estado da Educação,

submetê-lo à apreciação do Conselho Escolar e encaminhá-lo ao Núcleo

Regional de Educação para homologação;

-Acompanhar, juntamente com a equipe pedagógica, o trabalho docente e

o cumprimento das reposições de dias letivos, carga horária e de conteúdo

aos discentes;

-Assegurar os cumprimento dos dias letivos, horas-aula e horas-atividades

estabelecidos;

-Promover grupos de trabalho e estudos ou comissões encarregadas

de estudar e propor alternativas para atender aos problemas de natureza

pedagógico-administrativa no âmbito escolar;

-Propor à Secretaria de Estado da Educação, via Núcleo Regional

de Educação, após aprovação do Conselho Escolar, alterações na oferta

de ensino e abertura ou fechamento de cursos;

-Participar e analisar a elaboração dos Regulamentos Internos e

encaminhá-los ao Conselho Escolar para aprovação;

-Supervisionar a cantina comercial e o preparo da merenda escolar, quanto

ao cumprimento das normas estabelecidas na legislação vigente

relativamente a exigências sanitárias e padrões de qualidade nutricional;

-Presidir o Conselho de Classe, dando encaminhamento às decisões

tomadas coletivamente;

-Definir horário e escalas de trabalho da equipe técnico-administrativa e

equipe auxiliar operacional;

-Articular processos de integração da escola com a comunidade;

-Solicitar ao Núcleo Regional de Educação suprimento e cancelamento

40

de demanda de funcionários e professores do estabelecimento, observando

as instruções emanadas da Secretaria de Estado da Educação;

-Organizar horário adequado para a realização da Prática

Profissional supervisionada do funcionário cursista do Programa Nacional

de Valorização dos Trabalhadores em Educação ~ Profuncionário, no

horário de trabalho, correspondendo a 50% (cinqüenta por cento) da

carga horária da Prática Profissional Supervisionada, conforme

orientação da Secretária de Estado de Educação, contida no Plano de

Curso;

-Participar, com a equipe pedagógica, da análise e definição de projetos

a serem inseridos no Projeto Político-Pedagógico do estabelecimento de

ensino, juntamente com a comunidade escolar;

-Cooperar com o cumprimento das orientações técnicas de vigilância

sanitária e epidemiológica;

-Viabilizar salas adequadas quando da oferta do ensino extracurricular

plurilingüístico da língua Estrangeira Moderna, pelos Centro de

línguas estrangeiras modernas - CELEM;

-Disponibilizar espaço físico adequado quando da oferta de Serviços e

Apoios Pedagógicos Especializados, nas diferentes áreas da Educação

Especial;

-Assegurar a realização do processo de avaliação institucional

do estabelecimento de ensino;

-Zelar pelo sigilo de informações pessoais de alunos, professores,

funcionários e famílias;

-Manter e promover relacionamento cooperativo de trabalho com seus

colegas, com alunos, pais e com os demais segmentos da comunidade

escolar;

-Assegurar o cumprimento dos programas mantidos e implantados pelo

Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação /MEC - FNDE;

-Cumprir e fazer cumprir o disposto no Regimento Escolar.

FONTE: site Portal dia a dia educação

41

Para exercer todas essas competências é preciso conhecer,

compreender e incorporar em suas ações os fundamentos e princípios da

educação, assim como as determinações legais norteadora dos processos

educacionais constitui-se, portanto, uma das primeiras e contínuas

preocupações do diretor escolar na busca de realizar um bom trabalho, no

sentido de liderar e orientar sua escola para que melhor desempenhe o seu

papel social, realizando os objetivos educacionais.

Existem documentos básicos, os quais serão citados a seguir, cujos

diretores devem ter conhecimento básico para poder usar como referência no

exercício de suas funções:

• Constituição Federal e Constituição Estadual;

• Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

• Diretrizes Curriculares Nacionais dos diversos níveis e modalidades de

ensino;

• Diretrizes Curriculares Estaduais;

• Legislação Educacional de seu Estado e do seu Município;

• Estatuto do Magistério;

• Estatuto da Criança e do Adolescente.

CONVERSANDO SOBRE....2.3.3 Gestão pedagógica

A gestão pedagógica é a essência da escola, pois está mais diretamente

ligada com o foco da escola que é o de promover a aprendizagem e a

formação dos alunos. Logicamente que todas as demais formas de gestão

subsidiam a gestão pedagógica.

O importante é não esquecer que a gestão pedagógica afinada com as

suas atribuições é aquela capaz de criar na escola um ambiente estimulante e

motivador orientado por elevadas expectativas de aprendizagem e

desenvolvimento, auto-imagem positiva e esforço compatível com a necessária

melhoria dos processos educacionais e seus resultados. Orientar a integração

horizontal e vertical de todas as ações pedagógicas propostas no projeto-

42

pedagógico e a contínua contextualização dos conteúdos do currículo escolar

com a realidade. Outra questão a ser considerada no processo da gestão

democrática é a articulação das atividades extra-classes , orientadas por

projetos educacionais, de modo a estabelecer orientação integrada entre as

áreas de conhecimento e plano curricular. Ainda, orientar, incentivar e viabilizar

oportunidades pedagógicas para os alunos com dificuldades de aprendizagem

e necessidades educacionais especiais, promovendo as TICS no ambiente

escolar.

CONVERSANDO SOBRE.... 2.3.4 .Gestão administrativa

Zelar pelos bens da escola, fazer bom uso deles, contribuir para sua

manutenção são elementos básicos da formação dos alunos, além de condição

para a realidade de processo pedagógico de qualidade.

Precisa gerenciar a correta e plena aplicação de recursos físicos,

materiais e financeiros da escola para melhor efetivação dos processos

educacionais e realização dos seus objetivos.

Promover na escola a organização, atualização e correção de

documentos, escrituração, registro de alunos, diários de classe, estatísticas,

legislação, de modo a serem continuamente utilizados na gestão dos

processos educacionais.

Assegurar a constituição, de forma permanente na escola, de ambiente

limpo, organizado e com materiais de apoio e estimulação necessários à

promoção da aprendizagem dos alunos e sua formação para a cidadania e

respeito ao meio ambiente.

Assegurar, mediante contínuo monitoramento, o cumprimento dos 200

dias letivos e das 800 horas de trabalho educacional (art.24 da LDB 9394/96)

Zelar pela manutenção das condições de uso dos bens patrimoniais

disponíveis na escola mediante contínuo inventário dos mesmos e providência

de consertos imediatos.

43

Todos esses trabalhos administrativos que a direção precisa

desempenhar não devem ser a razão central do trabalho do diretor, que deve

organizar um bom planejamento para que a sua equipe execute de maneira

eficiente, para cumprir as tarefas no prazo estipulado e também para se

dedicar mais as funções pedagógicas da escola que normalmente pela

demanda existente acabam ficando em segundo plano.

Gestão financeira da escola, a partir dos esforços pela democratização

da educação e da gestão escolar e dos movimentos de descentralização da

gestão, favoreceu a escola a resolução de muitos de seus problemas de

consumo, manutenção e reparos, pelo repasse de recursos feitos a ela pelo

Governo Estadual e Federal. Esses programas de descentralização financeira

vêm se tornando cada dia mais crescentes. Eles utilizam uma Unidade

Executora (UEx) que no Paraná na maioria das vezes se dá através das APM

Associações de Pais e Mestres as quais devem assinar um contrato de gestão

do dinheiro público e ao final da execução prestar contas da aplicação do

dinheiro. O diretor da escola que acaba na prática, assumindo o controle da

gestão deste recurso, já que a APM, mesmo sendo uma entidade de direito

privado, independente da escola, esta diretamente ligada a direção escolar.

Além dos recursos recebidos de fontes públicas, a unidade executora da

escola pode receber recursos oriundos de várias fontes, como por exemplo, de

doações, de resultados de campanhas diversas.

Portanto todo o diretor assume responsabilidade pela gestão financeira

desses valores variados, advindos de fontes diversas mas que precisam ser

geridos de forma colegiada. A gestão financeira, mesmo que descentralizada,

deve receber todos os cuidados estabelecidos pela legislação.

CONVERSANDO SOBRE.... 2.3.5 Gestão de resultados

44

Por melhores que sejam os processos de gestão escolar, pouco valor

terão, caso não produzam resultados efetivos de melhoria da aprendizagem

dos alunos.

Segundo o CONSED (2007) “a gestão de resultados abrange processos

e práticas de gestão para a melhoria de resultados de desempenho da escola –

rendimento, freqüência a proficiência dos alunos. Destacam-se como

indicadores de qualidade: a avaliação e melhoria contínua do projeto

pedagógico da escola; a análise, divulgação e utilização dos resultados

alcançados; a identificação dos níveis de satisfação da comunidade escolar

com o trabalho da sua gestão; transparência e resultados.”

Percebemos que a gestão de resultados não vinha tendo muito

significado nas escolas, que consideravam as estatísticas educacionais uma

questão burocrática, de interesse de sistemas de ensino e de pouca

importância para a escola.

Compreender o papel e os mecanismos de avaliação de resultados

educacionais tanto no âmbito externo, realizado pelos sistemas de ensino,

como os mecanismos internos, constitui em condição fundamental para definir

qualificações que tornam as escolas mais eficientes.

Características da gestão de resultados educacionais

45

• Baseia-se em indicadores de desempenho, que sintetizam os elementos

que traduzem o nível de aprendizagem dos alunos.

• Promove a verificação sistemática e contínua da freqüência dos alunos,

da sua aprendizagem e do desempenho escolar;

• É realizada em âmbito de sistemas de ensino, mediante adoção de

testes padronizados que permitem comparação de resultados.

• É realizada na escola em todas as unidades de aprendizagem, com fins

pedagógicos(melhoria da aprendizagem dos alunos que demandam

atenção diferenciada).

• É também realizada na escola, mediante testes padronizados, que

permitem identificar a necessidade de mudanças e reorganização do

processo educacional para garantir melhores resultados de grupos

específicos de alunos.

• É associada à definição de metas de desempenho.

• É realizada, na escola, com objetivos pedagógicos de identificar

necessidades de melhoria, em associação aos elementos melhor

condizentes a esses resultados.

• É dependente de práticas de acompanhamento e análise de resultados

finais de processos educacionais: fim de aprendizagem (escola), de ano

letivo(sistema).

• É realizada nos sistemas de ensino com o objetivo de estabelecer

políticas de melhoria do ensino.

• Baseia-se na comparação de dados, que permitem verificar quanto de

melhora houve em um dado período e como variam esses resultados em

condições diferentes.Luck H. 2008

46

Considerada desta forma mais ampla, a avaliação tornasse instrumento

de acompanhamento do processo de realização da função social da escola.

Certamente, é difícil avaliar o trabalho da escola, sem conhecer o produto

deste trabalho, qual seja o aluno educado. Conforme Souza retrata em sua

tese, a avaliação esta intimamente ligada à qualidade da escola, se o intuito

não é avaliar para premiar ou castigar, cabe avaliar para redimensionar o

processo, para intervir nas condições de qualidade oferecida a professores e

alunos na construção do trabalho pedagógico. Avaliar o processo educacional

é mais que avaliar o aluno, implica o conceito de qualidade de ensino. Para isto

a construção de indicadores de qualidade é interessante de forma que no lugar

de padronizarmos os resultados esperados dos alunos possamos padronizar

as condições de ensino ofertadas, assegurando, assim, igualdade de

condições de acesso ao conhecimento.

CONVERSANDO SOBRE.... 2.3.6..Liderança

A liderança é necessária em todos os tipos de organização humana,

principalmente nas escolas. Ela é essencial em todas as funções da

Administração: o administrador precisa conhecer a natureza humana e saber

conduzir as pessoas, isto é, liderar.

Na educação, em âmbito internacional, está sendo destacada como

condição fundamental para determinar a qualidade do ensino e a formação

efetiva de seus alunos, daí por que a proliferação de estudos a respeito no

contexto educacional. Destaca-se, por exemplo, que há uma relação direta

entre a qualidade de liderança dos gestores e a qualidade do ensino e

desempenho dos alunos (NCSL,2002 apud LUCK 2008).

Tomaremos como referência em nossos estudos os conceitos de

Maximiniano e Chiavenato.

Liderança é a realização de metas por meio da direção de

colaboradores. A pessoa que comanda com sucesso seus colaboradores para

47

alcançar finalidades específicas é líder. Um grande líder tem essa capacidade

dia após dia, ano após ano, numa grande variedade de situações. (PRENTICE,

W.H.C. apud Maximiniano)

Maximiniano traz um termo muito interessante que é o consentimento

que é diferente do tipo de obediência produzido pela autoridade formal.Só há

liderança quando os seguidores seguem o líder espontaneamente. A idéia de

seguidores atraídos e guiados por um líder pressupõe consentimento. A idéia

de consentimento exclui a coerção como base de liderança. É difícil dizer se o

consentimento é produto das convicções dos seguidores ou das habilidades de

persuasão do líder. O consentimento pressupõe identidade de interesses. A

liderança ocorre quando há congruência entre a proposta do líder e a

recompensa esperada pelo grupo, ou problema que o grupo precisa resolver

que cria no grupo a disposição para fazer aquilo que o líder propõe. O líder é

alguém que apresenta da maneira correta a proposta correta, na hora correta.

Dentro de todos os conceitos é importante distinguir autoridade formal

de liderança.

Segundo conceitos de Max Weber a autoridade formal:

• Baseia-se em normas que formam uma legislação e são aceitas por

seguidores e condutores.

• Pertence ao cargo, não ao indivíduo. O ocupante do cargo é uma “figura

de autoridade”: chefe, juiz, presidente.

• Estabelece o comportamento desejado dos seguidores e os limites para

a ação das figuras de autoridade.

• É permanente para o cargo, enquanto o cargo existir.

• É temporária para a pessoa que ocupa o cargo. Terminando o mandato,

o ocupante perde os poderes formais que o cargo lhe conferia, e os

transfere para seu sucessor.

A liderança, por outro lado:

48

• É subjetiva. Para ter liderança, alguém deve ser visto como líder por

outros.

• É limitada ao grupo social dentro do qual o líder exerce influência.

• Cumpre função social. A pessoa tem liderança porque atende aos

interesses ou resolve os problemas de um grupo.

• É efêmera, porque depende da sintonia entre os interesses dos

seguidores e as proposições do líder.

• É o produto de diversas habilidades, interesses e traços de

personalidade.

Autoridade formal, portanto, é diferente de liderança, porque são

diferentes as bases nas quais se assenta a motivação dos seguidores. Chefes

são diferentes de líderes – a base em que se assenta a capacidade de

influenciar é diferente de um para o outro. A autoridade formal e liderança nem

sempre andam, nem precisam andar juntas.

Para se ter eficácia na administração o ideal é combinar os dois

atributos: a autoridade formal e a habilidade de liderança.

A liderança é uma função, papel, tarefa ou responsabilidade que

qualquer pessoa precisa desempenhar, quando responsável pelo desempenho

de um grupo. Independente de suas qualidades, muitas pessoas são colocadas

em posições de liderança, em que precisam dirigir os esforços de outros para

realizar objetivos: professores, diretores, treinadores. Todas essas pessoas

têm metas a serem realizadas com a colaboração dos seus grupos.

No papel de líderes, algumas pessoas são mais eficazes que outras, ou

sentem-se mais confortáveis que outras. As características individuais

importantes para o entendimento dessas diferenças são as habilidades e a

motivação. Algumas pessoas têm mais habilidade que outras no papel de líder

e algumas são mais motivadas que outras para desempenhá-lo.

Outro elemento importante no comportamento do líder é a maneira como

se relaciona com sua equipe (seguidores).

Os seguidores seguem o líder por alguma razão ou motivo. Por essa

razão os processos sociais e comportamentais da motivação e da liderança

estão interligados. O líder propõe uma tarefa ou missão aos seguidores, porque

49

é de seu interesse realizá-la. Os seguidores podem concordar desde que a

realização da tarefa também seja de seu interesse. O líder precisa dos

seguidores para realizar as metas e vice-versa. Sempre há um processo de

troca entre líder e os seguidores, o que muda de uma situação para outra, é o

conteúdo da troca, que depende da natureza da tarefa.

O que liga o líder aos seguidores é a existência de uma tarefa ou

missão. Sem esse componente, não há liderança, apenas influência ou

popularidade. Apenas com um plano, objetivo ou idéia, que atraia os

seguidores, o líder potencial torna-se líder real. A missão pode situar-se num

contexto social ou organizacional

As missões que o líder propõe ao grupo podem ser classificadas nos

três tipos de envolvimento identificados por Etzioni: moral, calculista e

alienatária. (sintetizados no quadro a seguir)

MISSÃO MORAL

• Atrai os seguidores pela força intrínseca

de sua idéia ou proposta.

• A recompensa dos seguidores é a própria

realização da missão ou tarefa.

• O conteúdo moral da missão ou tarefa

pode ser enfatizado pelo líder, por meio

da evolução do sentido ou importância da

missão, da necessidade de sacrifício ou

do uso de imagens de propaganda.

MISSÃO CALCULISTA• É realizada em troca de uma

recompensa material ou psicológica.

• Prêmios, participação em lucros,

elogios e diplomas de “melhor

funcionário do mês” são exemplos de

recompensa.

• O receio de um castigo por não

50

MISSÃO ALIENATÓRIArealizar a tarefa motiva os seguidores.

• Em certos casos, a tarefa é realizada

por senso de responsabilidade,

mesmo que os seguidores não

acreditem em sua legitimidade ou não

precisem temer qualquer tipo de

punição.

Teoria Geral da Administração – Maximiano A.C. A. 2001

A liderança constitui um dos temas mais pesquisados e estudados nas

últimas décadas. Várias teorias sobre a liderança acompanharam o

desenvolvimento da teoria administrativa. Segundo Chiavenato, as teorias

sobre liderança podem ser classificadas em três grupos:

Teorias sobre Liderança.

TEORIAS DE TRAÇOS DE PERSONALIDADE

51

Teorias de Traços de Personalidade

Características marcantes de personalidade possuídas pelo

líder

Teorias sobre Estilos de Liderança

Teorias Situacionais de Liderança

Adequação do comportamento do líder às circunstâncias da situação

Maneiras e estilos de se comportar adotados pelo líder

São as teorias mais antigas a respeito da liderança. Um traço é uma

qualidade ou característica distintiva da personalidade. Segundo essas teorias,

o líder é aquele que possui alguns traços específicos de personalidade que o

distinguem das demais pessoas, podendo dessa forma influenciar o

comportamento das demais pessoas. Cada autor específica alguns traços

alguns traços característicos de personalidade que definem o líder, como:

1. Traços físicos: como energia, aparência pessoal, estatura e peso.

2. Traços intelectuais: adaptabilidade, agressividade, entusiasmo e

autoconfiança.

3. Traços sociais: cooperação, habilidades interpessoais e habilidade

administrativa.

4. Traços relacionados com a tarefa: impulso de realização, persistência e

iniciativa.

Porém essas teorias apresentam vários aspectos falhos o que fez

com que as mesmas caíssem em descrédito e perderam a sua importância.

Elas não responderam a importância relativa de cada uma das várias

características e traços de personalidade que realçam os aspectos da

liderança, nem todos os traços são igualmente importantes na definição de

um líder, pois alguns deveriam ter maior destaque que outros. Essas teorias

ignoram a influência e a reação dos seguidores, também ignoram a situação

em que a liderança se efetiva. Nas organizações existem diferentes

situações que exigem características diferentes dos líderes. Nessa

abordagem simplista uma pessoa dotado de traços de liderança é sempre

líder durante o tempo todo e em qualquer situação, o que não ocorre na

realidade.

TEORIAS SOBRE ESTILOS DE LIDERANÇA

São teorias que estudam a liderança em termos de comportamento do

líder em relação aos seus seguidores. Enquanto a abordagem dos traços de

personalidade se refere àquilo que o líder é, a abordagem dos estilos de

liderança se refere àquilo que o líder faz, seu estilo de liderar.

A teoria mais conhecida que explica liderança por meio de

comportamento refere-se a três estilos: autoritária, liberal e democrática

52

AUTOCRÁTICA DEMOCRÁTICA LIBERAL

• O líder fixa as

diretrizes, sem

qualquer participação

do grupo.

• As diretrizes são

debatidas e decididas

pelo grupo, estimulado

e assistido pelo líder.

• Há liberdade total para

as decisões grupais ou

individuais, e mínima

participação do líder.

• O líder determina as

providencias para a

execução das tarefas,

cada uma por vez, na

medida em que se

tornam necessárias e

de modo imprevisível

para o grupo.

• O grupo esboça as

providências para

atingir o alvo e pede

aconselhamento do

líder, que sugere

alternativas para o

grupo escolher. As

tarefas ganham novas

perspectivas com os

debates.

• A participação do líder

é limitada,

apresentando apenas

materiais variados ao

grupo, esclarecendo

que poderia fornecer

informações desde que

as pedissem.

• O líder determina a

tarefa que cada um

deve executar e o seu

companheiro de

trabalho.

• A divisão das tarefas

fica a critério do grupo

e cada membro tem

liberdade de escolher

seus companheiros de

trabalho.

• A divisão das tarefas e

escolha dos colegas

fica totalmente a cargo

do grupo. Absoluta

falta de participação do

líder.

• O líder é dominador e

é “pessoal” nos elogios

e nas críticas ao

trabalho de cada

membro.

• O líder procura ser um

membro normal do

grupo, em espírito. O

líder é “objetivo” e

limita-se aos “fatos”

nas críticas e elogios.

• O líder não avalia o

grupo nem controla os

acontecimentos.

Apenas comenta as

atividades quando

perguntado.

53

Na prática o líder utiliza os três processos de liderança, de acordo com a

situação, com as pessoas e com as tarefas a ser executada. O líder tanto

manda cumprir ordens, como consulta os subordinados antes de tomar uma

decisão, como também sugere a algum liderado realizar determinadas tarefas:

ele utiliza a liderança autocrática, a democrática e a liberal. O desafio da

liderança é saber quando aplicar qual processo, com quem e dentro de que

circunstancias e atividades a serem desenvolvidas.

TEORIAS SITUACIONAIS DE LIDERANÇA

As teorias sobre traços de personalidade são simplistas e limitadas. As

teorias sobre estilos de liderança consideram apenas certas variáveis da

situação. As teorias situacionais explicam a liderança dentro de um contexto

mais amplo e partem do princípio de que não existe um único estilo ou

característica de liderança válida para toda e qualquer situação. Cada situação

requer um tipo de liderança para alcançar eficácia dos seguidores. As teorias

situacionais são mais atrativas, pois aumentam as opções e possibilidades de

mudar a situação para adequá-las a um modelo de liderança ou então mudar o

modelo de liderança para adequá-lo à situação. O líder é aquele que é capaz

de se ajustar a um grupo de pessoas sob condições variadas.

Algumas considerações a respeito desta teoria: um líder pode assumir

diferentes padrões de liderança para cada um de seus seguidores. Para um

mesmo seguidor, o líder pode assumir diferentes padrões de liderança,

conforme a situação envolvida. Em situações em que o seguidor apresenta alto

nível de eficiência, o líder pode dar-lhe maior liberdade de decisões, mas se o

seguidor apresenta erros seguidos, o líder pode impor-lhe maior autoridade

pessoal e menor liberdade de trabalho.

54

REFERÊNCIAS

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