GRAHAM - Como Entrar Em Desacordo e Argumentar de Maneira Intelectualmente Honesta

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http://www.bul evoador .com.br/2011/09/como-entrar-em-desacordo-e- argumentar-de-maneira-intelectualmente-honesta/  Como entrar em desacordo e argumentar de maneira intelectualmente honesta Editor: Francisco Boni Autor:  Paul Graham Como entrar em desacordo A internet transformou a escrita em conversação. Há vinte anos, escritores escreviam e leitores liam. A internet permite que seus leitores respondam, e cada vez mais eles fazem em comentários em posts, fruns e em seus prprios !lo"s. #uitos daqueles que respondem tem al"o a discordar so!re o que leem. $sso %á & esperado. 'oncordar com um te(to motiva menos as pessoas do que discordar . )uando voc* concorda, há +

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argumentar-de-maneira-intelectualmente-honesta/

 

Como entrar em desacordo e argumentarde maneira intelectualmente honesta

Editor: Francisco Boni

Autor: Paul Graham

Como entrar em desacordo

A internet transformou a escrita em conversação. Há vinte anos, escritores escreviam

e leitores liam. A internet permite que seus leitores respondam, e cada vez mais eles

fazem em comentários em posts, fruns e em seus prprios !lo"s. #uitos daquelesque respondem tem al"o a discordar so!re o que leem. $sso %á & esperado. 'oncordar

com um te(to motiva menos as pessoas do que discordar. )uando voc* concorda, há

+

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menos para se dizer. oc* pode e(pandir o que o autor a-rmou, mas talvez ele %á

e(plorou todas as implicaçes interessantes. )uando voc* entra em desacordo, voc*

está entrando em um territrio que o autor ainda não e(plorou.

/ resultado & que há muito mais diver"*ncias acontecendo, e voc* pode medir isso

pelas palavras e respostas por a0. $sso não si"ni-ca que as pessoas tem se tornado

raivosas. A mudança estrutural na maneira de como ns nos comunicamos %á &

su-ciente para e(plicar isso. Apesar de não ser a raiva que está causando um

aumento nos n1mero de desacordos, há o peri"o de que o aumento no n1mero de

deles faça com que as pessoas se tornem mais raivosas e infelizes umas com as

outras. Particularmente online, onde & fácil dizer coisas que voc* nunca diria cara a

cara.

2e ns vamos entrar em desacordo mais vezes, então ns dever0amos tomar cuidado

com isso. #uitos leitores conse"uem sa!er a diferença entre (in"amentos e uma

refutação cuidadosamente constru0da, mas eu acho que a%udaria se colocassemos

nomes para os está"ios intermediários. 3ntão tentaremos esta!elecer uma

hierarquia do desacordo.

0! "ingamento

3ssa & a forma mais !ai(a de desacordo e provavelmente a mais comum. 4odos ns

 %á vimos comentários assim5

“vc é uma bicha!!!” 

#as & mais importante perce!er que uma forma mais articulada de (in"amento

tam!&m tem o mesmo peso. 6m comentário do tipo

“O autor é pedante e o artigo é horrívelmente construído.” 

não & nada al&m de uma versão pretensiosa de “vc é uma bicha!!!” .

1! Ad #ominem

6m ataque ad hominem não & tão fraco quanto um simples (in"amento. 3le pode

conter al"um peso. Por e(emplo, se um senador escreve um arti"o dizendo que os

salários dos senadores deveriam ser aumentados, al"u&m poderia re!ater5

“Claro que ele diz isso. Ele é um senador.” 

$sso não refutaria o ar"umento do autor, mas pode pelo menos parecer relevante

para este caso. 7o entanto, ainda & uma forma !em fraca de desacordo. 2e há al"o

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de errado com o ar"umento do senador em si, então voc* deveria dizer o que está

errado9 e se não há, então que diferença faz o fato de ele ser um senador:

;izer que um autor não tem autoridade para escrever so!re um assunto & uma

variante de ad hominem e particularmente uma variante in1til, pois as !oas id&ias

"eralmente v*m dos outsiders  <aqueles que ainda são desconhecidos no meio=. A

questão & so!re o autor estar correto ou não. 2e a sua falta de autoridade causou e

fez com que ele cometa erros, então aponte>os. 3 se falta de autoridade não está

li"ada aos supostos erros, então ela & realmente irrelevante.

2! $espondendo ao tom

7esse n0vel superior começamos a ver respostas li"adas diretamente ao conte1do do

te(to, ao inv&s de serem li"adas ao autor. A forma mais inferior desse tipo de

ar"umento & discordar do tom utilizado pelo autor no te(to. Por e(emplo5

“Eu não posso acreditar que o autor rebate o esign nteligente de maneira

tão arrogante.” 

Apesar de ser melhor do que atacar o autor, esse ainda & uma forma fraca de

diver"ir. ? muito mais importante sa!er se o autor está certo ou errado do que

apontar os dedos para o tom utilizado em seu escrito. 3specialmente porque & dif0cil

 %ul"ar um tom de maneira isenta. Al"u&m que está emocionalmente envolvido com

determinado tema pode sentir>se ofendido por um determinado tom, enquanto o

mesmo pode ter sido perce!ido como neutro por outros leitores.

3ntão, se a pior coisa que voc* pode dizer a respeito de al"o & criticar o seu suposto

tom, então voc* não está dizendo muito. / autor & rude, por&m correto em seus

ar"umentos: #elhor isso do que ser "rosseiro e estar errado. 3 se o autor está errado

em al"uma a-rmação, aponte onde está o erro e refute.

%! Contradi&'o

? nesse está"io que ns -nalmente encontramos respostas minimamente

su!stanciais para o que foi dito, ao inv&s de respostas para como tais coisas foram

ditas ou por quem elas foram ditas. A forma mais !ai(a de se responder @ um

ar"umento & simplesmente a-rmar o oposto, contradizendo o autor, com nenhuma

ou pouca evid*ncia, atrav&s de um ar"umento falacioso ou simplesmente frá"il.3sse tipo de ar"umento & muitas vezes com!inado com ar"umentos do tipo (2!, de

resposta ao tom5

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“Eu não posso acreditar que o autor rebate o esign nteligente de maneira

tão arrogante. O esign nteligente é sim uma teoria cientí"ca.” 

A contradição pode ter al"um peso. s vezes, apenas contradizer e a-rmar o

oposto e(plicitamente pode ser su-ciente para veri-car>se que está correto. 7a

maioria dos casos, evid*ncias e uma ar"umentação mais rica são necessárias.

)! Contra-argumento

7o n0vel ()! encontramos a primeira forma de desacordo convincente5 o contra>

ar"umento. At& esse ponto, todas as formas anteriores podem ser i"noradas como

irrelevantes e muito inferiores. / contra>ar"umento pode provar ou refutar al"o. /

pro!lema & que pode ser dif0cil veri-car o que um contra>ar"umento realmente

prova.

6m contra>ar"umento & uma contradição e(pressa em con%unto de evid*ncias

con-áveis e ar"umentação l"ica slida. )uando direcionado diretamente contra o

ar"umento ori"inal do autor, ele pode ser convincente. #as infelizmente & comum

encontrar contra>ar"umentos que estão atacando posiçes diferentes daquelas

alçadas ori"inalmente pelo autor. 7esse sentido, podemos dizer que um !om contra>

ar"umento pode estar tentando atacar um CespantalhoD do ar"umento ori"inal doautor criado conscientemente ou não e que & uma versão distorcida do ar"umento,

"eralmente fácil de ser re!atida. #uitas vezes, duas pessoas estão discutindo

passionalmente so!re duas coisas completamente diferentes. /s indiv0duos at&

concordam um com o outro, mas estão tão profundamente envolvidos no em!ate

que aca!am ce"ando para esse fato.

? poss0vel que e(ista uma razão le"0tima para ar"umentar contra al"uma coisa

li"eiramente diferente daquela que sustentada ori"inalmente pelo autor5 quando

voc* perce!e que ele dei(ou escapar o Ema"o ou ponto central da questão. #asquando voc* -zer isso, deve dizer e(plicitamente, de maneira te(tual e direta, que

voc* perce!eu que o autor errou por pouco o alvo.

*! $e+uta&'o

A maneira mais convincente diver"ir de seu proponente & a refutação. ? tam!&m a

mais rara, %á que & a mais dif0cil. ;e fato, a hierarquia do desacordo forma uma

esp&cie de pirEmide, no sentido de que as formas que se encontram no topo são asmais raras de se encontrar.

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Para refutar al"u&m, & preciso que provavelmente voc* faça uma citação do

ar"umento do mesmo. oc* precisa ser capaz de achar uma CfumaçaD ou Cponto

fracoD em uma passa"em do te(to do autor que voc* perce!e que está errada, e

então e(plicar por que ela está errada. 2e voc* não conse"ue encontrar umapassa"em te(tual, de prefer*ncia clara e o!%etiva, então & poss0vel que voc* este%a

correndo o risco de estar ar"umentando contra um CespantalhoD criado pela sua

prpria sede de encontrar uma falha nos ar"umentos do autor.

#esmo que a refutação "eralmente venha forma de criação de citaçes de

passa"ens do te(to do autor, o fato de estar citando passa"ens diretas do te(to do

autor não implica que uma refutação está realmente acontecendo. Al"umas pessoas

citam partes do te(to que elas discordam apenas para dar a apar*ncia de que estão

prestando atenção nos ar"umentos, e de que estão produzindo uma refutação

le"0tima, quando na verdade estão constru0ndo uma resposta tão inferior quanto

uma (%! contradição ou um (0! (in"amento.

,! $e+utando o ponto central.

A força de uma refutação depende daquilo que voc* refuta. A forma mais poderosa

de desacordo & refutar o ponto central a-rmado por al"u&m.

#uitas vezes, mesmo em n0veis alto como (*!, encontramos desonestidade

intelectual deli!erada, como por e(emplo quando al"u&m refuta apenas os

ar"umentos acessrios ou ad%acentes ao ar"umento central proposto pelo autor

que ainda se mant&m forte em seu ponto central. A refutação do ponto central & tão

forte e avassaladora que, na maioria das vezes, & perce!ida pelo p1!lico como um

"rande ad hominem ou como arro"Encia e a!uso de intelectualidade por parte do

refutador, ao inv&s de um ar"umento le"0timo.

Para verdadeiramente refutar al"o, & necessária uma refutação do ponto central ou

pelo menos de al"uns deles. 3 isso si"ni-ca se comprometer em e(pressar

te(tualmente, da maneira mais o!%etiva poss0vel, qual & o ponto central que está

sendo refutado no momento. 3ntão, uma refutação verdadeiramente efetiva se

parece com isso5

“O ponto central do autor parece ser #. Como ele mesmo diz$

%cita&ão'

(as isso est) errado por diversas raz*es+ como por e#emplo , e z-” 

A citação apontada não precisa ser necessariamente uma a-rmação te(tual e(ata@quela e(pressa ori"inalmente pelo autor em seu ponto central. Al"umas vezes,

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al"uma citação que prove uma depend*ncia essencial em relação ao ponto central %a

& su-ciente.

ue isso tudo signica

A"ora ns temos uma maneira li"eiramente informal de classi-car formas de

desacordo. )ual o !enef0cio disso: 6ma coisa que a hierarquia do desacordo não nos

dá & uma maneira de escolher um ar"umento vencendor. /s n0veis apenas

descrevem o formato dos ar"umentos e não se eles são corretos. 6ma

resposta (,! de refutação do ponto central, ainda que slida, pode estar

completamente errada.

#esmo que os n0veis de desacordo não estremem um limite inferior so!re o "rau de

convencimento de respostas e replicas em uma discussão, eles aca!am sim

delimitando um limite superior. 6ma resposta (,! de refutação do ponto central pode

não ser convincente, mas uma (2! de resposta ao tom do te(to do autor & sempre

fraca e inconvincente.

A vanta"em mais !via de se classi-car formas de entrar em diver"*ncia & que isso

pode a%udar as pessoas a avaliar o que elas estão lendo. 3m particular, vai a%udar

elas a identi-car ar"umentos intelectualmente desonestos. 6m orador eloquente ouescritor pode causar a impressão de estar su!%u"ando oponentes apenas por estar

usando palavras de impacto. ;e fato, essa & a qualidade dos dema"o"os. Ao dar

nomes para as diferentes formas de entrar em desacordo, damos aos leitores um

al-nete para estourar tais !ales ar"umentativos.

 4ais rtulos podem a%udar os escritores tam!&m. A maioria das desonestidades

intelectuais são não>intencionais, muitas vezes irracionais e inconscientes. Al"u&m

que está ar"umentando contra o tom empre"ado pelo autor em um te(to pode

realmente acreditar que o te(to está falando al"o válido. ;ar um passo para trás ever a -"ura de lon"e pode inspirá>lo a tentar mover as suas respostas para o status

de ()! contra>ar"umento ou (*! refutação.

#as o "rande !enef0cio de entrar em desacordo de maneira racional e inteli"ente não

& que isso pode fazer com que as nossas conversas -quem melhores, mas fazer com

que as pessoas envolvidas nelas tornem>se mais felizes. 2e voc* estudar as

conversas, perce!erá que os ar"umento pr(imos de (1! cont&m muita mesquinhez

e maldade. Para destruir um ar"umento voc* não precisa destruir o oponente. ;e

fato, voc* não quer. 2e voc* se concentrar em su!ir a hierarquia da pirEmide dodesacordo, farás com que a maioria das pessoas tornem>se felizes. A maioria das

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pessoas não "osta de mesquinhez9 elas s fazem isso porque se envolvem

emocionalmente.

*Paul Graham+ h.. em Ci/ncia da Computa&ão pela 0avard 1niversit, e 2.3. em

4iloso"a pela Cornell 1niversit,+ empreendedor do 5ale do 6ilício e 7amoso pelo seu

trabalho na linguagem de programa&ão 8isp 9autor de :On 8isp; e :3<6 Common

8isp;=.

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