Glaís Sales Cordeiro

19
ENSINO DA LINGUAGEM ORAL NA ENSINO DA LINGUAGEM ORAL NA ENSINO DA LINGUAGEM ORAL NA ENSINO DA LINGUAGEM ORAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL: EDUCAÇÃO INFANTIL: EDUCAÇÃO INFANTIL: EDUCAÇÃO INFANTIL: O LUGAR DOS GÊNEROS TEXTUAIS O LUGAR DOS GÊNEROS TEXTUAIS O LUGAR DOS GÊNEROS TEXTUAIS O LUGAR DOS GÊNEROS TEXTUAIS FORMAIS FORMAIS FORMAIS FORMAIS V SIGET - Caxias do Sul, 11 a 14 de agosto de 2009 Glaís Sales Cordeiro UNIGE – FAPSE

Transcript of Glaís Sales Cordeiro

Page 1: Glaís Sales Cordeiro

ENSINO DA LINGUAGEM ORAL NA ENSINO DA LINGUAGEM ORAL NA ENSINO DA LINGUAGEM ORAL NA ENSINO DA LINGUAGEM ORAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL:EDUCAÇÃO INFANTIL:EDUCAÇÃO INFANTIL:EDUCAÇÃO INFANTIL:O LUGAR DOS GÊNEROS TEXTUAIS O LUGAR DOS GÊNEROS TEXTUAIS O LUGAR DOS GÊNEROS TEXTUAIS O LUGAR DOS GÊNEROS TEXTUAIS FORMAISFORMAISFORMAISFORMAIS

V SIGET - Caxias do Sul, 11 a 14 de agosto de 2009

Glaís Sales Cordeiro

UNIGE – FAPSE

Page 2: Glaís Sales Cordeiro

OBJETIVOS

� Discutir sobre o lugar dos gêneros textuais formais no ensino da linguagem oral na educação infantil

� Apresentar os resultados da análise de produções do gênero oral “receita de cozinha” em classes da educação infantil após uma seqüência didática:educação infantil após uma seqüência didática:� realizadas pelos mesmos alunos em dois anos distintos� numa escola pública da cidade de Genebra

� Contribuir para uma melhor compreensão das especificidades de um trabalho com gêneros textuais orais na educação infantil

Page 3: Glaís Sales Cordeiro

QUE RAZÕES SUBJAZEM A ESTA CONTRIBUIÇÃO?

� Poucas pesquisas brasileiras sobre o ensino de gêneros orais (Matêncio, 2001; Rojo 2000; Cordeiro & Taschetto, no prelo, entre outros)

� Orientações oficiais pouco operacionais para o Ensino Fundamental (PCN): “gêneros textuais”Orientações oficiais pouco operacionais para o Ensino Fundamental (PCN): “gêneros textuais”

� Orientações didáticas gerais no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEPE): “variedade de textos” e “gêneros textuais”

Page 4: Glaís Sales Cordeiro

LINGUAGEM ORAL, EDUCAÇÃO E ESCOLA

� Que concepções? � Instrumento para o ensino de múltiplos conteúdos (Grandaty & Turco, 2001; Peterfalvi & Jacobi, 2003)

�Meio de expressão livre (Brunner, Fabre & Kerloch, 1985)

� Que objeto de trabalho?� Trabalho sobre aspectos fonológicos e morfossintáticos “normalizantes” (Ostiguy & Gagné, 1988; Castilho, 1988)

� “Correção” da fala

Page 5: Glaís Sales Cordeiro

LINGUAGEM ORAL, EDUCAÇÃO E ESCOLA

� E as concepções mais atuais?� Ensino integrado a outras atividades escolares em todos os domínios disciplinares (Garcia-Debanc & Plane, 2004)

� Ensino autônomo na discipllina de “língua” (Schneuwly, 1996/1997; 2003)

� Que objeto de trabalho?Que objeto de trabalho?� Comunicação em situações variadas� Tomada de consciência das formas e meios lingüísticos utilizados de um ponto de vista discursivo

� Ensino integrado: condutas discursivas associadas a diferentes aprendizagens disciplinares (poligestão e monogestão)

� Ensino autônomo: gêneros textuais “escolarizados” (Rojo, 2001; Schneuwly, 2007) abordados em seqüências de atividades progressivas (seqüências didáticas)

Page 6: Glaís Sales Cordeiro

CONTEXTO E ITINERÁRIO DA PESQUISA

� Contexto:� Classe bi-seriada (EI1 e EI2)� Preparo da receita Biscoitos de Nozes� Realização de uma seqüência didática sobre o gênero oral “receita de cozinha”oral “receita de cozinha”

� Dados filmados em sala de aula:� Primeira coleta: produções finais dos alunos de EI1 após a realização da SD

� Segunda coleta: produções dos mesmos alunos (5) um ano mais tarde sem nova realização de SD da receita oral Fatias de Pão com Requeijão

Page 7: Glaís Sales Cordeiro

A “RECEITA DE COZINHA” ORAL COMO GÊNERO ESCOLARIZADO NUMA SD

Seqüência Didática EI1 – EI2

IntroduçãoApresentação do projeto (contexto comunicativo) e preparação

dos conteúdos

Produção Inicial Apresentação oral de uma receita para alunos de outra classe

Módulo 1

Plano de organização de uma receita apresentada oralmente

Trabalho específico em EI1: ingredientes e utensílios (módulo 2

da SD original)

Módulo 2Expressões de abertura e encerramento do texto (módulo 5 da

SD original)

Módulo 3

Ingredientes e utensílios

Gravações intermediárias: apresentação dos ingredientes e

utensílios

Módulo 4

Escuta e análise das gravações intermediárias

Trabalho específico em EI1: expressões de abertura (parte do

módulo 5 da SD original)

Módulo 5 Etapas do modo de preparo (módulo 3 da SD original)

Produção final Treino, gravações e avaliação

Page 8: Glaís Sales Cordeiro

SUPORTES VISUAIS FORNECIDOS AOS ALUNOS

� Produção inicial, final e módulos

Ingredientes e utensílios

Modo de preparo Plano do texto

Page 9: Glaís Sales Cordeiro

SUPORTES VISUAIS FORNECIDOS AOS ALUNOSUM ANO MAIS TARDE

� Preparo da receita Fatias de pão com requeijão

� Rememoração rápida do projeto anterior e das principais etapas de preparo da nova receita

� Brainstorming das principais características do gênero e gravação da produção orale gravação da produção oral

Page 10: Glaís Sales Cordeiro

ANÁLISE DOS DADOS

� Critérios de análise:� Traços referentes à representação da situação de comunicação (objetivo, enunciador, destinatário);

� Estrutura ou plano do texto;� Estrutura ou plano do texto;

� Textualização (configurações de unidades lingüísticas; articulação fonêmica, intensidade da voz e prosódia).

Page 11: Glaís Sales Cordeiro

ANÁLISE DOS DADOSAlunos Mo1 ∗∗∗∗ Mo2 Ma1 Ma2 Ya1 Ya2 Er1* Er2* Hu1* Hu2*

Contexto ou situação de comunicaçãoObjetivo + + + + + + +- - + -Enunciador + + + + + + + + + +Destinatário + + + + + + + + + +

Estrutura ou plano do texto

Abertura

Título da receita + - + - +- - +- NA + -Apresentação do(s) aluno(s) - + + + - - - NA - -

Interpelação dos Interpelação dos ouvintes + + + + + + + NA + -

Ingredientes - - + + +- - NA NA NA +-Utensílios NA - + + +- - NA NA NA +-Modo de preparo NA + + +- + +- +- +-- + NAEncerramento NA + +- + +- +- +- - NA NA

TextualizaçãoConexão NA + +- +- +- +- +-- + - NACoesão verbal + + + +- + + + + + +Coesão nominal + NA +- + NA + NA NA + NA

LéxicoUtensílios + + +- +- + + + + + +Ingredientes + +- +- +- + +- +- + + +Verbos de ação NA + + + +- + +- +-- +- +

Inteligibilidade da fala

Articulação + + +- + + + + + + +Voz + + + + + + + + - -Prosódia + + + + + + +- + + +

Page 12: Glaís Sales Cordeiro

ANÁLISE DOS DADOS:CONTEXTO DE COMUNICAÇÃO

� Boa representação por parte dos alunos:� Postura de expert com relação ao prato apresentado

� Antecipação das necessidades de um destinatário ausenteausente

�Descrição de ações (exceção: Er2 e Hu2)

� Necessidade dos suportes visuais para a produção do texto

Page 13: Glaís Sales Cordeiro

ANÁLISE DOS DADOS:ESTRUTURA DO TEXTO

� Fase de abertura:� Presença de interpelação dos ouvintes� Omissão do título, sobretudo na última produção� Omissão da apresentação do aluno (exceção: Ma)

� Lista de ingredientes e utensílios:� Dificuldades (execeção Ma) em ambas produções (omissão ou necessidade de ajuda)Dificuldades (execeção Ma) em ambas produções (omissão ou necessidade de ajuda)

� Etapas do modo de preparo:� Majoritariamente OK em ambas produções com ligeiro declínio na última produção

� Importância da presença do suporte visual para que o texto seja compreendido pelo destinatário

� Encerramento:� Presença de uma saudação em ambas produções (exceção: Er2)

Page 14: Glaís Sales Cordeiro

ANÁLISE DOS DADOS:TEXTUALIZAÇÃO

� Inteligibilidade da fala:� Articulação clara, intensidade de voz e prosódia adequadas ao gênero (exceção: Hu)

� Léxico:� Utensílios corretamente nomeados� Algumas omissões, confusões ou imprecisões na apresentação dos ingredientesAlgumas omissões, confusões ou imprecisões na apresentação dos ingredientes

� Verbos de ação, na maioria, apropriados e variados (exceção: Er e Hu1)

� Coesão nominal: OK� Coesão verbal:

� Adequada: 3ª pessoa do singular (“a gente”) do presente do indicativo / “é preciso” (“tem que”) + modo infinitivo

� Conexão:� Uso reduzido de organizadores textuais no modo de preparo em ambas produções (“depois” / “em primeiro lugar”; “em seguida”)

Page 15: Glaís Sales Cordeiro

A PRODUÇÃO DE MO2Bom dia, eu me chamo MonicaAhn, hoje a gente vai fazer a receitaPrimeiro... Eu não me lembro maisTenta falar dissoPrimeiro, tem que para / tem que primeiro pegar pãoE depois tem que pôr o Kiri no, no, no pãoDaí, depois tem que pôr ahn, uhm patê para fazer os olhosDepois, cebolinha para fazer o cabeloTomate para o, para o narizEee, eu não me lembro maisEee, eu não me lembro maisE para a boca? Você não lembra mais?Uhm, como se chama?Não tem problema, você...E daí, depois, para, para a boca tem que cortarO pepino em piclesO pepino em picles, tem que cortar com a faca em cima da placa com para a boca o pepino em picles, para fazer a bocaE daí, depois está prontoBom apetite, até logo

Page 16: Glaís Sales Cordeiro

FAZER E REFAZER.QUE TRAÇOS DE APROPRIAÇÃO?

� Capacidades de linguagem mantidas de uma produção à outra

� Contexto de comunicação claramente compreendido (ficcionalização)

� Estrutura do texto:Fases de abertura, modo de preparo e encerramento

Estrutura do texto:� Fases de abertura, modo de preparo e encerramento globalmente integradas

� Fase de apresentação de ingredientes e utensílios pouco dominadas (nível superior de ficcionalização das necessidades do destinatário)

� Textualização:� Léxico apropriado e gestão adequada da coesão nominal e verbal

� Maior vairedade de organizadores textuais na última produção (etapas do modo de preparo mais interligadas)

Page 17: Glaís Sales Cordeiro

CONCLUSÕES

� O processo de apropriação de um objeto lingüístico depende de um controle interior da atividade de linguagem, ainda em construção no caso dos alunos observadosno caso dos alunos observados

� Um impacto positivo e duradouro da SD sobre as capacidades dos alunos, o que ressalta sua pertinência como instrumento didático para educadores e professores da educação infantil

Page 18: Glaís Sales Cordeiro

CONCLUSÕES

� Gêneros textuais orais formais:� Constituem um objeto de ensino-aprendizagem e têm um lugar privilegiado e específico no ciclo da educação infantileducação infantil

� Contribuem para uma apropriação inicial de formas discursivas orais monológicas, essenciais para a entrada do aluno no mundo da linguagem escrita

� Evidenciação dos interstícios e passarelas entre educação infantil e ensino fundamental

Page 19: Glaís Sales Cordeiro

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBRASIL/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais Parâmetros Curriculares Nacionais Parâmetros Curriculares Nacionais Parâmetros Curriculares Nacionais –––– Língua Portuguesa Língua Portuguesa Língua Portuguesa Língua Portuguesa –––– 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental, vol. 21ª a 4ª séries do Ensino Fundamental, vol. 21ª a 4ª séries do Ensino Fundamental, vol. 21ª a 4ª séries do Ensino Fundamental, vol. 2.

Brasília/DF: SEF, 1997.BRASIL/MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais Parâmetros Curriculares Nacionais Parâmetros Curriculares Nacionais Parâmetros Curriculares Nacionais –––– Língua Portuguesa Língua Portuguesa Língua Portuguesa Língua Portuguesa –––– 5ª a 8ª séries do Ensino Fundamental, vol. 25ª a 8ª séries do Ensino Fundamental, vol. 25ª a 8ª séries do Ensino Fundamental, vol. 25ª a 8ª séries do Ensino Fundamental, vol. 2.

Brasília/DF: SEF, 1998a.BRASIL/MEC. Referencial Curricular Nacional para Educação InfantilReferencial Curricular Nacional para Educação InfantilReferencial Curricular Nacional para Educação InfantilReferencial Curricular Nacional para Educação Infantil. Brasília/DF: MEC/ SEF, 1998b.BRUNNER, C., FABRE, S. & KERLOCH, J.-P. Et l’oral, alors?Et l’oral, alors?Et l’oral, alors?Et l’oral, alors? Paris: Nathan, 1985.CASTILHO, A. T. A língua falada no ensino do PortuguêsA língua falada no ensino do PortuguêsA língua falada no ensino do PortuguêsA língua falada no ensino do Português. São Paulo: Contexto, 1998.CORDEIRO, G. S.; TASCHETTO, T. R. GENRES DE TEXTES ORAUX ET LA SUBJECTIVITÉ DE L'ÉNONCIATEUR. ANAIS DO 2°

CONGRESSO ISD, no prelo.GARCIA-DEBANC, C. & PLANE, S. CCCComment enseigner l’oral à l’école primaire?omment enseigner l’oral à l’école primaire?omment enseigner l’oral à l’école primaire?omment enseigner l’oral à l’école primaire? Paris : Hatier, 2004.GRANDATY, M. & TURCO, G. L’oral dans la classe. Discours, métadiscours, interactions verbales et constructions de savoirs L’oral dans la classe. Discours, métadiscours, interactions verbales et constructions de savoirs L’oral dans la classe. Discours, métadiscours, interactions verbales et constructions de savoirs L’oral dans la classe. Discours, métadiscours, interactions verbales et constructions de savoirs

à l’école primaireà l’école primaireà l’école primaireà l’école primaire. Paris: INRP, 2001.GRANDATY, M. & TURCO, G. L’oral dans la classe. Discours, métadiscours, interactions verbales et constructions de savoirs L’oral dans la classe. Discours, métadiscours, interactions verbales et constructions de savoirs L’oral dans la classe. Discours, métadiscours, interactions verbales et constructions de savoirs L’oral dans la classe. Discours, métadiscours, interactions verbales et constructions de savoirs

à l’école primaireà l’école primaireà l’école primaireà l’école primaire. Paris: INRP, 2001.MATENCIO, M. L. M. Estudo da língua falada e aula de língua materna: uma abordagem processual da interação Estudo da língua falada e aula de língua materna: uma abordagem processual da interação Estudo da língua falada e aula de língua materna: uma abordagem processual da interação Estudo da língua falada e aula de língua materna: uma abordagem processual da interação

professor/alunosprofessor/alunosprofessor/alunosprofessor/alunos. Campinas: Mercado de Letras, 2001.OSTIGUY, L. & GAGNÉ, G. Le Développement du français oral soutenu par l'analyse du langage, 3e-6e année. Série Le

Français à l'école primaire. Documentation pédagogiqueDocumentation pédagogiqueDocumentation pédagogiqueDocumentation pédagogique, Montréal/Québec, n. 9, 1988.PETERFALVI, B. & JACOBI, D. IIIInteractions langagièresnteractions langagièresnteractions langagièresnteractions langagières, 1, 2003.ROJO, R. H. R. Interação em sala de aula e gêneros escolares do discurso: Um enfoque enunciativo. In: II Congresso

Nacional da ABRALIN, 2000, Florianópolis, SC, Brasil. Anais do II Congresso Nacional da ABRALIN. Florianópolis, SC: UFSC/ABRALIN, 2000. v. CD-ROM.

ROJO, R. H. R. Letramento escolar, oralidade e escrita em sala de aula: diferentes modalidades ou gêneros do discurso. In SIGNORINI, I. Investigando a relação oral/escrito e as teorias do letramentoInvestigando a relação oral/escrito e as teorias do letramentoInvestigando a relação oral/escrito e as teorias do letramentoInvestigando a relação oral/escrito e as teorias do letramento. Campinas: Mercado de Letras, 2001, p. 51-74.

SCHNEUWLY, B. Vers une didactique de l’oral? EnjeuxEnjeuxEnjeuxEnjeux, Namur, n. 39-40, p. 3-11, 1996/1997.SCHNEUWLY, B. Enseigner la parole publique: une approche socio-historique. In Les Actes de la DESCO. Didactiques de

l’oral, 2002, Montpellier : CRDP Basse Normandie, 2003, p. 58-66.SCHNEUWLY, B. Genres écrits et oraux et forme scolaire. Enseignement et apprentissage de la langue première à l’école.

DyptiqueDyptiqueDyptiqueDyptique, Namur, n. 10, p. 13-26, 2007.