Guia de Eficiência Energética na Industria de Celulose e Papel

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Realizao ABTCP Associao Brasileira Tcnica de Celulose e Papel CNI Confederao Nacional da Indstria Eletrobrs/PROCEL

Coordenao geral Afonso Moraes de Moura, Marco Aurlio, Rodrigo Garcia, Viviane Nunes Equipe MCPAR Mauro Donizeti Berni - Odail Pagliardi - Orlando F. J. G. Bordoni

Colaborao Prof. Dr. Srgio Valdir Bajay Grupo de trabalho de eficiencia energtica ABTCP

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NDICE GERALLista de figuras ................................................................................................................................................. ii Lista de tabelas ................................................................................................................................................ iii Lista de siglas e abreviaturas ............................................................................................................................. v SUMRIO EXECUTIVO ...................................................................................................................................... 1 1. Introduo ............................................................................................................................................. 8 1.1 Objetivo do projeto ............................................................................................................................. 8 1.2 Escopo e fases do projeto ................................................................................................................... 8 2. Eficincia Energtica: Reviso das literaturas internacional e nacional, incluindo workshops e documentos elaborados pela CNI .......................................................................................................... 9 2.1 Experincia internacional ................................................................................................................... 11 2.1.1 Consideraes gerais e condies de contorno .......................................................................... 12 Eficincia Energtica: Aspectos de sua evoluo no exterior e no Brasil ................................................. 18 Anlise dos PEEs e indicativos de mecanismos ...................................................................................... 20 4.1 Mecanismos internacionais ............................................................................................................... 20 4.2 Mecanismos indicados - workshops e questionrios .......................................................................... 21 Panorama do setor de C&P: plantas de celulose, integradas e embalagem (papis de embalagem) ....... 22 5.1 Tecnologias e processos inovadores .................................................................................................. 25 5.2 Potenciais tcnicos de economia ....................................................................................................... 29 Mecanismos de incentivo a PEE, modelagem, cenrios e resultados...................................................... 31 6.1 Premissas da modelagem e cenrios .................................................................................................. 31 6.2 Organizao dos dados, modelagem, cenrios e resultados............................................................... 37 6.2.1 Consumo especfico de energia por etapas do processo em plantas de celulose, integradas e embalagem .............................................................................................................................. 40 6.2.1.1 Plantas de celulose ................................................................................................................ 40 6.2.1.2 Plantas integradas ................................................................................................................. 42 6.2.1.3 Plantas embalagem .............................................................................................................. 43 6.2.2 Cenrios econmicos ................................................................................................................ 45 6.2.3 Custo Brasil . ............................................................................................................................. 46 6.2.3.3 Simulao do peso do custo Brasil para a competitividade ..................................................... 58 6.2.4 Projees de produo, exportao e importao no setor de celulose e papel ......................... 59 6.2.5 Resultados ................................................................................................................................ 60 Concluses e recomendaes .............................................................................................................. 71 Referncias bibliogrficas ..................................................................................................................... 81

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5.

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7. 8.

ANEXO 1 Questionrio Quantitativo ............................................................................................................ 86 ANEXO 2 Questionrio Qualitativo ............................................................................................................... 93 ANEXO 3 Entrevistas com especialistas em regulamentao, energia e meio ambiente ............................... 973

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NDICE DE FIGURASFigura 1. Organizao dos dados e mdulos de entrada ................................................................................. 39 Figura 2. Projees de Produto Interno Bruto (PIB) do FMI ............................................................................. 45 Figura 3. Projees de Produto Interno Bruto (PIB) - Cenrio FMI/PNE/DoE ..................................................... 46 Figura 4. Projees de produo, exportao e importao do setor de celulose e papel ................................ 60 Figura 5. Evoluo da produo de celulose e papel....................................................................................... 61 Figura 6. Evoluo do consumo de energia eltrica do setor de celulose e papel ............................................ 61 Figura 7. Evoluo do consumo de energia trmica do setor de celulose e papel celulose e papel ................. 62 Figura 8. Evoluo das emisses de CO2 do setor de celulose e papel ............................................................. 63 Figura 9. Evoluo da cogerao de energia do setor de celulose e papel ...................................................... 63

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NDICE DE TABELASTabela 1. Definio dos mecanismos de eficincia energtica ......................................................................... 13 Tabela 2. Perspectivas - Incentivos I ............................................................................................................... 22 Tabela 3. Perspectivas - Incentivos II............................................................................................................... 22 Tabela 4. Tabela de emisses de gases efeito estufa (GEE), por fontes ........................................................... 26 Tabela 5. Novas tecnologias e novos processos na produo de C&P e sua aplicabilidade por tipo de planta ...................................................................................................................................................................... 28 Tabela 6. Tecnologias cuja integrao nos processos depende da implementao de mecanismos e cenrios (sem incentivo: 10 anos; com incentivo: 6 anos). ........................................................................................... 35 Tabela 7. Tecnologias cuja integrao nos processos depende da implementao de mecanismos e cenrios (sem incentivo: a partir de 2020; com incentivo: a partir de 2015). ................................................................. 35 Tabela 8. Consumo especfico de energia plantas de celulose...................................................................... 41 Tabela 9. Consumo especfico de energia plantas integradas ....................................................................... 42 Tabela 10. Consumo especfico de energia por etapas do processo plantas embalagem (reciclagem) ........... 44 Tabela 11. Custo de produo da celulose em dlares americanos por tonelada, por pas (CP), perodo 20002002 47 Tabela 12. Composio do lead time. ........................................................................................................... 49 Tabela 13. Informaes do custo Brasil e dos custos nos pases estudados. ................................................. 53 Tabela 14. Custo Brasil consolidado (US$/tonelada), participao no custo de produo no Brasil e nos concorrentes 33 ............................................................................................................................................... Tabela 15. Custo de produo da celulose por pas (CP), em dlares americanos por tonelada (2007). ........... 55 Tabela 16. Informaes do custo Brasil e de custos estruturais de EUA e Canad. .......................................... 56 Tabela 17. Custo Brasil em US$ por tonelada comparado ao custo de concorrentes (Canad e EUA) - 20072009. ............................................................................................................................................................. 57 Tabela 18. Comparao do custo Brasil consolidado (US$/tonelada) e de concorrentes, supondo componentes de custo com participaes idnticas para ambos ........................................................................................... 58 Tabela 19. Total projetado: resumo projees com incentivos 2010 - 2030 ................................................. 64 Tabela 20. Excedentes no setor de celulose e papel, perodo com incentivos perodo 2010-2030 . .............. 65 Tabela 21. Evoluo da produo de celulose, papel e embalagem em cada cenrio (2010 = 100). ................ 65 Tabela 22. Resultados de simulaes para depreciao acelerada, carncia estendida e reduo da taxa de juros nos financiamentos de substituio de 3 tecnologias, considerando receita adicional de US$ 1 milho ... 67 Tabela 23. Resultados de simulao para o setor de celulose e papel. ............................................................ 78

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURASABTCP AIE AHP ANEEL BA BAT BEKP BEN BIG-GT BLRBAC BNDES BNL BREF Cerflor CEST CETESB CIPEC Cl CNI CO CO2 COP 15 ECF ECRPPI EDBP EE EIPPCB EPE ET ETA ETE FOB FSC GAC GJ GN Associao Brasileira Tcnica de Celulose e Papel Agncia Internacional de Energia (IEA International Energy Agency) Anlise Hierrquica de Processos Agncia Nacional de Energia Eltrica Bahia Best Available Technology Preos da Celulose de Fibra Curta (eucaliptos) Balano Energtico Nacional Biomass Integrated Gasifier - GasTurbine Black Liquor Recovery Boiler Advisory Committee Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social Berkeley National Laboratory Reference Document on BAT Programa Nacional de Certificao Florestal Condensing Extraction Steam Turbine Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental Canadian Industry Program for Energy Conservation Cloro Confederao Nacional da Indstria Monxido de Carbono Dixido de Carbono 15 Conferncia da ONU sobre Mudanas Climticas Elemental Chlorine Free Energy Cost Reduction in the Pulp and Paper Industry Energy Data Based on Paprican Energia Eltrica European Integrated Pollution Prevention and Control Bureau Empresa de Pesquisa Energtica Energia Trmica Estao de Tratamento de guas Estao de Tratamento de Efluentes Free on Board Forest Stewardship Council Grupo de Acompanhamento do Crescimento Gigajoule Gs Natural

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GV h ha HSSP ICMS IE IEA IPCC IPI ISO kg MECS MS MTD MWo

Grupo Votorantim Hora Hectare Hot Soda Semichemical Pulp Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios Intensidade Energtica International Energy Agency International Panel Climate Change Imposto sobre Produtos Industrializados International Organization for Standardization Quilograma Manufacturing Energy Consumptiom Survey Mato Grosso do Sul Melhor Tecnologia Disponvel Megawatt Grau Celsius Pulp and Paper Research Institute of Canada Pesquisa e Desenvolvimento + Inovao Programa de Eficincia Energtica Produto Interno Bruto Programa Nacional de Conservao de Energia Eltrica Programa de Apoio a Projetos de Eficincia Energtica Reais Rio Grande do Sul So Paulo Steam Injected Gas Turbine Tonelada Totally Chlorine Free Tonelada Equivalente de Petrleo Tecnologia da Informao Toneladas de Slido Seco Terawatts-hora Dlar americano

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Paprican P&DI PEE PIB Procel Proesco R$ RS SP STIG t TCF TEP TI TSS TWh US$

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SUMRIO EXECUTIVOA caracterizao dos principais mecanismos especficos utilizados para a promoo de programas voltados eficincia energtica no setor de celulose e papel (C&P) - e sua aplicabilidade no Brasil - toma como referncia os mecanismos estudados pela International Energy Agency - IEA/DSM Program - e pelo Energy Efficiency and Renewable Energy Office/Department of Energy (Estados Unidos). Os mecanismos so agrupados em quatro blocos: mecanismos de controle, financiamento, suporte e mercado. Esse delineamento de mecanismos hierarquizado - diferentes atores discutindo a gerao de documento-base considerando os mltiplos objetivos do planejamento estratgico do setor de celulose e papel. A CNI, Eletrobrs/Procel Indstria e ABTCP escolheram 3 dos mecanismos com maior potencial de implementao como resultado de debates em workshops, com vista a realizar anlise prospectiva quanto a resultados em termos de investimentos necessrios sua viabilizao e, tambm, avaliao de impactos energticos e ambientais. O panorama histrico mundial mostra que boa parte das estratgias e mecanismos de fomento s aes de eficincia energtica atuais iniciou-se na dcada de 1970, quando predominavam medidas de conscientizao dos consumidores para mudar hbitos e padres de utilizao de equipamentos, associadas concesso de incentivos fiscais, facilidades creditcias e descontos tarifrios para aquisio de equipamentos eficientes. Foram tambm estabelecidos incentivos para substituio de derivados de petrleo e investimentos em projetos de P&DI, envolvendo equipamentos mais eficientes e fontes alternativas de energia queles derivados. A partir dessa poca surgiram vrias entidades, sobretudo em pases avanados, para desenvolver e manter estratgias, fornecer informaes e capacitar pessoal; e para promoo de hbitos racionais de consumo, orientao e aquisio de melhores equipamentos. Na dcada de 1980 apareceram numerosos programas de gerenciamento pelo lado da demanda (GLD), com proposies de medidas de otimizao da gesto energtica. Na atual dcada, a expanso do uso de fontes renovveis em pases desenvolvidos - e boa parte daqueles em desenvolvimento - tem sido iniciativa adotada para metas de diminuio da emisso de gases de efeito estufa (GEE). Outra iniciativa importante, no exterior, foi a introduo de normas de eficincia energtica (gesto otimizada) para estabelecimentos industriais - sobretudo dos energointensivos - de aplicao voluntria, compatveis com as normas da International Organization for Standardization (ISO) para a qualidade (ISO 9000) e a gesto ambiental (ISO 14000), observada nos EUA, Sucia, Dinamarca, Irlanda e China (BAJAY et al., 2008). A ISO 50001, apesar de generalista, tem sua formatao em vias de efetivao. Recentemente, leiles de ofertas de projetos de eficincia energtica e programas de oferta-padro - em que se oferecem incentivos fixos por medidas de eficincia implantadas e verificadas -, tm-se constitudo em iniciativas interessantes de concessionrias de energia de alguns pases, como os EUA, e aplicados com sucesso nos setores comercial e industrial. Guia de Eficincia Energtica

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Os questionrios aplicados aos fabricantes de celulose, papis e papel de embalagem na sequncia referidos apenas como embalagem -, fornecedores de equipamentos e de consultoria especializada foram avaliados mediante a Anlise Hierrquica de Processos (AHP). Desse modo, pde-se levantar o potencial tcnico de conservao de energia por tipo de planta e por etapa do processo produtivo em comparao s melhores tecnologias disponveis no mercado (BAT - Best Available Technologies) indicadas na literatura tcnica e por tcnicos consultados, e tambm definir empresas brasileiras como referncia para plantas de celulose, integradas e embalagem. Alm dos dados para as variveis tcnicas de processo e sua quantificao, os questionrios permitiram o levantamento de questes que, direta e/ou indiretamente, relacionam-se com as perspectivas financeira, de mercado, processo e aprendizado do setor de celulose e papel, separadamente por tipo de planta: celulose, integrada e embalagem. Do total de respostas aos questionrios pde-se inferir uma hierarquizao de prioridades para o setor de celulose e papel implantar o PEE, e cuja ordem decrescente de importncia vem a ser: Reduzir custos Elevar produtividade Cumprir regulao ambiental Reduzir consumo de energia Reduzir emisses de GEE

Algumas medidas referidas a PEE podem ser aplicadas de forma transversal na maioria das etapas da produo, como seria a adoo de motores eltricos de alto rendimento. Outras medidas requerem, necessariamente, novas tecnologias ou inovaes, mas possibilitariam ganhos de eficincia energtica em etapas especficas do processo ou no sistema de utilidades que o integra; como exemplos so de lembrar melhorias no processo de combusto das caldeiras, implantao de sistemas de recuperao de calor nas instalaes de secagem e a integrao de processos. Novas tecnologias e novos processos podem propiciar economias de energia bastante expressivas, mas exigem, em contrapartida, investimentos bem mais elevados e cuja efetivao requer a superao de barreiras a PEE. Devido a presses ambientais e de mercados que exigem produtos verdes, surgem tecnologias BAT que cumprem o objetivo de realizar produo mais limpa e economicamente vivel capaz de prevenir, reusar, segregar, fechar circuitos e abordar o problema ambiental. Um dos documentos mais tradicionais para definio das BATs no setor de celulose e papel o BREF - Reference Document on BAT - Best Available Techniques in the Pulp and Paper Industry do EIPPCB (European Integrated Pollution Prevention and Control Bureau), que o comit da Unio Europia para assuntos de preveno e controle da poluio. Aes e programas de eficincia energtica na indstria de celulose e papel tm

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resultado mais da necessidade de equacionar impactos ambientais do que da busca da otimizao energtica. reconhecido que mesmo grandes empresas enfrentam srias dificuldades para obter facilidades fiscais e creditcias, ainda que em uma conjuntura que proponha incorporar tecnologias BAT para mitigao de impactos ambientais e implementao de PEE. Nessa linha de atuao, o trabalho deveria ressaltar a importante necessidade de se priorizar a incorporao de equipamentos BAT em processos relacionados a etapas de branqueamento, evaporao, gerao e otimizao de uso do vapor e de outras utilidades. As empresas menores - caso das plantas do subsetor embalagem -, no caso de facilidades creditcias deveriam substituir equipamentos obsoletos em uso na preparao de massa. Perdas de vapor, sistemas de bombeamento e de ar comprimido deveriam ter priorizao a partir da adoo de equipamentos com controles eletrnicos, inserindo tecnologias comercialmente disponveis nas etapas do processo. So relevantes as aes e os programas de eficincia energtica desenvolvidos pela Eletrobras no mbito do Programa de Conservao de Energia Eltrica (Procel) com o objetivo de aumentar o dinamismo das aes de eficincia no setor de celulose e papel. No obstante, os resultados alcanados tm-se demonstrado pouco expressivos quanto a consumo de eletricidade. So negligenciadas oportunidades com grande potencial para economias de energia, como seria a rea trmica do setor de celulose e papel. Quanto a modelagens, projees e cenrios, procedeu-se a levantamento de sries histricas da produo fsica por tipo de planta; de informaes sobre tecnologias BAT disponveis comercialmente - inclusive os correspondentes consumos especficos - e dos possveis incrementos de produtividade; pesquisa no stio do Fundo Monetrio Internacional (FMI) forneceu sries histricas e projees de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) utilizadas por esse rgo em mbito mundial, dando-se destaque, neste relatrio, ao PIB dos maiores importadores de produtos do setor de celulose e papel brasileiro; consideraram-se, ainda, informaes de anlises SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities and Threats) elaboradas pela Fbria e pelo governo australiano; informaes da IPCC e IEA sobre emisses especficas de CO2 e mecanismos de incentivo a programas de eficincia energtica (PEEs). Esses dados constituem os vrios mdulos de entrada para a modelagem e cenarizao. Nos cenrios tecnolgicos foram consideradas as tecnologias da prensa de sapata, capota secadora completa e evaporador multiestgio disponveis comercialmente. A tecnologia de gaseificao do licor negro e plantas de demonstrao so inovaes tecnolgicas tambm includas nas projees de produo, consumo de energia e cogerao nas plantas objeto deste trabalho. Como benchmarking para emprstimos financeiros foi considerado o BNDES PSI-Inovao, que contempla projetos de inovao tecnolgica orientados ao desenvolvimento de produtos e/ou processos novos ou significativamente aprimorados - ao menos para o mercado nacional - e que envolvam risco tecnolgico e oportunidades de mercado. Valor mnimo de financiamento R$ 1 milho. Valor mximo para apoio de R$ 200 milhes. Taxa fixa de juros de 3,5% a.a. Guia de Eficincia Energtica

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Os resultados obtidos com a modelagem adotada mostram os ganhos de produo esperados, o abatimento de emisses previsto e os novos patamares de cogerao no setor de celulose e papel, isso na hiptese de confirmao dos cenrios da evoluo da economia brasileira e haver a contrapartida de incentivos pelo governo federal. De observar que em ambos os cenrios tecnolgicos chega-se ao mesmo patamar nas projees para 2030, todavia, no cenrio de incentivo isso ocorre de forma incisiva, ainda no curto e mdio prazos. A produo de celulose cresce a taxas mdias de 5% a.a. com substancial diminuio do consumo de energias eltrica e trmica. Em 2030 a demanda total do setor ser equivalente de 2008. As emisses de CO2 diminuem em mdia 1.205 mil t - em 2007 as emisses de origem fssil foram da ordem de 3.314 mil t -, enquanto a cogerao ter incremento mdio de 2.386 GWh/ano. O cruzamento das projees com o chamado custo Brasil mostra a necessidade de forte interveno para que seja assegurada a manuteno da competitividade da indstria de celulose e papel no mdio e longo prazos. A grande questo a discutir reporta-se aos ganhos de competitividade nas reas florestal e industrial - conseguidos pelo continuado empenho do setor -, embora o grande potencial, a janela de oportunidades para o Pas esteja na reduo do custo Brasil. Seria dizer, a partir de agora a competitividade do setor depender de variveis que no pode controlar, que esto fora das plantas industriais e que exigem atuao decidida do governo federal. De forma simultnea e complementar, para a consolidao de uma economia de baixo carbono se faz imperativa a contribuio governamental na implantao de PEEs, possivelmente em 3 etapas: O governo federal mostrar interesse e envidar esforos para que o setor de celulose e papel possa aumentar sua competitividade mediante minimizao do consumo de energia e crescimento na utilizao de suas fontes energticas renovveis, como: O setor e/ou empresa(s) assumindo compromisso de utilizarem equipamentos com eficincia mnima obrigatria definida; com o governo federal participando nas negociaes com fabricantes de equipamentos.

O setor de celulose e papel demonstrar ser cumpridor das suas atribuies quanto a iniciativas para eficincia energtica e abatimento de emisses, isso atravs de estudos especficos patrocinados pela Associao Brasileira Tcnica de Celulose e Papel (ABTCP) e Associao Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa). Por exemplo: Realizar bechmarking pertinente a questes de energia, emisses e guas de forma regular, fornecendo informaes aos associados; Oferecer aos associados recomendaes de publicaes tcnicas, contatos e sinalizaes de mercado relativas a servios de eficincia energtica; Adotar protocolo de M&V (Medio&Verificao);

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Construo e manuteno de um banco de dados detalhado de PEEs; Promoo e gerenciamento de troca de informaes no mbito nacional e internacional; Estipular metas para eficincia energtica no setor, mesmo sem incentivos do governo federal; Aplicao da ISO 50.000, ainda que tendo caracterstica generalista; e Unir benchmarking e ISO 50.001.

Ao conjunta de governo federal e setor de celulose e papel para promoo do desenvolvimento sustentado, favorecendo expanso e penetrao no mercado externo, contribuindo para que o Brasil possa cumprir metas ambientais a serem estabelecidas aos pases emergentes. Em linhas gerais, seria: Mecanismos para comprometimento com eficincia energtica por associaes; acordos voluntrios de eficincia energtica; obteno de iseno de impostos e de incentivos para eficcia em energia: Que envolvam pacto formal entre rgo de governo responsvel por programas de eficincia em energia e empresa, organizao privada ou associao industrial com insero de incentivos, para o aumento da eficcia energtica; Autorregulamentao pelas partes envolvidas; Que contemplem a utilizao de informaes e assistncia tcnica do governo federal para efetivao de metas; Cujos acordos possam ser realizados por toda a indstria ou por segmentos dela e onde se relacione abatimento de emisses; melhoramento da eficincia de plantas existentes; substituies de fontes de energia; reduo de perdas energticas e regulamentao, entre outros mais; Em que empresas do setor possam aderir de forma voluntria, operando em parceria com o governo federal em avaliaes (diagnsticos); na disponibilidade de dados (M&V relacionados a energia e emisses); na obteno de facilidades para licenciamento ambiental; financiamentos do BNDES; iseno de impostos (governos federal e estadual); incentivos e regulamentao tarifria para venda de energia excedente (30 MW); Que incentivem o crescimento da P&D em tecnologias avanadas no Pas, mas estrategicamente importantes para afirmao da liderana,

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em cooperao com o Ministrio de Desenvolvimento Indstria e Comrcio (MDIC), Ministrio de Cincia e Tecnologia (MCT), Ministrio de Minas e Energia (MME), e mais rgos pblicos pertinentes; Que contemplem a criao de Fundo Setorial envolvendo fornecedores de equipamentos.

Por fim, vale observar que, de anlises em mbito internacional do estado-da-arte de mecanismos para PEE, podem ser destacadas algumas concluses quanto a PEEs inovadores bem sucedidos no exterior e passveis de adaptao e adoo no Brasil: Preocupaes ambientais - sobretudo com emisses de gases efeito estufa -, esto entre as principais motivaes da maioria dos programas de eficincia energtica recentemente adotados em pases desenvolvidos, particularmente naqueles que participam do Anexo I do Protocolo de Quioto. Em boa parte dos pases em desenvolvimento h, contudo, mais fatores a motivar esses programas, como seria a melhor utilizao das capacidades de suprimento de energia disponveis - particularmente de energia eltrica a fim de diminuir riscos de desabastecimento ou prevenir fortes aumentos de preos; diminuio do valor dos investimentos necessrios para a expanso de parques produtores de energia; reduo de gastos com importaes de energticos, sobretudo do petrleo, e mais outros. Esta concluso encontra suporte em relatrio recente do Conselho Mundial de Energia (World Energy Council, 2008); Nos pases analisados existem departamentos ministeriais responsveis pelo planejamento e gerenciamento dos programas de eficincia energtica na indstria (EUA, Nova Zelndia, Austrlia) ou, ento, agncias criadas com essa mesma finalidade (Nova Zelndia, Japo, Alemanha, China); A maioria dos pases analisados possui programas nacionais de eficincia energtica amparados por leis. Em geral, tambm possuem metas quantitativas para ganhos futuros de eficincia em energia; Acordos voluntrios entre governo e indstria tm sido comuns na implementao de programas de eficincia energtica, sobretudo nos segmentos intensivos em energia, como pode ser visto nos EUA, Canad e Austrlia; Uma estratgia essencial - pouco utilizada no Brasil - para alcanar ganhos de eficincia no longo prazo e conseguir saltos de competitividade sustentveis a de projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de equipamentos e processos industriais eficientes; e

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Na maioria dos pases tambm existem incentivos fiscais ou creditcios para equipamentos eficientes desde os primeiros programas industriais de eficincia energtica. At o presente, uma facilitao de aplicao muito limitada no Brasil.

Este projeto foi realizado com o auxlio de representantes do setor de celulose e papel, que forneceram sugestes e tambm parte da base de dados. Foi tambm realizada intensa pesquisa de dados e informaes nos principais centros mundiais de pesquisa em celulose e papel. Foi acessada a bibliografia disponvel em associaes de produtores da Europa, Estados Unidos, Canad e Austrlia. Algumas observaes, enviadas por especialistas, destacam a produo de papel e sua vinculao ao mercado domstico, enquanto a situao da celulose diferente. Com relao a celulose, o fato de estar havendo um deslocamento mundial da produo para o Brasil foi devidamente equacionado nas projees realizadas. De se observar, contudo, que um nico projeto do setor de celulose e papel brasileiro poder aumentar a produo nacional de celulose em 10%.

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IntroduoEste relatrio consolida o levantamento de informaes e sua sistematizao, incluindo o estado-da-arte de mecanismos para implementao de programas de eficincia energtica (PEEs) no setor industrial, com foco na produo de celulose e papel. Visa a priorizao de polticas de incentivo eficincia em energia no setor de celulose e papel mantendo, como linha de base, uma economia de baixo carbono. As informaes e dados foram obtidos em ampla pesquisa bibliogrfica de amplitude nacional e internacional, bem como em questionrios qualitativo e quantitativo, e foram entrevistadas empresas do setor participantes em 3 workshops cujo tema central era a eficincia energtica. Os questionrios mereceram tratamento especfico atravs da metodologia da Anlise Hierrquica de Processos (AHP). Com essa estrutura de informaes e o auxlio da modelagem economtrica foi possvel detalhar propostas e recomendaes de mecanismos de eficincia energtica (EE) especficos para implementao no setor de celulose e papel, respeitados os preceitos prprios de um desenvolvimento econmico de baixo carbono.

Objetivo do projetoO trabalho de pesquisa desenvolvido incluiu levantamento, sistematizao, priorizao e sugestes de encaminhamentos de alternativas de mecanismos de incentivo eficincia energtica no setor de celulose e papel brasileiro. Na modelagem, as alternativas de polticas e aes de eficincia em energia resultantes do trabalho de pesquisa identificam e utilizam, entre outros aspectos, variveis econmicas, polticas, comportamentais, tecnolgicas e de infraestrutura que configuram as condies favorveis ao maior aproveitamento do potencial de eficincia em energia.

Escopo e fases do projeto Identificao e caracterizao dos principais problemas e desafios pertinentes ao tema eficincia energtica no setor, com foco nas energias eltrica e trmica. Participao do setor produtivo no desenvolvimento do trabalho atravs de especialistas em gesto e energia e da cadeia de fornecedores. Caso de empresas como a Voith S.A. entre outras de vanguarda em tecnologia, com coordenao da ABTCP. Reunies e entrevistas com especialistas em eficincia energtica, especialistas em celulose e papel e funcionrios do governo.

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Levantamento de mecanismos em mbito internacional e gerao de alternativas polticas e aes de incentivo a eficincia em energia no setor de celulose e papel. Debates com especialistas em workshops, com vista seleo e hierarquizao de mecanismos mais suscetveis de aplicabilidade, sempre objetivando a superao de barreiras econmicas, fiscais, creditcias e ambientais ao fomento da eficcia em energia no setor industrial, especialmente no de celulose e papel. Produto final: documento-base como referncia de discusso com participantes especficos, tais como a entidade patronal Associao Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), governo federal, ministrios e agncias reguladoras, especialistas da rea e instituies afins interessadas; com apresentao de esboos de programas de eficincia energtica a partir de experincia internacional conhecida e com utilizao de mecanismos de fomento a eficincia em energia. Que seja base para discutir com esses interlocutores possveis aes de eficincia que perpassam por renncia fiscal, incentivos creditcios, questes de tarifas relacionadas a cogerao, adequao de mecanismos legais existentes, acordo voluntrios, abate de emisses de CO2, formas de ampliao de uso de fundos setoriais em P&DI, associao de esforos para proposies ambientalmente factveis e colaborao para fortalecimento e ao sinrgica de programas nacionais de eficincia energtica. Caso, por exemplo, do Procel. Alm disso, o documento-base mostraria, para os 3 mecanismos escolhidos pelos especialistas, avaliao energtica, anlise prospectiva quanto a resultados em termos de investimentos para viabilizao de programas de EE e respectivos impactos ambientais, mantida como referncia a demanda energtica projetada no Plano Nacional de Energia 2030 (PNE 2030).

Por uma questo de acesso a base de dados optou-se por enfoque a 3 tipos de plantas: celulose, integrada (produtora de celulose e papel) e embalagem (papis de embalagem); eram os dados mais consistentemente disponveis. Em todos os casos adotou-se como horizonte de planejamento o ano de 2030, com os anos de 2010, 2015, 2020, 2025 e 2030 na funo de ano referncia para o perodo em estudo.

2. Eficincia Energtica - Reviso das literaturas internacional e nacional, incluDoS workshops E documentos elaborados pela CNIEste estudo foi realizado com a cooperao de representantes do setor de celulose e papel, que forneceram sugestes e tambm parte da base de dados. Foi tambm realizada intensa pesquisa de dados e informaes nos principais centros mundiais de pesquisa em Guia de Eficincia Energtica

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celulose e papel. Foi acessada a bibliografia disponvel em associaes de produtores na Europa, Estados Unidos, Canad e Austrlia. Algumas observaes, enviadas por especialistas, destacam a produo de papel e sua vinculao ao mercado domstico, enquanto para a celulose a situao diferente. Com relao a celulose, o fato de estar havendo um deslocamento mundial da produo para o Brasil foi devidamente equacionado nas projees realizadas. Deve se observar, contudo, que um nico projeto do setor de celulose e papel brasileiro poder aumentar a produo nacional de celulose em 10%. Das avaliaes dos questionrios e de discusses com especialistas em celulose e papel tidas em workshop realizado em Itupeva (SP) e na sede da ABTCP, So Paulo (SP), assim como em outras entrevistas (Anexo 3), possvel concluir que as plantas industriais novas, em especial as de celulose de mercado, dispem de eletricidade para venda. No outro extremo, as plantas mais antigas - a includas as integradas e as de embalagem - compram eletricidade. Resulta, portanto, uma situao de real interesse do setor: a discusso dos custos de transmisso intra-setor de excedentes dessa energia para terceiros. Os produtores afirmam que esta questo seria uma das razes da baixa competitividade do papel brasileiro no mercado exterior, pois os preos da energia representam parte substancial dos custos nas plantas integradas e de embalagem. Com isso, consensual a necessidade de discusses aprofundadas com vista ao rebatimento do atual marco regulatrio do setor eltrico, includas, por exemplo, as possibilidades de fornecimento de eletricidade intra-setor e a cogerao qualificada. No contexto da globalizao do comrcio mundial e do contnuo deslocamento da produo de celulose e papel do Hemisfrio Norte para o Hemisfrio Sul, o fato de o Brasil no conseguir repetir para o papel o mesmo desempenho da celulose no mercado externo emblemtico e merece reflexes. H um paradigma a ser questionado? O uso de mecanismos para programas de EE pode ser um caminho a trilhar quando se avalia competitividade. de lembrar, por sua vez, que, ainda assim, o setor de celulose e papel dispe de ampla janela de oportunidades, representada pelo melhoramento possvel na gesto da energia, pela otimizao do controle dos processos e pela incorporao de novas tecnologias. Aqui tambm, a adoo de mecanismos para PEE volta a ser caminho vlido. Dos questionrios pode-se inferir como numerosas as iniciativas empreendidas pelas fbricas do setor objetivando eficincia energtica, e com expressivo saldo de sucessos. Parece ntido que o setor prescinde de aes envolvendo polticas pblicas e regulatrias que enfoquem financiamentos de projetos em eficincia energtica. Alm disso, perceptvel que uma forte alavancagem de PEEs poderia dispensar negociaes amplas envolvendo acordos voluntrios, eficincias mnimas obrigatrias e aspectos correlatos. Contudo, em casos especficos, parece imperativa a utilizao de incentivos fiscais e creditcios, com mobilizao de interlocutores como o MME, ANEEL, BNDES, associaes, ministrios da rea econmica, ESCOs (Energy Service Company), entre outros.

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Experincia internacionalNeste item so apresentados mecanismos propostos para eficincia energtica no mbito internacional e cujas premissas podem ser base para a proposio de mecanismos similares, mantidas as caractersticas da indstria nacional. Podem tambm ter aplicao como benchmarking no Brasil. Os PEEs levantados mostram como barreiras postas ao uso mais racional da energia podem ser superadas por mecanismos de fomento a aes de conservao. Essas aes podem, por exemplo, ser direcionadas troca de equipamentos obsoletos por outros mais eficientes, podem pretender mudanas de hbitos ou, ainda, envolver a substituio de uma fonte de energia por outra para ganhos de eficincia, entre mais possibilidades. O documento-base utilizado para avaliao de mecanismos no setor de celulose e papel corresponde ao relatrio elaborado pelo Task VI do IEA (IEA, 2000). O referido relatrio pode ser considerado trabalho de referncia em questes de mecanismos e programas de promoo de gerenciamento do lado da demanda (GLD) e de eficincia energtica. Quando da elaborao desse relatrio, os autores constataram no existir qualquer material que documentasse experincias anteriores sobre como GLD e eficincia em energia deveriam se acoplar nos mercados de eletricidade dos pases desenvolvidos. Com isso, o relatrio da IEA (IEA, 2000) se constituiu no primeiro documento a abordar o tema de forma estruturada e revisado por especialistas da rea. Segundo esse documento, mecanismos so iniciativas que objetivam superar barreiras originadas de polticas e programas que dificultam a implantao de atividades custo efetivas em eficincia energtica e a efetivao de metas nacionais de poltica energtica. Mecanismos apiam e possibilitam a realizao de programas, pois so destinados aos agentes que desenvolvem e levam a efeito programas. J os programas distinguem-se de mecanismos porque direcionados a usurios finais. H casos em que difcil distinguir mecanismo de programa, mas importante manter presente esta distino. O trabalho da IEA (2000) identificou 25 Mecanismos para promoo de eficincia energtica que, para efeito de simplificao, foram distribudos em quatro categorias: mecanismos de controle (direcionam as empresas a mudanas de comportamento); de fundos (fornecem recursos para outros mecanismos); de suporte (fornecem apoio para mudana de comportamento de consumidores finais e de empresas) e de mercado (utilizam as foras de mercado para encorajar mudanas de comportamento de consumidores finais e de empresas). Uma breve descrio dos mecanismos mostrada na Tabela 1, baseada no relatrio IEA (2000). Foram acrescentados 3 mecanismos, considerados importantes tanto na tica de especialistas consultados quanto pela hierarquizao das sugestes dos respondentes aos questionrios relativos ao contexto brasileiro, mas ausentes do IEA (2000). Desses 3 programas, um de controle e dois so de mercado; so eles: C6 - Cdigos e padres de Guia de Eficincia Energtica

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eficincia energtica; M12 - Licenas, permisses e sistemas de negcios para emisses de GEE e M13- Certificados brancos.

Consideraes gerais e condies de contornoExperincia superior a 30 anos em pases desenvolvidos - tida como referncia para pases em desenvolvimento -, demonstra que polticas bem formuladas podem resultar em substanciais economias de energia (GELLER et al., 2006). Segundo esses autores, ao enfrentar o conjunto de barreiras especficas existentes na localidade em causa, polticas e PEEs funcionam geralmente melhor quando integradas com estratgias de transformao de mercado Sendo os mecanismos iniciativas que objetivam superar barreiras de polticas e programas, o contexto local recomendar qual o conjunto de mecanismos e sua efetividade, admitindo-se, portanto, variaes entre regies. Entende-se como contexto local a estrutura do setor, o arranjo institucional, as regras vigentes (regulamentaes) e os aspectos culturais, sociais, econmicos e suas interrelaes. So anotadas aqui algumas concluses e consideraes da IEA (2000) consideradas importantes por apontarem as condies de contorno para a avaliao realizada no presente projeto: Para muitos dos mecanismos avaliados, o relatrio IEA (2000) reconhece que inexistem informaes ou indicadores quantitativos dos impactos e da efetividade de cada mecanismo; Informaes e indicadores quantitativos variam dependendo do contexto em que o mecanismo ou conjunto deles aplicado e de como implantado; As medidas de GLD e de eficincia energtica atravs de mecanismos no so tomadas individualmente, mas em conjunto, o que produz um efeito sinrgico, sendo muitas vezes difcil dissociar o que resultado de um e de outro.

A implementao de mecanismos para transformao em mercado de eficcia energtica comumente realizada mediante polticas e programas de GLD e de eficincia em energia, o que, por sua vez, demanda um conjunto de mecanismos.

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Tabela 1. Definio dos mecanismos de eficincia energtica

Grupo Mecanismos de controle

M ECANISM OS C1 - Eficincia energtica como fonte de suprimento mandatria C2 - Licena condicionada a eficincia energtica em negcios no mercado de eletricidade C3 Planejamento integrado de recursos (PIR)

DEFINIO Requerimento legal imposto pelo governo nos negcios de eletricidade e a grandes consumidores de eletricidade, para incluir metas de eficincia energtica em suas vendas de eletricidade ou compras de eletricidade no atacado. Estabelece uma estrutura legal que requer que as companhias de eletricidade considerem e promovam eficincia energtica como parte das condies sob as quais recebem a concesso de operao. PIR uma metodologia de planejamento que procura a opo de menor custo de atendimento s necessidades de servios energticos dos consumidores. Ao determinar a opo de menor custo, o PIR avalia todas as opes pelos lados do suprimento e da demanda para um determinado perodo, a partir da perspectiva da sociedade. O PIR requer um significativo controle regulatrio que pode ser aplicado de vrias maneiras. Este mecanismo abrange o desenvolvimento e a implantao de regulamentao a exigir que os operadores da rede investiguem se alternativas do lado demanda so mais custoefetivas do que construo ou reforo da rede. Esta regulamentao pode tambm requerer que os operadores da rede faam com que processos de planejamento sejam acessveis ao escrutnio pblico e participao de stakeholders. Elementos de monoplio: transmisso e distribuio.

C4 - Eficincia energtica e gerenciamento pelo lado da demanda como alternativas expanso da rede

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Grupo

M ECANISM OS

DEFINIO Segundo a regulamentao das receitas, a receita total permitida ao negcio de eletricidade estabelecida anualmente. Dentro desse teto de receita o negcio est livre para estabelecer a estrutura os nveis dos preos de venda da forma que lhe aprouver. Qualquer receita a mais ou a menos no ano corrigida quando da determinao da receita total permitida para o ano seguinte. Este mecanismo aplicado somente a monoplios. e

C5 - Regulamentao das receitas

C6 - Cdigos e padres de eficincia energtica F1 Fundos pblicos para a eficincia energtica F2 - Financiamento da eficincia energtica atravs de negcios no mercado de eletricidade S1 - Esquemas de treinamento para profissionais da rea

de Mecanismos de fundos

Procedimentos e regulamentaes que prescrevem o desempenho energtico de produtos, podendo ocorrer proibio de venda de produtos com eficincia abaixo do mnimo. Estes procedimentos e regulamentaes tm base em protocolos bem definidos e em testes laboratoriais, com avaliaes suficientemente precisas do desempenho energtico dos produtos fabricados. Mtodo para a obteno de fundos que podem ser direcionados a atividades de GLD e de eficincia energtica. Este mecanismo aborda o desenvolvimento do papel que as empresas de eletricidade podem desempenhar ao combinar financiamentos e servios de eficincia energtica para seus consumidores, particularmente como um meio de desenvolver novas oportunidades de negcios. Os esquemas de treinamento contemplados por este mecanismo so desenvolvidos para melhorar a qualificao dos participantes na obteno de resultados sustentveis em energia e so geralmente orientados a vocaes especficas mais do que o so os programas de informao direcionados a consumidores. Enfatizam tecnologias e aplicaes de eficincia energtica e fontes renovveis de energia. Um mecanismo que trata do estabelecimento de organizaes com o nico ou principal propsito de promover a eficincia energtica e a GLD. Estas organizaes podem operar independentemente das empresas de eletricidade ou podem estar ligadas a essas empresas de vrias formas.

Mecanismos suporte

S2 - Centros de energia

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Grupo

M ECANISM OS S3 - Criao de organizaes empresariais de energia

DEFINIO Este mecanismo examina a criao, pelo governo, de organizaes com claras definies de responsabilidades no cumprimento de resultados de eficincia energtica. Essas organizaes diferenciam-se dos centros de energia porque tm objetivos mais comerciais do que aqueles dos centros e porque objetivam tornarem-se eventualmente independentes financeiramente. Examina o encorajamento, por parte do governo, do desenvolvimento de um setor de servios energticos variados, com propsito comercial e independente da regulao do mercado de eletricidade. As ESCOs desse mercado fornecero servios energticos para uma variedade de consumidores. ESCOs podem ser estabelecidas em paralelo com empresas de eletricidade ou mesmo como unidades distintas de negcio dentro das empresas de eletricidade existentes. As associaes industriais promoverem servios de eficincia energtica para seus membros. Uma associao industrial deve ter aptido para fornecer a seus membros acesso a servios de eficincia energtica que associados no teriam condies de obter individualmente. Este mecanismo possibilita aos consumidores influenciar as empresas de eletricidade atravs do poder de compra - poder de barganha - do consumidor em um mercado de eletricidade competitivo, de modo a agregar servios de eficincia energtica compra de eletricidade. Tem por objeto acordo formal entre um rgo governamental responsvel e uma empresa ou organizao. O acordo estabelece que a empresa ou organizao realize aes especficas para aumentar a eficincia em seu uso de energia. Impostos sobre energia so determinados pelo governo em algum ponto da cadeia de suprimento energtico. O efeito do imposto aumentar o preo final da unidade de energtico comprada pelo cliente do vendedor, embora o imposto seja cobrado em qualquer ponto da cadeia. Um dos efeitos do aumento dos preos ao consumidor final estimular o uso mais eficiente da energia.

S4 - Desenvolvimento das ESCOs (Energy Service Companies) S5 - Promoo de eficincia energtica pelas associaes industriais S6 Agregao de compra de eletricidade para atingir eficincia energtica S7 - Acordos voluntrios de eficincia energtica Mecanismo s de mercado

M1 - Impostos sobre energia

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Grupo

M ECANISM OS M2 - Iseno de impostos e incentivos para eficincia energtica M3 - Fornecimento de informaes de consumo nas contas de eletricidade M4 - Comunicao de preos e outras informaes para eficincia energtica M5 - Etiquetagem (selos) de desempenho energtico M6 - Desenvolvimento de uma marca de eficincia energtica

DEFINIO Este mecanismo utiliza iseno de impostos e incentivos com o propsito de promover investimentos em eficincia energtica pelos consumidores finais. As empresas de eletricidade fornecem informaes especficas sobre o nvel de consumo de eletricidade do consumidor na sua conta de energia. Isto pode encorajar o consumidor a melhorar a eficincia em seu uso de energia. Este mecanismo motiva os consumidores a modificarem hbitos de consumo atravs de informaes sobre expressivos incentivos nos preos da eletricidade que recebem das distribuidoras e de outras informaes que possam promover essa mudana de comportamento. Informa os consumidores finais sobre o desempenho energtico de equipamentos, como eletrodomsticos e at mesmo edificaes. Este mecanismo procura aumentar o conhecimento dos consumidores sobre produtos eficientes e servios de eficincia atravs de campanhas de marketing focadas em uma marca (smbolo) especfica. Esta marca geralmente implica no desenvolvimento de imagem grfica visualmente identificvel ou logotipo aplicado em todos os produtos e servios qualificados. Produtos e servios podem requerer credenciamento por autoridade reconhecida antes de obter qualificao para o recebimento da marca. Clientes compradores de grandes quantidades de equipamentos consumidores de energia unem-se para definir suas demandas, enviam propostas a indstrias e fornecedores, avaliam os resultados das propostas e compram os equipamentos da oferta mais vantajosa. As proposies dos clientes podem incluir especificaes de eficincia energtica equivalente ou at superior quela inserida nas "melhores prticas". Envolve um contratado - tipicamente uma ESCO - que garante certa economia de energia em determinado perodo de tempo. Realiza as melhorias necessrias para eficincia energtica e recebe retribuio com base nos resultados das economias obtidas.

M7 - Cooperao para obteno de aparelhos e equipamentos eficientes em uso da energia

M8 - Contratos de performance

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Grupo

M ECANISM OS M9 - Servios de fornecimento de energia competitivos M10 - Fornecimento competitivo de equipamentos para o lado da demanda M11 - Leilo do lado da demanda em mercados competitivos

DEFINIO Neste mecanismo os proponentes especificam suas necessidades de servios energticos a vrios fornecedores, como ESCOs e empresas de eletricidade. As propostas recebidas so ento avaliadas e a vencedora recebe a contratao. Neste mecanismo empresas de eletricidade e/ou outras partes especificam suas necessidades quanto a GLD e eficincia energtica mediante uma Chamada Pblica de Propostas. As respostas recebidas so avaliadas e a vencedora ter o contrato. Esquemas de leilo lado da demanda oferecem a oportunidade de a oferta de reduo da demanda feita pelo consumidor compensar a diferena de gerao ou compra de eletricidade no mercado de atacado pelas empresas de eletricidade. Tipicamente, essa oportunidade concretizada pelo lance do consumidor no mercado de atacado de eletricidade a um nvel de preo acima do qual o consumidor reduzir sua demanda de eletricidade. Neste mecanismo, emisses evitadas de gases de efeito estufa (GEE) atravs de atividades de eficincia e conservao de energia so comercializveis e combinadas com a obrigao de cumprimento de meta fsica de reduo de emisses de GEE pelos agentes do mercado. Os mercados de crdito de carbono so um exemplo de aplicao desse mecanismo. Os crditos somente so emitidos aps a quantidade de emisses evitadas ter sido certificada por rgo independente e devidamente autorizado. So documentos atestando ter sido obtida determinada reduo de consumo de energia, ou seja, so certificados de economias de energia. CBs so comercializveis e combinados com a obrigao de cumprimento de meta fsica de economia de energia pelos agentes do mercado. Os CBs somente so emitidos aps a quantidade de energia dita como economizada ter sido certificada por rgo independente.

M12 - Licenas, permisses e sistemas de negcios para emisses de GEE

M13 Certificados brancos (CBs)

Fonte: baseado em relatrio da IEA (2000).

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3. Eficincia Energtica - Aspectos DA evoluo no exterior e no BrasilNa atualidade, a indstria global consome 40% da eletricidade, 77% do carvo e 27% do gs natural (GN) produzidos no mundo, o que representa grande parcela da emisso total de CO2 (IEA, 2006). Nos pases em desenvolvimento a demanda de energia da indstria supera os 50%, e onde esto as maiores oportunidades para melhorar sua competitividade e aumentar a eficincia energtica. O panorama histrico mundial mostra que boa parte das estratgias e mecanismos de fomento a aes de eficincia em energia agora existentes se iniciaram na dcada de 1970, quando predominaram aes de conscientizao dos consumidores para mudana de hbitos e padres de utilizao de equipamentos, aes associadas a concesso de incentivos fiscais, facilidades creditcias e descontos tarifrios para aquisio de equipamentos mais eficientes. Foram tambm criados incentivos para substituio de derivados de petrleo e para investimentos em projetos de P&DI relacionados a equipamentos eficientes e a fontes de energia alternativas queles derivados. A partir dessa poca surgiram vrias entidades, sobretudo em pases mais desenvolvidos, com a finalidade de criar e manter estratgias, fornecer informaes e capacitar pessoal que promovessem hbitos racionais de consumo e orientao para aquisio de equipamentos eficientes. Na dcada de 1980 surgiram muitos programas de gerenciamento lado da demanda (GLD), com propostas de medidas para otimizao da gesto energtica. O Planejamento Integrado de Recursos (PIR) foi adotado em pases como Estados Unidos, Canad e Dinamarca com o objetivo de planejar a expanso do setor eltrico e do gs canalizado, classificando os novos programas de eficincia energtica em igualdade com as demais alternativas de expanso da oferta de energia disponveis. Programas de etiquetagem bem sucedidos, ainda na dcada de oitenta, impuseram eficincias mnimas obrigatrias1 para equipamentos, veculos e prdios, amparados por legislaes especficas. Na dcada de 1990 ocorreu um processo de reestruturao institucional dos setores eltrico e de gs canalizado para efetivao de um ambiente competitivo nas etapas de produo, importao e comercializao de eletricidade e gs natural e que, aliado preocupao ambiental, se refletiu nos programas de eficincia energtica com alguns efeitos, como: Exigncia de mensurao confivel dos resultados para alguns programas; um novo programa seria implantado somente se demonstrasse uma relao benefcio/custo maior que um valor pr-estabelecido;

Entre as opes de mecanismos de PEEs, o sistema de ndices mnimos de eficincia energtica est entre os de resultados mais efetivos no que se refere ao uso racional e transformao de mercados de eficincia energtica, isso em mbito mundial. Nos Estados Unidos so utilizados, como padres mnimos, os chamados

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Atribuio de privilgios a alguns programas considerados capazes de transformar o mercado via remoo de imperfeies e barreiras que impedissem a plena afirmao dos princpios da eficincia energtica no mercado, com vista a uma transformao permanente; Surgimento de acordos voluntrios entre classes de usurios, especialmente de industriais consumidores intensivos de energia e o governo; Surgimento e incentivos atuao de empresas prestadoras de servios de eficincia energtica, as ESCOs, e tambm estmulos realizao de contratos de desempenho entre essas empresas e os consumidores industriais, entre outros.

Na dcada atual a expanso do uso de fontes renovveis de energia em pases desenvolvidos - e em boa parte dos pases em desenvolvimento -, tem sido uma das boas iniciativas para a realizao de metas de diminuio de emisso de gases efeito estufa. Outra iniciativa importante, praticada no exterior, corresponde instituio de normas de eficincia energtica (gesto otimizada) para estabelecimentos industriais - sobretudo os energointensivos -, de aplicao voluntria, compatveis com as normas da International Organization for Standardization (ISO), sendo a ISO 9000 para a qualidade e a ISO 14000 para a gesto ambiental, observada nos EUA, Sucia, Dinamarca, Irlanda e China (BAJAY et al., 2008). A ISO 50001, apesar de generalista, tem formatao em via de efetivao. Mais recentemente, leiles de ofertas de projetos de eficincia em energia e programas de oferta-padro em que se oferecem incentivos fixos por medidas de eficincia implantadas e verificadas -, tm-se constitudo em iniciativas interessantes de concessionrias de energia eltrica de alguns pases, como os EUA, e aplicados com sucesso nos setores comercial e industrial. A implementao de Certificados Brancos, semelhana dos Certificados Verdes para gerao a partir de fontes renovveis e dos Certificados Pretos para emisses de carbono, est sendo cogitada ou j adotada na Europa e em outros pases com o objetivo de apoiar a meta de reduo de energia imposta s companhias de energia. Quanto ao Brasil, grande parte das medidas de eficincia energtica teve implantao na dcada de 1970 devido necessidade premente de reduzir o consumo de leo combustvel durante a crise de abastecimento desse energtico. Na dcada de 1980 as empresas estatais Eletrobrs e Petrobrs geriam o Programa Nacional de Conservao de Energia Eltrica Procel -, e o Programa Nacional de Racionalizao do Uso de Derivados de Petrleo e do Gs Natural Conpet -, respectivamente. A Agncia Nacional de Energia Eltrica ANEEL implantou, no final da dcada de 1990, o Programa de Eficincia Energtica (PEE), realizado pelas concessionrias de distribuio de energia eltrica sob superviso da Agncia. A Lei de Eficincia Energtica promulgada em 2001 trouxe, finalmente, as condies necessrias para possibilitar medidas como a imposio de eficincias mnimas obrigatrias a equipamentos, veculos e edifcios, e que continuam sendo implementadas Guia de Eficincia Energtica

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pelo Comit Gestor de Nveis e Indicadores de Eficincia Energtica, rgo presidido pelo Ministrio de Minas e Energia (MME). A promoo da eficincia energtica no Brasil mediante mecanismos de mercado - com destaque para os leiles de eficincia energtica, programas de oferta-padro e certificados brancos -, vem sendo discutida na esfera do Ministrio de Minas e Energia com intermediao da Empresa de Pesquisa Energtica (EPE). Esta ao , evidentemente, desejvel e vantajosa, pois aumenta a diversidade de estratgias e programas, especialmente em momento de expanso do setor energtico brasileiro. A experincia internacional e do Brasil em eficincia energtica mostra que, por conta das barreiras interpostas ao uso racional da energia, so desenvolvidos numerosos mecanismos de fomento a aes de eficincia energtica os quais - juntamente com estratgias de ao tanto de carter estruturante como operacional - constituem instrumentos para implementao dos programas discutidos neste trabalho. Isto feito atravs de anlise voltada sua aplicabilidade no Brasil.

4. Anlise DE PEEs e indicativos de mecanismos4.1. Mecanismos internacionaisAo considerar os vrios mecanismos encontrados nos principais PEEs para o setor industrial ao redor do mundo, pde-se constatar que alguns dos mecanismos apresentam tendncia a maior utilizao, valendo ressaltar: A promoo de eficincia energtica por associaes industriais (S5) foi encontrada 14 vezes no rol de PEEs internacionais analisado; Eficincia energtica como fonte de suprimento mandatria (C1) foi encontrada nove vezes; Acordos voluntrios de eficincia energtica (S7) foram vistos oito vezes; Eficincia energtica e gerenciamento pelo lado da demanda como alternativas expanso da rede (C4) constaram sete vezes.

Todavia, quando os mecanismos foram analisados com foco nos Mecanismos Principais para fomento dos PEEs, a sequncia decrescente de utilizao dos cinco mecanismos mais frequentes listada a seguir: Eficincia energtica como fonte de suprimento mandatria (C1) esteve presente cinco vezes como mecanismo principal;

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Acordos voluntrios de eficincia energtica (S7) foram vistos cinco vezes; Eficincia energtica e gerenciamento pelo lado da demanda como alternativas a expanso da rede (C4), presentes quatro vezes; Promoo de eficincia energtica por associaes industriais (S5) foi visto 3 vezes; Fundo de recursos pblicos para eficincia energtica (F1) constava duas vezes.

Estas duas formas de anlise dos vrios mecanismos encontrados nos mais diversos PEEs internacionais mais os mecanismos em uso no Brasil - sobretudo aqueles selecionados atravs de workshops e dos questionrios qualitativo e quantitativo -, forneceram os indicativos para escolha dos mecanismos aplicados na simulao desenhada para dimensionar os impactos e a superao de barreiras a eficincia energtica no setor de celulose e papel, inclusive indicativos para a construo de polticas pblicas envolvendo PEEs para o setor.

4.2. Mecanismos indicados por workshops e questionriosOs questionrios aplicados a fabricantes de celulose, papel e embalagem, a fabricantes de equipamentos e a fornecedores de consultoria especializada foram avaliados atravs da Anlise Hierrquica de Processos (AHP)2. A tcnica em questo foi usada para a classificao e priorizao das respostas, realizadas por meio de planilha Excel na forma de matriz e vetores e pacote estatstico. Os questionrios, alm dos dados para as variveis tcnicas de processo e sua quantificao, contemplaram o levantamento de questes que, direta ou indiretamente, se relacionam com perspectivas financeiras, de mercado, processos e aprendizado do setor de celulose e papel, por tipo de planta, distintamente: celulose, integrada e embalagem. Do informado pelo total dos respondentes pde-se inferir uma hierarquizao de prioridades que sujeita a implantao de PEEs no setor de celulose e papel, e que se coloca na seguinte ordem decrescente de importncia: 2

Reduzir custos; Elevar produtividade; Cumprir com a regulamentao ambiental; Reduzir consumo de energia;

AHP uma tcnica matemtica de tomada de deciso criada em 1980 pelo professor Thomas Saaty da Escola Wharton, Universidade da Pensilvnia EUA.

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Reduzir emisses de GEE.

A ttulo de exemplo, a Tabela 2 e a Tabela 3 mostram os resultados obtidos de um universo de 16 respondentes a perguntas relativas a perspectiva de incentivos para PEE. Tabela 2. Perspectivas - Incentivos I

Governo deve criar incentivos para equipar as plantas com tecnologias mais eficientes (processo - cogerao etc.)? Sim No No respondeu Total 13 0 3 16

Tabela 3. Perspectivas - Incentivos II

Que mecanismos deveriam ser adotados para efetivar esses incentivos? (As 3 alternativas no foram mutuamente excludentes). Leiles especficos de compra da eletricidade gerada, com preos compensatrios Incentivos fiscais/financeiros Outros mecanismos No respondeu Total

4 10 2 0 16

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5. Panorama do Setor de celulose e papel - plantas de celulose, integradas e embalagemInformaes do setor sinalizam a instalao de seis a oito novas plantas de celulose para os prximos dez anos. Segundo dados apresentados no Relatrio Anual 2008/2009 divulgado pela Bracelpa, o Brasil subiu da 6. para a 4. posio entre os produtores mundiais de celulose, com 12,7 milhes de toneladas produzidas, e passou da 12. para a 11. posio entre os fabricantes de papel, com 9,4 milhes de toneladas fabricadas. A eficcia brasileira na rea de florestas plantadas representa fator essencial de competitividade no segmento de celulose de fibra curta de mercado, setor em que o Pas detm posio de liderana global. As empresas, praticamente a sua totalidade, so de grande porte e capital-intensivas, e a realizao dessas grandes unidades industriais sempre precedida de projetos florestais, de modo a assegurar o necessrio suprimento de madeira s novas capacidades. No Brasil, a produo de celulose se distribui em 81% de celulose qumica processo kraft, 12% de polpas processo soda e os 7% restantes por sistemas de polpao diversos, inclusive o processo sulfito (CETCEP, 2009). O processo kraft ou sulfato oferece vantagens sobre os demais sistemas de produo por admitir variada gama de madeiras como matria-prima, demandar tempo de cozimento relativamente curto dos cavacos de madeira e gerar polpa branquevel com fibras de alta resistncia. As caractersticas mais relevantes do processo kraft consistem no alto ndice de recuperao dos agentes qumicos utilizados no cozimento, que so retornados ao processo, e a produo de vapor e energia mediante combusto dos produtos orgnicos da madeira dissolvidos durante o procedimento de polpao; combusto realizada em caldeiras especficas, as caldeiras de recuperao. A produo de energia grande e constitui fator de relevante importncia econmica e ambiental. So agentes qumicos bsicos da polpao o hidrxido de sdio (NaOH) e o sulfeto de sdio (Na2S). Como dito, fbricas kraft so capital intensivas, principalmente pela elevada escala de produo praticada e a linhas de lavagem e branqueamento da polpa algo complexas. Os qumicos principais para o branqueamento da polpa kraft so o dixido de cloro (ClO2), o perxido de hidrognio (H2O2), o oxignio (O2) e mais outros de ao complementar. Em 2008 o setor de celulose e papel teve participao de 10,9% no consumo total de energia da indstria, mas em suas instalaes produziu 48,0% da eletricidade consumida pelo setor, que foi de 17,7 TWh (BEN, 2010). Os principais combustveis consumidos pela indstria de celulose e papel do Pas, em 2008, foram: licor negro, biomassa, gs natural e leo combustvel, nesta ordem. Desde 1984 - quando terminou o bem sucedido acordo da Bracelpa com o governo federal que estabelecia a substituio de leo combustvel por biomassa - o combustvel com maior crescimento de utilizao tem sido o licor negro das plantas. O gs natural foi introduzido no Guia de Eficincia Energtica

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setor em 1981 e esta aplicao cresceu at 2007. Em 2008, com as incertezas surgidas quanto a garantia de seu suprimento, ocorreu aumento da participao do leo combustvel e da biomassa, em desfavor do gs natural. Fbricas de celulose e plantas integradas precisam de grandes quantidades de vapor e energia eltrica e no podem, portanto, descartar a segurana de suprimento implcita na cogerao. Em 2008 o setor de celulose e papel produziu 22,9% do total da eletricidade autoproduzida pelo setor industrial brasileiro (BEN, 2010), o que corresponde maior participao dentre todos os setores da indstria que produzem energia eltrica para consumo prprio. A gerao dos 8.538 GWh de energia feita pelo setor de celulose e papel, em 2008, se origina dos seguintes combustveis: 63,9% do licor negro, 14,9% da biomassa (principalmente resduos de madeira do processo), 7,1% do leo combustvel, 6,3% do gs natural, 5% de hidreltricas e os restantes 2,8% obtidos de leo diesel e carvo mineral (BEN, 2010). A produo de eletricidade por biomassa, nas plantas brasileiras de celulose e integradas, feita em instalaes com ciclos de vapor, em regime de paridade trmica, utilizando, em geral, turbinas de contrapresso e, com menos frequncia, turbinas de extrao-condensao. A caldeira de recuperao qumica das quais operavam cerca de 30 unidades em 2007 com capacidade mdia de queima de 1.600 tss/dia e idade mdia de 17 anos - o principal componente nos sistemas de cogerao do setor de celulose e papel. Desde o ano 2000 foram construdas ou reformadas 10 dessas unidades. Expressivo aumento da capacidade de queima das caldeiras de recuperao tendncia mundial e brasileira, inclusive com ganhos expressivos em eficincia, seja pelo aumento do teor de slidos do licor negro e seja pelo aumento de reas de troca trmica atravs do desenvolvimento de reaquecedores e pr-aquecedores. Aes e programas de eficincia energtica na indstria de celulose e papel domstica tm advindo mais da necessidade de solucionar questes ambientais do que da busca de eficcia em energia. As principais novas tcnicas poupadoras de energia e causadoras de menor poluio podem, basicamente, ser encontradas nas reas de: Orientao da alimentao e limpeza da madeira antes dos picadores; Recuperao de calor nos digestores; Elevao da concentrao do licor negro; Operao com polpa de alta consistncia; Formao da folha de papel com ar (a seco) Utilizao de prensas de sapata; Secagem em cinta condensadora (condebelt);

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Secagem por impulsos; Recuperao de vapor na mquina de papel; Fechamento da capota da mquina de papel; Processos de branqueamento ECF e TCF; Construo de biorrefinarias; Integrao de processos de fabricao; Fechamento de sistemas de guas; Emprego de tecnologias avanadas de cogerao; Gaseificao do licor negro; Uso de tecnologia da informao no controle de processos; e Emprego de motores de alto rendimento e inversores de frequncia.

Com o objetivo, portanto, de avaliar o potencial tcnico de conservao de energia por tipo de planta e por etapa de processo em relao s melhores tecnologias disponveis no mercado (Best Available Technologies - BAT) indicadas na literatura e por tcnicos consultados, foi realizado um amplo levantamento de dados e informaes atravs de workshops e questionrios quantitativos, com cooperao direta da ABTCP e de seus associados. Desse universo de informaes e dados torna-se possvel selecionar empresas brasileiras de referncia para plantas de celulose, plantas integradas e embalagem.

5.1. Tecnologias e processos inovadoresAo longo das duas ltimas dcadas o setor de celulose e papel passou por intenso processo de modernizao - particularmente das plantas de celulose -, com vista a aumentos de capacidade para satisfazer demandas do mercado, basicamente mercado externo. Com isso, a energia tem merecido ateno especial, seja porque essencial produo e seja por ser elemento relevante na estrutura de custos. Entretanto, persistem amplas as oportunidades de o setor se tornar energeticamente mais eficiente e ambientalmente ainda mais limpo, e realizar, finalmente, a desejada economia de baixo carbono. SCHAEFFER et al. (2009) mostram que a indstria de celulose e papel, embora com elevado consumo de combustveis, tem emisses baixas de CO2 em decorrncia do intenso uso de fontes energticas renovveis. A participao do setor de celulose e papel no total das emisses da indstria de 2,6%.

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A despeito do insucesso das negociaes empreendidas na Conferncia COP 15 de dezembro 2009, em Copenhague, alguns dos principais pases emissores - como Estados Unidos, China e Brasil anunciaram, pela primeira vez, propostas de metas de reduo de emisses, embora deva ser lembrada a situao peculiar de cada pas. Dados de 2005, relativos ao primeiro inventrio de emisses de gases efeito estufa no Brasil, mostram, como indicado na Tabela 4, que grande parte das emisses brasileiras de GEE reporta-se ao processo de mudana no uso de terras e florestas com as correspondentes aes de desmatamento, causa de 58% do total de emisses. A atividade agropecuria tambm tem emisses relevantes, com 22% do total.

Tabela 4. Tabela de emisses de GEE por fontes (%)M undo Energia 61,4 EUA 86,3 Brasil 16,0

Processos industriais

3,4

5,0

2,0

Mudana no uso de terras e florestas Agropecuria Tratamento de resduos

18,2 13,5 3,5

0,6 5,8 2,3

58,0 22,0 2,0

Fonte: BNDES, 2010.

Como se v da disparidade na composio de emisses entre o Brasil e o resto do mundo, nosso Pas tem oportunidade de diminuir sensivelmente seu nvel de emisses a custo relativamente baixo, apenas mediante polticas de reduo do desmatamento e uso mais racional da terra. Essa oportunidade ao alcance do Brasil praticamente nica entre os grandes pases emissores. Os demais pases devero desenvolver aes que lhes permitam reduzir emisses sem comprometimento do prprio nvel de desenvolvimento. Como a maior parte das emisses est associada a consumo de combustveis fsseis para gerao de energia, as principais trajetrias de desenvolvimento tecnolgico diro respeito a significativa reduo na dependncia desses combustveis. Isso implicar em gastos considerveis em pesquisas

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cientfico-tecnolgicas com vista descarbonizao da economia, sobretudo nos setores industriais. Nesse cenrio, o segmento de celulose e papel no pode descuidar desta janela de oportunidade para uma firme insero em pesquisa cientfica e tecnolgica, principalmente em processos industriais com maior eficincia em energia, em reaproveitamento de resduos, em questes de efluentes e emisses gasosas, assim como em nveis superiores de conformidade e rastreabilidade. Novos produtos, os sinalizados como amigo do meio ambiente, devero ganhar cada vez mais fora nos prximos anos. O caminho brasileiro na reduo de emisses leva, necessariamente, a uma concentrao de aes na agropecuria e florestas. Entretanto, caso se restrinja apenas a esses campos o Brasil correr o risco de ficar margem de um novo movimento de expanso da fronteira tecnolgica, liderado pelos investimentos em tecnologias de baixo carbono. Isso porque pases desenvolvidos investiro pesadamente na busca de inovaes que permitam reduo do uso de energia. Contudo, como processo ainda incipiente, o pas tem excelente oportunidade de se preparar e acompanhar o avano das fronteiras tecnolgicas a par dos pases atualmente mais desenvolvidos. O setor de celulose e papel dispe de uma variedade de medidas para mitigao ambiental cuja adoo significaria diminuio da demanda de energia. Essas medidas contemplam desde as muito simples e de baixo custo, relacionadas a gesto do processo produtivo, quanto as que implicam a incorporao de novas tecnologias, portanto, aes mais complexas, que demandam aportes apreciveis de recursos e ambiente econmico favorvel. Entre as aes possveis sobressai o uso de tecnologias emergentes comercialmente disponveis, a otimizao da energia na produo, a ampliao do mix de fibras celulsicas (fibras virgens e fibras secundrias), a substituio de combustveis e a cogerao de energia. Algumas inovaes podem ser aplicadas de forma transversal na maioria das etapas do processo, como seria a adoo de motores eltricos de alto rendimento. Outras aes exigiriam, necessariamente, novas tecnologias ou desenvolvimentos, mas possibilitariam ganhos de eficcia em energia em etapas especficas do ciclo da produo ou no sistema de utilidades integrado ao processo; como exemplos, haveria: melhorias no sistema de combusto das caldeiras, implantao de procedimentos de recuperao de calor em etapas de secagem e integrao de processos. Novas tecnologias e novos processos podem propiciar economias de energia bastante expressivas, mas pressupem, em contrapartida, investimentos bem mais elevados e cuja efetivao demandaria a superao de barreiras a aes de eficincia energtica. A Tabela 5 apresenta as principais novas tecnologias poupadoras de energia na indstria de celulose e papel e sua aplicabilidade por tipo de planta.

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Tabela 5. Novas tecnologias e novos processos na produo de celulose e papel e sua aplicabilidade por tipo de plantaTecnologias-Processos Picadores de madeira alinhamento das toras e sua limpeza antes do picador Digestor recuperao de calor Evaporadores elevao da concentrao do licor negro Operao com pasta de alta consistncia Formao da folha de papel com ar (a seco) Prensas de sapata (shoe-press), tambm conhecida como long-nip press Secagem mecnica em cinta condensadora (condebelt) Secagem por impulsos Recuperao de vapor na mquina de papel Fechamento da capota da mquina de papel Processos de branqueamento ECF e TCF Biorrefinaria Integrao de processos de fabricao Fechamento de sistemas de guas Tecnologias avanadas de cogerao Gaseificao do licor negro Tecnologia da informao no controle de processos Motores de alto rendimento e inversores de frequncia Aplicabilidade por tipo de planta Celulose sim sim sim no no sim Integrada sim sim sim sim sim sim Embalagem no no no sim sim sim Fonte -IEA (2008) e BNL (2009) IEA (2008) IEA (2008) e BNL (2009) IEA (2006) IEA (2006) BNL (2009)

sim no no no

sim sim sim sim

sim sim sim sim

IEA (2006) IEA (2006) IEA (2008) Visitas - Kramer et al. (2010) e BNL (2009) rea (2005) IEA (2008) Foelckel (2008) Visitas tcnicas Visitas tcnicas Martin et al. (2000) Visitas tcnicas Visitas tcnicas

sim sim sim sim sim sim sim sim

sim sim sim sim sim sim sim sim

no no sim sim no no sim sim

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5.2. Potenciais de economia no setorEm 2004 o setor de celulose e papel possua, segundo a Agncia Internacional de Energia (AIE), um potencial tcnico global de conservao de energia primria de 15% a 18% (IEA, 2007). Decompondo o consumo energtico entre energia trmica e energia eltrica, a Agncia encontrou potenciais tcnicos mdios de economia de 14% e 16%, respectivamente. H projees que apontam a gaseificao do licor negro - resduo da produo de celulose kraft - e sua utilizao na gerao de energia eltrica em planta de cogerao de ciclo combinado como capazes de produzir economia de energia de at 15% em plantas piloto e unidades de demonstrao at o ano de 2015. Essas economias podero atingir 20% em unidades de demonstrao e nas primeiras plantas comerciais at 2030, e 23% em plantas comerciais at 2050 (IEA, 2006). A secagem por impulsos pode propiciar economias de energia de 20% a 30% na secagem de papel. Segundo a AIE, essa tecnologia estar em plantas pilotos at 2015. Em plantas de demonstrao e nas primeiras plantas comerciais at 2030; em 2050 j sero tecnologias consagradas e amplamente utilizadas em escala comercial (IEA, 2006). MARTIN et al. (2000) afirmam que na indstria de papel e celulose: (i) a gaseificao do licor negro tem grandes chances de no futuro propiciar elevadas economias de energia; (ii) a secagem por impulsos e a recuperao de calor na fabricao de papel tm razoveis perspectivas de tambm possibilitarem notveis economias de energia; e (iii) a formao a seco (com ar) da folha de papel, que demonstra um mdio potencial de conservao de energia, dever se difundir bastante no futuro. Diversos levantamentos realizados na atual dcada na indstria canadense de celulose e papel detectaram potenciais tcnicos de economia de vapor que variam de 40% a 96% e potenciais de economia de energia eltrica variando de 20% a 30%, dependendo dos tipos de fbrica e de papel (IEA, 2007). A AIE tem estimado potenciais de conservao de energia trmica na indstria de celulose e papel chinesa entre 14% e 27%; os potenciais de conservao de energia eltrica, por sua vez, se situaram na faixa de 23% a 33% (IEA, 2007). MELLADO e CERDA (2008) e MALDONADO (2008) reportaram potencial de conservao de energia de 2,2% na indstria de papel e celulose chilena, em avaliao do ano de 2008. Para estimar potenciais de conservao de energia na indstria de celulose e papel, a AIE definiu indicadores que comparam os consumos energticos anuais reais de combustveis e de energia eltrica com consumos correspondentes caso fossem utilizadas as melhores tecnologias disponveis, considerados quatro processos de polpao: mecnica; Guia de Eficincia Energtica

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qumica; fibras recicladas; fibras recicladas destintadas. Tambm sete tipos de papel: papel de imprimir/escrever; papel revestido; de embalagem; papel-jornal; papis sanitrios; cartolinas e outros. Com base nesses indicadores, a AIE estimou para a indstria de celulose e papel brasileira um potencial de conservao de energia trmica de 13% em 2003 (IEA, 2007) e de 9% em 2005 (IEA, 2008); quanto a consumo de energia eltrica foi encontrado potencial de conservao de 26% em 2003, um dos mais altos entre os pases analisados pela Agncia (IEA, 2007). Ainda para a indstria de celulose e papel brasileira, em 2006 a Abesco (Associao Brasileira das Empresas de Servios de Conservao de Energia) estimou um potencial de conservao de energia de 6% (MOURA, 2006). O Plano Nacional de Energia 2030 projeta, para a indstria de celulose e papel domstica nesse ano de 2030, potencial de economias de energia eltrica de 4% a 11%, a depender do cenrio de crescimento econmico adotado. (EPE/MME, 2007). Segundo o Balano de Energia til editado pelo Ministrio de Minas e Energia (MME, 2005), s substituies por equipamentos mais eficientes disponveis no mercado possibilitariam ao setor de celulose e papel nacional, em 2006, uma economia de energia de 5,3%; 85,7% dessa economia ocorreria no uso final de calor de processo. Em convnio firmado entre CNI e Eletrobras/Procel Indstria, GORLA e BAJAY (2008) estimaram no ano de 2006 - os potenciais tcnicos de conservao de energia para a indstria de celulose e papel brasileira assumindo dados de produo e consumo especficos mdios possibilitados pela aplicao da melhor tecnologia disponvel (BAT-Best Available Technology) pelas fbricas de celulose, integradas e de fabricao de papis de fibras virgens e papis de aparas. Segundo o Balano Energtico Nacional BEN (EPE/MME, 2009), o potencial de conservao total de energia encontrado para essa indstria foi de 1.433.294 tep, que corresponde a 17,9% de seu consumo energtico total em 2006. Esse consumo energtico total foi desmembrado em consumos de energia trmica e de energia eltrica, e os potenciais de conservao resultaram de 19% e 12%, respectivamente, segundo consta no BEN (Balano Energtico Nacional). Os maiores potenciais tcnicos absolutos de conservao esto nas fbricas integradas, nas fbricas produtoras de papel com celulose de terceiros e nas fbricas de celulose, respondendo, respectivamente, por 35,9%, 33,3% e 24,8% do potencial total de conservao. As plantas de embalagem so as que menos consomem energia e, tambm, as que possuem menor potencial de conservao. (BAJAY, GORLA e BORDONI, 2009). De se salientar que o aproveitamento desse potencial tcnico no ocorre somente atravs de substituies de equipamentos por outros mais eficientes, mas, tambm, por via de otimizao sistmica das vrias etapas da produo, o que envolve integrao de processos, conforme demonstrado nos questionrios e nos workshops realizados. O questionrio quantitativo (Anexo 1) subsidiou o levantamento dos potenciais tcnicos de Guia de Eficincia Energtica

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eficincia energtica por tipo de planta e por etapa dos processos, tanto em termos de energia trmica quanto de energia eltrica. O questionrio qualitativo (Anexo 2) forneceu os elementos para indicar os mecanismos que podem favorecer aes efetivas de eficincia energtica na empresa respondente, nas mais diferentes reas (materiais, equipamentos, tecnologia da informao, processos e/ou etapas produtivas, incentivos a novas tecnologias, cogerao, e mais outras). Futuros ganhos em eficincia energtica nas plantas de celulose e plantas integradas sero obtidos, no Brasil, principalmente mediante a incorporao paulatina das melhores tecnologias, como exposto neste projeto. J as melhores oportunidades de economia de energia nas fbricas embalagem, sobretudo naquelas de papis de fibras secundrias, devero consistir na substituio de equipamentos obsoletos, na reduo de perdas de vapor, na otimizao dos sistemas de bombeamento e de ar comprimido, na automao de equipamentos e processos e na adoo de mtodos eficazes de gesto energtica.

6. Mecanismos de incentivo a PEE, modelagem, cenrios e resultadosNa literatura internacional pesquisada no foram encontrados mecanismos desenhados especificamente para vencer barreiras postas a PEEs no setor de celulose e papel. Foram encontradas situaes em que a introduo de mecanismos propiciava incentivos a PEE para o setor industrial no seu todo. Com essa referncia, o setor de celulose e papel, baseado em argumentos da consultoria, identificou e escolheu 3 mecanismos que, se aplicados indstria de celulose e papel nacional, dariam impulso a aes de eficincia energtica. Com essa premissa foi desenvolvida a modelagem da expanso da produo nacional ,com o intuito de estimar impactos em cenrios de mdio e longo prazos.

6.1 Premissas da modelagem e cenriosCom isso, so a seguir apresentados os 3 mecanismos de fomento a EE no setor de celulose e papel escolhidos mediante caracterizao dos principais mecanismos aplicados no mundo, mantendo-se presentes o estado-da-arte e a razoabilidade de sua aplicao no Brasil. De notar que os workshops, as entrevistas com especialistas em celulose e papel e com fabricantes de equipamentos foram eventos fundamentais na escolha dos mecanismos para fomento de PEEs. Por fim, como suporte s simulaes e visando quantificar os impactos dos mecanismos escolhidos, foi introduzido um mdulo especfico na modelagem adotada, o recorrente custo Brasil.

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So feitas projees da produo fsica de celulose, papel e embalagem com horizonte de 2030. Para tanto, utilizada modelagem economtrica combinada aos cenrios de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) propostos pelo Fundo Monetrio Internacional (FMI), pelo Plano Nacional de Energia 2030 (PNE 2030) e pelo Department of Energy (DOE) dos EUA para o Brasil e os principais pases importadores de celulose brasileira. Com essas projees so avaliados os impactos resultantes da aplicao dos mecanismos principais escolhidos, ou seja: i) promoo de eficincia energtica pelas associaes; ii) acordos voluntrios de eficincia energtica; e iii) iseno de impostos-incentivos para eficincia energtica. Outros mecanismos de eficincia energtica como fonte de suprimento mandatria; cdigos; padres de eficincia energtica e fundo pblico para eficincia energtica foram considerados mecanismos secundrios.

6.1.1 Projees da produoA evoluo das produes projetada com base no cenrio econmico de crescimento do PIB (FMI/PNE/DOE) e dos mecanismos principais propostos avaliada frente possibilidade de ocorrncia de dois cenrios tecnolgicos: Introduo de tecnologias BAT disponveis comercialmente sem incentivos fiscais e financeiros, visando PEE. Neste caso, a introduo da BAT ocorre naturalmente, por conta da depreciao das mquinas e equipamentos em operao, cobrindo 95% do parque industrial durante perodo de dez anos, com introduo de inovaes tecnolgicas (gaseificao3 e biorrefinaria4) somente a partir de 2020. Introduo de tecnologias BAT atravs de mecanismo de acordo voluntrio, simultaneamente a promoo de eficincia energtica pela associao tcnica do setor. Neste contexto haver incentivos fiscais e financeiros para substituio de mquinas e equipamentos existentes, cobrindo 95% do parque industrial durante perodo de seis anos, com introduo de inovaes tecnolgicas (gaseificao e biorrefinaria) a partir de 2015. Leiles de eficincia energtica, a partir de 2013. Barreiras a eficincia energtica so superadas, possibilitando explorar parte do potencial tcnico existente com reflexos positivos no abatimento de emisses de CO2 e, tambm, no aumento de produtividade e competitividade dos produtos do setor de celulose e papel.

Para os dois cenrios tecnolgicos considerados h a premissa de que a demanda mundial de celulose e papel seguir crescendo. Durante os ltimos 23 anos a produo de3 Processo de oxidao parcial do licor negro mediante contato com quantidades subestequiomtricas de ar e/ou oxignio, de forma a converter compostos orgnicos em gs combustvel e recuperar compostos inorgnicos para o processo. 4 Utilizao de biomassa com vista produo integrada de bioenergia, biomateriais e bioprodutos atravs de processos tecnolgicos avanados de separao e converso e que permitam minimizar o impacto no ciclo de carbono.

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celulose e papel aumentou 165 milhes de toneladas, aproximadamente 3% ao ano. A previso de que em 2015 haja consumo mundial de cerca de 460 milhes de toneladas de fibras celulsicas. Fato importante, neste cenrio, que a maior parte dessa demanda tende a acontecer em mercados emergentes essencialmente China - onde o Brasil j participa com suas exportaes. Atualmente o Pas exporta cerca de metade da sua produo de celulose. de observar que as projees so exemplos expostos com as devidas justificativas de aplicao de mecanismos, mantidas presentes as caractersticas do setor, o que no exclui, no entanto, exerccios de projees para outros mecanismo