GOBINEAU - A degeneração na civilização

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A degenerao na civilizao

Arthur de Gobineau considerado uma das figuras histricas mais polmicas e controversas pelos seus pensamentos. Ele tornou-se Ministro da Frana no Brasil (como eram chamados os embaixadores) a total contragosto, diga-se de passagem, em 1869. Alegava que sua nomeao a esse cargo o obrigava a se separar da famlia e de Paris, alm de obrig-lo a conviver com uma populao mestia, algo para ele abominvel.

Gobineau estava inserido nas discusses intelectuais do XIX acerca das raas humanas. Sua ideia central era defender um escalonamento racial. Para tanto, ele elaborou uma teoria classificatria da humanidade, onde a raa ariana ocupava o topo da hierarquia social. Os miscigenados, por no serem puros de sangue no teriam ordenao na sua teoria, eles seriam inclassificveis pela ambivalncia.As duas variedades da nossa espcie, a raa negra e a raa amarela so o fundo grosseiro, o algodo e a l, que as famlias secundrias da raa branca amolecem, nele misturando a sua seda, enquanto que o grupo ariano, fazendo circular suas redes mais finas a traves de geraes enobrecidas, aplica na superfcie, (...) seus arabescos de prata e de ouro. (pg. 217)Eu penso portanto que a palavra degenerado, se aplicada a um povo, deve significar, e significa, que esse povo no tem mais o valor intrnseco que outrora ele possua, porque ele no tem mais em suas veias o mesmo sangue, cujos cruzamentos sucessivos tm gradualmente modificado o seu valor, dito de outro modo: que com o mesmo nome ele no tem conservado a mesma raa dos seus fundadores: enfim, que o homem da decadncia, este que se denomina o homem degenerado, um produto diferente, do ponto de vista tnico, do heri das grandes pocas. (pg. 162)

Mas, se em lugar de se reproduzir por ela mesma, a populao brasileira estivesse em situao de minorar com vantagem os elementos desgraados de sua constituio tnica atual, fortificando-os por alianas de valor mais alto com raas europeias, ento o movimento de destruio observado em suas classes cessaria e daria lugar a um curso totalmente oposto. A raa se levantaria, a sade pbica melhoraria, o temperamento moral se veria recuperado e as modificaes mais felizes se introduziriam no estado social de este admirvel pas. (pgs. 90-91)

Todos os pases da Amrica, seja norte, seja sul, mostram hoje em dia uma forma irrefutvel que os mulatos de diferentes graus no se reproduzem alm do nmero limitado de geraes. A infecundidade no se encontra sempre nos casamentos; mas os produtos chegam gradualmente a ser de tal maneira perniciosos, to pouco viveis, que desaparecem, seja antes de ter dado luz descendentes, seja deixando crianas que no podem sobreviver. (pg. 92)

Que interesse podemos ter em persuadir povos covardes, que vivem na barbrie, na indolncia ou na servido que, se encontrando neste estado pela natureza de sua raa, no h a fazer para melhorar sua condio, mudar seus costumes ou modificar o seu governo.

GOBINEAU, Arthur de. Essai sur l'ingalit des races humaines. Paris: Librairie de Firmin Didit Frres, 1853.O determinismo biolgico

No campo de outras capacidades, Roque de B. Laraia segue o mesmo tipo de conhecimento e tenta desfazer um equvoco de algumas velhas teorias que atribuem qualidades especficas a determinadas raas:

Muita gente ainda acredita que os nrdicos so mais inteligentes do que os negros; que os alemes tm mais habilidade para a mecnica; que os judeus so avarentos e negociantes; que os norte-americanos so empreendedores e interesseiros; que os portugueses so muito trabalhadores e poucos inteligentes; que os japoneses so trabalhadores, traioeiros e cruis; que os ciganos so nmades por instinto, e, finalmente, que os brasileiros herdaram a preguia dos negros, a imprevidncia dos ndios e a luxria dos portugueses. (p. 17)

Para Flix Keesing, Apud Laraia, no existe correlao significativa entre a distribuio dos caracteres genticos e a distribuio dos comportamentos culturais. Pois, se uma criana de origem e gentica japonesa, por exemplo, for levada para o Rio de Janeiro, crescer, normalmente, como uma pessoa tipicamente carioca.

incrvel que apenas em 1950, antroplogos, geneticistas, entre outros especialistas, vieram constatar:

Os dados cientficos de que dispomos atualmente no confirmam a teoria segundo a qual as diferenas genticas hereditrias constituiriam um fator de importncia primordial entre as causas das diferenas que se manifestam entre as culturas e as obras das civilizaes dos diversos povos ou grupos tnicos. Eles nos informam, pelo contrrio, que essas diferenas se explicam antes de tudo pela histria cultural de grupo. (p. 18)

Por fim, para o autor, os fatores biolgicos no determinam as caractersticas das raas, e sim, o aprendizado associado a uma determinada cultura o que induz o comportamento humano.

O determinismo geogrfico

No captulo seguinte, Laraia aborda o determinismo geogrfico, cujo fator principal a considerao de que as diferenas do ambiente fsico condicionam a diversidade cultural(p.21). At certo ponto, particularmente, acredito que os aspectos geogrficos contribuem para a caracterstica de determinadas sociedades, mas, de maneira minoritria.

Ainda segundo alguns pesquisadores, aponta Laraia, a relao entre a latitude e os centros das civilizaes pode influir na dinmica do progresso da civilizao. Contudo, essa tese posta abaixo quando se comprovam a existncia de povos distintos morando em regies semelhantes em que so culturalmente diferentes.

Assim, as diferenas existentes entre os homens, portanto, no podem ser explicadas em termos das limitaes que lhes so impostas pelo seu aparato biolgico ou pelo seu meio ambiente. A grande qualidade da espcie humana foi a de romper com suas prprias limitaes: um animal frgil, provido de insignificante fora fsica, dominou toda a natureza e se transformou no mais temvel dos predadores. Sem asas dominou os ares; sem guelras ou membranas prprias conquistou os mares. (p. 24)

Por fim, essas conquistas s foram possveis, segundo Laraia, por que o homem o nico ser vivo que possui cultura.