Limites comunicacionais da arte Encontro “Arte e Local”- 12 de Junho 2011 Francisco Palma
Águas: Fluxos comunicacionais e 'sedimentos'...
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Águas: Fluxos Comunicacionais e “Sedimentos” Culturais
Tribuna de Agua – Semana Temática 8
Agua y Sociedad
EXPO Zaragoza Luísa Schmidt
Agosto de 2008 ICSUL
Articulação entre Água, Cultura e Comunicação Social a três níveis
1.Construção de uma Agenda Pública da Água
2.Evolução temática da comunicação sobre a Água na tv pública portuguesa
3. Reflexões para uma nova cultura da Água
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65
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9
12
0 20 40 60 80 100
PT
ES
EU
Conversas pessoais
Rádio
Filmes e documentários
Revistas
Internet
Jornais
TV
Fonte: Eurobarómetro 2007
Principais fontes de informação sobre ambiente
- -
Cobertura mediática e preocupação pública com o estado da água
1
10
100
1990 1994 Gallup 1992 1995 1999 Observa 1997
% de notícias sobre ambiente Nível de preocupação pública com o ambiente
Fonte: Schmidt, 2003; Observa 2000
Meios de Comunicação Social:
• Constituem fonte primordial de informação
• Desenvolvem os conhecimentos do público, sendo frequentemente a única fonte onde circula a informação científica sobre água
• Influenciam o modo como os cidadãos pensam e receiam os problemas da água
• Generalizam representações comuns da água, criando “partilha de significados” entre diferentes grupos
2. Evolução temática da comunicação sobre a água na tv pública portuguesa
16,8
14,7
5,6
5,5
5
4,5
4
3,1
3
2,9
2,8
2,6
2,3
1,7
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18
Energia nuclear
Á gua e rio s
S ism o s e vulcõ es
M au tem po e tem pestades
Incêndio s
E nergia clássica-petró leo
M arés negras
F o m e
A mbiente
A gricultura
A nimais do mést ico s
Indústria
(D es)Ord.T erritó rio
R esí duo s
Fonte: Schmidt, 2004
Temas principais das notícias sobre Ambiente-Natureza (1957-1999)
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57 59 60 64 65 69 70 74 75 79 80 84 85 89 90 94 95 99
Fonte: Schmidt, 2004
Evolução do n.º de programas e notícias sobre água (19571999)
Evolução das diferentes dimensões sobre
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9 Água - c a tá s tro fe
Água - s anea mento Água - e ne rgia
Água - rec urs o Água - rio
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a água nos programas (1957-1999)
Fonte: Schmidt, 2003
Evolução das notícias sobre catástrofes antrópicas (nºs absolutos)
60-64 65-69 70-74 75-79 80-84 85-89 90-95
Out ras catást rofes ant rópicas
Descargas tóxicas Acidentes nucleares
Marés negras Grandes poluições
0
5
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Fonte: Schmidt (2003)
Grandes momentos da mediatização da água
•Anos 60 • Actividades de lazer
• Actividades produtivas
• Capacidade destrutiva – grandes inundações de 1967 e 1969
Grandes momentos da mediatização da água
• Anos 70 • Contaminação
(Saúde pública – cólera em Lisboa) • Escassez (seca no Sul), 1975 • Menor importância de ambiente e
da água frente ao tema Revolução Abril 74
Meados de Anos 80 / Anos 90
• Problemas c/ central nuclear de Almaraz; contestação à “lixeira nuclear” Aldeadavilla
• Problemas de consumo (1992) • Recurso aprisionável (Plano Hidrológico
Espanhol, 1993-94) • Necessidade estratégica (escassez – seca Sul) • Agente destruidor (inundações 1997) • Poluição hídrica generalizada (sobretudo Rios) • Água = arma de arremesso político
Finais de 90 / Anos 2000
• Desinteresse pela poluição das águas descargas industriais e/ou urbanas pontualmente mediatizadas
• Planos de Bacia de 1ª geração (1997-2001): não constituem notícia
• Nova Lei da Água de 2005 – (com pouco debate público)
• Água cada vez mais como negócio nas secções de economia (empresas, gestão…)
Rio Tejo – Anos 60 (concurso de travessia a nado)
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Rio Tejo – Anos 60 (concurso de travessia a nado)
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Rio Tejo – Anos 60 (pescadores na faina)
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Rio Tejo – Anos 60 (pescadores na faina)
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Rio Tejo – Final dos anos 60 (apanha de ostras)
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Rio Tejo – Final dos anos 60 (apanha de ostras)
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Apresentação do projecto de saneamento do rio Tejo entre Lisboa e Oeiras
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Projecto: construção de um emissário de recolha dos esgotos ao longo do Tejo
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Esgotos da cidade de Lisboa despejando no Tejo – Anos 70 (poderia ser 2008…)
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Lisnave: indústria naval no estuário do Tejo – inaugurada em 1968
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Lisnave: indústria naval no estuário do Tejo – inaugurada em 1968
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Outras indústrias nas margens do Tejo
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
“Marcelo Rebelo de Sousa, o candidato à CML, deu um show de natação no Tejo” Telejornal RTP (1989)
Rio Tejo: Marcelo Rebelo de Sousa, candidato à Câmara de Lisboa, 1989
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Rio Tejo: Marcelo Rebelo de Sousa, candidato à Câmara de Lisboa, 1989
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Rio Tejo: Marcelo Rebelo de Sousa, candidato à Câmara de Lisboa, 1989
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
“Este gesto simbólico representa o compromisso de que o rio tem de ser devolvido ao povo de Lisboa e que daqui a 4 anos não será preciso vacinas para tomar banho no Tejo”
Rio Tejo: Marcelo Rebelo de Sousa, candidato à Câmara de Lisboa, 1989
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
…um rio para onde se continua a despejar 1/3 dos esgotos de Lisboa, ainda hoje sem qualquer tratamento
Docas do Tejo – Lisboa 2004
Docas do Tejo - Lisboa 2004
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Docas do Tejo - Lisboa 2004
Fonte: “Portugal, um retrato ambiental, 2004
Docas do Tejo - Lisboa 2004
Em Síntese • Do ponto de vista cultural, os rios estão fortemente
ancorados no imaginário e na memória colectiva e nas preocupações sociais dos portugueses, sobretudo das gerações mais velhas
• No entanto, ao longo do período analisado, verificou-se uma metamorfose na representação mediática dos rios – inicialmente ligada ao usufruto e lazer e às pescas, passa a estar cada vez mais articulada aos problemas de poluição e crise
• Os rios passaram de “paraíso” a “caneiro” e reduziuse a sua função de desfrute e a liberdade de uso a eles associada
Um rio po luído (peixes mortos)
Uma floresta a arder
Uma maré negra (aves mo rtas)
Uma lixeira a céu aberto
Um esgoto a descarregar na praia
Resíduo s tóxico s derramadaos no solo
Uma chaminé de fábrica a deitar fumo s
Um engarrafamento de t rânsito
Um depósito de sucata
NS/NR
0 10 20 30 % 40 50 60 70 Fonte: OBSERVA, 2000
8,2
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48,2
51,1
0 10 20 30 40 50 60
NS/NR
Investir nos transportes ferroviários
Combater a falta de ordenamento urbano
Combater o ruído
Proteger e ordenar o litoral/costa
Incentivar a agricultura respeitadora do ambiente
Combater a poluição do mar/oceanos
Reduzir e tratar os lixos industr iais
Cuidar as áreas protegidas (reservas e parques naturais)
Reduzir e tratar os lixos urbanos
Combater a poluição do ar
Prevenir incêndios/ordenar a f loresta
Combater a poluição de rios e ribeiras
%Fonte: OBSERVA, 2000
Quanto às Políticas Públicas…
• Muito investimento, sobretudo desde a adesão à UE (1986), para bons resultados no abastecimento e maus no saneamento: “rios” de dinheiro pelos rios abaixo…
• A ineficácia das políticas de ordenamento doterritório impede a melhoria dos resultados: limpa-se de um lado, suja-se do outro…
• Os Planos de Bacia terminados em 2000 perderam a oportunidade de envolver aparticipação pública
Consequências:
• Diminuíram os usos sociais dos rios, mas não se perdeu a ligação cultural e emotiva
• Mesmo as utilizações lúdicas dos rios “desnaturalizaram-se” (equipamentos artificiais: aquaparques, piscinas com ondas, etc.) e estetizaram-se (visualismo da paisagem ribeirinha)
• Descrédito na eficiência do Estado na gestão das águas; e nas tecnologias “milagrosas”
3. Reflexões para uma Nova Cultura da Água
Três eixos cruciais:
1) Novas formas de Governança (top-down e bottom-up) – com uma visão integradora e inclusiva das populações que povoam as bacias – “nova cultura decisional”
2) Identidade conjunta de rios / albufeiras e populações – atendendo à diversidade e especificidade locais
3) Valores da água em transição – ambientais (paisagem e recurso articulados), comunitários (link geracional) e económicos (revalorização das actividades nos rios)
1) Novas formas de Governança
• Mais e melhor informação sobre a situação dos recursos hídricos nacionais e ibéricos
• Estratégias continuadas de comunicação fluida entre governantes e governados (top-down e bottom-up), utilizando formas e fórmulas de comunicação diferenciada em função da segmentação social dos diferentes grupos.
• Estimular uma cultura de participação, promovendo o acompanhamento dos planos e projectos em todas as fases, com metodologias inovadoras e interlocutoreschave (mediadores) que activem as dinâmicas de participação e gerem confiança
2) Identidade das águas (rios/albufeiras) e populações
• Planos das Bacias Hidrográficas deverão considerar estudos detalhados ao nível social – que populações, com que identidades, povoam que zonas, ao longo da bacia; intercâmbio de saberes
(leigos e científicos) e aproveitar sinergias – community based research
• Os rios devem ser considerados entidades articuladas com identidades próprias – territoriais, culturais e geracionais.
• • Divulgação persistente sobre o estado das águas – as populações
têm de estar informadas em contínuo sobre o metabolismo das suas águas
3) Valores da água em transição
Ambientais, comunitários e económicos • Valores ambientais – considerar integradamente o
recurso água numa cultura da paisagem; uma água de má qualidade “contamina” a experiência da paisagem
• Valores comunitários – recuperar os rios como estrutura de vida pública local e não apenas como margem recreativa (importância da memória e link intergeracional)
• Valores económicos – assumir integralmente todas as variáveis do cálculo custo / benefício na economia da água (quanto custa a degradação do recurso água em termos da sua recuperação, das actividades que afecta e da desqualificação da vida pública)