Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira · da mais remota antiguidade. Na opinião dos...

12
Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 1 III. Notas históricas Para melhor compreender algumas passagens dos evan- gelhos, é preciso conhecer o significado de várias palavras que neles são empregadas repetidamente e que caracterizam a condição dos costumes e da sociedade judaica daquela épo- ca. Não tendo para nós a mesma acepção, essas palavras fo- ram muitas vezes mal interpretadas, dando margem a certas dúvidas. A compreensão exata do seu significado explica o sentido verdadeiro de determinadas máximas que, à primei- ra vista, parecem estranhas. Samaritanos: Após a separação das dez tribos, a cida- de de Samaria passou a ser a capital do reino dissidente de Israel. Destruída e reconstruída várias vezes, foi, sob o Im- pério Romano, a sede política de Samaria, uma das quatro divisões da Palestina. Herodes, chamado “o Grande”, embe- lezou-a com monumentos suntuosos, e, para agradar a Au- gusto, imperador romano, deu-lhe o nome de Augusta, em grego Sebaste. Os samaritanos estiveram quase sempre em guerra com os reis de Judá. Uma aversão profunda, desde a época da separação, perpetuou-se entre os dois povos, que evitavam qualquer relação entre si. Para aprofundar ainda mais a ci- são, e não terem de ir a Jerusalém para a celebração das festas religiosas, os samaritanos construíram um templo particular e adotaram algumas reformas: só admitiam o Pentateuco, que continha a lei de Moisés, e rejeitavam to- dos os demais livros que lhe foram anexados posteriormente. Seus livros sagrados eram escritos em caracteres hebraicos da mais remota antiguidade. Na opinião dos judeus ortodo- xos, eles eram hereges e, por isso, desprezados, execrados e perseguidos. A rivalidade entre as duas nações tinha, por- tanto, como único motivo a divergência de opinião religiosa, embora a crença de ambas tivesse a mesma origem. Eram os protestantes daquele tempo. Ainda hoje encontram-se samaritanos em algumas regi- ões do Oriente, particularmente em Nablus e em Jaffa. Eles seguem as leis de Moisés mais rigorosamente do que os ou- tros judeus, e só se casam entre si. Nazarenos: Nome dado, na época, aos judeus que faziam voto perpétuo, ou temporário, de manter-se em pureza abso- luta. Adotavam a castidade, a abstinência de bebidas alcoóli- cas e usavam cabelos longos. Sansão, Samuel e João Batista eram nazarenos. Mais tarde, os judeus deram esse nome aos primeiros cristãos, por alusão a Jesus de Nazaré. Esse foi também o nome de uma seita herética dos pri- meiros séculos da era cristã que, tal como a dos ebionitas, 1 de quem adotou alguns princípios, misturava práticas do mosaísmo aos dogmas cristãos. Essa seita desapareceu no século quatro. Publicanos: Eram assim chamados, na antiga Roma, os cavaleiros arrendatários das taxas públicas, encarregados da cobrança dos impostos e rendas de toda espécie, quer na própria Roma, quer em outros pontos do Império. Asseme- lhavam-se aos arrematantes de impostos gerais do antigo re- gime na França, tal como ainda existem em algumas regiões. Os riscos que corriam para realizar essa tarefa faziam com que as pessoas fechassem os olhos para as riquezas que eles adquiriam e que, em muitos casos, eram produto de cobran- ças indevidas e favores escandalosos. O termo publicano estendeu-se mais tarde a todos os que administravam o dinheiro público, e também aos seus agentes subalternos. Hoje, usa-se em sentido pejorativo para designar financistas e administradores pouco escrupulosos. Às vezes se diz: “Insaciável como um publicano; rico como um publicano”, com relação a quem possui uma fortuna mal adquirida. Durante a dominação romana, o que mais irritava os judeus era a cobrança de impostos. Como eles consideravam uma pratica contrária a lei, tinham dificuldade em aceitá-la, o que deu origem a várias revoltas e transformou-se numa questão religiosa. Formou-se então um partido forte, a cuja frente estava um certo Judá, conhecido como Gaulonita, que tinha por princípio a rejeição aos impostos. Por esse moti- vo, os judeus abominavam os encarregados de cobrá-los. Daí 1 Ebionita: Seita judaico-cristã que perdurou do século I ao IV e que professava a conservação da circuncisão e da celebração aos sábados, no cristianismo. Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Escola de Aprendizes do Evangelho - 8ª turma 18ª aula: Textos complementares GEAEL Transcrito do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec

Transcript of Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira · da mais remota antiguidade. Na opinião dos...

Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 1

III. Notas históricas

Para melhor compreender algumas passagens dos evan-gelhos, é preciso conhecer o significado de várias palavras que neles são empregadas repetidamente e que caracterizam a condição dos costumes e da sociedade judaica daquela épo-ca. Não tendo para nós a mesma acepção, essas palavras fo-ram muitas vezes mal interpretadas, dando margem a certas dúvidas. A compreensão exata do seu significado explica o sentido verdadeiro de determinadas máximas que, à primei-ra vista, parecem estranhas.

Samaritanos: Após a separação das dez tribos, a cida-de de Samaria passou a ser a capital do reino dissidente de Israel. Destruída e reconstruída várias vezes, foi, sob o Im-pério Romano, a sede política de Samaria, uma das quatro divisões da Palestina. Herodes, chamado “o Grande”, embe-lezou-a com monumentos suntuosos, e, para agradar a Au-gusto, imperador romano, deu-lhe o nome de Augusta, em grego Sebaste.

Os samaritanos estiveram quase sempre em guerra com os reis de Judá. Uma aversão profunda, desde a época da separação, perpetuou-se entre os dois povos, que evitavam qualquer relação entre si. Para aprofundar ainda mais a ci-são, e não terem de ir a Jerusalém para a celebração das festas religiosas, os samaritanos construíram um templo particular e adotaram algumas reformas: só admitiam o Pentateuco, que continha a lei de Moisés, e rejeitavam to-dos os demais livros que lhe foram anexados posteriormente. Seus livros sagrados eram escritos em caracteres hebraicos da mais remota antiguidade. Na opinião dos judeus ortodo-xos, eles eram hereges e, por isso, desprezados, execrados e perseguidos. A rivalidade entre as duas nações tinha, por-tanto, como único motivo a divergência de opinião religiosa, embora a crença de ambas tivesse a mesma origem. Eram os protestantes daquele tempo.

Ainda hoje encontram-se samaritanos em algumas regi-ões do Oriente, particularmente em Nablus e em Jaffa. Eles seguem as leis de Moisés mais rigorosamente do que os ou-tros judeus, e só se casam entre si.

Nazarenos: Nome dado, na época, aos judeus que faziam voto perpétuo, ou temporário, de manter-se em pureza abso-luta. Adotavam a castidade, a abstinência de bebidas alcoóli-cas e usavam cabelos longos. Sansão, Samuel e João Batista eram nazarenos. Mais tarde, os judeus deram esse nome aos primeiros cristãos, por alusão a Jesus de Nazaré.

Esse foi também o nome de uma seita herética dos pri-meiros séculos da era cristã que, tal como a dos ebionitas,1 de quem adotou alguns princípios, misturava práticas do mosaísmo aos dogmas cristãos. Essa seita desapareceu no século quatro.

Publicanos: Eram assim chamados, na antiga Roma, os cavaleiros arrendatários das taxas públicas, encarregados da cobrança dos impostos e rendas de toda espécie, quer na própria Roma, quer em outros pontos do Império. Asseme-lhavam-se aos arrematantes de impostos gerais do antigo re-gime na França, tal como ainda existem em algumas regiões. Os riscos que corriam para realizar essa tarefa faziam com que as pessoas fechassem os olhos para as riquezas que eles adquiriam e que, em muitos casos, eram produto de cobran-ças indevidas e favores escandalosos.

O termo publicano estendeu-se mais tarde a todos os que administravam o dinheiro público, e também aos seus agentes subalternos. Hoje, usa-se em sentido pejorativo para designar financistas e administradores pouco escrupulosos. Às vezes se diz: “Insaciável como um publicano; rico como um publicano”, com relação a quem possui uma fortuna mal adquirida.

Durante a dominação romana, o que mais irritava os judeus era a cobrança de impostos. Como eles consideravam uma pratica contrária a lei, tinham dificuldade em aceitá-la, o que deu origem a várias revoltas e transformou-se numa questão religiosa. Formou-se então um partido forte, a cuja frente estava um certo Judá, conhecido como Gaulonita, que tinha por princípio a rejeição aos impostos. Por esse moti-vo, os judeus abominavam os encarregados de cobrá-los. Daí 1 Ebionita: Seita judaico-cristã que perdurou do século I ao IV e que professava a conservação da circuncisão e da celebração aos sábados, no cristianismo.

Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de LimeiraEscola de Aprendizes do Evangelho - 8ª turma

18ª aula: Textos complementaresGEAEL

Transcrito do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec

2 18ª aula: As seitas nacionais

sua aversão aos publicanos, entre os quais encontravam-se pessoas muito dignas que, ainda assim, eram desprezadas, por desempenhar tais funções. Todos com quem elas se re-lacionavam eram englobados na mesma reprovação. Judeus honrados achavam que, ao ter intimidade com essas pessoas, estariam expondo sua reputação.

Portageiros: Eram cobradores de categoria mais infe-rior, encarregados principalmente da cobrança dos pedágios, na entrada das cidades. Suas funções correspondiam às dos agentes alfandegários e coletores dos postos fiscais. Geral-mente, partilhavam da mesma rejeição aplicada aos publica-nos. Essa é a razão pela qual frequentemente se encontra no Evangelho a palavra publicano ligada à expressão gente de má vida. Contudo, essa qualificação não significava devas-sos ou de moralidade duvidosa. Era apenas uma manifes-tação de desprezo, sinônimo de gente mal acompanhada, indigna de conviver com pessoas de bem.

Fariseus (do hebraico parasch, que significa divisão, se-paração): A tradição era uma parte importante da teologia judaica. Consistia numa coletânea de sucessivas interpreta-ções dadas ao sentido das Escrituras, e que haviam se trans-formado em artigos de dogma. Era motivo de intermináveis discussões entre os doutores, que, na maioria das vezes, apegavam-se mais a questões ligadas a simples palavras ou formas, assemelhando-se às disputas ideológicas e às sutile-zas da escolástica2 da Idade Média. Daí se originaram dife-rentes seitas, cada uma delas pretendendo deter o monopólio da verdade, e, como quase sempre acontece, detestavam-se cordialmente.

A mais influente dessas seitas era a dos fariseus, que teve por chefe Hillel, doutor judeu nascido na Babilônia, fun-dador de uma escola famosa onde se ensinava que se devia ter fé somente nas Escrituras. Sua origem remonta aos anos 180 ou 200 a.C. Os fariseus foram perseguidos em várias ocasiões, particularmente sob o domínio de Hircano, sumo pontífice e rei dos judeus, e Aristóbulo e Alexandre, reis da Síria. Como este último lhes restituiu as honrarias e bens, eles recuperaram o poderio, conservando-o até a ruína de Jerusalém, no ano 70 da era cristã, época em que desapare-ceram em consequência da dispersão dos judeus.

Os fariseus participavam ativamente das discussões re-ligiosas. Eram servis cumpridores das práticas exteriores do culto e das cerimônias; zelavam fervorosamente pelo ritua-lismo; posicionavam-se contra os inovadores, e dissimulavam uma grande severidade de princípios. Porém, sob a aparência de uma devoção meticulosa, ocultavam-se maus costumes, orgulho e, acima de tudo, um desmedido amor à dominação. A religião para eles era mais um meio de vencer na vida do que objeto de uma fé sincera. Possuíam apenas aparência e ostentação de virtude, mas, ainda assim, exerciam grande influência sobre o povo, a cujos olhos passavam por santas criaturas. Eis por que eram muito poderosos em Jerusalém.2 Escolástica: Segmento da filosofia medieval surgida da necessidade de res-ponder às exigências da fé ensinada pela Igreja, considerada guardiã dos valores espirituais e morais cristãos.

Acreditavam, ou pelo menos alardeavam acreditar, na Providência, na imortalidade da alma, na eternidade das pe-nas e na ressurreição dos mortos (Veja capítulo IV, número 4, desta obra). Jesus, que prezava acima de tudo pela simpli-cidade e pelas qualidades do coração, que, da Lei, preferia o espírito que vivifica à letra que mata, durante toda a Sua missão empenhou-Se em desmascarar-lhes a hipocrisia, ob-tendo entre eles, consequentemente, inimigos encarniçados. Foi por isso que os fariseus se uniram aos príncipes dos sa-cerdotes para amotinar o povo contra Jesus e crucificá-Lo.

Escribas: Nome dado, a princípio, aos secretários dos reis de Judá e a alguns intendentes dos exércitos judeus. Mais

Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 3

tarde, essa denominação foi aplicada especialmente aos doutores que ensinavam a lei de Moisés e a interpretavam para o povo. Assemelhavam-se aos fariseus, com quem partilhavam os mesmos prin-cípios, os interesses e a anti-patia pelos inovadores, moti-vo pelo qual Jesus os colocou na mesma reprovação.

Sinagoga (do grego sy-nagoge, que quer dizer as-sembléia, congregação): Na Judéia havia um único templo que ficava em Jerusalém. Era o Templo de Salomão, onde eram celebradas as grandes cerimônias do culto. Todos os anos, os judeus se dirigiam para lá em peregrinação, por ocasião de festas como a Pás-coa, a Consagração e os Taber-náculos. Foi nessas ocasiões que Jesus fez várias viagens a Jerusalém. As outras cidades não possuíam templos, mas sim sinagogas, que eram edifí-cios onde os judeus se reuniam aos sábados para fazer preces públicas, sob a direção dos an-ciãos, dos escribas ou doutores da lei. Lá se faziam também leituras extraídas dos livros sagra-dos, com explicações e comentários, cuja participação era aber-ta a todos. Por isso é que Jesus, sem ser sacerdote, ensinava nas sinagogas nos dias de sabádo.

A partir da ruína de Jerusalém e da dispersão dos ju-deus, as sinagogas das cidades onde passaram a morar ser-viam-lhes de templos para a celebração do culto.

Saduceus: Seguidores da seita judaica que se formou por volta do ano 248 a.C., assim denominada em homena-gem ao seu fundador, Sadoc. Os saduceus não acreditavam na imortalidade da alma nem na ressurreição, tampouco em anjos bons ou maus. No entanto, acreditavam em Deus. Mas, como nada esperavam depois da morte, só serviam a Ele com vistas a recompensas momentâneas, ao que acreditavam se limitar Sua providência. Assim, conforme achavam, a satis-fação dos sentidos era o objetivo essencial da vida. Quanto às Escrituras, atinham-se ao texto da lei antiga, não admitindo nem a tradição nem qualquer outra interpretação. Coloca-vam as boas obras e a execução pura e simples da lei acima das práticas exteriores do culto. Como se pode concluir, eram os materialistas, os deístas e os sensualistas da época. Era uma seita pouco numerosa, mas contava com figuras impor-

tantes, e transformou-se num partido político em constante oposição aos fa-riseus.

Essênios ou Esseus: Seita judaica fundada por volta de 150 a.C., do tem-po dos macabeus,3 e cujos membros, que habitavam espécies de mosteiros, formavam entre si um tipo de associa-ção moral e religiosa. Distinguiam-se por seus hábitos moderados e virtudes austeras; ensinavam o amor a Deus e ao próximo, a imortalidade da alma, e acreditavam na ressurreição. Viviam em celibato; condenavam a escravi-dão e a guerra; dispunham de seus bens em comunidade e se dedicavam à agricultura. Ao contrário dos sadu-ceus, que negavam a imortalidade da alma, e dos fariseus, rigorosos quan-to às práticas exteriores e cuja virtu-de era apenas aparente, os essênios nunca participaram das querelas que dividiram as outras duas seitas. Sua maneira de viver assemelhava-se à dos primeiros cristãos, e os princípios mo-rais que professavam fizeram com que algumas pessoas pensassem que Jesus teria sido membro dessa seita, antes do início de sua missão pública. O cer-to é que Jesus possivelmente a conhe-ceu, mas nada prova que foi filiado a ela, e tudo que se escreveu a esse res-

peito é mera suposição.4

Terapeutas (do grego therapeutaï, derivado de thera-peueïn, cujo significado é servir, cuidar, ou seja, servidores de Deus ou curadores): Judeus contemporâneos seguidres de Cristo, estabelecidos principalmente em Alexandria, no Egito, tinham muita afinidade com os essênios. Como estes últimos, consagravam-se à prática das virtudes. Preferiam uma alimentação completamente frugal; eram voltados ao celibato, à contemplação e à vida solitária, constituindo uma verdadeira ordem religiosa. Fílon, filósofo judeu seguidor de Platão, foi o primeiro a se referir aos terapeutas como membros de uma seita do judaísmo. Eusébio, São Jerônimo e outros representantes da Igreja achavam que eles eram cris-tãos. Quer tenham sido judeus ou cristãos, é evidente que, assim como os essênios, constituíram o traço de união entre o judaísmo e o cristianismo.

3 Macabeus: Seguidores do sumo sacerdote Matatias Macabeu, que reinou na Palestina de 142 a 63 a.C.4 A Morte de Jesus, supostamente escrita por um irmão essênio, é um livro abslutamente apócrifo, escrito com a finalidade de servir a um propósito, mas que encerra em si mesmo a prova de sua origem moderna.

4 18ª aula: As seitas nacionais

O que se pode transformar intimamente (VIII)Ney Pietro Peres — Manual Prático do EspíritaGEAEL

REMINISCÊNCIAS E TENDÊNCIAS

As tendências instintivas do homem sendo uma reminis-cência do seu passado, conclui-se que, pelo estudo dessas tendências, ele poderá conhecer as faltas que cometeu?Sem dúvida, até certo ponto, mas é necessário ter em conta a melhora que se possa ter operado no espirito e as resoluções que ele tomou no seu estado errante. A existência atual pode ser muito melhor que a precedente.

Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo VII. Retorno à vida corporal. pergunta 398.

Sendo as vicissitudes da vida corpórea, ao mesmo tempo, uma expiação das faltas passadas e provas para o futuro, segue-se que, da natureza dessas vicissitudes, possa indu-zir-se o gênero da existência anterior?— Muito freqüentemente, pois cada um é punido naquilo em que pecou. Entretanto, não se deve tirar disso uma regra absoluta; as tendências instintivas são um índice mais segu-ro, porque as provas que um espirito sofre, tanto se referem ao futuro quanto ao passado.

Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo VII. Retorno à vida corporal. pergunta 399.

De que modo poderemos compreender melhor alguns traços ou disposições que parecem ser natos em nosso com-portamento?

Certamente reconhecemos, por vezes, em nossa maneira de reagir, algumas manifestações que são típicas e que não temos nítida consciência do “porquê” de elas acontecerem in-controladamente.

Essas manifestações podem estar contidas num enorme quadro de configurações de nossas reações interiores, assim chamadas predisposições, tendências, inclinações, pendores, impulsos compulsivos, e estão estreitamente relacionadas com os nossos hábitos e vícios, erros e defeitos.

O princípio da reencarnação, um dos fundamentos do espiritismo, abre amplamente o entendimento dessas tendên-cias instintivas, que constituem grande parte da atividade mental do homem, de forma inconsciente, incontrolada, im-pulsiva, irresistível.

É muito grande o acervo de experiências marcantes que se gravaram em nosso espírito através das múltiplas reencar-nações passadas, e que constitui o material adquirido e ar-quivado nas suas camadas magnéticas sutis. Considerando-se a mente como nossa central geradora de forças, sediada no espírito, nela registram-se as impressões criadas nas experi-ências vividas em todas as épocas, de forma semelhante às trilhas magnéticas deixadas numa película plástica, ou como num computador, que reúne incontáveis informações que per-

manecem guardadas por um processo de memorização.1

Do mesmo modo, esses dados registrados na memória de certos aparelhos, quando indicam valores de carga acima ou abaixo de padrões estabelecidos, emitem sinais que vão provocar ações corretivas no complexo sistema de automa-tismos controladores, que podem regular o funcionamento de uma central abastecedora de energia elétrica, entre outros exemplos de aplicação. Ora, a nossa mente tem também o seu potencial de registro, de processamento e de resposta àquelas experiências vividas, que devem igualmente se acumular em microcamadas magnéticas sutis, inter-relacionadas, possivel‑mente em outras dimensões, capazes de reter sons, imagens, emoções, ideias. Do mesmo modo, quando essas emoções e ideias ferem e comprometem certos padrões estabelecidos pelas leis morais, que constituem as leis divinas, ainda é a própria mente que, atingida no supraconsciente por aquelas perturbações do seu equilíbrio, vai emitir respostas correti-vas em direção àqueles sulcos ou focos que permanecem em agitação enquanto não forem corrigidos: são os distúrbios, as desarmonias, distonias, inquietações, que a própria consci-ência guarda e acumula, superpondo no tempo os indeléveis registros carentes de renovação.

Aqueles pontos em desequilíbrio passam a comprome-ter o fluir normal das energias do espírito, criando tensões nas microcamadas magnéticas multidimensionais da mente, manifestando-se nas formas de aforamentos, de lampejos, de impulsos, que emergem das profundidades do inconsciente para o presente, de forma viva e atuante.

Para o espírito encarnado, condicionado ao novo equi-pamento orgânico e à atual programação reencarnatória, a lembrança daquelas experiências desagradáveis ficou mo-mentaneamente submersa, e ele não se recorda, portanto, das ocorrências propriamente, mas elas agem, pois são de sua propriedade e foi a sua própria consciência que as registrou para voluntária ou compulsoriamente corrigi‑las. Formam elas os processos e os conteúdos do nosso inconsciente e as suas manifestações acontecem de forma velada para o nosso consciente. Representam, assim, as reminiscências, que se ca-racterizam pelas tendências instintivas que trazemos.

Como poderemos, então, pelo conhecimento, no estudo e na análise dessas tendências, trabalhar voluntariamente para retificá-las, corrigindo os acontecimentos transgressores?

O prof. Carlos Toledo Rizzini, em seu livro Evolução para o Terceiro Milênio (Capítulo 5. Desequilíbrios. Enfermidades. Item 18. Impulsos; impulsos convulsivos), trata com detalhes

1 A memória de um computador, é a sua capacidade de processar, responder e guardar certo número de informações ou dados.O computador processa informações ou dados, através do recebimento de infor-mações e responde, emitindo os resultados.Porém, a “memória” do computador — para guardar dados — é externa ao aparelho, e se faz através de fitas, discos ou cartões.

Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 5

dos mecanismos de atuação dessas tendências instintivas que o mestre Kardec indagou aos espíritos, como indicativas das nossas faltas cometidas no passado (O Livro dos Espíritos. Pergunta 398). Diz-nos Carlos Rizzini (Parágrafo 2): impulso é um “estado de excitação do sistema nervoso central, que surge em resposta a um estímulo interno ou externo, o qual poderá ser uma pessoa, uma cena, uma conversa, uma pa-lavra, insultos, bebida etc.” e, assim, “originado por forças inconscientes, aparece, posto isso, na área do consciente”... “Inúmeras vezes não sabemos a que coisa o inconsciente re-agiu tão fortemente, a ponto de criar um impulso, que será sentido em forma de súbita emoção ou comando imperioso”.

O parágrafo 6 do já citado item 18, pela sua importância no objetivo de dilatar o entendimento pessoal para as mani-festações intempestivas do nosso ser, é transcrito abaixo:

Um impulso pode renascer muitas vezes, fazendo com que o sujeito sinta o choque emocional sem ter conhecimento consciente da situação desagradável que está representada em sua mente inconsciente. Ocorre, portanto, uma dissocia-ção entre a emoção sentida e as imagens correspondentes. Estas permanecem ignoradas, enquanto aquela se liberta diante do novo fato que serve de estímulo, e vem afetar o consciente. Nesse caso, a pessoa, diante de outra ou de algum acontecimento, sente-se invadida por imperioso impulso de agredir, ofender, fugir, tremer, gritar, calar-se etc., sem compreender a razão do que está se passando com ela, razão que jaz no inconsciente sob a forma de recorda-ção completa de um evento semelhante (ou equivalente), desta ou mais comumente de outra vida. O que sobe ao consciente, por obra do estímulo, é parte da energia ligada às lembranças, a qual vai desencadear o estado emotivo incompreendido.Mediante a exposição acima, compreende-se que, conforme as experiências gravadas no espírito, uma pessoa mante-nha-se calma diante de situações desagradáveis que envol-vam certos indivíduos, e profundamente irritada em face de outras sem importância, mas relacionadas com deter-minadas pessoas. E. g, o pai que não ouve o insulto de um filho e zanga-se com outro porque se atrasou cinco minutos para o jantar. Uns fatos atingem porções sensibilizadas do inconsciente (ou agitam certos conteúdos dele), e outros não encontram ressonância ali.

Diante dos vários estímulos que — no convívio com fa-miliares, colegas de trabalho e pessoas em sociedade — po-dem desencadear os impulsos decorrentes de ódios, vingan-ças, orgulho ferido, inveja, ciúmes, personalismo, intolerân-cias, impaciências, urdidos do passado, temos duas opções: 1ª o perdão que corrige o desequilíbrio provocado na própria consciência e harmoniza o espírito com as leis divinas; e 2ª a repetição do erro, que intensifica e agrava a transgressão, mantendo-nos infelizes e presos a resgates compulsórios em novas experiências, nessa ou em outra existência.

Essas tendências que trazemos de nascença, refletem a nossa realidade espiritual, estão ligadas à nossa história evo-lutiva, encerram a verdade que cada um traz dentro de si mes-mo, no hoje, no agora, e que pode manifestar-se a qualquer instante, basta apenas haver um incentivo, uma provocação.

Desse modo, a observação, o estudo, a análise desse nosso mundo de tantas ce-nas passadas, que se escon-de no inconsciente, e que apenas se deixa conhecer pelos lampejos de nossos impulsos, são os meios que temos para desvendar nos-sos pontos fracos, que pos-sivelmente vêm se repetindo de existência em existência, e com os quais temos lutado, procurando melhorar nesse pla-no e, quando na Espiritualidade, pelas resoluções tomadas de renovação.

André Luiz diz-nos ainda que os citados impulsos são fa-cilmente superexcitados por estímulos constantes produzidos por espíritos desencarnados, cujas emissões mentais são idên-ticas às do encarnado que perseguem. Apresentamos, quase sempre, resquícios de nossas fraquezas ainda não superadas, oferecendo pasto fácil aos atentos inspetores invisíveis do mal que, inteligentemente, recorrem às nossas antigas debilidades para torpedear nossa resistência, induzindo-nos de forma en-volvente, hipnótica, a repetir as mesmas reações que estamos assim a elas predispostos.

E nem sequer nos damos conta disso. Quando perce-bemos, já cometemos as mesmas intemperanças e novos es-forços empenhamos para não repeti-las. Trazemos também, para a presente vida, certas inclinações de repetir hábitos e necessidades alimentados numa vida anterior mal conduzi-da, tais como os costumes de beber, fumar, comer demasiado, jogar, cometer gastos supérfluos e exageros no vestir, irresis-tível atração pelo sexo oposto, comodismo ocioso, preguiça, conquista de prestígio social, desejo de domínio, aquisição de riqueza, aumento de propriedades etc.

De alguma forma somos testados, até sem saber, nas re-soluções que tomamos quando na Erraticidade e na melhora que possamos ter operado no nosso espírito, ao defrontar-mo-nos com semelhantes experiências na presente vida. A correção, retificação do erro, ou o reequiíbrio de nossa consci-ência, não se realiza apenas com bons propósitos. É necessá-rio dar provas, isto é, ao passar pelas mesmas ocorrências do ontem distante, refrear os nossos impulsos retrógrados com a luz do entendimento e transformá-los em impulsos evolutivos que nos libertam a alma.

É muito suave, reconfortante e tranqüilizador o que sen-timos ao superar uma má inclinação, um impulso de rancor, de irritação, um hábito desagradável, uma deficiência de con-duta, um defeito moral, um vício ou costume. É como se fos-semos fortalecidos e agraciados dentro de nós mesmos por uma batalha vencida, uma conquista realizada.

Esse conteúdo emocional robustece o nosso espírito e amplia nossa consciência, equilibra nossas energias e restau-ra, nas camadas profundas do inconsciente, a saúde mental. Recuperamos nosso bem-estar e ampliamos nossa capacida-de de amar.

6 18ª aula: As seitas nacionais

Quando você distribui incondicionalmente seu amor e sua com‑preensão, eles lhe serão devolvidos multiplicados. Quando você distribui crítica e negatividade, elas também lhe serão devolvidas multiplicadas. Aquilo que está no seu interior reflete no seu ex‑terior. É impossível esconder seu descontentamento, desagrado ou infelicidade, porque mais cedo ou mais tarde eles irão inchar como uma pústula que terá que ser lancetada. Quanto antes o veneno se dispersar, melhor, e a melhor maneira de conseguir isso é mudando toda sua atitude. Substitua estes pensamentos ve‑nenosos, negativos, críticos, por pensamentos do mais puro amor, harmonia e compreensão. E isto pode e deve ser feito o quanto antes. Você não precisa ficar chafurdando na sua própria infeli‑cidade e depressão e nem deve perder tempo com auto‑piedade. Quando você quiser fazer algo a respeito da sua condição, faça‑o imediatamente. Mudanças podem acontecer num piscar de olhos.

Abrido Portas InterioresEillen Caddy

TRIOM

Recebemos dons para dois tipos de trabalhos: o trabalho físico e o trabalho espiritual.Precisamos do dom material para nos manter e manter aqueles que dependem de nós e do dom espiritual para nos elevar e servir.O trabalho físico ou espiritual em exaustão leva‑nos à doença. Que cada um faça sua parte com amor.Vocês vieram em busca de conhecimento e estão aptos ao trabalho.Recebem muito amor e carinho e se espera que sejam merecedores.Reflitam sobre o que fazem e se estão fazendo tudo que está ao seu alcance.

Orientação recebida no trabalho de vibrações de 15/4/2010, dirigida a todos os voluntários.

PER GUN TA: — Como será a vida na Terra, depois de higie ni za da?

RAMATÍS: — A huma ni da de ter re na do ter cei ro milê nio deve rá ser cons ti tuí da dos espí ri tos que forem sele-cio na dos no “Juízo Final” até o fim deste sécu lo, com preen-den do as cria tu ras fra ter nas, hones tas, aves sas à guer ra, à cruel da de, à mal da de, suma men te devo ta das às coi sas espi ri tuais, cujo “carma” se apre sen te de modo mais favo-rá vel a per mi tir a vida em um mundo melhor.

Em face de a Terra ver ti ca li zar-se, na pró xi ma ele-va ção do seu eixo dar-se-á melhor ajus te entre as suas esta ções, resul tan do disso esta bi li da de do clima, pre do mi-nan do as fases da pri ma ve ra e do outo no. Isso favo re ce rá a eli mi na ção de res fria dos, gri pes, bron qui tes, pneu mo nias e todas as molés tias pecu lia res ao sis te ma res pi ra tó rio, con-se qüen tes de osci la ções vio len tas da atmos fe ra.

Embo ra ainda devam mani fes tar-se na Terra outros tipos de enfer mi da des comuns ao homem, estas serão pro ve nien tes do sis te ma ner vo so em par ti cu lar, poden do ser cura das com êxito pelos pro ces sos da psi co te ra pia e cro mo te ra pêu ti ca. A huma ni da de do ter cei ro milê nio, não obs tan te ser ainda neces si ta da do tra ba lho árduo e con tí nuo, pode rá dedi car maior soma de tempo à Arte, à Ciên cia, à Filo so fia e, prin ci pal men te, ao estu do dis ci pli-na do dos ensi na men tos da Alta Espi ri tua li da de. Pode rá con tro lar per fei ta men te os efei tos do clima e pôr em prá-ti ca extraor di ná rios sis te mas de domí nio das for ças da Natu re za.

Majes to sas civi li za ções desen vol ver-se-ão nos atuais pólos, gozan do a ple ni tu de de um ambien te está vel e aco-lhe dor, livre das como ções geo ló gi cas extre mis tas e das intem pé ries que sur preen dem a lavou ra e aba tem o ânimo do tra ba lha dor. Mui tos sonhos e ideais ele va dos já serão pos sí veis de con cre ti zar-se nesse breve por vir do vosso globo, pois, embo ra seja ainda um mundo imper fei to, deve-rá gozar das cre den ciais de uma esfe ra em vias de se tor nar mora da supe rior!

Mensagens do AstralRamatís / Hercílio Maes

Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 7

9. A prece é uma invocação. Ao recitá-la, entramos em contato, por pensamento, com o ser a quem nos dirigimos. Ela pode ter por objetivo um pedido, um agradecimento ou um louvor. Podemos orar por nós mesmos, por outras pesso-as, pelos vivos e pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas por espíritos encarregados da execução da vontade de nosso Pai, e as que são dirigidas aos bons espíritos são repor-tadas a Deus. Quando oramos a outros seres, e não diretamen-te a Deus, estes são apenas intermediários que intercedem por nós, pois nada se pode fazer sem a vontade de Deus.

10. O espiritismo nos permite compreender a atuação da prece, ao explicar como se efetua a transmissão do pensa-mento, quer o ser invocado atenda ao nosso apelo, quer nosso pensamento chegue até ele. Para compreendermos como isso acontece, precisamos imaginar todos os seres, encarnados e desencarnados, mergulhados no fluido universal que ocupa o Espaço, tal como nós, aqui na Terra, estamos envolvidos pela atmosfera. Esse fluido recebe um impulso da vontade; ele é o transmissor do pensamento, como o ar é o condutor do som, com a diferença de que as vibrações do ar têm um alcan-ce limitado, ao passo que as do fluido universal estendem-se ao Infinito. Por isso, quando o pensamento é dirigido a um determinado ser, seja na Terra ou no Espaço, de encarnado a desencarnado ou de desencarnado a encarnado, uma cor-rente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo o pensamento entre eles, como o ar transmite o som.

A intensidade dessa corrente de fluidos é proporcional à força do pensamento e da vontade de quem ora. É dessa forma que os espíritos ouvem a prece, estejam eles onde es-tiverem. É assim que eles se comunicam entre si e que nos transmitem suas sugestões. É assim também que estabele-cem, à distância, relações entre os encarnados.

Essa explicação é destinada, sobretudo, àqueles que não conseguem compreender a utilidade puramente espiritual da prece. Ela não tem como objetivo atribuir um valor material à oração; ao contrário, pretende fazer com que seus efeitos sejam compreendidos por quem ora, mostrando que a prece pode ter uma ação direta e efetiva, subordinada sempre à vontade de Deus, Juiz Supremo de todas as coisas, o único que pode tornar sua ação eficaz.

11. Pela prece, o homem atrai a ajuda dos bons espíritos, que vêm apoiá-lo em suas boas decisões e sugerir-lhe bons pensamentos. Com isso, ele adquire a força moral necessária para vencer as dificuldades e voltar ao bom caminho, se dele se afastou, e pode também desviar de si os males que poderia atrair por suas próprias faltas. Um homem, por exemplo, que vê sua saúde debilitada pelos excessos que cometeu, e car-rega até o fim de seus dias uma vida de sofrimentos, terá o

direito de queixar-se, se não obtiver a cura? Não, pois pode-ria ter encontrado na prece forças para resistir às tentações.

12. Se dividirmos os males da vida em duas partes, uma contendo o que o homem não pode evitar, e a outra com as amarguras de que ele próprio é o principal causador, em razão de sua negligência e de seus excessos (Veja capítulo V, número 4, desta obra), constataremos que a quantidade destas últimas supera em muito a da primeira. É mais do que evidente, então, que o homem é o responsável pela maior parte de suas aflições, das quais se livraria se agisse sempre com sensatez e prudência.

É certo também que essas misérias são o resultado de nossa desobediência às leis de Deus, e que, se as respeitásse-mos rigorosamente, seríamos completamente felizes. Se não ultrapassássemos o limite do indispensável para satisfazer nossas necessidades, não teríamos as doenças que são con-sequência de excessos, nem os transtornos que se originam dessas enfermidades. Se estabelecêssemos limites à nossa ambição, não teríamos a ruína. Se não pretendêssemos subir mais alto do que podemos, não teríamos medo das quedas. Se fôssemos humildes, não sofreríamos as decepções do or-gulho ferido. Se praticássemos a Lei da Caridade, não sería-mos maledicentes, nem invejosos, nem ciumentos, e evitaría-mos as discussões e os desentendimentos. Se não fizéssemos mal a ninguém, não teríamos as vinganças.

Quanto aos outros males, admitamos que o homem nada possa fazer, e que toda prece seja inútil para livrar-se de-les. Já não seria o bastante ver-se livre de todos os males decorrentes de sua própria conduta? Ora, aqui percebe-se facilmente a ação da prece, pois sua finalidade é invocar a inspiração salutar dos bons espíritos; pedir-lhes forças para resistir aos maus pensamentos, que, se colocados em prática, podem nos ser desastrosos. Nesse caso, não é o mal que eles afastam. Nós é que somos afastados do pensamento que poderá causar o mal. Os espíritos não interferem nos de-sígnios de Deus, nem interrompem o curso das leis da na-tureza, apenas impedem que desrespeitemos essas leis, ao orientarem o nosso livre-arbítrio. Eles agem desse modo, sem que percebamos, para não condicionar a nossa vontade. O homem se acha, então, na posição daquele que pede bons conselhos e os coloca em prática, mas continua livre para segui-los ou não. Deus quer que assim seja, para que ele seja responsável pelos próprios atos, e para deixar-lhe o mérito da escolha entre o bem e o mal. É isso que se obtém sempre, quando ora-se com fervor. É nesse caso que se pode aplicar as seguintes palavras: “Pedi e obtereis”.

A eficácia da prece, mesmo reduzida a essa proporção, não traria um resultado considerável? Estava reservado ao espiritismo provar sua ação, revelando-nos as relações exis-

O Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo 27, “Pedis e obtereis” Allan Kardec

Ação da prece. Transmissão do pensamento

8 18ª aula: As seitas nacionais

tentes entre o mundo material e o mundo espiritual. Mas os efeitos da prece não se limitam somente a isso. Ela é re-comendada por todos os espíritos. Renunciar à prece é me-nosprezar a bondade de Deus; é recusar para si mesmo a assistência de um Pai Maior, e negar aos outros o bem que lhes poderia ser feito.

13. Ao atender um pedido, muitas vezes Deus quer re-compensar a intenção, o devotamento e a fé daquele que ora. Por isso, aos olhos de Deus, a prece do homem de bem tem sempre mais mérito e eficácia, pois o homem vicioso e mau não consegue orar com o fervor e a confiança que são atri-butos exclusivos do sentimento de verdadeira piedade. Do coração do egoísta, ou melhor, daquele que ora da boca para fora, saem somente palavras, e não os sentimentos de carida-de que dão à prece toda a sua força. Percebe-se isso tão bem, que instintivamente muitos preferem pedir a outras pessoas, cuja conduta é agradável a Deus, que orem por eles, achando que serão atendidos mais depressa.

14. Se a oração exerce uma espécie de ação magnética, podemos pensar que seu efeito está subordinado a esse mag-netismo. Mas decididamente não é isso o que acontece. Como os espíritos têm condições de exercer essa ação magnética so-bre os homens, eles suprem, quando necessário, a carência daquele que ora, seja agindo diretamente em seu nome, seja dando-lhe momentaneamente uma força excepcional, se o consideram digno dessa ajuda, ou quando essa ação lhe possa ser proveitosa.

O homem que não se julga suficientemente bom para exercer uma influência salutar não deve deixar de orar por outro, achando que não é digno de ser atendido. O reconhe-cimento da própria inferioridade é sempre uma prova de humildade agradável a Deus, que leva em consideração a intenção caridosa que o anima. Seu fervor e sua confiança em Deus são um primeiro passo para o retorno ao bem, e os bons espíritos se alegram por encorajá-lo. A prece que não é ouvida é a do orgulhoso, que confia no seu poder e nos seus méritos, e que se acha superior aos desígnios do Eterno.

15. O poder da prece está no pensamento. Ela não de-pende das palavras, nem do lugar, nem do momento em que se ora. Pode-se orar em qualquer lugar e a qualquer hora, so-zinho ou em grupo. A influência do lugar ou do tempo limita-se às circunstâncias que possam favorecer o recolhimento. A prece em grupo tem uma ação mais poderosa quando todos os que oram se unem de coração, em torno do mes-mo pensamento, e têm o mesmo objetivo, pois é como se muitos clamassem juntos e a uma só voz. Mas, de que vale muitas pessoas se reunirem para orar, se cada uma age isola-damente e por conta própria? Cem pessoas reunidas podem orar como egoístas, enquanto duas ou três, ligadas por um ideal comum, orarão como verdadeiros irmãos em Deus, e sua prece terá mais força do que a das outras cem pessoas. (Veja capítulo XXVIII, números 4 e 5, desta obra).

Prece de Cáritas

Deus todo poderoso, que sois todo Poder e Bondade,

dai a força àquele que passa pela provação,dai a luz àquele que procura a verdade;

ponde no coração do homem a compaixão e a caridade.

Deus!Dai ao viajor a estrela guia,ao aflito a consolação, ao doente o repouso.

Pai!Dai ao culpado o arrependimento, ao espírito a verdade,à criança o guia, ao órfão o pai.

Senhor!Que a vossa bondade se estendasobre tudo o que criastes.

Piedade, senhor, para aqueles que vos não conhecem;esperança para aqueles que sofrem.

Que vossa bondade permita aos Espíritosconsoladores derramempor toda a parte a paz, a esperança e a fé.

Deus!Um raio, uma faísca do vosso amor pode abrasar a Terra;

deixai-nos beber nas fontes dessa bondade fecunda e infinita,e todas as lágrimas secarão, todas as dores se acalmarão.

Um só coração, um só pensamento subirá até Vós,como um grito de reconhecimento e amor.

Como Moisés sobre a montanha,nós vos esperamos com os braços abertos,Ó poder!Ó bondade!Ó Beleza!Ó perfeição!

e queremos, de alguma sorte, alcançar vossa misericórdia.

Deus!Dai-nos a força de ajudar o progresso,a fim de subirmos até Vós;

dai-nos a caridade pura;dai-nos a fé e a razão;dai-nos a simplicidade que fará das nossas almaso espelho onde deve se refletir vossa imagem.

Que assim seja!

Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 9

A miséria por falta de dinheiro é a menos dolorosa.Vovó Benta

Nhô Benedito, fumegando seu “pito” e batendo o pé ao som do ponto cantado, atendia os filhos de fé, aconselhando e magiando, fazendo a sua caridade naquele terreiro que o acolhia através de um médium.

O camboninho Juju, curioso como ele só, gostava de escutar as histórias, tanto dos consulentes quanto dos pretos velhos, não para repassá-las adiante, pois acima de tudo tinha ética e disciplina em seu trabalho, mas para seu próprio aprendizado.

Naquela noite veio ter com o preto velho uma mãe desesperada, pelo filho que havia se perdido nas drogas. O preto velho escutou-a, mandingou e, em nível astral, tomou suas providências junto a outros espíritos para que a ajuda ao menino fosse dada, dentro dos limites da Lei. Sabia ele que não seria fácil ajudar o necessitado, escravizado não só ao vício, mas principalmente a várias entidades trevosas, às quais se ligava por questões não resolvidas num passado distante. Aconselhou a mãe a não perder a fé em Deus, a orar muito e principalmente a não abandonar seu menino, pois ele era, antes de tudo, um doente que precisava de ajuda.

Por fim, solicitou que ela buscasse auxílio numa clínica para dependentes químicos que havia na cidade e que era dirigida por uma comunidade evangélica. Tanto a mãe quan-to o camboninho estranharam a atitude do preto velho, pois ali era uma casa de umbanda, e justamente um preto velho encaminhar alguém para a cura num local evangélico!

No final dos atendimentos da noite, Nhô Benedito solici-tou a licença do dirigente do local e se manifestou para escla-recer aos filhos da corrente mediúnica sobre a grandeza do trabalho na caridade, quando este não é revestido por discri-

minação religiosa. Falou dos tantos filhos de Deus que nunca frequenta-ram um templo religioso, mas que, muito mais do que os que o fazem, contribuíam com sua luz e auxílio fraterno para aju-dar o próximo. E o faziam por des-prendimento e amor incondicio-nal, e não por obri-gação religiosa.

Ao encerrar,

como era de costume, contou-lhes uma história real, colhida em suas andanças na caminhada evolutiva:

Não muito longe daqui, conheci Maria. Moça de bem, embora não se encai-xasse em nenhuma religião, seguia os preceitos evangé-licos de Jesus. De família humilde, procurava sempre resolver as questões difíceis da vida por meio de sua apu-rada intuição, recebida após as orações, em que falava com Deus.No caminho do trabalho, Maria deparou-se com um adoles-cente que, cambaleante, parecia visivelmente alterado pela droga. Com vestes sujas e pés descalços, arrastava uma peça de roupa que trazia nas mãos. Seu coração se encheu de misericórdia e sentiu vontade de abraçar o menino, se isso fosse possível. De imediato, pensou em como ele deveria estar triste, alienado, sem rumo... De seus olhos as lágri-mas brotaram e, nesse momento, não podendo fazer mais nada, orou. Pediu a Deus que enviasse algum anjo bom que socorresse aquela criaturinha e que aliviasse sua dor, pois era visível seu sofrimento.Maria fez isso com tanta compaixão que, mesmo sem per-ceber ou acreditar que fosse possível, acionou energias que, através de ondas, se movimentaram como um telégrafo com endereço certo. A moça seguiu seu caminho, mas enquanto isso falanges de espíritos trabalhadores da luz, recebendo o pedido de socorro e aproveitando a energia de amor gerada por ela, encontraram o menino, que era acompanhado por uma turba de espíritos viciados e aproveitadores, embriagados pela droga, que na sua parte etérica era por eles aproveitada. O ambiente ao seu redor era degradante, malcheiroso e ene-grecido. Além da deformação de alguns órgãos de seu corpo energético, afetados pela droga, os espíritos a ele ligados como vampiros mais pareciam espectros humanos.Mesmo os desencarnados não conseguiam perceber a pre-sença dos socorristas espirituais, tal era a densidade energé-tica que os separava. Aproveitando-se disso, um trabalhador da egrégora dos exus, acostumado a lidar com esse tipo de espírito nas faixas mais densas do planeta, usando de uma espécie de spray, adormeceu os desencarnados e os retirou cuidadosamente, desfazendo a ligação quase simbiótica com o rapaz e entregando-os aos auxiliares, que os conduziriam a um hospital no plano astral, pois também eram doentes necessitados de cura.No plano físico, embora totalmente drogado, o menino se ressentiu com a retirada dos “amigos” de seu campo ener-gético e cambaleou, caindo desmaiado. Aproveitando-se da situação favorável, pois nesse estado o agregado espiritual afrouxa e desloca-se ligeiramente, alguns dos médicos espi-rituais ali presentes realizaram ligeira limpeza, na tentativa de reanimá-lo. Seus centros de forças foram higienizados e terapeutizados com os amálgamas que já faziam parte

A miséria humana e o valor da compaixão

10 18ª aula: As seitas nacionais

CompaixãoEmmanuel

dos primeiros socorros da equipe. Passes magnéticos foram aplicados ao longo de sua coluna vertebral e em seu centro nervoso, dinamizando energias ali deixadas pelos minúscu-los companheirinhos elementais da natureza. Dois guardiões foram destacados para protegê-lo energeti-camente de possíveis aproveitadores, até que acordasse. E, assim que retornou à consciência, sentiu-se relativamente bem, coisa que há muito não sabia mais o que era. Levantou-se e sentiu vontade de voltar para casa, pois tinha sede, fome e queria um banho, intuído que estava pela ajuda recebida.Ao deitar-se naquela noite, sentindo a cama macia e limpa, Maria não pôde deixar de lembrar do menino que tanto a emocionara durante o dia. Rezou por ele, desejando que alguém o ajudasse a sair daquela vida. E assim o fez repe-tidas noites, deixando que o amor emanasse de seu coração e o alcançasse nessa hora. Como nada fica sem resposta no Cosmo, as orações de Maria alcançavam seu objetivo e em poucos dias o menino, após ter sido atropelado na rua, foi acolhido numa instituição evangélica de recuperação de dro-gados e alcoólatras. E lá a oração de Maria chegava todos os dias em forma de alento e força, dando meios para que a espiritualidade que ali atuava pudesse auxiliá-lo de maneira mais ostensiva. Era matéria de primeira linha, pois se trata-va do mais sublime dos sentimentos: o amor desinteressado e incondicional.Aos poucos, ele foi se recuperando e, após longo tempo de internato, optou por trabalhar no próprio local, ganhando

seu sustento e auxiliando os outros companheiros. Nunca soube quem o ajudara realmente e, mesmo na sua difi-culdade de raciocínio, resultado deixado pelas drogas, ele não se esquecia de agradecer a Deus por ter sido atropelado um dia.Então, meus filhos, este velho espírito quer deixar bem claro a todos vocês que aproveitem este exemplo e nunca deixem de auxiliar, nunca deixem de orar pelos que sofrem, pois não podem imaginar o bem que estarão fazendo. Nunca julguem merecimento pela aparência. Nunca se esquivem de ajudar, pois o Universo inteiro se movimenta quando empreendem sua vontade. E se lhes faltarem outras condições, lembrem-se de que podem ajudar, mesmo em pensamento e sem esforço algum. Esqueçam rótulos religiosos, apenas usem o amor e a vontade.O que deixa este velho espírito feliz ao visitar o plano terre-no é o fato de saber que se existem misérias que degradam o ser humano, existem também corações cujas energias crísticas enriquecem de bênçãos o planeta.

Pai Benedito despediu-se da corrente mediúnica e seguiu seu rumo, deixando a todos pensativos e, a muitos, com a consciência um tanto pesada.

Enquanto DormesVovó Benta / Leni W. Saviscky

Editora do ConhECimEnto

Quando te ergueres em prece ao coração augusto e misericordioso do Pai Celestial, não ovides que ao redor de teus passos, ecoam as súplicas de milhões de seres implorando‑te compaixão.

Anota‑lhes o tom de expectativa e de angústia e não desdenhes auxiliar.

Aprende a guardar na acústica do própria alma a essência divina do amor infatigável para que a paciência e o sorriso te ensinem a recolher, sem alarde e sem queixa, todos os impactos do alheio sofrimento.

Veste, cada dia, a túnica do entendimento e encontrarás, por toda parte, a ignorância e a penúria rogando‑te amparo e compreensão.

Observarás a dor de mil faces, estendendo‑te as mãos, à procura da migalha de fraternidade e carinho.

Aqui, mascara‑se na forma de delinquência naqueles que não tiveram as tuas oportunidades de educação, adiante, surge na roupa espinhosa do desespero a que se acolhem os companheiros em provas amargas.Ali, aparece‑te com a fantasia da ilusão em todos os que não se apercebem da sua condição de usufrutuários da Terra, e, mais além destaca‑se nas chagas de aflição dos que despertam sob as responsabilidades do ouro e do poder.

Seja com quem for e seja onde for, compadece‑te e ampara sempre.

Observa que a própria Natureza, em todos os lugares, é um apelo vivo à tua misericórdia para que a vida alcance os fins a que se destina.

A terra seca roga‑te a benção da água refrescante para que te possa doar os talentos do pão e da alegria; a árvore clama por teu devotamento a fim de produzir quanto deve em teu próprio benefício e o fruto verde espera por teu carinho, para não perecer em sua expectativa de maturação.

Age e caminha, trabalha e serve, inspirando‑te na compaixão que deves a todas as criaturas.

Perdoa mil vezes, antes de reprovar uma só e penetrarás os altos segredos do bem.

Recordemos em quantas ocasiões necessitamos da compaixão do próximo para sanar os nossos erros e fazendo pelo bem dos outros aquilo que desejamos dos outros na preservação de nossa própria felicidade, avançaremos na vanguarda de luz sob o amparo de Deus, cuja Infinita Bondade, encerra em nosso favor todas as bençãos da compaixão imperecível.

Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica (8ª turma/GEAEL) 11

As mesAs girAntesNova História do Espiritismo

Dalmo Duque dos SantosEditora do ConhECimEnto

Um relato publicado na Revista Espírita,1 em outubro de 1865, é um exemplo claro de como a mediunidade passou a fazer parte do cotidiano das pessoas.

O sr. Delanne, que muitos dos nossos leitores já conhecem, tem um filho de oito anos. Esse menino, que a cada instante ouve falar do espiritismo em sua família, e que muitas vezes assiste às reuniões dirigidas por seu pai e sua mãe, assim cedo se viu iniciado à doutrina e surpreende pela justeza com que raciocina os seus princípios. Isso nada tem de sur-preendente, pois é apenas o eco das idéias com que foi emba-lado. Mas não é o objetivo deste artigo: é apenas a entrada na matéria do fato que vamos relatar e que tem cabida nas circunstâncias atuais.As reuniões do sr. Delanne são graves, sérias e conduzidas com uma ordem perfeita, como devem ser todas aquelas nas quais se quer colher frutos.(...) O filho do sr. Delanne muitas vezes se associava a essas manifestações e, influenciado pelo bom exemplo, as conside-ra como coisa séria.Um dia ele se achava em casa de uma pessoa de seu conhe-cimento e brincava no pátio da casa com sua priminha, de cinco anos, dois meninos, um de sete, outro de quatro anos. A senhora que morava no rés-do-chão os convidou a entrar em sua casa e lhes deu bombons. As crianças, como se pode imaginar, não se fizeram rogadas.A senhora perguntou ao filho do sr. Delanne: — Como te chamas, meu filho?– Eu me chamo Gabriel, senhora.– Que faz teu pai?– Senhora, meu pai é espírita.– Não conheço esta profissão.– Mas, senhora, não é uma profissão; meu pai não é pago para isto; ele o faz com desinteresse e para fazer o bem aos homens.– Meu rapazinho, não sei o que queres dizer.– Como! Jamais ouvistes falar das mesas girantes?– Então, meu amigo, bem gostaria que teu pai estivesse aqui para as fazer girar.– É inútil, senhora, eu tenho, eu mesmo o poder de as fazer girar.– Então queres experimentar e me fazer ver como se pro-cede?– De boa vontade, senhora.

Dito isto ele senta ao pé da mesinha da sala e faz sentar-se os seus três camaradinhas; e eis os quatro gravemente pondo as mãos em cima. Gabriel fez uma evocação, em tom muito sério e com recolhimento. Apenas terminou, para grande estupefação da senhora e das crianças a mesa ergueu-se e bateu com força.— Perguntais, senhora, quem vem responder pela mesa.A vizinha interroga e a mesa soletra as palavras: teu pai. A senhora empalidece de emoção. E continua:

1 Volume 10, página 312. Edicel.

— Então, meu pai, podes dizer se devo mandar a carta que acabo de escrever?– A mesa responde: Sim, sem dúvida.– Para me provar que és tu, meu bom pai, que estás aí, podias dizer há quantos anos estás morto?– Logo a mesa bate oito pancadas bem acentuadas. Era justo o número de anos.– Podias dizer teu nome e o da cidade onde morreste?– A mesa soletra os dois nomes.As lágrimas jorraram dos olhos daquela senhora, que não pôde mais continuar, aterrada por esta revelação e domina-da pela emoção.Seguramente este fato desafia toda suspeita de preparação do instrumento, de idéia preconcebida e de charlatanismo. Também não se pode pôr os dois nomes soletrados à conta do acaso. Duvidamos muito que essa senhora tivesse recebido uma tal impressão numa das sessões dos srs. Davemport, ou qualquer outra do mesmo gênero. Aliás, não é a primeira vez que a mediunidade se revela em crianças, na intimidade das famílias. Não é a realização daquela palavra profética: Vossos filhos e filhas profetizarão (Atos dos Apóstolos, II – 17).

Gabriel Delanne.

12 18ª aula: As seitas nacionais

Transcrito do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec

22. O primeiro ato de toda criatura humana, que deve marcar o seu retorno à atividade diária, é a prece. Quase todos oram; mas pou-cos sabem orar. Que importância tem para Deus as frases encadeadas, umas às outras, automaticamente, só por uma questão de hábito, ou por uma mera obrigação a ser cumprida, e que vos aborrece?

A prece do cristão, do espírita, ou de qualquer outro culto, deve ser feita ao acordar, ou melhor, logo que o espírito tenha retornado ao cativeiro do corpo, após o sono. Deve elevar-se aos pés da Divina Ma-jestade com humildade e sinceridade, num impulso de reconhecimen-to por todos os benefícios recebidos; pela noite que passou, durante a qual vos foi permitido, embora inconscientemente, reencontrar vossos amigos, vossos guias, para renovar, ao contato com eles, vossas forças e a confiança. Vossa prece deve elevar-se humilde aos pés do Senhor, para confessar-Lhe vossa fragilidade, suplicar amparo, indulgência e misericórdia. Ela deve ser intensa, pois é vossa alma que deve elevar-se em direção ao Criador, transfigurando-se como Jesus o fez no monte Tabor,1 e chegar a Deus radiante de amor e de esperança.

Vossa prece deve conter o pedido das graças de que necessitais verdadeiramente. É inútil, pois, pedir ao Senhor que abrevie vossas provas, que vos dê alegrias e riquezas. Pedi a Ele que vos conceda bens mais preciosos, como a paciência, a resignação e a fé. Não digais, como muitos dentre vós: “Não vale a pena orar, já que Deus não me atende”. Tendes lembrado de Lhe pedir o vosso aperfeiçoamento moral? Não! Pouquíssimas vezes pedis isso. Contudo, estais sempre pedindo o su-cesso em vossos negócios terrenos, e frequentemente vos lamentais: “Deus não se preocupa conosco. Se se preocupasse, não haveria tantas

injustiças”. Insensatos! Ingratos! Se mergulhásseis no fundo de vossa consciência, quase sempre encontraríeis em vós mesmos o ponto de partida dos males dos quais vos lamentais. Pedi, então, antes de qualquer coisa, o vosso aperfeiçoamento, e vereis que torrente de graças e consolações se derramarão sobre vós. (Veja capítulo V, número 4, desta obra).

Deveis orar sempre, sem que para isso preciseis vos recolher ao oratório ou ajoelhar-vos em lugares públicos. A prece diária é o complemento de todos os vossos deveres, sem exceção, sejam eles de que natureza forem. Não é uma prova de amor para com o Senhor ajudar vossos irmãos numa necessidade qualquer, seja ela moral ou física? Não é um ato de reconhecimento elevar o vosso pensamento a Deus, quando algo de bom vos acontece, quando um acidente é evitado, quando uma contrariedade vos atinge de leve? Portanto, deveis dizer sempre: “Bendito sejas, meu Pai!”. Quando sentirdes que errastes, ainda que só por um breve pensamento, não é um ato de arrependimento vos humilhar diante do Supremo Juiz, dizendo-lhe: “Perdoai-me, meu Deus, porque pequei por orgulho, por egoísmo ou por falta de misericórdia. Dai-me forças para não voltar a errar, e coragem para reparar meu erro”?

Deveis proceder dessa maneira, independentemente das preces regulares da manhã, da noi-te e dos dias consagrados. Como vedes, a prece pode ser feita a qualquer momento, sem causar interrupção em vossos trabalhos. Assim recitada, a prece os santificará. Podeis crer que um único pensamento que parte do coração é mais ouvido por nosso Pai celestial do que as longas preces ditas por hábito, muitas vezes sem um motivo específico, das quais vos lembrais auto-maticamente, em hora convencional. (V. MoNod, Bordéus, 1862).

1 Monte Tabor: Situado na região da Judéia, onde Jesus transfigurou-se diante de Pedro, João e Tiago.

Que a vossa bondade se estenda sobre tudo o que criastes.

Instruções dos espírItos