Gonçalves, júlio césar. monografia música.

45
Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP Licenciatura Plena em Música JÚLIO CÉSAR GONÇALVES O CORPO DO MÚSICO RIBEIRÃO PRETO 2012

Transcript of Gonçalves, júlio césar. monografia música.

Page 1: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP

Licenciatura Plena em Música

JÚLIO CÉSAR GONÇALVES

O CORPO DO MÚSICO

RIBEIRÃO PRETO

2012

Page 2: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

Ficha catalográfica preparada pelo Centro de Processamento Técnico da Biblioteca Central da UNAERP

- Universidade de Ribeirão Preto -

Gonçalves, Júlio César, 1973 - G635c O corpo do músico / Júlio César Gonçalves. - - Ribeirão Preto, 2012. 44 f. : il. color. Orientadora: Profa. Ms. Gisele Laura Haddad Monografia (graduação) - Universidade de Ribeirão Preto, UNAERP, Licenciatura plena em Música. Ribeirão Preto, 2012. 1. Música. 2. Músicos - Aspectos da saúde. 3. Corpo humano. 4. Lesões dos tecidos moles. I. Título. CDD: 780

Page 3: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

Júlio César Gonçalves

O CORPO DO MÚSICO

Monografia apresentada ao curso de Licenciatura Plena em Música da Universidade de Ribeirão Preto UNAERP, para obtenção do título de Licenciado em Música. Linha de Pesquisa: Educação Musical.

Orientadora: Profª. Ms. Gisele Laura Haddad

Ribeirão Preto

2012

Page 4: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

JÚLIO CÉSAR GONÇALVES

O CORPO DO MÚSICO

Monografia apresentada à Universidade

de Ribeirão Preto, UNAERP, como

requisito para obtenção do título de

Licenciado em Música.

Área de Concentração: Licenciatura Plena em Música Data da defesa: 28/06/2012 Resultado: BANCA EXAMINADORA

Érika de Andrade Silva Prof. Ms.__________________________ Universidade de Ribeirão Preto

Gisele Laura Haddad Prof. Ms.__________________________ Universidade de Ribeirão Preto Sandra Barros da Rocha Picado Prof. Dra.__________________________ Universidade de Ribeirão Preto

Page 5: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

Dedico este trabalho à minha esposa Vera

Lúcia, que sempre foi uma verdadeira lição de

superação e dedicação e ao meu filho Pedro por ter

me ensinado a acreditar nas oportunidades que o

amanhã nos reserva.

Júlio César Gonçalves.

Page 6: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por toda sua misericórdia e

esperança no meu trabalho me dando sempre novas

manhãs de oportunidade.

Aos novos amigos que conquistei durante

esse ano letivo que me ajudaram ao longo dessa

caminhada.

Agradeço a minha orientadora Prof. Ms.

Gisele Laura Haddad, por toda paciência, me

ensinando com sabedoria e dedicação.

Agradeço a Prof. Ms. Érika Silva Andrade,

coordenadora do curso de licenciatura plena em

música da UNAERP, por ter me conduzido nos

caminhos da educação musical, mostrando o

verdadeiro significado da música para o ser humano.

Agradeço ao meu amigo e Prof. João Magioni,

por ter incentivado os meus estudos na guitarra, me

fazendo entender a importância do estudo e da

dedicação na música.

Agradeço a todos os professores que

contribuíram para meu crescimento musical.

Júlio César Gonçalves

Page 7: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

Acaso não sabeis vós que o vosso corpo é santuário de Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?

Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.

(CORINTIOS, 6:19-20)

Page 8: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

RESUMO O presente trabalho aborda um tema atual e muito importante na formação dos músicos de uma forma geral: a prática de atividades físicas em benefício da saúde. No entanto o estudo em questão visa principalmente demonstrar que a importância da atividade física como instrumento de prevenção e ainda procura incentivar uma prática saudável dentro da esfera ou meio musical, sendo ela amadora ou profissional e busca levar informações para que o músico aprenda a diagnosticar as possíveis lesões em seu início, prevenindo e corrigindo os movimentos necessários para um melhor desempenho musical. O presente estudo pretende através de uma pesquisa bibliográfica esclarecer sobre a importância da prática da atividade física como fator principal na prevenção de lesões mais comuns que acometem os músicos. Neste sentido buscamos conhecimentos para evitar o afastamento e intervenções médicas, gastos desnecessários com medicamentos e no extremo, a interrupção das atividades profissionais. Assim ao analisarmos a evolução da carreira do músico, consideramos a descoporificação; o afastamento do conceito de corpo saudável para o bom desempenho da profissão e o que uma vida equilibrada e saudável representa para sua vida pessoal e social. Palavras-chave: Corpo. Músico. Lesão muscular. Saúde.

Page 9: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

ABSTRACT

This paper approaches a current and very important issue in the training of musicians in a general way: physical activity for the benefit of health. Nevertheless, this study aims mainly to demonstrate the importance of physical activity as a prevention tool and also tries to encourage a healthy practice within the musical environment, being it amateur or professional seeking to bring information to the musician in order to learn to diagnose the possible bodily harms in his early, preventing and correcting the movements for a better musical performance. This study aims through a literature review to clarify the importance of physical activity as a major factor in preventing the most common injuries that affect musicians. In this regard we looked for knowledge to avoid sick leave, medical intervention, and unnecessary expense on medicine and in the extreme, interruption of professional activity. By analysing the development of musician career, we considered the unbodiness; the slide away from the concept of a healthy body for a good performance of his or her profession and what a balanced and healthy life means for their personal and social life. Key words: Body. Musician. Bodily harm. Health.

Page 10: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 Tendinite e Tenosivite............................................................................ 18

Figura 2 Bursite.................................................................................................... 19

Figura 3 Estrutura óssea braço............................................................................ 19

Figura 4 Braço e Antebraço................................................................................. 20

Figura 5 Região lesões musculares do antebraço............................................... 20

Figura 6 Antebraço............................................................................................... 21

Figura 7 Detóide................................................................................................... 21

Figura 8 Bíceps.................................................................................................... 22

Figura 9 Tríceps................................................................................................... 22

Figura 10 Pronador quadrado.............................................................................. 23

Figura 11 Supinador curto................................................................................... 24

Figura 12 Ligamentos.......................................................................................... 24

Figura 13 Articulação........................................................................................... 25

Figura 14 Flexores............................................................................................... 25

Figura 15 Extensores........................................................................................... 26

Figura 16 Flexores profundos dos textos............................................................. 26

Figura 17 Flexores superficiais dos dedos.......................................................... 27

Figura 18 Extensores comuns dos dedos............................................................ 27

Figura 19 Tendinite.............................................................................................. 28

Figura 20 Tenossinovite....................................................................................... 29

Figura 21 Síndrome de Quervein......................................................................... 30

Figura 22 Síndrome do túnel do carpo................................................................ 30

Figura 23 Epicondilite lateral................................................................................ 31

Figura 24 Cisto sinovial........................................................................................ 31

Figura 25 Cervicalgia........................................................................................... 32

Figura 26 Lombalgia............................................................................................ 32

Figura 27 Hipersifose........................................................................................... 33

Page 11: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................... 11

2 A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA........................................................ 13

2.1 CONCEITO DE SAÚDE................................................................................... 13

2.2 CARACTERÍSTICAS FUNCIONAIS................................................................ 14

2.3 DEFINIÇÃO E DIFERENÇAS ENTRE LER E DORT ..................................... 15

2.3.1 Dort............................................................................................................. 15

2.3.2 Sintomas..................................................................................................... 16

2.4 LESÕES MUSCULARES................................................................................ 16

2.4.1 Classificação e Tratamento.......................................................................... 17

2.4.2 Lesões Mais Comuns em Músicos.............................................................. 17

2.4.3 Definição: Tendinite..................................................................................... 17

2.4.4 Bursite.......................................................................................................... 18

2.5 ANATOMIA BÁSICA: ESTRUTURA BRAÇO E ANTEBRAÇO....................... 19

2.5.1 Braço e Antebraço....................................................................................... 20

2.5.2 Deltóide........................................................................................................ 21

2.5.3 Bíceps.......................................................................................................... 22

2.5.4 Tríceps......................................................................................................... 22

2.5.5 Pronador Quadrado..................................................................................... 23

2.5.6 Supinador Curto........................................................................................... 23

2.5.7 Ligamentos................................................................................................... 24

2.5.8 Articulação................................................................................................... 24

2.5.9 Flexores....................................................................................................... 25

2.5.10 Extensores................................................................................................. 26

2.5.11 Flexores Profundos dos Textos................................................................. 26

2.5.12 Flexores Superficiais dos Dedos................................................................ 26

Page 12: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

2.5.13 Extensores Comuns dos Dedos................................................................. 27

2.6 LESÕES COMUNS EM MÚSICOS................................................................. 27

2.6.1 Tendinite..................................................................................................... 28

2.6.2 Tenossinovite.............................................................................................. 28

2.6.3 Síndrome de Quervein................................................................................ 29

2.6.4 Síndrome do Túnel do Carpo...................................................................... 30

2.6.5 Epicondilite Lateral....................................................................................... 31

2.6.6 Cisto Sinovial............................................................................................... 31

2.6.7 Cervicalgia.................................................................................................... 32

2.6.8 Lombalgia..................................................................................................... 32

2.6.9 Hipersifose.................................................................................................... 33

3 PREVENÇÃO................................................................................................... 34

4 CONSIDERAÇÕES........................................................................................ 37

5 CONCLUSÃO................................................................................................ 39

REFERÊNCIAS..................................................................................................... 41

Page 13: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

11

INTRODUÇÃO

Educador físico, especialista em fisiologia e prescrição do exercício, atuando

em uma clinica de avaliação física com atletas de alto nível, e músico profissional

desde 2003, observei a rotina da maioria dos músicos profissionais e amadores, me

deparando com a alienação e despreparo com o corpo do músico, diante o seu

cotidiano relacionado com as suas apresentações e estudos, considerando o corpo

o último item a ser somado no processo de finalização da atividade musical.

Dalcroze foi o primeiro a fazer a ligação entre o corpo e a música, segundo

ele é preciso estabelecer comunicações rápidas entre o cérebro que cria e analisa e

o corpo que executa (Fonterrada 2005). Para Dalcroze, a música não é um objeto

externo, mas pertence ao mesmo tempo ao fora e ao dentro do corpo, sendo assim

o corpo expressa a música, mas também transforma-se em ouvido, transmutando-se

na própria música ( Andrade 2009).

Ao contrário, distante de uma consciência corporal, a grande parte dos

músicos acaba não percebendo que o corpo é principal elo capaz de permitir que a

música possa ser expressa, ou melhor, que a atividade como um todo seja realizada.

Quando essa desconexão ocorre, é quando o músico acaba por interromper suas

atividades de modo temporário ou definitivo acometido por lesões.

Exageros de técnica, como o caso de Robert Schumann (1810 - 1856), que

abandonou a prática do piano para dedicar-se somente a composição, foram um dos

primeiros casos documentados (FRAGELLI ET AL, 2008), sendo o caso mais

conhecido no Brasil do maestro João Carlos Martins, que abandonou definitivamente

os palcos como pianista no ano de 2002 por problemas físicos.

Este estudo tem por objetivo demonstrar que a atividade física é o melhor

instrumento para se prevenir ou garantir uma prática saudável dentro da esfera ou

meio musical, sendo ela amadora ou profissional. Serve ainda como fonte de

consulta para que o músico aprenda a diagnosticar as possíveis lesões em seu

inicio, prevenindo e corrigindo os movimentos necessários para um melhor

desempenho musical.

Temos também por objetivo demonstrar a importância da realização da

atividade física em indivíduos antes de qualquer atividade musical, seja ela de

caráter profissional ou amadora, promovendo através da consciência corporal maior

índice de produtividade, ou seja, mantendo a qualidade de criação e motivação para

Page 14: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

12

o trabalho reduzindo faltas e afastamentos médicos. Este estudo pode então servir

como guia para a instrução ou referência de profissionais ou amadores da área

musical, contribuindo para sua integridade física.

Esta atividade cientifica foi realizada através de pesquisa bibliográfica em

livros, revistas e jornais científicos especializados, além de artigos referentes ao

assunto obtidos a partir de sites específicos da área.

Page 15: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

13

2 A IMPORTÂNCIA DA ATIVIDADE FÍSICA

O presente trabalho aborda questionamentos frequentes sobre as lesões mais

comuns em músicos. Através de uma revisão bibliográfica da literatura científica,

afim de demonstrar a importância e a finalidade de realizar da atividade física em

músicos amadores ou profissionais.

2.1 CONCEITO DE SAÚDE

Segundo a organização mundial de saúde, saúde é o estado completo bem

estar físico, mental e social, e não somente ausência de enfermidade ou invalidez.

(OMS, 1948).

Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. (Constituição federal, Art. 196).

De acordo com pesquisa realizada no Brasil em 1996 por Andrade & Tals,

com 419 músicos, 88% dos instrumentistas de cordas dos principais centros

culturais sofriam de algum desconforto físico, sendo que 30% tiveram que se afastar

para tratamento.

Em 2004, pesquisa realizada com 45 músicos da orquestra sinfônica da

universidade de Londrina, constatou que 77,8% apresentaram algum sintoma de

dor músculo esquelético. (Fragelli, 2008)

Em 2005, pesquisa realizada com 241 músicos da orquestra sinfônica de

São Paulo, 68% apresentaram dores, predominando em mulheres (Kaneko 2005).

Em 2006, Mazzoni & Tals, constataram que em uma determinada população

estudada, 93,1% dos músicos relataram apresentar algum tipo de sintoma músculo-

esquelético como dor, formigamento, tensão muscular e dormência.

Em 2010, Cassapian & Pellens, apresentaram um estudo sobre a realidade

dos estudantes de uma Instituição de Ensino Superior em Música de Curitiba, que a

Page 16: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

14

dor, considerada, pelos autores, como uma das principais características das

LER1/DORT2, foi relatada por 87% dos estudantes.

Diante dessas pesquisas, podemos considerar que o campo da medicina para

o músico, embora haja poucas pesquisas e reconhecimento, os músicos ainda não

têm atenção que necessitam da medicina do trabalho, sendo que Frank et al., alerta

que comparando somente os estudos apresentados entre 1986 a 2005, a

prevalência de lesões chegam entre 55% a 86%, são índices considerados altos,

principalmente quando comparados a outras profissões.

2.2 CARACTERÍSTICAS FUNCIONAIS

O músico em suas atividades, sejam elas de estudo, ou apresentação,

demonstram uma atividade neuromuscular intensa, permeadas de precisão

(técnicas), velocidade, resistência, propriedades que levam horas de estudo e

ensaio, que na maioria das vezes são estressantes e sem nenhum tipo orientação

profissional, planejamento ou compensação muscular e relaxamento.

A iniciação musical cada vez mais precoce e em idades cada vez mais

tenras, ainda carregadas historicamente pelo valorizado conceito técnico e virtuose,

que na maioria das vezes são obrigados a manipular instrumentos projetados para

adultos, favorecendo desde muito cedo; principalmente durante seu

desenvolvimento músculo esquelético, um ambiente propício para futuras lesões

musculares.

Algo agravante e somatório são os vícios posturais adquiridos de horas

incalculáveis em posturas inadequadas em práticas com instrumentos pesados ou

moveis sem nenhuma adaptação ergonômica para a atividade praticada, seguida

ainda do transporte inadequado dos próprios equipamentos, que na maioria das

vezes possuem um peso acima da capacidade de carga do próprio músico, sendo

um problema a mais tanto antes como após as apresentações.

Os músicos profissionais enfrentam ainda ambiente de trabalho que muitas

vezes é insalubre (casas de shows, pubs, bares), com exposição a cigarros,

fumaças, drogas licitas e ilícitas, bebidas alcoólicas, sem contar a incerteza

financeira causada pela instabilidade do cenário musical.

1 LER: Lesão por esforços repetitivos.

2 DORT: Distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho.

Page 17: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

15

Os horários alternativos de trabalho, principalmente sem o devido

planejamento e organização acabam ainda por afetar os horários adequados e

recomendados para o sono regenerativo e por consequência acaba atrapalhando

também a possibilidade de desfrutar uma alimentação correta e balanceada nos

seus devidos horários e porções recomendadas por dia.

2.3 DEFINIÇÃO E DIFERENÇAS ENTRE LER E DORT

Existe a definição da caracterização da doença como em decorrência do

trabalho, a equiparação entre LER e DORT depende do fato de se comprovar que o

trabalho foi à causa da doença e não outro fator.

Em 1998 o INSS introduziu o termo DORT (Doenças Osteoarticulares

Relacionadas ao Trabalho).

Sendo assim, DORT só é caracterizada quando o fator gerador da doença

LER tenha sido o trabalho e para tanto é imprescindível uma vistoria no posto de

trabalho para comprovar a existência da tríade – lesão- nexo e incapacidade.

Tendinite, tenossinovite, sinovite, peritendinite, epicondilite, dedo em gatilho, cistos,

síndrome do túnel do carpo, síndrome do túnel ulnar, outras síndromes, cervicalgia,

síndrome miofascial, síndrome simpático reflexa lombalgia e outros.

Pereira (2002) afirma que a literatura evidencia dados alarmantes sobre o

adoecimento dos músicos e indica que 75% dos instrumentistas são portadores de

LER/DORT.

2.3.1 Dort

Segundo a norma técnica do INSS sobre DORT (Ordem de Serviço no.

606/1998), conceitua-se as lesões por esforços repetitivos como uma síndrome

clínica caracterizada por dor crônica, acompanhada ou não e alterações objetivas,

que se manifesta principalmente no pescoço, cintura escapular e/ou membros

superiores em decorrência do trabalho, podendo afetar tendões, músculos e nervos

periféricos. O diagnóstico anatômico preciso desses eventos é difícil, particularmente

Page 18: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

16

em casos sub-agudos e crônicos, e o nexo com o trabalho tem sido objeto de

questionamento, apesar das evidências epidemiológicas e ergonômicas.

2.3.2 Sintomas

O músico deve ficar alerta para o reconhecimento dos sintomas como

desconforto, dores, tensão ou rigidez nas mãos, dedos, antebraços e cotovelos, bem

como mudança de temperatura nas mãos (frias), dormência e formigamento.

Esses sintomas podem em muitas vezes surgir acompanhados de certa

redução da habilidade (destreza manual), perda de força ou coordenação nas mãos,

nos casos mais graves, podendo ainda ser acometidos por uma intensa capaz de

interromper o movimento.

2.4 LESÕES MUSCULARES

As lesões musculares sobre os olhares dos músicos possuem parâmetros

diferenciados muitas vezes associada somente a prática desportiva. Tal associação

enganosa acaba por mascarar os sintomas iniciais das lesões mais comuns nos

grupamentos musculares, frequentemente usados para o desempenho musical.

As lesões musculares podem ocorrer por diversos mecanismos, seja por

trauma direto3, laceração4 ou isquemia5. Após a lesão, inicia-se a regeneração

muscular, com uma reação inflamatória, entre 6 e 24 horas após o trauma. O

processo de cicatrização inicia-se cerca de três dias após a lesão, com estabilização

em duas semanas. A restauração completa pode levar de 15 a 60 dias para se

concretizar.

3 Trauma direto: lesões ocorridas por estiramento ( lesão muscular indireta causada por estiramento

excessivo das fibras musculares) ou contusão (caudada por objetos sem ponta que chocam contra o músculo). 4 Laceração: Ruptura muscular total ou parcial.

5 Isquemia: Diminuição do fluxo sanguíneo em uma determinada área do corpo.

Page 19: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

17

2.4.1 Classificação e Tratamento

As lesões musculares são classificadas como leves (grau I), moderadas (grau

II) e severas (grau III) (Weineck, 1999).

Leve ou Grau I: ruptura de poucas fibras musculares, leve edema e

desconforto, com perda mínima ou sem perda de força ou restrição de movimento;

Moderada ou Grau II: maior acometimento de fibras musculares com

perda visível de sua função (capacidade de contração);

Severa ou Grau III: ruptura se estendendo por todo o músculo com

perda total de sua função.

Tratamento: como tratamento imediato deve ser realizado com o PRICE, que

em inglês significa:

P (protect the area – interromper as atividades com o membro afetado)

R (rest – relaxar a parte afetada)

IC (ice compression – aplicação de gelo com compressão)

E (elevation – levantar o membro com a lesão, acima da altura do

coração, para interromper o fluxo sanguíneo e reduzir o edema).

2.4.2 Lesões Mais Comuns em Músicos

Embora existam outros tipos de lesões, abordaremos neste trabalho as lesões

mais comuns que ocorrem devido a inflamações nos músculos ou em seus tendões,

provocadas por atividades que exigem do indivíduo o uso forçado e repetitivo de

grupos musculares ou posturas inadequadas, principalmente, os membros

superiores (mãos, dedos, ombros, braços, antebraços e pescoço).

2.4.3 Definição: Tendinite

Tendinite é a inflamação no tecido fibroso que faz a inserção do músculo ao

osso, sendo esse processo inflamatório descrito de acordo com a estrutura agredida

e no caso dos tendões são conhecidos como tendinite, por isso o sufixo “ITE” para

designar um processo inflamatório.

Page 20: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

18

É importante salientar que a inflamação da bainha protetora que cobre o

tendão é conhecida como tenosinovite.

Tendões: tecido conjuntivo fibroso que faz a inserção do músculo ao osso.

Figura 1 Tendinite e Tenosivite

Fonte: (lerdort.com.br)

2.4.4 Bursite

A bursite é caracterizada por inflamação de uma bolsa (um saco achatado

que contém líquido sinovial6 e que facilita o movimento de algumas articulações e

músculos, reduzindo a fricção). Essas inflamações são mais comuns nos ombros,

mas pode ocorrer nos cotovelos, joelhos, dedos dos pés e calcanhares.

6 Líquido sinovial: líquido transparente e viscoso das cavidades articulares e bainhas dos tendões.

Page 21: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

19

Figura 2 Bursite

Fonte: (artroscopiadeombro.com.br)

Roda pé: Liquido sinovial: fornece nutrientes para as cartilagens e atua como lubrificante das faces

articulares móveis.

2.5 ANATOMIA BÁSICA: ESTRUTURA BRAÇO E ANTEBRAÇO

O braço é formado por um único osso, chamado Úmero.

O úmero, em sua extremidade superior, forma uma articulação juntamente

com um osso das costas, a Escápula.

O úmero interliga-se à escápula e à clavícula através de ligamentos.

Figura 3 Estrutura óssea braço

Fonte: (afh.bio.br)

Page 22: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

20

2.5.1 Braço e Antebraço

Inferiormente, o úmero forma outras duas articulações junto aos dois ossos do

antebraço, o rádio e a ulna.

Figura 4 Braço e Antebraço

Fonte: (afh.bio.br)

Atenção para a extremidade inferior do úmero, nela existem duas saliências

ósseas chamadas epicôndilos, de onde partem a maioria dos músculos flexores e

extensores da mão, punho e dedos.

As maiorias das lesões musculares do antebraço envolvem essa região.

Figura 5 Região lesões musculares do antebraço

Fonte: (portalsaofrancisco.com.br)

Page 23: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

21

O antebraço possui em sua estrutura apenas dois ossos, o ulna e o rádio.

Colocando-se o membro superior com a palma da mão voltada para cima,

temos o osso ulna, próximo ao corpo, e o rádio mais afastado do corpo.

Figura 6 Antebraço

Fonte: (sanbiomedica.blogspot.com)

2.5.2 Músculo deltóide

O Deltóide é responsável por três movimentações do braço.

Cada um desses movimentos é controlado por porções diferentes do

músculo. A porção frontal do deltóide é responsável pela flexão do osso úmero.

Porção medial executa a abdução do úmero. A porção dorsal auxilia no movimento

de rotação.

Figura 7 Músculo deltóide

Fonte: (auladeanatomia.com)

Page 24: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

22

2.5.3 Músculo bíceps

Bíceps é responsável pela flexão do antebraço.

O bíceps está ligado ao antebraço diretamente ao osso rádio.

Figura 8 Músculo bíceps

Fonte: (auladeanatomia.com)

2.5.4 Músculo Tríceps

O Tríceps é o músculo responsável pela extensão do antebraço.

Ele está ligado ao osso ulna.

Figura 9 MúsculoTríceps

Fonte: (auladeanatomia.com)

Page 25: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

23

2.5.5 Músculo pronador Quadrado

O Pronador quadrado localiza-se na altura do punho, na quarta camada

muscular do antebraço.

É o principal responsável pela movimentação de pulso nos baixos D´Alberti,

muito presentes nas obras pianísticas do período clássico.

Figura 10 Músculo pronador quadrado

Fonte: (auladeanatomia.com)

2.5.6 Músculo supinador Curto

Antagoniza o movimento de pronação, é o músculo responsável por trazer o

osso rádio para sua posição natural.

O músculo responsável pelo movimento de supinação do rádio é o Supinador

Curto.

Pode-se identificar a ação do supinador quando se executa um arpejo muito

rapidamente ao piano.

O impulso do arpejo faz com que o supinador conduza o apoio do movimento,

direcionando-o para o dedo mínimo.

Page 26: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

24

Figura 11 Músculo supinador curto

Fonte: (auladeanatomia.com)

2.5.7 Ligamentos

Tecidos fibroso especializados, que conectam as extremidades ósseas e

estabilizam as articulações.

Figura 12 Ligamentos

Fonte: (umm.edu)

2.5.8 Articulação

Articulação: junção móvel entre dois ossos.

Também conhecida como junta ou juntura.

Page 27: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

25

Figura 13 Articulação

Fonte: (sobiologia.com.br)

2.5.9 Flexores

Os flexores radial e ulnar do carpo têm sua origem no epicôndilo medial e

percorrem todo o antebraço conectando-se aos ossos do pulso (carpos e

metacarpos).

O nome destes músculos é dado em função do caminho que percorrem

desde a sua origem até os ossos do pulso. Tem a função de flexionar os dedos no

movimento semelhante ao fechar da mão, ou seja, no movimento para trás e para

baixo.

Figura 14 Flexores

Fonte: (Google.com.br)

Page 28: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

26

2.5.10 Extensores

Os extensores radial e ulnar do carpo, como todos os músculos extensores

dos dedos, têm sua origem no epicôndilo lateral, ligando-se aos ossos do pulso

(carpos e metacarpos) na região dorsal da mão. Tem a função de estender os dedos

no movimento de abrir a mão, ou seja, para frente e para cima.

Figura 15 Extensores

Fonte: (Google.com.br)

2.5.11 Flexores Profundos dos dedos

Os flexores profundos dos dedos têm sua origem, aproximadamente, na

metade do osso ulna, no antebraço, e fixam-se na última falange dos dedos, a distal.

A função destes músculos é a flexão da última articulação dos dedos.

Figura 16 Flexores profundos dos dedos

Fonte: (Google.com.br)

2.5.12 Flexores Superficiais dos Dedos

Page 29: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

27

Os flexores superficiais são responsáveis pela flexão dos dedos na altura das

falanges medial e proximal.

Os flexores superficiais originam-se de dois locais diferentes do antebraço:

um, partindo do epicôndilo medial do úmero, e outra, partindo do rádio.

Figura 17 Flexores superficiais dos dedos

Fonte: (Google.com.br)

2.5.13 Extensores Comuns dos Dedos

Os músculos extensores comuns dos dedos prendem-se na primeira

articulação dos dedos, e acabam dividindo-se em expansões, a fim de fixarem-se em

cada uma das falanges.

Além de prenderem-se às falanges, os tendões dos extensores estão

interligados um a um, sendo, por isso, denominados de extensores comuns dos

dedos.

Figura 18 Extensores comuns dos dedos

Fonte: (parkwayphysiotherapy.ca)

2.6 LESÕES COMUNS EM MÚSICOS

Page 30: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

28

2.6.1 Tendinite

As tendinites envolvem processos inflamatórios a nível desses tendões.

Essas inflamações manifestam-se com mais frequência nos músculos flexores dos

dedos, podendo ocorrer nos tendões da palma da mão, que estão envolvidos pela

fácia palma.

Geralmente, dois fatores são responsáveis pelas tendinites:

Movimentação dos dedos por longo tempo, e período de repouso insuficiente.

Figura 19 Tendinite

Fonte: (parkwayphysiotherapy.ca)

2.6.2 Tenossinovite

Cada tendão possui uma espécie de “bainha” que o reveste.

Essa bainha, chamada de sinovia, exerce a função de proteção ao músculo e

seus tendões, e manter as estruturas musculares unidas.

Uma inflamação gerada por esforço repetitivo pode afetar somente as bainhas

dos tendões.

Por isso tenossinovite: (tenos = tendões; sinovia = tecido que reveste os

tendões).

Page 31: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

29

Figura 20 Tenossinovite

Fonte: (parkwayphysiotherapy.ca)

2.6.3 Síndrome de Quervein

A Síndrome de Quervein tem sido uma das principais lesões por esforço

repetitivo identificada em pianistas.

Essa síndrome ataca um dos principais dedos visados pela técnica pianística:

o polegar.

A Síndrome de Quervein consiste na inflamação dos tendões da base do

polegar, mais precisamente na região do pulso.

Um dos principais fatores causadores deste tipo de lesão é o ato de fazer

força torcendo o pulso.

Page 32: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

30

Figura 21 Síndrome de Quervein

Fonte: (parkwayphysiotherapy.ca)

2.6.4 Síndrome do Túnel do Carpo

Carpos são os primeiros ossos da mão. Dois desses pequenos ossos

possuem pequenas saliências que acabam por formar um pequeno túnel por onde

passa todos os tendões flexores da mão, dos dedos, e o nervo mediano.

A Síndrome do Túnel do Carpo nada mais é do que a compressão do nervo

mediano devido à inflamação dos tendões nessa região.

Figura 22 Síndrome do túnel do carpo

Fonte: (parkwayphysiotherapy.ca)

Page 33: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

31

2.6.5 Epicondilite Lateral

A lesão mais comum em pianistas, em nível de cotovelo, é a epicondilite

lateral. Essa lesão é conhecida também como Tênis Elbow ou lesão do tenista.

Uma vez sabido que os músculos extensores estão inseridos no epicôndilo

lateral, fica claro o motivo dessa lesão quando ocorre em obras de passagens

difíceis e andamentos rápidos.

Figura 23 Epicondilite lateral

Fonte: (physio-terapia.blogspot.com)

2.6.6 Cisto Sinovial

O Cisto Sinovial consiste na calcificação do líquido sinovial, que separa os

ossos das articulações, para que não se atritem.

Quando há muita movimentação em postura inadequada e com excesso de

esforço, esse líquido é produzido em grande quantidade.

Como o organismo não o absorve, calcifica-o, dificultando os movimentos.

Figura 24 Cisto sinovial

Fonte: (pt.wikipedia.org)

Page 34: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

32

2.6.7 Cervicalgia

Cervicalgia, pode ser decorrente, de desordem mecânica, fatores posturais e

ergonômicos ou ao excesso de sobrecarga dos membros superiores.

A dor cervical resulta em perda na produtividade e caracteriza-se por dor

cervical com irradiação para os membros superiores.

Figura 25 Cervicalgia

Fonte: (fisioterapia.com)

2.6.8 Lombalgia

Lombalgia, popularmente conhecida como dor lombar, dor nas costas ou dor

na coluna, é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o

principal problema de saúde funcional nos países ocidentais industrializados.

Lombalgia não diferencia idade e atinge desde adolescentes a idosos, e é uma das

principais causas da deficiência na população ativa adulta e uma das principais

causas de faltas ao trabalho, elevando o índice de absenteísmos.

Figura 26 Lombalgia

Fonte: (osteopatiasaude.webnode.com.br)

Page 35: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

33

2.6.9 Hipercifose

Hipercifose, típica da adolescência e de pessoas introspectivas, ocorre

porque a postura incorreta causa uma curvatura acentuada na coluna, deixando o

indivíduo com os ombros projetados para frente e o dorso arredondado.

O indivíduo com hipercifose possui um arqueamento das costas, que surge

gradativamente, com ou sem dor, fadiga, sensibilidade e rigidez da coluna vertebral.

A hipercifose torna os músculos da região torácica fortes e curtos, o que

ocasiona o surgimento da corcunda, fato que poder ser agravado pelo uso de

instrumentos pesados ou que exijam uma postura inadequada.

Figura 27 Hipercifose

Fonte: (fotosearch.com)

Page 36: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

34

3 PREVENÇÃO

Para evitar que os músicos percebam os sintomas das lesões somente após

estarem instaladas é necessário o desenvolvimento de uma consciência corporal,

através de leituras e informações tanto a nível acadêmico quanto a nível profissional,

Costa (2005) alerta que os músicos constituem um dos principais grupos de risco de

adoecimento ocupacional.

O planejamento dos horários de estudo, tanto em termos de quantidade e

qualidade precisa ser mesclado com compensações de descanso e pausa, embora

seja difícil, pois cada apresentação é antecedida por várias horas de ensaio e

estudo, o músico deve se organizar para não ter uma sobrecarga de trabalho sem

descanso, Gonik (1991) afirma a necessidade de instituir pausas para repouso a

cada 25 minutos de prática musical.

A execução de exercícios específicos para os grupos musculares que irão

usar seria uma excelente oportunidade de preparação e aquecimento, podendo ser

trabalhado antes e depois da atividade a ser executada.

Os exercícios de alongamento mais indicados são: alongamento da

musculatura do pescoço; rolagem e elevação dos ombros; alongamentos dos

ombros; rotação dos punhos; alongamentos dos extensores e flexores; alongamento

da região lombar, considerando que no aquecimento há um aumento da circulação

sangüínea no interior dos tecidos principalmente, pela abertura e dilatação dos

capilares na região da musculatura trabalhada. Além disso, proporciona melhor

abastecimento de oxigênio e substratos, e há um aumento da atividade enzimática,

otimizando assim a musculatura para apresentar um desempenho metabólico

máximo, pois a temperatura ideal, todas as reações fisiológicas decisivas para a

capacidade de desempenho motor transcorrem de maneira mais eficiente e

ajustada, tanto a musculatura quanto os tendões e ligamentos se tornam mais

elásticos, afastando a ocorrência de eventuais lesões. (WENEIK 1999).

Devido à complexidade da atividade e execução musical, e por haver

segundo Sheldon (BEAN 1999), classificação de três tipos de corpos básicos como:

mesomórficos; endomórficos; ectomórficos, a prescrição correta da atividade física

sem uma prévia avaliação física (neuromuscular, aeróbia e flexibilidade) fica

comprometida, uma vez que o principio básico da prescrição do treinamento

desportivo é o respeito aos limites biológicos individuais e a especificidade do

Page 37: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

35

treinamento, ou seja, no caso do músico o mais indicado seria uma preparação física

funcional voltada para a atividade e instrumento que o músico executa na maior

parte do tempo, em sua atividade profissional, sendo esse grupamento muscular

preparado o mais próximo da sua atividade para suportar tal carga.

De forma geral, tanto para os músicos instrumentistas de cordas, percussão,

sopros, teclas e cantores, é indiscutível que o treinamento de força (popularmente

conhecido como musculação), junto com o trabalho aeróbio primeiramente

trabalhando a resistência muscular, traria benefícios à saúde, condicionamento físico

aos músicos de todas as idades e ambos os sexos, melhorando também a aparência

física e a simetria.

É importante saber que a metodologia do treinamento de força mais

adequado para o músico seria com ênfase na fase excêntrica do movimento, ou

seja, na fase que o músculo se alonga, promovendo um grau maior de flexibilidade e

amplitude desejável para a plasticidade e execução dos movimentos.

As justificativas, primeiramente do treinamento de força, baseia-se em:

1. Na estimulação de novas proteínas musculares actina e miosina,

responsáveis pela formação de novas fibras musculares.

2. Melhora da estabilidade das articulações através do aumento de força

dos tendões e dos ligamentos. Durante o treinamento de força a tensão é transferida

aos tendões e ligamentos, aumentando a produção das proteínas de colágeno,

aumento sua força estrutural.

3. Prevenção da perda de massa muscular e de força causada pelo

processo de envelhecimento.

4. Melhora da força dos ossos e aumento das osteosproteínas e minerais

contido nos ossos.

5. Aumento da taxa metabólica basal em repouso, sendo essa a energia

necessária para a manutenção dos tecidos e das funções essenciais, fazendo com

que mais calorias sejam gastas durante o dia.

6. Aumento da suscetibilidade à glicose devido as mudanças na

composição corporal, principalmente no aumento de mitocôndrias, favoráveis no

aumento da capacidade aeróbia.

7. Redução da pressão sanguínea sistólica e diastólica.

8. Redução e melhoria da quantidade de colesterol e triglicérides no

sangue.

Page 38: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

36

9. Melhora da postura e do equilíbrio em virtude do aumento do tônus

muscular, da força e flexibilidade bem como a correção de falhas especificas.

10. Resistência contra lesões devido ao fortalecimento do sistema

músculo-esquelético.

11. Melhora do bem estar psicológico ajudando a reduzir o estresse,

ansiedade e a depressão, melhora do humor e auxilia no relaxamento.

Devido a falta de orientação na área de prescrição do exercício e a grande

dificuldade de se encontrar profissionais de formação especializada, há uma

tendência em segmentar as atividades físicas, isolando ou ignorando o treinamento

de força das atividades aeróbias. Segundo BEAN os benefícios do treinamento

aeróbio são:

1. Redução da gordura corporal

2. Aumento da capacidade do corpo em queimar gorduras durante o

exercício e no período de descanso.

3. Melhora da composição corporal.

4. Melhora do bem estar cardiovascular (estaminas)

5. Redução do estresse e a ansiedade

6. Melhora da confiança, autoestima e do humor.

7. Redução da pressão sanguínea, colesterol e o risco de problemas

cardíacos.

8. Aumento do plasma sanguíneo.

9. Aumento dos capilares sanguíneos

10. Aumento do condicionamento cardio-pulmonar.

É importante esclarecer que o termo aeróbio significa com oxigênio, fato que

acontece na maioria das atividades diárias e comuns a todos como andar, sentar,

dormir, onde do oxigênio provem a energia.

As atividades anaeróbias ocorrem sem oxigênio, sendo a energia gerada de

uma mistura de fosfocreatina, glicose e glicogênio, onde as atividades curtas, mas

de altas intensidades ocorrem, lembrando que as gorduras não são decompostas na

ausência de oxigênio.

Page 39: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

37

4 CONSIDERAÇÕES

Ao aprofundar nas características pessoais e profissionais é inevitável traçar

um paralelo entre os músicos e os atletas profissionais, não sendo levado em conta

nenhuma coincidência ou fato empírico, uma vez que as características físicas e

funcionais delimitam ao mesmo tempo em que os especializam em determinada

função ou instrumento, pois cada esporte exige características corporais padrões

para um bom desempenho, ao passo que cada instrumento também exige uma

adequação física motora, ergonômica e técnica.

Ambos os casos, são inseridos cada vez mais jovens aos estudos musicais e

aos treinamentos desportivos, acreditando que a precocidade da habilidade

especifica os prepara um futuro seguro brilhante, porém assim como já visto por

Brito et al (1992) junto com essa precocidade também vem a LER/DORT

associadas a própria prática e dedicação desses profissionais sendo importante

ressaltar que os dois profissionais realizam esforço físico e repetitivo intenso durante

a execução de suas atividades ao longo de seus estudos e preparação, porém os

esportistas profissionais recebem um acompanhamento médico especializado e

preparação do sistema músculo-esquelético, e o músico ainda nem possui uma

equipe multidisciplinar preparada para diagnosticar ou dar um tratamento digno

especifico e eficaz.

Vários autores ressaltam a necessidade da prevenção iniciar nos primeiros

anos de educação musical com a participação tanto dos alunos como professores,

pois neste período ocorre intensa demanda músculo-esquelética para aprendizagem

da técnica (Costa 2005).

Costa e Abrahão (2004), afirmam ainda que: A procura pedagógica pela

formação de músicos em idade cada vez mais tenra, buscando o virtuosismo através

da imposição de jornada de estudos exaustiva e estressante, também favorece o

aparecimento da dor. A transmissão de uma técnica inadequada pelo professor ao

aluno, sem considerar as diferenças de fisiologia, pode acarretar a ocorrência de

tensão muscular ineficaz ou inútil, movimentos e pressões excessivos.

De acordo com Costa (2005), os músicos são considerados um dos principais

grupos de risco em relação às doenças ocupacionais. Vários autores têm

demonstrado preocupações com os estudantes de música e apontado à

Page 40: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

38

necessidade de pesquisar os fatores envolvidos no desempenho musical e de iniciar

com prevenção durante a formação.

Bean (1999), alerta que os adultos perdem de 2,26 a 3,17kg de músculos a

cada década, acarretando atrofia muscular primeiramente nas fibras musculares

responsáveis pelos movimentos mais rápidos e bruscos (de maior força), e somente

com o treinamento de força podemos manter a massa muscular durante o processo

de envelhecimento, processo esse que além de acelerar os sintomas da LER/DORT,

acabam limitando o músico, criando um triste paralelo, ou seja, quanto mais técnico

e experiente o músico se torna mais fraco seu corpo se torna.

Por essa razão treinamento de força, visando principalmente os grupos

musculares mais usados em sua atividade musical e os músculos da parte posterior

do corpo, tais como; ísquio tibiais e panturrilhas, da parte superior das costas e

lombar são essenciais, juntamente com o abdômen garantem uma boa postura e ou

a redução ausência de possíveis dores.

Page 41: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

39

5 CONCLUSÃO

Conclui-se que a profissão músico é formada por várias habilidades físico-

pisicológicas, habilidades especificas, tanto cognitivas quanto motoras e que a falta

de atividade física favorecem um corpo enfraquecido para o desempenho saudável

da atividade e ou profissão músico, tanto na sua manutenção quanto em sua

longevidade.

A iniciação musical cada vez mais precoce esconde um outro problema, a

ausência de uma orientação profissional ou por parte do próprio professor de música

ao seu aluno, agravando a falta de consciência corporal, levando o músico a não

perceber o quanto determinada postura ou excesso de horas de estudo e prática de

instrumento, pode induzir uma lesão muscular crônica em determinada região

muscular, limitando ou impedindo o desempenho físico necessário.

A falta de informação nas escolas de música, universidades, centro de

formações de professores, favorecerem o desinteresse do músico por uma vida

profissional mais saudável, sendo necessário repensar sobre uma forma mais eficaz

de planejar formas de estudo, técnicas de aprendizado e maior conhecimento sobre

princípios de ergonomia, permitindo novas técnicas e adaptações para os

instrumentos musicais.

Conclui-se a necessidade pleitear junto aos grandes centros acadêmicos,

planos de saúde, sindicatos a criação de uma equipe multidisciplinar de saúde

voltada para o atendimento exclusivo do músico, suas necessidades funcionais

atuando tanto na prevenção quanto no tratamento de lesões e patologias, uma vez

que os primeiros centros de pesquisa e atendimentos voltados à saúde dos músicos

foram inaugurados na década de 90.

A importância vital da atividade física na prevenção de lesões e na melhoria

da saúde do músico, nesse cenário médico brasileiro atual, sem os devidos

profissionais capacitados e especializados, acaba sendo o fator mais seguro, viável

e estável para a formação tanto do músico quanto do professor de música, para uma

carreira saudável, equilibrada, sem interrupções ou afastamentos médicos, tendo

seu nível de produção o mais longo possível.

É preciso lembrar que o músico só adquire determinadas técnicas através de

muitos anos de estudo e práticas especificas que exigem dedicação e muitos

movimentos repetitivos, movimentos estes criados por outras pessoas com outras

Page 42: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

40

características, em outros contextos sociais e culturais, sendo de suma importância,

que o músico reconheça que determinados movimentos requerem necessidades

muitas vezes adaptações ou recriações para se adequarem ao seu biotipo,

instrumento e a região geográfica onde vive, ou seja, se adequar as influências

externas da temperatura ambiente.

Quanto mais o músico for condicionado aerobicamente menor vai ser seu

percentual de gordura, menos sobrecarga seu sistema músculo esquelético terá, o

aumento significativo de sua capacidade cardio respiratório e a estabilização da

perda de massa muscular através do treinamento de força, mais fisicamente e

psicologicamente se sentirá para continuar a profissão de músico.

Page 43: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

41

REFERÊNCIAS

BIBLÍA. Português. A Bíblia Sagrada, tradução de João Ferreira de Almeida, São Paulo; Sociedade Bíblica do Brasil, 2.ed, 1993. AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. Prova de esforço & prescrição de Exercicio, tradução de Adaurir Bueno de Camargo, Arlete Rita Siniscalchi Rigon e Ricardo Munir Nahas. Rio de Janeiro; Revinter ltda, 1994. ÀSTRAND, Per-olof. Tratado de fisiologia do trabalho: bases fisiológicas do exercicio de Barrow e Mcgee, tradução de Márcia Greguol. Porto Alegre; Artmed, 2006. BARATA, Germana. Doenças ocupacionais afetam saúde dos músicos. Ciência e cultura. v. 1, p. 13, 2002. BEAN, Anita. O guia completo de treinamento de força, São Paulo; Manole, 1999. BEJJANI, F. J; KAYE G. M; BENHAM M. Musculoskeletal and neuromuscular conditions of instrumental musicians. Archives of Physical Medicine Rehabilitation, Philadelphia, n. 77, p. 406-413, 1996. BRASIL. Instrução Normativa INSS/DC Nº 98 de 05 de dezembro de 2003. Diário Oficial da União. Poder executivo, Brasília, DF, 10 dez 2003. BRITO, Alice da Costa; et. al. E. Lesões por esforços repetitivos e outros acometimentos reumáticos em músicos profissionais. Rev Bras de Reumatol, v. 32, n. 2, p. 79-83, 1992. BRASIL, CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DE 1988. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.html>. Acesso em: 21 abr. 2012. COSTA, Cristina Porto; ABRAHÃO, Júlia Issy. Quando o tocar dói: um olhar ergonômico sobre o fazer musical. Per Musi, Belo Horizonte, n. 10, p. 60-79, 2004. COSTA, Cristina Porto. Contribuições da ergonomia à saúde do músico: considerações sobre a dimensão física do fazer musical. Música Hodie. Goiânia: UFG, v. 5, n. 2, p. 53-63, 2005.

Page 44: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

42

FONTERRADA, Marisa Trech de Oliveira. De tramas e fios: um ensaio sobre música e educação. São Paulo: Editora UNESP, 2005 FRAGELLI, Gustavo Azevedo Carvalho; PINHO, Diana Lúcia Moura. Lesões em músicos: quando a dor supera a arte. Rev Neurocienc 2008;16/4:303-309. FRY, H. J. H. The prevalence of overuse (injury) syndrome in Australian music schools. Br Med J, 44: 35-40, 1987. GONIK, Renato. Afecções Neurológicas Ocupacionais dos Músicos. Rev Bras Neurol, v. 27, n. 1, p. 9-12, 1991. LUCAS, Ricardo Wallace das Chagas. Fisioterapia nas LER/DORT. Curitiba: Ed. digital. 2002. 102p. MOURA, Rita de Cássia dos Reis, FONTES, Sissy Veloso; FUKUJIMA, Márcia Maiumi. Doenças ocupacionais em músicos: uma abordagem fisioterapêutica. Neurociência. UNIFESP: São Paulo, v. 8, n. 3, p. 103- 107, 2000. OLIVEIRA, Camila Frabetti Campos de; VEZZA, Flora Maria Gomide. Saúde dos músicos: dor na prática profissional de músicos de orquestra no ABCD paulista. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 35, n. 121, p. 33-40, 2010. OMS, Organização Mundial de Saúde. Disponível em: <www.http://portal .mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro092. pdf>. Acesso em 13 out. 2011. PARDINI, Arlindo Gomes Jr. Lesões por Esforços repetitivos. In: PARDINI, Arlindo Gomes Jr. Traumatismos da Mão. 3. ed. São Paulo: MEDSI, 2000. p. 163-176. PEDERIVA, Patrícia Lima Martins; GALVÃO, Afonso. A construção e vivência do corpo na performance musical. Performance Online. Brasília, v. 1, n. 1, p. 1-16, 2005. PEREIRA, C.(2002) Música sem dor. Disponível em: <http://www.cpqam.fiocruz.br/comunicacao/noticia/L1/noticia.htm>. Acesso em: 18 jan. 2011. PETRUS, Ângela Márcia Ferreira; ECHTERNACHT, Eliza Helena de Oliveira. Dois Violinistas e uma Orquestra: Diversidade Operatória e Desgaste Músculo-Esquelético. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, v. 29, n. 109, p. 31-36, 2004.

Page 45: Gonçalves, júlio césar. monografia música.

43

RANEY, Don. Distúrbios Osteomusculares relacionados ao trabalho. SP, ROCA, 2000. RAY, Sônia; MARQUES, Xandra Andreola. O alongamento muscular no cotidiano do performer musical: estudos, conceitos e aplicações. Música Hodie. v. 5, n. 1. Goiânia: UFG, 2005, p. 21-34. Disponível em: <http://www.anppom.com.br/anais>. Acesso em: 10 mai. 2012. SIEMON, B.; BORISCH, N. Problems of the musculoskeletal system in amateur orchestra musicians under special consideration of the hand and wrist. Handchirurgie Mikrochirurgie Plastishe Chirurgie, Stuttgart, v. 34, n. 2, p. 89-94, mar., 2002. SILVA, Érika Andrade. A aplicação de recursos da educação musical em musicoterapia. Curso pós-graduação em musicoterapia: UNAERP, Ribeirão Preto, 2009. WEINECK, Jürgen. Treinamento total, Tradução de Beatriz Maria Romano Carvalho, São Paulo; Manole;1999.