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1 GRUPOS DE ARTISTAS NA CIDADE DE SÃO PAULO Um estudo de caso do Cordão Folclórico de Itaquera Sucatas Ambulantes Edson Martins Moraes 1 RESUMO: Este artigo é resultado de um estudo de caso que analisa o “Cordão Folclórico de Itaquera Sucatas Ambulantes”. Temas como a cultura popular, o hibridismo cultural, os coletivos de arte e a importância de intervir no espaço público estão presentes nos conteúdos desse trabalho. Destacam-se as políticas públicas na área da cultura como fundamentais para a criação estética, consciência crítica, ocupação do espaço público e articulação com a comunidade de uma determinada região. PALAVRAS-CHAVE: Cultura Popular Culturas Híbridas Folclore Espaço Público Políticas Públicas Culturais INTRODUÇÃO A proposta de escrever sobre os temas cultura popular, hibridismo cultural e ocupação de espaços públicos na metrópole traz à tona os referenciais teóricos e as atuações práticas que estão diretamente relacionadas ao meu cotidiano profissional. Trabalho no Sesc em São Paulo com produções culturais/artísticas e ações sócio- educativas. Em vista disso, o pensamento que desenvolvo diariamente nas construções do meu trabalho são postos em prática no Centro de Pesquisa e Formação 2 . É nesse chão que eu tenho a oportunidade de idealizar cursos e palestras nos campos da cultura e das linguagens artísticas, contratar professores, participar de pesquisas e grupos de estudos 3 , mediar debates, orientar alunos durante o Trabalho de Conclusão do Curso Sesc de 1 Mestre em Artes Visuais (UNESP). Atua há 20 anos no Sesc em São Paulo. Compõe a equipe da Unidade Centro de Pesquisa e Formação tendo por atribuição o desenvolvimento de cursos de curta duração, orientação de trabalhos acadêmicos, pesquisas e acompanhamento do Curso Sesc de Gestão Cultural. [email protected] 2 O Centro de Pesquisa e Formação é uma das 35 Unidades do Sesc no Estado de São Paulo. Implantado em agosto de 2012, tem nas suas competências e atribuições de seus profissionais a construção de um espaço de articulação e disseminação de conhecimentos específicos envolvendo a qualificação de gestores culturais. 3 Por iniciativa da equipe do Centro de Pesquisa e Formação foi criado um grupo de pesquisa que estuda as Culturas Híbridas, esse grupo é conduzido pelo Professor Doutor Walter de Souza Junior da Escola de Comunicações e Artes/USP.

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GRUPOS DE ARTISTAS NA CIDADE DE SÃO PAULO Um estudo de caso do Cordão Folclórico de Itaquera –

Sucatas Ambulantes

Edson Martins Moraes1

RESUMO: Este artigo é resultado de um estudo de caso que analisa o “Cordão Folclórico de Itaquera – Sucatas Ambulantes”. Temas como a cultura popular, o hibridismo cultural, os coletivos de arte e a importância de intervir no espaço público estão presentes nos conteúdos desse trabalho. Destacam-se as políticas públicas na área da cultura como fundamentais para a criação estética, consciência crítica, ocupação do espaço público e articulação com a comunidade de uma determinada região.

PALAVRAS-CHAVE: Cultura Popular – Culturas Híbridas – Folclore – Espaço Público –

Políticas Públicas Culturais

INTRODUÇÃO

A proposta de escrever sobre os temas cultura popular, hibridismo cultural e

ocupação de espaços públicos na metrópole traz à tona os referenciais teóricos e as

atuações práticas que estão diretamente relacionadas ao meu cotidiano profissional.

Trabalho no Sesc em São Paulo com produções culturais/artísticas e ações sócio-

educativas. Em vista disso, o pensamento que desenvolvo diariamente nas construções do

meu trabalho são postos em prática no Centro de Pesquisa e Formação2. É nesse chão

que eu tenho a oportunidade de idealizar cursos e palestras nos campos da cultura e das

linguagens artísticas, contratar professores, participar de pesquisas e grupos de estudos3,

mediar debates, orientar alunos durante o Trabalho de Conclusão do Curso Sesc de

1Mestre em Artes Visuais (UNESP). Atua há 20 anos no Sesc em São Paulo. Compõe a equipe da Unidade Centro de

Pesquisa e Formação tendo por atribuição o desenvolvimento de cursos de curta duração, orientação de trabalhos

acadêmicos, pesquisas e acompanhamento do Curso Sesc de Gestão Cultural. [email protected] 2 O Centro de Pesquisa e Formação é uma das 35 Unidades do Sesc no Estado de São Paulo. Implantado em agosto de

2012, tem nas suas competências e atribuições de seus profissionais a construção de um espaço de articulação e

disseminação de conhecimentos específicos envolvendo a qualificação de gestores culturais. 3 Por iniciativa da equipe do Centro de Pesquisa e Formação foi criado um grupo de pesquisa que estuda as Culturas

Híbridas, esse grupo é conduzido pelo Professor Doutor Walter de Souza Junior da Escola de Comunicações e

Artes/USP.

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Gestão Cultural e, por conseguinte relatar minhas experiências na forma de artigos,

ensaios e aulas. Acrescento também aos conteúdos desse trabalho a minha condição de

público, de alguém que busca compreender ou apenas sentir certas propostas artísticas

estruturadas em manifestações da cultura popular na cidade de São Paulo as quais

possuem por característica a fusão de linguagens.

Vou apresentar alguns apontamentos sobre o “Cordão Folclórico de Itaquera -

Sucatas Ambulantes4”, um grupo de artistas que atua na periferia da cidade de São Paulo

tendo a cultura popular como substrato para suas pesquisas e produções – em especial o

samba de bumbo e a confecção de bonecos feitos a partir da técnica de papietagem5 e

reaproveitamento de materiais recicláveis. O grupo está abrigado no Ponto de Cultura

Humaitá6, local de articulação com a comunidade e outros coletivos, idealização de

projetos e realização de oficinas de percussão e criação de bonecos. O Ponto de Cultura

Núcleo Sócio-educativo Humaitá também abriga mais cinco coletivos, a Cia Porto de

Luanda, Coletivo Arte pela Vida, Nós por nós, Baobá: cursinho popular, ZL Canal Cultural,

sendo um local que converge suas ações para o campo da cultura popular reconhecendo e

intensificando as produções culturais de grupos e comunidades, por meio de uma gestão

afetiva, colaborativa, de respeito à diversidade e que reconhece os atores sociais.

Esses artistas junto com a comunidade saem num cordão7 pelas ruas do bairro de

Itaquera, também são convidados a participarem das programações de instituições

culturais e festas populares, recebem financiamento público por meio do VAI - Programa de

4 Informações sobre o “Cordão Folclórico de Itaquera – Sucatas Ambulantes podem ser encontradas na página da internet,

endereço: <http://sucatasambulantes.wordpress.com/> . 5 Papietagem é uma técnica artesanal utilizada na confecção de máscaras e esculturas consiste na utilização de papel

recortado e cola. 6 O Núcleo Sociocultural Humaitá é uma rede de formação e pesquisa com foco principal nas culturas populares e no

potencial emancipador dessas linguagens. Constitui-se hoje como um Ponto de Cultura. A Prefeitura da Cidade de São

Paulo aderiu, pela primeira vez, ao programa Cultura Viva, criado em 2004 no âmbito federal. Os Pontos de Cultura são o

eixo principal do Programa Cultura Viva, implementado pelo Ministério da Cultura entre 2004 e 2005. A ideia do

programa é valorizar e apoiar as iniciativas culturais da comunidade, reconhecendo o protagonismo dos cidadãos e

cidadãs que produzem cultura em suas regiões. 7 Os cordões tiveram origem nos ternos, nos Reis Magos, eram acompanhados do som dos bumbos, com batida profunda

e cadenciada, o surdo vem do Rio de Janeiro e é incorporado na transição dos cordões para as escolas de samba, tornando

o samba mais agudo e mais apressado. (Von Simson, 2014).

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Valorização de Iniciativas Culturais da prefeitura da cidade de São Paulo8. O VAI surgiu

para ter os grupos de jovens como protagonistas de ações socioculturais coletivas e busca

conceder alguma manutenção aos projetos dos grupos e a continuidade das pesquisas. O

edital do Programa Vai não menciona a linguagem artística que o grupo terá que

desenvolver no projeto, o que colabora para a realização de propostas híbridas. No atual

momento o grupo, com o financiamento do VAI 2, elabora uma publicação chamada de

“Almanaque do fruto a Raiz”, obra de referência que traz conceitos e informações sobre a

cultura popular brasileira. Com isso o grupo apresenta à comunidade uma forma direta de

mediação do próprio trabalho. O grupo destina à comunidade palestras, cursos e oficinas

artísticas gratuitas que implicam na formação de público para suas ações.

Os tópicos desse artigo que eu considero representativos para outras situações

semelhantes9 são:

Por que esse grupo trabalha com a cultura popular em uma cidade como a de

São Paulo?

Quais os cruzamentos culturais presentes na proposta do grupo?

A ocupação do espaço público realizada pelo “Cordão Folclórico de Itaquera –

Sucatas Ambulantes” tem algum sentido de transformação social?

Por meio dessas questões também quero enfatizar a importância dos coletivos de

arte10 para a cidade, para as experiências estéticas das pessoas e para o fortalecimento de

políticas culturais.

8 O Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais - VAI, foi criado pela lei 13540 (de autoria do vereador Nabil

Bonduki) e regulamentado pelo decreto 43823/2003, com a finalidade de apoiar financeiramente, por meio de

subsídio, atividades artístico-culturais, principalmente de jovens de baixa renda e de regiões do Município

desprovidas de recursos e equipamentos culturais. <http://programavai.blogspot.com.br/p/sobre-o-vai.html> Em 16 de

outubro de 2013, projeto de lei 453/2010, também criado pelo vereador Nabil Bonduki, amplia o programa VAI –

Valorização de Iniciativas Culturais, sendo chamado de VAI 2. 9 Refiro-me diretamente à metodologia de Estudo de Caso. Presentes nos estudos de LUDKE, M. e ANDRE, M..

Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU. 1986. 98p. 10

Para uma reflexão sobre o termo coletivo de arte consultar: MESQUITA, André. Insurgências Poéticas : Arte Ativista

e Ação Coletiva. 1 ed.. São Paulo : Annablume/Fapesp, 2011. Livro.

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A cultura popular

O nome “Cordão Folclórico de Itaquera - Sucatas Ambulantes” traz consigo o

idealismo romântico presente na palavra folclore. De acordo com Ayala (2003, p.9) esse

termo “[...] é aplicado, em geral, com sentido pejorativo: o que é risível, o que não deve ser

levado a sério”. O artista Antônio Nóbrega (2004, p.34) compartilha dessa ideia. Para ele

“[...] a palavra folclore presta um desserviço à compreensão do que seja realmente a

cultura popular, porque é uma palavra na qual se cristalizou um significado pejorativo”. Por

certo, o “Cordão Folclórico de Itaquera - Sucatas Ambulantes” realiza suas ações

ressaltando significado da palavra folclore à luz dos folcloristas que nos falam desses

saberes como sendo um conjunto de conhecimentos que o mundo oferece

espontaneamente, os quais remetem ao imaginário de seres mitológicos, ao contato direto

com a natureza, com a agricultura, com a criação de animais, supertições, crendices,

culinária, as formas domésticas de tratar as doenças, a criatividade na utilização de

materiais e a livre aceitação11.

Não há como negar a importância dos conceitos que orbitam o termo folclore e as

representações existentes na memória e no dia a dia de indivíduos e dos grupos sociais.

Tanto o termo folclore quanto o termo cultura popular possuem nos seus significados a

essência dos saberes sensíveis do cotidiano, das relações humanas, dos valores

transmitidos por meio da oralidade que passam de indivíduo para indivíduo atingindo

grupos pequenos ou uma coletividade.

A cultura popular e o folclore são desdobramentos existentes no conceito de cultura,

compreendido pelo o antropólogo Gilberto Velho (2003. p. 64) como divisões necessárias

para “[...] identificar um conjunto de fenômenos socioculturais que possa ser diferenciado e

contrastado com outros conjuntos também denominados culturas”. É desse modo que o

meu pensamento segue nessa análise, visto que a cultura popular e o folclore são divisões

11 O grupo assume-se como folclórico tendo como referência a obra do folclorista Luiz da Câmara.

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da palavra cultura e estão expostas aqui para efeito de estudo. Por certo, sou conduzido a

pensar cultura à luz do geografo Milton Santos (2007, p.81), “A cultura é o que nos dá

consciência de pertencer a um grupo, do qual é o cimento”, e também conforme o artista

Gilberto Gil (2003 p.10), no seu discurso de posse para o exercício de Ministro da Cultura

do Brasil.

Não existe "folclore" o que existe é cultura. Cultura como tudo aquilo que, no uso de qualquer coisa, se manifesta para além do mero valor de uso. Cultura como aquilo que, em cada objeto que produzimos, transcende o meramente técnico. Cultura como usina de símbolos de um povo. Cultura como conjunto de signos de cada comunidade e de toda a nação. Cultura como o sentido de nossos atos, a soma de nossos gestos, o senso de nossos jeitos.

No caso da cultura popular existem dois aspectos que nos ajudam na complexidade

desse termo: “O primeiro refere-se, em geral, a aspectos da tecnologia (técnicas de

trabalho, procedimento de cura etc) e de conhecimento do universo. O segundo enfatiza as

formas artísticas de expressão como literatura oral, música, teatro, artes plásticas etc.”

(ARANTES, 1983, p.8).

Por conseguinte a arte popular pode ser descrita pelos aspectos da ancestralidade

ou o conhecimento transmitido de geração para geração; do arcaísmo, que denota uma

motivação mística vista em figuras antropomórficas; e a permanência característica de uma

arte fixada em uma determinada região, na qual o artista popular idealiza a sua obra de

acordo com o universo temático de sua gente e utiliza instrumentos concedidos pela

natureza que está ao seu redor (ARAUJO, 2000, p.36). Essas características da arte

popular fazem a existência do “Cordão Folclórico de Itaquera - Sucatas Ambulantes”. Os

fundamentos para os projetos estão nos mestres do samba de bumbo, na comunidade, na

importância do território, na utilização materiais recicláveis e nas figuras antropomórficas

confeccionadas para desfilar no bairro. O grupo propõe um tipo de manifestação artística

[...] produzida pela classe trabalhadora ou por artistas que representam seus interesses e objetivos, põe toda a sua tônica no consumo não mercantil, na utilidade prazerosa e produtiva dos objetos que cria, não em sua originalidade ou no lucro que resulte da venda. (CANCLINI, 1984, p.50)

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Assim sendo, o grupo na sua produção destaca a cultura de uma das regiões da

cidade, os desejos das pessoas que habitam um território, uma estética própria que se

contrapõe à cultura de massa que, de acordo com geógrafo Milton Santos (2000, p.143),

está cada vez mais num “[...] empenho vertical, unificador, homogeneizador, conduzido por

um mercado cego, indiferente às heranças e às realidades atuais dos lugares e das

sociedades.”

Para Nestor Garcia Canclini (1983, p.135) “[...] o popular não deve por nós ser

apontado como um conjunto de objetos (peças de artesanato ou danças indígenas), mas,

sim, como uma posição e uma prática”, que possibilite à todos os envolvidos o acesso aos

bens simbólicos, não apenas na contemplação, mas também nas inúmeras situações

imponderáveis que o exercício do fazer artístico proporciona.

Para que um obra ou um objeto sejam populares não importa tanto seu lugar de nascimento (uma comunidade indígena ou uma escola de música) nem a presença ou a ausência de signos folclóricos (a rusticidade ou a imagem de um Deus pré-colombiano), mas a utilização que os setores populares fazem deles. (CANCLINI, 1983, p.138)

Coerente com esse pensamento as ações socioculturais do “Cordão Folclórico de

Itaquera - Sucatas Ambulantes” nos apresentam uma estética idealizada de acordo com a

história dos moradores, recursos de materiais recicláveis do próprio bairro e realidade

social de seus produtores que não sucumbem aos apelos comerciais e exercitam as suas

criações híbridas no campo da cultura popular.

A cultura híbrida

O “Cordão Folclórico de Itaquera - Sucatas Ambulantes” favorece estudos sobre o

hibridismo ao apresentar nas suas produções cruzamentos culturais sobrepostos entre a

música, o teatro, a dança, o erudito, o popular, a cultura urbana, a cultura regional, o

entrelaçamento de vertentes do samba de bumbo e de manifestações da cultura popular

que se fazem presentes em diversas regiões do Brasil. Canclini (2003, p.19) entende por

hibridação: “[...] processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas que

existiam de forma separada se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas”.

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As propostas desse grupo são validas, também, para estudo comparativo com

outros coletivos de arte que se expressam na metrópole por meio da cultura popular e não

exaltam a cultura tradicional como sendo de propriedade do povo. Pelo contrário, instigam

a análise e a decantação de processos que mostram os percursos históricos de

determinadas expressões culturais:

Seria possível avançar mais o conhecimento da cultura e do popular se abandonasse a preocupação sanitária em distinguir o que teriam a arte e o artesanato de puro e não contaminado e se os estudássemos a partir das incertezas que provocam seus cruzamentos. (CANCLINI, 2003, p.245).

As referências da cultura popular que sustentam os projetos do “Cordão Folclórico

de Itaquera: Sucatas Ambulantes” estão alicerçadas no samba de bumbo12 da cidade de

São Luis do Paraitinga, em especial o Grupo Folclórico Cultural Vovô da Serra Japi,

também o Samba do Cururuquara da cidade de Santana do Parnaíba13 é inspirador ao

grupo. Os tambores confeccionados pelo grupo estão presentes em rituais religiosos, foram

transpostos da áfrica para a Península Ibérica e resignificados por todas as regiões do

Brasil. Já os bonecos que seguem nos cortejos fazem alusão ao Cordão dos Bichos14,

originário das festas na Amazônia e que foram trazidos por migrantes nortistas para a

cidade de Tatuí no interior de São Paulo. É essencial destacar que as transformações das

transformações ocorrem no âmbito sociocultural , demarcando outra estética, não

necessariamente nova.

12 O samba de bumbo teve diferentes denominações de acordo com a época e com a localidade em que ocorria. Assim, os

termos encontrados designando a manifestação são: simplesmente “samba”, “samba campineiro”, “samba antigo”,

“samba de terreiro”, “samba de umbigada”, “samba caipira”, “samba lenço”, “samba de Pirapora”, ou “samba paulista”. 13

Referências históricas sobre o samba de bumbo podem ser encontradas na dissertação de mestrado do pesquisador

Marcelo Simon Manzatti, Samba Paulista, do centro cafeeiro à periferia do centro: estudo sobre o Samba de Bumbo ou

Samba Rural Paulista. 14

O folclorista Luiz da Câmara Cascudo descreve no Dicionário do Folclore Brasileiro as possíveis origens do “Cordão

dos Bichos” da cidade de Tatuí, interior do Estado de São Paulo <www.tatuifacil.com.br/cordaodosbichos/>

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Às vezes, isso ocorre de modo não planejado ou é resultado imprevisto dos processos migratórios, turísticos e de intercâmbio econômico ou comunicacional. Mas frequentemente a hibridação surge da criatividade individual e coletiva. Não só nas artes, mas também na vida cotidiana e no desenvolvimento tecnológico. (CANCLINI, 2003, p. 22).

Os resultados desses intercâmbios culturais no meio urbano geram experiências

estéticas, acontecimentos relevantes e territórios ocupados pelas práticas exercidas por

coletivos de artistas.

A ocupação do espaço público na metrópole

A cidade de São Paulo e outras metrópoles configuram-se como um espaço

geográfico de consumo, intenso, heterogênio, institucional e de prestação de serviços onde

se concentram um grande número de indivíduos fadados à automação. Como nos mostra

Milton Santos (2006) no filme Encontro com Milton Santos ou o mundo global visto do lado

de cá:

A crise da cidade hoje, ela não apenas reflete como resume todas as outras crises do nosso tempo – a crise econômica, a crise financeira, a crise cultural, a crise moral, a crise política – diríamos que essa crise urbana se define porque a cidade já não presta para o grande capital, sobretudo, e já não presta para o homem. Ela (a cidade) inviabilizou o capital que exige que a cidade esteja sempre a se reformular, e isso é feito com dinheiro público. E porque isso é feito com dinheiro público os Estados não dispõe de recursos para atender as populações e a cidade se torna por isso mesmo inviável para o homem. É evidente que essa crise existe em Nova York, como em Londres, como em Paris, mas é diferente nos países desenvolvidos e subdesenvolvidos, porque nos países desenvolvidos há uma dispersão maior das acumulações, enquanto que nos países subdesenvolvidos os elementos de vida da sociedade se concentram em certos pontos privilegiados como resultado do modelo econômico e político. Esse é o caso do Brasil. Eu diria que o nosso modelo econômico e político ele se baseou exatamente na violência e na expropriação legalizada das possibilidades inclusive a de trabalho...

No entanto, mais do que tudo, são as cidades campos de práticas políticas

atribuídas por moradores e artistas que ocupam os espaços públicos dando-lhes novos

significados, os quais subvertem a ordem estabelecida.

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Esse trabalho evidencia as qualificações do espaço público quando nele existem

ocupações feitas por indivíduos e grupos sociais que se encontram em seus territórios, em

suas comunidades, em locais propícios à politização e ao pertencimento. São nesses

lugares socialmente construídos que grupos de artistas acabam exaltando o potencial

humano, os sentimentos, as atitudes, as tradições. São nesses espaços urbanos que as

coisas acontecem, são nesses ambientes de convivência que os grupos colocam em

prática seus projetos estabelecendo relações com a metrópole. Como nos destaca

Bourriaud (2009, p.66) “Os objetos e as instituições, o emprego do tempo e as obras são,

ao mesmo tempo, resultados das relações urbanas – pois concretizam o trabalho social – e

produtores de relações, pois organizam modos de sociabilidade e regulam os encontros

humanos”.

Dentre os grupos sociais que qualificam e fazem uso do espaço público estão os

coletivos de arte e por consequência uma das formas mais importantes de mediação

(aquela que possui a presença do artista demonstrando o seu processo de trabalho), o

ineditismo na concepção de obras criadas para o espaço, fusões de linguagens e festejos

que salientam a cultura popular.

Em vista disso, os coletivos de arte fazem emergir de uma comunidade indivíduos

questionadores, inserem o bairro e o cidadão nas programações culturais da cidade e

colocam-se, por meio de suas produções, no contraponto dos interesses econômicos que

buscam formar consumidores. De fato as propostas dos grupos de artistas criam “(...)

relações entre as pessoas e o mundo por intermédio de objetos estéticos”. (BOURRIAUD,

2009, p.59).

As críticas ao sistema capitalista, ao neoliberalismo, às leis de mercado e às

injustiças sociais evidentes no bairro, na cidade, no país são temas presentes nos

projetos artísticos desses coletivos. Por motivos ideológicos e posicionamentos políticos,

esses coletivos não submetem seus projetos aos departamentos de marketing da

iniciativa privada. Em poucas palavras as ações propostas não se sustentam pelos meios

mercadológicos e necessitam das políticas culturais propostas pelo Estado.

Assim, na constante busca de financiamento público para a realização de projetos

artísticos os coletivos de arte colocam nas pautas de reuniões estratégias para a

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obtenção de recursos providos de editais como os Programas VAI 1, VAI 2, Lei de

Fomento ao Teatro, Lei Rouanet15, Proac16, Pontos de Cultura17, dentre outros.

Os grupos de artistas se organizam numa articulação permanente com os gestores

dos equipamentos públicos, com as subprefeituras, com as Casas de Cultura, com os

conselheiros participativos, com os fóruns coletivos artísticos, com militantes da cultura,

poderes locais enfim com todas as possibilidades que possam tornar o projeto cultural

sustentável. Essa articulação depende dos agentes que estão à frente de processos de

ocupações de territórios.

Foi o que ocorreu na primeira década dos anos 2000, os movimentos artísticos

cresceram na periferia da cidade de São Paulo e independentes de espaços institucionais

ganharam corpo e visibilidade nos bares que abrigam saraus; nos cinemas em praças,

escadarias e lajes; nas ocupações de prédios abandonados18; nos murais e nos grafites19;

nas garagens; nas ruas e parques.

Uma das hipóteses para o crescimento de coletivos de arte e manifestações

artísticas, principalmente na periferia da cidade de São Paulo, está na descrença nas

ações políticas partidárias e nas organizações não governamentais20. Não por acaso, as

pessoas com projetos de ações culturais na cidade possuem nas suas práticas artísticas

temas sobre as questões sociais, interações que são capazes de alterar as precariedades

do dia a dia e as mórbidas paisagens das metrópoles.

15 Ver o site < http://www2.cultura.gov.br/site/categoria/apoio-a-projetos/mecanismos-de-apoio-do-minc/lei-rouanet-

mecanismos-de-apoio-do-minc-apoio-a-projetos>. 16

Programa de Ação Cultural, Lei nº 12.268 de 20/02/06, tem por objetivo: apoiar e patrocinar a renovação, o

intercâmbio, a divulgação e a produção artística e cultural no Estado; preservar e difundir o patrimônio cultural

material e imaterial do Estado; apoiar pesquisas e projetos de formação cultural, bem como a diversidade cultural;

apoiar e patrocinar a preservação e a expansão dos espaços de circulação da produção cultural.

<http://www.cultura.sp.gov.br/portal/site/SEC/menuitem>. 17

Os pontos de cultura fazem parte do Programa Cultura Viva, na cidade de São Paulo atuam em parceria com a Cultura

e a Secretaria Municipal de Cultura e as Organizações sem Fins Lucrativos. Visam ações de impacto socioculturais.

<http://programavai.blogspot.com.br/>. 18

Refiro-me aos espaços culturais alternativos que surgiram no final da década de 90. Dentre eles os saraus,(ex:

Cooperifa e Sarau do Binho), os coletivos de cinema (ex: cinema na escadaria, cinema no campinho, cinema na laje),

grupos de teatro que ocuparam prédios abandonados (ex: Sacolão das artes e Instituto Pombas Urbanas). 19

O JAMAC - Jardim Miriam Arte Clube é uma associação sem fins lucrativos, formada por artistas e moradores do

bairro Jardim Miriam. Surge a partir do projeto Paredes Pinturas desenvolvido pela artista plástica Mônica Nador. 20

Pensamento colocado para debate durante o curso Cultura e periferia, mapeamentos de produções artísticas. Curso

ministrado pelo pesquisador Tiaraju Pablo D’Andrea, no Centro de Pesquisa e Formação do Sesc em São Paulo, período

de 26/06/2014 a 17/07/2014.

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Projetos de cultura popular como no caso do “Cordão Folclórico de Itaquera –

Sucatas Ambulantes” estimulam a memória ao serem inseridos no território urbano, no

cotidiano, nas relações, nos conflitos sociais e nas circunstâncias das condições de vida

das pessoas.

Conclusão

Apesar das limitações impostas pela baixa oferta de políticas públicas culturais e da

imposição de uma cultura massificada, os coletivos de arte tem realizado projetos de

ocupação de territórios e construindo suas próprias representações com base nos valores

simbólicos que estão presentes na conversa de bar, no futebol de várzea, na quermesse da

igreja, na roda de samba, na capoeira, no movimento hip hop, nas formas de cantar e

dançar o funk, na escola de samba, enfim, nos lugares de encontro entre artistas e

moradores. Esse contato com a realidade local torna-se matéria prima para a construção

de projetos e movimentos artísticos que se multiplicam na cidade de São Paulo.

Assim como os muitos coletivos de arte que atuam na cidade de São Paulo o

“Cordão Folclórico de Itaquera – Sucatas Ambulantes” faz oposição aos sistemas de

produção massificada. Suas atuações revertem a ordem de que uma manifestação artística

é validada por críticos, intelectuais e instituições. Nesses casos, a produção cultural

evidencia os conteúdos simbólicos com o aval da própria comunidade que se faz

representada.

Ao referenciar as expressões artísticas de caráter popular e intercâmbios culturais o

grupo nos ajuda na construção de conhecimentos e traz para aqueles que participam a

confiança de pertencer a algum lugar. Esses artistas distanciam-se de ações individuais

porque possuem sinergias e afetividades nas suas formas de organização, as quais são

propositoras de elementos estéticos surgidos da relação dialética entre o grupo e o público

que vivencia as propostas artísticas. Nesse modo, são capazes de transformar as relações

das pessoas com a cidade, sendo também produtores e mediadores engendrados pelas

suas próprias escolhas artísticas e na amplitude de sua difusão. Os resultados desses

trabalhos importam à medida que servem às necessidades coletivas.

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Esse estudo permite destacar a importância dos financiamentos públicos de fomento

à cultura. O diálogo entre o poder público – Secretaria Municipal de Cultura por meio dos

seus representantes e os coletivos de arte da cidade de São Paulo – geram

transformações nos territórios fomentados. Em virtude do Programa para a Valorização de

Iniciativas Culturais – VAI e Pontos de Cultura é possível constatar algumas

transformações impactantes na vida dos moradores da cidade, principalmente, das regiões

mais distantes do centro, como por exemplo: o acesso ao conhecimento por meio da

participação direta entre artistas/mediadores e público, o trabalho com redes coletivas e

colaborativas, o desenvolvimento de sistemas de produção cultural singulares, as novas

ofertas para o consumo cultural, a compreensão do sentido de pertencer a um grupo social

e um lugar, a qualificação do espaço urbano e o desenvolvimento de conteúdos inéditos no

campo da gestão cultural.

Nesses tempos em que a vida fictícia da publicidade e do jornalismo melodramático

misturam-se com a vida real e por consequência altera as nossas percepções é preciso

pesquisar, analisar e discutir a importância dos coletivos de arte em uma cidade como a de

São Paulo, para que o Estado possa compreender que a criação de projetos culturais

legitimados pela comunidade está muito além do mero entretenimento ou formas de

apaziguar a nossa sociedade.

De fato, o “Cordão Folclórico de Itaquera - Sucatas Ambulantes” contrapõe-se à

sociedade do espetáculo21, aos valores decompostos pelo sistema econômico, ao efêmero,

ao consumo e à fragmentação cultural22; nos adverte sobre os nossos sentidos e nos

impedem de aceitar a automação imposta pelo mundo contemporâneo.

21 Refiro-me diretamente as 221 teses da obra “A Sociedade do Espetáculo” escrita por Guy Debord que nos dizem sobre

a realidade construída com espetáculos direcionados para a apaziguar e manter a ordem social. 22

Por opção encerro esse trabalho com a referência de um vídeo disponível no projeto Fronteiras do Pensamento

<http://www.fronteiras.com/o-projeto> no qual o sociólogo Zygmunt Bauman analisa temas recorrentes na sua obra

como as questões de manipulação que colocam indivíduos à disposição do consumo visando a manutenção da economia e

a fragmentação da experiência ética da alteridade. <http://www.fronteiras.com/entrevistas/vivemos-o-fim-do-

futuroreferenciando>

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DVD

ENCONTRO com Milton Santos ou o mundo global visto do lado de cá. Direção: Silvio

Tendler, Rio de Janeiro: Caliban Produções Cinematográficas, 2006, DVD, 89 min.

colorido.

Periódico

CAROS AMIGOS. Editora Casa Amarela, Jan. v.7, n.82, 2004, p.37. [entrevista com o

artista Antônio Nóbrega]

Áudios

CICLO DESDE QUE O SAMBA É SAMBA 2014, São Paulo, Centro de Pesquisa e

Formação do Sesc. Palestra Olga von Simsan: O samba paulista e suas estórias.

CULTURA E PERIFERIA, MAPEAMENTOS DE PRODUÇÕES ARTÍSTICAS 2014, São

Paulo, Centro de Pesquisa e Formação do Sesc. Curso ministrado pelo pesquisador Tiaraju

Pablo D’Andrea. Período de 26/06/2014 a 17/07/2014.