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GÊNERO E IMPRENSA PEDAGÓGICA: O ESPAÇO DAS PROFESSORAS
MULHERES NA REVISTA POLIVISÃO1
Maria Augusta Martiarena de Oliveira
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – IFRS
Valesca Brasil Costa
Universidade de Caxias do Sul
Resumo: Durante a década de 1980 foram publicadas, na cidade de Osório, algumas
edições de uma revista denominada “Polivisão”. O referido impresso era organizado por
docentes da Escola Maria Teresa Vilanova Castilho – Escola Polivalente e contava com
a participação dos discentes e de outros membros da comunidade escolar. Este trabalho,
especificamente, tem por objetivo pesquisar sobre a questão do estudo de gênero no
âmbito da Revista Polivisão. Entendemos que, apesar de o número de professoras ser
maior que o número de professores no magistério gaúcho o corpo editorial da revista
conta com um número superior de professores (homens), indicando inicialmente que o
papel protagonista nas decisões e elaboração da revista segue o fluxo do panorama
desenhado pelo magistério na época.
Palavras-chave: gênero; imprensa pedagógica; Revista Polivisão; magistério estadual.
Introdução:
O presente trabalho faz parte de um projeto maior, o qual se dedica ao estudo da
imprensa pedagógica na cidade de Osório, por meio dos documentos presentes no
Arquivo Histórico Antonio Stenzel Filho. Tal pesquisa originou-se a partir dos estudos
dos periódicos presentes no referido arquivo e das investigações que envolvem o acervo
da Escola Maria Teresa Vilanova Castilhos – Polivalente, na cidade de Osório. Durante
1 Este trabalho insere-se em um projeto maior que conta com fomento do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul, por meio do Edital PROPPI Nº 77/2017 –
Fomento Interno 2018/2019. O projeto conta, ainda, com uma discente voluntária e uma bolsista da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul – FAPERGS.
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o processo de pesquisa no arquivo osoriense, encontrou-se três números da Revista
Polivisão, todos publicados no ano de 1986. Verificou-se, então, a possibilidade de
estudar a instituição, não apenas através de seu acervo fotográfico, mas de uma
publicação periódica realizada pela comunidade escolar. Tal possibilidade ampliou as
perspectivas de análise do contexto educacional marcante daquela instituição e da
cidade de Osório. Destaca-se que essa encontra-se situada no Litoral norte gaúcho e
relativamente próxima da capital, Porto Alegre. Historicamente, a cidade constituiu-se a
partir de sua emancipação, no ano de 1857, da cidade de Santo Antônio da Patrulha, um
dos municípios mais antigos da região. Nesse período, a cidade contava com outras
denominações, como Conceição do Arroio e Vila da Serra. O município, na década de
1930, passou a chamar-se Osório, em homenagem ao Marechal Manoel Luís Osório,
patrono da Cavalaria nacional, que ali nasceu.
A Escola Polivalente foi instalada nessa cidade em um contexto político
determinado, uma vez que durante a Ditadura Militar, as políticas educacionais foram
pautadas notadamente nos acordos entre o MEC (Ministério da Educação) e USAID
(United Agency for International Development) – MEC/USAID, os quais tinham como
intuito adequar a educação nacional ao modo de produção capitalista. A Escola Maria
Teresa Vilanova Castilhos foi fundada em 1974. Conforme Souza e Lima (2016, p.78):
As Escolas Polivalentes surgem em meio a essas vertentes pedagógicas, tendo como
principal característica serem as precursoras da implantação do modelo educativo
tecnicista, o qual se baseou nas relações econômicas entre o Brasil e Estados Unidos
[…]. De acordo com Martiarena de Oliveira (2017, p.329): a inversão de recursos na
construção dessa rede de escolas gerou frutos notadamente em sua estrutura física. Em
Osório, a instituição contava com amplas salas de aula convencionais […]. Destaca-se
que, conforme a autora: Além da estrutura física a inclusão de disciplinas técnicas no
currículo (técnicas industriais, técnicas comerciais, técnicas agrícolas e técnicas
domésticas), era considerada um diferencial, (MARTIARENA DE OLIVEIRA, 2017,
p.329). Tal afirmação encontra-se em consonância com o que afirmam Lima e Souza
(2016, p.10): Dentre os objetivos das Escolas Polivalentes estava o de propiciar o ensino
no qual além das disciplinas regulares, abrangeria também as disciplinas de Práticas
Agrícola, Industrial, Comercial e Educação Para o Lar.
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Entretanto, percebeu-se que a atuação dos docentes e as relações com a
comunidade escolar, foram caracterizadas por uma ressignificação das propostas. O que
corrobora para a afirmação de Lima e Souza (2016, p.21):
[…] apesar do contexto político educacional mediante a ênfase no Ensino
Técnico Profissionalizante no período em questão, bem como na intenção das
Escolas Polivalentes no Brasil decorrente do processo de crescimento
industrial e à necessidade de mão-de-obra especializada para o mercado de
trabalho, a Escola Polivalente buscou efetivar, desde sua criação, práticas
norteadoras de uma formação pautada na qualidade do ensino ofertada aos
seus alunos, desenvolvendo um trabalho integrado ao ensino regular e
técnico, considerando as especificidades das áreas do conhecimento.
Quando da produção da Revista Polivisão, a escola encontrava-se já com mais
de dez anos de existência e com uma identidade em consolidação ou já consolidada.
Este trabalho tem por objetivo pesquisar sobre a revista “Polivisão”, mais
especificamente um olhar focado na questão do estudo de gênero, cabe considerar que
quanto ao recorte temporal este trabalho se situará na década de 80, justificando este
período pois corresponde ao ano dos três exemplares que serão pesquisados.
A imprensa pedagógica: campo da História da Educação
A Revista Polivisão, objeto de estudo deste trabalho pode ser caracterizada como
um periódico da imprensa pedagógica, tendo em vista que o mesmo era editado,
produzido e contava com as contribuições da comunidade escolar osoriense,
notadamente oriunda da Escola Polivalente e de outras escolas da rede estadual. Para a
compreensão da perspectiva em que analisamos nossos documentos, faz-se necessário
mencionar que a imprensa pedagógica, de acordo com Grimaldi e Almeida (2013,
p.130): “Os periódicos escolares constituem-se em um importante veículo educativo
para seus leitores e revelam um pouco da história das instituições educativas. Além
disso, traduzem aspectos significativos do cotidiano estudantil e mostram indícios de
saberes e de práticas escolares”. Ressalta-se, ainda, que, conforme Hernández (2015,
p.10): La prensa pedagógica, desde su própria identidad, se convierte em un objeto
historiográfico específico, con un valor añadido, en la medida que se erige en un canal
informativo de los problemas educativos del tiempo histórico en que desempeña su
actividad. Para o autor:
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Por outra parte, la prensa pedagógica representa una forma posible de
aproximación al conocimiento del sistema educativo (en este caso el de
España), diferente a las clásicas formas de conocimiento histórico, porque la
prensa pedagógica incluye el mismo tiempo una lectura transversal del
problema educativo que se aborda, que combina la dimensión normativa, con
la denuncia, con la difusión de nuevas ideas y pautas pedagógicas. De esa
manera la prensa pedagógica se convierte en un capítulo diferenciado de la
historia de los sistemas educativos, de la difusión de las ideas y del
pensamiento pedagógico, de las prácticas y métodos de enseñanza, de los
asuntos relativos a los jóvenes, a las famílias o a los maestros y profesores,
del desarrollo de las ciencias de la educación. En sí misma la prensa
pedagógica encierra diferentes historias complementarias, y enriquecedoras,
de muy diferentes parcelas de la educación, (HERNÁNDEZ, 2015, p.10)..
Como mencionado por Hernández (2015), a imprensa pedagógica compreende
diferentes histórias, nesse sentido, a Revista Polivisão converte-se em um documento
extremamente rico e diverso. Desenvolve-se estudos sobre os atores que atuavam no
periódico, bem como sobre as relações com os patrocinadores, a relação com o
CEPERS e os referenciais teóricos que pautavam a produção da revista. Este estudo,
especificamente, objetiva perceber as relações de gênero presentes na revista durante o
seu período de produção. Entende-se a revista como documento plural e que viabiliza
uma série de análises. Dessa forma, concorda-se com Almeida e Lima (2013, p.185),
quando afirmam que: […] como produto da cultura escolar, traduzem o cotidiano e
mostram indícios de saberes e práticas identificadas a preceitos de civilidade. Entende-
se que o cotidiano escolar, nesse período, é permeado por uma série de relações, as
quais encontram-se vinculadas ao contexto social e político do período. Destaca-se que
a década de 1980 foi marcada pelo final da Ditadura Militar e que a produção do
periódico estudado ocorreu no primeiro ano de democratização.
Entretanto antes no nos detemos especificamente na pesquisa de campo em
questão, feita mais especificamente no material da revista “Polivisão”, é preciso que
antes se aborde sobre certas questões de gênero que estão, ainda que implicitamente,
presente neste trabalho.
Gênero, magistério e imprensa pedagógica
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A necessidade de se abordar inicialmente um leitura sobre as transformações que
as questões sobre a temática de gênero sofreram no decorrer do tempo se dá justamente
pois existe uma íntima relação entre o acesso à educação e o acesso ao trabalho pelas
mulheres, que durante muito tempo ficaram confinadas aos afazeres do lar, uma vez o
espaço pública era prioritariamente um especo ocupado pelos homens, e
consequentemente as posições de decisão das manobras sociais.
Assim, dentro deste contexto é elaborada na década de 80 a revista “Polivisão”,
que ainda nas pesquisas preliminares deixa nítido que apesar de o número de
professoras ser maior que o número de professores no âmbito da rede estadual de
ensino, no corpo editorial da revista há um número superior de professores (homens),
indicando inicialmente que o papel protagonista nas decisões e elaboração da revista
segue o fluxo do panorama desenhado pelo magistério na época, em que embora com
um número superior de mulheres tinham no seu cargo de decisões homens. É
interessante considerar que vários estudos sobre o tema foram feitos a partir do final da
década de 1980, em especial pela pesquisadora Guacira Louro (1997, p. 21), que ilustra
essa discussão enfatizando que:
é necessário demonstrar que não são propriamente as características sexuais,
mas a forma como essas características sexuais, são representadas ou
valorizadas, aquilo que se diz o use pensa sobre elas que vai constituir,
efetivamente, o que é feminino ou masculino em dada sociedade, em um
dado momento histórico.
Considero fundamental destacar que o estudo aqui desenvolvido tem como
recorte temporal a década de 80, momento este em que as questões envolvendo a
emancipação da mulher e as questões de gênero estão em ampla discussão, não
podemos deixar de considerar o quanto foi importante a contribuição de SCOTT em que
ela formula a definição de gênero como um conceito intimamente relacionado com uma
construção social alargando a noção para o além dos estudos biológicos:
A norte-americana Joan Scott (1990) articulou o uso do termo “gênero”, que por
sua vez centrava a definição não nas determinações biológicas, mas no caráter social das
diferenças entre os sexos:
Mais recentemente - demasiado recente para que pudesse encontrar seus
caminho nos dicionários ou Encyclopediaof Social Sciencies – as feministas
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começaram a utilizar a palavra ‘gênero’ mais seriamente, num sentido mais
literal, como maneira de se referir à organização social da relação entre sexos
(SCOTT, 1990, p. 05).
Buscando aprofundar a temática entre gênero e sua participação social, muito
contribuíram as leituras de Ferreira, que se dedica alguns de seus trabalhos ao estudo da
mulher dentro do magistério, mais especificamente sobre a participação sindical das
professoras, assim FERREIRA considera sobre a temática gênero:
Neste estudo, gênero está sendo considerado como um conceito que explica
que nossa inclusão na categoria de “mulheres” ou de “homens” depende de
características culturais impostas aos corpos sexuados. Por sua vez, o
termo sexualidades corresponde às formas escolhidas, pelos sujeitos, para
viverem seus prazeres sexuais. Esses dois constructos estão intimamente
articulados, se pensarmos que ambos circunscrevem as identidades dos
sujeitos, e estão bem solidificados na literatura utilizada em nosso país, sendo
possível citar, aqui, entre várias/os, Joan Scott (1995) e Guacira Lopes Louro
(2000).
Não se pode deixar de mencionar o protagonismo dos estudos sobre
“gênero”,tomando como referencia o trabalho de LOURO que no final dos anos 80
destaca que as diferenças biológicas entre homens e mulheres existem e toma como
base para a o estudo a construção social e cultural das diferenças sexuais, desta maneira
o argumento de superioridade pela força física, não deve justificar inferioridade por
parte da mulher:
é necessário demonstrar que não são propriamente as características sexuais,
mas a forma como essas características sexuais, são representadas ou
valorizadas, aquilo que se diz o use pensa sobre elas que vai constituir,
efetivamente, o que é feminino ou masculino em dada sociedade, em um
dado momento histórico.
Assim, se percebe que há uma guinada na posição ocupada pelas mulheres no
especo público da sociedade, desta feita se as características físicas determinavam as
possibilidades criadas pelas posições públicas, e a genética masculina intimidava e
determinava poder, essas noções baseadas em superioridade física serão ultrapassadas e
se abordará as diferenças entre homens e mulheres tendo uma noção e caráter social e
psicológico. Com isso, a noção de “gênero”, que durante muito tempo foi usado para
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designar especificamente as diferenças biológicas entre os sexos, ou seja, gênero
feminino ou gênero masculino avança fortemente.
Ao elaborar este estudo, consideramos que tendo em vista que estamos
abordando sobre uma revista que emerge do campo da educação e que há um contexto
que implica na presença da mulher dentro deste campo como protagonista, não se pode
deixar de considerar que o acesso das mulheres ao trabalho e consequentemente ao seu
empoderamento está intimamente relacionado com seu acesso ao estudo e diretamente
proporcional a sua remuneração.
É fundamental considerar que os processos históricos não se dão forma exata e
estanque, da mesma maneira se deu a inserção social da mulher, a passagem feminina
do especo provado para o espaço pública implicou muita luta, especialmente por um
espaço no mercado de trabalho e garantia de direitos trabalhista específicos à mulheres.
É mister destacar que dentre as primeiras profissões em que a mulher teve acesso,
estava intimamente relacionadas com o ato do cuidar do próximo, isto porque à mulher
estava ligada a figura do materno como bem salienta:
Dentre as primeiras profissões nas quais as mulheres conseguiram espaço no
campo de trabalho, o magistério ganha destaque. No entanto, ainda há
correspondência direta entre a docência feminina e a maternidade, que
estende às professoras o papel de mãe, da mesma ocorre com a enfermagem.
Para conquistar outras áreas, como a jurídica tida como tipicamente
masculina, havia ainda um árduo caminho a percorrer (COSTA, 2009, p. 24).
O Brasil desde muito cedo teve figuras femininas que defendiam o direito da
mulher brasileira ter acesso à educação, como a figura de Nísia Floresta, entretanto a
realidade que hoje nos deparamos é ainda de um país que regra geral investe pouco, ou
quase nada em educação para seu povo e sem políticas públicas de educação com intuito
de sanar esta dívida histórica com as mulheres brasileiras, ou seja, ainda não temos
ações afirmativas para mulheres.
O pioneirismo de Nísia fica evidente quando ela defende o acesso da mulher
brasileira à educação no livro “Opúsculo humanitário”, Nísia alega que se o Brasil
pretende se mostrar como país evoluído que se espelha em outras nações para buscar
seus exemplos, deve também se inspirar no acesso das mulheres destas outras nações à
educação afirma a autora:
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Enquanto pelo velho e novo mundo vai ressoando o brado-emancipação da
mulher- nossa débil voz se levanta, na capital do Império de Santa Cruz,
clamando: educai as mulheres! Povos do Brasil, que vos dizeis civilizados! Governo, que vos dizeis liberal!
Onde esta a doação mais importante dessa civilização, desse liberalismo? Em
todos os tempos, e em todas as nações do mundo, a educação da mulher foi
sempre um dos mais salientes característicos da civilização dos povos
(FLORESTA, 1853, p.2).
Assim, foi o magistério, uma das profissões em que a mulher conseguiu
primeiro se inserir, cabendo entretanto, considerar que ser professora estava limitado ao
magistério primário, espaço que os homens haviam abandonado por estar vinculado a
baixos salários. A realidade atual não é muito diferente, embora não seja o objeto
específico deste estudo, é perceptível que o ingresso da mulher no magistério superior é
menor que a dos homens e em determinados cursos esta discrepância é mais visível.
Por fim, um último comentário. Especificamente no caso da docência, é
impossível pensar sua história e desenvolvimento e as imagens que foram
traçadas sobre ela no transcorrer dos tempos, sem necessariamente
compreendê-la com base nas interações entre gênero e classe social. Do
ponto de vista macrossocial, no transcorrer dos tempos a docência alterna
maioria masculina, feminina e classe social de origem. Em termos de
identidades e representações, a idéia da docência como um trabalho de
mulher parece ser majoritária desde há muito. Estudos vêm indicando a
necessidade de compreender-se melhor em que medida essa representação
interfere em inúmeros aspectos, desde a retribuição econômica que se
acredita suficiente para uma categoria formada por mulheres, as imagens que
se pretende corretas para representar a docência, aos comportamentos que se
consideram adequados de parte do professorado (pág394)
É interessante considerar a leitura anterior feita em Ferreira (2007) pois a autora
vai além da concepção inicial feita neste trabalho sobre gênero, ou seja, é preciso que se
considere que o especo ocupado pelas mulheres, no caso o magistério, deve ser também
um espaço em que elas se identificam e por sua vez os representantes desta categoria
devem da mesma maneira ter esta identificação sendo assim protagonistas das defesas
dos anseios do grupo que representa.
Esta justamente nesta questão que brotaram as primeiras indagações deste
estudo, isto porque quando se iniciou o estudo na revista Polivisão inicialmente se
acreditava que sendo o corpo docente em sua maioria mulheres da instituição
encarregada pela elaboração da revista, esta seria usada como instrumento para temas
que as representassem (em especial por que a revista é elaborada na década de 80,
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período em que a temática sobre gênero começa a tomar fôlego no Brasil) e ainda por
editores que as representassem.
Homens e mulheres na Revista Polivalente
Como mencionado anteriormente, o periódico objeto deste estudo contou com três
números produzidos durante a década de 1980, especificamente no ano de 1986. Nesses
três números, entre os editores contavam os seguintes docentes:
Quadro 1 – Editores da Revista Polivisão
Atividade Docente
Coordenação Roque José Walker
Redação Ilone Olweiler; Domiciano Netto; Roque
José Mallmann
Supervisão Marlene Azambuja; Naura Martins
Montagem Ana Maria Araujo dos Santos
Datilografia Ângelo Antônio Nozári
Quadro elaborado pelas autoras
No quadro 1, percebe-se que há um equilíbrio entre o número de homens e
mulheres. No entanto, as atividades mais relevantes estão concentradas em sua maioria
por homens, como a coordenação e a redação. A diferença numérica destaca-se quando
verificamos o número de autoras e autores, conforme quadro abaixo:
Quadro 2 – Autores da Revista Polivisão
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Autores por gênero/sexo2
Mulheres Anilda M. de Souza (professora)
Janine Alves de Oliveira (discente)
Jussara Louzada (professora)
Lúcia Cortese Lume (professora)
Mara Beatriz dos S. Gomes (discente)
Maria Basilisa I. da Silva (professora)
Maria Luiza Ferri (discente)
Mercedes Marchant Wolff (professora)
Suely Eva dos Navegantes Braga
(orientadora educacional)
Homens Amilton Munari (professor)
Benito B. Izolan (professor)
Carlos Leandro (discente)
Clairton (discente)
Clodoaldo Alves Saraiva (professor)
David José Fleck (professor)
Denilson da Silva (discente)
Domeciano Netto (professor)
Eduardo Vargas de Ávila (discente)
Elidio Della Giustina (professor)
Geraldo Scur (professor)
Gilson Becker (discente)
Guinter Knach (discente)
Hélio Silva (historiador)
Iloni Ohlweiler (professor)
2 Destaca-se que utilizamos a convencional divisão por sexo, ou seja, uma divisão binária por gênero,
tendo em vista que essa era a compreensão da época.
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Joel Brum da Silveira (discente)
Jonatas Rembowsky (médico3)
Jorge Alberto Mendes Ribeiro (não foi
identificada a atividade)
José Luiz V. Pontes (professor)
José Roberto (discente)
José Vilmar de A. Júnior (discente)
Luiz Fernando da S. Gomes (discente)
Nery Knach (professor)
Onofre Machado Ramos (professor)
Plácido Steffen (Secretário – professor)
Roque José Mallmann (professor)
Roque José Walker (professor)
Sandro Fabiano Santos Soares (discente)
Sebastião Fich da Rosa (professor)
Valdionor Aguiar da Costa (professor)
Quadro elaborado pelas autoras
Pode ser percebido, no quadro 2, a disparidade entre a participação feminina e
masculina na produção de textos para a Revista Polivisão. Enquanto cinco professoras
participaram, dezesseis professores do sexo masculino são responsáveis pela autoria de
textos. A mesma diferença está presente entre o corpo discente: apenas três alunas
contaram com a publicação de suas produções, enquanto onze alunos do sexo masculino
tiveram seus textos publicados. Entre outros profissionais, conta-se com três homens e
uma mulher.
Considerações finais:
3 Tal informação não foi confirmada.
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Assim, ao dedicarmos nosso estudo à revista Polivisão, e consequente análise do
material organizado, tomamos o mote do estudo nas questões que enfocam a temática
sobre gênero, de maneira que fica evidente desde o início que embora a revista seja
fruto de professores, e o magistério umas das profissões pioneiras à ser exercida pelas
mulheres, o que se observou nos estudos da revista Polivisão, é que o protagonismo da
edição em cargos de gerência ficavam com os professores homens.
Verifica-se, também, que os homens contaram com um número claramente
maior de textos publicados, tanto de docentes, como discentes e pessoas que realizavam
atividades correlatas. Nesse sentido, percebe-se a visibilidade maior da produtividade
masculina e como a revista representa o contexto social da época em que se inseria.
Entende-se que tanto a revista como a instituição escolar em que a mesma inseria-se
tiveram importante papel de ressignificação do ensino técnico, entretanto, a
preponderância da produção masculina encontrava-se vinculada à estrutura social da
década de 1980.
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