Glasgow 15 - 1° semestre 2011

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1 Glasgow 15 - MAIO DE 2011 dafbfurg.blogspot.com Moacyr Scliar, um exemplo Uma singela homenagem do aluno do primeiro ano Vítor Ruwer Werl, para este querido médico gaúcho que não sabia se era mais médico ou escritor. Destaques das diretrizes da AHA 2010 para RCP e ACE Dr. Carlos Augusto Cornetet Junior, médico regulador/intervencionista escreve sobre as diretrizes da AHA (American Heart Association ) para Ressuscitação Cardiopulmonar ( RCP ) e Atendimento Cardiovascular de Emergência ( ACE ). Exame de Or Exame de Or Exame de Or Exame de Or Exame de Ordem da dem da dem da dem da dem da Medicina Medicina Medicina Medicina Medicina “Gosto muito de uma imagem da educação popular baseada na mochila. Temos uma mochila de conhecimento que é muito valorizada pela população, só que não sabemos quais conhecimentos lhes são úteis, portanto é necessário chegar lá e conversar”. Entrevista Eymard Vaconcelos RIO GRANDE, MAIO DE 2011. ANO 03 Nº 03 Pg 7 Pg 5 Pg 4 Pg 9 Pg 13

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1Glasgow 15 - MAIO DE 2011 dafbfurg.blogspot.com

Moacyr Scliar, umexemplo

Uma singela homenagem do aluno doprimeiro ano Vítor Ruwer Werl, paraeste querido médico gaúcho que nãosabia se era mais médico ou escritor.

Destaques das diretrizesda AHA 2010 para RCP eACE

Dr. Carlos Augusto Cornetet Junior,médico regulador/intervencionistaescreve sobre as diretrizes da AHA(American Heart Association ) paraRessuscitação Cardiopulmonar ( RCP )e Atendimento Cardiovascular deEmergência ( ACE ).

Exame de OrExame de OrExame de OrExame de OrExame de Ordem dadem dadem dadem dadem daMedicinaMedicinaMedicinaMedicinaMedicina

“Gosto muito de uma imagemda educação popular baseadana mochila. Temos uma mochilade conhecimento que é muitovalorizada pela população, sóque não sabemos quaisconhecimentos lhes são úteis,portanto é necessário chegar láe conversar”.

EntrevistaEymard Vaconcelos

RIO GRANDE, MAIO DE 2011. ANO 03 Nº 03

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Carta ao leitor

Para aqueles queainda não sabem existe aescala de coma deGlasgow (ECG) a qualconstitui em uma escalaneurológica que revela-seum método confiável eobjetivo de registrar onível de consciência deuma pessoa, paraavaliação inicial e contínuaapós um traumatismocraniano. Ela também temseu valor também pararealizar prognóstico dopaciente e é de grandeutilidade na previsão deeventuais seqüelas. Aolado a escala, para maiorentendimento.

Ao somar asresposta P+M+V encontra-se o valor da escalaGlasgow sendo que omáximo de consciência éo valor 15 e o mínimo 3.Só para curiosidade o valorpara intubação é 8. Nessesentido o nosso jornalquer demonstrar o valormáximo de consciência,trazendo informaçõespertinentes e buscando aparticipação de alunos eprofessores.

Agradecemos nestaedição a participação dosalunos e dos professores:Tarso Teixeira com amatéria para a coluna“Para que lado eu vou?”,Simone Karam com o tema genética eética, ao coordenador do curso professorObirajara Rodriques,. com a polêmica doExame da Ordem da Medicina, ao Dr.Carlos Augusto Cornetet Junior pelotexto sobre AHA, a aluna sextanista Inêspela brilhante participação na coluna.Ainda aproveitamos para agradecer ostextos “intercâmbio” e a colaboração detodos para mais uma grande edição donosso pequeno jornal.

Fica o convite para encontrar asrespostas da cruzadinha e o resto daenvolvente entrevista com EymardVasconcelos no blog do DAFB,www.dafbfurg.blogspot.com ; quetambém tentamos deixar atualizado comos assuntos que percorrem o campussaúde. Ainda, é radiante que nós doDAFB colocamos mais essa edição namão de vocês leitores, com muitasparticipações especiais e vontade defazer melhor sempre.

Mayara FlossRedação Glasgow 15

Área culturalÁrea culturalÁrea culturalÁrea culturalÁrea culturalTentando ser o que se acredita...

Pedro Salomão Dias

tentando ser o que se acreditaô chuva, ô ciclo sem fimme parece tão claro, tão palpável…molha, lava, faz florescerda de beber, sacia minha sede e de tudo o querespira e transformasei que a mim não cabe perguntardevo apenas seguir o caminho que escolhi trilharobservo a paisagem, o todo que me cercae simplesmente não posso controlar minhaslágrimasdeixo-as rolar, assim como a chuva que caina minha finitude e insignificanciatento me tornar cada dia mais lúcidoquero perceber o pulsar da vida em cada umadas minhas ações

seco as lágrimas do rosto de outreme com um abraço busco trazer o conforto que osol acima das nuvensnos dá a cada diaquero transmitir a paz que existe em algumlugar dentro de nós, ainda que não a tenhaencontrado dentro de mime quando recebo um sorriso sincero, um apertode mão com a força da gratidãopor alguns instantes me sinto confiante, enaquele momento sei que é isso o que importaem algum lugar essa paz desejada resideno abraço, no beijo, no sorriso, nas lágrimasno olho de quem te quer bem de verdadee já não me importa o que o mundo louco gritavou transformar o que posso tocarsemear o invisível para nossos olhos céticoso amor, a paz e a tranquilidadeque só aqueles que entendem o ciclo podem umdia ter

Porque Glasgow 15?

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Vale a pena conferir!

Jennyfer Galdino –www.jennypaulla.blogspot.com

Em 1956,Allen Ginsberg lançou umverdadeiro grito:”The Howl”,o que se podedizer como manifesto inicial de uma geraçãoque mudaria o cenário americanoacomodado em paixões capitalistas.Inspirados na poesia latente de WilliamBlake (Ginsberg dizia que ele era seu líderespiritual) e que viria a inspirar ,nada mais,que Charles Bukowski.

“Eu vi os expoentes da minhageração destruídos pela loucura, morrendode fome, histéricos, nus, arrastando-sepelas ruas do bairro negro de madrugadaem busca de uma dose violenta de qualquercoisa; “hipsters” com cabeça de anjoansiando pelo antigo contato celestial como dínamo estrelado da maquinaria da noite,que pobres, esfarrapados e olheiras fundas,viajaram fumando sentados nasobrenatural escuridão dos miseráveisapartamentos sem água quente, flutuandosobre os tetos das cidades contemplandojazz, que desnudaram seus Cérebros ao céu

sob os Elevados e viram anjos maometanoscambaleando iluminados nos telhados dascasas de cômodos...”(“TheHowl”A.Ginsberg)

Em 1957,Jack Kerouac publicou oclássico da literatura “On the Road”,em quetoda a juventude se inspirou para comprarsua mochila e botar o pé na estrada.WalterSalles está produzindo o filmeque,provavelmente,será lançado esseano.Kerouac,em parceria com WilliamBurroughs, escreveu o que é, para mim,umdos livros mais interessantes dessa geração:

“E os hipopótamos foram cozidos em seustanques”.

Esses escritores foram capazes detransformar a espontaneidade e o acaso emferramentas de transformação.Não só W.Blake esteve presente no estado de espíritodessa geração, uma grande figuracompletamente digna de ser uma baseinspiradora, especialmente para Bukowski,já estava presente no imaginário americanodesde 1938. Mas foi em 1939 que elepublicou seu livro mais famoso: “Ask thedust”(Pergunte ao pó). Estou falando de

John Fante. Sua melhor descrição se baseiaem espontaneidade, humor cáustico e acapacidade de chegar até o mais profundoda realidade, completamente sem medo.

Toda essa mistura de loucura eliberdade, de budismo e voodoo,de sexo edrogas não poderia deixar de ser umcaldeirão de anseios para outra geraçãovinda do horror da Guerra do Vietnã, queclamava pelo fim do conservadorismo e doscostumes.Surge,no final dos anos 60,oMovimento Hippie. Janis Joplin,JimmyHendrix,Jim Morrison,Bert Sommer fizeramdo Woodstock e dessa geração que buscava“Amor e flor” a mais linda capacidadehumana de integração.A harmonia queemanavam e a busca por paz e liberdadesão preceitos que tiveram embasamentobeat, uma continuidade hippie e um grandequestionamento na pós-modernidade(umnova geração acomodada e sem ideologiasque tem mergulhado no capitalismo e seesquecido dos valores dessas gerações).

É preciso novos U ivos e novosGritos.

HumorMoral da História...

O sujeito vai ao psiquiatra

- Doutor - diz ele - estou com um problema:Toda vez que estou na cama, acho que temalguém embaixo. Aí eu vou embaixo da camae acho que tem alguém em cima. Pra baixo,pra cima, pra baixo, pra cima. Estouficando maluco!- Deixe-me tratar de você durante dois anos,diz o psiquiatra. Venha três vezes por semana,e eu curo este problema.- E quanto o senhor cobra? - pergunta opaciente.- R$ 120,00 por sessão - responde o psiquiatra.

- Bem, eu vou pensar - conclui o sujeito.

Passados seis meses, eles se encontram narua.

- Por que você não me procurou mais? -Pergunta o psiquiatra.

Espaço DCE

E aí, estudante!É com grande prazer que o DCE-FURG vemocupar esse importante espaço noGlasgow 15 para te informar das nossasprincipais movimentações!

Quem somos?Diretório Central dos Estudantes da FURG.Somos a tua representação dentro daUniversidade, ao lado dos Diretórios eCentros Acadêmicos. A gestão atual tomouposse em Dezembro de 2010.

Informativo: Onde o DCE está atuando?

- Reativação da Sede Central: O DCE possui sua sede central na RuaGeneral Vitorino, 251 – Quase esquinacom a Benjamin Constant. A sede estevesem uso durante muito tempo, mas deveser reativada gradualmente nos próximosmeses. O prédio, de propriedade do DCE,necessita de reformas, o que limitarátemporariamente o uso desse espaço;

- Transportes públicos: O DCE esteve dialogando comrepresentantes da SMSTT e da Mais RioGrande, buscando alterações nos horáriosdo transportes mais utilizados pelosestudantes de acordo com suasreivindicações, negociando o fim darestrição do uso do passe escolar namadrugada e a instalação de meios derecarga do cartão escolar no CampusCarreiros;

- Manual do Bixo: Foi entregue aos calouros o Manual doBixo, um informativo do DCE para quemrecém entrou no mundo acadêmico e estámeio perdido;

- Resolvendo problemasantigos...

A atual gestão do DCE é a primeira emdécadas a se preocupar com as dívidas daentidade. Recentemente, atualizamos ocadastro do DCE na Receita Federal (paratanto, pagando R$ 1.458,05 em multas pelanão declaração do Imposto de Renda dasúltimas gestões). O IPTU da Sede Centraltambém está em atraso e estamosbuscando a isenção do imposto;

- É proibido estacionar! Reativamos o xerox gratuito (20 cópias/dia/estudante) na Sede do Centro deConvivência – Campus Carreiros –, estamostentando retomar vagas para discentes emConselhos Municipais - que eram indicadaspelo DCE -, avaliando junto à FURG apossibilidade de transporte inter campusgratuito e muitas outras pautas! Para sabermais entre em contato conosco(informações abaixo) e compareça àsAssembleias Gerais;

- E o Campus Saúde? O DCE também está a par da situação doHU, realizando reuniões com os DA’s do C.Saúde e dialogando com a reitoria e as pró-reitorias em busca da solução dosprincipais problemas do hospital. Estamosreivindicando a adequação do currículo daFAMED ao Sistema de Rematrículas daFURG, tendo em vista os problemasgerados por essa falha no início dessesemestre.

Desejamos um ótimo semestre aos colegasda Medicina e agradecemos ao DAFB peloespaço.Queremos a tua participação! Qualquersugestão, dúvida ou reivindicação, procureum dos Coordenadores do DCE, participedas Assembleias Gerais que ocorremmensalmente ou entre em contato:

Twitter: @DCEFURGE-mail: [email protected]: 3233-6768Blog da Gestão: http://eproibidoestacionar.blogspot.com/

- A 120 paus a consulta, três vezes por semana,durante dois anos, ia ficar caro demais, ai umsujeito num bar me curou por 10 reais.- Ah é? Como? Pergunta o psiquiatra.O sujeito responde:- Por R$ 10 ,00 ele cortou os pés da cama...

Moral da História:

HÁ UMA GRANDE DIFERENÇA ENTRE FOCONO PROBLEMA E FOCO NA SOLUÇÃO.

Uma breve história da medicina

Eu tenho uma dor de ouvido.

2000 a.C. - Aqui, coma essas raízes.1000 d.C. - Raízes são pagãs, reze.1850 d.C. - Rezas são superstição, beba essapoção.1940 d.C. - Essa poção é óleo de cobra, tomeessa pílula.1985 d.C. - Essa pílula é inócua, tome esseantibiótico.2000 d.C. - Antibiótico é artificial, coma essaraiz.

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Para que lado eu vou...Visão geral sobre a Medicina de Família eComunidade

Prof. Tarso Pereira Teixeira, médico da EstratégiaSaúde da Família de Rio Grande.

A Medicina de Família e Comunidade (MFC) é umaespecialidade médica reconhecida pela Comissão Nacionalde Residência Médica desde 1981 e pela Associação MédicaBrasileira desde 2004. Seu foco de atuação é na pessoa,independente de presença ou não de doença, fornecendocuidados médicos em todas as suas fases da vida, ao longodo tempo, sempre que necessário. Também atua sobre asua família e sobre a comunidade aonde esta pessoa mora.Atua predominantemente no nível de atenção primária emsaúde, tanto em nível individual quanto coletivo.

Seus principais instrumentos de trabalho são aescuta, anamnese, exame físico, exames complementares,especialistas em outras áreas e outros profissionais da áreada saúde, caso seja necessário, resiliência, empatia,relaçãomédico – paciente, histórico de vida do paciente, suafamília, seu ambiente de moradia e/ou trabalho. Deveresolver mais de 85% de todas as doenças mais comuns,

tanto em adultos quanto em crianças ou mulheres, alémde atuar na promoção à saúde e na prevenção de doenças.

Atualmente seu mercado de trabalho está em francaexpansão. Na saúde pública, o mesmo pode atuar naEstratégia Saúde da Família (ESF), em pronto – atendimentoe na gestão. A saúde suplementar, nome dado à medicinaprivada, cada vez mais se procura este profissional por serum médico de referência para todas as condições,reduzindo custos com exames e procedimentosdesnecessários sem perder a qualidade do atendimento.Além disto, este especialista organiza a procura por outrosespecialistas, tornando a atuação deste também maisefetiva. Outra área que vem crescendo em oferta detrabalho é a docência universitária, pois, com asmodificações curriculares, o ensino está mais voltado paraa atenção primária, porém ainda são poucos os médicoscom este perfil.

Apesar deste mercado, hoje a maioria dos médicosque atuam na ESF não têm formação em MFC, sendo muitasvezes recém – formados ou vindos de outras residênciasmédicas. Isto se deve em parte à grande oferta de trabalho,o que supera a procura, mas também à falta deconhecimento do estudante de graduação sobre esta área.Soma – se a isto, a supervalorização dos procedimentosmédicos, o que leva os estudantes a buscar áreas onde istoé mais realizado. Porém, este quadro deve mudar, pois os

Ministérios da Saúde e da Educação têm realizado esforçospara valorizar mais o profissional desta especialidade eoutros setores da saúde já o reconhecem como muitoimportante para a sustentação e continuidade dos sistemasde saúde.

A minha escolha por esta especialidade se deu emum momento em que não havia a Estratégia Saúde daFamília no município, e o estágio curricular estava apenascomeçando. Uma das minhas motivações foi o fato de poderser resolutivo, atuar fora do ambiente hospitalar e continuarlidando com todas as áreas da medicina, além da saúdecoletiva. Além disto, o fato de poder acompanhar ospacientes ao longo do tempo, em ambulatório, pré – natal,puericultura, visitas domiciliares, etc,e poder trabalharjunto com outras áreas da saúde para resolver o problemada pessoa torna o trabalho algo muito motivador edesafiante.

Para seguir esta carreira o futuro médico tem quegostar de escutar as pessoas, gostar de estudar as maisvariadas áreas da medicina, indo até mesmo além delas,saber trabalhar em equipe e gostar de desafios.Financeiramente é equivalente a qualquer área da medicinacom especialização, diferindo muito mais pela região dopaís em que se está atuando.

Quem se identificar pode procurar esta área que serámuito recompensador.

CAPA

Vítor Ruwer Werle, ATM 2016

“A medicina só será verdadeira quando a formaçãouniversitária for orientada no sentido de uma maiorligação com a realidade brasileira, em vez de ficar isoladados problemas do nosso povo. A medicina seráverdadeira quando os médicos deixarem de gravitar aoredor de uma reduzida minoria de favorecidos.” - MoacyrScliar.

Este não é um obituário. Pelo contrário, considere umahomenagem a um dos nomes mais importantes do RioGrande do Sul no cenário nacional. A quem não oconhece, considere esta curta biografia um convite paraconhecer um pouco do importante papel exercido peloScliar e, claro, leia as histórias, contos e crônicas dele.Há muito que se aprender longe dos habituais paperstécnicos ou romances de vampiros.

De início, a grande maioria do pessoal que transita porestes pagos sabe que o gaúcho Moacyr Scliar deixou-nos há poucas semanas, após longo período deinternação decorrido de uma cirurgia de retirada depólipos no intestino e culminada por um AVC em janeirodeste ano.

Conhecido pelas suas letras e pelo ilustre papel derepresentante do nosso estado na ABL, Scliar foi, acimade tudo, médico. Formou-se pela UFRGS nos anos 60 edesde então demonstrou profundo interesse na área desaúde pública. Dedicou sua vida profissional ao papelde sanitarista, dividindo seu tempo ora na equipe desaúde do governo estadual, ora em intensa participaçãocomo docente.

A trajetória de vida do médico-escritor é uma inspiraçãopara nós, estudantes de medicina, mas também a todosos indivíduos sensíveis às mazelas da sociedade. Suaaspiração maior não era encontrar-se à parte dos anseiosde uma população parcamente assistida pelo governo.Além do mais, aquelas presumidas arrogância eostentação chocavam-se com uma realidade social tãoóbvia para Scliar, porém tão distante dos demais olhosdeslumbrados. Scliar escolheu desaquietar-se sobtamanho descaso pelo bem-estar das camadas mais

necessitadas. Ele viu a parte menos glamurosa damedicina, no caso, direcionada à esfera pública de saúde,com outros olhos. Em meio ao rebanho que somenteavistava limitações, ele preferiu enxergar oportunidadesde mudança. Logo, decidiu ir além da Academia, doscorredores hospitalares e enfermarias, e resolveu intervirpor aquilo que sonhava e imaginava como fundamentaisna atuação médica.

Sua primeira obra publicada compilou artigos e textoselaborados durante sua graduação. Em Histórias deMédico em Formação iniciou uma verdadeira literaturaretratando a Medicina, perfasendo a história da profissãoa relatos do seu cotidiano. Sabe-se que durante anosScliar soube escrever sobre o trabalho de sua vida, e queestava concluindo um novo livro a ser lançado em breve.Esse livro, um diálogo em parceria entre Scliar e opsicanalista Odorico Monteiro, traz a tona uma reflexãoa respeito da profissão. Restam ainda incertezas sobreo teor do texto, mas não vem a ser difícil precisar acercado que seria abordado. Talvez um apanhado doaprendizado adquirido e amadurecido desde os temposde universitário, o que só afirma a certeza de que os

ideais do jovem médico continuavam firmes convicçõesem favor da ética e humanidade.

À época de sua formatura como orador de turma, Scliarproferiu a sentença que inicia este artigo. Dada a devidaformalidade da ocasião, aquilo foi um grande sinal doque viria pela frente. Scliar suscita diversosquestionamentos para aqueles que estudam ou praticama Medicina: A que fins decidi ser médico? Serei eu umgrande profissional em função de poucos ou em prol dacoletividade mais carente de atenção e menos visada?Pense. Lembre-se que somos livres para escolher nossoscaminhos e que seremos sempre lembrados pelasconsequências benéficas das nossas ações.

Ninguém é dono da razão. Tanto que o próprio Scliarrespondeu em uma antiga entrevista sobre o que eleesperava estar gravado em sua lápide: “Viveu bastante,mas não aprendeu muito”. Há muito conhecimento abuscar pela frente, mas jamais finja-se cego perante asinjustiças intrínsecas ao “ser” (verbo) humano. Inicie odia de amanhã aprendendo com lições de tamanhocarinho e dedicação a exemplo da de Scliar.

Personalidade

O exemplo que vem de Scliar

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Para Discurtir

Genética, ética e o cuidadoao paciente

Profª. Simone de Menezes KaramEm nossos dias, discute-se com frequênciaa ética, tanto a ponto de o termo estar setornando lugar comum e, o que poderia serpositivo, pode ter um impacto negativo,pois ética exige, acima de tudo reflexão, jáque não é redutível à moral ou aos códigosformais, mas sim, exige indagação sobreuma vida ou uma profissão. Assim sendo éfundamental para a prática clínica e para apesquisa. Como a ética e a bioética que demodo resumido trata dos problemas éticosdecorrentes das ciências biomédicas, aGenética é hoje também ferramentafundamental de trabalho. Do mesmo modoque é dito que “há ética para tudo “também é dito que “ hoje em dia tudo égenético”,e, assim, acabamos não fazendoo exercício da reflexão quer no consultórioquer na pesquisa. Além disso, tentamosexplicar a genética sem muitas vezes

classificá-la em seus diversos tipos deherança. No meio dessa confusão, há quemqueira usar os avanços imensuráveis que agenética trouxe nas últimas décadas parabenefício próprio. O diagnóstico pré-natal,que permite a detecção de doenças gravesainda intra-útero, vem sendo confundidocom a vontade de planejar característicascomo o sexo, a inteligência, ocomportamento ou quem sabe a cor dosolhos de um filho. A falta de reflexão sobreo bom uso da genética molecular poderálevar a um Mundo de exclusão. BertoldBrecht (1898-1956), dramaturgo alemão,dizia que “a única finalidade da ciência éaliviar a miséria da existência humana”. Talpensamento é partilhado pela maioria doscientistas, médicos ou não, que foram alémpara descobrir algum benefício para seuspacientes. Esse benefício veio de formaconcreta no tratamento da Fenilcetonúria,por exemplo. Às vezes, é uma perspectivaque se abre para isso, como os tantos genesmapeados e revelados através do ProjetoGenoma Humano, porém, tudo isso, foipermitido por inúmeras descobertasanteriores, sem nenhum dos recursos deque dispomos hoje, como as de Mendel e

Darwin e que norteiam estaciência revolucionária a pontode mostrar a inconsistência doconceito de raça. Para cadauma dessas etapas, houvedilemas morais e tais dilemas,de ontem ou de hoje,permitem a evolução se, nomeio deles, existir a ética. Acriança a ser gerada esperaisso, espera ser aceita, esperaser amada,independentemente da cordos seus olhos ou da suacapacidade. Assim tambémnossos pacientes e nesse caso,não há o que temer, se apreocupação for o cuidado doser humano. Nada noscolocará mais no caminho daética do que cuidar o paciente.Para a nossa reflexão final, ébom lembrar conceitosfundamentais como o de genótipo, conjuntode genes de um indivíduo e, fenótipo, oconjunto de suas característicasobserváveis. Entre os dois, está o ambiente,que pode levar a modificações do fenótipo

ou, ainda, de um mesmo genótipo, levar adiferentes fenótipos. Somos fruto, portanto,da hereditariedade e do ambiente. Vamospensar nisso!

Carlos Augusto Cornetet JuniorMédico Regulador/Intervencionista SAMU Pelotas

Médico Intervencionista SMR/Ecosul

Este artigo sucinto, procura resumir os principais pontos de discussão e algumas alterações das diretrizes de 2010 da AHA ( American Heart Association) paraRessuscitação Cardiopulmonar ( RCP ) e Atendimento Cardiovascular de Emergência ( ACE ). Foi desenvolvido para que os profissionais que executam a ressuscitação eos instrutores da AHA possam se concentrar na Ciência da Ressuscitação e nas recomendações das diretrizes mais importantes ou controversas ou que resultem emmudanças na prática ou no treinamento da RCP, além de explicar o raciocínio adotado nas mesmas.

As diretrizes da AHA para 2010 para RCP e ACE se baseiam em um processo internacional de avaliação de evidências, envolvendo centenas de cientistas eespecialistas em RCP de todo o mundo que avaliaram, discutiram e debateram inúmeras publicações mundiais a respeito do tema.

As diretrizes da AHA 2010 para RCP e ACE enfatizam, mais uma vez, a necessidade de uma RCP de alta qualidade, incluindo:

a) freqüência de compressão mínima de 100/min ( em vêz de aproximadamente 100/min )b) profundidade de compressão mínima de 2 polegadas ( +- 5 cm ) em adultos, e de, no mínimo, um terço do diâmetro anteroposterior do tórax, em bebês e crianças,aproximadamente 1,5 polegadas ( +- 4 cm ) e 2 polegadas ( +- 5 cm ) respectivamentec) retorno total do tórax após cada compressãod) minimização das interrupções nas compressões torácicase) evitar excesso de ventilação

Não houve alteração na recomendação referente a relação compressão-ventilação de 30:2 para um único socorrista de adultos, crianças e bebês ( excluindo-serecém-nascidos ); permanece a recomendação que as ventilações de resgate sejam aplicadas em, aproximadamente, 1 segundo. Assim que houver uma via aéreaavançada colocada, as compressões torácicas poderão ser contínuas ( a uma freqüências mínima de 100/min ) e não mais alternada com ventilações, pois , a partir destemomento, poderão ser aplicadas a uma freqüência de uma ventilação a cada 6 ou 8 segundos ( +- 10/min ), sem necessidade de interrupção das compressões torácicas.

As diretrizes da AHA 2010 para RCP e ACE recomendam uma alteração na seqüência de procedimentos de SBV ( suporte básico de vida ) de A-B-C ( via aérea-respiração-compressões torácicas) para C-A-B ( compressões- via aérea- respiração) em adultos, crianças e bebês ( excluem-se os RN que tem seu manejo próprio e quedevem ser avaliados isoladamente ), pelo motivo que a vasta maioria das PCRs ocorre em adultos, e as taxas mais altas de sobrevivência à PCR envolvem pacientes dequalquer faixa etárea cuja parada foi presenciada por outras pessoas; na seqüênciaA-B-C, as compressões torácicas, muitas vezes, são retardadas enquanto o socorristaabre a via aérea para aplicar respiração de resgate ( boca a boca ), recupera umdispositivo de barreira ou reúne e monta o equipamento de ventilação; com amudança para C-A-B, as compressões torácicas serão iniciadas mais cedo e o atrasoda ventilação será mínimo ( isto é, somente o tempo necessário para aplicar oprimeiro ciclo de 30 compressões torácicas, ou, aproximadamente 18 seg ).

A maioria das vítimas de PCR extra-hospitalar não recebe nenhuma manobrade RCP das pessoas presentes, onde, uma das razões de maior importância podeser a seqüência A-B-C que começa com procedimentos de comprovada dificuldadecomo abertura de via aérea e aplicação de ventilações de resgate; começar comcompressões torácicas pode encorajar mais pessoas a iniciar procedimentos deRCP.

Recomendamos um estudo mais aprofundado deste tema, que pode serencontrado nas publicações de GUIDELINES CPR/ECC da AHA, ou pelo sitewww.heart.org/cpr .

Destaques das diretrizDestaques das diretrizDestaques das diretrizDestaques das diretrizDestaques das diretrizes da AHA 2010 pares da AHA 2010 pares da AHA 2010 pares da AHA 2010 pares da AHA 2010 para Ra Ra Ra Ra RCP e ACP e ACP e ACP e ACP e ACECECECECEPara saber mais!

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PúlpitoO discurso do rei - O que o

reitor disse aos calouros narecepção da ATM 2016?

“... vejo aqui semblantes que não me inspiramrespeito [...] não sairão futuros bons médicos...”

Os calouros da Medicina da FURG nãoesqueceram o discurso do reitor durante a aulainaugural. Foram 65 minutos de puro desrespeito,não condizentes com um momento de boas-vindas. Diferente do que foi dito, hoje temos algumas certezassobre o ocorrido. Saiba o reitor que viemos de todo o Brasilcom o único objetivo de sermos os melhores médicos que estelugar já viu passar. Nossos semblantes refletem nossapreocupação com o estudo e a universidade. A recíproca porparte da reitoria deveria ser a mesma, ou não?

Não tem espaço para o DAFB!

Felizmente no Glasgow 15 encontramos um espaço,mas, infelizmente, está difícil desenvolver as atividades doDiretório Acadêmico Francisco Martins Bastos com apenas 5m². O DAFB está pequeno para os planos e para o que vemrealizando dentro da Universidade Federal de Rio Grande(FURG). Só para constar, todos os banheiros são maiores queo DAFB (não que não precisemos deles), todas as salas de aulasão maiores, o XEROX é maior, o bar é maior... Cremos quemenor mesmo, só o elevador (e por pouco).

Não cabem todos os membros para as reuniões, nãotemos um lugar para por uma mesa para discutir e nemprecisamos comentar a falta de espaço para uma melhorintegração dos alunos (reivindicação antiga). Precisamos demais espaço! Queremos espaço no projeto da próxima áreaacadêmica, mas queremos espaço agora também! Éfundamental podermos desenvolver nossas atividades em umambiente no mínimo menos “apertado”.

Alunos desamparados – a falta de professoresde neurologia na Clínica Médica.

Estamos agradecidos e ao mesmo tempopreocupados pois o terceiro ano da medicinasó tem aula de neurologia na clínica médicagraças à boa vontade de professores -que jáestão aposentados- mas que por consideraçãoaos alunos prestam o favor de dividir seuconhecimento. É indispensável que açõessejam feitas no sentido de mudar essasituação.Fica aqui nossa indignação e aesperança que medidas sejam tomadas paracontratação de novos professores.

Privacidade e respeito ao paciente! –Cortinas para as enfermarias do HU

Estamoscansados deter queatender osp a c i e n t e ssem poderrespeitar aprivacidadedeles e o pioré quandoisso tudoaparentementeé normal.Lemos nasbibliografiasque devemosrespeitar aprivacidade,

ter delicadeza no atendimento, preservar o pudor do paciente,mas como!? Sendo que tem 5 pacientes por quarto, um fluxogrande de pessoas e se quer conseguimos fechar a porta paraexaminar! É indispensável cortinas para ao menos isolar osleitos para o exame. Por favor, pelo menos cortinas naenfermaria e dignidade para quem será examinado!

É da FURGMuito além do nariz vermelho - Projetorecrutas da Alegria.

Recrutas da Alegria

No começo de 2011, por iniciativa dosalunos de medicina da FURG foi montado oprojeto “Calouros da Alegria”, no início com ointuito de integrar os alunos do primeiro ano epermitir que eles tenham um maior contato como paciente. Porém, foram tantos alunos pedindopara participar que não foi possível ficar limitadoem apenas um projeto de acolhida para oscalouros, mas sim um projeto para todos osanos.

Pensando nisso, e que seremos sempreaprendizes na relação médico-paciente, decidiu-se montar o projeto “Recrutas da Alegria”, noqual somos continuamente aprendizes,iniciantes, recrutas. E ao mesmo tempo estamostentando sempre “recrutar” sorrisos, sem aopressão e dureza do hospital, tentandoconstruir o picadeiro nas enfermarias edeixando-as mais coloridas com nossos narizesvermelhos.Percepções

Pequena leitura da visão de uma caloura

Vanessa Cardoso Barrientos, caloura do curso de MedicinaVivenciar a diversidade é um privilégio, e um privilégio

grande. Eis um dos tantos sentimentos que tem regido asminhas primeiras semanas na FURG. E sinto-me feliz ao saber,por meio de comentários diários, que os demais colegas daATM 2016 compartilham tal percepção.

Somos um grupo atípico. Reunimos as mais variadasorigens, sotaques, estilos, preferências. Entretanto, um sonhochamado medicina nos uniu e no sul do sul do país cá estamos.

Toda travessia é marcante e o ingresso na universidadenão é, pois, diferente. Perspectivas e anseios já naturaissomaram-se ao fato de estarmos fazendo parte da primeiraturma da FAMED selecionada única e exclusivamente atravésdo Enem. Como seria a convivência de uma turma tãoheterogênea? Felizmente, a nova conjuntura tem se mostradoencantadora e os nossos medos são, gradativamente,atenuados. As dificuldades iniciais existem e persistem,contudo afirmo que a riqueza que experimentamos desde járecompensa muito.

Nada é construído sem trabalho e nenhuma relaçãosaudável pode ser forjada. Nessa perspectiva, admiramosdemais o esforço e a preocupação que os nossos veteranostiveram e continuam tendo conosco. A ATM 2015 apresentou-nos a ações já tradicionais dentro da FAMED, como a doaçãode materiais (feito que atingiu o seu ápice com a criação do‘cd do kit bixo’ contendo resumos e materiais de apoio paraos calouros) e a organização da confecção dos nossos jalecos.Atos que, para mim, soaram como palavras silenciosas de boas-vindas.

Mas a doação de materiais, a ajuda em questõesburocráticas e outras ações promovidas são feitos visíveis. E oque quase não se pode descrever? Tenho muito que agradecerpela acolhida respeitosa e pelo apoio emocional que recebidos colegas de turma, dos veteranos e, inclusive, de integrantesde outros anos. O projeto “Recrutas da Alegria” fez-nosmergulhar em uma oportunidade imensurável afinal, como jámencionava Charlie Chaplin, um dia sem um sorriso é um diaperdido.

Na FAMED, encontramos uma recepção que, talvez,não encontraríamos em nenhum outro canto do Brasil. Ouvirum ‘quando precisar de algo, podes me chamar’ compensamuito a distância e a saudade da família – que, em muitoscasos, está a mais de 2000 km. A partir de tão boa impressãoacerca da FURG e da Faculdade de Medicina, também expressoaqui a minha frustração acerca de boatos que dizem a respeitode um suposto ‘trote’ praticado por veteranos e calouros. Talação não foi praticada por nenhum integrante da FAMED, vistoque o objetivo foi respeitar as normas vigentes da instituiçãode ensino.

Não deixemos que o encantamento inicial nos cegue einiba as nossas ações - a ATM 2016 deve estar ciente dosdesafios e da responsabilidade no engajamento por mudançasno que cerne aos problemas e aos empecilhos queencontraremos nos mais variados âmbitos.

Dessa maneira, desejo aos colegas de sala de aula forçanesse início de jornada. Os primeiros passos na medicina são,afinal, apenas os primeiros passos.

Por fim e ao cabo, um sincero agradecimento a todosda FAMED que, de alguma maneira, ajudaram a mim e aosmeus colegas – sejamos do sul, norte, nordeste, centro-oeste,sudeste do Brasil – a nos sentirmos em casa.

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As Escolas Médicas do Estado do Rio Grande do Sul,representantes da Regional 1 da Associação Brasileira deEducação Médica (ABEM), promoverão o 14º CongressoGaúcho de Educação Médica - 14º CGEM, o qual será

organizado pela Faculdade de Medicina da UniversidadeFederal do Rio Grande (FURG).

O 14° CGEM será estruturado a partir de atividadessimultâneas, na forma de fóruns, painéis, mesa redonda e

14º CGEM - Congresso Gaúcho de Educação Médicapalestras, permitindo a ampla participação de estudantes,docentes, profissionais da área da saúde e gestores. Asescolas médicas poderão divulgar suas experiências através

de temas livres e pôsteres.

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AAAAACONTECEU!CONTECEU!CONTECEU!CONTECEU!CONTECEU!

No dia 20 de março aconteceu o tradicionalChurrasco dos Bixos da Medicina. A festa, realizadapela ATM 2015, foi no Honk Papa e durou mais de12 horas. Compareceram os estudantes da FAMED ede outros cursos da FURG. Os bixos foram,tradicionalmente, bem recepcionados por todos osveteranos. Os estudantes Mayara e Arnildo divertiramos convidados cantando músicas de própria autoria,além da banda Lingüiça Campeira, da ATM 2014.

A ATM 2014 se reuniu para comemorar o retorno das aulas e os aniversários das colegas GabrielaBreintenbach e Ana Carolina Beheregaray. A festa foi no Clube Regatas no dia primeiro de março.

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Intercâmbio

João Paulo Neri Garibaldi,estudante de medicina da UFSC,

gestão Integração do CALIMED ecoordenador regional Sul-1 da

DENEM.Neste último mês de novembro

voltou a tramitar na Câmara o PL-650/2007,um dos projetos de lei que tramitam no

Congresso e que versam sobre a implantaçãode um exame de habilitação para osgraduandos em medicina, semelhante aoexame de ordem a que são submetidos osestudantes que se formam em direito.

O exame de ordem para a medicina,também conhecido como exame decertificação, habilitação, admissão ou examede proficiência, pretende que todos os

estudantes de medicinarealizem uma prova aofinal da graduação,prova esta que definiriase o formado está aptoou não a exercer o seutrabalho como médico.Mas quais são as

justificativas para aimplantação de umexame de ordem para amedicina? Parajustificar a implantaçãodesta avaliação sãodois os principaisargumentos: é precisoproteger a populaçãocontra o crescenteaumento de errosmédicos e é precisofazer algo frente à

abertura desenfreada de escolas médicas,muitas delas com baixíssima qualidade deensino.

O movimento estudantil de medicinanão acredita, no entanto, que uma avaliaçãonesses moldes resolveria os problemascitados e desde o COBREM de Brasília, em2005, a DENEM tem deliberação contrária àimplantação do exame de ordem para amedicina.

Os argumentos para esteposicionamento são vários e inicia-se a partirdo entendimento que o exame de ordempossui um caráter terminal e punitivo, já queignora a função de qualquer avaliação –identificar os problemas para podersolucioná-los – punindo apenas o estudante(esquecendo-se de avaliar a qualidade daescola, do corpo docente, etc.) nummomento em que nada mais pode ser feito.Por seu caráter pontual é também muitolimitado, já que ignora as centenas de provas,trabalhos, seminários, atividadesextracurriculares e pesquisas, que realizamosdurante a faculdade, os substituindo porapenas uma única prova objetiva ao final dosseis anos.

É preciso que tenhamos a clareza deque o exame de ordem não cumpre o seupropósito de que “maus profissionais seformem”, já que uma prova terminal epontual não exerce nenhuma ação sobre aformação do estudante em si, mas apenasdesviaria a sua atenção da graduação paracursinhos preparatórios para o exame, comoacontece com as provas de residência e quejá bem conhecemos.

Ao instituir uma avaliação ao final docurso de graduação que vai selecionar quegraduandos estão aptos a exercer a profissãomédica o exame cria outro grande problemaque é a desresponsabilização das escolas emgarantir uma boa formação: a partir de agorahaverá um filtro que irá retirar do mercadoquem são os “maus profissionais”. Assim, oexame não só não resolve o problema daabertura indiscriminada de novas escolascomo piora este quadro: após a instituiçãodo exame da OAB o número de cursos dedireito quadruplicou e hoje existem mais de1000 cursos no país (INEP).

Outra questão bem importante é: oque vai fazer o graduado em medicina quenão for aprovado no exame??? Com o examede ordem cria-se uma subcategoria demédico (o bacharel em medicina) que, numpaís com a demanda por profissionais desaúde como o nosso, sem dúvidas acabaráexercendo ilegalmente e de forma aindamais precarizada a medicina.

Uma última questão é que o examede ordem traz como proposta que ahabilitação dos graduados em medicina paraexercerem sua profissão saia das mãos dasescolas e passe para as mãos da corporaçãomédica, o que poderia levar a reserva demercado. O Exame do CREMESP, provaoferecida para os graduados em medicina doestado de São Paulo desde 2006, apesar doseu caráter não obrigatório, tem a claraintenção de demonstrar que a entidadeestaria apta a assumir a responsabilidadepela implantação e controle de um examede certificação. Caso a atribuição decertificação passe a ser mesmo dosconselhos, esse poder de auto-regulaçãopoderia converter o exame num possívelinstrumento de defesa de interessesmeramente corporativos (alguns poucosmédicos decidindo quem pode ou não sermédico).

Como podem ver este é um assuntobastante polêmico e que muitoprovavelmente voltará a ser pauta centralpara o movimento estudantil de medicina noano de 2011. É nosso papel voltar a debatê-lo com profundidade, nos mobilizarmos paraimpedir que esses projetos de lei sejamaprovados e lutarmos por uma real melhoriada qualidade do nosso ensino, tendo semprecomo fim a melhoria das condições de saúdeda população.

Obirajara RodriguesCoordenador do Curso de Medicina

FAMED – FURG

Tramita no Congresso Nacional oProjeto de Lei do Senado número 217, de2004, que visa instituir o “Exame Nacional deProficiência em Medicina” e o Projeto deLei da Câmara Federal número 4342, de2004, que visa instituir o “Exame deHabilitação para Exercício da Medicina”.Estes projetos têm como proposta arealização de um exame (ou exames) paramédicos recém formados, seguindo oexemplo do Exame da Ordem dos Advogadosdo Brasil. Os projetos definem a exigência deque o estudante de Medicina, após recebero seu diploma, tenha que se submeter a umexame e apenas no caso de ser aprovadopoder registrar seu diploma no ConselhoRegional de Medicina e ser habilitado aexercer a profissão de médico. Este exametem sido chamado por vários nomes,“Exame de Ordem”, “Exame deQualificação”, “Exame de Habilitação”,“Exame de Proficiência em Medicina”.

O assunto é polêmico, principalmenteporque o Conselho Regional de Medicina doEstado de São Paulo (CREMESP) vemrealizando, desde 2005, em caráterexperimental, um “Exame de Habilitação”,para alunos de Medicina que estejamcursando o sexto ano de faculdades

localizadas no Estado de São Paulo,justificando a aplicação do exame devido àqualidade do ensino, que vem caindo nosúltimos anos, o que gera um atendimentopior à população. Segundo Bráulio LunaFilho, conselheiro do CREMESP, o médicoaprovado no exame estará bem preparadopara atuação profissional.

A Coordenação do Curso de Medicinatem participado das discussões em reuniões,seminários, congressos e fóruns promovidospela Associação Brasileira de EducaçãoMédica (ABEM), assumindo a posiçãocontrária à instituição no Brasil de qualquertipo de Exame de Habilitação, realizado apóso final do Curso Médico. Não somos, deforma alguma, contrários aos processos deavaliação. Reconhecemos que precisamosaperfeiçoar o sistema de avaliação dasescolas médicas, assim como, precisamosdesenvolver instrumentos e métodosavaliativos ao longo dos seis anos do Cursomédico. A avaliação precisa ser formativa,com avaliações em vários momentos docurso, com variados instrumentos, quepossam medir a aquisição de conhecimentos,de habilidades e atitudes médicas. Asescolas médicas devem garantir a formaçãode seus egressos e só fornecer diploma aosestudantes que tiverem osconhecimentos, as habilidades e as atitudesestabelecidos pelas Diretrizes Curricularespara os Cursos de Medicina.

A instituição desse tipo de exameterá repercussões sérias para os estudantes,para os médicos e para a sociedade. Hojevivemos o impacto causado pelos cursinhospreparatórios para as provas de residênciamédica, que mudou o comportamento dosestudantes de Medicina, em especial nosúltimos anos do curso, em que se dedicammenos às atividades práticas e mais na suapreparação teórica para as provas deresidência. A necessidade de preparar-se parao Exame de Ordem passará ser a preocupaçãocentral de nossos alunos, sendo muitoprovável que haja proliferação de cursinhospreparatórios para o Exame de Habilitação eos alunos passem a estudar os conteúdos quemais provavelmente serão exigidos noexame. Em vez de contribuir para melhorara formação dos médicos, o Exame deQualificação poderá contribuir para piorá-la. Com relação aos médicos, o que o queacontecerá com aquele que concluiu umcurso de Medicina e não foi aprovado noExame de Qualificação? O que ele poderáfazer e o que ele não poderá? Qual será opapel desse médico dentro do contextosocial da saúde no Brasil atual? No Examerealizado pelo CREMESP, em 2010, 68%dos médicos foram reprovados. Só nosresta questionar, que estratégias osConselhos Regionais de Medicina passarão aadotar para coibir o exercício ilegal daMedicina por parte dos profissionais nãoaprovados. É importante ressaltar que obacharel em direito, considerando o Examede Ordem dos Advogados, tem várias opçõesprofissionais, não apenas a de ser advogado:pode ser, por exemplo, juiz, promotor,

delegado, havendo formação específica paracada uma dessas atuações profissionais. OExame de Ordem, realizado após o finaldo curso, implicará significativamente nomenor compromisso de muitas escolasmédicas com a formação do profissional,acarretando para a sociedade o ônus de serassistida por profissionais mal formados eque, não aprovados no Exame deQualificação, se sujeitarão a ser contratadoscomo mão de obra barata, dentro de umsistema de saúde que já se apresenta commuitos problemas.

O caminho proposto pela ABEMé que a discussão sobre a implantaçãoou não de um Exame de Habilitação paramédicos seja uma discussão nacional e nãoregional, e que envolva as entidadesprofissionais, as escolas médicas, osestudantes de medicina, médicosresidentes e a sociedade. Essa discussãodeve ter como princípio a busca da melhoralternativa para que a sociedade tenha acessoa médicos formados de acordo com asDiretrizes Curriculares, competentes, éticos,humanos, socialmente responsáveis eadequados às necessidades de nossasociedade. É necessário o aprimoramentodo processo de avaliação dos estudantes deMedicina, com a criação de instrumentosde avaliação de conhecimentos, habilidadese atitudes que sejam aplicados em váriosmomentos do curso médico. O estudanteque fosse insuficiente em uma dessasavaliações poderia se recuperar e sernovamente submetido a ela e o responsávelpelo suporte e formação dos alunos seria, éclaro, a sua escola médica.

CAPA Da Nossa Universidade!

CAPA

O exame de ordem para o exercício damedicina

Exame de Ordem paraa medicina volta atramitar no Congresso

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Palácio de Buckingham

HISTÓRIA / Qual é o diagnóstico?

Fonte: Medscape

Introdução do caso

Paciente homem, 56 anos, se queixava de tosse severa efraqueza com aproximadamente 4 meses de duração. No inicíoda disfunção começou a apresntar febre, calafrios e tossemoderada. Uma radiografia realizada na época revelou uma áreade consolidação no pulmão esquerdo, para o qual foi tratadodurante 1 semana com penicilina e repouso. No entanto, ossintomas pulmonares persistiram, e após dois meses do iníciodos sintomas, ele fez uma tomografia do pulmão, seguido debrocoscopia e biópsia. Uma semana após a broncoscopia, umaoperação foi realizada. Como o paciente não queria ser internado,uma equipe de cirurgiões e anestesistas realizaram a operaçãona casa do paciente. O paciente teve uma recuperação lenta, masdois meses após a operação esteve bem o suficiente paraparticipar do terceiro aniversário de seu neto. Quatro meses emeio após a cirurgia, ele passou um dia de caça com os amigos eparentes, mas naquela noite, para surpresa da família, ele morreutranqüilamente em seu sono.

História familiar e pessoal

O paciente bebia moderadamente, mas fumava muito,iniciando o uso de tabaco ainda quando adolescente. Seu pai,um fumante inveterado, morreu de doença pulmonar obstrutivacrônica com 71 anos. Sua mãe, que também era uma fumanteinveterada, morreu aos 85 anos com suspeita de um tumorpulmonar. Seu irmão mais velho, também fumante, morreu aos77 anos de câncer de garganta.

História médica

Ele teve apendicite com 19 anos e quando completou 20anos desenvolveu uma úlcera duodenal. Durante a meia-idade,ele desenvolveu claudicação, que era suficientemente grave paraexigir uma simpatectomia lombar aos 54 anos. O paciente teveum impedimento de fala que persistiu desde a infância.

Qual foi o diagnóstico?

a) O câncer de pulmãob) Tuberculosec) Retidos corpo estranho no pulmão esquerdod) Aspergilloma

Quem foi o paciente?

a) Walt Disneyb) William Randolph Hearstc) George VId) Charles de Gaulle

Uma breve biografia

George VI era fi lho de paisretraídos e distantes, George V e arainha Victoria Maria. Ele tinha umirmão mais velho, Edward, que estavana fila para ser rei. George, cujo nomecompleto era Alberto Frederico ArturJorge, era conhecido por sua famíliacomo “Bertie”. Tornou-se rei em 1936,após seu irmão mais velho, Edward,ter abdicado o trono para se casar coma mulher americana divorciada duasvezes, Wallis Simpson. Este casamentoera incompatível com os padrões

aceitos pela monarquia britânica. George tinha um problemade fala persistente, gageuira, e tinha sido uma criança nervosa.Já adulto, George tinha uma personalidade modesta e estavaapreensivo quanto a assumir esse posto altamente visível.

A fala do paciente

As questões emocionaisde George VI com a gagueira eseu tratamento foram os temasdo filme de 2010 vencedor doOscar - The King’s Speech (Odiscurso do rei). Váriosterapeutas da fala já haviamtentado sem sucesso ajudar oRei superar este problemapersistente - uma verdadeirafonte de embaraço quandofalava em público.

Eventualmente, o rei consultou Lionel Logue, um australiano,que o ajudou a melhorar a sua autoconfiança e seu problemade fala. Tal como foi sugerido no filme, Logue tentou convencero paciente a parar de fumar, mas, infelizmente, ele não tevesucesso. George VI, que tinha uma voz forte e ressonante,tornou-se um excelente orador e usou o microfone e rádiopara fazer discursos de inspiração durante a Segunda GuerraMundial. Os súditos do rei admiravam-no por sua bravura ecoragem como Monara desafiante da Grã-Bretanha duranteo difícil período antes, durante e após a II Guerra Mundial.Vale a pena conferir o filme, tanto pela belíssima atuaçãoquanto pelo envolvimento e vencimento dos medos doprotagonista.

O que causa a gagueira?

A gagueira é uma afecção relativamente comum, queafeta mais homens do que mulheres. Ela geralmente sedesenvolve durante a infância e, em muitos casos, resolve-seespontaneamente quando a criança amadurece. Outraspessoas famosas além George VI que também tiveram umproblema de gagueira como: Aristóteles, George Washington,e Charles Darwin. Durante muito tempo se acreditou quenascer canhoto e ser treinado para usar a mão direita, comoaconteceu com George VI , estivesse associado com a gagueira.No entanto, uma pesquisa da Stuttering Association lançoualgumas dúvidas sobre essa relação, pois a proporção total depessoas da direita e mão esquerda que gaguejava foiaproximadamente o mesmo¹. Existe uma elevada taxa deconcordância deste traço em gêmeos idênticos, e muitasfamílias que incluem pessoas com gagueira tem váriosmembros afetados. Um relatório recente mostrou que algunsadultos com gagueira tem um defeito nos genes conhecidoscomo GNPTAB, GNPTG ou NAGPA - os genes que sãoassociados com o metabolismo lisossomal, um sistema quefunciona para remover o “lixo” intracelular². Os primeiros doisdestes genes têm sido relacionados com distúrbios dearticulações, ossos, órgãos internos e atraso dedesenvolvimento. Não está claro ainda porque tais mutaçõesdevam ser relacionada com a gagueira e de qualquer maneiraelas explicam apenas uma pequena proporção dos casos.Outras causas genéticas para este problema comum, semdúvida, serão descobertas. O conhecimento de que defeitosgenéticos podem levar a gagueira é útil, mas não explica porque os homens são mais suscetíveis e não elimina aimportância das causas sociais e ambientais.

Como o paciente foi tratado na época

O rei era um fumante inveterado e dois anos antes dedesenvolver câncer de pulmão, ele desenvolveu um outroproblema relacionado ao tabagismo - a insuficiência arterialdas extremidades inferiores, a qual se tornou tão severa queseus médicos consideraram a ideia de amputar sua pernadireita.

Em 1949, ele sofreu uma simpatectomia lombar, quefoi realizada no Palácio de Buckingham, para incapacitarisquemia da perna direita. Naquela época, isso era o únicoprocedimento cirúrgico utilizado para o tratamento dainsuficiência arterial dos membros inferiores, e após a cirurgiaseus sintomas melhoraram.

Em 1951, quando o rei desenvolveu uma sombrasuspeita no peito percebida pelo raio-X, Clemente PriceThomas, um famoso cirurgião torácico, estabeleceu odiagnóstico de câncer de pulmão através da realização de umabroncoscopia. Ele então realizou uma pneumonectomia, queocorreu na sala de Buhl do Palácio de Buckingham, após ter

sido convertido com iluminação especial em um quarto defuncionamento temporário.

Evarts Graham, um respeitado cirurgião Centro-Oeste,é creditado com a realização da primeira pneumonectomiaem 1933³. Ele publicou um artigo que se tornou um marcohistórico descrevendo a pneumonectomia, Graham escreveucomo abertura: “O pulmão esquerdo e muitas das glândulastraqueobrônquica mediastinais foram retiradas em uma faseda operação por causa de um carcinoma que se originou nobrônquio do lobo superior, mas que estava tão perto dobrônquio do lobo inferior que, para removê-locompletamente, foi necessário remover todo o pulmão”.

Após a operação, o Rei voltou para o seu próprioquarto, onde ele se recuperou lentamente a partir doprocedimento. Como era costume na época, o paciente,mesmo sendo o rei, nunca ficou sabendo que tinha câncer.Price Thomas fez o seguinte comentário sobre o seu pacientereal: “O rei é o melhor paciente que já tive.” Price Thomastambém contraíu câncer de pulmão, depois de muitos anosfumando também 4;5. A filha mais velha de George VI, Elizabeth,sucedeu seu pai em sua morte e se tornou rainha de Inglaterra,cargo que ocupou durante quase 60 anos.

Câncer no pulmão e tabagismo – Qual é a ligação?

O cigarro se tornou popular em meados do século 19,e na I Guerra Mundial os cigarros foram racionados para ossoldados. Durante o período entre a Primeira Guerra Mundiale a Segunda Guerra Mundial a freqüência de câncer de pulmãoaumentou dramaticamente. No entanto, os médicos,cirurgiões e epidemiologistas foram lentos para reconhecer aligação entre fumar eo câncer de pulmão. Inicialmente, mesmoEvarts Graham, o cirurgião que realizou a primeira

O caso do homem que perdeuum pulmão, mas ganhou umprêmio

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pneumonectomia por câncer de pulmão e que tratou centenasde pacientes com esta doença, estava relutante em acreditarna crescente evidência de que fumar causava câncer depulmão. Ele observou que, embora existisse uma associaçãoentre tabagismo e câncer de pulmão, houve também umaassociação semelhante entre a venda de meias de nylon ecâncer de pulmão. Infelizmente, Graham, um fumanteinveterado, morreu de câncer de pulmão alguns anos após orei George.

Uma das primeiras pessoas a reconhecer o papeletiológico potencial de cigarros foi Ernst Wynder, estudantede medicina na Universidade George Washington, em St. Louis,o qual realizou um estudo de caso-controle comparando afreqüência do tabagismo em pacientes com e sem câncer depulmão. O estudo, publicado em 1950, demonstrou uma forteassociação entre tabagismo e risco de câncer de pulmão 6.

Alguns anos mais tarde, em 1954, dois médicosbritânicos publicaram um estudo de coorte que demonstrouuma ligação muito importante entre o tabagismo e morte porcâncer de pulmão. 7 Finalmente, em 1964, Luther Terry, oCirurgião Geral dos Estados Unidos Estados, publicou orelatório amplamente divulgado resumindo todas asevidências disponíveis com a ligação entre fumar e câncer depulmão 8.

Infelizmente, as informações sobre o papel dotabagismo como causa de câncer de pulmão eramdesconhecidas durante a vida do rei George VI. Fumar era umhábito comum e muitos membros da família real fumavam.Houve algum entendimento que o alcatrão poderia ser a causade câncer de pulmão, mas muitos pesquisadores acreditavamque o alcatrão era utilizado para construir a superfície de

estradas - e não estava contido nos cigarros. O Rei morreu decâncer de pulmão, sem suspeitar que o fumo era a causa esem saber que tinha câncer.Como é que o paciente seria tratado hoje?

O tratamento atual para o câncer de pulmão do ReiGeorge VI difere acentuadamente do tratamento que elerecebeu há 60 anos. Ele teria sido tratado, hoje, por umaequipe de oncologistas que teria supervisionado o diagnósticoinicial, a propedêutica e a terapia eventual. É quase certo quea cirurgia do rei seria realizada em um centro especializadoem câncer, ao invés do Palácio de Buckingham. A cirurgia nãocurou o Rei, na verdade ele morreu alguns meses após suapneumonectomia, sugerindo que ele já tinha doença avançadano momento da sua cirurgia.

Hoje, para selecionar a terapia mais adequada, ele teriatido uma lista muito mais ampla de exames e não apenas umatomografia. Procedimentos de exames incluíriamprovavelmente: tomografia computadorizada, PET, emediastinoscopia pré-operatória, que é agora considerado opadrão de cuidado para a precisão. A quimioterapia, disponíveldesde a década de 1980, provavelmente seria parte daestratégia de tratamento pois ela é conhecida por resultar emaumento da sobrevida. O tipo exato de terapia iria dependerdo tipo e estágio do tumor e de seguir rigorosamente asorientações definidas pela National Comprehensive CancerNetwork 9.

Lamentavelmente, a atual taxa de sobrevivência após1 ano de câncer de pulmão - mesmo com os sofisticadosopções diagnósticas e terapêuticas - é inferior a 50% (vergráfico) e por isso é provável que o rei George ainda morresse

de câncer de pulmão pelos seus hábitos relacionados aotabagismo.

Referências

1. Foundas A. Hand preference and footedeness: atypical handednessin developmental stuttering. Stuttering Foundation. Available at: http://www.stutteringhelp.org/Default.aspx?tabid=175 Accessed February28, 2011. 2. Kang C, Riazuddin S, Mundorff J, et al. Mutations in the lysosomalenzyme-targeting pathway and persistent stuttering. N Engl J Med.2010;362:677-685. Abstract 3. Graham EA, Singer JJ. Landmark article Oct 28, 1933. Successfulremoval of an entire lung for carcinoma of the bronchus. By Evarts A.Graham and J. J. Singer. JAMA. 1984;251:257-260. Abstract 4. Sir Clement Price Thomas. Br Med J. 1973;1:807-808. Abstract 5. Hurt R. The Price Thomas maneuver for mobilization of thepulmonary artery during right pneumonectomy. Ann Thorac Surg.2005;79:2195-2196. Available at: http://ats.ctsnetjournals.org/cgi/content/full/79/6/2195 Accessed February 28, 2011. 6. Wynder EL, Graham EA. Tobacco smoking as a possible etiologicfactor in bronchiogenic carcinoma; a study of 684 proved cases. J AmMed Assoc. 1950;143:329-336. Abstract 7. Doll R, Hill AB. Mortality in relation to smoking: ten years’observations of British doctors. Br Med J. 1964;1:1460-1467, 1399-1410. 8. The Reports of the Surgeon General: The 1964 Report on Smokingand Health. Profiles in Science. The National Library of Medicine.Available at: http://profiles.nlm.nih.gov/NN/Views/Exhibit/narrative/smoking.html Accessed February 28, 2011. 9. The National Comprehensive Cancer Network. Available at: http://www.nccn.org/professionals/physician_gls/f_guidelines.asp AccessedFebruary 28, 2011. 10. SEER Stat Fact Sheets: Lung and Bronchus. National CancerInstitute. Available at: http://seer.cancer.gov/statfacts/html/lungb.htmlAccessed February 28, 2011.

PassatempoNão que sobre muito tempo para passar, mas a gentesempre acaba na cadeira de algum consultório...

Sudoku

Verticais1. Perguntas do médico2. Parte do corpo responsável pela bsorção de nutrientes e água e pelaexcreção dos resíduos.Escala neurológica de coma3. A pior é aquela que está se sentindo4. O da FURG fica no CCMar5. Método de _ _ _ - Knaus de controle de natalidade o qual se baseia noconhecimento dos dias férteis da mulher.6. Adenina - Timina - Citosina7. Capacidade de executar atos motores simples e complexos.8. Proteína - _ _ _ , grupo de proteínas que leva unido GTP e quanto sehidrolizam formam GDP, em resposta a um estímulo, desencadeando umaresposta intracelular.9. Intervenção cirúrgica que consiste na retirada de órgãos ou de tecidosdo organismo.10. Associação Atlética da Medicina Almirante Tamandaré11. (?) de Ranvier: Presentes no axônio.12. Do grego, significa “estudo do sofrimento”.13. Estudo que se ocupa das doenças pulmonares e do trato respiratório.

14. Pró-Reitoria de assuntos estudantis.15. Aspirina.16. Localizador de Informação em Saúde - disponível na biblioteca virtualem saúde17. Desenho geométrico plano da órbita.

Horizontais1. Dificuldade para urinar2. Anamnésia que resulta da dificuldade de lembrar de fatos recentes3. Síndrome causada por hiperaldosteronismo primário4. Espasmos musculares5. Associação Brasileira dos Estudantes de Medicina6. Imprescindível para a vida dos organismos aeróbios (símb. Quím).7. Composto químico que se forma através da descarboxilação da DOPA.É um neurotransmissor utilizados pelos neurônios da substância negra.8. Unidade de herança que ocupa um lócus, é constituido por umasequência de DNA que codifica um ácido ribonucleico funcional.9. Oligoelemento fundamental para a síntese de hormônios da tireóide.10. Antiinflamatórios não esteróides (sigla)11. Face de (?) Cheia: acúmulo de líquidos no rosto

12. Estudo dos sinais e sintomas13. Equipamento médico utilizado para observar o interior do ouvido.14. Nome popular de um platelminto parasita do sistema digestório.15. O termo (?) designa a suspensão voluntária ou involuntária darespiração.16. É uma infecção geral grave do organismo por germes patogênicos.17. Relativo ao nariz.18. Antígeno Prostático Específico.19. É a parte da medicina ou o ramo da patologia que trata dasenfermidades em geral e as classifica do ponto de vista explicativo.20. Pronto Atendimento.21. Antigo “posto de saúde”.22. O vírus (?) foi isolado pela primeira vez em 1976 a partir de casoshumanos de uma epidemia de febre hemorrágica que ocorreu em vilasdo Noroeste do Zaire.23. (?)-motor, III par-craniano.24. Relativo a boca.25. Fossa (?) ou inguinal.26. País da América Central localizado no mar das Caraíbas

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12Glasgow 15 - MAIO DE 2011 dafbfurg.blogspot.com

*Artigo publicado no dia 12/05 no Jornal Agora porDiretório Acadêmico Francisco Martins Bastos –DAFB/Medicina; Diretório Acadêmico Ruy Barbosa–DARB/Direito; Diretório Acadêmico da EngenhariaQuímica –DAEQ/Eng. Química;

A igualdade, a ética e principalmente, o respeitosão preceitos essenciais para a nossa convivênciaenquanto indivíduos e cidadãos.Perante a relevância de tais princípios, nós - dosdiretórios e centros acadêmicos da UniversidadeFederal do Rio Grande/ FURG* - expressamos a nossaprofunda insatisfação pela falta de respeito, pelas falaspreconceituosas e pelo autoritarismo do administradormaior dessa instituição. Declaramo-nos perplexos eindignados, pois sabemos que tais ações alcançam,além de toda a comunidade acadêmica, a comunidaderio-grandina.

O cargo de administrador de uma universidadefederal é crucial para o seu desenvolvimento e,portanto, deve ser exercido com deverasresponsabilidade para que a Universidade continuecrescendo e produzindo bons frutos para a sociedade.Reconhecemos o inegável desenvolvimento da FURGnesses últimos anos e desejamos que tais conquistasnão sejam atribuídas apenas às mãos de um cargo,desejamos, sim, que toda a comunidade estudantil tenhaconsciência de que as conquistas são de todos. E, partindo daí, acoletividade acadêmica não deve tolerar que a sociedade - quem contribuie sustenta esta instituição pública – acredite que está recebendo favores.Lutamos pelo progresso justo e respeitoso, dentro da Universidade efora dela.

Dessa maneira, preocupamo-nos com a imagem que a FURG possaapresentar visto que os acontecimentos recentes extrapolam os limitesdos nossos campi e das nossas fronteiras. Como vamos esperar que osalunos dessa Universidade sejam bem vistos pela sociedade enquantosão discriminados pela suprema administração da mesma? No momentoem que há assédio moral aos alunos e estes são postos em situaçõesdesconfortáveis, evidencia-se, no mínimo, uma forte contradição. Háde ser questionada a autoridade que pronuncia palavras desnecessárias

e ofensivas.Os diretórios acadêmicos creem

que o respeito é uma via de mãodupla, jamais podendo ser impostoe sim devendo ser construído.Estamos em luto pelo respeito! Nãoqueremos um abrandamento dacobrança aos alunos, não queremosregalias. O que nos impulsiona é:queremos estudar em um ambientede respeito, sem agressõesdesmedidas e desprovidas de causasque as motivem. Desejamos umareadequação de conduta por partedaquele que representa, em maiorinstância, a FURG.

No desejo de mostrar valor econstância perante a comunidadeque acredita na força da FURG,estamos tomando a frente dessadiscussão. É nosso deverreportarmos não apenas nossasconquistas mas também as atitudesde um gestor público que se porta efaz declarações altamentequestionáveis.

Reivindicamos seriedade e dignidade dentro do ambienteuniversitário e acreditamos que deixar que a atual conjuntura sejavencida pelo esquecimento não é uma atitude de um povo forte, aguerridoe bravo. Usufruímos do privilégio de construir nossos sonhos dentro deuma instituição pública e de qualidade e queremos fazer jus a essaresponsabilidade. Queremos e lutamos por RESPEITO!

Se você acha certa a atitude que tomamos ou se você faz partede alguma entidade estudantil ou associação de funcionários daFURG e sua gestão quer se juntar a nós nessa luta, entre em contatoconosco ou vá até as nossas sedes que estaremos aguardando paraconversarmos. E-mails:[email protected],[email protected], [email protected].

LUTO POR RESPEITO

Nota de esclarecimento

Nós, dos Diretórios Acadêmicos dos cursos de Direito, Engenharia Químicae Medicina da Universidade Federal do Rio Grande – FURG, devido à repercussãodo artigo publicado no Jornal Agora “Luto por respeito” do dia 12/05/2011, vimosesclarecer os motivos e objetivos que impulsionaram a nossa manifestação, quesão:

- Pedido formal e público de retratação do Reitor. - Adequação de conduta do mesmo - Informar a população em geral sobre os fatos que nos indignam acontecidosdentro da Academia.

Gostaríamos, ainda, de reiterar que compomos Diretórios Acadêmicos livrese independentes de movimentos partidários. Prezamos unicamente pelodesenvolvimento da Universidade, fortalecendo a boa relação entre todos que acompõe.

Os motivos que fizeram necessária nossa manifestação em busca do respeitomutuo entre todos que integram a comunidade acadêmica se deram pela ocorrênciade acontecimentos como os expostos a seguir:

Sentimo-nos ofendidos com as declarações proferidas pelo Reitor na aulainaugural das engenharias do dia 25/03/2011. Na oportunidade, ele refere-se aos

acadêmicos das engenharias como irresponsáveis quanto às suas formações, alémde, metaforicamente, cogitar vender um bem público que é a nossa Universidade.

Na semana de acolhida aos calouros do curso de Medicina, o Reitor afirmouver na plateia semblantes que não lhe inspiravam confiança e que estesprovavelmente não seriam bons médicos.

No Prêmio da Acolhida Cidadã, mais uma vez proferiu palavras que nosdeixam perplexos,questionando o caráter e afirmando a insanidade deacadêmicos da universidade.

E ainda, em seu artigo “Acolhida cidadã versus trote na FURG”, disponívelno site da Universidade, desrespeita alunos, suas famílias e a comunidaderiograndina como um todo.

Salientamos, por fim, que em nenhum momento de nosso artigo nos referimosaos trotes, e estes, em momento algum, foram fator motivacional para nossamanifestação.

Os fatos discorridos acima não explicam integralmente os acontecimentosuma vez que a comunidade acadêmica não tem acesso às gravações dos eventos,portanto não temos como citar literalmente as palavras do reitor. Esperamos queeste esclarecimento sirva como incentivo para que a comunidade acadêmica motive-se, questione e procure melhores explanações acerca dos assuntos. Informamostambém que estamos abertos para discussão ou criticas sobre qualquer ponto ouposicionamento exposto pelos diretórios através dos e-mails:[email protected], [email protected], [email protected]

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Entrevista

Por Arnildo Dutra de Miranda Jr.

Nessa segunda edição do Glasgow,trazemos uma entrevista com EymardVasconcelos, uma das maiores referências doBrasil na área de educação em saúde e na áreade formação de profissionais de saúde.Médico, formado pela UFMG, especialista emclínica médica e saúde pública, mestre emEducação, doutor em Medicina Tropical e pós-doutor em Saúde Pública, vive hoje em JoãoPessoa, onde atua como professor dafaculdade de medicina da UFPB. Com várioslivros publicados, Eymard sempre sepreocupou com a relação medico-paciente ecom a relação professor-aluno. Um professorque sempre se dedicou, através de projetosde extensão, para uma formação mais amplae diferenciada para os estudantes demedicina.

Eymard, durante sua trajetória comoprofissional de saúde e professor sempreexistiu uma tônica que é a extensão, poderianos contar um pouco mais sobre essa áreade atuação que existe na faculdade?

A universidade tem três grandes áreasde atuação: ensino, pesquisa e extensão. Asque possuem maior prestígio é o ensino, ouseja, os cursos em si e a pesquisa, que é aprincipal forma de um professor adquirirvisibilidade no mundo científico, pois nessaárea há muita premiação e os congressosacabam sendo uma forma de propaganda,enfim, o professor vira o “fodão”, tudo pelapesquisa.

A extensão por outro lado, agentebrinca, é o irmão pobre, o desprezado dauniversidade. Nela os alunos e professoresse engajam em uma prestação de serviço àcomunidade. É um espaço muito flexívelporque não segue normas tão rígidas, o quea torna o lugar da invenção na vidauniversitária.

Na UFPB, descobri minha motivaçãopara ser professor, que foi a extensão, porque,enquanto era professor de “sala de aula”, osalunos cursavam a minha matéria somentepor obrigação. Até existiam alguns alunosmotivados, mas eram poucos. Já na extensãovai o estudante que quer, melhor vai o queestá disposto a pagar o mico, pois, porexemplo, em nosso projeto de extensão, oaluno tem de ir todo sábado, enquanto amaioria dos alunos estão cansados, querendoestudar, e, maioria das vezes, tem de pagaraté o ônibus pra ir para a comunidade. Entãose seleciona um time de pessoas que estãomuito emprenhados com a ideia e,principalmente, que querem sair de

faculdade feijão com arroz que mais pareceum “coleginho”.

Bom, continuando um pouco mais nasdefinições, existem muito tipos de extensão.Aqui temos usado o tipo mais orientado pelaeducação popular. Hoje olhando para minhatrajetória como educador percebo que játinha trabalhado muito no mundo popularfazendo trabalhos educativos e fico fascinadocom o poder de transformação que nósprofissionais da saúde temos e, ao longo dotempo, descobri que essa filosofia de conduzira educação também é muito vantajosa para arelação professor-aluno e hoje sinto orgulhode dizer que sou professor mais pelasexperiências que vivi devido à extensãopopular que pelas salas de aulas por quepassei.

A extensão pode ser também umaforma de permitir o aluno conhecer o mundoda maioria da população, que para muitos ésó um espaço para caridade, marcado pelacarência e pelo medo, mas quando os alunoschegam lá vêem que é um mundo totalmentediferente e fascinante. Ele se torna tãoatrativo, como diz uma expressão do PauloFreire, existe um busca por ser mais, e, ao tercontato com tudo isso nota-se que acriatividade é a verdadeira marca dessapopulação muito diversa. “Você imagina queé um lugar onde só tem dificuldade e carência,mas quando se chega lá, encontra tantavitalidade e afetividade que se surpreende”.

O Senhor comentou sobre a chamadaExtensão Popular, poderia definir um poucomelhor?

O mais usual dentro da universidadeé o pensamento de que temos oconhecimento e vamos, através de umprojeto, levar esse conhecimento a umapopulação carente e ignorante, isso, na óticade Paulo Freire, é a chamada educaçãobancária, em que vamos lá “depositar”nossos conhecimentos, e é esse que vaitorná-los cidadãos dignos e saudáveis.

Esse tipo de pensamento é o maiscomum e reflete um pouco do pensamentodominante dentro da universidade de quesomos a aristocracia pensante desse país. Jána ótica da educação popular procura-se ouvire, diante de um problema, não dar umaresposta pronta, mas faz-se uma roda ediscute, isso aprendi quando era estudante,há 36 anos. Quando se passa a ouvir e aprocurar soluções coletivas, se descobre queo problema é muito mais complicado do queaparenta e que as pessoas já sabem muitacoisa que não se imaginava. Esse é o grandeensinamento da educação popular: todas aspessoas têm uma busca de ser mais e nelageraram conhecimento e criaram estratégias,que nós, que vivemos em uma faixa restritada sociedade, não conhecemos. Então seestamos dispostos para ajudar, antes de tudo,temos que começar nosso dialogo a partir doque já existe. Gosto muito de uma imagemda educação popular baseada na mochila.Temos uma mochila de conhecimento que émuito valorizada pela população, só que nãosabemos quais conhecimentos lhes são úteis,portanto é necessário chegar lá e conversar- “que vocês estão precisando?”. E “puxa” umconhecimento da mochila. - “Será que issoserve?”. - “Ah, doutor, mas isso não tem nadahaver conosco”. E assim, ir construindo umconhecimento se se encaixa a realidade deles.

Uma boa definição para educaçãopopular é a construção compartilhada doconhecimento. Quando se faz assim aeducação ganha muito mais força e nossoeducando , quando ele se sente participando,não fica só um “aprendedor”, pois isso

incentiva o protagonismo, a iniciativa eorganização próprias.

Outra questão que surge por parte dos alunosque estão iniciando o curso quando falamosde atuação em comunidades é o queestudantes sem nenhuma formação farãonesses locais, pois não possuemconhecimentos?

Essa dúvida realmente acontecemuito, principalmente quando o alunocomeça em um projeto de extensão. Eu tenhoesse projeto de extensão na comunidadeMaria de Nazaré em João Pessoa, Paraíba faz13 anos, se vamos na perspectiva de primeiroouvir e depois aprender para ajudar, você vaifacilmente descobrir como se pode ajudar e,o que se pode fazer, não é algo que se possaser planejado antecipadamente, só sedescobre no processo. É engraçado porquetodos os estudantes quando começam estãoinseguros, mas depois de uns seis meses todosjá estão fascinados com tudo que podem fazerpara ajudar aquela população. Talvez emalgumas faculdades não se descubra comose pode ajudar porque os estudantes vãopara as comunidades cumprir tarefas, nãopara ouvir. Além disso, eles acabam ficandomuito tempo no posto de saúde, que é umlugar muito ruim de conviver com apopulação, ela não se comporta comorealmente é, pois fica constrangida. Porexemplo, que eu fosse chamado pra falarsobre o planalto em um jantar lá, com certezaficaria constrangido e não iria falar o querealmente penso, mas, sim, o que elesquisessem. Por outro lado se você vai para ascasas e cria um vínculo, os véus vão caindo, evocê vai descobrindo que pode ajudar mais,não por um conhecimento técnico articulado,mas pela presença, pela escuta e pelo apoioafetivo. Com isso se descobre que nos somosprofissionais da saúde não só peloconhecimento técnico, mas pelos humanosque somos, e esse são capazes de muitastransformações na vida das pessoas. Quandoagente se coloca como ser humano, essaeducação fica muito mais forte do quequando, por exemplo, me coloco comoespecialista em educação em saúde.

Retomando um pouco a questão dainserção, no inicio do projeto, queríamoscolocar estudantes só mais do final do curso,porque eram os que tinham maisconhecimento, porque já tinhas variastécnicas, entre outras características, contudoapareceram uns estudantes do inicio do cursoquerendo participar. Ficamos muito na dúvidase eles teriam condições de participar, masacabamos permitindo que eles entrassem noprojeto. Ao longo daquele ano, começamos aperceber que o estudante do inicio do cursocontribua mais que os do final, isso nosintrigou muito, e fomos tentar entender oporquê. O estudante do final do curso ele jáesta com o olhar formatado, ele só olha paraaquilo que está treinado para agir, ele nãoolha para o todo. Já o do início, o olhar nãofoi formatado pela tradição médica, então elese assombra com tudo, se envolve, pois aindanão tem a separação do que é médico e oque não é, e, por isso, acaba tendo umpotencial de transformação muito maior queos do final do curso. A gente percebe muitobem que existe uma pedagogia invisível queformata o olhar do estudante e o empobrece.Houve uma professora da UNICAMP quenotou muito isso, pois ela era professora noinicio e no final do curso. Um dia houve umacidente muito grave com o rapaz que tomavaconta do estacionamento, e isso mobilizou osestudantes. Os do final do curso só queriam

saber qual o diagnostico, qual a lesão, queconduta médica foi adotada, já os do inicioqueriam saber como estava a família, comoele estava e o que podiam fazer para ajuda. Éessa a diferença do olhar, muitas vezes asolução do problema em saúde passa do agirtradicional em saúde, é quando seenvolvemos nessas outras dimensões é quese pode transformar mais profundamente.

O senhor comentou varias vezes o choqueque há de uma medicina focada na doençapontual e de uma medicina que procuratratar o paciente como um todo. Poderia falarum pouco mais desse assunto?

Acho que hoje vivemos um momentomuito rico da medicina, um momento deresgatar algo que é milenar na históriamédica, esse olhar focado no corpo, de nósmédico sermos mecânicos de gente é muitorestrito na história. Essa visão praticamentese consolida a menos 150 anos, porque noresto da história da humanidade nos tínhamosuma tradição de olhar para o ser inteiro. Hojehá estudos que resgatam terapeutas daAlexandria, no Egito, mais ou menoscontemporâneos a Jesus, que tem escritos deabordagem dos problemas de saúde queabordavam essa dimensão do todo, estamosaprendendo muito com esses escritos doschamados terapeutas do deserto. De 100anos para hoje isso foi deixado de lado,porque ficamos muito fascinados com apotência tecnológica da medicina, mas hojeestamos experimentando o limite dessapotência, pois o grosso das patologias sãocrônico-degenerativas que não tem cura. Elasprecisam antes de tudo uma reorientação domodo de viver, só que o médico que só pensana tecnologia não consegue mobilizar essamudança no modo de viver dos pacientes, dasfamílias, ou seja, o próprio movimento damedicina está exigindo uma mudança dessapostura. Hoje, em pleno século XXI, há muitosintelectuais, não só do Brasil; mas do mundotodo, dizendo para se ter um olhar maisamplo. Um exemplo é os EUA que estáquerendo criar um sistema de saúde parecidocom o do Brasil, da Inglaterra e outros paísesque investem em políticas de prevenção. Ogrande avanço da medicina hoje não é sótecnológico, mas também de modos deorganização e de abordagem, então isso nãoé uma coisa do SUS, mas sim um movimentomundial. E acho que aqui no Brasil, com aeducação popular, com esse jeito maisintegrado que sabe trabalhar com osmovimentos sociais e valorizar a iniciativa dapopulação, talvez nos estejamosdesenvolvendo trabalhos melhores que locaisque já tinham tradição mais antiga de atençãoprimária em saúde, como os da Inglaterra.Tenho convivido com muitos sanitaristas deoutros países e eles ficam fascinados com asexperiências brasileiras. É algo que hoje oBrasil tem um grande reconhecimentointernacional. É na verdade essa abordagemde não transformar com o chicote, em quese toca os bois para onde é considerado certo,mas uma educação que nos tornamoscumplice do movimento, pois essa populaçãonão é uma boiada, ela já tem um caminhar,tem valores e sentidos, quando noscolocamos a disposição desses sentidosnosso trabalho ganha muita potencia.

*Nota do editor: Devido à limitação de espaço,a entrevista na integra estará à disposição noBlog do DAFB: http://www.dafbfurg.blogspot.com/.

Eymard Vasconcelos: “Os véusvão caindo” – A educaçãopopular em saúde

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14Glasgow 15 - MAIO DE 2011 dafbfurg.blogspot.com

ColunasE o paciente? Estamos deixando o ator principal com um papelde coadjuvante.

A sensação de dever cumprido, de uma vida salva eapta a atuar de maneira independente e digna na sociedade éuma emoção impagável em dinheiro. Após uma tentativa desuicídio, uma senhora de meia idade, com uma depressãosevera que a impedia de realizar suas atividade de vida diária,inclusive de manter sua profissão e os auto cuidados comhigiene e beleza, internou no hospital. Durante suapermanência tentou novo ato de auto- exterminação comcacos de vidro. Após 15 dias de internação e de uso demedicação e terapêutica adequada, a paciente encontrava-selúcida, orientada, coerente e com vontade de viver, com brilhono olhar, e agradecida pela ajuda recebida. Recebeu alta cheiade planos e esperanças para sua vida e me deu um abraçocheio de emoção e com lágrimas nos olhos, mas não eram aslágrimas de desespero e desesperança de outrora, eramlágrimas de agradecimento. Com certeza essa foi uma vidasalva!

Essa questão da proximidade com o paciente tambémé uma postura a qual me readeqüei ao longo da minhaformação. No princípio tinha a convicção que o melhor pramim e pro meu paciente era o distanciamento, uma relaçãosomente de troca de serviços (e alguns mestres incentivamessa postura durante a graduação). Fui percebendo ao longoda caminhada que o paciente quer e necessita de alguémque seja um verdadeiro “cuidador”, ele precisa de um apertode mão dado com entusiasmo, cheio de energia, necessita deum olhar compreensível sobre suas fraquezas , suascomorbidades físicas e mentais , clama por um sorriso decumplicidade. Ele anseia por sentir que o seu médico, naquelemomento, está integralmente ali com ele.

E quando os pacientes lhe tomam pela mão, comsuas mãos rugosas e com as marcas de toda a sua existência edizem: muito obrigada! Quando você fez o que podia e fezcom competência e real interesse pelo seu paciente, você temo direito de receber esse “muito obrigado” e isso lhe paga odia, faz o seu dia ter valido a pena, faz a existência valer apena. O sorriso, aperto de mão, paciente compensado eestável são presentes que a vida nos dá diariamente tantocomo médicos já formados quanto como médicos ainda emformação. Que profissão grandiosa e gratificante é essa talde medicina!

Outra questão que tem feito parte das minhasinquietações é o exemplo. Somos médicos de uma nova época,de uma era em que o governo estabeleceu uma PolíticaNacional de Promoção da Saúde (PNPS), que dentre seustópicos específicos enfatiza a alimentação saudável, a práticade atividade física, prevenção e controle do tabagismo, álcoole outras drogas. É alarmante quando é feita uma revisão deliteratura e são confirmados os altos índices de estudantes eprofissionais da saúde envolvidos com as mais variadastipologias de drogas e, principalmente, no que tange ao usoe abuso de álcool. As nossas justificativas (muitas vezes justase que por isso mereceriam a atenção dos dirigentes dasinstituições de ensino e de saúde) para o sedentarismo, a máalimentação, os excessos de álcool não convencem o usuárioque procura ajuda. Na mente do nosso paciente fica a seguintequestão: -”Se meu médico fuma, bebe e é sedentário por queeu devo mudar de hábitos?”. Somos pessoas com o poder depromover transformações e devemos nos enxergar dessamaneira e usar nosso exemplo também para promover saúde(sou testemunha do quanto é difícil praticar o que falamos paraos nossos pacientes!). Precisamos mudar o enfoque ao realizarum atendimento médico, deveríamos deixar de somente olharpara o usuário dos nossos serviços e passar a realmenteenxergar a pessoa que esta procurando ajuda e que depositaem nós toda a sua confiança. Meu desejo é que sejamosmerecedores dessa confiança depositada!

Não poderia deixar de colocar nesse espaço o crueldistanciamento da academia com a vida real. Durante afaculdade aprendemos e somos cobrados sobre váriasverdades científicas, como por exemplo, o de iniciar aantibioticoterapia numa infecção urinária após a urocultura,aprendemos também que é mandatório e necessário realizaro raio X de tórax em duas incidências para visualizarmos nasua totalidade os pulmões. Muito bonito, eficiente e corretona teoria. Mas por que nos nossos pronto atendimentos nãotemos a disposição o raio X de perfil? Por que não podemossolicitar urocultura? Por que tantos outros métodos queseriam úteis para uma boa conduta não estão a nossadisposição? Talvez a resposta esteja na administração. Perceboque temos poucos médicos interessados em gestão e aquelesque acabam gerenciando e administrando a saúde não tem

formação médica e tem dificuldade em perceber a necessidadede alguns procedimentos. Acredito que a mudança deve partirda nossa formação, devemos ser instigados a manter um maiorinteresse, inclusive durante a graduação, sobre essas questõese atuar de maneira eficiente e efetiva para corrigir essasatrocidades do sistema hoje vigente.

Por fim, faço uso desse espaço para agradecer ä FURG(instituição pública, sem a qual não teria como realizar o sonhode ser médica), agradecer as pessoas maravilhosas quecruzaram o meu caminho e que acreditaram nas minhaspotencialidades e outras que me deram, literalmente, a casae comida quando cheguei ä Rio Grande, agradeço aosensinamentos, às decepções e derrotas (nossos melhoresmestres pra ensinar a arte de viver), agradeço pelaoportunidade que eu busquei e que consegui alcançar,agradeço por conseguir ser dona do meu destino e não teraceitado a verdade até então existente de que uma filha deagricultores sem instrução, pobre e sem “educação de rico”não conseguiria ser médica no nosso país. Quero deixarexpresso que não consegui essa vitória sozinha, muitas pessoasme auxiliaram financeiramente e emocionalmente e essasestarão sempre nas minhas orações e no meu coração! E ficaa mensagem de que nada é impossível se realmenteacreditarmos que somos capazes de realizar e o desejo de quecada leitor dessa página tenha sonhos, e sonhos que façam aexistência valer a pena!

Mayara Floss

Às vezes amecanicidade do sistema nosimpede de ver além doexposto. Por exemplo, nasecção transversal medulaespinhal é possível ver umaborboleta da espéciePapilionidae, sendo visível atéas raízes dorsais saindo dasasas da borboleta.

Frequentemente esquecemos-nos das cortinas que seabrem diante dos nossos olhos. Aprendemos os cornos dorsais,ventrais, sulcos, funículos, fascículos. Porém, não vemos asborboletas. Não vemos o paciente sim os sintomas, sinais, o quãointeressante ou banal é o que se desdobra na frente dos nossosolhos. Esquecemos-nos das borboletas.

Afinal, as borboletas são insignificantes frente ao mundode conhecimento que se desdobra diariamente na faculdade. Asprovas, os livros, a cobrança e a responsabilidade – elas servemapenas para caracterizar a medula espinhal e não mais do queisso, não importa se passam na nossa frente ou então preferimospegá-las e alfinetá-las para a exposição de todo o nossoconhecimento.

Os feixes nervosos são mais importantes que as asas eaprendemos a prender nossos pés no chão. Passamos acolecionadores não só de borboletas, mas de diagnósticos, olharesmicroscópicos, macroscópicos, análises, listas de sintomas. E nãosentimos as asas batendo ao nosso redor, ignoramo-las, é maisfácil não ver as borboletas. Não sentir os olhos delas, a buscadelas pelos nossos olhos – apenas classificamos.

Já temos que fazer tanto, não? Para que ainda perdernosso tempo olhando ao redor e seguindo as asas, isso éinsignificante para o andar da vida. E meus olhos vão se tornandopequenos para ver além da metodologia-aplicação. Porém, àsvezes, a borboleta negra turva nossa visão com suas asas eparamos para sentir a vida que pulsa em nós, ao nosso redor eque perdemos o voo daquelas asas - embora a lógica prefira nãose envolver, não sentir, não pensar muito nessas “coisas” , é maisfácil.

Facilidade por facilidade, vamos nos tornando apenasjalecos brancos – símbolos de assepsia, limpeza e “superioridade”.Cortamos lentamente nossas asas, deixamos de voar e voltamosa ser apenas lagartas listradas famintas por análises eassustadoras. Impomos medo e despertamos o casulo dos nossospacientes, para proteger-se da nossa fome.

Embora, tudo pareça muito assustador sempre podemosnos metamorfosear e deixar as asas baterem para que possamplainar suavemente sob a vida. Os ambientes de recuperação ecura estão repletos de lagartas de jaleco branco e acabamconvivendo com casulos, retraídos. Depende do profissional-borboleta saber pegar esses casulos e promover a melhora emborboletas que alçaram o voo ou apenas reforçar as paredes docasulo. Precisamos das borboletas, quem sabe podemos começarvendo-as na anatomia e depois todos terão tempo para (re)abriras próprias asas.

Reflexões sobre a bela graduaçãona arte de curar

Inês Gullich

Procurem ler o escrito a seguir com pouco rigortécnico e também não estranhem a estrutura textual. Não éum texto típico que aprendemos a construir nos cursinhos depré- vestibular, que nos fez conseguir a aprovação no tãoconcorrido e sofrido vestibular, com sua estrutura rígida einflexível calcada na introdução, desenvolvimento e conclusão.Esse texto é de certa maneira uma analogia sobre nossaformação como profissionais da saúde. O que quero repassarpara os leitores é a nítida certeza que tenho de que devemos,se necessário for, retomar as matérias dos anos inicias daformação (introdução), devemos ainda, se preciso for,reestudar e reaprender (aprender?) o pensar semiológico eclínico (desenvolvimento) para formular nossas hipóteses econdutas médicas (conclusão). Mas a ordem dos tópicos dessaanalogia na prática médica, diferentemente da produçãotextual para um concurso, podem sofrer varias alterações,pois a medicina não é uma profissão lógica. E é exatamentena falta de lógica que se perpassa seu encanto, sua magia,suas angústias, suas dificuldades. Aliás, um mix de sensaçõesinsistem em fazer parte do dia a dia de um acadêmico demedicina prestes a se formar. Uma miscigenação de angústiacom euforia, do desejo de que “tudo isso termine logo” e aomesmo tempo que esse tempo restante se alongue o máximopossível para sanear nossas dúvidas, nosso despreparo ( realou imaginário), enfim, um doutorando do sexto ano é um serdúbio, dividido e ,( por que não admitir?), um ser com medo (ou no mínimo com aquele friozinho na barriga de vez emquando) diante da grande janela de liberdade e autonomiaque fulgura no horizonte próximo. Na literatura esse estudanteseria alocado na época do barroco , ou seja, há umaconstante oscilação entre dois opostos. Também nãoquero passar a idéia de estar distribuindo conselhos, querosimplesmente compartilhar algumas reflexões , algunssentimentos, algumas angústias, anseios... Enfim, compartilharum texto verdadeiramente humano e, como tal, com seuserros, suas controvérsias, suas aceitações e rejeições.

A sensação de “será que vou conseguir?” que seapoderou de mim quando foi solicitado que escrevesse paraessa seção do jornal acadêmico ,após um texto esplêndido daTainá na edição anterior, esse mesmo sentimento, comdiferentes intensidades, aflora insistentemente na minhamente nos últimos tempos. Será? Será que estou preparada?Será que deveria ter estudado mais? Será que saberei comoagir? São tantos os questionamentos... e tão poucas as (quase)certezas! Mas agora o tempo é outro. Agora é tempo de erguera cabeça, deixar o que deveria ter sido feito pelo que aindaposso fazer nesse precioso e curto tempo restante. Exatamentenove meses. O tempo da gestação é o tempo que me separado grande dia... o dia do nascimento de uma médica! E assimcomo uma criança, após esse nascimento simbólico, terei umavida pela frente para aprender, cair algumas vezes, me erguer,me encontrar, reencontrar e desencontrar pelos caminhostrilhados.

Tenho aprendido muito e de maneira intensaultimamente. Os meus principais mestres tem sido os própriospacientes. Vou compartilhar duas histórias de pacientes queforam marcantes pra mim, após farei algumas observações darealidade que enfrentamos no setor da saúde e como osucateamento dos hospitais influi no nosso “estilo barroco deser”.

Teve um senhor, internado na ala particular (não eraSUS!), que relatou uma sensação que tivera ao ser submetidoa uma cirurgia. Confessara-me que se sentiu muito sozinho,assustado, amedrontado, pois nem durante e nem o pós-cirurgia a equipe conversara com ele. Não perguntaram seestava com frio, calor, fome... NADA! -”Fiquei totalmentesozinho por horas numa sala de recuperação, sem nem saberse a cirurgia tinha dado certo ou não.” Ele referiu que se sentiuum ser invisível, todos falavam dele, mas ninguém falava comele. Referiu que os bichos que ele trata (é dono de um petshop) recebem tratamento mais digno, mais de “gente” doque ele havia recebido. Gelei ao ouvir seu relato. Quantasvezes eu, como doutoranda, entrei em cirurgia sem sequerperguntar o nome do paciente que estava ali na minha frente?Queria somente aprender a técnica, um pouco a mais deanatomia, fazer a sutura ao final para treinar essa habilidade...

Anatomia e borboletas

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15Glasgow 15 - MAIO DE 2011 dafbfurg.blogspot.com

Esportes

INTERMED SUL 2011Foi realizada em Balneário Camboriú,

no dia 12 de março, a reunião Pós Intermed.Lá foram debatidos os prós e contras doIntermed Sul 2010 e, ainda, foi escolhida asede dos jogos em 2011. De acordo comrodízio previsto no estatuto, o Rio Grande doSul teria a preferência para sediar o evento;entranto, nenhuma atlética apresentouprojeto, tanto em nosso estado quanto emSanta Catarina e Paraná. Em decorrência destefato, coube à Coordenação fazer um projeto;assim sendo, foi-nos apresentado Cascavel-PRcomo candidata única. Infelizmente, o únicoferiado viável para a realização dos jogos foio de Corpus Chisti (23 de junho) uma vez queo de Proclamação da República (15 denovembro) sucede o aniversário da cidade,impossibilitando, assim, o uso do centro deeventos, local onde serão os alojamentos.

Além disso, houve a criação do cargode Diretor Desportivo e a votação para osnovos coordenadores do Intermed Sul, queassim foram eleitos:

Coordenador Geral: Vinicius Pena Coutinho(Ulbra)Coordenador Rio Grande do Sul – Eline DiasPereira (UCS)Coordenador Santa Catarina – Mickael (UnisulPB)Coordenador Paraná – Bruno (Fepar)Coordenador Última sede – Madeira (Unesc)

Queremos lembrar que no ano passadolevamos a maior delegação da história daFURG, com quase 130 alunos e ficamos na 7ºposição do Quadro Geral. Vamos nosmobilizar para que este ano possamos, pelomenos, repetir o feito do ano passado. Vamosvamos FURG!!!

REUNIÃO PÓS-INTERMED! 12/03/2011

Aulas de percussão GRÁTIS!Aulas de percussão GRÁTIS!Aulas de percussão GRÁTIS!Aulas de percussão GRÁTIS!Aulas de percussão GRÁTIS!Hey voce que vai ou pensa em ir ao XVI-INTERMED SUL.

ULTIMAS VAGAS PARA ENSAIO DA BATERIA SEGUNDA!!QUER PARTICIPAR?? Envie um email para [email protected] comNOME e ATM para se inscrever!

NAO SABE TOCAR NEM CAMPAINHA?? NAO TEM PROBLEMA!!!TODOS ESTAO CONVIDADOS mesmoos que nao foram selecionadospara pelo menos assistir oensaio!!

Lembramos que o ensaio é GRATUITO!!!

APROVEITEMA OPORTUNIDADE

Thiago C. Moreira

Page 16: Glasgow 15 - 1° semestre 2011

16Glasgow 15 - MAIO DE 2011 dafbfurg.blogspot.com

O que o DA fez conosco...

Bruna Porto, integrante dagestão Viração

“Você nunca sabe queresultados virão da sua ação. Masse você não fizer nada, nãoexistirão resultados.”(Mahatma Gandhi)

Já faz algum tempo aMayara (nossa redatora) veio nosprocurar para pedir um texto parao glasgow sobre “o que o DA temfeito”. Desde então sentamosalgumas vezes para escrevernossas façanhas...resultado: nãodeu certo. Parávamos sempre emuma lista eficiente masdesprovida do sentimento quepermeou nossa gestão: a vontadede fazer algo diferente. Então,peço desculpas à Mayara e aosnossos leitores, mas hoje falareium pouco não sobre o que o Datem feito, mas sim o que o DA fezconosco, ou seja, o que pensamose sentimos ao longo dessa gestão. Caímos “de paraquedas” nagestão do diretório: nenhum denós tinha sequer participado deuma reunião antes e, como umapeça do destino (e do Pedro), cáestávamos nós, sentados nodiretório sem saber bem poronde começar. Entre algumasbrigas e surtos - principalmentemeus - descobrimos que algo nosunia: a vontade de, mesmo semsaber ao certo como, fazer algodiferente. Não sei ao certo o quepassou na cabeça de meuscompanheiros de gestão quandoaceitaram fazer parte dessedesafio que foi assumir o DA, mascertamente deve ter sido algoparecido com o que passou naminha: a frase de Gandhi citadano início das minhas palavras.Não sabíamos os resultados masem nossos corações tínhamos acerteza de que era necessárioariscar. De lá pra cá muita coisaaconteceu, aprendemos comnossos erros, batemos emdiversas portas. Dentre as quaiscito o sonho de termos maiscorpos para nossa anatomia(SIM!! É possível e o projeto jáestá avançando), a vontade de teruma SAMED responsável e aomesmo tempo produtiva, apossibilidade de serem realizadasnecropsias no hospital e a voltada produção do jornal dodiretório. Mas todos essesprojetos, alguns járealizados,outros a serem feitos,não foram nada comparado àtroca de idéias que essesmomentos nos proporcionaram. O resultado da nossareflexão veio rápido: cada vezmais temos observado que o dito“alienamento” dos estudantes demedicina dessa faculdade fazparte de um capítulo do passadoda nossa história.E falando emhistória, gostaríamos deagradecer A TODO APOIO quenos foi dado por vocês, carosleitores; afinal, vocês nosajudaram - e ajudam-na construira história diretório.Esperamoscada vez mais fazermos do DA umespaço aberto para críticas ereflexões, onde todo estudante,como dito por nossa palestranteda SAMED, Dra.Cláudia, tenha acerteza de que “O futuropertence àqueles que acreditamna beleza de seus sonhos”.

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