GRAFISMO E DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA: A IMPORTÂNCIA DO...

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CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA GRAFISMO E DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA: A IMPORTÂNCIA DO ATO DE DESENHAR ESTUDANTE: RENATA SOUSA CERQUEIRA ORIENTADORA: EDLAMAR MARIA DE FÁTIMA CLAUSS BRASÍLIA 2013

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CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

GRAFISMO E DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA: A

IMPORTÂNCIA DO ATO DE DESENHAR

ESTUDANTE: RENATA SOUSA CERQUEIRA ORIENTADORA: EDLAMAR MARIA DE FÁTIMA CLAUSS

BRASÍLIA 2013

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RENATA SOUSA CERQUEIRA

CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

GRAFISMO E DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA: A

IMPORTÂNCIA DO ATO DE DESENHAR

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado como requisito parcial

do curso de Pedagogia, para

obtenção do título de Licenciado,

sob a orientação da Professora

M.Sc. Edlamar Maria de Fátima

Clauss.

BRASÍLIA 2013

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RESUMO O presente artigo aborda o tema: Grafismo e o desenvolvimento da criança: a importância do ato de desenhar tendo como objetivo mostrar a interrelação entre a construção do grafismo, o desenho infantil e o seu contexto com o desenvolvimento da criança. Não são simples atos ao acaso, as linhas traçadas pela manipulação do lápis traduzem o mundo-vida infantil. A pesquisa de caráter bibliográfico e a análise de produções gráficas infantis foi subsidiada pelos aportes teóricos de diversos autores, destacando entre eles Jean Piaget que apresenta a criança em seu desenvolvimento mental sem dissociar o orgânico e quanto a Viktor Lowenfeld, o realce dado a arte e autoexpressão intimamente unidas ao desenvolvimento mental e criador da criança. A análise das diversas produções gráficas de várias crianças torna manifesto o que as iguala e o que as diferencia nas etapas do seu desenvolvimento. Dessa forma, o desenho infantil ora pesquisado por vários teóricos, tanto da psicologia , como da arte ou da educação continua sendo alvo de discussões, entretanto, é um dos meios expressivos que nos leva a compreender a criança e a percepção do seu mundo e nos quais encontramos variações quanto a representação, que para muitos é algo sem sentido, entretanto, diante do olhar arguto de um professor revela a evolução do desenvolvimento infantil e que muitas vezes demonstra a necessidade de intervenção . Palavras-Chave: Grafismo. Desenho. Arte. Desenvolvimento infantil.

ABSTRACT The following article addresses the theme: "Graphism and child development: the importance of drawing, with the aim of showing the interrelation between the construction of the graphism, child drawing and its context with child development." The lines traced by pencil manipulation aren't mere coincidence and translate the child's world and life. The bibliographic research and child graphical production analysis is based on the theoretical approaches of many authors. Among them we can highlight Jean Piaget, who presents the child's mental development without dissociating the organic, and Viktor Lowenfeld, who highlights art and self-expression which are closely connected to mental and creative development of the child. The analysis of diverse graphic productions of many children points up what makes them similar and what differentiates them in the stages of their development. Therefore, child drawing, researched by many theorists, not only from psychology, but also from art and education, continues to be the target of many discussions. However, child drawing is one of the expressive means which leads us towards understanding the child and his/her world perception, and in which we find variations regarding representation, which might make no sense for many people, nevertheless, when analysed by the shrewd eyes of a teacher, unveils the child's developmental evolution, which many times shows itself in need of intervention. Keywords: Graphism. Drawing. Art. Child development.

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INTRODUÇÃO

Na extensão do verbo criar, parte do seu significado expressa “inventar”, “imaginar”,

“dar forma”, e evidencia as qualidades inerentes de um indivíduo, quando

queremos ressaltar sua capacidade criadora de idear uma imagem mental.

O presente estudo, caracterizado como pesquisa bibliográfica associada à produção

plástica da criança teve quanto ao objetivo geral analisar se as atividades gráficas

da criança na relação da construção do grafismo e do ato de desenhar – com

ênfase no cognitivo e o expressivo - cumpre seu papel na compreensão dos

estágios do desenvolvimento infantil, podendo ser revelador do grau de maturidade

infantil.

Os objetivos específicos trataram de identificar os períodos do grafismo infantil

comuns aos sujeitos pesquisados. Analisou a evolução do desenho da criança

revelando sua narrativa visual no processo gradativo de aprendizagem e

desenvolvimento quanto a representação do mundo que vivencia.

Quanto ao professor, é aludido sobre sua atitude pedagógica, considerando que o

desenvolvimento da criança é multifacetado e se processa por meio de estágios

qualitativamente diferentes e, observando - o processo, o movimento da criança de

gerar, inventar, criar e produzir a partir de sua motivação intrínseca e dos estímulos

externos que recebe, bem como deve ser reflexivo ao analisar o produto, o

resultado material do grafismo, desenho, e a pintura, se alcançou a forma coerente

de pensar, respeitando os limites do desenvolvimento, quando a criança empregou

toda sua capacidade na criação das formas.

Afinal, uma observação atenta, avalia e considera as fragilidades do baixo

desempenho infantil durante o processo de aprendizagem cujo propósito visa

ajudar, contribuir e incentivar a criança, e utilizando métodos adequados para

intervir, encorajando-a para que prossiga nos seus intentos durante o percurso

criador e ao mesmo tempo preparando-a para a inserção necessária no mundo da

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linguagem escrita, uma vez que grafismo, desenho e escrita não podem ser

separados, pois um precede ao outro.

Por intermédio dos pressupostos teóricos de Lowenfeld (1970), Widlöcher (1971),

Woodford (1983), Edwards (1984), Derdyk (1989), Cox (2001), Neide Pelaez (2002),

Méridieu (2006), Ialveberg (2006), Cheida Sans (2009), Piaget (2012), entre outros,

o estudo se apoiará na afirmação que cada vivência é sempre única, que nada

permanece totalmente igual e o sujeito não será o mesmo e, procurando responder

de maneira coerente a questão levantada de que o grafismo da criança e o desenho

certamente mantém uma relação com o desenvolvimento global infantil.

Independente da raça, sexo ou nacionalidade, a maioria dos indivíduos na infância

começa a se comunicar por meio do desenho, é um processo natural de

desenvolvimento. Para a criança o desenho é importante, é seu mundo, é seu meio

de comunicação, no qual expressa a percepção de tudo que a cerca, suas emoções,

tendo-se em conta, ainda, que o desenho é um sistema de representação gráfica de

extrema relevância na socialização infantil e um dos aspectos mais importantes

para o desenvolvimento integral do indivíduo constituindo-se num elemento

mediador de conhecimento e autoconhecimento.

A arte na educação infantil é imprescindível, absolutamente essencial e se

estabelece como uma necessidade no sentido de possibilitar as crianças

desenvolverem conjuntamente com o desenho a sua escrita, a partir dos níveis em

que se encontram e das suas vivências socioculturais, pois o desenho – a

representação gráfica – é fundamental para o crescimento cognitivo e psicológico.

A subjetividade de cada criança se constrói entre o indivíduo e seus ambientes de

atuação e, é necessário expressar essa subjetividade, e o desenho é o elemento

que define a percepção do indivíduo sobre os diferentes ambientes, sendo

importante educar os sentidos com o olhar, para que veja e perceba a beleza do

existente ao seu redor e não uma única visão do mundo na sala de aula, o qual

transmite apenas um conhecimento compartimentado.

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METODOLOGIA

Esta pesquisa de caráter exploratório e abordagem qualitativa, foi desenvolvida com

o propósito de investigar o grafismo na infância, para demonstrar a sua relação com

o desenho e o desenvolvimento infantil, e de acordo com Gil (2008) proporcionando

uma visão geral de determinado fato, do tipo aproximativo, e com base nessa

afirmação, consideramos que o grafismo infantil, temática da pesquisa, ainda não

teve seu assunto esgotado, e a cada dia é objeto de novos estudos nos meios

psicopedagógicos.

Os instrumentos utilizados para a coleta de dados, como recurso para atingir os

resultados foram as produções do grafismo de desenhos infantis de uma amostra

constituída por onze alunos: uma criança de 2 anos de uma creche escolar - 1ª

Fase da Educação Infantil e dez alunos na faixa etária de 4, 5, 6, e 8 anos de duas

Instituições públicas de ensino do Distrito Federal (Pré escola, Bloco Inicial de

Alfabetização e Anos Iniciais do Ensino Fundamental – 1º, 2º e 3º anos ), além de

levantamento de referências bibliográficas, eletrônicas e documentais

RESULTADOS TEÓRICOS

IDENTIDADE DA CRIANÇA

A identidade do ser humano é forjada a partir do processo de identificação, isto é,

desde criança, por meio do sonho, das brincadeiras, dos gestos, projeções nos

rabiscos ou desenhos, a criança percebe-se primeiro como semelhante ao outro, e,

depois, como diferenciada.

Considerando a respeito da constituição da identidade infantil, Grubtis (1996), indica

que a formação da identidade não é um processo contínuo e linear. Pelo contrário,

essa formação é permeada de crises, que possibilitam saltos de desenvolvimento a

partir da reorganização que é necessário fazer após cada crise.

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Nesse processo, algumas possibilidades de desenvolvimento são criadas, outras se

perdem. Podemos extrair dessa informação que a criança ao iniciar a fase do

registro gráfico das ideias por meio das garatujas, é essencial que o trabalho seja

valorizado, pois a experimentação do movimento irá incidir na ampliação do

conhecimento que a criança está desenvolvendo de si própria e do mundo que a

cerca.

O SIGNIFICADO DO GRAFISMO

Em relação ao desenho infantil, muitos questionam seu significado, sua forma, sua

beleza, conforme Derdyk (1989), geralmente essas indagações são levantadas

quando se quer estabelecer parâmetros da arte adulta para interpretar o desenho

da criança , sendo uma maneira equivocada e desconfortável. Woodford (1983) em

A Arte de ver a arte - comenta que na obra – Ritmo de outono do pintor Jackson

Pollock, o quadro não mostra qualquer parte reconhecível do mundo comum, sua

intenção, no sentido oposto, quando arremessou a tinta de maneira impetuosa e

repentina contra uma enorme tela era simplesmente revelar a atividade criativa e a

pura energia física necessária para produzir uma pintura.

De igual maneira, Derdyk (1989) considera que o trabalho da criança muitas vezes

é indecifrável para o adulto, mas para a criança vem carregado de conteúdos e de

significações simbólicas que demonstram o desenvolvimento do potencial criativo

não importando o tipo de atividade em que ela se expresse, é algo fundamental para

seu crescimento, que não é estático.

Derdyk (1989) destaca que para o homem das cavernas o desenho tinha um

significado mágico era a forma que os seres humanos demonstravam o

conhecimento do mundo por meio da prática do desenho como força criativa e

representação dos aspectos culturais, transmitindo um legado as civilizações

contemporâneas.

Atualmente, analisando a prática do desenho com a atenção voltada para o mundo

infantil, é importante compreender que o processo da linguagem gráfica da criança,

é marcada por uma visão orgânica e processual, cheia de idas e vindas

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manifestando sua inteligência. Na área da pedagogia o grafismo tem o significado de

ser um processo ou resultado de fazer traços de vários tipos, sem preocupação com

significado, que futuramente visam a uma preparação à escrita.

Nos estudos de Derdyk (1989 ), ela afirma que a criança como ser ativo, atua de

modo impulsivo, cerca de dois anos de idade, rabisca pelo prazer de rabiscar, o

grafismo que aí aparece é essencialmente motor, orgânico, biológico e rítmico,

considerado um trabalho energético, a repetição de um gesto jamais suscitará outro

igual, o resultado sempre será diferente, apenas deixará marcas. Aqui há apenas a

excitação motora que conduz a diversos gestos, a atividade mental é manifesta de

maneira tácita.

O desenvolvimento intelectual é geralmente apreciado na compreensão gradativa

que a criança tem de si própria e do seu meio. No entendimento de Widlöcher (1971)

na medida em que a capacidade da criança evolui, ela aumenta sua aptidão para

figurar formas complexas sem a preocupação figurativa, e na análise de Derdyk

(1989) essas garatujas funcionarão como unidades gráficas, abstratas, sígnicas e

que estarão contidas em qualquer desenho figurativo. E de acordo com Widlöcher,

que por força da repetição, aos garranchos sem significação sucedem os garranchos

com intenção significativa, neste processo o controle motor tem um papel importante

no período da garatuja, e especialmente para o desenvolvimento emocional e

cognitivo.

Derdyk (1989), observa que as garatujas das crianças são verdadeiras coreografias

no espaço do papel, os rabiscos se juntam por acréscimo uns por em cima dos

outros, gestos contínuos e descontínuos formando camadas e mais camadas,

demonstrando a motricidade nos gestos largos e expansivos, gestos pequenos e

introvertidos, mesmo que rabiscos indecifráveis para nós, os rabiscos provêm de

uma vigorosa atividade do imaginário, todo o corpo está presente na ação, afinal, o

desenho dar a conhecer o desejo da representação, bem como a manifestação da

alegria, da curiosidade, da afirmação, do medo, da opressão e da negação,

demonstrando o processo vivencial e existencial pelo qual a criança passa.

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EVOLUÇÃO DO GRAFISMO NA CONCEPÇÃO DE BETTY EDWARDS

Em seu livro Desenhando com o lado direito do cérebro, Betty Edwards (1979)

comenta sobre algo intrigante, por que a maioria das pessoas quando na fase da

idade adulta deixam de desenhar? Ou bem antes, quando crianças, ao redor de

nove e dez anos? Falta de incentivo? Falta de talento?.

A resposta conforme Edwards, é justamente porque quando crianças paramos de

desenhar muito cedo e quando adultos, mesmo com toda capacidade de observação

que temos, ainda desenhamos como se fossemos crianças, piorando a situação, a

grande maioria se sente frustrada, acanhada, embaraçada, garantindo que não

consegue desenhar, então, podemos deduzir que no cotidiano nosso cérebro acaba

tendo que recorrer mais ao raciocínio lógico do hemisfério esquerdo, na escrita e na

fala, sendo normal que a criatividade do hemisfério direito fique preguiçoso,

minguando nosso desenvolvimento para a expressão artística gráfica.

Edwards (1979), recorda que a irreflexão de certas pessoas tais como um professor,

a mãe, um pai, uma outra criança, ao fazer um comentário depreciativo ou irônico a

respeito da produção gráfica de uma criança, deixa recordações que subsistem ao

tempo pelo trabalho que foi ridicularizado, e uma vez descontente, culpa sua obra,

insistindo na perfeição para agradar outrem, e não conseguindo, a tendência é

desistir de criar e se expressar, deixando de lado sua marca pessoal, toda essa

situação gera o episódio de crise e desequilíbrio, não sendo possível entrever que a

obra é inocente, mas o julgamento crítico insensato é o culpado. A autora insiste que

o desenho da arte infantil deve transmitir o encanto de uma liberdade criativa

sedutora, e sair dos padrões rígidos de eternas repetições.

O pediatra e psicanalista infantil Donald Winnicott (2011), ferrenho defensor da

imaginação infantil que enfatizou a importância da arte de brincar e a de criar da

criança, afirmou que as crianças quando livres para criar, desenvolvem um modo de

exercitar o poder de invenção. Se, no entanto, o ambiente escolar não for aberto à

brincadeira, "os recreios serão tanto mais selvagens quanto as aulas forem mais

opressoras ou supostamente sérias" perdendo a significação do ato de criar com o

prazer de aprender.. A escola tem a obrigação de ajudar a criança a completar essa

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transição do modo mais agradável possível, respeitando o direito de devanear,

imaginar, brincar.

O DESENHO DA CRIANÇA – A ARTE DE VER A ARTE

Frequentemente ouvimos como uma verdade que as semelhanças unem e as

diferenças separam, então poderemos aludir que de maneira uniforme a criança e a

infância são retratos universais que representam a persistência e continuidade da

realidade do mundo humano. Entretanto, se diferenciam quanto ao componente

social, no qual o modo de ser e de pensar as coisas a sua volta delineiam diversos

horizontes.

Certamente numa forma de linguagem visual unida ao social vivido o resultado será

uma gama de diversas representações gráficas, cujo desenho falará por si mesmo,

tornando visível o que está latente, exemplificando como indivíduos definem suas

identidades e percebem seu lugar no mundo.

As linhas traçadas estão paralelas, em algum momento a mobilidade das mãos

fazem as linhas cruzarem, e se encontrar, surge a gênese das cruzes, das

mandalas, dos diagramas, dos sóis e depois se estruturaram em casa, flores, carros,

“pai” e “mãe”, enfim, como dito por Woodford (1983), existem num quadro muito

mais coisas do que apenas aquelas que atraem nosso olhar, e por conseguinte não

devemos subestimar a produção infantil, antes devemos ter como certo de que

houve relações da criança que interagiu com o meio ambiente.

Para analisar o grafismo, lançamos mão, em primeiro lugar, da renomada

epistemologia de Jean Piaget pelo rigor científico de sua produção, que em seu

conteúdo nos permite conhecer a criança e seu crescimento mental sem dissociá-lo

do crescimento físico e com base nesse estudo, que foi e continua sendo fonte para

aprimorar os métodos pedagógicos ou educativos.

A teoria do suíço Piaget afirma que cada criança apresenta características próprias

de sua idade, enfatizando ainda, o desenvolvimento mental e orgânico desde a

infância até a passagem pela adolescência, período que dá início ao indivíduo ser

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inserto na sociedade adulta, e segundo Bock (2002) a teoria explica – como e por

que – o indivíduo age de determinada forma ou situação em momentos específicos

de sua vida.

Piaget destaca no livro Psicologia da Criança (2012) que o desenho é uma

manifestação semiótica, e sua primeira forma não é imitativa, apenas a criança no

período Sensório-motor - participa de um jogo, não obstante, apenas um exercício

que a criança, de posse de um lápis rabiscará, e o resultado será as garatujas.

Mais adiante, a criança passando pelos períodos consecutivos de desenvolvimento -

Pré operatório e Operações concretas - pouco a pouco alcançará a tão necessária

maturação neurofisiológica, que dela dependerá para segurar e manejar um lápis e

após várias tentativas representar a percepção do mundo que a rodeia por meio da

imagem, bem como conseguir o desenvolvimento de novas habilidades,

conquistando a coordenação motora fina, necessária para fazer os delicados

movimentos da escrita e finalizando com o período das Operações formais, quando

atinge o equilíbrio entre o pensamento e a realidade com interesses diversos e

mutáveis, conforme Bock (2002).

E ainda no contexto sobre o grafismo e a criatividade infantil, este referencial foi

subsidiado pelo austríaco e inovador para o ensino da arte, Viktor Lowenfeld (1970),

o qual tinha como ideal “desarraigar a classe de desenho e de criação artística

tradicional e nela introduzir um clima de estímulo à espontaneidade”, conforme dito

na contracapa de seu livro Desenvolvimento da Capacidade Criadora (1970).

Ao contrário de Piaget que não atuou diretamente no âmbito da educação,

Lowenfeld esteve envolvido em investigações científicas e elaborou estudos sobre

os usos terapêuticos do ensino da arte. Sua obra mestra – Desenvolvimento da

Capacidade Criadora - foi um livro publicado na década de quarenta, sendo

considerado até os dias atuais, uma obra literária de grande influência na educação

artística, o qual descreve as características e etapas do desenvolvimento criativo

infantil, expondo com relevância a arte na estruturação da personalidade humana.

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O conteúdo da obra de Lowenfeld (1970) deixa claro que a criança é o bem mais

precioso da sociedade e que sua aprendizagem deve acompanhar o

desenvolvimento natural não só em seus aspectos intelectuais, mas também sociais,

emocionais, perceptivos, físicos e psicológicos. Quase vinte anos depois a artista e

educadora de arte Edith Derdyk (1989), reivindica o que foi dito por Lowenfeld,

destacando que a criança é um estado de eterna transformação física, perceptiva,

psíquica, emocional e cognitiva e seu olhar aventureiro espreita o mundo a ser

conquistado.

Esclarece Lowenfeld (1970), que tanto a escola, quanto a influência da família e dos

professores, tem papéis específicos a cumprir no estímulo da capacidade criadora

da criança. Diz ainda, que a criatividade necessita de um ambiente muito especial

para ser estimulada. Na essência da espontaneidade, não se deve incorrer na

atmosfera do "vale-tudo" , mas antes ser amparada no sentido de ajudar a criança

a confiar em seu próprio discernimento, afinal a arte é um método para libertar a

imaginação.

Lowenfeld (1970) afirma que para trabalhar com crianças na área da arte, é

essencial compreender as diversas fases da evolução, para tanto, a produção

plástica da criança, somente representa o que lhe interessa na ocasião e em

harmonia com os recursos técnicos próprios da etapa evolutiva de sua

personalidade. A partir da infância até a adolescência transitará por diversas fases, a

saber: a fase das garatujas, dos 2 aos 4 anos; a fase pré esquemática, dos 4 aos 7

anos; a fase esquemática, dos 7 aos 9 anos; a fase do realismo, dos 9 aos 12 anos;

a fase do pseudonaturalismo, dos 12 aos 14, e a fase da decisão aos 17 anos.

RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO E ANÁLISE DE DADOS

PIAGET E LOWENFELD - ETAPAS DO PROCESSO CRIATIVO DA CRIANÇA

1 . Fase sensório-motor de 0 a 2 anos , Piaget e Garatujas de 2 a 4 anos,

Lowenfeld.

Para Piaget a criança na fase de zero a dois anos tem na representação gráfica,

desenhos que são apresentados de forma circular e representam o seu sentimento

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em relação ao mundo, são simples movimentos desordenados e incontrolados,

denominadas de garatujas, e nas palavras de Derdyk (1989) são consideradas

verdadeiras coreografias no espaço do papel.

As duas ilustrações (figuras 1 e 2), realizadas por uma criança de 2 anos, apresenta

formas mais ou menos circular ou angular e as produções são organizadas no

centro ou no espaço global da folha.

Figura 1. Garatuja controlada, modelo circular. Autora: Emilie, 2 anos - Fonte: acervo próprio.

Figura 2 . Garatuja controlada, modelo circular repetido. Autora: Emilie, 2 anos - Fonte: acervo próprio.

Para Lowenfeld (1970) no que se refere as garatujas ou rabiscos das crianças, a

fase está compreendida entre dois e quatro anos, portanto, a fase é mais estendida

do que a definida por Piaget. Como característica a qualidade do traço varia, não

sendo tentativa alguma de representação do meio visual da criança, são traços

fortuitos e prazerosos à medida que a criança varia o braço para trás e para frente.

Classificou-as em três categorias importantes: as garatujas desordenadas, garatujas

controladas e as garatujas com atribuição de nomes (nomeadas)

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Desenho - forma particular de linguagem expressa entre padrões e variações

individuais

Nas palavras de Crotti (2011), quando a criança principia a desenhar, ela começa a

transmitir várias mensagens, o que requer tanto dos educadores como dos pais,

serem observadores aos vários elementos que exteriorizam a ação, tais como: -

quanto ao modo, a forma como a criança sustenta o lápis, a pressão da mão, o

ponto inicial e o espaço ocupado na superfície da folha, o traço sobre o papel e

principalmente a forma da garatuja.

As figuras 3 e 4, produzidas por crianças de quatro anos, inseridas na mesma etapa

e ambiente escolar, transmitem uma idéia muito diferente dos modelos descritos nas

figuras 1 e 2.

A figura 3 – garatuja produzida por David, na qual os traços podem parecer ao olhar

crítico de um adulto, não ter sentido, entretanto, na pureza das intenções, tendencia

para o esquema do corpo humano, na qual o círculo maior com dois círculos

menores no seu interior, intenta formar a cabeça e os olhos.

Quanto a figura 4, produzida por Thauan, concebida como uma experiência

representativa da figura humana, é rica em diversos detalhes em comparação com

a de David. Thauan desenhou formas ovóides para a cabeça e os olhos, traço para

boca e linhas longitudinais indicando alongamento do corpo, membros inferiores e

superiores, bem como, a pintura em cor preta assinala a percepção da cor do

cabelo.

.

Figura 3 – Garatuja – Autor: David Arnaldo, 4 anos – Fonte: CEI da Candangolândia/DF.

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Figura 4 – Garatuja - Autor: Thauan, 4 anos – Fonte: CEI da Candangolândia-DF.

O desenvolvimento não tem a dimensão linear, entretanto, ao analisar com

diligência as produções de David (figura 3) e de Thauan (figura 4) não se deve

negligenciar o afastamento dos padrões para a faixa etária da produção de David

dentro dos limites cabíveis, observando as diferenças nos níveis das garatujas, e se

a mesma está muito abaixo do nível que corresponde a idade da criança.

Deixando de lado os pontos em comum e insistindo no que os diferencia, podemos

admitir que a produção de David em relação a de Thauan, apresenta formas

pobres quanto à gênese da imagem do corpo que possui de si próprio e a

representação deste esquema.

Entende Lowenfeld (1999 p. 150-155) que a representação da cabeça com “olhos,

ouvidos e nariz” indica o centro da atividade sensorial e a adição das barras

verticais – membros inferiores ou superiores - revela a funcionalidade corporal,

demonstrando na verdade o que a criança, indiscutivelmente sabe sobre si e,

portanto, a criança desenha mais o que concebe e integra do seu corpo e o que

mais dele conhece.

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Nos estudos de Fonseca (2008) se referindo a psicomotricidade em uma

perspectiva pedagógica, menciona que quanto a concepção da imagem corporal, é

pelo desenho do corpo que damos conta das fases de desenvolvimento da criança,

da sua inteligência, da sua grafomotricidade, do seu desenvolvimento psicomotor,

da estruturação espacial, que de maneira espontanêa fornecem indicações

relevantes dos seus êxitos ou fracassos escolares, entretanto, ressalva que o

desenho não é medida exclusiva do nível intelectual global.

Não é questão da ausência de talento ou aptidão, mas o olhar pedagógico, sem

aferrar-se aos modelos “etapistas” do desenvolvimento infantil, deve se orientar para

a fase do desenvolvimento, que é o reflexo da criança total nesse período. Muitas

vezes a análise do resultado da percepção e das imagens infantis produzidas, nos

leva a perceber a dificuldade ou a insuficiência da criança em relacionar as coisas

entre si no espaço, em seus desenhos, sendo a demonstração real de que ainda

não amadureceu, certamente necessitará, ser estimulada para despertar sua

capacidade criadora, e ter o atributo necessário para mais adiante relacionar as

letras ou para aprender a ler, preparando a criança para um melhor desempenho na

etapa seguinte que a espera.

Piaget (2012) disse que o desenvolvimento mental da criança é uma construção

contínua, similar à construção de um grande edifício, a medida que se acrescenta

algo vai ficando mais sólido e Lowenfeld (1970), na mesma trilha de Piaget afirma

que o processo do desenvolvimento é contínuo, mas não padrão, há grandes

diferenças individuais, assim como, há distinções entre as garatujas infantis,

consideradas como reflexo do desenvolvimento físico e emocional das crianças.

Lowenfeld (1970) defende ser necessário ativar o conhecimento que a criança tem

de si mesma como parte do meio, em seu ambiente imediato, e por meio de seu

próprio ‘’eu’’ corporal – começando pela função das várias partes do próprio corpo,

e exemplifica, que se antes a representação da boca era uma linha, em um

exercício associado com o seu próprio corpo, jamais deve faltar o estímulo para

conscientizá-los sobre os dentes, e diante do comando – “escovem os dentes todas

as manhãs” - o enriquecimento do conceito formal da boca e o seu conteúdo e a

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coordenação entre a boca e o braço certamente terá uma resposta cônscia e real

das percepções, sentimentos e pensamento que foram apreendidos pela criança.

3 - Fase Pré-operatório de 2 a 7 anos, Piaget e Fase Pré- esquemática de

4 a 7 anos, Lowenfeld.

Figura 5 – Autor: Luana, 4 anos – Fonte: CEI da Candagolândia-DF

A figura 5, com referência a Piaget – a criança se encontra na fase pré-operatória e

para Lowenfeld a fase é pré-esquemática, a coordenação motora fina já está em

processo, o “animismo” é presente na fase pré-esquemática, os traços e as

garatujas vão perdendo, pouco a pouco suas relações com os movimentos corporais

e passam a ser controlados - manifestando uma relação visual com o universo a

sua volta - com o que pretendem representar – ocorre o início da compreensão

gráfica.

Figura 6 – Autor: Rebeca, 4 anos – Fonte: CEI da Candangolândia-DF.

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Figura 7 – Autor: Thaynara, 4 anos - Fonte: CEI da Candangolândia-DF.

As figuras 6 e 7, produzidas por crianças da mesma idade, suscitam diferentes

formas, buscando uma certa lógica da figura humana. Por volta dos quatro anos a

criança começa a perceber o seu desenho e, portanto, projeta nele toda a sua

afetividade e sua própria realidade. É neste momento que o seu desenho começa a

ganhar um “status” compreensível para o adulto. Nesta fase a criança deixa de lado

a sua "inocência", e passa a ser contagiada por outras realidades que não somente

a dela.

Cheida Sans (2009) esclarece que os trabalhos de expressão plástica da criança

torna manifesto seu estágio de elaboração mental e derivam das interações dela

com os objetos, bem como de sua relação com o meio, quanto aos estímulos

recebidos e o conhecimento adquirido pelas vivências e experiências.

Por meio das colocações dos pesquisadores (autores) percebemos que existem

relevantes diferenças entre os desenhos de Rebeca e de Thaynara, ambas de 4

anos. A produção gráfica de Thaynara é considerado adequado para a da faixa

etária de produção ou elaboração dos desenhos conforme a pré operatória de

Piaget e a esquemática de Lowenfeld. Quanto a Rebeca possui uma produção que

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podemos classificá-la nas fases, segundo Piaget (Sensório-motor de 0 a 2 anos) e

Lowenfeld – (Garatujas de 2 a 4 anos).

Ao analisarmos as diferenças de fases, apesar da faixa etária idêntica, podemos

indicar a necessidades de estratégias pedagógicas específicas a serem

disponibilizadas para a aluna Rebeca de maneira a possibilitar o desenvolvimento

cognitivo e psicomotor com vistas a facilitar o processo de aprendizagem da escrita.

Quando o professor se dispor analisar os desenhos produzidos pelas crianças e

suas expressões gráficas como as realizadas acima poderá lançar mão de

metodologias alternativas que possam diminuir diferenças e desigualdade no

processo de ensino e aprendizagem de alunos com dificuldades de aprendizagem.

Análise de grandes Diferenças

As figuras 8 e 9 foram produzidas por crianças de 5 anos. A figura 8, o movimento

de extensão circular e os rabiscos feitos em diversas direções, embora de forma

plástica apreciável é de espontaneidade total, entretanto a criança já deveria pela

faixa etária que se encontra demonstrar a conquista do conceito da forma.

Figura 8 – Autor: Lucas Eduardo, 5 anos - Fonte: CEI da Candangolândia-DF.

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Figura 9 – Autor: Henrique, 5 anos - Fonte: CEI da Candangolândia-DF.

Na figura 9, o desenho busca uma lógica de certo realismo ao desenhar a figura

humana, descrevendo pernas, cabelos, braços, envolvendo cores, e formas da

natureza. O desenho feito por Henrique na mesma faixa etária de Lucas, apresenta

um realismo lógico quanto a organização espacial e descritivo, com bastantes

detalhes.

Figura 10 –Autor: Andressa, 6 anos – Fonte: Escola Classe 5 - Guará-DF

Com relação a figura 10, a produção de Andressa, 6 anos, revela a capacidade de

síntese de um “mundo mágico”, coloca o que sente no papel - na representação

espacial - ela é o “ponto de referência”, sustentada pela "linha de base" é o centro

das atenções, como pano de fundo o espaço está ordenado e constituído da

excentricidade dos “personagens em um tapete voador”, estrelas e sóis na parte

superior da folha e a natureza representada pelas flores, borboletas e árvores, se

considera, que há uma certa “magia dos contos” na criação.

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4. Fase das operações concretas de 7 a 11 anos, Piaget e Fase esquemática

de 7 a 9 anos, Lowenfeld.

Figura 11 – Autor: Isabela, 8 anos – Fonte: Escola Classe 5 - Guará-DF.

No entendimento de Lowenfeld – na fase esquemática, após muitas

experimentações, o desenho infantil da figura humana, se aproxima da percepção

do conceito de forma, surge a linha de base, e existindo o formato irregular para o

corpo e para as mãos.

Condizente com a fase das operações concretas - o esquematismo - o estágio

apontado por Piaget, nele aparecem os esquemas representativos e experiências

novas são expressas, há a autoanálise e possibilidade de compreensão do espaço

que já se limita, sendo definido por linha de base. Na figura 11, a criança apresenta

desvio de esquemas; há exagero (a representação das duas figuras humanas é do

tamanho da escola e da casa) e negligência.

EXPRESSIVIDADE INFANTIL NA PRODUÇÃO ARTÍSTICA DE GRANDES

PINTORES

Na mesma importância da interpretação dos desenhos infantis para o auto retrato da

personalidade e expressão humana tratada pela criança em seus desenhos, temos a

expressividade infantil do ato de criação nas produções artísticas de pintores

famosos, essa expressividade infantil foi retratada por Joan Miró, um dos artistas do

século XX, que era um dos colecionadores da “arte” produzida pelas crianças e em

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alguns momentos específicos, a utilizou como fonte de sugestões para seus próprios

trabalhos

No exemplo citado por Amin (2008) IV Encontro de História da Arte – UNICAMP, a

sensibilidade da produção artística infantil, levou Miró a ressaltar o caráter narrativo,

explicativo das imagens, parecendo histórias contadas por crianças no ato de

desenhar.

As pinturas de Miró carregam grande similaridade com a liberdade, expressividade,

o lúdico e a exuberância da força gráfica infantil. São simples coloridas e alegres.

Mostra a realidade de maneira simplificada, simbólica, sem complexidade e quase

infantil. Miró catalogou os desenhos feitos por sua filha Dolores, justamente pela

livre expressividade da infância, e exuberância imaginativa.

Figura 17 – A mulher e o Gato – Juan Miró Figura 18 – Soonens – Juan Miró

Paul Klee

Figura 19 – Paul Klee paintings Figura 20 – Paul Klee – Hot Pursuits

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Amim (2008), referindo-se a Paul Klee, considerado o artista moderno que mais

utilizou as imagens inocentes num nível mais maduro, afirma que ele reencontrou as

coordenadas de sua autenticidade criativa a partir de seus próprios desenhos

infantis.

A pintura ativa de Pollock se preocupa com a expressão gestual livre, artístico, não

tem nada de infantil, apenas a energia destemida que a criança de igual modo, pode

expressar.

Figura 21 - Ritmo de Outono, do pintor norte-americano Jackson Pollock

Figura 22 – Gato Azul III, do pintor brasileiro Aldemir Martins

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De acordo com Lowenfeld (1970, p. 29) “um artista em qualquer idade, manipula e

modifica seu material artístico, para realizar um produto que seja a sua própria

expressão”, então, Aldemir Martins, criou o inimaginável Gato Azul.

CONCLUSÃO

Para concluir o trabalho sobre o grafismo, não poderia deixar de citar uma máxima

de Guimarães Rosa, extraído de sua obra marcante, o romance Grande Sertão:

Veredas - “Mire e veja: o mais importante e bonito desse mundo é: que as pessoas

não estão sempre iguais”, em outras palavras, parodiando o que ele disse – somos

bonitos, porque somos diferentes.

O presente artigo delineado com base no repertório infantil das produções gráficas

torna perceptível que o desenho da criança é uma ferramenta que expõe além da

criatividade, ideias, pensamentos, é ainda entre outros instrumentos de avaliação,

um registro do desenvolvimento e aprendizagem infantil, por meio do qual podemos

constatar que cada criança é diferente, e o que cria e expressa em sua

representação gráfica é paralela a evolução do pensamento.

O estudo também pode comprovar, que a produção gráfica da criança enquanto

material de pesquisa para análise ou investigação psicopedagógica, expõem como

a evolução gráfica se processa no plano da motricidade. Movimentos tão simples do

vai e vem do lápis, esboçando as garatujas iniciais até uma produção gráfica rica em

detalhes refletindo a percepção do esquema corporal pelas crianças maiores.

A pesquisa pode dar a conhecer ainda por meio das produções gráficas, a

capacidade representativa de cada criança em relação ao contexto em que estavam

inseridas, quando esboçaram no papel, a correspondência entre o pensamento e o

vivido.

O estudo realizado sobre o grafismo destaca a importância do papel do professor,

cabendo-lhe a responsabilidade de estimular a expressão, a criatividade e o

desenvolvimento intelectual, direcionando a criança para trilhar o caminho da escrita

como uma condição para a alfabetização.

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Ao mesmo tempo procurar tornar clara a responsabilidade da família e dos adultos

que cercam a criança no sentido de evitar a cobrança de significados e produções

belas e caprichosas cuja apreciação por parte do olhar adulto, muitas vezes carrega

um perverso julgamento, e insensivelmente custará compreender que um cachorro

pode ser roxo e uma rosa azul, uma vez que a criança não se incomoda com o

aspecto visual e sim o afetivo que a cor proporciona.

Considerando a produção gráfica das crianças, a mesma nos remete a ideia de ser

necessário aproveitá-la no espaço escolar, mostrando aos pequenos que nos

interessamos pelo aprendizado de cada um e que valorizamos o esforço deles.

Além de ser uma maneira de dar as crianças um ambiente familiar, prestigiando,

acolhendo e expondo suas obras, e certamente, perceberão e comentarão as

semelhanças e diferenças entre suas produções e as dos colegas, afinal elas são

porta vozes da visão dos interesses infantis.

Finalmente, o desenho tem sua relevância, precede a escrita, revela o modo como

a criança vê e sente o mundo, seu equilíbrio emocional e afetivo, as etapas do

desenvolvimento cognitivo e motor e, como mais uma forma de linguagem da

criança, o desenho ainda deixa lacunas e continuará sendo objeto de investigação

na exploração dos modos de pensar das crianças.

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AGRADECIMENTOS

Como a realidade é feita de laços e interações, agradeço a professora Edlamar

Clauss, orientadora do TCC, pela paciência e abnegação, a professora Marlene

Pereira, Coordenadora do Curso de Pedagogia e a Professora Angela Regina

Resende, as quais sempre foram presentes nas minhas dúvidas e dificuldades.

Agradeço as crianças de duas Escolas Públicas das cidades do Guará e

Candangolândia que participaram da pesquisa, pois sem elas não seria possível a

conclusão do meu artigo.

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