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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 2277 GINÁSTICA LABORAL E TRABALHO: ELEMENTOS PARA UMA DISCUSSÃO JEZIEL ALVES REZENDE 1 JOELMA CRISTINA DOS SANTOS 2 Resumo: O presente trabalho apresenta reflexões que vêm sendo travadas para a elaboração de dissertação de mestrado e tem como objetivo principal analisar e refletir sobre a prevalência do uso da Ginástica Laboral (GL) como elemento para a saúde e aumento de produtividade do trabalho na empresa do setor sucroenergético BP Ituiutaba Bioenergia, localizada no município de Ituiutaba-MG. A ginástica laboral cumpre duas funções, se não antagônicas, pelo meno distintas, quando da visão do trabalhador e do empresariado. Dessa forma, busca-se conhecer o universo que envolve a realização da ginástica laboral na empresa BP Bioenergia. Até este momento, foram realizadas entrevistas com trabalhadores que praticam a ginástica laboral, com a finalidade de verificar o retorno advindo de tal atividade. De posse dos dados e informações levantadas, buscamos refletir sobre a utilização desta prática enquanto elemento ativo no processo de reestruturação produtiva do capital. Palavras-chave: Ginástica Laboral; Precarização; Trabalho; Abstract: The objective of this work is to reflect on the prevalence of the use of Workplace Gymnastics (GL) as an element for the health and growth of labor productivity, in companies of Ituiutaba-MG. The Workplace gymnastics fulfills two functions, if not antagonistic at least with different focuses, when the vision of the worker and the business. Search to know the universe of patios and agricultural fields of agro-industrial enterprises in the city of Ituiutaba-MG, when the application of GL. Interviews were conducted with employees who practice gym, with the purpose of verifying the return resulting from such activity. In possession of the data and information collected, we seek to reflect on the use of this practice while active element in the process of productive restructuring of capital. Key-words: Workplace Gymnastics; Precariousness; Work 1- Introdução O presente trabalho visa refletir sobre o uso e prevalência da Ginástica Laboral (GL) como um dos elementos do Programa de Saúde do Trabalhador (PST), que, por sua vez, tem por finalidade definir os princípios, as diretrizes e as estratégias a serem observados com ênfase na vigilância a saúde, visando a promoção e a 1 Acadêmico do Programa de Pós-graduação em Geografia do Pontal (Mestrado Acadêmico) da Faculdade de Ciências Integradas do Pontal - Universidade Federal de Uberlândia (FACIP/UFU). E_mail de contato: [email protected] 2 Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da FACIP/UFU. E-mail de contato: [email protected]

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DE 9 A 12 DE OUTUBRO

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GINÁSTICA LABORAL E TRABALHO: ELEMENTOS PARA UMA

DISCUSSÃO

JEZIEL ALVES REZENDE1 JOELMA CRISTINA DOS SANTOS2

Resumo: O presente trabalho apresenta reflexões que vêm sendo travadas para a elaboração de dissertação de mestrado e tem como objetivo principal analisar e refletir sobre a prevalência do uso da Ginástica Laboral (GL) como elemento para a saúde e aumento de produtividade do trabalho na empresa do setor sucroenergético BP Ituiutaba Bioenergia, localizada no município de Ituiutaba-MG. A ginástica laboral cumpre duas funções, se não antagônicas, pelo meno distintas, quando da visão do trabalhador e do empresariado. Dessa forma, busca-se conhecer o universo que envolve a realização da ginástica laboral na empresa BP Bioenergia. Até este momento, foram realizadas entrevistas com trabalhadores que praticam a ginástica laboral, com a finalidade de verificar o retorno advindo de tal atividade. De posse dos dados e informações levantadas, buscamos refletir sobre a utilização desta prática enquanto elemento ativo no processo de reestruturação produtiva do capital.

Palavras-chave: Ginástica Laboral; Precarização; Trabalho;

Abstract: The objective of this work is to reflect on the prevalence of the use of Workplace Gymnastics (GL) as an element for the health and growth of labor productivity, in companies of Ituiutaba-MG. The Workplace gymnastics fulfills two functions, if not antagonistic at least with different focuses, when the vision of the worker and the business. Search to know the universe of patios and agricultural fields of agro-industrial enterprises in the city of Ituiutaba-MG, when the application of GL. Interviews were conducted with employees who practice gym, with the purpose of verifying the return resulting from such activity. In possession of the data and information collected, we seek to reflect on the use of this practice while active element in the process of productive restructuring of capital. Key-words: Workplace Gymnastics; Precariousness; Work

1- Introdução

O presente trabalho visa refletir sobre o uso e prevalência da Ginástica

Laboral (GL) como um dos elementos do Programa de Saúde do Trabalhador (PST),

que, por sua vez, tem por finalidade definir os princípios, as diretrizes e as estratégias

a serem observados com ênfase na vigilância a saúde, visando a promoção e a 1 Acadêmico do Programa de Pós-graduação em Geografia do Pontal (Mestrado Acadêmico) da Faculdade de

Ciências Integradas do Pontal - Universidade Federal de Uberlândia (FACIP/UFU). E_mail de contato:

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2

Docente do Programa de Pós-Graduação em Geografia da FACIP/UFU. E-mail de contato:

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proteção da saúde dos trabalhadores e a redução da morbimortalidade decorrente dos

modelos de desenvolvimento e dos processos produtivos.

Dentre os elementos que compõem o Programa de Saúde do Trabalhador

temos Ergonometria, Orientação nutricional, Atendimento médico, que em conjunto,

cumprem função social ao possibilitar melhoria da qualidade de vida do trabalhador,

mas que indiretamente contribuem para o aumento de produtividade do trabalho.

Para o presente estudo, o foco recai sobre a BP Biocombustíveis, localizada

do município de Ituiutaba-MG. A escolha por esta empresa, deve-se ao fato de que

atualmente é a única do setor sucroenergético presente no município em questão,

porém para a versão final da dissertação de mestrado, nosso foco é ampliado para

todas as empresas do setor sucroenergético da Microrregião Geográfica de Ituiutaba

(MG). Espeficamente sobre a prática da ginástica laboral na empresa BP

Biocombustíveis, esta recebe apoio e atendimento por parte da equipe do Programa

Ginástica na Empresa, sob a coordenação de educadores físicos da unidade SESI –

“Dolores Gomes da Silva” de Ituiutaba (MG).

Através de revisão bibliográfica, foi verificado que a Ginástica Laboral cumpre

duas funções, se não antagônicas, pelo menos com focos distintos, quando da visão

do trabalhador e do empresariado. Para o trabalhador é ela uma atividade de “pausa” e

socialização, além de elemento importante na redução de dores e agravos decorrentes

da precarização no trabalho. Para o empresário é mais uma atividade de cunho

ergométrico no intuito de aumentar a produção na medida em que serve como

manutenção temporária da máquina, “ máquina humana”. (PRATES, 2011).

A vivência do pesquisador como primeiro educador físico da unidade SESI –

C.A.T. “Dolores Gomes da Silva”, nos primórdios da década de 1990, e também como

consultor de outras empresas da Associação Comercial e Industrial de Ituiutaba –

ASCII, que já naquela época viam na GL, uma atividade interessante e importante no

processo de geração de lucro, visto contribuir para o aumento da produtividade do

trabalho, contribuíram para o despertar do pesquisador no que refere-se à

compreensão das teias, dos meandros e, por sua vez do entendimento dos resultados

obtidos a partir da prática da ginástica laboral nas empresas.

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No decorrer dos anos, em momentos diversos, sejam eles informais ou em

momentos de reflexão e estudos acadêmicos como docente do curso de Educação

Física da UEMG – Unidade Ituiutaba e, principalmente quando de seminários e

estudos no Programa de Pós Graduação (Mestrado em Geografia) da FACIP/UFU e

GEPEAT (Grupo de Estudos e Pesquisas Agrárias e Trabalho), contribuíram para a

formação de uma nova visão de mundo a respeito do trabalhador, e isto incitou a

busca por melhor entendimento da dinâmica que envolve o processo de implantação e

manutenção da Ginástica Laboral.

Vivemos atualmente a continuação de um processo de reestruturação

produtiva do capital, através da acumulação flexivel ( ANTUNES, 2000) que atinge

todos os setores da sociedade e, neste modelo que se apresenta, observamos

algumas vezes, certa perversidade para com o trabalhador, na medida em que o

capital, utiliza-se da captura da subjetividade operária, como elemento manipulador de

ações que o exploram, sem contudo que ele - o trabalhador - perceba sua real

situação.

Por parte do trabalhador, o cotidiano do trabalho sob o sistema de produção

flexível está levando-o à atitude resiliente. Assim como Cimbalista (2007), entendemos

a “subjetividade como um movimento dialético, no qual existe uma inter-relação do ser

humano consigo mesmo e o seu ambiente”, ora, sabe-se que o ambiente (de trabalho)

se apropria da subjetividade do indivíduo por meio das condições de trabalho adversas

ou precárias, exigindo dele o uso da resiliência, entendida como a qualidade humana

em enfrentar, fortalecer e vencer em condições de adversidade.

Diante das discussões apresentadas, urge conhecermos os elementos que

permeiam a relação capital x trabalho no contexto da realização da GL. Dessa forma,

com a finalidade de compreendermos esta questão na empresa BP Bioenergia, nos

utilizaremos dos resultados obtidos a partir de levantamento de dados de fonte

primária, em entrevistas realizadas com trabalhadores e gestores da referida empresa.

Vale lembrar, que de acordo com Harvey (1992), a compreensão do binômio

espaço-tempo é elemento de poder que atua sobre a estrutura dos padrões do

capitalismo, já que “ o fracionamento da produção, traz impactos no campo do uso da

mão-de-obra, ao torná-la a cada dia mais ultrapassada, em virtude do grande aparato

tecnológico, acelerando o temido desemprego estrutural”. Desta forma, a utilização da

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ginástica laboral é elemento importante a ser compreendido à medida que alivia

momentaneamente os sintomas, porém não é solução para as causas estruturais da

precarização do trabalho e do emprego.

Este artigo está dividido além desta introdução e das considerações finais, em

outras sessões que possibilitam uma teorização sobre a Ginástica Laboral e sua

função no processo de trabalho contemporâneo.

A sessão “Território enquanto importante categoria de análise na discussão da

ginástica laboral” versa sobre Território do ponto de vista relacional. No item “Ginástica

Laboral: recurso para Qualidade de vida no trabalho?” apresentamos algumas

referências sobre a caracterização da GL e sua possivel interferência na qualidade de

vida no trabalho. O Item “A precarização no Trabalho e a relação com a ginástica

laboral: alguns elementos para análise” apresenta algumas reflexões sobre a relação

entre a prática da ginástica laboral e a relação para com as questões relacionadas à

precarização no trabalho.

2-Território enquanto categoria de análise na discussão da ginástica laboral

Em uma abordagem geográfica, que vise à compreensão da complexidade

com que o espaço geográfico é apropriado por um determinado “grupo social”,

devemos nos apoiar em certas categorias de análise, bem como em alguns conceitos.

Consideramos o território, importante categoria de análise de nossos estudos e

firmamos entendimento como Haesbaert (2002, p. 82) quando este afirma que:

Todo conceito, como toda teoria, só tem validade quando referido a uma determinada problemática, a uma questão. Assim, o território é um dos principais conceitos que tenta responder à problemática da relação entre a sociedade e seu espaço.

Para análise da problemática que é determinada pelo uso da ginástica laboral

como elemento de estimulo e apoio à melhoria da qualidade de vida no trabalho, nos

apropriaremos do conceito de território, tendo como referência Raffestin (1993), ou

seja, numa perspectiva relacional, onde a questão do(s) poder(es) nos conduz à

análise e compreensão de relações que acontecem na sociedade, neste caso os

trabalhadores e a empresa.

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Entende-se o território relacional como expressão da multidimensionalidade da

apropriação e representação social do espaço (Coelho Neto, 2013), que gera variados

fatores, que influenciam as relações de poder, neste estudo, nos interessam,

especialmente as relações trabalhistas. O caráter relacional nos leva a entender o

“vivido territorial” (relações cotidianas e habituais segundo Rasffetin, 1993) dos homens

sendo assim uma qualidade subjetiva, que por meio do simbólico, permite a tomada de

consciência do espaço como “espaço próprio de cada um” e, ao mesmo tempo, do “eu”

como parte desse espaço, tecendo identidade e pertencimento ao território.

De acordo com Haesbart ( 2002) e Eduardo (2006), território relacional é um

conceito utilizado em análises que privilegiam a utilização do espaço e as relações

sociais afastando um pouco a idéia tradicional de que território consiste apenas em

uma divisão espacial e política.

No emaranhado social atual, cabe destacar que o(s) sentido(s) do trabalho na

contemporaneidade tem cumprido funções distanciadas da sua dimensão primeira,

visto que para Thomaz Jr (2002, p. 11), “o trabalho é a base fundante do auto-

desenvolvimento da vida material e espiritual”. Ainda de acordo com este autor, o

capital exerce sua gestão sobre o território como sua própria autogestão territorial.

Assim, entendemos que o capital tem poder de controle sobre as ações do

trabalhador. É de suma importância discutirmos e questionar os instrumentos e

discursos utilizados pelo capital como pretensos promotores de uma melhoria da

qualidade de vida no trabalho. Será neste caso a ginástica Laboral assim usada?

Seguindo o raciocinio de Thomaz Jr (2002), somos chamados a refletir sobre a

relação existente entre trabalho e território, pois:

[...] o processo de reestruturação produtiva do capital provoca um extenso conjunto de modificações no âmbito do trabalho e isso remete a profundas alterações no espaço e no território (enquanto categorias de uso interligado), portanto, nas diferentes escalas de análise. (p.6)

Ainda para discutir território enquanto importante categoria de análise em

nossos estudos, nos apoiamos também em Raffestin, que tece uma análise mais

política e econômica do território, tendo o cuidado de buscar um estudo do território

mais relacional.

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Contextualizando com a ginástica laboral, é possível observar que existe,

dentre os objetivos da ginástica laboral, um conflito de interesses - entre empresários

e trabalhadores - conflito este muitas vezes velado, sem contudo deixar de caraterizar

uma luta pelo terrirório, já que interesses multiplos estão em jogo.

No próximo item discutiremos a ginástica laboral, tentando compreender se é

de fato um recurso para maior qualidade de vida no trabalho ou apenas mais uma

armadilha com intenção de desviar a atenção dos efeitos deletérios da precarização.

3- Ginástica Laboral: recurso para Qualidade de vida no trabalho?

Analisando o ritmo de vida das pessoas desde o final do século XX e início do

século XXI, verificamos que a intensificação das atividades tem provocado um

descompasso entre o que o homem têm o e que ele gostaria de ter. Para minimizar

este problema são traçados objetivos e implantadas ações visando, inicialmente, à

melhoria da qualidade de vida das pessoas. Associa-se a ideia de que fatores como:

estado de saúde, longevidade, satisfação no trabalho, salário, lazer, relações

familiares, disposição, prazer e ate espiritualidade, sejam pontos importantes a serem

atendidos, e a isto chamam de “Qualidade de Vida”.

No caso específico deste estudo usaremos um conceito apresentado por

LIMONGI FRANÇA (1996, p. 15) quando ela coloca que: “ Qualidade de Vida no

trabalho é o conjunto de ações de uma empresa que envolve a implementação de

melhorias e inovações gerenciais e tecnológicas no ambiente de trabalho.”

Vale ressaltar que a referida " Qualidade de Vida no trabalho" teoricamente

ocorrerá a partir do instante em que se olha a empresa e as pessoas como um só

conjunto, um „todo‟.composto por partes que se encaixam dentro de uma visão

biopsicossocial, sendo este posicionamento o fator diferencial para a realização deste

conjunto de ações durante o trabalho na empresa.

Na busca por este conjunto de ações que possam favorecer a qualidade de

vida do trabalhador, muitas empresas procuram as atividades físicas e recreativas

como indutores de processos que conduzam à melhoria da saúde, maior socialização

entre os funcionários e principalmente prevenção de doenças por esforço repetitivo ou

decorrentes de mal funcionamento do sistema musculo-esquelético.

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Daí o uso da Ginástica Laboral como mais uma ferramenta disponível dentro

da ergonomia desenvolvida em uma empresa. Sendo ela uma atividade que envolve

trabalhadores nas mais diversas condições físicas e psicológicas, é necessário que

esta atividade seja orientada por profissionais preparados, sejam eles os Educadores

Físicos, nos casos gerais, ou os fisioterapeutas, nos casos específicos. A forma mais

comum encontrada é através da implantação de um Programa de Saúde do

Trabalhador, programa este existente em vários estados, inclusive em Minas Gerais,

como sub-projeto chamado de “Ginástica na Empresa”.

O Projeto “Ginástica na Empresa” é idealizado e conduzido pelo Serviço Social

da Industria (SESI), com intuito de possibilitar mudanças, fisiológicas, neuro motoras e

psicológicas, por intermédio de atividades físicas orientadas capaz de atenuar a

incidência de acidentes de trabalho, causados por esforço físico demasiado, em

postura errada e com movimentos repetitivos sem pausa.

Esses exercícios ou atividades de ginástica devem ser dosados de modo que

se obtenha uma boa oxigenação, além de promover maior disposição para o trabalho,

maior capacidades respiratórias, vitalidade muscular e mental, além de descontração

no ambiente. (LIMONGI FRANÇA, 1996)

Compartilhamos a ideias de Militão (2001) quando ele afirma que a Ginástica

Laboral possui diferentes objetivos, tanto para os funcionários como empresas. Para os

funcionários ela é entendida principalmente como uma atividade que proporciona:

Diminuição do sedentarismo e melhoria postural; Redução da sensação de fadiga, já possibilita pausa nas atividades; Melhoria da autoestima e da autoimagem; Combate às tensões emocionais e/ou decorrente do trabalho Melhoria das relações interpessoais ao serem realizadas em grupo; Possibilidade de pausa durante as atividades de trabalho;

O uso da GL por parte da empresa, evidencia foco bem diferenciado, onde

podemos destacar os seguintes objetivos:

Reduzir os gastos com afastamento e substituição de pessoal; Diminuir afastamentos médicos, acidente e lesões; Melhorar a imagem da instituição junto a funcionários e sociedade; Promover disposição e bem estar para a jornada de trabalho; Melhoria da atenção e concentração as atividades desempenhadas; Favorecer o relacionamento social e trabalho em equipe;

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Diante do apresentado, podemos afirmar que a Ginástica Laboral tem no seu

conjunto de atuação, condições para atuar junto ao trabalhador de forma benéfica,

mas, por outro lado, suscita questionamentos, visto que uma das hipóteses por nós

levantanda, é que a Ginástica Laboral é mais um dos instrumentos utilizados pelo

capital, visando o aumento da produtividade do trabalho. É neste contexto, que

avançaremos discutindo a precarização do trabalho e a relação com ginástica laboral.

4- A precarização no Trabalho e a relação com a ginástica laboral: alguns

elementos para análise

Os ritmos atuais de funcionamento das empresas são reflexos da atual fase do

modo de produção capitalista, onde as questões de cobrança por aumento da

produtividade e lucro afetam de forma negativa o ambiente de trabalho, contribuindo

cada vez mais para a existência e aumento de condições de trabalho precárias.

(THOMAZ JR, 2002); (ALVES, 2007); (SANTOS, 2009).

Importante neste caso conceituar o que é a precariedade, e como se

apresenta, seja como precarização do trabalho e precarização no trabalho, já que por

vez são consideradas iguais e, não necessariamente o são na prática.

A precariedade é uma condição histórico-ontológica de instabilidade e

insegurança de vida e de trabalho, condição que está muito presente no processo de

reestruturação produtiva do capital. ALVES (2007). Deste conceito deriva dois outros, a

saber: Precarização do Trabalho e Precarização no trabalho.

Para Thomaz Jr (2002), a precarização do trabalho constitui-se e afirma-se nos

diferentes arranjos que apresentam a diversidade de situações em que o trabalho sofre

com a informalidade, aumento da terceirização, da utilização do „part time‟, com a

flexibilização dos contratos, dentre outros.

Para Alves (2010, p. 02), a precarização do trabalho que ocorre hoje, sob o

capitalismo global,

[...] não seria apenas precarização do trabalho no sentido de precarização da mera força de trabalho como mercadoria; mas seria também, precarização do homem que trabalha, no sentido de desefetivação do homem como ser genérico.

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Ora, isto significa que o trabalho como função social é deteriorado na medida

em que a força de trabalho como mercadoria, passa a ser acrescida necessariamente

da desconstituição do ser humano.

Com relação à precarização no trabalho, temos como pontos a destacar as

condições em lócus, que envolvem ou afetam à rotina de trabalho de forma direta, o

que pode ser demonstrado através de carga horária excessiva, necessidades de

posturas não anatômicas, presença de metas cada vez maiores para serem cumpridas

na produção, pressões psicológicas, assédios e aliciamentos, dentre outros elementos.

Para Santos (2009), a precarização no trabalho é nítida em vários setores,

principalmente na agroindústria, e se apresenta na forma de desrespeito aos

trabalhadores como seres humanos, sendo que o trabalho que deveria ser fonte de

liberdade se torna forma de aprisionamento.

Foi com base neste referencial teórico de grandes pensadores sobre o

trabalho, que nos fomos a campo para procurar respostas.

Foram entrevistados 31 trabalhadores da BP Bioenergia, e nas entrevistas,

constatamos que a maioria dos entrevistados participa das sessões de Ginástica

Laboral, por entender seus benefícios. Verifica-se que vinte e cinco (25) entrevistados,

realizam e dizem sentirem-se beneficiados por executar a ginástica laboral, três (3) não

se sentem bem e dois (2) alegam não fazer as atividades. Gráfico(1).

Gráfico 1-Sentem se bem com a GL

Fonte: Trabalho de campo - Maio/2015

Por ser uma amostra aleatória e não probabilística, encontramos diferenças

entre os tipos de ginástica apresentado para cada setor, sendo que Dezoito (18)

entrevistados realizam a GL Preparatória e 13 entrevistados a GL Compensatória,

25

3 2

Sim

Não

Não executa aGL

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Interessante mencionar que no primeiro grupo, encontramos o pessoal de campo e no

segundo grupo, os operadores de máquinas e pessoal do escritório. (Gráfico 2)

Gráfico 2- tipos de ginástica laboral aplicadas

Fonte: Trabalho de campo - Maio/2015

Entre os benefícios destacados pelos trabalhadores estão: o aumento da

disposição física com 39% (12) dos entrevistados, e como benefício a disposição

mental temos 26% (8 entrevistados) que disseram ter mais ânimo e alegria para a

execução das tarefas do dia. As questões relacionadas ao aumento da concentração

para o trabalho foram apontadas por 23% (7 entrevistados), e a diminuição de

dor/doenças foi apontada por 13% (4 entrevistados), compondo ponto importante na

discussão, conforme gráfico 03.

Gráfico 3 – Reflexos da GL para/nos trabalhadores

Fonte: trabalho de campo - maio/2015

Cabe ressaltar que boa parte dos entrevistados tem percepção da função da

ginástica laboral para a empresa, ao entendê-la como capaz de provocar diminuição

dos acidentes e doenças temporárias (ex: DORT/LER), aumentar a socialização.

Outrossim, também consideram que a prática da ginástica laboral contribui para o

aumento da produtividade, à medida que deixa mais dispostos, física e mentalmente.

0

10

20

1

Preparatória

Compensatória

39%

26%

23%

13% Disposição

Animo/Alegria

Aumento concentração

Diminuição das dores

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Para este item temos que 74% (23) dos entrevistados entendem que „sim‟, é

vantajoso para a empresa, ao contribuir para o aumento da produtividade e apenas

36% (8) afirmam que a ginástica Laboral não tem relação com aumento da

produtividade. (Gráfico 4)

Gráfico 4 – GL é vantagem para a empresa

Fonte: trabalho de campo - maio/2015

Os dados apresentados tem embutido em seus significados, não apenas seus

valores quantitativos, mas refletem bem mais, pois a possibilidade da entrevista para

coleta dos dados, permite que cada resposta venha impregnada de sentimentos e

verdades, já que fogem à mera comunicação de simples fatos uma vez que apresenta

a GL como ao apoio ao trabalhador e por outro lado aumento da produtividade.

6 - Considerações Finais

Diante dos dados apresentados podemos perceber que o uso da Ginástica

Laboral está cumprindo de forma adequada sua função, ao fazer parte do Programa

Saúde do Trabalhador, como mais um dos elementos utilizados para propiciar uma

qualidade de vida no trabalho.

As diminuições das dores e dos sintomas das doenças advindas do trabalho

são bons indicativos de que há uma ação benéfica no uso da Ginástica Laboral. O

aumento da disposição e do "ânimo" para o trabalho também podem ser considerados

como pontos importantes no conjunto que forma a “qualidade de vida no trabalho".

O aumento da concentração e disposição, além da redução do número de

faltas e acidentes são elementos que reforçam o uso da ginástica laboral com o

aumento da produtividade, sendo portanto utilizada como importante ponto para a

reprodução do capital, em sua fase de reestruturação produtiva.

74%

36% Sim

Não

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Referências

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ANTUNES, Ricardo. Adeus ao trabalho? Ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho. 7 ed. São Paulo: Ed. Cortez/Ed. Unicamp. 2000 CIMBALISTA, Silmara. Reflexões sobre o trabalho e a subjetividade de trabalhadores resilientes sob o sistema de produção Revista. FAE, v.9, n.2, p.13-28, jul./dez. 2006 COELHO NETO, Agripino S. Componentes definidores do conceito de Território: A Multiescalaridade, a Multidimensionalidade e a relação espaço-poder GEOgraphia Vol. 15, No 29 2013, Universidade do Estado da Bahia EDUARDO, Marcio Freitas. Território, trabalho e poder: por uma geografia relacional. Campo-território: Revista de Geografia Agrária, v.1, n.2, 173-195, ago. 2006.

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LIMONGI FRANÇA, Ana Cristina Indicadores Empresariais de Qualidade de Vida no Trabalho São Paulo, 1996 (Tese) USP - disponível em http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12132/tde-14042009-113324/pt-br.php acessado em junho 2015.

MILITÃO, Angeliete G. A influência da ginástica laboral para a saúde dos trabalhadores e sua relação com os profissionais que a orientam. Florianópolis, 2001. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção, Área de Concentração: Ergonomia) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2001. RAFFESTIN, Claude. Por uma Geografia do Poder. São Paulo: Ática, 1993 SANTOS, Joelma Cristina dos. Dos canaviais à “Etanolatria”: o (re)ordenamento territorial do capital e do trabalho no setor sucroalcooleiro da Microrregião Geográfica de Presidente Prudente – 2009, Tese (Doutorado em Geografia, área de concentração Geográfia e Gestão de Território) Universidade Federal de Uberlândia THOMAZ JÚNIOR, Antonio. Por uma Geografia do trabalho, Revista Pegada – CEGet/UNESP, Vol 3 (Especial), p. 1-24, 2002