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    Carreiras sem Fronteiras: Investigando a Carreira do Professor Universitrio em

    Administrao de Empresas no Brasil

    Autoria: Beatriz Maria Braga Lacombe, Rebeca Alves Chu

    ResumoAs transformaes na gesto das organizaes e nas relaes estabelecidas entre

    empresas e pessoas reforaram a importncia do debate e da pesquisa sobre a carreira no meio

    acadmico nas ltimas dcadas. Alguns conceitos e modelos carreira sem fronteiras,proteana e caleidoscpica, por exemplo vm sendo propostos para o melhor entendimento edesenvolvimento das carreiras no momento atual. A reviso da literatura mostra que aaplicabilidade desses modelos no contexto brasileiro ainda no foi suficientemente explorada.Este trabalho relata uma pesquisa que buscou investigar um tipo especfico de carreira, acarreira do professor universitrio, um dos tipos sugeridos como sendo propcio aodesenvolvimento de carreiras sem fronteiras. O objetivo geral da pesquisa foi investigar aocorrncia e as condies facilitadoras e dificultadoras da construo da carreira sem

    fronteiras entre os professores universitrios em Administrao de Empresas no Brasil. Osresultados indicam que muitos dos entrevistados esto desenvolvendo carreiras sem fronteiras,mas sugerem que as possibilidades de construo desse tipo de carreira podem ter restries.Introduo

    As transformaes na gesto das organizaes e nas relaes estabelecidas entreempresas e pessoas reforaram a importncia do debate e da pesquisa sobre a carreira no meioacadmico nas ltimas dcadas. Inmeros so os autores que vm pesquisando a carreira emsuas diversas dimenses. Alguns autores, como Chanlat (1995), Evans (1996), Defillipi eArthur (1994), e Dutra, (2004), do maior nfase ao estudo da dimenso objetiva da carreira,ou seja, os novos modelos e desenhos para a carreira nas organizaes e as formas degerenciamento dessas carreiras por parte das empresas.

    Outros autores concentram esforos no estudo da dimenso subjetiva da carreira, ouseja, buscam entender, sob a perspectiva das pessoas, as percepes, expectativas, modos deagir e os impactos causados pelas novas formas de gerenciamento da carreira nasorganizaes. Alguns desses, como Defillipi e Arhtur (1994) e Hall (1996), propem

    conceitos para a orientao do desenvolvimento das carreiras. Para Defillipi e Arthur (1994),as pessoas se beneficiaro se desenvolverem carreiras sem fronteiras, conceito que sugere aindependncia e autonomia da carreira em relao a uma nica organizao. Hall (1996)sugere o conceito da carreira proteana, em que a pessoa passa a gerenciar a sua prpriacarreira. Mainiero e Sullivan (2005) falam da carreira caleidoscpica, como modeloexplicativo da carreira para a mulher, um modelo relacional, em que a tomada de deciso leva

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    A reviso dessa literatura mostra que a produo acadmica sobre a carreira est em

    uma fase exploratria, em que diversos conceitos e modelos esto sendo propostos e testadosem pesquisa emprica. Embora possam divergir nas perspectivas adotadas, esses modelos tmcomo ponto de partida a mudana na gesto das organizaes que (i) demanda mudanas nomodelo anteriormente estabelecido da carreira vertical e hierrquica; (ii) traz grande dose deincerteza para a relao empresa e pessoa e (iii) coloca nfase na necessidade da pessoa seapropriar do desenvolvimento de sua carreira. Na medida em que procuram entender melhoros processos envolvidos na construo das carreiras no momento atual, um aprofundamento

    do conhecimento desses modelos e sua aplicabilidade necessrio para que empresas epessoas possam desenvolver relaes que sejam mutuamente satisfatrias.Um desses modelos vem ganhando especial visibilidade na literatura norte-americana

    o conceito da carreira sem fronteiras (ver Journal of Organizational Behavior, 1994 e Arthure Rousseau, 2001). A proposta da carreira sem fronteiras interessante porque, ao trabalharcom reas de competncia, procura integrar as perspectivas organizacional e individual dodesenvolvimento das carreiras, como ser visto mais adiante neste trabalho. Esse modelo, noentanto, ainda no foi pesquisado de maneira sistematizada para o contexto brasileiro, ou seja,

    ainda no se procurou investigar a sua ocorrncia, os fatores facilitadores e dificultadores eos impactos da sua aplicao no nosso contexto.

    Este trabalho procura ser um primeiro passo nesse sentido. Para tanto, foi realizadauma pesquisa com 19 professores universitrios brasileiros. Os resultados obtidos sorelatados e discutidos tendo em vista o desenvolvimento do conceito da carreira semfronteiras e sua aplicabilidade ao contexto organizacional brasileiro. Antes, porm, feitauma reviso da literatura sobre o conceito da carreira, com nfase especial dada ao conceitoda carreira sem fronteiras.As carreiras nas organizaes

    Conforme assinala Chanlat (1995), a noo de carreira prpria do capitalismo. Nofeudalismo, a diviso social era estanque e a mobilidade social era sujeita vontade domonarca. J no capitalismo, as idias de igualdade, liberdade, de xito individual e progressoeconmico e social se unem, tornando possvel a mobilidade social, que passa a depender,exclusivamente, do esforo individual. O autor distingue dois modelos bsicos de carreira nassociedades industrializadas. O modelo tradicional, dominante at hoje, e o moderno, que

    emerge a partir dos anos 70 como resposta s profundas modificaes sociais destas ltimasdcadas - a entrada macia das mulheres no mercado de trabalho, a globalizao da economiae a flexibilizao do mercado de trabalho, entre outros.

    Em relao s mudanas nas organizaes que contriburam para o modelo modernoda carreira, Mirvis e Hall (1994) situam no final da dcada de 60 o surgimento de arranjostemporrios, recomendados pela literatura e adotados pelas organizaes com a finalidade de

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    formatos organizacionais levam construo de carreiras muito diversas daquelas que podiam

    ser observadas na organizao tcnico-cientfica. nesse contexto que surge o conceito da carreira sem fronteiras.

    Desenvolvendo carreiras sem fronteiras no contexto organizacional: as competncias de

    carreiraA carreira sem fronteiras tem sido proposta como modelo para a relao das pessoas

    com a organizao no contexto atual de grande competitividade e conseqente necessidade deagilidade e flexibilidade (Arthur, 1994; Defillipi e Arthur, 1994) e prev o desenvolvimentode uma relao independente e transacional entre organizao e indivduo, em que trabalho trocado por uma remunerao estipulada e em que cabe s pessoas a responsabilidade pelodesenvolvimento do conhecimento e das habilidades necessrias para a movimentao

    profissional (Defillipi e Arthur, 1994).A carreira sem fronteiras compreende vrios tipos de carreiras desenvolvidas em

    diversos cenrios como: a carreira que atravessa as fronteiras entre organizaes, como comum no Vale do Silcio; a carreira que extrai validade ou negociabilidade fora do atualempregador, como o caso da carreira acadmica; a carreira que se sustenta em redes de

    relacionamento ou informao que esto fora da organizao, como a do corretor de imveis;ou ainda a carreira em que a pessoa escolhe passar um tempo dedicando-se famlia oureciclando-se. Este tipo de carreira demanda a apropriao pelo indivduo do planejamento edesenvolvimento de sua carreira e, para tanto, necessrio investir em competncias como oknow-how (o conhecimento, a tcnica), o know-why (as motivaes para o exerccio dotrabalho) e o know-whom(a rede de relacionamento).

    Ilustrando e aprofundando o conceito da carreira sem fronteiras, Jones (2001) faz umestudo com pessoas que trabalham na indstria de produo cinematogrfica. A indstriacinematogrfica se caracteriza pela produo em projetos, em que as pessoas so chamadas a

    participar, ou seja, o trabalho , em geral, temporrio e por tempo determinado. A autorarelata como esses trabalhadores precisam, em primeiro lugar, ter grande fora dedeterminao e conhecer as pessoas certas para poder entrar em um projeto; a partir da,

    precisam provar a qualidade do seu trabalho para continuar a serem chamadas para projetosfuturos; e como precisam construir e manter a sua reputao para o desenvolvimento da suacarreira.

    O conceito da carreira sem fronteiras tem como ponto de partida o trabalho de Quinn(1992), que enfatiza o desenvolvimento de competncias e do aprendizado como fatoresessenciais competitividade e toma como premissa a suposio de que as competnciasindividuais formam a base da competncia organizacional. Dessa maneira, Defillipi e Arthur(1994) definem trs reas de competncias de carreira a serem desenvolvidas pelosindivduos, que se refletiro no desempenho e na competitividade da organizao:

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    ao indivduo, uma vez que as relaes de trabalho estabelecidas so muito mais do tipo

    transacional, ou seja, uma relao definida em termos de uma troca eqitativa (como, porexemplo, uma determinada remunerao por um determinado trabalho executado), do que dotipo relacional, onde se estabelece uma relao sem prazo definido em que as trocas incluem,alm da remunerao e do trabalho, sentimentos como lealdade, apoio, recompensas decarreira, etc (Mirvis e Hall, 1994).

    Dessa maneira, a identificao com a organizao tem sua importncia reduzida e aspessoas so encorajadas a se identificar com o prprio trabalho, com a ocupao ou mesmocom outros aspectos da vida julgados relevantes, como a famlia ou o trabalho comunitrio.Defillipi e Arthur (1994) sugerem, no entanto, que o compartilhamento de valores e aidentificao com a organizao podero variar de acordo com a posio do empregado:espera-se maior comprometimento e identificao dos empregados do ncleo, enquanto queos demais so encorajados a desenvolver identidades e valores que se aproximam mais dafigura do empreendedor ou do profissional autnomo.

    Em relao ao know-howe know-whom, Defillipi e Arthur (1994) colocam que ...oscontextos organizacionais emergentes demandam mudana contnua nas habilidades e

    conhecimentos das pessoas...atravs de fornecedores, clientes ou outros arranjos inter-organizaes. A respeito do know-whom...as expectativas sobre a coleta de informao e asrelaes de troca esto expondo as pessoas a novas oportunidades de carreira (Defillipi eArthur, 1994, p. 312). Esse trecho procura mostrar que, para desenvolver carreiras semfronteiras, as pessoas precisam buscar expandir o seu conhecimento e habilidades, bem comoa sua rede de relacionamento para alm das fronteiras de uma nica organizao, o que poder

    proporcionar mais oportunidades de desenvolvimento de carreira.O desenvolvimento de carreiras sem fronteiras, portanto, pode ser benfico tanto para

    as pessoas, que tero maior independncia em relao relao de emprego, como para aorganizao, que se tambm se beneficiar da expanso do conhecimento e da rede derelacionamento trazidos pelos seus colaboradores. Nesse sentido, ao delimitar as reas decompetncia de carreira e as condies para o seu desenvolvimento nas organizaes, oconceito da carreira sem fronteiras acaba por integrar as perspectivas organizacional eindividual.

    O modelo da carreira sem fronteiras tambm vem sendo alvo de crticas. A perda da

    estabilidade e da segurana financeira, com conseqncias para a sade psicolgica dotrabalhador, tem sido a principal preocupao apontada na literatura sobre o assunto (Mirvis eHall, 1994). Baker e Aldrich (2001) apontam que o conceito poder ser melhor aplicado evivenciado por alguns grupos de pessoas: os jovens, que ainda no experimentaram a carreirado modelo tradicional, por exemplo, tero mais facilidade em desenvolver carreiras semfronteiras; empregados do ncleo das organizaes, por ocuparem posies privilegiadas,

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    A pesquisa

    A pesquisa investigou um tipo especfico de carreira - a carreira do professoruniversitrio, um dos tipos sugeridos por Arthur (1994) como sendo propcio aodesenvolvimento de carreiras sem fronteiras. O objetivo geral da pesquisa foi investigar acarreira sem fronteiras no contexto brasileiro. Para tanto, foram definidos os seguintesobjetivo especficos:

    - investigar a ocorrncia da carreira sem fronteiras entre os professoresuniversitrios ;

    - identificar os fatores promotores (facilitadores) e dificultadores da construo decarreiras sem fronteiras

    Espera-se que os dados obtidos com a pesquisa possam no apenas verificar aocorrncia desse conceito de carreira no contexto brasileiro, mas tambm que possam auxiliara delimitar a sua amplitude de aplicao.O contexto para o desenvolvimento da carreira do professor universitrio no Brasil

    O contexto para o desenvolvimento da carreira do professor universitrio no Brasilpode ser muito diferente de outras empresas e, portanto, faz-se necessria uma breve

    descrio dessas caractersticas diferenciadoras. Em primeiro lugar, o contrato estabelecidocom a instituio de ensino prev diferentes tipos de vnculos entre professor e escola. Pode-se dizer que h, em geral, dois tipos diferentes de vnculo os professores contratados emtempo integral (ou dedicao exclusiva) e os de tempo parcial (ou dedicao parcial). claroque h variaes quanto s condies de trabalho e exigncias feitas ao docente em cada tipode vnculo para cada instituio especfica, mas, ainda assim, pode-se reconhecercaractersticas comuns. As informaes sobre os tipos de carreira e mecanismos de progressomais freqentes no Brasil podem ser encontradas nossitesdas Universidades e dos sindicatosdos professores (ver, por exemplo, www.uff.br/uffon/leisdoc/andes8.htm).

    Em linhas gerais, observa-se que os professores contratados em tempo integral tmuma carga horria pr-determinada a cumprir, tm preferncia na escolha das disciplinas ehorrios de aula, tm direito a assumir cargos administrativos e/ou de coordenao, precisamestar disponveis para a escola por um pr-determinado nmero de horas semanais e sofortemente estimulados a participar de atividades de pesquisa. Por outro lado, adquirem umgrau elevado de estabilidade em relao ao emprego, no podem, em geral, lecionar em outras

    instituies e recebem apoio financeiro para participao em eventos cientficos e cursosadicionais que julguem necessrios atualizao ou aquisio de novos conhecimentos.Os professores contratados em tempo parcial, por sua vez, tm menos exigncias a

    cumprir em termos de carga horria, pesquisa e disponibilidade, mas, por outro lado, tambmpodem ser diferenciados no tocante ao apoio recebido, tanto financeiro (recebem menosapoio) como na estabilidade do vnculo contratual. Dentre os docentes em tempo parcial, ao

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    No cabe ao escopo deste trabalho, discutir a adequao ou propriedade de cada tipo

    de vnculo entre docente e instituio. interessante, porm, analisar os tipos de carreiras quepodem ser construdas a partir dos diferentes tipos de contrato e o grau de autonomia que seestabelece entre o docente e a instituio.

    Uma outra informao relevante diz respeito avaliao das escolas, feitaregularmente pelo Ministrio da Educao e Cultura (MEC), rgo do governo federal. AsEscolas so avaliadas em relao a inmeros fatores como instalaes fsicas, titulao e

    produo cientfica do corpo docente e provas de proficincia para o corpo discente. Asescolas recebem notas, que variam de A (a melhor) a E (a pior). Essa classificao acaba setornando um sinalizador da qualidade do ensino praticado e pode reverter em maior ou menor

    prestgio para a instituio. Nesse sentido, escolas com maior nfase dada pesquisa tmmaior chance de ter notas melhores e conseguir atrair um corpo docente tambm com maior

    prestgio.Metodologia da pesquisa

    Trata-se de uma pesquisa de natureza exploratria que tem por objetivo explorarum problema ou situao a fim de se buscar insightse entendimento e qualitativa. Pesquisas

    de natureza qualitativas so descritivas, de carter mais exploratrio, levam em conta ocontexto e buscam um entendimento mais profundo da percepo dos participantes a respeitodo fenmeno estudado (Marshall e Rossman, 1995).

    As informaes foram coletadas por meio de entrevistas semi-estruturadasrealizadas com professores universitrios em escolas de Administrao de Empresas. Aentrevista pareceu ser a tcnica adequada pois permite ao entrevistador estabelecer umaconversa com o entrevistado, em que o entrevistador, mediante um roteiro pr-estabelecido, busca respostas a tpicos que necessitem explicaes mais aprofundadas(Miles e Huberman, 1994).

    Quanto amostra, a escolha dos profissionais entrevistados seguiu algunscritrios julgados relevantes em pesquisas anteriores e mencionados anteriormente nestetexto. So eles: tipo de vnculo estabelecido com a instituio, que pode ser de tempointegral ou tempo parcial; e tempo de carreira profissional. Ademais, considerou-seimportante entrevistar professores de instituies A e no-A, para se avaliar se carreirassem fronteiras podem ocorrer em qualquer tipo de instituio ou se a reputao do

    acadmico (e, portanto, a sua condio de desenvolver carreiras sem fronteiras) estariavinculada da instituio, ponto que, alis, no fica claro na proposio do conceitofeita pelos autores.

    Dessa maneira, procurou-se entrevistar professores de instituies diferentes(com conceito A e no-A), com dedicao integral e parcial e que estavam iniciando (at10 anos) a carreira e mais antigos (com mais de 10 anos) de carreira acadmica.

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    O contedo das entrevistas foi transcrito e analisado luz dos conceitos da anlise de

    contedo, conforme proposta por Bardin (1977). Arksey e Knight (1999) apontam algumastticas teis para a investigao de significado nas anlises qualitativas, como a busca por

    padres, temas e conceitos, a contagem de freqncia para se detectar se algo comum ouraro, a comparao e o contraste das informaes para se observar categorias, a explorao darelao entre variveis e verificar se a anlise pode ser colocada como uma estria plausvel.

    A entrevista seguiu um roteiro pr-estabelecido que procurou investigar a ocorrnciada carreira sem fronteiras. A ocorrncia da carreira sem fronteiras foi verificada a partir dedois parmetros. O primeiro parmetro a autonomia/independncia do desenvolvimento dascompetncias de carreira know-why, know-how e know-whom em relao instituio.Essa autonomia promovida pela maior identificao com o trabalho e a profisso (e menoridentificao com a instituio), pela possibilidade de desenvolvimento autnomo do know-howe pela existncia de uma rede de relacionamento que propicie oportunidades contnuas detrabalho. O segundo parmetro o grau de mobilidade profissional, inferido pelo nmero devnculos com instituies e outras empresas e da percepo da prpria mobilidade.Apresentao dos resultados

    As entrevistas transcorreram em um clima agradvel em que os entrevistadosmostraram-se bastante a vontade para discorrer e refletir sobre suas trajetrias de carreira.Todos os encontros indicaram que os professores entrevistados apreciaram relatar as

    passagens marcantes, os momentos de difceis decises, as conquistas e o dia-a-dia de suasatividades acadmicas e profissionais. O tema da carreira parece ser importante para osentrevistados.

    Para a apresentao dos dados, optou-se pela diviso nos grandes temas includos noroteiro de entrevista, ou seja, as competncias da carreira e suas principais implicaes efatores de influncia. Dessa maneira, o contedo das entrevistas ser apresentado de acordocom as competncias do know-why, know-how e know-whome a mobilidade profissional.

    A competncia do know-whyEssa parte da entrevista buscava avaliar como os entrevistados vem seus motivos,

    interesses, valores e expectativas e os colocam na construo das suas carreiras acadmicas.Alm disso, investigou-se o papel exercido pela instituio de ensino em que trabalham naelaborao desses conceitos em relao carreira.

    interessante notar que muitos iniciaram a carreira acadmica por acaso ou seja,no houve, inicialmente, um planejamento estruturado para a carreira ou como uma segundacarreira, aps um perodo em que trabalharam em empresas. Poucos responderam que acarreira acadmica foi realmente uma escolha desde o incio da vida profissional e que aescolha inicial foi decorrente do gosto por lecionar, estudar ou fazer pesquisa.

    E, embora seja uma segunda carreira, alguns dos entrevistados ainda continuam

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    Os entrevistados demonstraram ter dificuldade em separar o trabalho da instituio

    em que realizado, o que ficou claro quando falaram sobre o que gostam e no gostam emrelao ao trabalho e instituio. Em relao ao que gostam, muitos ofereceram respostasque giravam em torno de gostar de dar aula, ter contato com alunos e outros professores as

    pessoas em geral do meio e de pesquisa. Citaram como pontos positivos a informalidade e ocompanheirismo dos colegas e dos alunos, disseram gostar de orientar e dos vnculos que essaatividade cria com alunos e colegas e do ambiente desafiante, que os obriga a atualizarconhecimentos. Essas respostas tambm apareceram quando falavam da instituio.

    Com relao ao trabalho em si, alguns entrevistados disseram que gostam da falta derotina, da flexibilidade e autonomia inerentes atividade, de poder ser dono da prpriacarreira. Um outro colocou que bom poder fazer todas as funes em um s lugar: gestor,

    professor e pesquisador. Tambm foi ressaltado o vnculo que se pode estabelecer entre otrabalho nas empresas e a sala de aula, ou entre a teoria e a prtica, bem como as vantagens dese fazer esse tipo de associao.

    Em relao ao que no gostam, tambm as respostas mostram a forte ligao entre otrabalho e a instituio. No gostam da parte burocrtica, que toma muito tempo, outro tema

    tambm muito mencionado - a falta de tempo, associada cobrana a que se sentem sujeitosem relao aos diversos tipos de atividades que desempenham. Outros depoimentos mostramo peso do lado poltico:...no gosto do ego das pessoas, pesquisadores no gostam de dividirconhecimento e no gostam de ensinar muitas vezes..., comentou um deles. no gosto dasrelaes polticas, dos interesses polticos que permeiam... e ...o fato de se sobressairincomoda outros professores, h muita competitividade entre os professores, tem que sermuito poltico....eu no gosto...no fao mdia".

    Os entrevistados reconhecem ser difcil separar o trabalho da instituio, como

    mostram as frases:vnculo muito forte....gosto da proatividade, da adaptao, da agilidade.... [a instituio] est sempre na

    frente...os donos so empreendedores, acompanham a gesto de perto... estilo combinacomigo, gosto da velocidade

    E descrevem a sua relao com a instituio com frases como:...gosto muito, no h distino clara entre trabalho e instituio...tudo o que eu

    fao, indiretamente tem a ver com a escola...,...paixo, vcio.....tenho muito orgulho de estar onde estou......relao de extremo profissionalismo...,...identificao muito grande, pelo meu perfil e da instituio.....relao afetiva.... o trabalho mais importante, mas instituio conta muito....

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    Para avaliar essa competncia, algumas questes buscaram investigar como se d o

    processo de desenvolvimento dessa competncia pelos entrevistados e qual seria o papeldesempenhado pela instituio em que trabalham nesse processo.

    Vale destacar a grande necessidade de atualizao de conhecimento, mencionada portodos e percebida como algo inerente carreira acadmica. Todos disseram ser necessriauma grande carga de leitura constante de artigos, trabalhos, revistas, reviso de materialdidtico, e assim por diante. De maneira geral, as respostas sugeriram que uma grande dose deesforo pessoal demandada, tanto em termos da busca do conhecimento, como em termos daforma do aprendizado, que um deles denominou de auto-didata.

    Conforme esperado, existe uma relao entre o tipo de vnculo contratualestabelecido entre o professor e a instituio e os auxlios recebidos. Em geral, os professoresque trabalham em tempo integral tm sua disposio maior variedade de auxlios, como a

    possibilidade de remunerao pesquisa, a participao em congressos e cursos deatualizao, o acesso a materiais didticos elaborados na instituio, e assim por diante. E issofoi relatado por professores de instituies A e no-A. Os professores de tempo parcial podemter ou no algum tipo de auxlio. Alguns declararam que nem sabem se teriam direito, pois

    como no tm tempo para cursos ou pesquisas, no foram saber se isso seria possvel. Algunsoutros disseram que podem ter alguns tipos de auxlios.No entanto, o desenvolvimento dessa competncia, embora necessrio, parece ser

    complicado, especialmente, por duas razes: a falta de tempo e de recursos financeiros. Afalta de tempo foi colocada por todos os entrevistados.

    A falta de recursos, por seu lado, mostra duas questes importantes. Em primeirolugar, alguns mencionaram que precisam exercer muitas atividades para ter a renda desejada,o que agrava o problema da falta de tempo para a dedicao a outras atividades que gostaria,

    como a pesquisa, ou mesmo para a simples atualizao do conhecimento. A outra questo dizrespeito s instituies foi relatado que algumas, especialmente as no-A, no oferecem osrecursos necessrios ao desenvolvimento das atividades de pesquisa ou outro tipo deatualizao do conhecimento.

    A relao com a instituio tambm se revela importante no direcionamento dodesenvolvimento dessa competncia. Os professores com dedicao integral disseram que,embora haja linhas de pesquisa, h tambm uma boa dose de liberdade dentro delas para a

    realizao de pesquisa. Portanto, ainda que a instituio exija a filiao a determinadas linhasde pesquisa, estas so amplas o suficiente para possibilitar o desenvolvimento doconhecimento conforme o entrevistado considerar melhor. J os professores com dedicao

    parcial apontaram problemas em relao ao contedo das disciplinas ministradas, associandoa influncia da instituio limitao dada ao contedo a ser ensinado. E todos disseram queh, sim, uma certa exigncia, pois procuram se manter mais atualizados dentro das propostas

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    importncia e impacto dessas redes na vida profissional dos indivduos e a influncia das

    instituies sobre as caractersticas dessas redes.Duas tendncias principais puderam ser observadas com relao aos agentes quepropiciam a formao da rede de relacionamento dos entrevistados: (i) a rede, em geral,composta por outros professores das instituies s quais esto vinculados, pelos alunos demestrado e doutorado e pelos alunos dos programas de graduao dessas instituies e (ii) arede se expande com a participao em congressos e eventos acadmicos, por meio dos quaisos entrevistados renovam, expandem e intensificam seus relacionamentos. As publicaes querealizam foram citadas como ingredientes para a expanso das redes pela maioria dosentrevistados. Apesar da maior parte dos entrevistados possuir um passado com significativaatuao profissional paralela (predominantemente no caso dos professores em tempo parcial)ou anteriormente (predominantemente no caso dos professores em tempo integral) carreiraacadmica, poucos mencionaram ter contatos e relacionamentos com executivos para aformao de suas redes, que parecem ser restritas ao mundo acadmico.

    Quase a totalidade dos entrevistados (todos com exceo de um deles) considera arede de relacionamentos algo essencial para sua vida profissional: a importncia da rede

    total, ela tudo!... e ...ela fundamental..., foram algumas respostas. A razo principaldada para isso que a rede de relacionamentos necessria para participao e engajamentoem novos trabalhos e projetos. Outro aspecto apontado por alguns dos entrevistados sobre aimportncia da rede para a vida profissional foi a possibilidade e a oportunidade que a redeoferece de crescimento e aprendizado em conjunto.

    exceo de dois dos entrevistados, todos os outros afirmaram que as instituies squais esto vinculados possuem papel fundamental na construo de suas redes derelacionamento possibilitando intenso contato com outros professores e pesquisadores, com

    outras universidades e escolas de negcios. Alguns reconheceram de maneira mais explcita opeso do nome e prestgio da instituio na formao das redes de relacionamentos. Outros,porm, acreditam que a facilidade de construo de redes uma caracterstica prpria domundo acadmico.

    MobilidadeA seguir sero apresentadas as respostas referentes s questes sobre a mobilidade

    dos entrevistados.

    Em primeiro lugar, foi perguntado quantas vezes haviam mudado de trabalho, tantoem empresas como em instituies de ensino. Do total de 19 entrevistados, somente 3mudaram de empresa ou instituies at 3 vezes. Todos os outros disseram ter mudado deinstituio ou empresa mais do que 3 vezes. interessante observar que mudaram tantoenquanto empregados nas empresas como nas instituies de ensino. No entanto, os

    professores de tempo integral das escolas A tendem a ter mais tempo de casa nas instituies

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    profissionais, falta de incentivos s atividades de pesquisa, competitividade do mercado,

    aos currculos e experincias de cada um.Discusso dos resultados

    A seguir, faz-se uma anlise dos resultados encontrados luz da teoria e dospressupostos discutidos na reviso terica. Os dados sugerem que, em maior ou menor grau,as carreiras dos professores universitrios no Brasil se aproximam do modelo da carreira semfronteiras, pois verificou-se construo de trajetrias profissionais relativamenteindependentes de uma nica instituio ou empresa e um bom grau de mobilidade de fato(vrios vnculos) e percebida pelos entrevistados. Algumas variaes na possibilidade deocorrncia desse tipo de carreira foram observadas conforme o tipo de vnculo do professorcom a instituio, o tempo de carreira e a classificao da instituio, o que ser detalhadomais adiante.

    As condies observadas que propiciam a construo desse tipo de carreira foram: forte identificao com o trabalho: todos descreveram o trabalho em termos muito

    positivos e afirmaram que gostam muito dos diversos aspectos que envolve; possibilidade de desenvolvimento da competncia do know-howde forma relativamente

    autnoma; existncia de uma rede de relacionamento que proporciona reconhecimento profissional e

    oportunidades de trabalho; bom grau de mobilidade profissional, tanto em termos do nmero de vnculos, como na

    percepo dos entrevistados.Em relao identificao com o trabalho, as respostas obtidas indicaram que o

    trabalho desenvolvido traz grande variedade, desafio, autonomia, contato com os outros,

    possibilidade de aprendizado e oportunidade de ajudar os outros, caractersticas encontradasem outras pesquisas para a definio de um trabalho que tem sentido (MOW, 1987; Morin,Tonelli e Pliopas, 2003).

    Um outro fator que pode contribuir para a identificao com o trabalho a escolhatardia da profisso. Este fato contribui para aumentar as chances da pessoa escolher umtrabalho que seja adequado tanto s suas caractersticas pessoais como s suas expectativas einteresses para a vida pessoal (Lent, Brown e Hackett, 1994; Super, 1994).

    Esses dois pontos o fato de exercerem um trabalho com possibilidade de ter sentido

    e a escolha mais tardia da carreira podem ser importantes, na medida em que possibilitam odesenvolvimento de uma competncia de know-whycom alto grau de independncia de umaorganizao ou instituio especfica.

    Em relao possibilidade de desenvolvimento do know-how, observou-se que huma certa vinculao do professor com a instituio em um nvel macro, isto , quanto aodirecionamento das atividades desempenhadas - pesquisa consultoria ou ensino ou seja o

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    alguns dos entrevistados, em relao ao desenvolvimento do know-how(especialmente no que

    diz respeito a contedos de disciplinas, por exemplo) e a escassez de recursos financeiros etempo para tal; a necessidade do apoio institucional para a formao de redes derelacionamento; e restries na mobilidade profissional impostas pela instituio.

    As condies facilitadoras e restritivas da construo da carreira sem fronteiraspodem estar associadas aos tipos de vnculos estabelecidos com as instituies, ao tempo decarreira profissional e classificao da instituio. Dito em outras palavras, esses elementos

    podem constituir critrios criadores de condies que impactam de maneira diferenciada apossibilidade de desenvolvimento das competncias de carreira. Para verificarmos ascondies facilitadoras e restritivas para a construo de carreiras sem fronteiras dentro decada critrio, buscou-se identificar, padres de respostas predominantes relativas aodesenvolvimento de cada competncia de carreira. Os dados obtidos so mostrados no quadro1.

    Inserir Quadro 1

    O quadro 1 mostra que os critrios investigados - vnculo com a instituio,

    classificao da instituio e tempo de carreira acadmica podem ter impacto significativo ediferenciado para o desenvolvimento das competncias de carreira. Em alguns casos,entretanto, no foi possvel identificar um padro predominante de respostas para ascategorias de um mesmo critrio.

    O tipo de vnculo do professor com a instituio mostrou ser um critrio que impactade maneira significativa as condies para o desenvolvimento das competncias de carreira.Para os professores de dedicao parcial, a identificao com o trabalho realizado maior doque com a instituio para esses professores, grande a importncia do conhecimento da

    prtica, a relao com a instituio menos emocional e se daria mais como uma garantiapara o futuro. A autonomia para o desenvolvimento de conhecimento restrita peladisponibilidade de recursos oferecidos pela instituio e pela presso da instituio comrelao ao contedo de conhecimento a ser gerado. Para esses professores, a mobilidade

    profissional de fato maior do que a percebida eles lecionam em 2 ou 3 instituiesdistintas exercendo as atividades em diversos locais (empresas ou universidades), sendo quealguns declararam ter mobilidade apenas relativa. Para os professores de dedicao integral, a

    identificao tanto com o trabalho quanto com a instituio so grandes observou-se grandegosto por dar aulas, pelo contato com alunos, pela flexibilidade e informalidade e uma relaode forte carga emocional com a instituio. A autonomia para desenvolvimento deconhecimento alta existe a filiao a linhas de pesquisa, por exemplo, mas a liberdade paraatuao dentro dela ampla e a mobilidade profissional percebida maior do que a de fato

    embora tenham declarado ter boa mobilidade profissional, esses professores possuem mais

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    instituio do que os de instituies A. Como anteriormente mencionado, as instituies A

    ofereceriam, por exemplo, auxlios financeiros, para pesquisas cientficas, participao emcongressos e cursos de atualizao.O critrio tempo de carreira acadmica da mesma forma que a classificao da

    instituio e igualmente menos diferenciador do que o tipo de vnculo parece criarcondies que impactam de maneira diferenciada o desenvolvimento da competncia doknow-whom. Para professores com menos de 10 anos de carreira acadmica a rede derelacionamentos mostrou uma tendncia a ser mais restrita do que as redes dos professores hmais tempo nesse tipo de carreira. Corroborando as colocaes de Podolny e Baron (1997), os

    profissionais com menos anos de carreira acadmica reconhecem que, embora j tenham umarede que os auxilia, essa rede ainda restrita e precisa ser alimentada. Para os profissionaiscom mais tempo de carreira e, especialmente os professores em tempo integral, a rede pareceser mais facilmente aumentada, medida em que tm orientandos, participam mais de eventoscientficos e das atividades relacionadas gesto das instituies que os colocam em contatocom diversos outros profissionais de rgos governamentais ou nas empresas parceiras dasinstituies, por exemplo.

    Dessa maneira, parece que o conceito de carreira sem fronteiras pode ser aplicadopara a carreira do professor universitrio no Brasil, mas que assume diferentes contornos eintensidade em funo, principalmente, do tipo de vnculo estabelecido com a instituio e,em seguida, da classificao da instituio ou instituies s quais o professor est vinculadoe do tempo de carreira acadmica.

    Portanto, a possibilidade de construo de carreiras sem fronteiras para essesprofissionais pode ser promovida por fatores distintos. Para alguns professores, apossibilidade de construir carreiras sem fronteiras deriva mais do reconhecimento pela

    atividade docente, especialmente com pesquisa a notoriedade a que se referem Defillipi eArthur (1994) adquirida ao longo da vida do profissional, e que tende a crescer com oacmulo de conhecimento e da produo cientfica apresentada. Nesse sentido, a sua carreiratranspe os limites da instituio em que trabalham. No entanto, embora possam tambmexercer outras atividades, como a consultoria, esses docentes so, em geral, empregados emtempo integral em uma instituio e tem maior vnculo com a pesquisa e programas de ps-graduao, ou seja, uma carreira de fato que se aproxima do modelo tradicional.

    Outros professores, em geral de tempo parcial, desenvolvem carreiras sem fronteirasem funo da necessidade de complementao de renda ou para garantir uma atividade erenda para o futuro. A mobilidade dessas pessoas est fortemente associada aos contatosefetuados pela rede de relacionamentos, que trazem oportunidades de trabalho mais pontuaisou temporrias, como os trabalhos de consultoria e de ensino em tempo parcial.

    Vale lembrar que o tipo de vnculo estabelecido no escolha do professor, mais

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    independente das instituies em que trabalham. No entanto, a pesquisa mostrou que os

    docentes que tendem a vivenciar, efetivamente, uma carreira sem fronteiras so aqueles quetrabalham em tempo parcial nas instituies e que possuem, dessa maneira, mais de umvnculo de trabalho para poder sobreviver. Os docentes que trabalham em tempo integral,embora possam ter grande reconhecimento e notoriedade no mercado de trabalho, estodesenvolvendo carreiras que tendem a se assemelhar mais ao modelo tradicional, com vnculoe identificao mais fortes com a instituio.

    Ainda, embora alguns docentes no Brasil na rea de Administrao de Empresaspaream desenvolver uma carreira que se pode dizer sem fronteiras, permanecem as questes:a que custo, em termos de angstia e desgaste fsico, so desenvolvidas essas carreiras semfronteiras? A carreira sem fronteiras vivenciada realmente desejada ou fruto das condiesapresentadas aos profissionais, ou conforme colocam os entrevistados foi acontecendo?

    Cabe lembrar, por fim, que o desenvolvimento desse tipo de carreira possvel nomeio acadmico devido prpria constituio do contexto e natureza da atividade

    possvel, por exemplo, um professor dar uma nica disciplina em uma instituio, trabalhando4 horas semanais. Esse tipo de atividade bem mais raro quanto se trata do mundo

    organizacional.Dessa maneira, embora o modelo da carreira sem fronteiras possa ser vivenciado nacarreira acadmica, isso no significa que seja um bom modelo ou o modelo pretendido poraqueles que a vivenciam e tambm no significa que seja adaptvel ao contexto de outrasorganizaes. possvel que algumas outras profisses tambm estejam vivenciando carreirassem fronteiras, como os consultores, os executivos de alto nvel (que trabalham por contrato e

    prazo determinado, por exemplo) e alguns profissionais liberais, como mdicos em hospitais.Seria interessante pesquisar tambm essas categorias para se investigar as semelhanas e

    diferenas entre as carreiras desenvolvidas, a fim de se melhor entender o mundo do trabalhodos dias atuais.

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    Quadro 1 Padres predominantes de respostas por tipo de vnculo do professor, classificao da instituio e tempo de carreira acadmica

    Critrio Categoria Know-why Know-how Know-whom Mobilidade

    Parcial

    Forte identificao com otrabalho e menor com ainstituio

    Autonomia restrita pordisponibilidade de recursose em relao a contedo

    Oportunidades facilitadaspor mltiplas redes

    Mobilidade de fato (diversosvnculos) e menormobilidade percebida

    Tipo de vnculo

    IntegralForte identificao com otrabalho e com a instituio

    Alto grau de autonomiadentro de linhas gerais deconhecimento

    Oportunidades facilitadaspor mltiplas redes

    Menor mobilidade de fato(em geral um vnculo) e altamobilidade percebida

    No-A

    Forte identificao com otrabalho e instituio

    Autonomia restrita pordisponibilidade de recursos

    Oportunidades facilitadaspor mltiplas redes

    Nenhum padropredominante observado

    Classificao da

    instituio

    A

    Forte identificao com o

    trabalho e instituio

    Autonomia facilitada pela

    maior disponibilidade derecursos

    Oportunidades facilitadas

    por mltiplas redes

    Nenhum padro

    predominante observado

    Menos de 10anos

    Forte identificao com otrabalho e menor cominstituio

    Restrio devida smltiplas atividadesexercidas

    Rede restrita pelo menortempo de carreira acadmica

    Nenhum padropredominante observado

    Tempo de carreira

    10 anos ou

    mais

    Forte identificao com otrabalho e menor com a

    instituio

    Restrio devida smltiplas atividades

    exercidas

    Rede que se ampliacontinuamente

    Nenhum padropredominante observado