GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana...

135
GRACIETE MARY DOS SANTOS EFEITO DA VINHAÇA NA PRODUÇÃO BIOLÓGICA DE ÁLCOOIS E ÁCIDOS ORGÂNICOS VOLÁTEIS POR MEIO DE CONSÓRCIO MICROBIANO CAMPINAS 2015

Transcript of GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana...

Page 1: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

GRACIETE MARY DOS SANTOS

EFEITO DA VINHAÇA NA PRODUÇÃO BIOLÓGICA DE ÁLCOOIS E

ÁCIDOS ORGÂNICOS VOLÁTEIS POR MEIO DE CONSÓRCIO

MICROBIANO

CAMPINAS

2015

Page 2: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos
Page 3: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Agrícola

GRACIETE MARY DOS SANTOS

EFEITO DA VINHAÇA NA PRODUÇÃO BIOLÓGICA DE ÁLCOOIS E ÁCIDOS

ORGÂNICOS VOLÁTEIS POR MEIO DE CONSÓRCIO MICROBIANO

Dissertação de Mestrado apresentado ao

Programa de Pós-Graduação da Faculdade de

Engenharia Agrícola da Universidade Estadual

de Campinas como parte dos requisitos exigidos

para obtenção do título de Mestra em

Engenharia Agrícola, na Área de Concentração

de Água e Solo.

Orientador: Prof. Dr. ARIOVALDO JOSÉ DA SILVA

Co-Orientadora: Dra. BRUNA DE SOUZA MORAES

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À

VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO

DEFENDIDA PELA ALUNA GRACIETE

MARY DOS SANTOS, ORIENTADA PELO

PROF. DR. ARIOVALDO JOSÉ DA SILVA.

_______________________________________

CAMPINAS

2015

Page 4: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos
Page 5: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos
Page 6: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos
Page 7: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

RESUMO

No Brasil, o efluente industrial produzido em maior quantidade é a vinhaça, caracterizada por

altos níveis de ácidos orgânicos, fósforo, cálcio, potássio e magnésio. O reaproveitamento energético

da vinhaça mostra-se como uma alternativa interessante para produção de biocombustíveis ou sub-

produtos. Este trabalho avaliou o potencial da vinhaça como fonte de substrato e nutrientes para

produção de álcoois e ácidos orgânicos voláteis (AOV) por meio fermentação em batelada utilizando

consórcio anaeróbio (lodo de bovinocultura) pré-tratados com choque térmico (TT) e choque ácido-

térmico (AT). Foram utilizados dois meios diferentes, de sacarose (S) e de vinhaça (V), sendo a

sacarose a principal fonte de carbono. A vinhaça provou ser uma excelente fonte de nutrientes para os

microrganismos envolvidos na fermentação butírica, uma vez que a adição de vinhaça melhora

significativamente a produção de ácido butírico em comparação com meio de cultura sintético. As

máximas concentrações de ácido butírico, iso-butírico e acético foram de 14,13 ± 0,77 g L-1

na

amostra ATV B3; 10,34 ± 0,43 g L-1

na amostra ATV B2 e; 4,13 ± 0,06 g L-1

na amostra TTV B3,

respectivamente. O rendimento dos AOV acético, iso-butírico e butírico e de etanol foi mais elevado

nas amostras ATV B3 e TTV B3, atingindo valores máximos de 0,14; 0,28; 0,69 e; 0,26 g g-1

carboidratos totais, respectivamente. Não foram encontradas diferenças significativas entre métodos de

pré-tratamento e enriquecimento de inóculo, AT e TT no que diz respeito a produção de ácido butírico

e etanol. Em escala maior, operando em reator de 1,5 L, a fermentação de vinhaça bruta e melado de

cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial para produção de solventes como o butanol,

uma vez que concentrações elevadas de ácido butírico foram produzidas, com concentração máxima,

rendimento e produtividade de 13,85 g L-1

; 0,64 g g-1

e; 199,98 mg L h-1

, respectivamente. A

caracterização microbiológica, pirosequenciamento, revelou a ocorrência em maior abundância de

bactérias do gênero Clostridium, principalmente no consórcio AU e Lactobacillus mais abundante nos

consórcios TT e AT. Foi identificada uma espécie conhecida pela produção de butanol, o C.

pasteurianum no consórcio AU. Contudo, o presente trabalho representa um passo importante no

desenvolvimento de um processo industrial para reutilização da vinhaça. A exploração de novos

microrganismos e estudo dos fatores que interferem no processo de fermentação como pH,

temperatura, nutrientes, densidade da cultura, cargas aplicadas e características do substrato, são

fundamentais para o entendimento dos efeitos sinérgicos e antagônicos da associação de culturas.

Palavras-chave: cultura mista de microrganismos; ácido butírico; etanol, fermentação em batelada.

Page 8: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos
Page 9: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

ABSTRACT

In Brazil, industrial waste produced in the greatest amount is vinasse, characterized by high levels of

organic acids, phosphorus, calcium, potassium and magnesium. The energy reuse of vinasse shows up

as an interesting alternative for the production of biofuels or byproducts. This study evaluated the

potential of vinasse as a source of substrate and nutrients for the production of alcohols and volatile

fatty acids (VFA) through fermentation batch using anaerobic consortium (cattle sludge) pre-treated

with heat shock (TT) and acid-shock thermal (AT). We used two different media, sucrose (S) and

vinasse (V), with sucrose being the main source of carbon. The vinasse proved to be an excellent

source of nutrients for microorganisms involved in the butyric fermentation, since the addition of

vinasse significantly improves the production of butyric acid as compared to synthetic culture

medium. The maximum concentrations of butyric acid, iso-butyric and acetic acid were 14.13 ± 0.77 g

L-1

in the sample ATV B3; 10.34 ± 0.43 g L-1

in ATV B2 and 4.13 ± 0.06 g L-1

in TTV B3,

respectively. The yield of acetate, iso-butyric acid, butyrate and ethanol was higher in ATV B3 and

TTV B3 samples, reaching maximum values of 0.14; 0.28; And 0.69; 0.26 g g-1

total carbohydrates,

respectively. There were no significant differences between pretreatment and enrichment methods

inoculum, TA and TT as regards the production of butyric acid and ethanol. On a larger scale,

operating at 1.5 L reactor, crude fermentation vinasse and molasses of sugar cane from AU microbial

consortium showed potential for producing butanol as the solvent, since high concentrations of butyric

acid was produced, with maximum concentration, yield and productivity of 13.85 g L-1

0.64 g g-1

and

199.98 mg h L-1

, respectively. Microbiological characterization, pyrosequencing, revealed the

occurrence in greater abundance of the genus Clostridium bacteria, particularly the AU and most

abundant Lactobacillus in consortium TT and AT consortia. C. pasteurianum, known for the

production of butanol was identified in AU consortium. However, this study represents an important

step in the development of an industrial process for reuse of vinasse. The exploration of new

microorganisms and study of the factors that interfere in fermentation process such as pH,

temperature, nutrients, cultures, applied loads and characteristics of the substrate are critical for

understanding the synergistic and antagonistic effects of culture association.

Key Word: mixed culture; butyric acid, ethanol, bath fermentation.

Page 10: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos
Page 11: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 29

1.1 Justificativa ....................................................................................................................... 31

1.2 Objetivos ............................................................................................................................ 32

1.2.1 Objetivo Geral ............................................................................................................. 32

1.2.2 Objetivos Específicos .................................................................................................. 32

2. REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................... 35

2.1 Rotas Metabólicas da Fermentação ABE ....................................................................... 35

2.2 Culturas ............................................................................................................................. 38

2.2.1 Clostrídium sp ............................................................................................................. 38

2.2.2 Consórcio microbiano ................................................................................................. 40

2.2.3 Métodos de pré-tratamento de culturas ....................................................................... 42

2.2.4 Técnicas de biologia molecular para identificação da população microbiana ............ 44

2.3 Perspectivas da Produção de Biocombustíveis via Fermentação ................................. 46

2.3.1 Ácido butírico .............................................................................................................. 46

2.3.2 Butanol ........................................................................................................................ 48

2.3.1 Etanol .......................................................................................................................... 52

2.4 Fatores que afetam a solventogênese .............................................................................. 52

2.4.1 pH ................................................................................................................................ 53

2.4.2 Temperatura ................................................................................................................ 54

2.4.3 Pressão Parcial de gases .............................................................................................. 55

2.4.4 Concentração da carga orgânica .................................................................................. 56

2.4.5 Nutrientes no meio de cultura ..................................................................................... 57

2.4.6 Toxicidade dos metabólitos ......................................................................................... 59

2.5 Características da vinhaça ............................................................................................... 60

3. METODOLOGIA ................................................................................................................ 64

Page 12: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

3.1 Caracterização da vinhaça ............................................................................................... 64

3.2 Etapa 1: Influência do pré-tratamento do inóculo e da suplementação de vinhaça

para produção de álcoois e AOV ................................................................................................ 65

3.2.1 Montagem experimental .............................................................................................. 65

3.2.2 Pré-Tratamento do inóculo e enriquecimento da cultura ............................................ 66

3.2.3 Ensaio de Fermentação: Vinhaça como fonte de substrato ......................................... 68

3.2.4 Ensaio de Fermentação: Vinhaça como meio nutriente .............................................. 71

3.3 Etapa 2: Efeito da suplementação de vinhaça com melado de cana-de-açúcar para

produção de álcoois e AOV ......................................................................................................... 74

3.3.1 Montagem experimental .............................................................................................. 74

3.3.2 Pré-Tratamento e enriquecimento do inóculo ............................................................. 75

3.3.3 Ensaio de Fermentação................................................................................................ 76

3.4 Acompanhamento analítico ............................................................................................. 77

3.4.1 Metodologia CLAE ..................................................................................................... 78

3.4.2 Limitação do método ................................................................................................... 80

3.5 Caracterização microbiológica da biomassa .................................................................. 82

3.5.1 Pirosequenciamento .................................................................................................... 83

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ....................................................................................... 85

4.1 Composição da vinhaça .................................................................................................... 85

4.2 Etapa 1: Efeito da suplementação de vinhaça e influência dos métodos de pré-

tratamento do inóculo em meio de cultivo de sacarose para produção de álcoois e AOV .... 87

4.2.1 Vinhaça como substrato .............................................................................................. 87

4.2.2 Vinhaça como meio nutriente ..................................................................................... 91

4.2.3 Teste de comparação de médias .................................................................................. 98

4.3 Etapa 2: Produção de álcoois e AOV em meio de vinhaça suplementado com

melado de cana-de-açúcar......................................................................................................... 103

4.4 Caracterização microbiológica do consórcio microbiano ........................................... 107

Page 13: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

4.4.1 Morfologia ................................................................................................................. 107

4.4.2 Pirosequenciamento .................................................................................................. 109

4.4.3 Caracterização da diversidade microbiana ................................................................ 109

4.4.4 Filo ............................................................................................................................ 111

4.4.5 Gênero ....................................................................................................................... 113

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ 117

6. CONCLUSÃO .................................................................................................................... 119

REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 121

ANEXO ....................................................................................................................................... 133

Validação da Metodologia CLAE ............................................................................................ 133

Page 14: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos
Page 15: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

Aos meus queridos filhos Heitor e Aurea.

Page 16: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos
Page 17: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

AGRADECIMENTOS

Com muita satisfação que expresso meus agradecimentos:

Ao meu orientador Ariovaldo José da Silva pela paciência e orientação;

A minha co-orientadora Bruna de Souza Moraes;

Aos membros da Banca de Qualificação, Prof Dr. Marcelo Zaiat e Prof Dr. Claudio Luiz

Messias pelas valiosas contribuições e críticas ao trabalho;

Ao Prof Dr. José Roberto Guimarães (Tuca), pelas conversas produtivas e amizade;

Ao Professor Claudio Messias pelo empréstimo de reagentes;

Ao técnico Giovani e alunos do Laboratório de Saneamento da Feagri, principalmente aos

colegas de trabalho Douglas e Camila;

Aos técnicos do Laboratório de Pós-Colheita Rosa Helena e Rosália pelo carinho e disposição

para o empréstimo de reagentes e vidrarias;

Aos funcionários da Oficina Mecânica da Feagri pelo auxílio na preparação do aparato

experimental;

Aos funcionários da manutenção e funcionárias da limpeza pela simpatia e manutenção do

ambiente de trabalho;

Aos funcionários da Secretaria de Pós-Graduação pela enorme paciência;

Ao técnico do Laboratório Paulo Gustavo Krejci Nunes pela disposição e amizade;

Aos técnicos e alunos do Laboratório de Processos Biológicos da Escola de Engenharia de

São Carlos, especialmente ao Lucas pelo auxílio na coleta de vinhaça e a Janja pelas

orientações da metodologia CLAE;

A Mariane e a Professora DJanira de Franceschi de Angelis da UNESP Rio Claro, pelo

auxílio com a caracterização microbiológica e pela coleta de resíduo da fermentação;

A Marianne Akemi do Laboratório de Microbiologia Ambiental do Departamento de Biologia

da Universidade Federal de São Carlos, campus Sorocaba;

Ao meu querido amigo Mauro pela paciência e fundamental auxílio na compreensão da

análise estatística;

Page 18: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

A todos os meus amigos de perto e de longe que contribuíram direta ou indiretamente com

este trabalho;

Aos eternos amigos do Grupo Urucungos Puítas e Quijengues, em especial a Viviane, Sinhá,

Maria Lucia e Ana Miranda;

A todas as minhas amigas mães estudantes, sintam o meu abraço fraterno, em especial a

Aneci, Isabela e Jaqueline. Ser mãe, dona de casa, acadêmica e mulher não é nada fácil, mas a

união e o apoio de vocês me fizeram mais forte!

A minha querida mãe pela presença, carinho e auxílio fundamental;

Aos meus irmãos Mariete e Felipe e toda minha família que mesmo de longe estão vibrando

positivamente;

Ao meu companheiro José Roberto (Baiá) que conheci logo no início do projeto. Não tenho

palavras para expressar o quanto você foi fundamental nesta etapa da minha vida!

Aos meus queridos filhos Aurea e Heitor pelo carinho e pela paciência... que por vezes

estiveram esperando no carro enquanto eu terminava análises no laboratório;

A Capes pela bolsa concedida;

A Fapesp pelo auxílio financeiro no projeto.

Muito Obrigada!!

Page 19: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Rotas bioquímicas do metabolismo da glicose por Clostridium acetobutylicum. ............... 36

Figura 2 - Fases de crescimento e desenvolvimentos dos clostridios. .................................................. 39

Figura 3 – Frasco reator com adaptação de dispositivo para entrada e saída de gases. ........................ 66

Figura 4 – Fluxograma esquemático do processo de pre-tratamento e incubação do lodo, utilizado

como inóculo neste trabalho. ................................................................................................................. 68

Figura 5 – Fluxograma do ensaio de fermentação. As letras a,b e c representam as repetições de cada

tratamento. ............................................................................................................................................. 69

Figura 6 – Fluxograma do ensaio de fermentação com doses suplementares de vinhaça. As letras a,b e

c representam as repetições de cada tratamento. ................................................................................... 72

Figura 7 - Reator utilizado no processo de fermentação de meio com vinhaça com melaço de cana-de-

açúcar. ................................................................................................................................................... 75

Figura 8– Fluxograma esquemático do ensaio de fermentação da etapa 2. .......................................... 76

Figura 9- Cromatograma típico da determinação de ácidos por CLAE com detector de UV e arranjo de

diodos. ................................................................................................................................................... 80

Figura 10 - Cromatograma típico da determinação de carboidratos e álcoois por CLAE com detector

de índice de refração. ............................................................................................................................ 80

Figura 11 - Cromatograma com detector de índice de refração. Picos de sacarose, glicose e frutose em

amostra padrão de sacarose 800 mg L-1

. ............................................................................................... 82

Figura 12 - Média de produção dos principais metabólitos no processo de fermentação das amostras

AT S, TT S, AT V e TT V. ................................................................................................................... 90

Figura 13 pH e densidade ótica em função do tempo de fermentação. Setas apontam para o ponto em

que foi feita a correção do pH ............................................................................................................... 92

Figura 14 - Curvas de produção dos principais AOV dos tratamentos ATS, ATV, TTS e TTV em

função dos três ensaios de fermentação em batelada (B1, B2 e B3). .................................................... 94

Figura 15 - Média de produção dos principais metabólitos no processo de fermentação das amostras

AT S, TT S, AT V e TT V no ensaio B1, onde houve suplementação de 1/3 de vinhaça no MCS. ..... 97

Figura 16 - Média de produção dos principais metabólitos no processo de fermentação das amostras

AT S, TT S, AT V e TT V no ensaio B2, onde houve suplementação de 1/2 de vinhaça no MCS. ..... 97

Figura 17 - Média de produção dos principais metabólitos no processo de fermentação das amostras

AT S, TT S, AT V e TT V no ensaio B3, onde houve suplementação de 2/3 de vinhaça no MCS. ..... 98

Figura 18 - Intervalo de confiança (95%) das diferenças entre as médias a nível do fator Tratamento,

para as variáveis resposta ácido butírico e etanol. ............................................................................... 100

Figura 19 - Intervalo de confiança (95%) das diferenças entre as médias a nível do fator Meio de

Cultura, para as variáveis resposta ácido butírico e etanol. ................................................................. 101

Page 20: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

Figura 20 - Intervalo de confiança (95%) das diferenças entre as médias a nível do fator Batelada, para

as variáveis resposta ácido butírico e etanol. ...................................................................................... 101

Figura 21 - Distribuição empírica das variáveis resposta ácido butírico e etanol, com interação de 3

fatores: meio de cultura ‘S’ e ‘V’, tratamento TT e AT e batelada B1, B2 e B3. ............................... 102

Figura 22 - Produção de AOV e álcoois, consumo de carboidratos totais e pH em função do tempo de

fermentação do ensaio 1, que corresponde a suplementação de 65 % de vinhaça. ............................. 103

Figura 23 - Produção de AOV e etanol e consumo de carboidratos totais em função do tempo de

fermentação do ensaio 1, que corresponde a suplementação de 75 % de vinhaça. ............................. 104

Figura 24 - Produção de AOV e etanol e consumo de carboidratos totais em função do tempo de

fermentação do ensaio 1, que corresponde a suplementação de 85 % de vinhaça. ............................. 104

Figura 25 - Diagrama de Venn das famílias classificadas entres as comunidades bacterianas presentes

nas amostras AT, TT e AU.................................................................................................................. 112

Figura 26 - Classificação taxonômica de consorcio microbiano presentes nas amostras AU, TT e AT

em nível de família .............................................................................................................................. 112

Figura 27 - Diagrama de Venn dos gêneros classificadas entres as comunidades bacterianas presentes

nas amostras AT, TT e AU.................................................................................................................. 115

Figura 28 - Classificação taxonômica de consorcio microbiano presentes nas amostras AU, TT e AT

em nível de gênero .............................................................................................................................. 115

Figura 29 - Classificação taxonômica de consorcio microbiano presentes nas amostras AU, TT e AT

em nível de espécie. ............................................................................................................................ 116

Page 21: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Rendimento e produtividade de butanol ou solvente ABE por fermentação de diversos tipos

de substratos. ......................................................................................................................................... 50

Tabela 2 - Média e variação (amplitude de valores) dos parâmetros físico-químicos que caracterizam a

vinhaça. ................................................................................................................................................. 63

Tabela 3- Métodos analíticos para caracterização da vinhaça............................................................... 65

Tabela 4 - Composição do RMC. .......................................................................................................... 67

Tabela 5 - Composição do MCS. .......................................................................................................... 70

Tabela 6 – Alíquotas para preparação do MCS suplementado com vinhaça e com açúcar demerara,

utilizado no ensaio de fermentação. ...................................................................................................... 70

Tabela 7– Alíquotas para preparação do MCS suplementado com vinhaça e com açúcar demerara,

utilizado no ensaio de fermentação. ...................................................................................................... 73

Tabela 8– Alíquotas para preparação do meio de cultivo utilizado nos ensaios de fermentação da etapa

2. ............................................................................................................................................................ 77

Tabela 9 – Parâmetros para correção da concentração de sacarose ...................................................... 81

Tabela 10- Parâmetros de validação do modelo de regressão linear da curva de calibração dos analitos

avaliados, para significância de 95%. ................................................................................................. 133

Tabela 11- Equações de regressão linear e teste de eficiência de correlação dos parâmetros da curva de

calibração dos analitos avaliados ........................................................................................................ 134

Tabela 12- Avaliação dos limites de detecção (LD) e limites de quantificação (LQ) e da precisão do

método CLAE para dos analitos avaliados.......................................................................................... 135

Tabela 13 – Parâmetros de caracterização da vinhaça. ......................................................................... 86

Tabela 14 - Média de produção dos principais metabólitos no processo de fermentação das amostras

AT S, TT S, AT V e TT V. ................................................................................................................... 87

Tabela 15 - Rendimento e produtividade médios de ácido acético, ácido butírico e etanol entre as

amostras AT S, TT S, AT V e TT V. .................................................................................................... 89

Tabela 16 - Média de produção dos principais AOV no processo de fermentação das amostras AT S,

TT S, AT V e TT V entre os ensaios B1, B2 e B3. ............................................................................... 93

Tabela 17 - Média de produção de etanol e metanol no processo de fermentação das amostras AT S,

TT S, AT V e TT V entre as bateladas B1, B2 e B3. ............................................................................ 95

Tabela 18 - Rendimento médio dos principais dos produtos da fermentação das amostras AT S, TT S,

AT V e TT V entre os ensaios B1, B2 e B3. ......................................................................................... 96

Tabela 19 - Produtividade média dos principais dos produtos da fermentação das amostras AT S, TT

S, AT V e TT V entre os ensaios B1, B2 e B3. ..................................................................................... 96

Tabela 20 - Verificação da hipótese de homogeneidade das variâncias: Teste de Levene’s. ............... 98

Page 22: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

Tabela 21 - Resultado do teste Anova interação dos fatores Tratamento, Meio de Cultura e Batelada

para variável resposta concentração de ácido butírico. ......................................................................... 99

Tabela 22 - Resultado teste Anova interação dos fatores Tratamento, Meio de Cultura e Batelada para

variável resposta concentração de etanol. ............................................................................................. 99

Tabela 23 - Principais produtos da fermentação de melado de cana suplementado com vinhaça nos

ensaios B1, B2 e B3. ........................................................................................................................... 105

Tabela 24 - Produtividade e rendimento máximos dos principais metabólitos da fermentação de

melado de cana suplementado com vinhaça nos ensaios B1, B2 e B3. ............................................... 106

Tabela 25 – Morfologias observadas entre as etapas do pré-tratamento e enriquecimento de inóculo.

............................................................................................................................................................. 108

Tabela 26 - Número total de reads antes e após a filtragem ................................................................ 109

Tabela 27 - Distribuição do número e porcentagem relativa* de UTOs de acordo com a similaridade e

tratamento do inóculo .......................................................................................................................... 110

Tabela 28 - Número de OTUs distribuída entre os filos classificados de acordo com o tratamento do

inóculo ................................................................................................................................................. 111

Tabela 29 – Características do gêneros identificados. ........................................................................ 114

Page 23: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

LISTA DE ABREVIATURAS

ABE Acetona, butanol e etanol

AOV Ácidos orgânicos voláteis

AT Ácido Térmico

ATPase Adenosina Trifosfato enzima

AU Autoclavado

B Batelada

CLAE Cromatografia Líquida e Alta Eficiência

CV Coeficiente de Variação

DBO Demanda Bioquímica de Oxigênio

DDGS Dried Distillers Grains Solubles

DGGE Denaturing Gradient Gel Electrophoresis

DIR Detector por índice de refração

DNA Ácido Desoxirribonucleico

DNAr Ácido Desoxirribonucleico Ribossomal

DQO Demanda Química de Oxigênio

EC50 Concentração Efetiva mediana

I Inóculo

LD Limite de Detecção

LQ Limite de Quantificação

MCS Meio de Cultura Sintético

MCS Meio de cultura sintético

NADH Nicotinamida Adenina Dinucleótido Hidreto

OD Densidade Ótica

OTU Unidade Taxonômica Operacional

pb Pares de bases

PCR Reação de Polimerização em Cadeia

pH Potencial Hidrogeniônico

RMC Reinforced Medium Clostridium

RNAr Ácido Ribonucleico Ribossomal

S Sacarose

Page 24: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

SF Sólidos Fixos

SSV Sólidos Suspensos Voláteis

ST Sólidos Totais

SV Sólidos Voláteis

TDH Tempo de Detenção Hidráulico

TR Tempo de Retenção

UASB Digestor Anaeróbio de Fluxo Ascendente

UV-DAD Ultraviolet Diode Array Detection

V Vinhaça

Page 25: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

LISTA DE SIGLAS

EESC Escola de Engenharia de São Carlos

ESALQ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

FEAGRI Faculdade de Engenharia Agrícola

LPB Laboratório de Processos Biológicos

PPG-SHS Programa de Pós-Graduação em Engenharia Hidráulica e Saneamento

RDP Ribosomal Database Project

UFSCar Universidade Federal de São Carlos

UNESP Universidade do Estado de São Paulo

UNICAMP Universidade de Campinas

USP Universidade de São Paulo

Page 26: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos
Page 27: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

LISTA DE SÍMBOLOS E UNIDADES DE MEDIDA

Atm atmosfera

Ca cálcio

cm2 centímetro quadrado

CO2 gás carbônico

Cu cobre

Fe ferro

FeSO4 7H2O sulfato de ferro heptahidratado

g grama

H2 gás hidrogênio

H2SO4 ácido sulfúrico

K potássio

K2HPO4 fosfato de potássio dibásico

kgf quilograma força

KH2PO4 monofosfato de potássio

L litro

m metro

m3 metro cúbico

mg miligrama

MJ Mega Joule

mL microlitro

mm milimetro

MnSO4 7H2O sulfato de manganês heptahidratado

MPa Mega Pascal

N2 gás nitrogênio

Na sódio

NaCl cloreto de sódio

NaOH hidróxido de sódio

(NH4)2SO4 sulfato de amônio

Page 28: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

O2 gás oxigênio

P fósforo

rpm rotação por minuto

v/v volume por volume

Zn zinco

μm micrometro

® marca registrada

Page 29: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

29

1. INTRODUÇÃO

A matriz energética brasileira, que se destaca pela grande incidência de fontes

renováveis, passou por transformações que a colocaram entre as mais limpas do mundo. O

Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar do mundo, matéria-prima para produção de

etanol. O País produz mais de 490 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano (safra

2011/2012), sendo o 2º Produtor Mundial de Etanol, responsável por 20% da produção

mundial e 20% das exportações (NEVES; TROMBIN; CONSOLI, 2010). Somente no Brasil

23,23 bilhões de litros de etanol (anidro e hidratado) foram produzidos na safra 2012/2013

(UNICA, 2013).

O aumento na produção de derivados da cana-de-açúcar coincide com o aumento de

resíduos provenientes da industrialização desta matéria-prima. A vinhaça é o produto de calda

na destilação do licor de fermentação do álcool. Esse líquido residual é também conhecido,

regionalmente, por restilo e vinhoto. Assumindo uma taxa média de 13 litros de vinhaça por

litro de etanol (WILKIE; RIEDESEL; OWENS, 2000), considerando a produção brasileira de

etanol na safra de 2012/2013, a quantidade potencial de vinhaça produzida foi

aproximadamente de 302 bilhões de litros. Independentemente da matéria-prima, este resíduo

contém altas concentrações de material orgânico, de potássio e sulfatos, bem como

características ácidas e corrosivas. No início do Programa Proálcool, a vinhaça era lançada

diretamente nos rios, com graves problemas ambientais, atenuados com o uso das bacias de

infiltração e sistemas de fertirrigação (CGEE E BNDES, 2008).

Como resultado da busca constante para encontrar uso ou tratamento adequado para

vinhaça, tem-se desenvolvido algumas alternativas, como por exemplo, a reciclagem de

vinhaça em processos fermentativos, fertirrigação, concentração por evaporação, produção de

leveduras e na produção de matéria-prima para fabricação de ração para gado e aves. Cada um

dos processos tem de ser avaliado com bastante critério, observando-se as implicações

ambientais e econômicas e a viabilidade técnica.

Atualmente quase todo o volume de vinhaça gerada em usinas brasileiras é

direcionado para a fertirrigação de canaviais, devido ao seu caráter fertilizante. No entanto, o

potencial poluidor da vinhaça pode resultar em implicações para o solo, considerando os

impactos negativos prováveis na estrutura do solo e dos recursos hídricos em caso de doses

Page 30: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

30

excessivas. Segundo levantamento realizado por Fuess e Garcia, (2014), os principais

obstáculos para reutilizar vinhaça in natura no solo incluem riscos de salinização do solo;

redução dos poros, redução na atividade microbiana e o esgotamento significativo de

concentrações de oxigênio dissolvido em corpos d'água; contaminação por nitratos e

eutrofização; desestabilização da estrutura do solo devido a altas concentrações de potássio e

de sódio; e, possível acidificação do solo e recursos hídricos, considerando o baixo pH da

vinhaça (aproximadamente 4,5). Neste contexto, é de extrema importância o estudo de

tecnologias renováveis que possibilitem um destino adequado para vinhaça.

A crescente demanda por fontes de energia limpa tem direcionado esforços e interesse

na pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis. Modernas biorefinarias utilizam biomassa

proveniente de resíduos como fonte de substrato no processo de obtenção de biocombustíveis,

entre eles destacam-se os álcoois etanol e butanol. O biobutanol é uma alternativa promissora

como combustível veicular para substituir a gasolina no futuro, oferecendo também diversas

vantagens em relação ao etanol, principalmente no que diz respeito a maior energia na

combustão, podendo substituir a gasolina em motores de combustão interna sem quaisquer

modificações mecânicas.

O processo de fermentação com microrganismos da classe clostridia envolve duas

fases distintas: acidogênese e solventogênese. Na fase acidogênica, os principais metabólitos

são o ácido acético, ácido lático e ácido butírico. A acumulação dos ácidos orgânicos voláteis

(AOV) resulta na diminuição do pH, fato este que favorece a mudança da rota metabólica

para a fase solventogênica, na qual os microrganismos com a ação de enzimas específicas

sintetizam os solventes acetona, butanol e etanol. Estudos tem mostrado que a concentração

do ácido butírico é essencial para síntese de butanol (MONOT; ENGASSER;

PETITDEMANGE, 1984; TASHIRO et al., 2004).

A escolha adequada do(s) microrganismo(s) e do substrato é crucial no

desenvolvimento de uma tecnologia de produção viável de biosolventes. As culturas puras

(naturais e mutantes) são as mais utilizadas em diversos trabalhos científicos, por

apresentarem uma taxa de conversão de glicose em solventes dentro dos máximos limites de

tolerância, devido a inibição dos microrganismos envolvidos causada pelos solventes (LIU;

QURESHI, 2009). No entanto, quando são usados substratos complexos, culturas mistas

apresentam algumas vantagens. Além de serem menos suscetíveis ao oxigênio ou de

Page 31: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

31

contaminação por outros microrganismos, a presença de diferentes microrganismos

geralmente favorece a degradação do substrato, devido a formação de comunidades

integradas, nas quais algumas espécies atuam de forma equilibrada, ou mesmo de uma forma

simbiótica.

Neste trabalho foi avaliado o potencial da vinhaça como substrato e meio nutriente

para produção de álcoois e AOV por meio de fermentação em batelada utilizando uma cultura

mista de microrganismos anaeróbios, além de avaliar a influência de dois métodos de pré-

tratamento de inóculo na produção de ácidos orgânicos e álcoois.

1.1 Justificativa

Dentre os resíduos agroindustriais, a vinhaça tem despertado grandes preocupações

por parte da comunidade científica, principalmente após a expansão do setor sucroalcooleiro

no Brasil. O aumento na produção de derivados da cana-de-açúcar coincide com o aumento de

resíduos provenientes da industrialização desta matéria-prima. A vinhaça é caracterizada

como resíduo com alto poder poluente, cerca de cem vezes maior que a carga orgânico do

esgoto doméstico, e alto valor fertilizante. O reaproveitamento de resíduos agroindustriais,

produzidos em grande volume e com alto poder poluente, para produção potencial de

biocombustíveis, aliada aos baixos custos de investimento e manutenção em sistemas

fermentativos, torna-se uma alternativa viável e atraente para o controle da poluição ambiental

e agregação de valor aos resíduos de atividade agroindustrial.

Uma alternativa para a reciclagem da vinhaça é sua utilização em processos

anaeróbios e fermentativos para produção de biocombustíveis como hidrogênio e metano. A

maioria dos trabalhos científicos que avaliaram a utilização de consorcio microbiano em

processo fermentativo de resíduos agroindustriais investigaram a produção de hidrogênio e

AOV, existindo poucos dados de produção de álcoois como etanol e butanol. A falta de

estudos focando a síntese de álcoois por meio fermentação com cultura mista motivou os

autores deste trabalho na escolha do tema. Devido a elevada DQO, resultado principalmente

da presença de AOV; ao baixo pH e a presença de macro e micro nutrientes, principalmente

potássio, cálcio, sódio, nitrogênio, magnésio, ferro e manganês, na vinhaça, acredita-se que

este resíduo atue como fonte de nutrientes e substâncias que favoreçam a formação biológica

de AOV e álcoois.

Page 32: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

32

O principal desafio está relacionado a cultura envolvida no processo, pois além da

toxicidade inerente dos solventes, é sabido que para produção a níveis significativos de ácido

butírico, butanol e etanol, existem espécies distintas e específicas (DÜRRE, 2008a).

No entanto, o processo de fermentação com inóculo pré-tratado, conduzido em meio

de cultura suplementado com vinhaça e condições ambientais adequadas ao desenvolvimento

de microrganismos do gênero Clostridium pode revelar espécies mais adaptadas as

características intrínsecas do resíduo de vinhaça e produzir metabólitos como ácido butírico,

essencial para síntese de butanol.

Em face ao problema relacionado com a disposição correta do grande e crescente

volume produzido de vinhaça, ao aumento da demanda dos biocombustíveis, acredita-se que

este estudo resultará em dados que elucidarão a viabilidade técnica da fermentação com

culturas mistas, subsidiando outros estudos que visam criar alternativas para o tratamento e

aproveitamento da vinhaça.

1.2 Objetivos

1.2.1 Objetivo Geral

Este trabalho tem como objetivo avaliar a influência da suplementação de vinhaça para

produção de AOV e álcoois por meio de fermentação em batelada com inóculo de lodo

anaeróbio pré-tratado por processos térmico e ácido-térmico.

1.2.2 Objetivos Específicos

- Enriquecimento da cultura por meio da utilização de dois métodos de pré-tratamento

de inóculo (lodo bovinocultura): tratamento térmico (TT) e ácido térmico (AT);

- Avaliar o efeito da vinhaça, como fonte de substrato, para produção biológica de

álcoois e AOV em processo fermentativo em batelada utilizando como inóculo lodo de reator

anaeróbico pré-tratado por dois processos distintos, AT e TT;

- Avaliar o efeito da suplementação de vinhaça ao meio de cultura em proporções de

1/3, ½ e 2/3 como fonte de nutriente para produção biológica de álcoois e AOV pelas culturas

pré-tratadas AT e TT;

Page 33: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

33

- Avaliar a produção, rendimento e produtividade de álcoois e AOV em reator

fermentativo operando em batelada, alimentado com doses crescentes de vinhaça (65, 75 e 85

%) e carga fixa de melado de cana com inóculo pré-tratado por processo térmico,

autoclavagem (AU).

- Caracterizar morfologicamente e filogeneticamente os microrganismos

predominantes nos inóculos pré-tratados AT, TT e AU.

Page 34: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

34

Page 35: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

35

2. REVISÃO DA LITERATURA

Na revisão de literatura procurou-se abordar assuntos relacionados ao tema do

trabalho, principalmente os que dão subsídio a tomada de decisão na adoção da metodologia

de trabalho.

No item 2.1 apresenta-se, de forma simplificada, a principal rota metabólica da

fermentação ABE, que leva a formação de acetona, butanol e etanol, relacionando a

importância dos metabólicos e como estes influenciam na mudança da fase acidogênica para a

fase solventogênica.

No item 2.2 apresentam-se as principais culturas responsáveis pela produção de

biosolventes, puras e consórcios microbianos, como também os métodos de pré-tratamento de

inóculo, onde predominam bactérias anaeróbias formadoras de esporos. No item 2.2.4, são

apresentadas as principais técnicas de biologia molecular para a determinação filogenética de

microrganismos, com ênfase para a técnica de pirosequenciamento.

No item 2.3, é mostrado de forma resumida as principais desafios e recentes avanços

da produção biológica de álcoois e AOV, com ênfase para etanol, butanol e ácido butírico,

metabólitos de grande relevância comercial, bem como a sua importância para o mercado de

biocombustíveis.

No item 2.4 aborda-se os principais fatores que influenciam na produção de solventes,

sendo eles: pH, temperatura, pressão parcial dos gases, nutrientes do meio de cultura,

concentração da carga orgânica e toxicidade dos metabólitos.

Finalmente, no item 2.5 apresentam-se as principais características da vinhaça,

fundamental para sua utilização como fonte de substrato e nutrientes.

2.1 Rotas Metabólicas da Fermentação ABE

Uma característica típica da produção biológica dos solventes acetona, butanol e

etanol (ABE) é uma fermentação bifásica, uma fase acidogênica e outra solventogênica.

Durante a fase de acidogênica, os clostrídios crescem e produzem principalmente CO2, H2 e

ácidos acético e butírico, diminuindo o pH do meio. Nesta fase, quando se produz hidrogênio,

pode-se considerar que boa parte dos elétrons e energia gastos, de outro modo poderiam ser

Page 36: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

36

utilizados na fase solventogênica, no balanço das reações de oxido-redução (GARCÍA et al.,

2011).

Na Figura 1 está apresentado um esquema que ilustra a rota metabólica do C.

acetobutylicum, onde as bactérias primeiro seguem o percurso típico de síntese do ácido

butírico a partir de glicose, com acetato, butirato, hidrogênio e dióxido de carbono sendo os

principais metabólitos.

Figura 1 – Rotas bioquímicas do metabolismo da glicose por Clostridium

acetobutylicum.

Fonte: Adaptado de (LEVIN et al., 2011).

Tipicamente, a taxa de produção dos solventes ABE são 3:6:1 de acetona, butanol e

etanol, respectivamente (YERUSHALMI, 1985).

O balanço típico da fermentação de glicose por C. acetobutylicum está descrito na

equação (1) (DÜRRE, 2008a):

Page 37: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

37

1 C6H12O6 0,6 C4H10O + 0,14 C3H6O + 0,07 C2H6O + 0,04 [C3H7COO]- + 0,2

[CH3COO]- + 2,2 CO2 + 1,4 H2

(1)

Long, Jones e Woods (1984), em estudo que visou relacionar as fases do metabolismo

celular do Clostridium acetobutylicum P262 até formação de solventes, relataram que a

mudança para a fase solventogênica estava ligada tanto à cessação da divisão celular quanto

ao desencadeamento de várias alterações fisiológicas e morfológicas nos clostrídios. A

divisão celular do C. acetobutylicum P262 foi inibida quando na presença de 4 a 5 g L-1

de

ácidos resultantes do metabolismo, acetato e butirato, evidenciando que as bactérias

anaeróbias são fortemente inibidas em concentrações relativamente baixas de metabólitos. O

envolvimento do acetato e butirato no desencadeamento da produção de solvente é associado

ao início do processo de esporulação.

A concentração do ácido butírico não dissociado parece provocar a mudança de fase

acidogênica para a fase solventogênica. Richter et al. (2010) relatou que a fase solventogênica

pode ser induzida mesmo em pH de 6 ou superior, se a concentração de ácido butírico não

dissociado for suficientemente elevada. Isto porque os ácidos atuam como indutores de

enzimas essenciais para o biossíntese de butanol.

A diminuição do pH pode representar uma ameaça para as bactérias anaeróbias. Elas

são, em geral, incapazes de manter um pH interno constante, mas podem manter o gradiente

de pH transmembranar constante. Isto também é válido para C. acetobutylicum. Como

consequência, o pH citoplasmático será aproximadamente 1 unidade de pH mais alcalino. Em

um pH externo de 4,5 a 4, o butirato e acetato anteriormente produzidos irão estar presentes

como ácidos dissociados e, assim, ser capazes de passar através da membrana citoplasmática

por difusão. Dentro da célula, no entanto, eles irão dissociar-se em sais e prótons devido ao

pH mais elevado. Desta forma, o gradiente de prótons através da membrana é destruído,

ocasionando lise celular (DÜRRE, 2005).

A solventogênese permite combater este efeito deletério, pois nesta fase há conversão

de ácido acético e ácido butírico em acetona e butanol, conduzindo a um aumento do pH

(DÜRRE, 2005). No entanto, a presença de butanol em baixas concentrações é tóxico para as

bactérias, podendo promover a supressão do gradiente de pH através da membrana, a inibição

de ATPase, a libertação de metabolitos intracelulares e a inibição da absorção de açúcar.

Page 38: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

38

Assim, a solventogênese permite que os micro-organismos ganhem tempo para completar a

formação de endósporos e, com isso, garantir a sobrevivência a longo prazo (BOWLES;

ELLEFSON, 1985).

2.2 Culturas

Os solventes acetona, butanol e 2-propanol (isopropanol) são compostos naturalmente

formados por processo fermentativo de microrganismos, entre eles, bactérias do gênero

Clostridium: C. acetobutylicum, C. beijerinckii, C. saccharobutylicum, e C.-

saccharoperbutylacetonicum, C. aurantibutyricum, C. butyricum, C. cadaveris, C.

pasteurianum, C. puniceum, C. sporogenes, C. tetanomorphum e C. thermosaccharolyticum e

C. felsineum (DÜRRE, 2005).

Estas espécies são reconhecidas com base na proporção e tipo de solventes produzidos,

sendo que: Clostridium butyricum produz mais isopropanol que acetona; C. aurantibutyricum

produz os solventes isopropanol, acetona e butanol; Clostridium tetanomorphum produz

proporções iguais de etanol e butanol, sem produzir qualquer quantidade de acetona ou

isopropanol (QURESHI; BLASCHEK, 2005).

Embora bactérias do gênero Clostridium sejam as principais produtoras de butanol,

também foi relatado que outras espécies gram-positivas que produzem butanol, como

Butyribacterium methylotrophicum. Butyrivibrio fibrisolvens, Bacillus butylicus e, dentro da

família das Archaea, Hyperthermus butylicus (DÜRRE, 2008b; LEE et al., 2008).

2.2.1 Clostrídium sp

As bactérias do gênero Clostridium foram descobertas por Prazmowshi em 1880. São

quatro os critérios que classificam um organismo como sendo do gênero Clostridium: (1) a

habilidade de formar endosporos; (2) metabolismo estritamente anaeróbio; (3) a incapacidade

de realizar redução de sulfato; e (4) parede celular Gram-positivas que pode reagir como

Gram-negativas (ANDREESEN; BAHL; GOTTSCHALK, 1989).

Pelo menos sessenta espécies de bactérias pertencem ao gênero Clostridium, membros

da classe clostridia e família Clostridiaceae (DO, 2009; HUSEMANN; SAN, 1989). No

entanto, a produção de butanol é mais restrita a poucos membros deste gênero: C.

Page 39: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

39

acetobutylicum, C. beijerinckii, C. saccharobutylicum, C. saccharoperbutylacetonicum, C.

aurantibutyricum, C. pasteurianum, C. sporogenes, and C. tetanomorphum (KUMAR;

GAYEN, 2011). Entre essas espécies, C. acetobutylicum, C. beijerinckii, C.

saccharoacetobutylicum, e C. saccaroperbutylacetonicum são as produtoras primárias que

possuem melhor rendimento de butanol. A cultura mutante C. beijerinckii BA101 pode chegar

a produzir acima de 20 g L-1

de butanol e 33 g L-1

do total de solventes em processo de

fermentação e batelada (LEE et al., 2008).

A fermentação de açúcares por clostrídios normalmente se realiza em três diferentes

fases de crescimento celular: (1) crescimento exponencial e formação de ácidos,

principalmente acético e butírico; (2) transição para a fase estacionária de crescimento com

reassimilação de ácidos e formação concomitante de solventes (acetona, butanol, etanol,

isopropanol); e (3) formação de endosporos (LÜTKE-EVERSLOH; BAHL, 2011). Na Figura

2 estão ilustradas as fases de crescimento e desenvolvimento dos clostridios.

Figura 2 - Fases de crescimento e desenvolvimentos dos clostridios.

Adaptado de Lütke-Eversloh e Bahl (2011)

Depois de entrar na fase estacionária, as células começam a sintetizar grânulos, que

são armazenados no interior da célula. Neste estágio do desenvolvimento dos clostridios, as

células podem ser microscopicamente distintas das células vegetativas. No entanto, os

Page 40: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

40

mecanismos de regulação da formação e reutilização de grânulos não são conhecidos.

Posteriormente, o processo de esporulação é iniciado e os grânulos presumivelmente servem

como fonte de energia e de carbono para a formação do endósporo (JONES et al., 1982). Os

esporos são muito resistentes e por isso são capazes de sobreviver durante um longo período

de tempo, germinando sob condições ambientais adequadas.

O C. acetobutylicum pode utilizar uma variedade de carboidratos, incluindo pentoses,

hexoses, oligossacarídeos e polissacarídeos para o seu metabolismo, com exceção da celulose,

embora o gene celulossoma esteja presente no seu DNA (LÜTKE-EVERSLOH; BAHL,

2011).

2.2.2 Consórcio microbiano

Consórcio microbiano pode ser obtido de ambientes naturais ou de atividades

agroindustriais. Trata-se de um conjunto de microrganismos adaptados a um processo ou as

interações ecológicas do ambiente natural. Lodo anaeróbio é frequentemente usado como

inóculo para produção de hidrogênio utilizando resíduos orgânicos como substrato (CHU;

TUNG; LIN, 2013; GUO et al., 2010; SEARMSIRIMONGKOL et al., 2011; WONG; WU;

JUAN, 2014; XIAO; LIU, 2009a). Entretanto, na literatura foram encontrados apenas quatro

trabalhos que focam a utilização de consórcio microbiano oriundo de lodo para produção de

álcoois (CHENG et al., 2012; LIU et al., 2014; SINGLA et al., 2014; STEINBUSCH;

HAMELERS; BUISMAN, 2008).

A fermentação utilizando cultura mista de microrganismos é potencialmente

interessante para geração de produtos específicos. Os produtos que podem ser potencialmente

obtidos incluem misturas de AOV que podem servir como blocos de construção em outros

processos. Em comparação com cultura pura, baseado na biotecnologia industrial, as

vantagens específicas de cultura mista incluem a não necessidade de esterilização, a

capacidade de adaptação, devido à diversidade microbiana e a capacidade de utilizar

substratos mistos, (RODRÍGUEZ et al., 2006).

Para Elsharnouby et al. (2013), a motivação pelo uso de culturas mistas ou co-culturas

em vez de culturas puras é puramente econômico ou técnico. Do ponto de vista econômico,

culturas mistas podem ajudar a manter condições anaeróbias para produções altas de

hidrogênio, eliminando a necessidade de um agente redutor dispendioso, como a L-cisteína.

Page 41: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

41

Do ponto de vista técnico, culturas mistas podem melhorar a hidrólise de açúcares complexos

e da biomassa, podendo também produzir hidrogênio em uma ampla faixa de pH.

Elsharnoby et al. (2013), afirmam haver um efeito de sinergia no consórcio

microbiano. No caso da coexistência de microrganismos anaeróbios restritos e facultativos, a

capacidade de produção de H2 pelos microrganismos anaeróbios obrigatórios, que são

extremamente sensíveis a O2, é inibida ou prejudicada pela existência de O2 no meio. Neste

caso, a existência de bactérias anaeróbias facultativas eliminaria o problema consumindo o O2

presente no meio, de modo que condições anaeróbias são prontamente alcançadas sem a

necessidade de um agente redutor. Portanto, anaeróbios restritos, tais como Clostridium sp. e

anaeróbios facultativos, tais como Enterobacter sp, coexistem no mesmo reator oferecendo

condições estáveis para a produção de H2.

Hallenbeck e Ghosh (2009), afirmaram que futuras produções comerciais de

biohidrogênio terão que ser realizadas sob condições não estéreis e usando matéria-prima

prontamente disponível. Isto só será possível utilizando culturas mais resistentes, o que

envolve estudos de engenharia genética, ou então utilizando culturas mistas, pois as

comunidades microbianas são potencialmente mais tolerantes a mudanças nas condições

operacionais. Por outro lado, a consciência dos efeitos dos parâmetros operacionais e estrutura

da comunidade sobre as taxas de produção e rendimento de hidrogênio e outros metabólitos,

durante a fermentação, pode oferecer informações úteis para a otimização da geração de

hidrogênio e solventes.

Tran et al. (2010), utilizou uma co-cultura de Bacillus subtilis TISTR 1032 (aeróbia) e

C. butylicum WD 161 (anaeróbia), levou a uma melhoria substancial da produção dos

solventes ABE, utilizando amido de mandioca solúvel como substrato. Este rendimento foi

superior devido a atividade de amilase superior durante o processo de dessacarificação na

presença de aeróbios B. subtilis. O sistema de co-cultura de organismos aeróbios e anaeróbios

evitou a utilização de agentes redutores utilizados para a manutenção de condições anaeróbias

na fermentação, tornando a fermentação anaeróbia mais econômica e rentável. Contudo,

sistemas como este podem contribuir bastante para o desenvolvimento da produção

industrializada ABE.

Page 42: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

42

2.2.3 Métodos de pré-tratamento de culturas

A utilização de culturas puras naturais e mutantes, em processos de fermentação para

obtenção de solventes e hidrogênio, tem mostrado elevada taxa de rendimento, variando entre

0,33 a 0,41 g de solventes por g de DQO consumida (DUSSÉAUX et al., 2013; HOU et al.,

2013; LEHMANN; LÜTKE-EVERSLOH, 2011; YU et al., 2011) e de 6,4 a 7,2 L H2 L-1

dia-1

(CAI et al., 2013; JIANG et al., 2013; JO et al., 2008). Entretanto, a aplicação de culturas

puras quando se trata da utilização de substratos oriundos de resíduos agroindustriais, o

processo fermentativo se torna inviável, uma vez que o custo para esterilização do resíduo é

muito alto. Para facilitar tecnicamente o processo utilizam-se culturas mistas obtidas de fontes

naturais, não havendo necessidade de esterilizar a matéria-prima utilizada como substrato.

Entretanto, um dos obstáculos é a competição entre microrganismos que coexistem na

microflora, que podem levar a produção de compostos não desejados no processo, como por

exemplo, as bactérias redutoras de sulfato, as arquéias metanogênicas e as bactérias

acetogênicas (BAGHCHEHSARAEE, 2009).

A fim de criar ambiente propício para o desenvolvimento específico de algumas

espécies de microrganismos dentro de uma cultura mista, entre estes, bactérias do gênero

Clostridium, foram desenvolvidos métodos de pré-tratamento para o enriquecimento de

culturas. Os mais comuns são: tratamento térmico, tratamento ácido, tratamento alcalino e

tratamento com inibidores químicos (BAGHCHEHSARAEE, 2009).

O tratamento térmico é a técnica mais comum empregada para o enriquecimento de

bactérias produtoras de hidrogênio e alguns autores citam que este método apresenta

vantagens por ser um método simples e rápido, que elimina bactérias não formadoras de

esporos que consomem hidrogênio, tal como as arquéias metanogênicas, fazendo prevalecer

as bactérias do gênero Clostridium (MOHAMMADI et al., 2011).

Sendo os microrganismos produtores de hidrogênio potenciais formadores de

solventes (dependendo das condições ambientais e de nutrientes que favorecem a mudança de

fase acidogênica para solventogênica), cabe ressaltar os resultados de pesquisas que

conduzem a formação de hidrogênio por meio do enriquecimento de culturas mistas, já que

existem poucos trabalhos que relacionam o uso de culturas mistas para produção de butanol.

Page 43: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

43

Baghchehsaraee (2009) comparou o efeito do pré-tratamento térmico (65, 80 e 90°C

por 30 minutos) no enriquecimento de uma cultura de lodos ativados e de uma cultura de lodo

anaeróbio alimentada com substrato de glicose. Os resultados da pesquisa demonstraram que

o rendimento e a taxa de produção de hidrogênio foi mais alta com o tratamento térmico a

65°C, tanto para cultura de lodo ativado (1,6 mols de H2 mol-1

de glicose e 19,3 mL h-1

) como

para cultura de lodo anaeróbio (2,3 mols de H2 mol-1

de glicose e 26,3 mL h-1

). Já o pré-

tratamento a temperatura de 95°C com lodo anaeróbio, resultou numa menor produção de

hidrogênio, mas em compensação, aumentou a taxa de concentração de butirato e acetato.

Análise do consórcio microbiológico do lodo demonstrou que os tratamentos com

temperaturas mais altas diminuem a diversidade de espécies.

Chang e Lin (2004), avaliaram a produção de hidrogênio a partir de sacarose (20 g

DQO L-1

) em um reator UASB, alimentado com lodo anaeróbio filtrado (2,35 mm) e tratado

termicamente a 100°C por 45 minutos. A taxa de produção de H2, num TDH de 8 horas, foi

de 53,5 mmol H2 g-1

de lodo dia, com teor de H2 igual a 42,4% (v/v). Os principais

metabólitos da fermentação foram o ácido butírico e ácido acético.

O tratamento térmico alcança bons resultados no enriquecimento de culturas também

para o tratamento de resíduos alimentícios. Nos estudos de Han et al. (2005), foram

alcançadas eficiências na remoção de sólidos voláteis e de produção de hidrogênio de 70,9% e

3,55 m3 m

-3 dia

-1, respectivamente, em reator de leito fixo operando em condição acidogênica

no primeiro estágio, alimentado com lodo tratado a 100°C por 15 minutos, tendo como fonte

de substrato o efluente de restaurante (DQO solúvel de 3,1 mg L-1

).

Outro tipo de pré-tratamento térmico é a autoclavagem ou esterilização. Xiao e Liu

(2009), utilizaram lodo esterilizado, proveniente de estação municipal de tratamento de esgoto

em Beijing (China), para produzir hidrogênio por fermentação anaeróbia espontânea, sem

adição extra de substratos ou semente de lodo. O rendimento de hidrogênio do lodo

esterilizado foi de 16.26 mL g-1

de sólidos voláteis. O metano não foi detectado no biogás. O

principal ácido volátil sintetizado foi o acetato, seguido pelo butirato. O processo de

esterilização do lodo, além de favorecer a germinação de esporos e por consequência o

desenvolvimento de microrganismos formadores de H2, promoveu a hidrólise de materiais

insolúveis, de forma que a degradação de hidratos de carbono desempenhou um papel

importante na produção de hidrogênio no lodo esterilizado.

Page 44: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

44

Tratamentos ácidos ou básicos também têm sido utilizados por pesquisadores para

melhoramento da produção de hidrogênio e inibição da atividade metanogênica. Goud e

Mohan (2012), avaliaram os métodos de enriquecimento ácido (pH 3; ácido ortofosfórico; 24

h) e básico (pH 11; hidróxido de sódio; 24 h), operando em três reatores anaeróbios de

batelada idênticos por um longo período (520 dias), com TDH de 48 h. Foi observada uma

produção relativamente maior de H2 no reator inoculado com cultura mista pré-tratada com

ácido (15,78 mol kg-1

de DQO removida) sobre a pré-tratada com solução alcalina (9,8 mol

kg-1

de DQO removida) e o controle (3,31 mol kg-1

de DQO removida). Por outro lado, a

degradação do substrato foi maior no reator controle (com cultura mista não tratada), devido à

presença de bactérias metanogênicas. A análise das populações microbianas por DGGE,

indica o enriquecimento seletivo de Clostridium sp e Bacilus sp nas culturas pré-tratada.

Lee, Song e Hwang (2009), avaliaram o efeito de três ácidos no pré-tratamento de

culturas mistas, HCl, HNO3 e H2SO4. Os estudos determinaram que o HCl foi o ácido mais

adequado para o enriquecimento de culturas produtoras de hidrogênio no processo de

fermentação, com destaque para espécies de Clostridium. O volume de H2 produzido quando

a cultura mista foi tratada com HCl foi 3,2 vezes maior do que a cultura mista sem pré-

tratamento ácido.

Há também estudos que integram métodos de pré-tratamento. Mohan et al. (2007),

submeteram uma cultura mista a repetidos pré-tratamentos, alternando quatro vezes entre

tratamento térmico (100°C por 2 h) e tratamento ácido (pH 3, ácido ortofosfórico, 24 h). A

cultura ainda foi seletivamente enriquecida com adição de antibiótico (kanamycin 10 mg L-1

)

incubado a 30°C por 24 h por 5 vezes, com a finalidade de isolar algumas espécies de

bactérias (produtoras de H2) tornando-as mais resistentes. Os resultados com tratamento de

efluentes industriais em reator anaeróbio operado em bateladas sequenciais foi bastante

satisfatório, sendo que a produção específica de H2 quase dobrou em relação ao controle

(0,297 a 0,483 mol H2 kg-1

DQO removida).

2.2.4 Técnicas de biologia molecular para identificação da

população microbiana

Técnicas de biologia molecular tem possibilitado o estudo da diversidade e ecologia de

microrganismos em ambientes naturais e em reatores anaeróbios, alcançando-se novas

Page 45: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

45

oportunidades para a análise da estrutura e da composição de espécies de comunidades

microbianas nos mais diversos ecossistemas, diferente das técnicas convencionais, como a

microscopia ótica, que oferece limitações quanto a identificação de microrganismos.

O sequenciamento de DNA pode ser considerado como uma das mais importantes

ferramentas de estudo dos sistemas biológicos (RONAGHI, 2001). Este método é cada vez

mais empregado para a análise de bibliotecas de fragmentos de DNA obtidos diretamente do

ambiente e utilizados para determinação da diversidade e da função de comunidades

microbianas. A estratégia metagenômica constitui em uma derivação da genômica microbiana

convencional, pois não há necessidade de se obter culturas puras para sequenciamento,

revelando, portanto, os genomas contidos na comunidade e não em populações isoladas. Como

resultado constitui uma importante ferramenta para determinação de hipóteses a respeito das

inter-relações dos membros da comunidade.

Segundo Head, Saunders e Pickup (1998), a principal limitação dos métodos

moleculares é a quantidade de ácidos nucleicos recuperada das amostras ambientais, sendo

difícil assegurar uma eficiente recuperação por qualquer técnica de extração. Há sempre perdas

de ácidos nucléicos durante o processo e, além disso, alguns microrganismos apresentam

estrutura celular difícil de ser rompida (esporos, células Gram-positivas, por exemplo). Para

minimizar tais problemas é necessário utilizar um método de extração de DNA eficiente para

todos os tipos de células presentes na amostra, bem como realizar várias extrações de uma

mesma amostra para garantir a homogeneidade do DNA extraído. Segundo Abreu (2007), por

questões de manipulação laboratorial, trabalha-se mais frequentemente com a sequência do

DNA que codifica a região 16S do RNAr (DNAr 16S). Isto porque o DNA é uma molécula

mais estável e mais fácil de se manipular do que o RNA. A amplificação e análise do gene

DNAr, portanto, têm sido utilizadas comumente para investigar a biodiversidade e a estrutura

da comunidade microbiana de diversos ambientes, inclusive de reatores anaeróbios.

A aplicação da técnica de pirosequenciamento constitui-se em uma das mais avançadas

ferramentas para caracterização da diversidade presente em ecossistemas complexos

(YOUSSEF et al., 2009). A necessidade atual pela redução no custo do par de bases

sequenciado, juntamente com a demanda de um maior número de dados em curto espaço de

tempo propiciaram o desenvolvimento de novas técnicas capazes de suprir parcialmente tais

exigências. Apesar da grande evolução na técnica de Sanger originalmente proposta há mais de

Page 46: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

46

30 anos, ainda há limitações no custo e velocidade de sequenciamento de DNA, tornando- se

cada vez menos compatível às atuais necessidades. A partir do exposto, surgem diferentes

técnicas como sequenciamento por hibridização (GENTALEN; CHEE, 1999), técnicas de

detecção de uma única molécula, ressonância molecular de sequenciamento, enzima-

dependente, etc., mas até o presente momento apenas a técnica de pirosequenciamento

(RONAGHI et al., 1996) foi realmente empregada em maior escala para a análise da

diversidade microbiana de diferentes ambientes. Este fato deve-se à capacidade de montar em

um único chip centenas de milhares de reações ao mesmo tempo.

Pode-se resumir a tecnologia de Pirosequenciamento como técnica que se baseia no

método de sequenciamento por detecção do pirofosfato luminométrico produzido pela

incorporação de nucleotídeos na reação (RONAGHI; UHLEN; NYREN 1998). A maior

vantagem do pirosequenciamento em relação a Sanger é devido ao fato de não ser necessária a

clonagem do fragmento a ser sequenciado, reduzindo uma etapa dispendiosa de tempo e

recursos financeiros, uma vez que a técnica tem como vantagens a precisão, flexibilidade,

processamento paralelo e pode ser facilmente automatizada. Além disso, há outras vantagens

como a não necessidade de primers rotulados, nucleotídeos marcados e eletroforese em gel

(RONAGHI, 2001).

2.3 Perspectivas da Produção de Biocombustíveis via Fermentação

2.3.1 Ácido butírico

Ácido butírico ou ácido butanoico é um ácido monocarboxílico saturado, produzido

em escala industrial principalmente por meio de síntese química. Isto envolve a oxidação de

butiraldeído, o qual é obtido a partir de propileno derivados de óleo bruto por oxossíntese.

Outro método de produção é a extração a partir de manteiga rançosa, sendo este processo

mais dispendioso em relação a síntese química (ZIGOVÁ; STURDÍK, 2000). A terceira

maneira é via fermentava, processo que tem atraído maior interesse da indústria.

O ácido butírico tem muitos usos em diferentes indústrias e, atualmente, há um grande

interesse em usá-lo como um percursor para produção de biocombustíveis. Além disso, o

ácido butírico pode ser usado para produzir o butirato de etila e butirato de butila, ambos os

quais tem potencial para serem utilizados como combustíveis (WU et al., 2010). A produção

fermentativa de biobutanol enfrenta um grande desafio, devido à toxicidade deste álcool para

Page 47: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

47

microrganismos da classe Clostridia. Se por um lado Zymomonas mobilis tolera até 180 g L-1

de etanol, cepas mutantes de Clostridium toleram no máximo 20 g L-1

de butanol (LIU;

QURESHI, 2009). O baixo rendimento de butanol eleva os custos de recuperação desde

biocombustível.

Uma estratégia que vem sendo investigada para melhorar o rendimento de álcoois a

partir de ácidos carboxílicos ou AOV é a pós-conversão por processamento químico. Por

exemplo, um sistema tem resíduos convertidos em AOV por uma cultura mista de

microrganismos, seguido pela conversão eletroquímica em ésteres e uma mistura de alcanos e

álcoois (LEVY et al., 1981). Um outro sistema, patente denominada MixAlco, foi testado com

muitas matérias-primas diferentes (HOLTZAPPLE et al., 1999). Os estudos de fermentação

com substratos a base de resíduos sólidos urbanos pré-tratados e bagaço de cana alcançaram

de 69% e 60%, na conversão de biomassa em ácidos carboxílicos, atingindo produção

máxima de 20,5 g L-1

e 18,7 g L-1

, respectivamente (CHAN; HOLTZAPPLE, 2003;

THANAKOSES; BLACK; HOLTZAPPLE, 2003). O sistema MixAlco concentra os

carboxilatos por secagem e precipitação de cálcio. A mistura de carboxilato é decomposta

termicamente para cetonas, e as cetonas são cataliticamente hidrogenada a uma mistura de

álcoois.

Sob condições anaeróbias, ácido butírico é um metabólito comum produzido por cepas

de bactérias de vários gêneros. No entanto, para uso industrial, as cepas de Clostridium são

preferidas devido à sua maior produtividade. As cepas mais importantes de Clostridium

estudadas para as produções à escala industrial de ácido butírico são C. butyricum (HE et al.,

2005; ZIGOVÁ et al., 1999), C. tyrobutyricum (JIANG et al., 2010; JO et al., 2009), e C.

thermobutyricum (CANGANELLA; WIEGEL, 2000). Atualmente, o microrganismo mais

promissor utilizado para a bioprodução de ácido butírico é C. tyrobutyricum. Cepas mutantes

desta espécie são capazes de produzir ácido butírico com elevada concentração, de 34 até 43 g

L-1

(DWIDAR et al., 2013; LIU; YANG, 2005; LIU; ZHU; YANG, 2006) sem que haja

inibição devido a toxicidade deste composto. No entanto, tal espécie só pode fermentar

poucos hidratos de carbono, incluindo a glucose, xilose, frutose, e lactato. Por outro lado, C.

butyricum pode fermentar muitas fontes de carbono incluindo hexoses, pentoses, glicerol,

lignocelulose, melaço, amido de batata, e o permeado de soro de queijo (HE et al., 2005), com

rendimentos de butirato mais baixos em comparação com C. tyrobutyricum. Para C.

thermobutyricum, a gama de açúcares fermentáveis é elevada, uma vez que consome a

Page 48: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

48

glicose, frutose, maltose, xilose, ribose, e celobiose, e alguns açúcares oligoméricos e

poliméricos, mas não de sacarose ou amido (WIEGEL; KUK; KOHRING, 1989).

2.3.2 Butanol

O butanol é um álcool que é utilizado principalmente como solvente e combustível.

Apresenta-se como líquido incolor, de odor sufocante, inflamável e pouco solúvel em água.

Sua estrutura molecular (formula molecular C4H9OH) lhe confere maior capacidade de

liberação de energia em comparação ao etanol, devido aos quatro átomos de carbono ligados

(LEVIN et al., 2011). A molécula de butanol apresenta quatro estruturas isoméricas: n-

butanol, sec-butanol, iso-butanol e terc-butanol. Cada isômero possui uma dada característica

físico-química e a maioria deles pode ser sintetizada nas reações bioquímicas de fermentação

de biomassa, com exceção do terc-butanol (MACHADO, 2010).

Devido as suas características intrínsecas, tem se dado atenção a utilização de

biobutanol como aditivo de combustível ou como um substituto direto da gasolina. O

biobutanol apresenta diversas vantagens na sua utilização como combustível em relação ao

etanol e metanol:

a) Possui conteúdo energético 30% maior (29,2 MJ L-1

) em relação ao etanol

(19,6 MJ L-1

) c;

b) Pode ser misturado a uma proporção variada com gasolina ou diesel

diretamente na refinaria sem qualquer infraestrutura adicional;

c) Facilidade no transporte e menor corrosão através de gasodutos devido à baixa

pressão de vapor;

d) A proporção ar:combustível é próxima ao da gasolina. No entanto, a

substituição completa da gasolina por butanol exigiria um aperfeiçoamento na

proporção de ar:combustível, mas combinando-se até 20% de butanol com

gasolina não há necessidade nenhuma de modificação nos atuais motores de

combustão;

e) O calor de vaporização de butanol é ligeiramente maior ao da gasolina,

facilitando o arranque a frio;

f) (e) A baixa solubilidade do butanol em água reduz o potencial de

contaminação das águas subterrâneas (BANKAR et al., 2013).

Page 49: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

49

Os Estados Unidos representam cerca de dois terços do mercado global de butanol,

estimado em aproximadamente 370 milhões de litros por ano tendendo a crescer ainda mais

(SYNTEC BIOFUEL, 2014). Em outubro de 2013, a ASTM emite uma norma que especifica

a mistura de butanol com gasolina, 1 a 12,5 %, para uso em motores de ignição automotivos.

A especificação abrange três isómeros butanol: 1-butanol, sec-butanol, e iso-butanol (ASTM

INTERNATIONAL, 2013). Contudo, a crescente demanda por biobutanol, principalmente

como combustível, tende a adaptação de usinas produtoras de bioetanol com sistemas de

separação avançados que lhes permitam produzir biobutanol, já que este biocombustível tem

inerentemente maior valor agregado que o bioetanol.

A pesquisa sobre a produção de butanol por fermentação centrou-se principalmente na

área da compreensão dos princípios fisiológicos da produção desse solvente e na área de

engenharia metabólica. Poucas espécies de clostrídios naturais (incluindo os mutantes das

espécies mais conhecidas) têm sido estudadas recentemente. Isto pode ser explicado pelo fato

das melhores cepas já converterem glicose em butanol dentro limite de tolerância, devido à

toxicidade deste composto. Processos de fermentação clostridiana convencionais com as

melhores variedades naturais produzem butanol em concentrações de. 20 g L-1

, que é muitas

vezes indicado como o limite superior tolerado. A investigação de novas cepas tolerantes ao

butanol (em termos de engenharia metabólica) é naturalmente um dos temas ou abordagens

em pesquisa mais inovadores no processo de fermentação (GARCÍA et al., 2011).

Outro foco de recentes pesquisas visa investigar a viabilidade econômica de baixo

custo da utilização de materiais lignocelulósicos como matéria-prima no processo de

fermentação. A eficácia de várias espécies de clostridios produtoras de butanol foi analisada

com base na utilização de matérias-primas provenientes de resíduos agroindustriais ou de

materiais lignocelulósicos. Na Tabela 2, estão apresentados alguns resultados em termos do

rendimento e produtividade de butanol por fermentação de diversos tipos de substratos.

Page 50: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

50

Tabela 1 - Rendimento e produtividade de butanol ou solvente ABE por fermentação de diversos tipos de substratos.

Microorganismo Cepa

Tempo de

fermentação

(h)

Substrato ou açúcar consumido Butanol ou

(ABE) (g L-1

)

Rendimento de Butanol

(g g-1

) Produtividade

(g L-1

h-1

) Referência

Açúcar

Total Substrato

C. beijerinckii BA101 96

80 g L-1

de melaço de soja seco e

pulverizado (34,7 g L-1

de açúcar) 8,0 (10,7) 0,23 0,1 0,08

(QURESHI; LOLAS;

BLASCHEK, 2001)

C. acetobutylicum P262 75 60 g L-1

de amido de sagu 16,0 (18,0) 0,24

0,21 (MADIHAH et al., 2001)

C. beijerinckii BA101 78

Amido de milho liquefeito

sacarificado (45,7 g L-1

de

glicose) 13,4 (18,2) 0,29

0,17

(EZEJI; QURESHI;

BLASCHEK, 2007)

C. saccharoper-

butylacetonicum N1-4 48 48,5 g L-1

de amido de mandioca 16,9 (21,0) 0,33 0,35 0,35

(THANG; KANDA;

KOBAYASHI, 2010)

C. acetobutylicum ATCC 824 48

10% de lixo orgânico doméstico

seco e hidrolizado 4,2 (6,1)

0,09

(LÓPEZ-CONTRERAS et

al., 2000)

C. beijerinckii P260 42

86 g L-1

de palha de trigo

hidrolisada (60,2 g L-1

de açúcar

total) 12,0 (25,0) 0,2 0,14 0,29

(QURESHI; SAHA;

COTTA, 2007)

C. saccharobutylicum 262 120

Resíduo de destilaria de grãos

(DDGS) diluídos e pré-tratados

com ácido 7,3 (12,1) 0,21

0,06

(EZEJI; BLASCHEK,

2008)

C. acetobutylicum JB200 40

bagaço de mandioca (44,8 g L-1

de glicose) 9,7 (15,4) 0,22

0,24 (LU et al., 2012)

C. beijerinckii P260 68

palha de cevada tratada com cal

(63,4 g L-1

de açúcar total) 18,0 (26,6) 0,29

0,26 (QURESHI et al., 2010a)

C. beijerinckii P260 96

palha de milho hidrolizada (37,3 g

L-1

de açúcar total) 10,4 (16,0) 0,28

0,11 (QURESHI et al., 2010b)

C. acetobutylicum

ATCC

4259 20

mistura de 13 g L-1

de glicerol e

30 g L-1

de glicose 8,6 (9,2) 0,2

0,42

(ANDRADE;

VASCONCELOS, 2003)

C. pasteurianum MBEL GLY2 82 g L-1

de glicerol 17,8 (27,0)b 0,3

0,43

(MALAVIYA; JANG; LEE,

2012)

Continuação…

Page 51: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

51

Microorganismo Cepa

Tempo de

fermentação

(h)

Substrato ou açúcar consumido Butanol ou

(ABE) (g L-1

)

Rendimento de Butanol

(g g-1

) Produtividade

(g L-1

h-1

) Referência

Açúcar

Total Substrato

Clostridium

acetobutylicum ATCC

824 e Bacillus subtilis

DSM 4451 72

75 g L-1 de resíduo fruto de

palma em meio enriquecido com

extrato de levedura e nitrato de

amônio 21,7 (31,7) 0,59 0,44

(ABD-ALLA; ELSADEK

EL-ENANY, 2012)

Page 52: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

52

2.3.1 Etanol

Etanol é produzido em escala industrial por processo fermentativo. Certas espécies de

levedura (Saccharomyces cerevisiae) ou bactérias (Zymomonas mobilis) metabolizam

açúcares em condições quase anóxicas produzindo etanol e dióxido de carbono. A S.

cerevisiae, levedura anaeróbia facultativa, e Z. mobilis, bactéria gram negativa, são

comumente utilizadas na conversão de hexoses, açucares com 6 carbonos – C6, de primeira e

segunda geração e pentoses (segunda geração) a taxas elevadas de etanol. No entanto, tais

microrganismos são incapazes de fermentar pentoses, açúcares com 5 carbonos, C5.

Outras leveduras e bactérias estão sendo investigadas para fermentar a xilose e outras

pentoses em etanol, como Candida shehatae e a levedura Pichia stiplis. A pesar destas

culturas oferecerem um bom potencial para produção de etanol, apresentam baixa tolerância

ao etanol, resultando em um baixo rendimento de etanol, além da inatividade em pH baixo.

Pachysolen tannophilus e Escherichia coli, ambas bactérias gram-negativas, são capazes de

fermentar pentoses e hexoses. Kluveromyces marxianus, uma levedura termófila, é capaz de

crescer a uma temperatura acima de 52 °C; e é capaz de fermentar um amplo espectro de

açúcares. O excesso de açúcares afeta o seu rendimento de álcool. Ele tem, no entanto uma

baixa tolerância a etanol e pobre rendimento de fermentação da xilose. Bactérias termofílicas,

por exemplo, Thermoanaerobacterium Sacchaarolyticum, Thermoanaerobacter ethanolicus,

Clostridium teramocellum, são bactérias anaeróbias, resistentes a uma temperatura

extremamente alta de 70 °C. Estas bactérias podem fermentar uma variedade de açúcares,

exibir atividade celulolítica, mas exibem uma baixa tolerância (BAEYENS et al., 2015).

2.4 Fatores que afetam a solventogênese

Vários são os fatores que afetam a produção e o rendimento de solventes por micro-

organismos solventogênicos. Entre os fatores ambientais e físico-químicos mais comuns estão

o pH, a temperatura da fermentação, a presença de macro e micronutrientes no meio, a

concentração de substrato e a toxicidade de metabólitos ou mesmo do próprio substrato.

Page 53: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

53

2.4.1 pH

Um parâmetro regulador essencial no metabolismo celular é o pH do meio. Segundo

Monot, Engasser e Petitdemange (1984), o metabolismo celular é regulado por concentrações

intracelulares, sendo que a atividade metabólica de C. acetobutylicum está associada à

concentração intracelular de ácido butírico não dissociado em vez da concentração no meio.

Como a concentração de ácido no citoplasma da célula é diferente da concentração medida no

meio de cultura, uma vez que os ácidos são produzidos e excretados pelas células, certamente

haverá um gradiente de concentração através da membrana celular. Além disso, com o

crescimento de Clostridium, o pH interno é maior do que o pH externo, devido a um processo

de translocação de prótons catalisada por uma membrana ligada ATPase. Isto resulta numa

modificação na dissociação de equilíbrio dentro da célula. Em consequência, a redução do pH

intracelular por inibição da ATPase, ligada à membrana, aumentando assim a concentração de

ácido não dissociado no interior da célula, que por sua vez tem uma influência favorável sobre

a produção de acetona e butanol. Contudo, o ácido butírico não dissociado tem papel essencial

na indução da produção de solvente em C. acetobutylicum.

Entretanto, segundo Ezeji, Qureshi e Blaschek (2005), as culturas mantidas a pH

relativamente elevado (maior de 6,5), produzem mais ácidos e menos solventes do que as

culturas mantidas a um pH baixo. Holt, Stephens e Morris (1984), demonstraram que C.

beijerinckii é capaz de produzir acetona-butanol em um meio em que o pH é mantido neutro

ao longo da fermentação, com suplementação de acetato e butirato nas concentrações de

10mM. De fato as concentrações elevadas de acetato e butirato são necessárias para

desencadear a solventogênese a pH 7, de forma que chama a atenção para os efeitos das

formas não dissociadas destes ácidos sobre a cultura celular. Vários parâmetros relacionados,

tais como o pH ácido, as concentrações elevadas de ácidos fracos, e densidades celulares

elevadas parecem estar envolvidos no desencadeamento da produção de solvente (GEORGE;

CHEN, 1983).

Em meios de cultura mal tamponados, o pH pode diminuir para menos de 4,5 durante

a o final da acidogênese, levando a súbita cessação da solventogênese, e um fenômeno

conhecido como "crash acid" pode ocorrer. Tal fenômeno está associado a uma terminação

rápida da solventogênese quando a concentração combinada dos ácidos acético e butírico não

dissociadas excedem um valor de limiar crítico no meio de fermentação (MADDOX et al.,

Page 54: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

54

2000). Com base nesta informação, o aumento da capacidade de tamponamento do meio de

crescimento pode ser um método simples para obter uma concentração elevada do íon

butirato, menos tóxico que as formas não dissociadas do ácido butírico, minimizando os

efeitos deletérios no crescimento celular microbiano (BRYANT; BLASCHEK, 1988). Além

disso, a elevada concentração de butirato no meio pode favorecer o aumento no rendimento de

butanol.

2.4.2 Temperatura

A temperatura é outro fator que afeta os processos biológicos, uma vez que, influencia

o metabolismo dos microrganismos produtores de solventes e, por conseguinte, o rendimento

do processo e a distribuição dos metabólitos produzidos.

A maioria dos trabalhos recentes com fermentação direcionada para produção de

álcoois utiliza, no processo, a faixa de temperatura mesófila (35 a 40°C) (CHEN et al., 2013;

EZEJI; QURESHI; BLASCHEK, 2013, 2007; OUEPHANIT et al., 2011), havendo também

uma ampla faixa de trabalhos que avaliaram a fermentação em condições termófilas (55 a 65

°C) (BAGHCHEHSARAEE, 2009; CRESPO et al., 2012; YU; FANG, 2001), porém estes

estão mais relacionados com as particularidades dos microrganismos em estudo, sendo que

algumas espécies só se desenvolvem em temperaturas termófilas.

Existem muito mais estudos que investigam estritamente a influência da temperatura de

fermentação na produção de hidrogênio do que na produção de álcoois. Isto se deve ao fato de

que a maior parte dos estudos de fermentação ABE utiliza microrganismos modificados

geneticamente, sendo estes desenvolvidos sob condições operacionais específicas. No entanto,

é válido associar os estudos de produção de hidrogênio com a produção de álcoois, pois as

bactérias responsáveis pela produção destes potenciais combustíveis são as mesmas, sendo a

maioria do gênero Clostridium.

A fermentação acidogênica em elevadas temperaturas apresenta vantagens, tais como,

maior biodisponibilidade dos substratos devido a maior solubilidade dos mesmos e menor risco

de contaminação por microrganismos metanogênicos. Todavia, ainda que em condição

termófila, o rendimento e a taxa de produção específica sejam maiores do que em condição

mesófila, a taxa de produção volumétrica de hidrogênio pode ser inferior, já que culturas

termófilas em meio líquido não atingem elevadas densidades celulares (RAY et al., 2008).

Page 55: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

55

Lazaro (2012), avaliou a influência da temperatura na produção biológica de

hidrogênio a partir de vinhaça de cana-de-açúcar como única fonte de carbono, utilizando

cultura mista de micro-organismos enriquecida. Os melhores resultados de produção e

rendimento de hidrogênio foram alcançados dentro da condição mesófila (37°C). A autora

também constatou que as culturas mesófilas possuíam maior diversidade de espécies.

2.4.3 Pressão Parcial de gases

Existem diferentes opiniões sobre o papel da pressão parcial dos gases na fermentação.

Van Andel et al. (1985) constatou que a pressão parcial de hidrogênio influencia na

concentração de acetato e butirato, quando no cultivo de C. butyricum em meio com limitação

de glicose e com aditivo redutor da tensão superficial, sob uma pressão parcial de H2 de 0,68

atm e de CO2 de 0,32 atm, sem adição de N2. A tensão superficial reduzida favorece a

dissolução dos gases no meio de cultivo e a trocas entre o meio líquido e gasoso. Com estes

resultados, observa-se que a presença de hidrogênio dissolvido no meio de fermentação é o

fator que influencia no aumento da concentração de sais de ácidos orgânicos, principalmente

acetato e butirato.

Yerushalmi, Volesky e Szczesny (1985) relataram que a concentração de butanol e

etanol, a partir da fermentação de uma cultura pura de C. acetobutylicum, aumentou a medida

que as pressões parciais de H2 aumentava, e que a produção total de hidrogênio caiu em 30%.

Lamed, Lobos e Su (1988), verificaram que o aumento da pressão parcial de H2 (2,5 atm) no

volume de headspace de uma cultura de C. thermocellum deslocou o processo para a produção

de etanol.

Segundo Clark, Zhang e Upadhyaya (2012), reações para formação biológica de

hidrogênio são termodinamicamente favoráveis quando sob baixas pressões parciais de

hidrogênio não favorecendo a mudança de fase para produção de solventes. No entanto, este

mesmo autor, verificou que a concentração de butirato aumentou (de 628 para 703 mg L-1

,

cerca de 12 %) em reatores com baixa pressão e sem agitação, comparando com reatores sob

agitação, onde a formação de hidrogênio gasoso era facilitada.

Segundo Jones e Greenfield (1982), o efeito dos gases dissolvidos na produção

microbiana e o crescimento de células sugere que o potencial para otimizar a produção de

solventes de base biológica está na manipulação da concentração dos gases de dissolvidos

Page 56: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

56

oriundos do processo fermentativo ou na adição de gases, variando-se a pressão total do

sistema. Níveis elevados de gases dissolvidos, principalmente CO2 e H2, pode ser resultado de

atividade de fermentação e podem ser amplificados pelo aumento das pressões hidrostática

(0,1 MPa por metro de profundidade de água) na base de fermentadores de grande escala

(MCINTYRE; MCNEIL, 1998).

Doremus et al (1985) constatou em seus estudos que a agitação e a pressão são

parâmetros que afetam o nível de gás hidrogênio dissolvido, que por sua vez afeta

significantemente a produção de butanol. No sistema não pressurizado, a agitação afetou

significativamente a produção de butanol, sendo a concentração de butanol inversamente

proporcional a agitação. No entanto, num sistema com pressão de 1 bar, a agitação não

promoveu mudanças significativas no rendimento de butanol, quanto maior a agitação, menor

o rendimento de butanol. Maior rendimento de butanol foi alcançado em sistema não

pressurizado, a 25 rpm, sendo 6,1 g L-1

.

Ballongue et al. (1987) avaliou o efeito inibitório de produtos do metabolismo de C.

acetobutylicum. Os pesquisadores concluíram que os gases produzidos durante a fermentação,

H2 e CO2 na forma dissolvida, tinham um efeito tóxico para as bactérias, comparado ao efeito

de 5 g L-1

de ácido butírico. Os experimentos foram realizados em fermentadores submetidos

ao vácuo e borbulhados continuamente com N2.

Contudo, a despeito das opiniões divergentes sobre os efeitos da pressão parcial de

gases na fermentação ABE, é preciso estudar a viabilidade econômica do emprego de técnicas

de modificação de atmosfera visando o aumento da produção de solventes. Ao contrário da

produção de hidrogênio, para produção de solventes é interessante manter os gases

dissolvidos no meio de fermentação até o ponto que estes não inibam o crescimento das

bactérias.

2.4.4 Concentração da carga orgânica

Inibição do crescimento de bactérias devido a concentração e origem do substrato é

um problema frequente em fermentações de solventes. Inibição de C. beijerinckii BA101

devido a alta concentração de açúcar (160 g L-1

) foi verificada no trabalho de Ezeji, Qureshi e

Blaschek (2003). C. beijerinckii BA101 difere em tolerância a concentração de glicose

quando comparado com a cepa industrial de C. acetobutylicum P262, que é capaz de tolerar

Page 57: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

57

mais do que 250 g L-1

de lactose presente no soro de leite. Qureshi e Blaschek (2001), durante

a avaliação do efeito de diferentes concentrações de açúcar inicial no crescimento de C.

beijerinckii BA101, demonstraram que a concentração máxima de células (1,74 g L-1

de peso

seco) foi alcançada numa concentração de glicose de 60-102 g L-1

. O crescimento celular foi

severamente inibido quando a glicose estava a níveis superiores a 158 g L-1

, enquanto as fases

de latência para o crescimento das células em concentrações de glucose de 60 e 158 g L-1

foram de 6 e 23 h, respectivamente.

O efeito de uma elevada concentração de açúcar inicial, dentro dos limites toleráveis,

faz o microrganismo permanecer por mais tempo na fase de latência, prejudicando a produção

de solventes. Depois de ter sobrevivido a elevada pressão osmótica inicial, as células parecem

ser capazes de continuar com o metabolismo normal e produzir os solventes ABE (EZEJI;

QURESHI; BLASCHEK, 2005).

No entanto, segundo Ezeji, Qureshi e Blaschek (2007), a experiência com a

fermentação de amido liquefeito industrial tem mostrado que os efeitos da concentração

inicial de açúcar sobre a produção de butanol durante o processo de fermentação varia com a

composição e presença de inibidores no meio. A presença de inibidores reduz o nível de

tolerância de C. beijerinckii BA101 ao açúcar. Portanto, durante a operação dos processos de

fermentação, deve-se prestar atenção à concentração de inibidores que estejam presentes no

meio, a fim de determinar a concentração de açúcar inicial adequada a ser empregada.

2.4.5 Nutrientes no meio de cultura

O valor nutritivo do meio de cultura também pode ter um grande efeito sobre a

produtividade e a concentração final de butirato. Normalmente, a produção de ácido butírico é

reforçada em meio rico em nutrientes. Para C. tyrobutyricum, a produção de ácido butírico em

meio de cultura enriquecido com extrato de levedura e triptona foi mais alta em comparação

com o meio de crescimento de clostridia (MCC), cujos componentes são descritos por

Dusséaux et al. (2013). Nos estudos realizados por Canganella et al. (2002), verificou-se que

o crescimento de C. thermobutyricum e assimilação da glicose é dependente da concentração

do extrato de levedura. Além disso, a peptona ou triptona em solução com 5% de glicose não

mostrou-se adequada para substituir a extrato de levedura, provocando um forte aumento na

frequência de esporulação.

Page 58: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

58

Estes efeitos do extrato de levedura são comuns em outras espécies de Clostridium e

não surpreendem, uma vez que o extrato de levedura é uma fonte nutricional complexa

consistindo de aminoácidos, vitaminas e outros fatores de crescimento desconhecidos

utilizados por muitos microrganismos (Geng et al., 2010).

Oligoelementos foram mencionados na literatura por afetar a produção de butirato,

especialmente ferro e fosfato. Na fermentação de glicerol por C. butyricum, verificou-se que a

limitação de fosfato causou um aumento no rendimento de butirato e uma diminuição no

rendimento de acetato, enquanto a limitação de ferro fez o inverso (Reimann, Biebl e

Deckwer, 1996). Curiosamente, no entanto, ambos resultaram numa melhoria significativa na

produção de 1,3-propanodiol e de um decréscimo na relação H2/CO2. Os autores assumem

que a enzima hidrogenase (enzima responsável pela liberação de hidrogênio a partir de

ferredoxina reduzida) de C. butyricum contém ferro, e que por isso é bastante afetada por

limitações de ferro. Eles alegaram que a limitação de ferro e fosfato resultam em maior

disponibilidade de redutores equivalentes (NADH2) favorecendo a produção de produtos

dependentes de NADH, principalmente 1,3 propanodiol e, em menor proporção, etanol e

butirato. No entanto, no que diz respeito com a rota metabólica de butirato, uma limitação de

ferro resulta provavelmente em uma reduzida atividade de quinase butirato e, assim, a

inibição da produção de butirato.

Dabrock, Bahl e Gottschalk (1992) determinaram que sob limitação de fosfato no

processo de fermentação de glicose por Clostridium pasteurianum, os metabólitos foram,

quase exclusivamente, acetato e butirato, independente do pH e taxa de crescimento celular. A

limitação de ferro ocasionou a produção de lactato (0,38 mol/mol de glicose) em reatores

contínuos e de batelada. Em 15% (v/v) de monóxido de carbono na atmosfera (headspace), a

glicose foi fermentada a etanol (0,24 mol/mol), lactato (0,32 mol/mol), butanol (0,36

mol/mol), acetato (0,38 mol/mol) e butirato (0,17 mol/mol). Tais resultados demonstraram a

flexibilidade de C. pasteurianum a mudanças nas condições do meio, evidenciando que a

concentração de nutrientes do meio de cultura exerce influência nas rotas metabólicas da

fermentação, principalmente quando se trata de compostos essenciais para a formação de

enzimas.

Page 59: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

59

2.4.6 Toxicidade dos metabólitos

Um dos problemas mais críticos em fermentação ABE é toxicidade dos solventes. O

metabolismo celular de espécies de Clostridium cessa na presença de 20 g L-1

(LEE; SONG;

HWANG, 2009). Isto limita a concentração do substrato de carbono que pode ser utilizado

para a fermentação, resultando em baixa concentração final do solvente e da produtividade. O

butanol é mais tóxico do que os outros, pois é responsável pelo rompimento dos componentes

de fosfolípidos da membrana celular, causando um aumento na fluidez da membrana

(BOWLES; ELLEFSON, 1985). Moreira, Ulmer e Linden (1981), tentaram elucidar o

mecanismo de toxicidade do butanol em C. acetobutylicum. Eles descobriram que butanol na

concentração de 0,1 a 0,15 M causou 50% de inibição do crescimento celular.

Aumento da fluidez da membrana provoca a desestabilização da membrana e

perturbação de funções associadas à membrana, tais como vários processos de transporte e a

captação de glicose (BOWLES; ELLEFSON, 1985). É sabido que a concentração efetiva de

butanol que causa 50% de inibição do crescimento microbiano (EC50) encontra-se na faixa de

7-13 g L-1

, enquanto que a EC50 do etanol e acetona é superior a 40 g L-1

(LEE et al., 2008).

Chen et al. (2012) avaliaram quantitativamente as correlações entre a tolerância ao

butanol por um consórcio bacteriano (predominantemente clostridios) ou cultura mista e o

desempenho da produção fermentativa de butanol. A concentração máxima de butanol

tolerada, a produção de butanol e de consumo de glucose foram 16 g L-1

, 10,6 ± 0,6 g L-1

e

55,0 ± 1,9 g L-1

, respectivamente. A EC50 da cultura mista foi de 9,52 g L-1

. Os resultados

deste estudo sugerem que consórcios microbianos, onde haja predominância de Clostridium

spp, toleram e produzem butanol em concentrações próximas a cepas puras.

A engenharia biotecnológica tem se voltado para produção de cepas resistentes a

toxicidade de solventes por meio da mutagênese aleatória e otimização de processos. O

desenvolvimento de C. beijerinckii BA101, que é uma cepa mais tolerante a solvente derivada

de C. beijerinckii NCIMB 8052 por mutagênese aleatória, é um exemplo (QURESHI;

BLASCHEK, 2001). Além disso, a integração de um processo de recuperação in situ de

solvente no processo de fermentação tem sido utilizado como um meio para contornar o

problema de toxicidade.

Page 60: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

60

2.5 Características da vinhaça

A vinhaça é caracterizada como efluente de destilarias com alto poder poluente e alto

valor fertilizante. O poder poluente, cerca de cem vezes maior que o do esgoto doméstico,

decorre da sua riqueza em matéria orgânica, baixo pH, elevada corrosividade e altos índices

de demanda bioquímica de oxigênio (DBO) (variando de 20 a 35 g L-1

), além de elevada

temperatura na saída dos destiladores (85 a 90 °C). É considerada altamente nociva à fauna,

flora, microfauna e microflora das águas doces, além de afugentar a fauna marinha que vem

às costas brasileiras para procriação (FREIRE; CORTEZ, 2000).

Quando depositada no solo, a vinhaça pode promover melhoria em sua fertilidade;

todavia, quando usada para este fim, as quantidades não devem ultrapassar sua capacidade de

retenção de íons, isto é, as dosagens devem ser mensuradas de acordo com as características

de cada solo, uma vez que este possui quantidades desbalanceadas de elementos minerais e

orgânicos, podendo ocorrer a lixiviação de vários desses íons, sobretudo do nitrato e do

potássio (SILVA; GRIEBELER; BORGES, 2007).

Em dezembro de 2006 a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental

(Cetesb) publicou a norma P4.231 “Vinhaça: critérios e procedimentos para aplicação no solo

agrícola” no Estado de São Paulo. A norma restringe a aplicação de vinhaça em áreas onde o

solo se encontra saturado, principalmente de íons potássio (K+). Dessa forma, torna-se

necessário o desenvolvimento de tecnologias para o tratamento e disposição deste resíduo de

forma a reduzir os impactos ambientais (CETESB, 2006).

Segundo Baez-Smith (2006), a produção média de vinhaça em destilarias de cana-de-

açúcar é de aproximadamente 12 galões de vinhaça para cada galão de etanol produzido,

representando um enorme volume de resíduo. As características da vinhaça dependem

principalmente da matéria-prima utilizada na produção. O etanol pode ser produzido a partir

de quatro matérias-primas principais: sacarose, amido, celulose e inulina (polissacarídeo da

frutose). Sacarose é o mais comum, uma vez que os açúcares são encontrados numa forma

simples de carboidratos fermentáveis. Estes são encontrados em culturas como cana-de-açúcar

(Saccharum officinarum L.), beterraba (Betavulgaris L.), uva (Vitis vinifera L.) e sorgo

sacarino (Sorgo bicolor (L.) Moench) (ESPAÑA-GAMBOA et al., 2011).

Page 61: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

61

No Brasil, tanto o açúcar bruto como o etanol são produzidos principalmente a partir

do sumo da cana-de-açúcar. No processo de produção do açúcar, tem-se como subproduto o

melaço, resultado da concentração do sumo e da precipitação de açúcar e de algumas

impurezas presentes no sumo, que são separados pela adição de reagentes químicos, tais como

cal e enxofre (ENSINAS et al., 2009). Devido ao processo de cristalização, o melaço tem altas

concentrações de potássio, fosfatos, sulfatos, cálcio, ferro, sódio, cloretos, fonte de carbono e

de outros oligoelementos do que suco de cana-de-açúcar (WILKIE; RIEDESEL; OWENS,

2000).

O melaço é também utilizado para a produção de etanol, uma vez que este contém

açúcares fermentáveis, como dissacarídeos e monossacarídeos. O teor destes açúcares no

melaço varia inversamente ao teor de pureza do açúcar bruto (GOPAL; KAMMEN, 2009).

No Brasil, é muito comum a integração entre produção de açúcar e destilação de etanol, de

forma que o etanol pode ser produzido conjuntamente a partir do melaço e do sumo de cana-

de-açúcar, gerando, desta forma, um resíduo de vinhaça com característica bastante variável.

O melaço é usualmente caracterizado como resíduo com alto potencial de

degradabilidade e alto conteúdo de sulfato. Embora o alto teor de sulfato leve a complicações

no processo de fermentação anaeróbio, inúmeros processos de biotratamento e fermentativos

(BAGHCHEHSARAEE, 2009). Segundo Qureshi e Blaschek (2005), o melaço contém

aproximadamente 50% de sacarose, que pode ser hidrolisada por culturas solventogênicas

durante a fermentação para a produção de butanol.

Na Tabela 3 estão apresentados os principais parâmetros que definem a composição

química da vinhaça obtida na produção de açúcar e etanol de cana-de-açúcar. A informação

disponível na literatura indica que a vinhaça de melaço de cana e vinhaça mista possui

concentrações mais elevadas de DQO, DBO, ST, NT, Ca P, K, Mg, sulfatos e açúcares,

sugerindo um potencial poluidor maior para este efluente, se comparado com a vinhaça

oriunda da produção de açúcar. As variações na concentração dos parâmetros químicos, entre

diferentes tipos de vinhaça de cana, são bastante elevadas, aumentando em cerca de 14 vezes

a concentração de DQO de vinhaça mista entre os estudos de Kannan e Upreti (2008) e

Acharya, Mohana e Madamwar (2008).

De acordo com Costa et al. (1986), muitas usinas de açúcar e destilarias de etanol

operam de modo diferente durante o ano. Esta variação no modo de produção ocasiona

Page 62: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

62

grandes flutuações na composição da vinhaça. Além disso, as condições edafoclimáticas,

variedade da cana e tipo de solo podem contribuir nestas flutuações (SÁNCHEZ RIERA;

CÓRDOBA; SIÑERIZ, 1985).

Page 63: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

63

Tabela 2 - Média e variação (amplitude de valores) dos parâmetros físico-químicos que caracterizam a vinhaça.

Parâmetros / Tipo de

efluente

Média Variação Média Variação Média Variação

Vinhaça de melaço de cana [1]

Vinhaça de sumo da cana-de-açúcar [2]

Vinhaça mista [3]

pH 4,3 3,4 5,7 4,1 3,5 4,6 4,9 3,0 7,7

DBO (g/L) 41,29 7,00 95,00 16,09 6,00 27,00 32,25 7,75 60,00

DQO (g/L) 94,24 15,00 176,00 31,97 15,00 65,80 78,14 13,82 190,00

ST (g/L) 84,11 21,00 140,00 46,60 23,70 70,80 86,33 21,44 190,00

SV (g/L) 66,50 40,00 100,00 18,45 16,90 20,00 71,43 40,00 120,00

N total (g/L) 1,71 0,38 8,90 0,72 0,10 1,40 1,70 0,37 7,00

P (mg/L) 464 26 1500 174 10 320 559 2 2700

K (g/L) 7,81 1,92 22,59 2,82 1,20 6,70 8,89 1,30 20,00

Ca (g/L) 2,58 0,45 6,70 0,68 0,11 2,20 1,85 0,90 4,57

Mg (g/L) 1,16 0,42 2,35 0,37 0,10 1,10 0,95 0,58 1,65

Fe (mg/L) 52,0 1,0 120,0 50,3 15,0 120,0 9,2 9,2 9,2

Cu (mg/L) 17,0 4,0 30,0 64,5 4,0 125,0 1,0 0,3 1,7

Zn (mg/L) 84,6 1,8 225,0 18,0 1,0 35,0 1,3 1,3 1,3

Na (mg/L) 628,0 130,0 2510,0 255,1 0,2 510,0 1360,0 480,0 2500,0

Sulfato (g/L) 4,14 0,07 6,80 1,53 0,40 4,80 3,98 0,07 9,00

Cloretos (g/L) 4,84 0,68 8,00 n.a n.a n.a 5,94 1,30 8,50

Fenóis (mg/L) n.a n.a n.a n.a n.a n.a 6011 34 10000

Ácido acético (g/L) 2,51 0,70 5,50 n.a n.a n.a 2,24 2,24 2,24

Ácido Propriônico (g/L) 0,09 0,09 0,09 n.a n.a n.a 4,30 4,30 4,30

Ácido Butírico (g/L) 0,29 0,29 0,29 n.a n.a n.a n.a n.a n.a

Açucares (g/L) 29,50 14,00 45,00 9,59 4,17 15,00 5,50 1,00 10,00

Referencias: [1] (BORIES; RAYNAL; BAZILE, 1988; COSTA et al., 1986; ESPAÑA-GAMBOA et al., 2011; HARADA et al., 1996; YEOH, 1997); [2]

(COSTA et al., 1986; ESPAÑA-GAMBOA et al., 2011; FREIRE; CORTEZ, 2000; LÓPEZ; BORZACCONI, 2011); [3] (ACHARYA; MOHANA;

MADAMWAR, 2008; CHIDANKUMAR; CHANDRAJU; NAGENDRASWAMY, 1999; COSTA et al., 1986; DE BAZÚA; CABRERO; POGGI, 1991)

Page 64: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

64

3. METODOLOGIA

Os passos da metodologia utilizadas no desenvolvimento deste trabalho estão

detalhados nos itens 3.1 a 3.5. O trabalho se divide em 2 etapas principais, que estão

detalhadas nos itens 3.2 e 3.3.

3.1 Caracterização da vinhaça

A vinhaça utilizada neste trabalho é proveniente da Usina São Martinho, localizada no

município de Pradópolis, SP. Este resíduo corresponde a produção de uma usina mista, ou

seja, que produz tanto açúcar como etanol do suco da cana-de-açúcar. A coleta de vinhaça é

realizada periodicamente por equipe técnica do Laboratório de Processos Biológicos do

Programa de Pós-Graduação em Engenharia Hidráulica e Saneamento da Universidade de São

Paulo, campus São Carlos (LPB PPG-SHS USP/São Carlos), com armazenamento em

bombonas de 5 L em freezer a -15 °C. Foram utilizados dois lotes de vinhaça, o primeiro

utilizado na Etapa 1 do trabalho, coletado em 28/07/2013, e o segundo na Etapa 2, coletado

em 22/10/2013.

Para facilitar a utilização do resíduo, o mesmo foi descongelado e transferido para

frascos de 250 mL e novamente armazenado e freezer até o momento dos ensaios. Na Etapa 1

a vinhaça bruta foi centrifugada a 6000 rpm por 5 minutos em tubos Falcon de 50 mL,

utilizando uma centrifuga, para retirada da maior parte dos sólidos suspensos e diminuição da

turbidez do resíduo e assim atenuar a interferência nas medições de densidade ótica para

acompanhamento do crescimento microbiano no meio de cultura suplementado com vinhaça.

Na Etapa 2, utilizou-se a vinhaça bruta.

Parte das análises de caracterização da vinhaça foram realizadas no Laboratório de

Saneamento da Faculdade de Engenharia Agrícola, da Universidade Estadual de Campinas

(FEAGRI/UNICAMP) e outra parte no LPB PPG-SHS USP/São Carlos. Na Tabela 6 está

mencionado o método, a referência e local de cada análise.

Page 65: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

65

Tabela 3- Métodos analíticos para caracterização da vinhaça.

Local: Laboratório de Saneamento - FEAGRI/UNICAMP

Análise Símbolo Método Referência

Demanda Química de

Oxigênio DQO Bruta 5220 D - Método Colorimétrico (APHA, 2005)

Potencial Hidrogeniônico pH 4500 B - Método eletrométrico

(APHA, 2005) Série de Sólidos

ST, SV, SF

SSV 2540 B-E

Álcoois, Açúcares e Ácidos

Voláteis - Método Cromatográfico (HPLC)

(PENTEADO;

ADORNO;

ZAIAT, 2012)

Local: LPB PPG-SHS USP/São Carlos

Demando Bioquímica de

Oxigênio DBO Bruta 5210 B – Teste DBO 5 dias

(APHA, 2005)

Nitrogênio Amoniacal NH3 4500 C – Método Titulométrico

Nitrito NO2- 4500 B – Método Colorimétrico

Nitrato NO3- 4500 – Método Espectrofotométrico

Nitrogênio Total Kjeldahl Norg 4500 B – Método Macro-Kjeldahl

Sulfato SO4 4500 E – Método Turbidimétrico

Sulfeto S2-

4500

Zinco Zn

3110 – Espectrometria de Absorção Atômica

Chumbo Pb

Cadmio Cd

Níquel Ni

Ferro Fe

Manganês Mn

Cobre Cu

Cromo Total Cr

Cálcio Ca

Magnésio Mg

Sódio Na

Potássio P

3.2 Etapa 1: Influência do pré-tratamento do inóculo e da suplementação de

vinhaça para produção de álcoois e AOV

3.2.1 Montagem experimental

Nesta etapa da fermentação foram utilizados frascos de Duran de 500 mL adaptados

para entrada e saída de gases e para amostragem por meio de seringa, como está apresentado

Page 66: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

66

na Figura 3. Esta adaptação foi realizada com intuito de facilitar a purga de gás N2 nos frascos

como também diminuir o contato com a atmosfera externa por meio da amostragem com

seringa.

Figura 3 – Frasco reator com adaptação de dispositivo para entrada e saída de gases.

3.2.2 Pré-Tratamento do inóculo e enriquecimento da cultura

O inóculo utilizado neste trabalho é proveniente um reator anaeróbio compartimentado

(03 câmaras) de fluxos ascendente e descendente, localizado na estação de tratamento de

bovinocultura de leite do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de

Minas Gerais. A estação de tratamento foi implantada em tamanho real, para tratar um

volume de resíduos líquidos em torno de 4 m3 dia

-1.

O lodo coletado em 16 de junho de 2014 dos três compartimentos do reator (1 L cada

frasco) foi misturado e armazenado sob refrigeração até o início dos ensaios.

O inóculo passou por dois processos de pré-tratamento, objetivando o favorecimento

da prevalência dos microrganismos formadores de esporos (espécies solventogênicas como

Clostridium sp). A seguir estão descritos os processos que foram baseados nos trabalhos de

Baghchehsaraee (2009) e Wang et al. (2011).

i. Tratamento Térmico (TT): Uma alíquota de 300 mL do inóculo, previamente

filtrado em peneira de nylon para remoção dos sólidos maiores, foi submetida

ao aquecimento até ebulição por 30 minutos Após a fervura, resfriou-se em

banho de gelo e armazenou-se em refrigerador a 4°C por 24 horas.

Page 67: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

67

ii. Choque Ácido/Térmico (AT): Uma alíquota de 300 mL do inóculo,

previamente filtrado em peneira de nylon, foi submetida ao aquecimento em

banho-maria a 80°C por 30 minutos Em seguida, resfriou-se em banho de gelo

e o pH foi corrigido para 3 com a adição de HCl 0,1. O inóculo tratado foi

armazenado em refrigerador a 4°C por 24 horas.

Após 24 horas, 20 mL (10% v/v) de cada inóculo tratado foi adicionado,

separadamente, em 180 mL de meio de cultura (autoclavado 120° C por 30 min) próprio para

o crescimento de clostridios, Reinforced Medium Clostridium (RMC), com pH do meio

ajustado para 6,8.

A composição do RMC foi adaptada de Ni, Wang e Sun (2012) e está descrita na Tabela 4.

Tabela 4 - Composição do RMC.

Ingrediente Concentração (g L-1

)

KH2PO4 1,0

K2HPO4 1,0

NaCl 5,0

MnSO4 7H2O 0,02

MgSO4 7H2O 0,5

FeSO4 7H2O 0,05

Acetato de amônio 1,1

Ácido p-aminobenzóico 0,0001

L-cisteina 0,5

Amido solúvel 1,0

Ágar 0,5

Peptona 10,0

Extrato de levedura 3,0

Extrato de carne 10,0

Glicose 10,0

Para garantir as condições de anaerobiose, gás nitrogênio, N2 (100 %), foi fluxionado

no meio líquido e no headspace por 5 minutos. Para enriquecimento das culturas os inóculos,

resultantes dos pré-tratamentos AT e TT, foram incubados em estufa shaker a 35° C por 24

horas sem agitação. Após 24 horas, 20 mL de cada inóculo foi reinoculado em 180 mL de

meio fresco seguindo o mesmo procedimento, que foi repetido por três vezes, resultando em 3

gerações (I1, I2 e I3). Diariamente foram coletadas amostras para monitoramento do pH e

Page 68: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

68

densidade ótica (OD). O fluxograma apresentado na Figura 4 esquematiza o procedimento

adotado.

Figura 4 – Fluxograma esquemático do processo de pre-tratamento e incubação do lodo,

utilizado como inóculo neste trabalho.

Os inóculos resultantes dos dois tratamentos foram armazenados em refrigerador.

Quando do início dos ensaios de fermentação, eles foram ressuspendidos por aquecimento em

banho-maria a 80° C por 10 minutos

3.2.3 Ensaio de Fermentação: Vinhaça como fonte de substrato

Neste ensaio foi utilizada a vinhaça (V) e a sacarose (S) como fontes de substrato em

dois meios de cultura distintos. Foram testados os inóculos AT e TT, resultantes da terceira

geração, I3. Cada tratamento foi realizado em triplicata, totalizando 12 amostras. Na Figura 5

está apresentado um fluxograma esquemático do experimento.

Page 69: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

69

Figura 5 – Fluxograma do ensaio de fermentação. As letras a,b e c representam as repetições

de cada tratamento.

A composição do meio de cultura sintético (MCS) utilizado no processo de

fermentação foi preparado pela adição de alíquotas de 5 soluções concentradas de

micronutrientes, macronutrientes, vitaminas, tampão e pela adição de agente redutor. Este

meio foi utilizado no trabalho de Monot et al., (1982) e foi modificado neste trabalho com

intuito de favorecer o crescimento e manutenção um consórcio de microrganismos da classe

clostridia. A composição de cada solução está descrita na Tabela 5. As fontes de carboidrato

ou substrato do meio de cultivo são o resíduo de vinhaça e o açúcar demerara, açúcar

proveniente da cana-de-açúcar que não é tratado quimicamente. A composição nutricional

deste açúcar é de aproximadamente (mg100 g-1

): 85 de cálcio, 29 de magnésio, 22 de fósforo e

346 de potássio, segundo informações na embalagem do produto.

Page 70: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

70

Tabela 5 - Composição das soluções estoque.

Solução Ingrediente Concentração (g L-1

)

1 - Micronutrientes

MgSO4 7H2O 2,0

FeSO4 7H2O 0,5

MnSO4 0,2

2 - Macronutrientes

KH2PO4 10,0

K2HPO4 10,0

Acetato de Amônio 11,0

(NH4) 2SO4 25,0

3 - Vitaminas

Extrato de levedura 30,0

ácido nicotínico 0,01

piridoxina 0,02

riboflavina 0,01

tiamina 0,01

ácido p-aminobenzóico 0,001

4 – Agente Redutor l-cisteína 40,0

5 - Tampão bicarbonato de sódio 30,0

As soluções 3 e 4 foram armazenadas em freezer a -20º C. As demais soluções foram

armazenadas em refrigerador por não mais que 15 dias.

As alíquotas de cada solução adicionadas a cada amostra, perfazendo 300 mL de meio

de cultivo estão descritas na Tabela 6. O pH de cada amostra foi ajustado para 6,9 +- 0,05

com 1 N de HCl.

Tabela 6 – Alíquotas para preparação do MCS suplementado com vinhaça e com açúcar

demerara, utilizado no ensaio de fermentação.

Solução/Compostos Tratamento/Amostras

AT V AT S TT V TT S

Açúcar - 3 g - 3 g

Micronutrientes 30 mL 30 mL 30 mL 30 mL

Macronutrientes 30 mL 30 mL 30 mL 30 mL

Vitaminas 30 mL 30 mL 30 mL 30 mL

Tampão 30 mL 30 mL 30 mL 30 mL

Agente Redutor 0,75 mL 0,75 mL 0,75 mL 0,75 mL

Vinhaça 50 mL - 50 mL -

Inóculo 10 mL 10 mL 10 mL 10 mL

Água 120 mL 170 mL 120 mL 170 mL

Page 71: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

71

N2 foi fluxionado no meio líquido e no headspace por 5 minutos. Em seguida as

amostras foram incubadas em shaker sob temperatura controlada de 37 °C a uma rotação de 60

rpm. O ensaio de fermentação teve duração de 6 dias.

Para acompanhamento do pH, foram coletadas amostras a cada dois dias. Para análise

dos AOV, carboidratos e álcoois, foram coletadas amostras no tempo inicial e final do ensaio.

Todo o efluente resultante da fermentação, retirado a cada três dias, foi armazenado em

um galão destinado a pesquisa de doutorado que tem por objetivo caracterizar e propor formas

de tratamento para o resíduo resultante dos processos de fermentação.

3.2.4 Ensaio de Fermentação: Vinhaça como meio nutriente

Neste ensaio, a vinhaça (V) foi utilizada como meio nutriente, em substituição aos

macro e micro nutrientes do MCS. O açúcar demerara foi utilizado como principal fonte de

substrato. Foram testados os inóculos AT e TT, resultantes da terceira geração em dois meios

distintos, um com vinhaça (V) como meio nutriente e outro com solução sintética de macro e

micro nutrientes (S). Cada tratamento (AT e TT) foi realizado em triplicata, totalizando 12

amostras em cada ensaio. Foram realizados 3 ensaios em regime de batelada com ciclos de

aproximadamente 170 horas, variando-se a suplementação de vinhaça nos meio V e nenhuma

mudança no meio S, que serviu de controle. Neste trabalho denominamos com B1, B2 e B3

correspondendo a doses de 1/3, 1/2 e 2/3 de vinhaça, respectivamente. Na Figura 6 está

apresentado um fluxograma esquemático do experimento.

Page 72: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

72

Figura 6 – Fluxograma do ensaio de fermentação com doses suplementares de vinhaça. As

letras a,b e c representam as repetições de cada tratamento.

No fluxograma, as setas apontando para direita representam a fonte de alimentação, ou

seja, no primeiro ensaio (B1) foi utilizado o inóculo proveniente da terceira geração após

tratamentos AT e TT, já no segundo ensaio (B2), o inóculo utilizado é proveniente do último

dia de fermentação do ensaio anterior (B1) e assim sucessivamente. Tal estratégia foi utilizada

visando a adaptação dos microrganismos as doses crescentes de vinhaça.

As soluções e substâncias que compõem o meio de cultivo de cada amostra dos 3

ensaios está descrita na Tabela 7. O pH inicial de cada amostra foi ajustado para 6,9 ± 0,05

com 1 N de HCl. A composição das soluções (vitaminas, macronutrientes, micronutrientes,

tampão e agente redutor) foi apresentada na Tabela 5.

Page 73: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

73

Tabela 7– Alíquotas para preparação do MCS suplementado com vinhaça e com açúcar

demerara, utilizado no ensaio de fermentação.

Ensaio B1

Solução/Compostos Tratamento/Amostras

AT V AT S TT V TT S

Açúcar 5,74 g 6,0 g 5,74 g 6,0 g

Micronutrientes - 30 mL - 30 mL

Macronutrientes - 30 mL - 30 mL

Vitaminas 30 mL 30 mL 30 mL 30 mL

Tampão 30 mL 30 mL 30 mL 30 mL

Agente Redutor 0,75 mL 0,75 mL 0,75 mL 0,75 mL

Vinhaça 100 mL - 100 mL -

Inóculo 15 mL 15 mL 15 mL 15 mL

Água 125 mL 165 mL 125 mL 165 mL

Ensaio B2

Açúcar 5,61 g 6,0 g 5,61 g 6,0 g

Micronutrientes - 30 mL - 30 mL

Macronutrientes - 30 mL - 30 mL

Vitaminas 30 mL 30 mL 30 mL 30 mL

Tampão 30 mL 30 mL 30 mL 30 mL

Agente Redutor 0,75 mL 0,75 mL 0,75 mL 0,75 mL

Vinhaça 150 mL - 150 mL -

Inóculo 15 mL 15 mL 15 mL 15 mL

Água 75 mL 165 mL 75 mL 165 mL

Ensaio B3

Açúcar 5,48 g 6,0 g 5,48 g 6,0 g

Micronutrientes - 30 mL - 30 mL

Macronutrientes - 30 mL - 30 mL

Vitaminas 30 mL 30 mL 30 mL 30 mL

Tampão 30 mL 30 mL 30 mL 30 mL

Agente Redutor 0,75 mL 0,75 mL 0,75 mL 0,75 mL

Vinhaça 150 mL - 150 mL -

Inóculo 15 mL 15 mL 15 mL 15 mL

Água 25 mL 165 mL 25 mL 165 mL

A determinação anterior do conteúdo de sacarose, glicose e frutose na vinhaça

possibilitou o cálculo da dosagem de açúcar nos meios que continham vinhaça, com propósito

de manter uma concentração inicial de 20 g L-1

de carboidrato (sacarose, glicose e frutose) em

Page 74: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

74

todos os ensaios.

O gás N2 foi fluxionado no meio líquido e no headspace por 5 minutos. Em seguida as

amostras foram incubadas em shaker sob temperatura controlada de 37 °C a uma rotação de 60

rpm. O ensaio de fermentação teve duração de 7 dias.

No terceiro dia de fermentação, o pH foi ajustado para 6,5 ± 0,1 com NaOH 1 N no

primeiro ensaio (B1). Devido à instabilidade na manutenção do pH, no segundo e terceiro

ensaio (B2 e B3) foi utilizado para correção do pH solução saturada de bicarbonato de sódio.

Também no terceiro dia, foi cessada a agitação no shaker, com objetivo de manter parte do

gás hidrogênio produzido na forma dissolvida no caldo de fermentação, favorecendo o

aumento da concentração de butirato e acetato (VAN ANDEL et al., 1985). A correção do pH

teve como objetivo aumentar a concentração de butirato ou ácido butírico não dissociado,

favorecendo assim a mudança para fase solventogênica evitando a queda no pH para valores

inferiores a 4,5 (BRYANT; BLASCHEK, 1988)

Para acompanhamento do pH e densidade ótica (OD), foram coletadas amostras a cada

dois dias. Para análise dos AOV, carboidratos e álcoois, foram coletadas amostras no tempo

inicial e final do ensaio.

3.3 Etapa 2: Efeito da suplementação de vinhaça com melado de cana-de-açúcar

para produção de álcoois e AOV

3.3.1 Montagem experimental

Nesta etapa do processo de fermentação foi utilizado como reator um frasco de vidro

âmbar de 2,5 L, com volume reacional de 1,5 L, adaptado com válvula para entrada e saída de

gases e com tubo capilar acoplado a uma de seringa para retirada de amostras, como está

apresentado na Figura 7. Esta adaptação foi realizada com intuito de facilitar a purga de gás

N2 no frasco como também diminuir o contato com a atmosfera externa por meio da

amostragem com seringa. Na válvula de saída de gás foi acoplado um medidor de vazão de

gás (Ritter) por meio de uma mangueira de silicone.

Page 75: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

75

Figura 7 - Reator utilizado no processo de fermentação de meio com vinhaça com melaço de

cana-de-açúcar.

3.3.2 Pré-Tratamento e enriquecimento do inóculo

O lodo proveniente da estação de tratamento de bovinocultura de leite do Instituto

Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, passou por novo processo

de pré-tratamento antes da sua utilização como inóculo.

Neste processo, 30 mL de lodo previamente filtrado em peneira de nylon foi misturado

a 200 mL de vinhaça bruta, 12 g de sacarose e 30 mL de solução de vitaminas em frasco de

duran, completando-se o volume, 300 mL, com água destilada. O inóculo foi autoclavado a

120° C por 10 min, a pressão de 1 kgf/cm2.

Em seguida, após resfriamento, foi adicionado ao inóculo 0,75 mL de solução de l-

cisteína e o pH foi corrigido para 6,5 com solução saturada de bicarbonato de sódio.

Page 76: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

76

Fluxionou-se das N2 por 10 min. O frasco com inóculo foi colocado na incubadora shaker a

37° C com agitação de 60 rpm por 16 horas. E seguida cessou-se a agitação e o inóculo

permaneceu na incubadora por mais 5 dias.

3.3.3 Ensaio de Fermentação

Neste ensaio, a vinhaça foi utilizada na forma bruta, ou seja, sem passar por nenhum

tratamento ou filtragem. O melado de cana foi utilizado como principal fonte de substrato,

com carga fixa de aproximadamente 25 g L-1

. O inóculo resultante do processo de

autoclavagem, denominado como AU, foi utilizado na alimentação do primeiro ensaio de

fermentação. Foram realizados 3 ensaios em regime de batelada com duração de 12 dias,

variando-se a suplementação de vinhaça, correspondendo a doses de 65, 75 e 85 % de

vinhaça, respectivamente. Na Figura 8 está apresentado um fluxograma esquemático do

experimento.

Figura 8– Fluxograma esquemático do ensaio de fermentação da etapa 2.

Da mesma forma que o experimento anterior, a alimentação foi realizada de B1 para

B2 para B3, para adaptação dos microrganismos ao crescente aumento na concentração de

vinhaça. As soluções utilizadas para composição do meio fermentativo estão descritas na

Tabela 8.

Page 77: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

77

Tabela 8– Alíquotas para preparação do meio de cultivo utilizado nos ensaios de fermentação

da etapa 2.

Solução/Compostos Amostra/Ensaio

AU-B1 AU-B2 AU-B3

Melado 60 g 60 g 60 g

Vitaminas* 30 mL 30 mL 30 mL

Bicarbonato de sódio 10 g 10 g 10 g

Agente Redutor 3,75 mL 3,75 mL 3,75 mL

Vinhaça bruta 975 mL 1125 mL 1275 mL

Inóculo 150 mL 150 mL 150 mL

Água 295 mL 145 mL -

*Solução de vitaminas foi concentrada 5 vezes e relação a composição apresentada na

Tabela 5.

O gás N2 foi fluxionado no meio líquido e no headspace por 10 minutos. Em seguida o

frasco reator foi colocado na incubadora shaker sob temperatura controlada de 37 °C a uma

rotação de 60 rpm. O ensaio de fermentação teve duração média de 12 dias.

Nos primeiros 3 dias de ensaio, as coletas para análise cromatográfica e

acompanhamento do pH foram diárias. Após o terceiro dia, as coletas foram feitas a cada 48

horas. O pH foi corrigido para 6,5 ± 0,1 nos primeiros dias de coleta com solução saturada de

bicarbonato de sódio. Também no terceiro dia, foi cessada a agitação no shaker, coincidindo

com a redução no volume do gás produzido que foi acompanhado por meio da leitura de

medidor de vazão.

3.4 Acompanhamento analítico

Todas as análises foram realizadas no Laboratório de Saneamento da Faculdade de

Engenharia Agrícola, da Universidade Estadual de Campinas, sob acompanhamento do

técnico responsável pelo laboratório.

Para acompanhamento do ensaio de fermentação, amostras foram coletadas para

análise de pH, OD e para determinação de AOV, carboidratos e álcoois utilizando método de

Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE). A medida de pH e OD foi realizada

imediatamente após a coleta. A análise de OD consiste na leitura da amostra diluída 1:1 com

Page 78: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

78

água destilada em espectrofotômetro a 600 nm (BEGOT et al., 1996). O aumento da turbidez

da amostra indica o aumento do crescimento bacteriano e aumenta o sinal de absorbância.

Para determinação dos AOV, carboidratos e álcoois, as amostras foram pré-tratadas e

armazenadas. O procedimento de pré-tratamento consistiu em misturar uma alíquota de 4 mL

de cada amostra a 0,5 mL de uma solução saturada de BaOH2 e 0,5 mL de uma solução 5 % de

ZnSO4 em tubo Falcon de 15 mL, centrifugando a 3200 rpm por 10 min. O sobrenadante foi

armazenado em freezer (-20° C) para análise posterior. Tal tratamento foi utilizado por Sydney

(2013) para retirada dos sólidos em suspensão.

3.4.1 Metodologia CLAE

O método de Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) utilizado neste trabalho

foi desenvolvido no LPB PPG-SHS USP/São Carlos e consiste em determinar álcoois, AOV e

carboidratos em uma única corrida, com coluna Aminex HPX-87H e detectores de UV/DAD e

IRD em série (PENTEADO; ADORNO; ZAIAT, 2012).

Foi utilizado equipamento SHIMADZU® equipado com bomba LC-10ADVP,

amostrador automático SIL-20A HT, forno CT-20A, dois detectores ligados em série: um

detector de ultravioleta com arranjo de diodos (UV-DAD) do modelo SDP-M10 AVP e um

detector por índice de refração RID-10A (DIR), além do controlador SCL-10AVP. Usou-se a

coluna AMINEX® HPX-87H (300 mm x 7,8 mm; BioRad) e o software LC Solution

(SHIMADZU®) para analisar os resultados.

Para curva de calibração, foram utilizados 2 carboidratos, 3 álcoois e 12 AOV. Os

carboidratos utilizados foram frutose e glicose, os álcoois metanol, etanol e n-butanol e os

ácidos cítrico, málico, succínico, lático, fórmico, acético, propiônico, iso-butírico, butírico, iso-

valérico, valérico e capróico. Tanto os álcoois como os ácidos são os principais metabólitos

possivelmente encontrados na produção de bioenergia a partir de efluente sintético à base de

sacarose, da vinhaça da cana-de-açúcar e do hidrolisado do bagaço da cana-de-açúcar

(HAWKES et al., 2002).

Os ácidos foram detectados pelo detector SDP-M10 AVP e os carboidratos e álcoois

pelo detector RID-10A. Como fase móvel usou-se solução de ácido sulfúrico 0,005 M. As

Page 79: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

79

condições operacionais foram: temperatura da coluna: 43ºC e fluxo do eluente, 0,5 ml.min-1

.

Usou-se padrões cromatográficos para os ácidos e os álcoois com 99% de pureza,

obtidos da Sigma-Aldrich®. Os padrões dos carboidratos (frutose e glicose) têm 99% de

pureza e são da Synth®. O ácido sulfúrico foi obtido da JT Baker® com 99% de pureza e a

água foi ultrapurificada em sistema Millipore Mili-Q®.

A preparação das amostras para injeção consistiu na filtração de pequena alíquota (1

mL) em membrana de acetato de celulose com poro de 0,2 μm, com auxílio de uma seringa

plástica. O filtrado foi adicionado aos vessels juntamente com a adição de 40 μL de solução de

ácido sulfúrico 1 N (pre filtrada em membrana de acetato de celulose) para reduzir o pH da

amostra a 2, já que esta é a faixa de pH é ideal para separação dos analitos na coluna utilizada

(PECINA et al., 1984). O volume de amostra injetado foi 100 μL. A concentração dos analitos

na curva de calibração foi de 10, 25, 50, 100, 200, 300, 400, 500, 700 e 900 mg L-1

. Nas

Figuras 9 e 10 são apresentados os cromatogramas obtidos a partir dos detectores de

ultravioleta e índice de refração, respectivamente.

Page 80: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

80

Figura 9- Cromatograma típico da determinação de ácidos por CLAE com detector de UV e

arranjo de diodos.

Figura 10 - Cromatograma típico da determinação de carboidratos e álcoois por CLAE com

detector de índice de refração.

3.4.2 Limitação do método

Uma limitação encontrada neste método se deve a presença de sacarose nas amostras. A

sacarose é um dissacarídeo formado por uma fração equimolar de glicose e frutose. A Inversão

da sacarose ocorre quando a ligação glicosídica é hidrolisada, libertando as unidades de

Page 81: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

81

monossacárido, glicose e frutose. Esta reação é dependente do pH da solução, temperatura,

concentração de sacarose, e reagente de hidrólise. Wienen e Shallenberger (1988) avaliaram a

influência do pH e da temperatura na cinética de reação de hidrólise da sacarose. Constataram

que uma solução de concentração 2 g L-1

de sacarose em pH 1,2 a temperatura de 30°C leva

200 h para completa reação de inversão.

A adição de ácido sulfúrico 1 N para redução de pH e separação dos analitos não é

suficiente para hidrolisar completamente a sacarose presente nas amostras. Por outro lado, se

as amostras fossem expostas a elevada temperatura e por período mais longo isso poderia

provocar alteração na concentração dos outros analitos avaliados. Desta forma, foi feita uma

curva de padronização separadamente com solução de sacarose (padrão analítico) nas

concentrações de 50, 100, 200, 400, 600 e 800 mg L-1

. Durante a corrida, no detector RID-

10A, foram registrados 3 picos, como mostrado na Figura 11. O primeiro pico corresponde a

sacarose (TR = 8,95 min), seguido pela glicose e frutose. Isto ocorre devido a adição de ácido

na amostra, que causa hidrólise parcial da sacarose. Para correção do cálculo da concentração

de sacarose, subtraiu-se a concentração teórica de sacarose da concentração de glicose e

frutose detectada em cada corrida. As concentrações teóricas e determinadas estão mostradas

na Tabela 9.

Tabela 9 – Parâmetros para correção da concentração de sacarose

Sacarose Teórica Glicose Frutose Sacarose corrigida Área pico

mg L-1

50 9,3 4,1 36,6 26916

100 23,3 6,2 70,5 62649

200 74,9 16,7 108,4 138139

400 154,2 34,5 211,2 267778

600 247,0 56,3 296,6 406752

800 337,1 80,9 382,0 534249

Page 82: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

82

Figura 11 - Cromatograma com detector de índice de refração. Picos de sacarose, glicose e

frutose em amostra padrão de sacarose 800 mg L-1

.

A duas variáveis, concentração de sacarose corrigida e área do pico, possuem forte

correlação e linearidade. Testes posteriores foram realizados verificar a concordância entre o

valor real do analito na amostra e o estimado pela interpolação da área do pico na curva de

calibração. Em 6 amostras analisadas de concentração iguais ao da curva padrão a diferença

não foi superior a 6,5 %. Com a verificação da linearidade, precisão, exatidão, limite de

quantificação e de detecção do método, julgou-se adequada sua utilização para determinação

da concentração de sacarose nas amostras.

3.5 Caracterização microbiológica da biomassa

Toda a caracterização microbiológica das amostras foi realizada em laboratórios

especializados externos a UNICAMP. A análise de coloração Gram e morfologia celular foi

realizada no Laboratório de Microbiologia Ambiental do Departamento de Biologia da

Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus Sorocaba e no Laboratório de

Bioquímica de Microrganismos do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista

(UNESP), campus Rio Claro. Após etapa de pré-tratamento dos inóculos, foram realizados

exames microscópicos das amostras correspondentes aos tratamentos AT e TT,

compreendendo todas as gerações, ou seja, de I0 até I3. A microscopia foi realizada em luz

comum, contraste de fase e fluorescência usando microscópio Leica acoplada a câmera

Optronics e software Image Pro-Plus. A coloração de Gram foi realizada segundo Scientific

Services of Cultures Collections da Alemanha (DSM, 1991).

Page 83: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

83

3.5.1 Pirosequenciamento

As amostras coletadas para análise de pirosequenciamento foram os referentes aos

tratamentos AT e TT resultantes da fermentação com maior dosagem de vinhaça, ou seja, ATV

B3 e TTV B3. Uma terceira amostra foi coletada após incubação do inóculo pré-tratado com

processo de autoclavagem, que neste trabalho foi designado como AU I. Todas as amostras

foram lavadas sucessivamente em tampão fosfato e centrifugadas. Os pellets foram

armazenados a -20°C.

A extração do DNA dos pellets, realizada no LPB PPG-SHS USP/São Carlos, foi

baseada em protocolo de Griffiths et al. (2000) modificado, usando fenol tamponado com Tris

e clorofórmio. O DNA extraído (1 μL) foi quantificado em espectrofotômetro Nanodrop 2000.

A integridade do DNA extraído foi verificada por eletroforese em gel de agarose 0,8% em

TAE 1X. As amostras foram enviadas em concentração de no mínimo 10 ng/μL e pureza

OD260/280 de no mínimo 1,8. Além disso, foi verificada a amplificação do DNA utilizando os

iniciadores 27f e 1100r (LANE, 1991; TURNER et al., 1999). A PCR foi realizada em

termociclador Eppendorf Mastercycler (Eppendorf AG - 22331 Hamburg).

O DNA extraído foi desidratado em etanol 95% e enviado ao Laboratório de Genética

de Microrganismos, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São

Paulo (ESALQ/USP) para análise de pirosequenciamento em equipamento Miseq - Illumina,

2x250 ciclos. O gene 16S rRNA, região V3 e V4, foram selecionados como o par de

iniciadores bacterianos mais promissor (KLINDWORTH et al., 2013). A ampliação do gene

foi realizada utilizando os primers: forward

5' TCGTCGGCAGCGTCAGATGTGTATAAGAGACAG CCTACGGGNGGCWGCAG

16S e ampliação PCR reverse primer

5' GTCTCGTGGGCTCGGAGATGTGTATAAGAGACAGGACTACHVGGGTATCTAA

TCC, correspondendo as sequencias em negrito aos primers específicos para o domínio da

bactéria.

A etapa de obtenção dos dados brutos foi feita pelo software CASAVA 1.8.2 fornecido

pela Illumina, que transforma a base dos dados brutos em reads no formato fastq

acompanhados dos pontos de qualidade phred. Os reads foram visualizados utilizando o

programa FastQC (www.bioinformatics.bbsrc.ac.uk/projects/).

Page 84: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

84

A filtragem dos reads de baixa qualidade, sequências de adaptadores e vetores foi

realizada pelo programa Seqyclean (https://bitbucket.org/izhbannikov/seqyclean), utilizando

como cutoff bases com qualidade inferior a 24 pontos (QScore). A bases de dados de

contaminantes usada foi a Univec (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/VecScreen/UniVec.html).

Após filtragem, reads com tamanho inferior a 65pb foram removidos.

Para a análise de metagenômica foi utilizada a base de dados RDP (Ribosomal Database

Project), que possui mais de 33.082 sequências do gene 16S rRNA do domínio Archaea e 643.916

do domínio Bacteria (Cole). O pipeline usado foi o do pacote QIIME v 1.9 (Caporaso et al 2010)

em 3 etapas:

1) Concatenação dos reads pareados;

2) Filtragem, procura e identificação de OTUs. Nessa etapa o programa também realiza uma

nova montagem dos reads que não tiveram hit com a base de dados e procura hit contra todas as

bases disponíveis;

3) Análises de rarefação, alfa e beta diversidade. Para essas análises é levado em

consideração a profundidade de cobertura da amostra com menos reads para utilizar o parâmetro

sampling_depth de forma adequada.

Page 85: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

85

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Composição da vinhaça

Foram encontrados, por meio das determinações analíticas, minerais importantes para

a produção de solventes, tais como o manganês, ferro, magnésio e potássio. Além disso,

observou-se a presença de concentrações elevadas de AOV, particularmente málico, láctico e

succínico. Por outro lado, os carboidratos glicose, frutose e sacarose estão em concentração

insuficiente produção de metabolitos em quantidades significativas.

Das substâncias analisadas em metodologia CLAE, não foram detectados os seguintes

AOV: cítrico, fórmico, propiônico, iso-valérico e valérico. Além destes ácidos, não foram

detectados os álcoois metanol e n-butanol e o carboidrato frutose. A composição da vinhaça é

apresentada na Tabela 13. Comparando os lotes 1 e 2, nota-se um decréscimo na concentração

dos parâmetros avaliados no lote 2. Tal fato evidencia a variabilidade sazonal na concentração

deste resíduo na Usina, apesar do curto período que compreende uma coleta e outra. Outro

aspecto relevante a se considerar é o fato de se tratar de uma usina mista, ou seja, tanto o

sumo ou melaço da cana-de-açúcar são fermentados. Desta forma, as características físico-

quimicas deste resíduo são dependentes da matéria-prima utilizada na fermentação

(ESPAÑA-GAMBOA et al., 2011).

Comparando com os dados da literatura (Tabela 2), observa-se que os valores de DQO

e DBO nos lotes 1 e 2 estão próximos do limite inferior da variação de vinhaça mista, de

forma que considera-se a vinhaça utilizada nos ensaios menos concentrada em termos de

matéria orgânica. Esta tendência segue para todos os outros compostos avaliados. O que

chama atenção na caracterização da vinhaça é a concentração de AOV, entre eles o ácido

málico, lático, succínico, iso-butírico e acético. As somas dos AOV totalizam 28,55 e 18,43 g

L-1

nos lotes 1 e 2, respectivamente.

A concentração de nitrogênio determinada em ambos lotes foi inferior a 1 g L-1

. A

baixa concentração de nitrogênio na vinhaça sugere a necessidade de suplementação deste

composto para condição favorável ao crescimento dos microrganismos envolvidos no

processo de fermentação bifásica.

Page 86: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

86

A concentração de carboidratos na vinhaça (1,69 e 1,52 g L-1

no lote 1 e 2,

respectivamente) também evidencia a necessidade de suplementação de carboidratos para

melhores rendimentos de AOV e álcoois.

Tabela 10 – Parâmetros de caracterização da vinhaça.

Parâmetros Lote 1 Lote 2

g L-1

Ácido Málico 10,46 ±0,61 5,70

Ácido Succínico 3,72 ±0,45 4,04

Ácido Lático 10,13 ±0,27 6,75

Ácido Acético 0,22 ±0,03 0,08

Ácido Iso-butírico 3,41 0,19 1,59

Ácido Butírico 0,61 ±0,25 0,27

Glicose 0,41 ±0,08 0,26

Sacarose 1,28 ±0,10 0,99

Carboidratos Totais 1,69 ±0,53 1,52

Etanol 0,25 0,05 0,18

DQO 28,39 ±0,17 21,75

DBO 15,14 17,50

Sólidos Totais 26,63 27,75

Sólidos Totais Voláteis 18,95 17,72

Sólidos Totais Fixos 7,69 10,03

Sólidos Suspensos Voláteis 5,35 4,18

Nitrogênio Total 0,84 0,87

Nitrogênio Amoniacal 0,058 0,12

Nitrito 0,00001 -

Nitrato 0,46 0,38

Sulfato 0,9 1,43

Sulfeto 0,0069 0,0031

Ferro 0,0096 0,010

Manganês 0,0024 0,0027

Cálcio 0,51 0,67

Magnésio 0,26 0,24

Sódio 0,048 0,037

Potássio 2,65 2,60

Zinco 0,00036 0,00031

Chumbo 0,00025 0,00030

Cadmio 0,000088 0,000079

Cobre 0,00033 0,00028

Cromo Total 0,000041 0,000087

Níquel 0,00015 0,00018

Page 87: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

87

4.2 Etapa 1: Efeito da suplementação de vinhaça e influência dos métodos de pré-

tratamento do inóculo em meio de cultivo de sacarose para produção de

álcoois e AOV

4.2.1 Vinhaça como substrato

Para avaliar a influência da vinhaça como substrato em meio de cultivo (MCS),

comparou-se a produção, rendimento e produtividade de álcoois e AOV com o MCS

alimentado com sacarose. Além disso, comparou-se os métodos de pré-tratamento de inóculo,

ou seja, qual comportamento metabólico do consórcio microbiano formado após pré-

tratamentos, quando cultivados em meios com substratos distintos.

Na Tabela 14 estão apresentados os resultados de produção dos principais AOV e

álcoois determinados pelo método CLAE. Os resultados estão expressos em termos das

amostras AT e TT, que representam os pré-tratamentos do inóculo de lodo, cultivadas em

MCS, utilizando a vinhaça (V) e sacarose (S) como fonte de substrato. Não foram detectados

os ácidos cítrico, fórmico e valérico. As concentrações dos ácidos málico, succínico e

propiônico não foram consideradas, pois os picos registrados não apresentaram boa resolução.

Tabela 11 - Média de produção dos principais metabólitos no processo de fermentação das

amostras AT S, TT S, AT V e TT V.

Analitos

Amostras*

ATS TTS ATV TTV

g L-1

Ac. Lático 8,78± 0,22 6,20± 0,17 -1,34± 0,06 -1,89± 0,68

Ac. Acético 0,34± 0,02 0,78± 0,11 1,34± 0,03 1,31± 0,34

Ac. Isobutírico -0,01± 0,01 -0,16± 0,01 6,37± 2,76 5,80± 0,46

Ac. Butírico 0,28± 0,02 1,60± 0,05 6,37± 0,33 5,94± 0,23

Ac. Isovalérico 0,05± 0,01 0,04± 0,02 0,40± 0,04 0,66± 0,07

Carboidratos Totais 9,92± 0,04 9,61± 0,25 1,34± 0,11 1,38± 0,01

Metanol nd**

nd

nd

nd

Etanol 0,50± 0,02 1,13± 0,07 1,20± 0,03 1,21± 0,01

n-Butanol nd

nd

nd

nd

Ácidos Totais 9,45± 0,27 8,62± 0,35 14,48± 3,16 13,71± 1,10

Álcoois Totais 0,50± 0,02 1,13± 0,07 1,20± 0,03 1,21± 0,01

*resultados negativos indicam que houve consumo no processo, pois é feita a subtração entre a

concentração final e a inicial de todos os compostos avaliados; ** não identificado

Page 88: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

88

Em relação a concentração total de AOV entre os meios S e V, a produção foi superior

em até 59% nas culturas cultivadas em meio com vinhaça, não variando significativamente

entre os tratamentos ATV e TTV (14,5 ± 3,2 e 13,7 ± 1,1, respectivamente). Tal aumento

poderia estar associado ao fato da vinhaça conter elevada concentração inicial de AOV, ou

seja, os ácidos não necessariamente foram produzidos, mas já faziam parte da composição do

meio de cultura. No entanto, quando avalia-se a concentração dos ácidos separadamente,

observa-se que a concentração de ácido lático, abundante na amostra de vinhaça, após a

fermentação, o saldo deste ácido é negativo, ou seja, este foi consumido no processo de

metabolismo microbiano. Já em relação ao meio com sacarose, a ácido lático foi o produto

com maior concentração, sendo 8,8 ± 0,2 e 6,2 ± 0,2 g L-1

nas amostras ATS e TTS,

respectivamente.

Em relação a produção de ácido iso-butírico, contrariamente ao ácido lático, este foi

consumido nas culturas cultivadas com meio de sacarose e amplamente produzidos quando o

substrato é vinhaça (6,4 ± 2,8 e 5,8 ± 0,5 g L-1

nas amostras ATV e TTV, respectivamente).

Caso similar ocorre com a produção de ácido butírico, com baixa produção entre as culturas

cultivadas com sacarose (0,28 ± 0,02 e 1,60 ± 0,05 g L-1

nas amostras ATS e TTS,

respectivamente) em relação as culturas cultivadas em meio com vinhaça (6,4 ± 0,3 e 5,9 ±

0,2 g L-1

nas amostras ATV e TTV, respectivamente).

A concentração de etanol foi similar entre as amostras TTS, ATV e TTV, não variando

significativamente entre elas (1,13 ± 0,07; 1,20 ± 0,03 e; 1,21 ± 0,01 g L-1

, respectivamente),

no entanto a amostra ATS apresentou redução de 58% na produção de etanol (0,50 ± 0,02 g L-

1) em relação à média de produção de TTS, ATV e TTV. Neste caso, o método de pré-

tratamento influencia significativamente na produção de etanol, porém comparando ATS com

ATV, observa-se que a presença de vinhaça também afeta a produção de etanol.

Em nenhuma das amostras foi observada a formação de n-butanol e metanol.

Considerando que a amostra foi diluída 30 vezes, como parte do requisito para análise a fim

de evitar danificação na coluna do aparelho de CLAE, e ainda considerando que o limite de

detecção de n-butanol e metanol do método é de 20,5 e 6,5 mg L-1

(Tabela 12),

respectivamente, a concentração mínima de butanol e metanol que o aparelho consegue

identificar é de 616 e 196 mg L-1

, respectivamente. Desta forma não podemos afirmar que não

foi produzido metanol nem butanol no processo, mas certamente se houve produção foi

Page 89: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

89

inferior aos limites de detecção. Contudo, o método utilizado para determinação dos álcoois e

AOV, apesar do elevado índice de precisão e exatidão, não é o mais adequado para análise de

amostras com elevado teor de pigmentos e outras substâncias que possam causar danos a

coluna de separação (AMINEX® HPX-87H).

Apesar da vinhaça representar uma fonte de substrato mais desprovida de carboidratos,

sendo, neste caso, 86% inferior a concentração de carboidratos no meio com sacarose, a

produção de etanol e AOV foi superior. Tal ocorrência evidencia que outras substâncias

orgânicas presentes na vinhaça foram sintetizadas no processo de metabolismo do consórcio

microbiano. Como houve consumo de ácido lático nos meios ATV e TTV, sendo este o AOV

mais abundante na vinhaça, dentre os determinados pela metodologia CLAE, acredita-se que a

concentração de ácido lático foi determinante na produção de etanol.

Analisando as amostras ATV e TTV, não houve variações significativas entre os

compostos produzidos, indicando que o método de pré-tratamento de inóculo não afetou

diretamente o metabolismo do consorcio microbiano. No entanto, comparando as amostras

ATS e TTS, observa-se diferenças na concentração de ácido acético, ácido butírico e etanol,

sendo mais elevadas em TTS, e ácido lático, superior em ATS. Desta forma, conclui-se que o

método de pré-tratamento do inóculo exerceu influência na formação de etanol e AOV quando

cultivado em MCS com sacarose.

Na Tabela 15 estão apresentados o rendimento e a produtividade dos principais AOV e

álcoois produzidos durante a primeira etapa do processo de fermentação.

Tabela 12 - Rendimento e produtividade médios de ácido acético, ácido butírico e etanol entre

as amostras AT S, TT S, AT V e TT V.

Amostras

Rendimento g g -1

Produtividade mg L h-1

Ac. Acético Ac. Butírico Etanol Ac. Acético Ac. Butírico Etanol

ATS 0,023± 0,020 0,019± 0,016 0,051± 0,002 2,38± 0,17 1,95± 0,14 3,49± 0,13

TTS 0,081± 0,013 0,111± 0,097 0,117± 0,010 5,39± 0,77 11,11± 0,33 7,82± 0,50

ATV 0,638± 0,055 4,93± 0,73 0,900± 0,084 9,29± 0,24 44,23± 2,29 8,31± 0,22

TTV 0,946± 0,024 4,31± 0,15 0,875± 0,006 9,07± 2,35 41,26± 1,57 8,38± 0,07

Os rendimentos foram calculados com relação a concentração inicial de carboidratos

totais (glicose, frutose e sacarose). Comparando os métodos de pré-tratamento, entre as

Page 90: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

90

amostras ATV e TTV, os tratamentos, observa-se diferenças no rendimento de ácido acético,

onde houve um aumento percentual de 32,5% de ATV para TTV. Relacionando ATS com

TTS, nota-se que houve aumento no rendimento de ácido acético, ácido butírico e etanol

(71,6; 82,9 e; 56,4 %, respectivamente) de ATS para TTS.

O rendimento de ácido butírico nas amostras ATV e TTV foi superior 4 g do ácido por

g de carboidrato total. Certamente que neste caso os carboidratos determinados pelo método

não foi a única fonte de carbono utilizada no metabolismo celular do consorcio microbiano.

Produtividade mais alta de ácido butírico e ácido acético ocorreu de na amostra ATV

(44,2 ± 2,3 e 9,3 ± 0,2 mg L h-1

, respectivamente) e de etanol na amostra TTV (8,4 ± 0,1 mg

L h-1

). No entanto, não foram encontradas diferenças significantes de produtividade entre

ATV e TTV. Produtividade muito semelhante foi encontrada no trabalho de (AI et al., 2014),

onde foi fermentado palha de arroz hidrolisada (NaOH 1%, 50°C por 72 horas) com cultura

mista de microrganismos enriquecida e pré-tratada por processo térmico (115°C por 20

minutos). A produtividade máxima alcançada foi de 42,4± 2,1 e 9,0± 1,4 mg L h-1

de ácido

butírico e ácido acético, respectivamente.

Na Figura 12 está apresentado o gráfico comparando a produção média dos AOV e

álcoois metabolizados no processo de fermentação. Valores negativos representam que houve

consumo do metabólito. A barra de erro representa o desvio padrão da média de três amostras.

Figura 12 – Balanço global dos principais metabólitos no processo de fermentação das

amostras AT S, TT S, AT V e TT V.

Page 91: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

91

4.2.2 Vinhaça como meio nutriente

Para avaliar a influência da vinhaça como meio nutriente foram realizados 3 ensaios

aumentando a concentração de vinhaça a cada ensaio. Foi avaliada a resposta dos consórcios

microbianos submetidos aos pré-tratamentos AT e TT quando submetidos a doses crescentes

de vinhaça. Para diferenciar a influência dos pré-tratamentos de inóculo da concentração de

vinhaça, as amostras foram cultivadas também em MCS. Foi utilizada sacarose como fonte de

substrato em todos os tratamentos.

Na Figura 13 são apresentadas as representações gráficas do pH e densidade ótica

(OD) em função do tempo de fermentação nos três ensaios (B1, B2 e B3). Observa-se que o

ponto máximo de crescimento bacteriano ocorre em 72 horas após início da fermentação,

evidenciado pela medida de densidade ótica, que é parâmetro para avaliar crescimento

bacteriano. Desta forma, após o pico, tem-se o fim da fase exponencial e início da fase

estacionária de crescimento. O pH é inversamente proporcional ao aumento da densidade

ótica até o pico de crescimento. Após este ponto, nota-se uma tendência a estabilização com

leve aumento do pH. No entanto, no primeiro ensaio (B1), quando o pH foi ajustado com

NaOH, o pH voltou a cair, de forma que foi necessária a substituição do NaOH por uma base

com efeito de tamponamento. Contudo, foi utilizada solução de bicarbonato de sódio que é

uma base fraca que não se dissocia por completo mantendo o pH estável. O bicarbonato foi

utilizado por outros pesquisadores para controle do pH em sistemas de digestão anaeróbia

(DÖLL; FORESTI, 2010; HARADA et al., 1996).

Page 92: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

92

Figura 13 pH e densidade ótica em função do tempo de fermentação. Setas apontam para o

ponto em que foi feita a correção do pH

Os resultados da produção, rendimento e produtividade dos AOV foram expressos

apenas para as substancias de maior relevância ou abundância, que foram os ácidos butírico,

iso-butírico, acético e lático e álcoois etanol e metanol. Não foram detectados os ácidos

cítrico, fórmico, valérico e iso-valérico. O n-butanol foi registrado em algumas amostras do

ensaio B3, mas levemente abaixo do limite de detecção, de forma que o pico se confunde com

o ruído da linha base. Devido à falta de certeza, os picos de n-butanol não foram considerados

nas determinações analíticas.

Na Tabela 16 estão apresentados os resultados de produção média (n=3) dos AOV

butírico, iso-butírico, acético e lático detectados pelo método CLAE. Os resultados estão

expressos em termos das amostras AT e TT, que representam os pré-tratamentos do inóculo

de lodo, cultivadas em meio de cultivo sintético (S) e meio de cultivo com vinhaça (V),

B1 B2

B3

Page 93: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

93

compreendendo as bateladas B1, B2 e B3, referentes as doses crescentes de vinhaça de 1/3,

1/2 e 2/3, respectivamente.

Tabela 13 - Média de produção dos principais AOV no processo de fermentação das amostras

AT S, TT S, AT V e TT V entre os ensaios B1, B2 e B3.

Ensaio Amostra Ac. Lático Ac. Acético Ac. Isobutirico Ac. Butirico

g L-1

B1

ATS 8,79± 1,24 1,07± 0,14 1,62± 1,04 3,50± 0,33

TTS 8,10 - 2,03± 0,07 1,15± 0,15 5,09± 0,95

ATV 6,59± 1,60 0,45± 0,02 3,76± 0,22 6,55± 0,93

TTV 8,79± 2,33 1,23± 0,60 3,73± 0,15 6,40± 1,23

B2

ATS 5,94± 1,48 0,46± 0,35 2,55± 1,04 5,15± 0,49

TTS 6,39± 0,61 0,81± 0,27 4,98± 0,28 4,83± 0,64

ATV 5,81± 0,95 0,07± 0,02 10,34± 0,43 10,60± 0,62

TTV 6,15± 0,89 0,87± 0,07 6,84± 0,56 8,41± 0,62

B3

ATS -0,10± 0,04 0,51± 0,03 4,11± 0,82 7,50± 0,72

TTS -0,22± 0,03 0,60± 0,28 3,12± 0,30 8,29± 0,05

ATV -2,84± 0,46 2,19± 1,01 8,63± 1,31 14,13± 0,77

TTV -4,17± 0,37 4,13± 0,06 7,61± 0,89 13,21± 0,60

Verificou-se que a concentração dos ácidos butírico e iso-butírico aumentou da

primeira para terceira batelada em ATS, TTS, ATV, TTV. A concentração de ácido lático, por

sua vez, diminuiu de B1 para B3, chegando a valores negativos, indicando que houve

consumo de ácido lático. A concentração de ácido acético diminuiu de B1 para B3 nos

tratamentos ATS e TTS e aumentou nos tratamentos ATV e TTV. Na Figura 14 são

apresentados os gráficos da concentração média dos AOV em função das bateladas,

compreendendo todos os tratamentos.

Nota-se que o consumo de ácido lático ocorreu somente em B3, indicando mudança no

metabolismo do consórcio microbiano. Segundo Da Cunha e Foster (1992), o lactato pode ser

catabolizado via ação da enzima lactato desidrogenase (LDH) NAD+-independente por

algumas espécies de lactobacilos, tais como Lb. brevis, Lb. buchneri e Lb. plantarum. Nestes

lactobacilos, o catabolismo anaeróbio do lactato ocorre com a conversão do lactato a piruvato

com posterior formação de acetato mais dióxido de carbono ou então acetato mais formiato.

Os produtos de degradação formados a partir do piruvato são dependentes da presença de

enzima(s) específica(s): piruvato oxidase ou piruvato-formiato liase.

Page 94: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

94

Não podemos atribuir o aumento gradual de ácido butírico de B1 para B3 as doses

suplementares de vinhaça, pois este aumento gradual ocorre também no meio sintético que

não sofreu alterações na composição entre as bateladas. As mudanças na concentração dos

AOV, em ambos tratamentos, sugerem que houve adaptação da microflora bacteriana em cada

ensaio, sendo notadamente mais significativa em B3. Tal evidência pode ser comprovada com

a análise filogenética a fim de verificar as variações na abundância de espécies responsáveis

pela fermentação.

As máximas concentrações de ácido butírico, iso-butírico e acético foram de 14,13 ±

0,77 g L-1

na amostra ATV B3; 10,34 ± 0,43 g L-1

na amostra ATV B2 e; 4,13 ± 0,06 g L-1

na

amostra TTV B3, respectivamente.

Figura 14 - Curvas de produção dos principais AOV dos tratamentos ATS, ATV, TTS e TTV

em função dos três ensaios de fermentação em batelada (B1, B2 e B3).

Na Tabela 17 estão apresentados os resultados de produção média (n=3) dos principais

álcoois detectados pelo método CLAE, metanol e etanol. Os resultados estão expressos em

termos das amostras ATS. ATV, TTS e TTV, compreendendo as bateladas B1, B2 e B3.

Page 95: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

95

Tabela 14 - Média de produção de etanol e metanol no processo de fermentação das amostras

AT S, TT S, AT V e TT V entre as bateladas B1, B2 e B3.

Ensaio Amostra Metanol Etanol

g L-1

B1

ATS nd 2,72± 0,19

TTS nd 3,63± 0,58

ATV nd 3,42± 0,38

TTV nd 3,04± 0,41

B2

ATS nd 3,37± 0,37

TTS nd 3,00± 0,34

ATV nd 3,85± 0,16

TTV 0,35± 0,03 2,94± 0,27

B3

ATS nd

4,66± 0,23

TTS nd 4,75± 0,59

ATV 0,60 0,20 5,16± 0,57

TTV 1,00± 0,16 5,10± 0,38

O metanol só foi detectado na amostra TTV, nos ensaios B2 e B3 e na amostra ATV,

no ensaio B3. De B2 para B3 ocorreu aumento percentual de 185% de metanol. O etanol foi

registrado em todas as leituras e com aumento gradual de B1 para B3, sendo maior de B2 para

B3 nas amostras ATV e TTV (aumento percentual de 34 e 73 %, respectivamente) que de B1

para B2. Entre os tratamentos, não houve diferenças significativas. As máximas

concentrações de etanol e metanol registradas foram de 5,16 ± 0,57 g L-1

na amostra ATV B3

e 1,00 ± 0,16 g L-1

na amostra TTV B3, respectivamente.

Na Tabela 18 e 19 estão apresentados o rendimento médio e a produtividade média,

respectivamente, dos principais produtos da fermentação. Os resultados estão expressos em

termos das amostras ATS. ATV, TTS e TTV, compreendendo os ensaios de bateladas B1, B2

e B3.

O rendimento de etanol e dos AOV butírico, acético e iso-butírico (g do composto por

g de carboidratos totais) foi mais elevado nas amostras ATV B3 e TTV B3, atingindo valores

máximos de 0,14; 0,28; 0,69 e; 0,26 g g-1

de ácido acético, ácido iso-butírico, ácido butírico e

etanol, respectivamente. Trabalho semelhante foi realizado por Sydney et al. (2014), que

avaliaram o potencial da vinhaça como fonte de nutrientes para produção de hidrogênio e

AOV por consórcio microbiano originário de lagoa de estabilização de bovinocultura de leite.

Vinhaça bruta (sem diluição) foi fermentada com sumo de cana-de-açúcar (10 g L-1

) em

Page 96: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

96

sistema de batelada sob condições mesófilas (37°C) a pH 7. O rendimento máximo de ácido

acético, butírico foi de 0,13 e 0,70 g g-1

, valores muito próximos aos obtidos neste trabalho.

No entanto, não foi detectado etanol.

Tabela 15 - Rendimento médio dos principais dos produtos da fermentação das amostras AT

S, TT S, AT V e TT V entre os ensaios B1, B2 e B3.

Ensaio Amostra

Ac. Acético Ac. Isobutírico Ac. Butírico Etanol

g g-1

B1

ATS 0,05 0,05 0,16 0,13

TTS 0,07 0,06 0,25 0,18

ATV 0,01 0,18 0,32 0,11

TTV 0,06 0,12 0,32 0,10

B2

ATS 0,01 0,13 0,25 0,17

TTS 0,04 0,17 0,25 0,15

ATV 0,00 0,35 0,54 0,20

TTV 0,03 0,24 0,44 0,15

B3

ATS 0,02 0,13 0,37 0,23

TTS 0,02 0,16 0,29 0,25

ATV 0,11 0,28 0,69 0,25

TTV 0,14 0,26 0,68 0,26

Tabela 16 - Produtividade média dos principais dos produtos da fermentação das amostras AT

S, TT S, AT V e TT V entre os ensaios B1, B2 e B3.

Ensaio Amostra

Ac. Acético Ac. Isobutírico Ac. Butírico Etanol

mg L h-1

B1

ATS 6,51 9,81 21,20 16,50

TTS 12,30 6,97 30,86 22,02

ATV 2,71 22,78 39,70 20,70

TTV 7,46 22,59 38,78 18,45

B2

ATS 2,80 15,66 31,58 20,66

TTS 4,94 30,53 29,65 18,41

ATV 0,41 63,46 65,01 23,62

TTV 5,31 41,93 51,60 18,04

B3

ATS 2,98 24,01 43,83 27,26

TTS 3,49 18,25 48,50 27,77

ATV 12,79 50,45 82,66 30,17

TTV 24,16 44,51 77,25 29,85

Page 97: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

97

Nas Figuras 15, 16 e 17 estão apresentados graficamente a média e desvio padrão dos

principais produtos da fermentação nos ensaios de batelada B1, B2 e B3, respectivamente.

Figura 15 - Balanço global dos principais metabólitos no processo de fermentação das

amostras AT S, TT S, AT V e TT V no ensaio B1, onde houve suplementação de 1/3 de

vinhaça no MCS.

Figura 16 - Balanço global dos principais metabólitos no processo de fermentação das

amostras AT S, TT S, AT V e TT V no ensaio B2, onde houve suplementação de 1/2 de

vinhaça no MCS.

Page 98: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

98

Figura 17 - Balanço global dos principais metabólitos no processo de fermentação das

amostras AT S, TT S, AT V e TT V no ensaio B3, onde houve suplementação de 2/3 de

vinhaça no MCS.

4.2.3 Teste de comparação de médias

O teste de comparação de médias, teste de Tukey, foi realizado apenas para as

variáveis resposta concentração de ácido butírico e concentração de etanol, com interação de

3 fatores: meio de cultura ‘S’ e ‘V’, tratamento TT e AT e batelada B1, B2 e B3. Toda análise

estatística foi realizada em programa RStudio Desktop 0.99.441.

Para aplicação da Análise de Variância ANOVA, primeiramente foi verificado pelo

teste de Levene a homogeneidade das variâncias da interação entre as categorias Batelada,

Tratamento e Meio de Cultura, premissa necessária para utilização da ANOVA. Na Tabela 20

esta apresentado o resultado do Teste de Levene.

Tabela 17 - Verificação da hipótese de homogeneidade das variâncias: Teste de Levene’s.

Variável Resposta gL F p valor

[ ] Etanol 11 0,4328 0,9255

[ ] Ácido Butírico 11 0,2662 0,9869

Page 99: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

99

Neste caso, conclui-se que as variâncias são iguais nos dois grupos de variável

resposta, uma vez que a significância associada ao teste é superior a 0,05 (nível de

significância = 5%). Desta forma, assume-se a homogeneidade das variâncias e portanto a

validação na aplicação da ANOVA.

O teste da ANOVA foi realizado pela interação de 3 fatores Batelada, Tratamento e

Meio de Cultura, a fim de verificar se há diferenças significativas ou variâncias entre os

grupos e dentro dos grupos ao nível de significância de 5%. Nas Tabelas 21 e 22 estão

apresentados os resultados do teste para as variáveis resposta ácido butírico e etanol,

respectivamente.

Tabela 18 - Resultado do teste Anova interação dos fatores Tratamento, Meio de Cultura e

Batelada para variável resposta concentração de ácido butírico.

Resposta: Ácido Butírico gl SQ MQ F p valor

Tratamento 1 0,783 0,783 1,287 0,267857

Meio de Cultura 1 162,9 162,9 267,7 <0,0000001

Batelada 2 170,2 85,09 139,8 <0,0000001

Tratamento:Meio de Cultura 1 5,649 5,649 9,281 0,005547

Tratamento:Batelada 2 5,842 2,921 4,801 0,017633

Meio de Cultura:Batelada 2 23,02 11,51 18,92 0,000012

Tratamento:Meio de

Cultura:Batelada 2 0,231 0,116 0,190 0,828272

Resíduos 24 14,603 0,608

Tabela 19 - Resultado teste Anova interação dos fatores Tratamento, Meio de Cultura e

Batelada para variável resposta concentração de etanol.

Resposta: Etanol gl SQ MQ F p valor

Tratamento 1 0,111 0,111 0,513 0,48053

Meio de Cultura 1 0,096 0,096 0,445 0,51126

Batelada 2 25,42 12,71 58,60 <0,0000001

Tratamento:Meio de Cultura 1 0,932 0,932 4,297 0,04908

Tratamento:Batelada 2 1,359 0,679 3,133 0,06180

Meio de Cultura:Batelada 2 0,905 0,452 2,085 0,14629

Tratamento:Meio de

Cultura:Batelada 2 0,468 0,234 1,078 0,35616

Resíduos 24 5,207 0,217

A análise dos resultados permite concluir que há diferenças significativas nas médias

de concentração de ácido butírico nos fatores Meio de Cultura e Batelada (p < 0,05),

Page 100: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

100

significando que os meios utilizados (S e V) e a adaptação dos microrganismos a variações na

concentração de vinhaça interferem na concentração deste ácido. Para variável concentração

de etanol, há diferenças significativas apenas no fator Batelada.

Para determinar quais grupos são significativamente diferentes entre si, foi realizada a

Análise de Post-Hokey, teste de Tukey. Nas Figuras 18, 19 e 20 são apresentados os gráficos

que ilustram o resultado do teste de Tukey para as variáveis ácido butírico e etanol. Os pares

de médias considerados iguais são os que o intervalo de confiança corta o eixo em zero. Quão

mais distante de zero, maior é a diferença entre as médias.

Figura 18 - Intervalo de confiança (95%) das diferenças entre as médias a nível do fator

Tratamento, para as variáveis resposta ácido butírico e etanol.

Page 101: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

101

Figura 19 - Intervalo de confiança (95%) das diferenças entre as médias a nível do fator Meio

de Cultura, para as variáveis resposta ácido butírico e etanol.

Figura 20 - Intervalo de confiança (95%) das diferenças entre as médias a nível do fator

Batelada, para as variáveis resposta ácido butírico e etanol.

A nível do fator Tratamento, sem alterações no meio de cultura e dentro da mesma

batelada, não foram encontradas diferenças entre as médias para nenhuma das variáveis

resposta. Já no fator Meio de Cultura, foram encontradas diferenças entre as médias ATS e

ATV nas 3 bateladas e entre TTS e TTV nas bateladas B2 e B3 para a variável resposta ácido

butírico. A diferença encontrada evidencia que nas mesmas condições de ensaio e para o

mesmo consórcio microbiano, a composição do meio foi determinante na concentração final

de ácido butírico.

Page 102: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

102

A nível do fator Batelada e variável ácido butírico, foram encontradas diferenças a

maior parte dos pares de médias, com exceção dos pares: TTV B2-TTV B1, TTS B2-TTS B1

e ATS B2-ATS B1. No mesmo fator para a variável etanol, foram encontradas diferenças

entre os pares: TTV B3-TTV B2, TTV B3-TTV B1, ATV B3-ATV B2, ATV B3-ATV B1,

ATS B3-ATS B1.

Na Figura 21 está apresentada graficamente, gráfico de caixas, a variação e

distribuição de ácido butírico e etanol na interação dos três fatores avaliados. Observa-se

menor variabilidade e tendência crescente na concentração de ácido butírico e etanol de B1

para B3 no tratamento AT.

Figura 21 - Distribuição empírica das variáveis resposta ácido butírico e etanol, com interação

de 3 fatores: meio de cultura ‘S’ e ‘V’, tratamento TT e AT e batelada B1, B2 e B3.

Page 103: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

103

4.3 Etapa 2: Produção de álcoois e AOV em meio de vinhaça suplementado com

melado de cana-de-açúcar

Nesta etapa do trabalho, as determinações analíticas foram realizadas diariamente até o

terceiro dia de fermentação e a cada 2 dias após o terceiro dia até completar 12 dias. Nas

Figuras 22, 23 e 24 são apresentados os gráficos da produção de AOV e etanol e consumo de

carboidratos totais em função do tempo de fermentação, incluindo as curvas de pH e volume

de gás.

A análise das curvas produção de AOV e álcoois e de consumo de carboidratos, nos

ensaios B1, B2 e B3, permite identificar a transição da fase exponencial de crescimento para a

fase estacionária. Esta transição ocorre ao terceiro dia (72 horas) de fermentação. A fase

exponencial foi caracterizada por elevada taxa de consumo de carboidratos (sacarose, glicose

e frutose), produção de etanol AOV, principalmente butirato e acetato, diminuição do pH e

produção de biogás. A concentração de ácido lático variou de forma crescente até o segundo

dia de fermentação, decrescendo até concentrações inferiores a concentração inicial no tempo

zero, indicando que houve reassimilação deste ácido.

Figura 22 - Produção de AOV e álcoois, consumo de carboidratos totais e pH em função do

tempo de fermentação do ensaio 1, que corresponde a suplementação de 65 % de vinhaça.

Page 104: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

104

Figura 23 - Produção de AOV e etanol e consumo de carboidratos totais em função do tempo

de fermentação do ensaio 1, que corresponde a suplementação de 75 % de vinhaça.

Figura 24 - Produção de AOV e etanol e consumo de carboidratos totais em função do tempo

de fermentação do ensaio 1, que corresponde a suplementação de 85 % de vinhaça.

No último ensaio, com suplementação de 87% de vinhaça, o tempo de fermentação foi

extendido até 22 dias. Houve aumento do pH (de 6,3 para 6,8), mas não foram verificadas

alterações nas concentrações de AOV e álcoois.

Page 105: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

105

Na Tabela 23 estão apresentados a produção máxima e o tempo de fermentação

correspondente dos principais metabólitos dos ensaios denominados como B1, B2 e B3, que

correspondem a suplementação de 65, 75 e 85 % de vinhaça, respectivamente.

Tabela 20 - Principais produtos da fermentação de melado de cana suplementado com

vinhaça nos ensaios B1, B2 e B3.

Ensaios B1 B2 B3

Produtos g L-1

h g L-1

h g L-1

h

Ac. Lático 2,22 22 1,31 23 3,48 47

Ac. Acético 8,28 287 6,56 286 7,49 209

Ac. Butírico 12,22 215 11,61 218 13,85 69

Metanol 0,34 287 0,48 286 0,42 284

Etanol 7,82 120 7,37 218 7,44 116

A concentração de ácido lático, em B1 e B2, foi máxima no primeiro dia da

fermentação (2,22 e 1,31 g L-1

, respectivamente). Em B3, o pico máximo de ácido lático

ocorreu transcorridas 48 horas na fermentação (3,48 g L-1

). O pico máximo de produção de

ácido acético ocorreu somente no último dia do ensaio de fermentação em B1 e B2 (8,28 e

6,56 g L-1

). No entanto, após o nono dia, a produção de ácido acético varia pouco nas

bateladas sendo máxima em B3 (7,49 g L-1

). Comparando com o valor máximo ocorrido da

primeira etapa, a produção de ácido acético foi superior em 100% no valor da concentração na

segunda etapa.

Assim como na primeira etapa, o ácido butírico foi o principal produto da

fermentação, alcançando pico máximo de concentração no nono dia da fermentação (12,22 e

11,61 g L-1

em B1 e B2, respectivamente). Comparando entre as bateladas, a máxima

produção ocorre em B3 (13,85 g L-1

) transcorridos 3 dias de fermentação.

A produção de etanol foi homogênea entre as bateladas (7,82; 7,37 e; 7,44 g L-1

em B1,

B2 e B3, respectivamente), sendo máxima em B1 transcorridos 5 dias de fermentação. O

metanol foi detectado somente após o quinto dia de fermentação, com concentração máxima

em B2 (0,48 g L-1

) após 12 dias de fermentação.

Na Tabela 24 estão apresentados os resultados de rendimento e produtividade

máximos no tempo de fermentação correspondente dos principais metabólitos dos ensaios B1,

Page 106: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

106

B2 e B3. O rendimento foi calculado em termos da concentração de carboidratos totais

(sacarose, glicose e frutose) consumido no tempo correspondente.

Tabela 21 - Produtividade e rendimento máximos dos principais metabólitos da fermentação

de melado de cana suplementado com vinhaça nos ensaios B1, B2 e B3.

Ensaio Parâmetros Ac. Acético Ac. Butírico Etanol

B1

mg L h-1*

125,81 151,76 103,77

h 22 46 46

g g-1

0,338 0,498 0,319

h 287 215 120

B2

mg L h-1

75,03 171,59 114,12

h 23 48 48

g g-1

0,256 0,453 0,290

h 286 218 120

B3

mg L h-1

82,74 199,98 104,93

h 24 69 69

g g-1

0,291 0,556 0,295

h 209 69 116

Os rendimentos de ácido acético e etanol foram maiores e B1 (0,34 e 0,32 g g-1

) e de

ácido butírico maior em B3. Com relação a produtividade, esta foi maior em B1 para ácido

acético (125,81 mg L h-1

no primeiro dia) em B2 para etanol (114,12 mg L h-1

no segundo dia)

e em B3 para ácido butírico (199,98 mg L h-1

no terceiro dia). Dados similares foram

encontrados no trabalho de Sydney et al. (2014), com fermentação, em reator de batelada de

2,5 L com duração de 6 dias, de vinhaça bruta suplementada com melaço de cana-de-açúcar.

O rendimento de ácido acético e butírico foram de 0,38 e 0,64 g g-1

de substrato.

Estes dados revelam que o tempo ótimo para fermentação, quando se deseja produzir

AOV, principalmente ácido butírico, é caracterizado pelo final da fase exponencial de

crescimento, que neste trabalho foi de 72 horas.

Com relação aos solventes, é necessário estudo mais aprofundado na área de

bioquímica e engenharia metabólica, a fim de determinar os fatores interferentes no processo

de biodigestão de resíduos como a vinhaça, quando na associação de duas ou mais culturas

para obtenção de melhores rendimentos e produtividade dos solventes.

Page 107: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

107

4.4 Caracterização microbiológica do consórcio microbiano

4.4.1 Morfologia

Durante a fase de pré-tratamento e enriquecimento do inóculo, foi realizada análise de

morfologia celular e coloração Gram, com objetivo de verificar as transformações ocorridas

na morfologia celular das células vegetativas a cada estapa do pré-tratamento. Um indicativo

positivo é a presença de microrganismos Gram positivos e a presença de esporos, pois podem

indicar presença de microrganismos do gênero Clostridium.

Na Tabela 25 são apresentadas as morfologias observadas em amostras dos inóculos

resultantes do pré-tratamento (AT e TT - I0) e das gerações posteriores, com processo de

enriquecimento (I1, I2 e I3).

Não houve grandes variações nas morfologias observadas entre tratamentos nem entre

gerações. As formas predoinantes foram bacilos e cocos, nos arranjos diplobacilos,

estreptobacilos, diplococos, estreptococos e estafilococos. A coloração Gram predominante é

a positiva e a ocorrência de esporos foi observadas até a primeira geração (I1). Os esporos são

estruturas resistentes a elevadas temperaturas e condições desfavoráveis a sobrevivência de

uma célula vegetativa, mas sob condições ambientais adequadas, os esporos germinam

(LÜTKE-EVERSLOH; BAHL, 2011). Devido ausência de esporos a partir da segunda

geração (I2), acredita-se que os esporos que resistiram as condições ambientais extremas dos

pré-tratamentos, germinaram sob a condição do processo de incubação (meio RMC, 37°C).

Page 108: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

108

Tabela 22 – Morfologias observadas entre as etapas do pré-tratamento e enriquecimento de

inóculo.

Lâmina Morfologias Esporos

AT –I0

Bacilos gram negativos e gram positivos;

diplobacilos gram negativos e gram positivos;

estreptobacilos gram negativos;

cocos gram positivos e gram negativos;

estreptococos gram positivos e gram negativos;

estafilococos gram positivos.

Presente

TT – I0

Bacilos gram negativos e gram positivos;

diplobacilos gram negativos e gram positivos;

estreptobacilos gram negativos;

cocos gram positivos e gram negativos;

estreptococos gram positivos e gram negativos;

estafilococos gram positivos.

Presente

AT – I1

Bacilos gram negativos e gram positivos;

diplobacilos gram negativos e gram positivos;

estreptobacilos gram positivos;

cocos gram positivos e gram negativos;

estreptococos gram positivos;

estafilococos gram positivos.

Presente

TT – I1

Bacilos gram negativos e gram positivos;

diplobacilos gram negativos e gram positivos;

cocos gram positivos e gram negativos;

estreptococos gram positivos.

Presente

AT –I2

Bacilos gram negativos e gram positivos;

estreptobacilos gram positivos;

cocos gram positivos e gram negativos;

estreptococos gram positivos.

Ausente

TT – I2

Bacilos gram negativos e gram positivos;

estreptobacilos gram positivos;

cocos gram positivos e gram negativos;

estreptococos gram positivos.

Ausente

AT – I3

Bacilos gram negativos e gram positivos;

diplobacilos gram positivos;

estreptobacilos gram positivos;

cocos gram positivos e gram negativos;

estreptococos gram positivos.

Ausente

TT – I3

Bacilos gram negativos e gram positivos;

diplobacilos gram positivos;

estreptobacilos gram positivos;

cocos gram positivos e gram negativos;

estreptococos gram positivos.

Ausente

Page 109: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

109

4.4.2 Pirosequenciamento

A técnica de pirosequenciamento gerou 929.044 sequências no total, entretanto, nem

todas apresentaram qualidade e tamanho necessários para serem empregados nas análises

taxonômicas e ecológicas, sendo utilizadas após os métodos de filtragem aproximadamente

852.156 sequências (91,07%). As sequencias descartadas não possuíam critérios mínimos

como qualidade inferior a 24 pontos reads, tamanho inferior a 65pb e sequências com menos

de 80% de similaridade aos primers. Na Tabela 26 são apresentados os reads antes e após a

filtradas em cada uma das amostras sequenciadas.

Tabela 23 - Número total de reads antes e após a filtragem

Tratamentos reads total reads após filtragem % reads mapeados

AU 73.748 65.886 89,3

TT 413.212 380.178 92,0

AT 442.044 406.092 91,9

4.4.3 Caracterização da diversidade microbiana

A análise de distribuição das 852.156 sequências obtidas após a filtragem gerou até

273.971 UTOs (Unidades Taxonômicas Operacionais), desta qual 20.666, 123.266 e 130.039

OTUs corresponde aos tratamentos AU, TT e AT, respectivamente. A similaridade mínima

desta classificação foi de 85%, no nível de ordem, ou seja, as sequencias foram classificadas

no mínimo ao nível de ordem taxonômica. Na Tabela 27 são apresentados os números e

porcentagem de OTUs de acordo com a similaridade entre os três tratamentos. Para a

caracterização da diversidade microbiana, só foram consideradas as sequencias com número

de OTU superior a 0,5% do total de OTUs de cada amostra. Sendo assim, 87,6; 92,8 e; 90,7 %

do número de OTUs dos tratamentos AU, TT e AT, respectivamente, foram considerados para

análise da distribuição taxonômica.

Page 110: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

110

Tabela 24 - Distribuição do número e porcentagem relativa* de UTOs de acordo com a

similaridade e tratamento do inóculo

Similaridad

e

Nível

Taxonomic

o AU TT AT

100% Espécie 2.040

(11,1%

) 42.922

(37,5%

) 13.186

(11,2%

)

97% Gênero 13.810

(75,4%

) 49.882

(43,6%

) 40.049

(33,9%

)

95% Família 2.473

(13,5%

) 21.730

(19,0%

) 64.971

(55,0%

)

*Porcentagem relativa ao número total de UTO de cada amostra individualmente

A observação dos tratamentos revelou que os tratamentos TT e AT geraram número

maior de UTO's em relação ao tratamento AU, sendo similares entre si. O número menor

encontrado em AU pode estar ligado ao número amostral de sequencias, indicando que a

amostragem não foi suficiente. Dos pré-tratamentos de lodo utilizados neste trabalho, a

autoclavagem é o método mais eficiente no que diz respeito a diminuição da diversidade e

quantidade populacional de microrganismos. Tal fato explica o número menor de sequencias

nesta amostra em relação as amostras pré-tratadas pelos métodos TT e AT.

Nos tratamentos AU e TT, maior número de sequencias foram agrupadas com 97%

similaridade (75,4 e 43,6 %, respectivamente), sendo que em AT, o número maior de

sequencias (55%) foi agrupado a 95% de similaridade. Já a nível de classificação em espécie,

ou seja, com 100% de similaridade, um número maior se sequencias foi observador para o

tratamento TT (37,5%) e menor para os tratamentos AU e AT (11,1 e 11,2 %,

respectivamente).

No todo, verificou-se menor parcela de UTOs classificadas em espécie (23,2%)

seguido por família (35,5%) e gênero (41,3%). Foram identificados 14 gêneros entre as

sequencias com OTU maior que 0,5% do total de cada amostra, compreendendo 103.741

UTOs, e apenas 6 espécies, compreendendo 58.148 OTUs. A o número pequeno de gêneros

classificados em relação a quantidade de sequencias mapeadas indica a eficiência dos pré-

tratamentos no que diz respeito a redução da diversidade microbiana do lodo anaeróbio.

Page 111: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

111

4.4.4 Filo

O Filo Firmicutes foi predominante em todas amostras, representando 87,2; 94,5 e 100

% de abundancia relativa entre os tratamentos AU, TT e AT, respectivamente. Na Tabela 28

está apresentado o número de OTUs em função dos filos e tratamentos. No filo Firmicutes, a

classe predominante foi a Clostridia (59,6 %) seguida pela Bacilli (37,0%). A classe

Clostridia aparece em todos os tratamentos.

O filo Euryarchaeota, pertencente ao Reino das Archeas, aparece apenas na amostra

TT. O Euryarchaeota, um dos quatro entretanto reinos (ou filos) do domínio de archaea,

consiste em os metanógenos anaeróbicas estritas, as halófilos extremas Embora não seja ..,

este filo é representado com pouco abundância, com 2,5% das sequencias.

Tabela 25 - Número de OTUs distribuída entre os filos classificados de acordo com o

tratamento do inóculo

Filo AU TT AT

Actinobacteria 2.136 - -

Bacteroidetes 206 - -

Euryarchaeota - 6.251 -

Firmicutes 15.981 108.283 118.206

Os resultados da análise da distribuição entre família no diagrama de Venn (Figura 25)

demonstra que os ocorre compartilhamento entre as famílias Closdridiaceae, Lachnospiraceae,

Lactobacillaceae e Ruminococcaceae nas amostras TT, AT e AU. A família Bacillaceae

aparece nas amostras AT e TT. Todas estas famílias pertencem ao Filo Firmicutes e foram as

que apareceram com maior abundância ou maior número de sequencias entre as famílias

classificadas. Outras famílias classificadas aparecem isoladamente em cada amostra, com

menor abundância relativa.

Page 112: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

112

Figura 25 - Diagrama de Venn das famílias classificadas entres as comunidades bacterianas

presentes nas amostras AT, TT e AU.

Na Figura 26 está apresentado o gráfico com a frequência em que aparecem as

famílias por amostra

Figura 26 - Classificação taxonômica de consorcio microbiano presentes nas amostras AU,

TT e AT em nível de família

Page 113: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

113

A família Clostridiaceae foi a que apresentou maior abundância entre os consórcios

microbianos pré-tratados, sendo maior em AT, seguida por AU e TT. Já no consorcio presente

em TT houve maior abundância da família Lactobacillaceae, seguida por AU e AT.

Os microrganismos pertencentes as famílias Bacillaceae e Clostridiaceae foram

definidos taxonomicamente como bactérias formadoras de esporos, em forma de bastonete,

parece celular Gram-positiva (maioria), produtoras de ácidos a partir de glicose e não

redutoras de sulfato (DOORES, 2014).

4.4.5 Gênero

Dentre os 14 gêneros classificados, 7 estão relacionados a condição anaeróbia restrita,

3 a anaeróbia facultativa, 4 a aeróbia facultativa (Tabela 29). Possuem parece celular Gram

positiva 11 dos gêneros classificados, estando entres estes os de maior abundância. São

formadores de endoesporos 8 gêneros, entres eles Clostridium e Bacillus como os mais

abundantes. Tal evidência comprova a eficiência dos métodos de pré-tratamento na

manutenção de microrganismos formadores de esporos. No entanto, também demonstra que

células vegetativas também são capazes de resistir a condições de elevada temperatura e baixo

pH, como as bactérias do gênero Lactobacillus que não formam esporos. Células vegetativas

de Sporolactobacillus podem sobreviver a condições de extrema acidez (pH 2,0 – 4,0) e

concentrações salinas de 0.1–0.4% (DOORES, 2014).

Page 114: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

114

Tabela 26 – Características do gêneros identificados.

Gênero Formação

esporos Morfologia Condição Gram Referência

Clostridium sim Bacilos Anaerobio restrito (+) (DÜRRE, 2008a)

Lactobacillus não Bacilos Anaerobia facultativa (+) (WIEGEL; TANNER;

RAINEY, 2006)

Bacillus sim Bacilos Aerobia facultativa (+) (ETTOUMI et al.,

2009)

Ruminococcus não Diplococos Anaerobio restrito (+) (HOLDEMAN;

MOORE, 1974)

Mhethanosaeta não _ Anaerobio restrito n.c. (KÖNIG, 1993)

Rummeliibacillus sim Bacilos Aerobia facultativa (+) (VAISHAMPAYAN

et al., 2009)

Coprococcus não Diplococos Anaerobio restrito (+)

(HOLDEMAN;

MOORE, 1974)

Alkaliphilus sim

Bacilos curvos

com flagelos Anaerobio restrito (+) (TAKAI et al., 2001)

Pelosinus sim

Bacilos com

flagelo Anaerobio restrito (-) (MOE et al., 2012)

Sporolactobacillus sim

Bacilos com

flagelo Aerobia facultativa (+) (DOORES, 2014)

Dysgonomonas não Coco bacilos Anaeróbia facultativa (-)

(HOFSTAD et al.,

2000)

Ethanoligenens não

Bacilos com

flagelo Anaerobio restrito (+) (XING et al., 2006)

Leuconostoc sim Bacilos Anaerobia facultativa (+)

(OLSEN;

BROCKMANN;

MOLIN, 2007)

Virgibacillus sim

Bacilos com

flagelo Aerobia facultativa (+) (HEYNDRICKX et

al., 1998)

Os resultados da análise da distribuição entre gêneros no diagrama de Venn (Figura

27) demonstra que os ocorre compartilhamento entre os gêneros Clostridium e Lactobacillus

nas amostras TT, AT e AU. Estes gêneros são os que aparecem com maior abundância

relativa (Figura 28). Os gêneros Bacillus e Coprococus aparecem nas amostras AT e TT.

Outros gêneros classificados aparecem isoladamente em cada amostra, com menor

abundância relativa.

Os gêneros dominantes entre as bactérias produtoras de hidrogênio via rota metabólica

do butirato são o Clostridium e Bacillus, enquanto que a rota via propianato está associada aos

gêneros Bacteroides, Peptostreptococcus, Ruminococcus (MOAT; FOSTER; SPECTOR,

2002). Embora não haja um consenso sobre o gênero dominante para produção de etanol entre

as bactérias produtoras de hidrogênio, alguns autores citam a ocorrência principalmente dos

Page 115: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

115

gêneros Ethanoligenens, Acetanaerobacterium, Clostridum e Rhodopseudomona (CHEN;

DONG, 2004; JUNG et al., 1999; XING et al., 2006)).

O trabalho de sequenciamento de Coprococcus sp. L2-50 (PRYDE et al., 2002)

revelou que esta cepa processa o gene responsável pela formação da enzima butiril-CoA de

acetil-CoA. A formação de butirato está intimamente ligada a formação desta enzima.

Figura 27 - Diagrama de Venn dos gêneros classificadas entres as comunidades bacterianas

presentes nas amostras AT, TT e AU

Figura 28 - Classificação taxonômica de consorcio microbiano presentes nas amostras AU,

TT e AT em nível de gênero

Page 116: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

116

Dentre as 6 espécies identificadas, a que aparece com maior abundância relativa é a

Lactobacillus zeae, seguida de Clostridium pasteurianum, Clostridium intestinale e Bacillus

firmus (Figura 29).

Figura 29 - Classificação taxonômica de consorcio microbiano presentes nas amostras AU,

TT e AT em nível de espécie.

C. pasteurianum é uma espécie utilizada para produção de butanol (DABROCK;

BAHL; GOTTSCHALK, 1992; KAO et al., 2013; SABRA et al., 2014). No entanto, alguns

parâmetros podem afetar a produção de solvente por esta cultura, como pH, potencial redox e

limitação de fosfato e ferro (DABROCK; BAHL; GOTTSCHALK, 1992), elementos

fundamentais para síntese de enzimas importante no metabolismo celular.

Apesar da abundância desta espécie no consorcio AU, não foi detectado n-butanol em

nenhum dos ensaios de fermentação incubados com esta cultura. Como trata-se de um

consórcio microbiano, não basta ter espécies capazes de produzir butanol, é preciso investigar

os efeitos sinérgicos e antagônicos da coexistência das culturas envolvidas no processo e

como elas reagem a mudanças nas condições ambientais.

Page 117: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

117

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tão importante quanto o tratamento de resíduos é o seu reaproveitamento energético.

A vinhaça é um resíduo produzido em larga escala pela indústria sucroalcooleira com grande

potencial devido a elevada concentração de macro e micro nutrientes e substâncias orgânicas

como os AOV.

O presente trabalho abre a possibilidade para inúmeros estudos, representando um

passo importante no desenvolvimento de um processo industrial para reutilização da vinhaça.

A exploração de novos microrganismos e estudo dos fatores que interferem no processo de

fermentação como pH, temperatura, nutrientes, densidade da cultura, cargas aplicadas e

características do substrato, são fundamentais para o entendimento dos efeitos sinérgicos e

antagônicos da associação de culturas e determinação das rotas metabólicas envolvidas no

processo.

Uma alternativa promissora, pela capacidade e viabilidade econômica, é a fermentação

acidogênica da vinhaça concomitante a outro resíduo oriundo da indústria sucroalcooleira,

como o bagaço da cana-de-açúcar que, se hidrolisado, atua como uma fonte de substrato para

produção de AOV e hidrogênio. Em um outro processo integrado, o caldo da fermentação,

rico em ácido butírico, pode ser convertido em álcoois, como o butanol, por processamento

químico. O efluente da fermentação também pode ser avaliado para utilização como

fertilizante na produção de cana-de-açúcar. No entanto, deve-se levar em consideração a

toxicidade deste efluente quando descartado no solo e na água. Testes de toxicidade aguda

com o microcrustáceo Daphnia similis realizado na UNESP campus Rio Claro, com resíduo

dos ensaios de fermentação deste trabalho, revelaram alto potencial poluente, uma vez que as

amostras apresentaram toxicidade aguda CE(50) < 0,5.

Salientamos ainda a importância da investigação e seleção de espécies em ambientes

naturais para produção de AOV e álcoois. Mutações ocorrem naturalmente nos ambientes

naturais, de forma que a biodiversidade de espécies no ambiente se apresenta como uma fonte

inesgotável com grande potencial para produção de subprodutos para indústria energética.

Page 118: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

118

Page 119: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

119

6. CONCLUSÃO

Apesar da vinhaça representar uma fonte de substrato mais desprovida de carboidratos,

outras substâncias orgânicas presentes na vinhaça foram sintetizadas no processo de

metabolismo do consórcio microbiano, indicando que houve consumo de ácido lático, uma vez

que o balanço global deste composto foi negativo. A estratégia de utilizar como inóculo o

resíduo da fermentação em batelada ocasionou mudanças no metabolismo microbiano

culminando com a assimilação de ácido lático e aumento da produção dos ácidos butírico e

acético e etanol.

A adição de vinhaça melhora significativamente a produção de ácido butírico em

comparação com meio de cultura sintético, o que a torna uma excelente fonte de nutrientes

para os microrganismos envolvidos na fermentação butírica.

Não foram encontradas diferenças significativas entre métodos de pré-tratamento e

enriquecimento de inóculo, AT e TT no que diz respeito a produção de ácido butírico e etanol.

No entanto, os produtos da fermentação no consórcio AT apresentaram menor coeficiente de

variação, caracterizando este consórcio como mais estável.

A caracterização microbiológica por meio da análise filogenética, pirosequenciamento,

forneceu informações importantes, revelando a ocorrência em maior abundância de bactérias

do gênero Clostridium, principalmente no consórcio AU e Lactobacillus mais abundante nos

consórcios TT e AT. Foi identificada uma espécie conhecida pela produção de butanol, o C.

pasteurianum. No entanto, não foi detectado, pelo método CLAE utilizado, o solvente n-

butanol.

Apesar da ocorrência de Lactobacillus, bactérias formadoras de ácido lático, como

uma das mais abundantes nos consórcios, houve consumo ou reassimilação de ácido lático no

processo metabólico, principalmente nas ultimas bateladas. Acredita-se que a elevada

concentração de ácido lático na composição vinhaça tenha provocado a inversão no

metabolismo.

Em escala maior, operando em reator de 1,5 L de volume reacional, o processo de

fermentação de vinhaça bruta e melado de cana por consórcio microbiano AU mostrou

Page 120: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

120

potencial para produção de solventes como o butanol, uma vez que concentrações elevadas de

ácido butírico foram produzidas, sendo este o principal produto da fermentação.

Page 121: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

121

REFERÊNCIAS

ABD-ALLA, M. H.; ELSADEK EL-ENANY, A.-W. Production of acetone-butanol-ethanol from

spoilage date palm (Phoenix dactylifera L.) fruits by mixed culture of Clostridium acetobutylicum and

Bacillus subtilis. Biomass and Bioenergy, v. 42, p. 172–178, jul. 2012.

ACHARYA, B. K.; MOHANA, S.; MADAMWAR, D. Anaerobic treatment of distillery spent wash -

A study on upflow anaerobic fixed film bioreactor. Bioresource Technology, v. 99, n. 11, p. 4621–

4626, 2008.

AI, B. et al. Butyric acid fermentation of sodium hydroxide pretreated rice straw with undefined mixed

culture. Journal of microbiology and biotechnology, v. 24, n. 5, p. 629–38, maio 2014.

ANDRADE, C.; VASCONCELOS, I. Continuous cultures of Clostridium acetobutylicum : culture

stability and low-grade glycerol utilisation. Biotechnology Letters, v. 25, p. 121–125, 2003.

ANDREESEN, J. R.; BAHL, H.; GOTTSCHALK, G. Introduction to the Physiology and

Biochemistry of the Genus Clostridium. In: MINTON, N. P.; CLARKE, D. J. (Eds.). . Clostridia:

Biotechnology Handbooks. New York: Plenum Press, 1989. v. 3p. 27–62.

APHA. Standard methods for the examination of water and wastewater. 21. ed. Washington, DC,

USA: American Public Health Association/American Water Works Association / Water Environment

Federation, 2005.

ASTM INTERNATIONAL. Standard Specification for Butanol for Blending with Gasoline for

Use as Automotive Spark-Ignition Engine FuelUnited StatesD7862 − 13, , 2013.

BAEYENS, J. et al. Challenges and opportunities in improving the production of bio-ethanol.

Progress in Energy and Combustion Science, v. 47, p. 60–88, abr. 2015.

BAEZ-SMITH, C. Anaerobic Digestion of Vinasse for the Production Of Methane in the Sugar

Cane DistillerySPRI Conference on Sugar Processing. Anais...Águas de São Pedro: Sugar Processing

Research Institute, 2006Disponível em: <http://www.spriinc.org/buton7r06.html>

BAGHCHEHSARAEE, B. Batch and continuous biohydrogen production using mixed microbial

culture. Canada: The University of Western Ontario (Canada), 2009.

BANKAR, S. B. et al. Biobutanol: the outlook of an academic and industrialist. RSC Advances, v. 3,

n. 47, p. 24734, 2013.

BEGOT, C. et al. Methods Recommendations for calculating growth parameters by optical density

measurements. Journal of Microbiological Methods, v. 25, p. 225–232, 1996.

BORIES, A.; RAYNAL, J.; BAZILE, F. ANAEROBIC-DIGESTION OF HIGH-STRENGTH

DISTILLERY WASTE-WATER (CANE MOLASSES STILLAGE) IN A FIXED-FILM REACTOR.

Biological Wastes, v. 23, n. 4, p. 251–267, jan. 1988.

Page 122: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

122

BOWLES, L. K.; ELLEFSON, W. L. Effects of butanol on Clostridium acetobutylicum. Appl

Environ Microbiol, v. 50, n. 5, p. 1165–1170, 1985.

BRYANT, D. L.; BLASCHEK, H. P. Buffering as a means for increasing growth and butanol

production by Clostridium acetobutylicum. Journal of Industrial Microbiology, v. 3, p. 49–55, 1988.

CAI, J. et al. Fermentative hydrogen production by a new mesophilic bacterium Clostridium sp. 6A-5

isolated from the sludge of a sugar mill. Renewable Energy, v. 59, n. 0, p. 202–209, 2013.

CANGANELLA, F.; WIEGEL, J. Continuous cultivation of Clostridium thermobutyricum in a rotary

fermentor system. Journal of Industrial Microbiology and Biotechnology, v. 24, n. 1, p. 7–13,

2000.

CETESB. Vinhaça – Critérios e procedimentos para aplicação no solo agrícolaSão Paulo,

Companhia Ambiental do Estado de São PauloP4.231, , 2006.

CGEE E BNDES. Bioetanol de cana-de-açúcar. 1. ed. Rio de Janeiro: BNDES, 2008.

CHAN, W. N.; HOLTZAPPLE, M. T. Conversion of municipal solid wastes to carboxylic acids by

thermophilic fermentation. Applied biochemistry and biotechnology, v. 111, n. 2, p. 93–112, 2003.

CHANG, F. Y.; LIN, C. Y. Biohydrogen production using an up-flow anaerobic sludge blanket

reactor. International Journal of Hydrogen Energy, v. 29, n. 1, p. 33–39, 2004.

CHEN, B. Y. et al. Deciphering butanol inhibition to Clostridial species in acclimatized sludge for

improving biobutanol production. Biochemical Engineering Journal, v. 69, p. 100–105, 2012.

CHEN, S.; DONG, X. Acetanaerobacterium elongatum gen. nov., sp. nov., from paper mill waste

water. International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, v. 54, n. 6, p. 2257–

2262, 2004.

CHEN, Y. et al. Production of butanol from glucose and xylose with immobilized cells of Clostridium

acetobutylicum. Biotechnology and Bioprocess Engineering, v. 18, n. 2, p. 234–241, 2013.

CHENG, C.-L. et al. Biobutanol production from agricultural waste by an acclimated mixed bacterial

microflora. Applied Energy, v. 100, p. 3–9, dez. 2012.

CHIDANKUMAR, C. S.; CHANDRAJU, S.; NAGENDRASWAMY, R. Impact of distillery

spentwash irrigation on the yields of top vegetables (Creepers). Water, Air, and Soil Pollution, v.

113, p. 133–140, 1999.

CHU, C.-Y.; TUNG, L.; LIN, C.-Y. Effect of substrate concentration and pH on biohydrogen

production kinetics from food industry wastewater by mixed culture. International Journal of

Hydrogen Energy, v. 38, n. 35, p. 15849–15855, nov. 2013.

CHUI, Q. S. H.; ZUCCHINI, R. R.; LICHTIG, J. Qualidade de medições em química analítica. Estudo

de caso: Determinação de cádmio por espectrofotometria de absorção atômica com chama. Quimica

Nova, v. 24, n. 3, p. 374–380, 2001.

Page 123: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

123

CLARK, I. C.; ZHANG, R. H. H.; UPADHYAYA, S. K. The effect of low pressure and mixing on

biological hydrogen production via anaerobic fermentation. International Journal of Hydrogen

Energy, v. 37, n. 15, p. 11504–11513, 2012.

COSTA, F. J. C. B. et al. Utilization of Vinasse Effluents from an Anaerobic Reactor. Water Science

& Technology, v. 18, n. 12, p. 135–141, 1986.

CRESPO, C. F. et al. Ethanol production by continuous fermentation of D-(+)-cellobiose, D-(+)-

xylose and sugarcane bagasse hydrolysate using the thermoanaerobe Caloramator boliviensis.

Bioresource Technology, v. 103, n. 1, p. 186–191, 2012.

DA CUNHA, M. V.; FOSTER, M. A. Sugar-glycerol cofermentations in lactobacilli: The fate of

lactate. Journal of Bacteriology, v. 174, n. 3, p. 1013–1019, 1992.

DABROCK, B.; BAHL, H.; GOTTSCHALK, G. Parameters Affecting Solvent Production by

Clostridium pasteurianum. Appl Environ Microbiol, v. 58, n. 4, p. 1233–1239, 1992.

DE BAZÚA, C. D.; CABRERO, M. A.; POGGI, H. M. Vinasses biological treatment by anaerobic

and aerobic processes: Laboratory and pilot-plant tests. Bioresource Technology, v. 35, n. 1, p. 87–

93, 1991.

DO, P. M. Metabolic engineering of microbial biocatalysts for fermentative production of next

generation biofuels. United States -- Florida: University of Florida, 2009.

DÖLL, M. M. R.; FORESTI, E. Effect of the sodium bicarbonate in the treatment of vinasse in

AnSBBR Efeito do bicarbonato de sódio no tratamento de vinhaça em AnSBBR operado a 55 e 35 °

C. Eng. Sanit. Ambient, v. 15, n. 3, p. 275–282, 2010.

DOORES, S. The genus Sporolactobacillus, in Lactic Acid Bacteria: Biodiversity and Taxonomy. In:

HOLZAPFEL, W. H.; WOOD, B. J. B. (Eds.). . Phisiologically related genera. Chichester, UK: John

Wiley & Sons Ltda, 2014. p. 543–553.

DUARTE, I. C. S. et al. Development of a Method by HPLC to Determine LAS and its Application in

Anaerobic Reactors. Journal of Brazilian Chemistry Society, v. 17, n. 7, p. 1360–1367, 2006.

DÜRRE, P. Formation of Solvents in Clostridia. In: Handbook on Clostridia. [s.l.] CRC Press, 2005.

p. 671–693.

DÜRRE, P. The Genus Clostridium. In: GOLDMAN, E.; GREEN, L. H. . (Eds.). . Practical

Handbook of Microbiology. Second Edi ed.[s.l.] CRC Press, 2008a. p. 339–353.

DÜRRE, P. Fermentative butanol production: bulk chemical and biofuel. Annals of the New York

Academy of Sciences, v. 1125, p. 353–62, mar. 2008b.

DUSSÉAUX, S. et al. Metabolic engineering of Clostridium acetobutylicum ATCC 824 for the high-

yield production of a biofuel composed of an isopropanol/butanol/ethanol mixture. Metabolic

Engineering, v. 18, n. 0, p. 1–8, 2013.

Page 124: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

124

DWIDAR, M. et al. Co-culturing a novel Bacillus strain with Clostridium tyrobutyricum ATCC 25755

to produce butyric acid from sucrose. Biotechnology for biofuels, v. 6, n. 1, p. 35, 2013.

ELSHARNOUBY, O. et al. A critical literature review on biohydrogen production by pure cultures.

International Journal of Hydrogen Energy, v. 38, n. 12, p. 4945–4966, abr. 2013.

ENSINAS, A. V et al. Reduction of irreversibility generation in sugar and ethanol production from

sugarcane. Energy, v. 34, n. 5, p. 680–688, 2009.

ESPAÑA-GAMBOA, E. et al. Vinasses: characterization and treatments. Waste Management &

Research, v. 29, n. 12, p. 1235–1250, dez. 2011.

ETTOUMI, B. et al. Diversity and phylogeny of culturable spore-forming Bacilli isolated from marine

sediments. Journal of Basic Microbiology, v. 49, n. SUPPL. 1, p. 13–23, 2009.

EZEJI, T.; BLASCHEK, H. P. Fermentation of dried distillers’ grains and solubles (DDGS)

hydrolysates to solvents and value-added products by solventogenic clostridia. Bioresource

Technology, v. 99, n. 12, p. 5232–42, ago. 2008.

EZEJI, T. C.; QURESHI, N.; BLASCHEK, H. P. Production of acetone , butanol and ethanol by

Clostridium beijerinckii BA101 and in situ recovery by gas stripping. World Journal of

Microbiology & Biotechnology, v. 19, p. 595–603, 2003.

EZEJI, T. C.; QURESHI, N.; BLASCHEK, H. P. Industrially Relevant Fermentations. In: Handbook

on Clostridia. [s.l.] CRC Press, 2005. p. 797–812.

EZEJI, T. C.; QURESHI, N.; BLASCHEK, H. P. Microbial production of a biofuel (acetone-butanol-

ethanol) in a continuous bioreactor: impact of bleed and simultaneous product removal. Bioprocess

and Biosystems Engineering, v. 36, n. 1, p. 109–116, 2013.

EZEJI, T.; QURESHI, N.; BLASCHEK, H. P. Butanol production from agricultural residues: Impact

of degradation products on Clostridium beijerinckii growth and butanol fermentation. Biotechnology

and Bioengineering, v. 97, n. 6, p. 1460–1469, 2007.

FREIRE, W.; CORTEZ, L. A. B. Vinhaça de cana-de-açúcar. Guaíba: Agropecuária, 2000.

FUESS, L. T.; GARCIA, M. L. Implications of stillage land disposal: A critical review on the impacts

of fertigation. Journal of environmental management, v. 145C, p. 210–229, 21 jul. 2014.

GARCÍA, V. et al. Challenges in biobutanol production: How to improve the efficiency? Renewable

and Sustainable Energy Reviews, v. 15, n. 2, p. 964–980, fev. 2011.

GENTALEN, E.; CHEE, M. A novel method for determining linkage between DNA sequences:

Hybridization to paired probe arrays. Nucleic Acids Research, v. 27, n. 6, p. 1485–1491, 1999.

GEORGE, H. A; CHEN, J. S. Acidic conditions are not obligatory for onset of butanol formation by

Clostridium beijerinckii (Synonym, C. butylicum). Applied and Environmental Microbiology, v. 46,

n. 2, p. 321–7, ago. 1983.

Page 125: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

125

GOPAL, A. R.; KAMMEN, D. M. Molasses for ethanol: the economic and environmental impacts of

a new pathway for the lifecycle greenhouse gas analysis of sugarcane ethanol. Environmental

Research Letters, v. 4, p. 1–5, 2009.

GOUD, R. K.; MOHAN, S. V. Acidic and alkaline shock pretreatment to enrich acidogenic

biohydrogen producing mixed culture: long term synergetic evaluation of microbial inventory,

dehydrogenase activity and bio-electro kinetics. Rsc Advances, v. 2, n. 15, p. 6336–6353, 2012.

GUO, X. M. et al. Hydrogen production from agricultural waste by dark fermentation: A review.

International Journal of Hydrogen Energy, v. 35, n. 19, p. 10660–10673, out. 2010.

HALLENBECK, P. C.; GHOSH, D. Advances in fermentative biohydrogen production: the way

forward? Trends en Biotechnology, v. 27, n. 5, p. 287–297, 2009.

HAN, S. K. et al. Pilot-scale two-stage process: a combination of acidogenic hydrogenesis and

methanogenesis. Water Science and Technology, v. 52, n. 1-2, p. 131–138, 2005.

HARADA, H. et al. Anaerobic treatment of a recalcitrant distillery wastewater by a thermophilic

UASB reactor. Bioresource Technology, v. 55, n. 3, p. 215–221, mar. 1996.

HAWKES, F. R. et al. Sustainable fermentative hydrogen production : challenges for process

optimisation. International Journal of Hydrogen Energy, v. 27, p. 1339–1347, 2002.

HE, G. et al. Batch and fed-batch production of butyric acid by clostridium butyricum ZJUCB.

Journal of Zhejiang University. Science. B, v. 6, n. 11, p. 1076–1080, 2005.

HEAD, I. M.; SAUNDERS, J. R.; PICKUP, R. W. Microbial Evolution, Diversity, and Ecology: A

Decade of Ribosomal RNA Analysis of Uncultivated Microorganisms. Microbial Ecology, v. 35, p.

1–21, 1998.

HEYNDRICKX, M. et al. Virgibacillus: a new genus to accommodate Bacillus pantothenticus (Proom

and Knight 1950). Emended description of Virgibacillus pantothenticus. International Journal of

Systematic Bacteriology, v. 48, n. 1, p. 99–106, 1998.

HOFSTAD, T. et al. Dysgonomonas gen. nov. to accommodate Dysgonomonas gadei sp. nov., an

organism isolated from a human gall bladder, and Dysgonomonas capnocytophagoides (formerly CDC

group DF-3). International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, v. 50, n. 6, p.

2189–2195, 2000.

HOLDEMAN, L. V.; MOORE, W. E. C. New Genus, Coprococcus, Twelve New Species, and

Emended Descriptions of Four Previously Described Species of Bacteria from Human Feces.

International Journal of Systematic Bacteriology, v. 24, n. 2, p. 260–277, 1974.

HOLT, R. A.; STEPHENS, G. M.; MORRIS, J. G. Production of Solvents by Clostridium

acetobutylicum Cultures Maintained at Neutral pH. Appl Environ Microbiol, v. 48, n. 6, p. 1166–

1170, 1984.

HOLTZAPPLE, M. T. et al. Biomass Conversion to Mixed Alcohol Fuels Using the MixAlco Process.

Applied Biochemistry and Biotechnology, v. 77-79, p. 609–631, 1999.

Page 126: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

126

HOU, X. et al. Engineering Clostridium acetobutylicum for alcohol production. Journal of

Biotechnology, v. 166, n. 1–2, p. 25–33, 2013.

HUSEMANN, M. H.; SAN, K.-Y. Levels of key enzymes and physiological factors involved in

product formation in batch and continuous cultures of Clostridium acetobutylicum ATCC 824.

United States -- Texas: Rice University, 1989.

JIANG, L. et al. Production of butyric acid from glucose and xylose with immobilized cells of

clostridium tyrobutyricum in a fibrous-bed bioreactor. Applied Biochemistry and Biotechnology, v.

160, n. 2, p. 350–359, 2010.

JIANG, L. et al. Comparison of metabolic pathway for hydrogen production in wild-type and mutant

Clostridium tyrobutyricum strain based on metabolic flux analysis. International Journal of

Hydrogen Energy, v. 38, n. 5, p. 2176–2184, 2013.

JO, J. H. et al. Biological hydrogen production by immobilized cells of Clostridium tyrobutyricum

JM1 isolated from a food waste treatment process. Bioresource Technology, v. 99, n. 14, p. 6666–

6672, 2008.

JO, J. H. et al. Effect of initial glucose concentrations on carbon and energy balances in hydrogen-

producing Clostridium tyrobutyricum JM1. Journal of Microbiology and Biotechnology, v. 19, n. 3,

p. 291–298, 2009.

JONES, D. T. et al. Solvent Production and Morphological Changes in Clostridium acetobutylicum.

Applied and Environmental Microbiology, v. 43, n. 6, p. 1434–1439, 1982.

JONES, R. P.; GREENFIELD, P. F. Effect of carbon dioxide on yeast growth and fermentation.

Enzyme Microb. Technol., v. 4, n. 7, p. 210–223, 1982.

JUNG, G. Y. et al. Isolation and characterization of rhodopseudomonas palustris P4 which utilizes CO

with the production of H2. Biotechnology Letters, v. 21, n. 6, p. 525–529, 1999.

KANNAN, A.; UPRETI, R. K. Influence of distillery effluent on germination and growth of mung

bean (Vigna radiata) seeds. Journal of Hazardous Materials, v. 153, n. 1–2, p. 609–615, 2008.

KAO, W.-C. et al. Enhancing butanol production with Clostridium pasteurianum CH4 using sequential

glucose-glycerol addition and simultaneous dual-substrate cultivation strategies. Bioresource

technology, v. 135, p. 324–30, maio 2013.

KLINDWORTH, A. et al. Evaluation of general 16S ribosomal RNA gene PCR primers for classical

and next-generation sequencing-based diversity studies. Nucleic Acids Research, v. 41, n. 1, p. 1–11,

2013.

KÖNIG, H. Methanogens. [s.l: s.n.].

KUMAR, M.; GAYEN, K. Developments in biobutanol production: New insights. Applied Energy,

v. 88, n. 6, p. 1999–2012, jun. 2011.

Page 127: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

127

LAMED, R. J.; LOBOS, J. H.; SU, T. M. Effects of Stirring and Hydrogen on Fermentation Products

of Clostridium thermocellum. Appl Environ Microbiol, v. 54, n. 5, p. 1216–1221, 1988.

LAZARO, C. Z. Influência da concentração de substrato e da temperatura na produção de

hidrogênio a partir de vinhaça de cana-de-açúcar. [s.l.] Universidade de São Paulo, 2012.

LEE, M. J.; SONG, J. H.; HWANG, S. J. Effects of acid pre-treatment on bio-hydrogen production

and microbial communities during dark fermentation. Bioresource Technology, v. 100, n. 3, p. 1491–

1493, 2009.

LEE, S. Y. et al. Fermentative butanol production by clostridia. Biotechnology and Bioengineering,

v. 101, n. 2, p. 209–228, 2008.

LEHMANN, D.; LÜTKE-EVERSLOH, T. Switching Clostridium acetobutylicum to an ethanol

producer by disruption of the butyrate/butanol fermentative pathway. Metabolic Engineering, v. 13,

n. 5, p. 464–473, 2011.

LEVIN, D. B. et al. Fermentative Biofuels. In: Carbon-Neutral Fuels and Energy Carriers. [s.l.]

CRC Press, 2011. p. 603–635.

LEVY, P. F. et al. Biorefining of biomass to liquid fuels and organic chemicals. Enzyme and

Microbial Technology, v. 3, n. 3, p. 207–215, 1981.

LIU, K. et al. Continuous syngas fermentation for the production of ethanol, n-propanol and n-butanol.

Bioresource technology, v. 151, p. 69–77, jan. 2014.

LIU, S.; QURESHI, N. How microbes tolerate ethanol and butanol. New biotechnology, v. 26, n. 3-4,

p. 117–21, 31 out. 2009.

LIU, X.; YANG, S.-T. Production of butyric acid and hydrogen by metabolically engineered

mutants of Clostridium tyrobutyricum. United States -- Ohio: The Ohio State University, 2005.

LIU, X.; ZHU, Y.; YANG, S.-T. Butyric acid and hydrogen production by Clostridium tyrobutyricum

ATCC 25755 and mutants. Enzyme and Microbial Technology, v. 38, n. 3-4, p. 521–528, fev. 2006.

LONG, S.; JONES, D.; WOODS, D. Initiation of solvent production, clostridial stage and endospore

formation in Clostridium acetobutylicum P262. Applied Microbiology and Biotechnology, v. 20, n.

4, p. 256–261, out. 1984.

LÓPEZ, I.; BORZACCONI, L. Modelling of an EGSB treating sugarcane vinasse using first-order

variable kinetics. Water Science and Technology, v. 64, n. 10, p. 2080–2088, jan. 2011.

LÓPEZ-CONTRERAS, A. M. et al. Utilisation of saccharides in extruded domestic organic waste by

Clostridium acetobutylicum ATCC 824 for production of acetone , butanol and ethanol. Appl

Microbiol Biotechnol, v. 54, p. 162–167, 2000.

LU, C. et al. Fed-batch fermentation for n-butanol production from cassava bagasse hydrolysate in a

fibrous bed bioreactor with continuous gas stripping. Bioresource Technology, v. 104, p. 380–7, jan.

2012.

Page 128: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

128

LÜTKE-EVERSLOH, T.; BAHL, H. Metabolic engineering of Clostridium acetobutylicum: recent

advances to improve butanol production. Current Opinion in Biotechnology, v. 22, n. 5, p. 634–647,

2011.

MACHADO, C. Technical characteristics and current status of butanol production and use as

biofuelV Seminário Latinoamericano y del Caribe de Biocombustíveis. Anais...Santiago, Chile: 2010

MADDOX, I. S. et al. The cause of “acid-crash” and “acidogenic fermentations” during the batch

acetone-butanol-ethanol (ABE-) fermentation process. Journal of molecular microbiology and

biotechnology, v. 2, n. 1, p. 95–100, jan. 2000.

MADIHAH, M. S. et al. Direct fermentation of gelatinized sago starch to acetone ± butanol ± ethanol

by Clostridium acetobutylicum. World Journal of Microbiology & Biotechnology, v. 17, p. 567–

576, 2001.

MALAVIYA, A.; JANG, Y.-S.; LEE, S. Y. Continuous butanol production with reduced byproducts

formation from glycerol by a hyper producing mutant of Clostridium pasteurianum. Applied

Microbiology and Biotechnology, v. 93, n. 4, p. 1485–94, fev. 2012.

MCINTYRE, M.; MCNEIL, B. Morphogenetic and biochemical effects of dissolved carbon dioxide

on ® lamentous fungi in submerged cultivation. Appl Microbiol Biotechnol, v. 50, p. 291–298, 1998.

MOAT, A. G.; FOSTER, J. W.; SPECTOR, M. P. Fermentation pathways. Microbial Physiology, p.

412–433, 2002.

MOE, W. M. et al. Pelosinus defluvii sp. nov., isolated from chlorinated solvent-contaminated

groundwater, emended description of the genus Pelosinus and transfer of Sporotalea propionica to

Pelosinus propionicus comb. nov. International Journal of Systematic and Evolutionary

Microbiology, v. 62, n. 6, p. 1369–1376, 2012.

MOHAMMADI, P. et al. Effects of different pretreatment methods on anaerobic mixed microflora for

hydrogen production and COD reduction from palm oil mill effluent. Journal of Cleaner

Production, v. 19, n. 14, p. 1654–1658, 2011.

MOHAN, S. V et al. Enhancing biohydrogen production from chemical wastewater treatment in

anaerobic sequencing batch biofilm reactor (AnSBBR) by bioaugmenting with selectively enriched

kanamycin resistant anaerobic mixed consortia. International Journal of Hydrogen Energy, v. 32,

n. 15, p. 3284–3292, 2007.

MONOT, F. et al. Acetone and Butanol Production by Clostridium acetobutylicum in a Synthetic

Medium. Applied and Environmental Microbiology, v. 44, n. 6, p. 1318–1324, 1982.

MONOT, F.; ENGASSER, J.-M.; PETITDEMANGE, H. Influence of pH and undissociated butyric

acid on the production of acetone and butanol in batch cultures of Clostridium acetobutylicum.

Applied Microbiology and Biotechnology, v. 19, n. 6, p. 422–426, 1984.

MOREIRA, A. R.; ULMER, D. C.; LINDEN, J. C. Butanol toxicity in the butylic fermentation.

Biotechnol. Bioeng. Symp.; (United States), n. 11, p. 567–579, 1981.

Page 129: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

129

NEVES, M. F.; TROMBIN, V. G.; CONSOLI, M. O mapa sucroenergético do Brasil (L. P. de

Comunicação, Ed.)Etanol e bioeletricidade: a cana-de-açúcar no futuro da matriz energéticaSão

PauloUNICA, , 2010. Disponível em:

<www.unica.com.br/download.php?idSecao=17&id=43684046?>

NI, Y.; WANG, Y.; SUN, Z. Butanol production from cane molasses by Clostridium

saccharobutylicum DSM 13864: batch and semicontinuous fermentation. Applied biochemistry and

biotechnology, v. 166, n. 8, p. 1896–907, abr. 2012.

OLSEN, K. N.; BROCKMANN, E.; MOLIN, S. Quantification of Leuconostoc populations in mixed

dairy starter cultures using fluorescence in situ hybridization. Journal of Applied Microbiology, v.

103, n. 4, p. 855–863, 2007.

OUEPHANIT, C. et al. Butanol and ethanol production from tapioca starch wastewater by. Water

Science & Technology, v. 64, n. 9, p. 1774–1780, 2011.

PECINA, R. et al. High-performance liquid chromatographic elution behaviour of alcohols, aldehydes,

ketones, organic acids and carbohydrates on a strong cation-exchange stationary phase. Journal of

Chromatography A, v. 287, p. 245–258, jan. 1984.

PENTEADO, E. D.; ADORNO, M. A. T.; ZAIAT, M. Simple and accurated method for

determination of fatty acids, alchools and carbohydrates by HPLC with UV/DAD and RID

detectors38th International Symposium on High. PerformanceLiquid Phase Separations and Related

Techniques. Anais...California, USA: 2012

PRYDE, S. E. et al. The microbiology of butyrate formation in the human colon. FEMS

Microbiology Letters, v. 217, n. 2, p. 133–139, 2002.

QURESHI, N. et al. Production of butanol (a biofuel) from agricultural residues: Part I - Use of barley

straw hydrolysate. Biomass & Bioenergy, v. 34, n. 4, p. 559–565, 2010a.

QURESHI, N. et al. Production of butanol (a biofuel) from agricultural residues: Part II – Use of corn

stover and switchgrass hydrolysates☆. Biomass and Bioenergy, v. 34, n. 4, p. 566–571, abr. 2010b.

QURESHI, N.; BLASCHEK, H. . P. Recovery of butanol from fermentation broth by gas stripping.

Renewable Energy, v. 22, n. 4, p. 557–564, abr. 2001.

QURESHI, N.; BLASCHEK, H. P. Butanol Production from Agricultural Biomass. In: KALIDAS

SHETTY , GOPINADHAN PALIYATH , ANTHONY POMETTO, AND R. E. . L. (Ed.). . Food

Biotechnology, Second Edition. [s.l.] CRC Press, 2005.

QURESHI, N.; LOLAS, A.; BLASCHEK, H. P. Soy molasses as fermentation substrate for

production of butanol using Clostridium beijerinckii BA101. Journal of industrial Microbiology &

Biotechnology, v. 26, p. 290–295, 2001.

QURESHI, N.; SAHA, B. C.; COTTA, M. A. Butanol production from wheat straw hydrolysate using

Clostridium beijerinckii. Bioprocess and Biosystems Engineering, v. 30, n. 6, p. 419–27, nov. 2007.

Page 130: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

130

RAY, S. et al. Impact of Initial pH and Linoleic Acid „ C18 : 2 … on Hydrogen Production by a

Mesophilic Anaerobic Mixed Culture. JOURNAL OF ENVIRONMENTAL ENGINEERING, n.

February, p. 110–117, 2008.

RIBANI, M. et al. Validação em métodos cromatográficos e eletroforéticos. Química Nova, v. 27, n.

5, p. 771–780, out. 2004.

RICHTER, H. et al. Conversion of N-butyrate to N-butanol with continuous

fermentationProceedings of the Institute of Biological Engineering Meeting. Anais...Cambridge,

Massachusetts: 2010

RODRÍGUEZ, J. et al. Modeling product formation in anaerobic mixed culture fermentations.

Biotechnology and bioengineering, v. 93, n. 3, p. 592–606, 20 fev. 2006.

RONAGHI, M. et al. Real-time DNA sequencing using detection of pyrophosphate release.

Analytical biochemistry, v. 242, n. 1, p. 84–9, 1 nov. 1996.

RONAGHI, M. Pyrosequencing Sheds Light on DNA Sequencing Pyrosequencing Sheds Light on

DNA Sequencing. n. 650, p. 3–11, 2001.

SABRA, W. et al. Improved n-butanol production by a non-acetone producing Clostridium

pasteurianum DSMZ 525 in mixed substrate fermentation. Applied microbiology and biotechnology,

v. 98, n. 9, p. 4267–76, maio 2014.

SÁNCHEZ RIERA, F.; CÓRDOBA, P.; SIÑERIZ, F. Use of the UASB reactor for the anaerobic

treatment of stillage from sugar cane molasses. Biotechnology and Bioengineering, v. 27, n. 12, p.

1710–1716, 1985.

SEARMSIRIMONGKOL, P. et al. Hydrogen production from alcohol distillery wastewater containing

high potassium and sulfate using an anaerobic sequencing batch reactor. International Journal of

Hydrogen Energy, v. 36, n. 20, p. 12810–12821, out. 2011.

SILVA, M. A. S. DA; GRIEBELER, N. P.; BORGES, L. C. Uso de vinhaça e impactos nas

propriedades do solo e lençol freático Use of stillage and its impact on soil properties and

groundwater. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 11, n. 1, p. 108–114,

2007.

SINGLA, A. et al. Enrichment and optimization of anaerobic bacterial mixed culture for conversion of

syngas to ethanol. Bioresource technology, v. 172, p. 41–9, nov. 2014.

STEINBUSCH, K. J. J.; HAMELERS, H. V. M.; BUISMAN, C. J. N. Alcohol production through

volatile fatty acids reduction with hydrogen as electron donor by mixed cultures. Water research, v.

42, n. 15, p. 4059–66, set. 2008.

SYDNEY, E. B. Valorization of vinasse as broth for biological hydrogen and volatile fatty acids

production by means of anaerobic bacteria. [s.l.] Universidade Federal do Paraná, 2013.

Page 131: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

131

SYDNEY, E. B. et al. Economic process to produce biohydrogen and volatile fatty acids by a mixed

culture using vinasse from sugarcane ethanol industry as nutrient source. Bioresource technology, v.

159, p. 380–6, maio 2014.

SYNTEC BIOFUEL. Butanol. Disponível em: <http://www.syntecbiofuel.com/butanol.php>.

TAKAI, K. et al. an extremely alkaliphilic bacterium isolated from a deep South African gold mine. p.

1245–1256, 2001.

TASHIRO, Y. et al. High butanol production by Clostridium saccharoperbutylacetonicum N1-4 in

fed-batch culture with pH-Stat continuous butyric acid and glucose feeding method. Journal of

bioscience and bioengineering, v. 98, n. 4, p. 263–8, jan. 2004.

THANAKOSES, P.; BLACK, A. S.; HOLTZAPPLE, M. T. Fermentation of corn stover to carboxylic

acids. Biotechnology and Bioengineering, v. 83, n. 2, p. 191–200, 2003.

THANG, V. H.; KANDA, K.; KOBAYASHI, G. Production of acetone-butanol-ethanol (ABE) in

direct fermentation of cassava by Clostridium saccharoperbutylacetonicum N1-4. Applied

Biochemistry and Biotechnology, v. 161, n. 1-8, p. 157–70, maio 2010.

TRAN, H. T. M. et al. Potential use of Bacillus subtilis in a co-culture with Clostridium butylicum for

acetone–butanol–ethanol production from cassava starch. Biochemical Engineering Journal, v. 48,

n. 2, p. 260–267, jan. 2010.

UNICA. Produção de etanol total, 2012/2013. Disponível em:

<http://www.unicadata.com.br/historico-de-producao-e-moagem.php?>.

VAISHAMPAYAN, P. et al. Description of Rummeliibacillus stabekisii gen. nov., sp. nov. and

reclassification of Bacillus pycnus Nakamura et al. 2002 as Rummeliibacillus pycnus comb. nov.

International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, v. 59, n. 5, p. 1094–1099,

2009.

VAN ANDEL, J. G. et al. Glucose fermentation by Clostridium butyricum grown under a self

generated gas atmosphere in chemostat culture. Appl Microbiol Biotechnol, v. 23, n. 1, p. 21–26,

1985.

WANG, Y.-Y. et al. Effects of various pretreatment methods of anaerobic mixed microflora on

biohydrogen production and the fermentation pathway of glucose. International Journal of

Hydrogen Energy, v. 36, n. 1, p. 390–396, jan. 2011.

WIEGEL, J.; KUK, S.-U.; KOHRING, G. W. Clostridium thermobutyricum sp. nov., a Moderate

Thermophile Isolated from a Cellulolytic Culture, That Produces Butyrate as the Major Product.

International Journal of Systematic Bacteriology, v. 39, n. 2, p. 199–204, 1989.

WIEGEL, J.; TANNER, R.; RAINEY, F. A. An Introduction to the Family Clostridiaceae. In:

DWORKIN, M. et al. (Eds.). . Prokaryotes. [s.l.] Springer US, 2006. p. 654–678.

WIENEN, W. J.; SHALLENBERGER, R. S. Influence of acid and temperature on the rate of

inversion of sucrose. Food Chemistry, v. 29, n. 1, p. 51–55, jan. 1988.

Page 132: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

132

WILKIE, A. C.; RIEDESEL, K. J.; OWENS, J. M. Stillage characterization and anaerobic treatment

of ethanol stillage from conventional and cellulosic feedstocks. Biomass & Bioenergy, v. 19, n. 2, p.

63–102, ago. 2000.

WONG, Y. M.; WU, T. Y.; JUAN, J. C. A review of sustainable hydrogen production using seed

sludge via dark fermentation. Renewable and Sustainable Energy Reviews, v. 34, p. 471–482, jun.

2014.

WOOD, R. How to validate analytical methods. TrAC Trends in Analytical Chemistry, v. 18, n. 9-

10, p. 624–632, set. 1999.

WU, D. et al. Efficient Separation of Butyric Acid by an Aqueous Two-phase System with Calcium

Chloride. Chinese Journal of Chemical Engineering, v. 18, n. 4, p. 533–537, ago. 2010.

XIAO, B.; LIU, J. Biological hydrogen production from sterilized sewage sludge by anaerobic self-

fermentation. Journal of hazardous materials, v. 168, n. 1, p. 163–7, 30 ago. 2009a.

XIAO, B. Y.; LIU, J. X. Biological hydrogen production from sterilized sewage sludge by anaerobic

self-fermentation. Journal of Hazardous Materials, v. 168, n. 1, p. 163–167, 2009b.

XING, D. et al. Ethanoligenens harbinense gen. nov., sp. nov., isolated from molasses wastewater.

International Journal of Systematic and Evolutionary Microbiology, v. 56, n. 4, p. 755–760, 2006.

YEOH, B. G. Two-phase anaerobic treatment of cane-molasses alcohol stillage. Water Science and

Technology, v. 36, n. 6-7, p. 441–448, 1997.

YERUSHALMI, L. Physiological aspects of the acetone-butanol fermentation. Canada: McGill

University (Canada), 1985.

YERUSHALMI, L.; VOLESKY, B.; SZCZESNY, T. Effect of increased hydrogen partial pressure on

the acetone-butanol fermentation by Clostridium acetobutylicum. Appl Microbiol Biotechnol, v. 22,

p. 103–107, 1985.

YOUSSEF, N. et al. Comparison of species richness estimates obtained using nearly complete

fragments and simulated pyrosequencing-generated fragments in 16S rRNA gene-based environmental

surveys. Applied and Environmental Microbiology, v. 75, n. 16, p. 5227–5236, 2009.

YU, H. Q.; FANG, H. H. P. Production of volatile fatty acids and alcohols from dairy wastewater

under thermophilic conditions. Transactions of the Asae, v. 44, n. 5, p. 1357–1361, 2001.

YU, M. R. et al. Metabolic engineering of Clostridium tyrobutyricum for n-butanol production.

Metabolic Engineering, v. 13, n. 4, p. 373–382, 2011.

ZIGOVÁ, J. et al. Butyric acid production by Clostridium butyricum with integrated extraction and

pertraction. Process Biochemistry, v. 34, n. 8, p. 835–843, out. 1999.

ZIGOVÁ, J.; STURDÍK, E. Advances in biotechnological production of butyric acid. Journal of

Industrial Microbiology & Biotechnology, v. 24, p. 153–160, 2000.

Page 133: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

133

ANEXO

Validação da Metodologia CLAE

O método foi validado pela determinação de sua linearidade, precisão e limites de

detecção e de quantificação de acordo com Duarte et al. (2006).

A linearidade dos sinais aferidos e das concentrações das substâncias analisadas foram

avaliadas por meio da regressão linear. A validação dos pressupostos do modelo linear foi

avaliada por meio da Análise de Variância ANOVA, com o teste de validade de regressão,

Tabela 10, e o teste de eficiência da regressão, Tabela 11, de cada um dos analitos avaliados.

Tabela 27- Parâmetros de validação do modelo de regressão linear da curva de calibração dos

analitos avaliados, para significância de 95%.

Analitos p valor F calculado F critico n

Ácido Cítrico 8,2E-17 6,1E+04 8,2E-17 10

Ácido Málico 1,8E-17 8,8E+04 1,8E-17 10

Ácido Succínico 3,3E-17 7,6E+04 3,3E-17 10

Ácido Lático 1,9E-17 8,7E+04 1,9E-17 10

Ácido Fórmico 3,1E-15 2,5E+04 3,1E-15 10

Ácido Acético 4,5E-19 2,2E+05 4,5E-19 10

Ácido Propiônico 3,5E-18 1,3E+05 3,5E-18 10

Ácido Iso-butírico 8,2E-18 1,1E+05 8,2E-18 10

Ácido Butírico 1,9E-17 8,7E+04 1,9E-17 10

Ácido Iso-valérico 2,8E-17 7,9E+04 2,8E-17 10

Ácido Valérico 3,6E-14 1,3E+04 3,6E-14 10

Ácido Capróico 6,8E-18 1,1E+05 6,8E-18 10

Sacarose 1,2E-06 2,2E+03 1,2E-06 6

Glicose 5,2E-17 6,8E+04 5,2E-17 10

Frutose 3,6E-17 7,5E+04 3,6E-17 10

Metanol 4,8E-16 3,9E+04 4,8E-16 10

Etanol 5,7E-16 3,7E+04 5,7E-16 10

n-Butanol 4,6E-12 4,0E+03 4,6E-12 10

Segundo Chui, Zucchini e Lichtig (2001), para verificar o teste de validade de uma

regressão linear, compara-se F calculado pela razão MQR/MQE com o valor de F crítico,

tabelado, no nível de confiança selecionado. Se F calculado ≥ F crítico, aceita-se, no nível de

confiança selecionado, que a inclinação da reta da regressão é diferente de zero. De acordo

com dados da Tabela 10, os valores de F calculado, para todos os analitos, são muito maiores

Page 134: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

134

que o valor de F crítico, indicando que a regressão é significativa. Aceitando a validade da

regressão, calculou-se a sua eficiência pelo índice de correlação quadrático, R2 (Tabela 11).

Tabela 28- Equações de regressão linear e teste de eficiência de correlação dos parâmetros da

curva de calibração dos analitos avaliados

Analitos Equação R2 R n

Cítrico f(x) = 13309x - 14278 0,99987 0,99993 10

Málico f(x) = 10622x - 16142 0,99991 0,99995 10

Succínico f(x) = 8908x - 12878 0,99990 0,99995 10

Lático f(x) = 6020x - 4065 0,99991 0,99995 10

Fórmico f(x) = 9513x + 29401 0,99967 0,99984 10

Acético f(x) = 7465x + 3096 0,99996 0,99998 10

Propiônico f(x) = 6784x - 7210 0,99994 0,99997 10

Iso-butírico f(x) = 8644x + 33619 0,99993 0,99996 10

Butírico f(x) = 6593x - 10645 0,99991 0,99995 10

Iso-valérico f(x) = 6793x - 15506 0,99990 0,99995 10

Valérico f(x) = 5996x + 98359 0,99940 0,99970 10

Capróico f(x) = 5427x + 22931 0,99993 0,99996 10

Sacarose f(x) = 1474x - 32135 0,99820 0,99910 6

Glicose f(x) = 1797x - 7684 0,99988 0,99994 10

Frutose f(x) = 3236x - 9679 0,99989 0,99995 10

Metanol f(x) = 1146x - 11641 0,99979 0,99990 10

Etanol f(x) = 1884x - 11421 0,99979 0,99989 10

n-Butanol f(x) = 1102x - 16524 0,99798 0,99899 10

As curvas de calibração possuem linearidade satisfatória na faixa de concentração

investigada, entre 50 e 800 mg L-1

para sacarose e entre 10 e 900 mg L-1

para os demais

analitos. De acordo com os valores de R2 obtidos pode-se afirmar que a correlação é fortíssima

(R2 > 0,99) (WOOD, 1999).

A precisão foi avaliada pelo coeficiente de variação (CV %) dos tempos de retenção de

cada padrão nas diferentes concentrações dos pontos da curva de calibração. O limite de

detecção (LD) representa a menor quantidade de substância que pode ser detectada pelo

método. O limite de quantificação (LQ) representa a menor quantidade de substância que pode

ser medida pelo método (RIBANI et al., 2004). Há três maneiras diferentes de calcular esses

critérios: método visual, método de relação sinal-ruído e o método baseado em parâmetros da

curva analítica. Neste trabalho utilizou-se os parâmetros da curva analítica. O resultado da

avaliação da precisão e as equações utilizadas são apresentadas na Tabela 12.

Page 135: GRACIETE MARY DOS SANTOStaurus.unicamp.br/bitstream/REPOSIP/304712/1/Santos_GracieteMary... · cana por consórcio microbiano AU mostrou potencial ... microrganismos e estudo dos

135

Tabela 29- Avaliação dos limites de detecção (LD) e limites de quantificação (LQ) e da

precisão do método CLAE para dos analitos avaliados.

Analitos LD LQ

Tempo de retenção

(min) Coeficiente

de variação

(%)

n

mg L-1

Média +- DP

Cítrico 5,24 15,71 9,274 0,004 0,04 10

Málico 4,34 13,03 11,008 0,002 0,02 10

Succínico 4,67 14,02 13,536 0,005 0,04 10

Lático 4,37 13,12 14,535 0,003 0,02 10

Fórmico 8,25 24,75 16,028 0,004 0,03 10

Acético 2,73 8,20 17,473 0,008 0,05 10

Propiônico 3,54 10,61 20,590 0,016 0,08 10

Iso-butírico 3,93 11,79 23,170 0,030 0,13 10

Butírico 4,37 13,11 25,269 0,041 0,16 10

Iso-valérico 4,59 13,77 29,049 0,062 0,21 10

Valérico 11,20 33,60 35,469 0,095 0,27 10

Capróico 3,84 11,51 53,313 0,272 0,51 10

Sacarose 14,17 42,50 8,950 0,002 0,03 6

Glicose 4,95 14,86 10,543 0,003 0,03 10

Frutose 4,73 14,19 11,382 0,002 0,02 10

Metanol 6,54 19,62 23,516 0,052 0,22 10

Etanol 6,68 20,03 25,540 0,034 0,13 10

n-Butanol 20,54 61,62 44,088 0,085 0,19 10

De acordo com Wood (1999), o limite do CV aceitável para a faixa de concentração

utilizada é de 2,8%. Nas condições empregadas o CV para a precisão do método variou de 0,02

a 0,51%. Os valores de CV obtidos foram semelhantes aos obtidos por Penteado, Adorno e

Zaiat (2012), que foram de 0,014 a 0,310 % para a precisão do método de determinação de

AOV e álcoois. Embora as condições experimentais, metodologia e equipamentos utilizados

tenham sido os mesmos que os utilizados pelos autores citados, os tempos de retenção dos

AOV obtidos neste trabalho foram inferiores em aproximadamente 1 minuto.

Os limites de detecção e de quantificação foram inferiores a 10 e 25 mg L-1,

respectivamente para a maioria dos AOV, com exceção do ácido valérico. Dos álcoois, o n-

butanol foi o que apresentou maior LQ, de forma que diluição de amostras pode limitar o uso

desta metodologia, uma vez que concentrações baixas deste analito não serão detectadas pelo

método.