Gleb Wataghin Um físico que fez história - ifi.unicamp.br · Organizou um grupo de Física...

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Gleb Wataghin Um físico que fez história 1

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Gleb Wataghin

Um físico que fez história 1

GLEB WATAGHIN

O patrono do nosso instituto

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Breve biografia:

Nasceu em 1899 na Ucrânia, em Birsula (hoje Kotovsk).

De família nobre, pai engenheiro cuidava das ferrovias imperiais no sul do país.

Fugiu após a Revolução Russa em 1919, saindo pela Criméia e chegando à Itália, passando pela Grécia e Turquia.

Durante os estudos na Itália, para ganhar o seu sustento, era pianista em cinemas.

Em Turim, Itália, formou-se em Física e depois em Matemática. Tornou-se cidadão italiano em 1929.

A fuga da Ucrânia....

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Breve biografia:

Uma vez formado, passou a dar aulas na Academia Real e na Escola de Aplicação, Artilharia e Inteligência, entre 1925 e 1933 e, posteriormente, na Universidade de Turim (1933-1934).

Muito bem relacionado com os físicos famosos dos primeiros anos do século XX: amigo pessoal de Dirac, Pauli, Heisenberg, Schrödinger, entre outros da época dos primórdios da Mecânica Quântica.

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Uma das poucas fotos quando jovem...

Wataghin na época em que veio ao Brasil..

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Mas como é que ele veio ao Brasil?

Em 1934, o professor Teodoro Ramos recebeu do então governador Armando de Salles Oliveira a incumbência de convidar eminentes professores na Europa para vir participar da implantação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da USP.

Da Alemanha, vieram biólogos, botânicos, zoólogos. Da França, vieram os humanistas. Da Itália, vieram matemáticos e físicos.

Teodoro Augusto Ramos

Matemático e político

O convite....

Wataghin foi indicado por Fermi, e apesar

de amigos tentarem dissuadi-lo, aceitou o

convite e o desafio: veio juntar-se a outros

ilustres convidados, Claude Lévi-Strauss

(filósofo), Luigi Fantappiè (matemático),

Giacomo Albanese (matemático),

Giuseppe Occhialini (físico), Hans

Stammreich (físico), entre outros.

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Uma vez em São Paulo,

Iniciou aulas de Física para engenheiros e físicos: muitos “engenheiros” trocaram a Engenharia pela Física!

Apresentou a Física Moderna a seus alunos (sua segunda missão de evangelização, como Fermi chamava a tarefa de introduzir a Mecânica Quântica em ambiente novo - a primeira tinha sido em Turim).

Organizou um grupo de Física Experimental contando com a colaboração de jovens estudantes, como Marcello Damy e Paulus Aulus Pompéia para estudar interações induzidas por partículas cósmicas.

A instrumentação eletrônica desenvolvida por seu grupo era competitiva em nível mundial.

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Na USP, foi professor de futuros físicos famosos:

César Lattes, Marcello Damy, Oscar Sala, Mário

Schenberg, Paulus Aulus Pompéia, Jayme Tiomno,

Roberto Salmeron, Yolande Monteux, Jorge Swieca,

além de muitos outros (não em ordem cronológica).

Em poucos anos, o grupo publicava trabalhos

completados na USP nas melhores revistas de

Física!

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Iniciou um grupo experimental..

Mesmo sendo ele próprio um físico teórico,

criou na USP um grupo experimental

dedicado à pesquisa de raios cósmicos.

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O primeiro trabalho experimental na

Physical Review:

Junto com os seus alunos-assistentes Marcello Damy e Paulus Pompéia, publicou o primeiro trabalho brasileiro em física experimental na conceituada revista Physical Review.

Mediu chuveiros penetrantes iniciados pelos raios cósmicos na atmosfera, e detectados na mina de Morro Velho em MG, debaixo do viaduto da Avenida 9 de Julho, então em construção em São Paulo, em altura de montanha, em Campos do Jordão, e em voos de avião.

Eles observaram a produção simultânea de partículas penetrantes, produtos das interações de raios cósmicos, que Wataghin já havia previsto teoricamente.

O jovem assistente Damy, em 1939, no

experimento na mina de Morro Velho

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Wataghin também fez experimentos de

raios cósmicos durante voos em aviões...

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Guidolino Bentivoglio e Gleb Wataghin em 1940, em um avião da

FAB para fazer medidas de raios cósmicos a grandes altitudes.

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Mas afinal,...

O que são raios cósmicos???

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A comprovação definitiva:

Victor F. Hess, em 1912 ...

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A observação de Hess:

Voos em balões, com eletroscópios sensíveis, cuja pressão interna do ar era constante (independente da altitude).

No início da subida, até 1000 m, a ionização diminuía.

Acima, a ionização aumentava, e próximo aos 5300 m era o dobro da na superfície .

Vôos de dia/noite : nenhuma diferença.

Vôo durante eclipse solar: nenhuma diferença.

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A explicação de Hess:

Hess interpreta as suas observações

como evidência de que a Terra está sendo

continuamente bombardeada por radiação

que pode causar ionização.

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Prêmio Nobel de Física em 1936

Victor Hess

recebe o Prêmio

Nobel de Física

pela descoberta

dos raios

cósmicos.

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Chuveiros atmosféricos

1938 – Pierre Auger e

também Kohlhörster

medem coincidências

em detectores Geiger-

Müller separados no

chão a grandes

distâncias (centenas

de metros)

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Raios Cósmicos

Primários e Secundários

Partículas incidentes sobre a Terra no alto da atmosfera: PRIMÁRIOS.

Ao encontrarem os núcleos de átomos e moléculas na atmosfera INTERAÇÕES !!!

Novas partículas são produzidas, formando ‘CHUVEIROS ATMOSFÉRICOS’.

Estas novas partículas produzidas constituem os raios cósmicos SECUNDÁRIOS.

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Chuveiros atmosféricos…

Foram esses chuveiros de partículas que

Wataghin e seus assistentes estudaram entre

1937 e 1949.

Após a partida de Wataghin de volta à Itália,

seus alunos continuaram a se dedicar ao

estudo de raios cósmicos, que se tornou uma

área tradicional de pesquisa no Brasil.

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Seus bons relacionamentos permitiram...

Convidar importantes personalidades da Física, como Arthur Compton, Giuseppe Occhialini, Hideki Yukawa, David Bohm, entre outros, para visitar o Brasil.

Mandar seus alunos para trabalhar no exterior. Foi assim que enviou Lattes para Bristol, com uma bolsa da Academia Brasileira de Ciências, e Schenberg para Roma, Washington e Princeton.

A repercussão de seus trabalhos em Mecânica Quântica, Relatividade, Eletrodinâmica Quântica, Raios Cósmicos e Cosmologia garantiam para os alunos bolsas das Fundações Rockefeller, Guggenheim, British Council.

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Só como exemplo:

Marcello Damy foi mandado a Cambridge para trabalhar com William Bragg,

Paulus Aulus Pompeia foi mandado para Chicago onde trabalhou com Arthur Compton,

Mario Schenberg foi a Roma e trabalhou com Enrico Fermi, e mais tarde trabalhou com George Gamow nos EUA,

Sonia Aschauer foi a Cambridge para trabalhar com Paul Dirac,

Walter Schützer foi trabalhar com Eugene Wigner em Princeton,

Jayme Tiomno foi trabalhar com John Wheeler e Eugene Wigner em Princeton,

Oscar Sala foi mandado a Wisconsin para trabalhar com Raymond George Herb,

Cesar Lattes e Ugo Camerini foram a Bristol para trabalhar com Cecil Powell.

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Arthur Compton em missão no Brasil em 1941

Wataghin, Carlos Chagas e Arthur Compton

ao centro, na primeira fila .

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Compton no Brasil...

Durante 1930-1940, Compton liderou um estudo sobre as variações geográficas da intensidade dos raios cósmicos em extensão mundial e confirmou as observações feitas em 1927 por Jacob Clay, de Amsterdam, da influência da latitude sobre a intensidade.

Ele mostrou que a intensidade estava correlacionada com a latitude geomagnética, e não com a geográfica. Este resultado teve como consequência um intenso estudo da influência do campo magnético terrestre sobre o fluxo de raios cósmicos que chegam à Terra.

Foram feitas missões conjuntas da equipe de Compton com os pesquisadores do grupo brasileiro.

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Em 1949, Wataghin retorna à Itália, onde...

Trabalhou para a instalação de dois aceleradores de partículas.

Foi membro da Academia de Ciências de Turim e da famosa Accademia Nazionale dei Lincei, fundada em 1603. Recebeu vários prêmios na Itália, entre eles o conceituado prêmio Feltrinelli de 1951.

Recebeu vários prêmios e condecorações no Brasil, como a Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, grau de Oficial (1946), Doutor Honoris Causa da USP (1955) e da UNICAMP (1971) e a medalha Carneiro Felippe, em 1974.

Faleceu na Itália, em 1986.

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Suas características pessoais..

Seu entusiasmo contagiante chegou a tirar o sono de muitas pessoas.

Era o maior “vendedor” de Física!

Era extremamente otimista e tinha enorme prazer em compartilhar seu conhecimento com outros.

Era um perfeito gentleman...

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Resumindo,...

Wataghin plantou a semente para o

desenvolvimento da Física Moderna no

Brasil.

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Uma justa homenagem...

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O patrono do nosso instituto:

Instituto de Física Gleb Wataghin, da UNICAMP

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Wataghin descerrando a placa em 1971...

Nesse mesmo dia, em 1971...

39 Wataghin entre o reitor Zeferino Vaz e o então diretor do IFGW, Marcello Damy

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Wataghin, um leitor do Estadão...

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Dando entrevista no instituto...

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Dando aula

no instituto que leva seu nome...

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No IFGW em 1975..

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E se hoje estamos aqui,...

Foi porque outros plantaram a semente para

possibilitar o desenvolvimento da Física no

Brasil.

Certamente, a contribuição de Wataghin foi

da maior relevância.

Muito obrigada pela atenção!

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