Guidelines for papers to the International Information Design...

8
A informação de moda nas capas das revistas femininas: uma análise sobre o vestuário proposto na capa da revista Manequim e seus efeitos The fashion information on the covers of women's magazines: An analysis of the proposed clothing on the cover of Dummy and its effects Iracema Tatiana R. Leite; Hans da N. Waechter Revistas de moda, feminilidade, semiótica. O presente artigo visa ampliar os estudos sobre as revistas de moda, refletindo sobre o papel desta mídia na sociedade e a disseminação das imagens como propagadora de feminilidades. O corpus analítico são as capas da revista Manequim, sendo uma análise verificada a partir da semiótica e alguns estudos de recepção. Fashion magazines, femininity, semiotic This article seeks to expand studies on the fashion magazines, reflecting on the role of media in society and the dissemination of images of femininity as a propagator. The analytical corpus are the covers of the magazine Mannequin being verified from an analysis of semiotics and reception studies. 1. Introdução A partir da dissertação “Vestuário e Feminilidade- Uma análise da relação vestuário e feminilidade nas capas da revista Manequim nos seus cinquenta anos de publicação” desenvolvida no mestrado em 2011, a proposta da pesquisa foi refletir e analisar as imagens de moda nas capas da revista Manequim, a partir de alguns conceitos da semiótica, e assim verificar as mensagens visuais e estudos de recepção, como abordagem complementar, no intuito de se compreender as características de feminilidade propostas verificadas no vestuário. As mensagens que invadem o cotidiano e que são propagadas na mídia pelas revistas de moda participam da construção dos indivíduos. Através da sua linguagem e representação, é possível compreender a feminilidade disseminada na sociedade em questão. O vestuário, por ser uma das “formas mais visíveis de consumo, desempenha um papel da maior importância na construção social da identidade”. (CRANE, 2006,p:21). A linguagem visual 1 e as mensagens relacionadas ao vestuário são uma das formas de se compreender a construção da identidade feminina. 1 Para Dondis (1997) a linguagem visual está além da linguagem verbal e sim do alfabetismo visual, ou seja, uma forma de comunicação entre os indivíduos e a sociedade. Leite,Iracema Tatiana R.; Waechter, Hans da N. 2014. A informação de moda nas capas das revistas femininas: uma análise sobre o vestuário proposto na capa da revista Manequim e seus efeitos. In: Coutinho, Solange G.; Moura, Monica; Campello, Silvio Barreto; Cadena, Renata A.; Almeida, Swanne (orgs.). Proceedings of the 6th Information Design International Conference, 5th InfoDesign, 6th CONGIC [= Blucher Design Proceedings, num.2, vol.1]. São Paulo: Blucher, 2014. ISSN 2318-6968, ISBN 978-85-212-0824-2 DOI http://dx.doi.org/10.5151/designpro-CIDI-80 Anais do 6º Congresso Internacional de Design da Informação 5º InfoDesign Brasil 6º Congic Solange G. Coutinho, Monica Moura (orgs.) Sociedade Brasileira de Design da Informação – SBDI Recife | Brasil | 2013 Proceedings of the 6 th Information Design International Conference 5 th InfoDesign Brazil 6 th Congic Solange G. Coutinho, Monica Moura (orgs.) Sociedade Brasileira de Design da Informação – SBDI Recife | Brazil | 2013 CIDI 2013 6 TH CIDI 5 TH InfoDesign 6 TH CONGIC 5 th Brazilian Conference of In form ation Design 6 th In form ation Design Student Conference 6 th Inform ation Design International Conference Blucher Design Proceedings May 2014 , Vol. 1, Num. 2 www.proceedings.blucher.com.br/evento/cidi

Transcript of Guidelines for papers to the International Information Design...

Page 1: Guidelines for papers to the International Information Design …pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/designproceedings/... · análise de Martine Joly (1996) e Castilho

A informação de moda nas capas das revistas femininas: uma análise sobre o vestuário proposto na capa da revista Manequim e seus efeitosThe fashion information on the covers of women's magazines: An analysis of the proposed clothing on the cover of Dummy and its effects

Iracema Tatiana R. Leite; Hans da N. Waechter

Revistas de moda, feminilidade, semiótica.

O presente artigo visa ampliar os estudos sobre as revistas de moda, refletindo sobre o papel desta mídia na sociedade e a disseminação das imagens como propagadora de feminilidades. O corpus analítico são as capas da revista Manequim, sendo uma análise verificada a partir da semiótica e alguns estudos de recepção.

Fashion magazines, femininity, semiotic

This article seeks to expand studies on the fashion magazines, reflecting on the role of media in society and the dissemination of images of femininity as a propagator. The analytical corpus are the covers of the magazine Mannequin being verified from an analysis of semiotics and reception studies.

1. Introdução

A partir da dissertação “Vestuário e Feminilidade- Uma análise da relação vestuário efeminilidade nas capas da revista Manequim nos seus cinquenta anos de publicação”desenvolvida no mestrado em 2011, a proposta da pesquisa foi refletir e analisar as imagensde moda nas capas da revista Manequim, a partir de alguns conceitos da semiótica, e assimverificar as mensagens visuais e estudos de recepção, como abordagem complementar, nointuito de se compreender as características de feminilidade propostas verificadas no vestuário.

As mensagens que invadem o cotidiano e que são propagadas na mídia pelas revistas de moda participam da construção dos indivíduos. Através da sua linguagem e representação, é possível compreender a feminilidade disseminada na sociedade em questão. O vestuário, por ser uma das “formas mais visíveis de consumo, desempenha um papel da maior importância na construção social da identidade”. (CRANE, 2006,p:21). A linguagem visual1 e as mensagens relacionadas ao vestuário são uma das formas de se compreender a construção da identidade feminina.

1 Para Dondis (1997) a linguagem visual está além da linguagem verbal e sim do alfabetismo visual, ou seja, uma forma de comunicação entre os indivíduos e a sociedade.

Leite,Iracema Tatiana R.; Waechter, Hans da N. 2014. A informação de moda nas capas das revistas femininas: uma análise sobre o vestuário proposto na capa da revista Manequim e seus efeitos. In: Coutinho, Solange G.; Moura, Monica; Campello, Silvio Barreto; Cadena, Renata A.; Almeida, Swanne (orgs.). Proceedings of the 6th Information Design International Conference, 5th InfoDesign, 6th CONGIC [= Blucher Design Proceedings, num.2, vol.1]. São Paulo: Blucher, 2014. ISSN 2318-6968, ISBN 978-85-212-0824-2DOI http://dx.doi.org/10.5151/designpro-CIDI-80

Anais do 6º Congresso Internacional de Design da Informação 5º InfoDesign Brasil 6º Congic Solange G. Coutinho, Monica Moura (orgs.) Sociedade Brasileira de Design da Informação – SBDI Recife | Brasil | 2013

Proceedings of the 6th Information Design International Conference 5th InfoDesign Brazil 6th Congic Solange G. Coutinho, Monica Moura (orgs.) Sociedade Brasileira de Design da Informação – SBDI Recife | Brazil | 2013

CIDI 2013 6TH CIDI 5TH InfoDesign 6TH CONGIC5 th Brazilian Conferenceof In form ation Design

6 th Inform ation DesignStudent Conference

6 th Inform ation DesignInternational Conference

Blucher Design ProceedingsMay 2014 , Vol. 1, Num. 2www.proceedings.blucher.com.br/evento/cidi

Page 2: Guidelines for papers to the International Information Design …pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/designproceedings/... · análise de Martine Joly (1996) e Castilho

| 2

Considerando os artefatos e as relações identitárias, as revistas de moda são um artefato que estabelece uma intenção de informar, sendo uma das mídias impressas mais influentes e propagadores de estilos e comportamentos. Através do corpo, o vestuário estabelece várias narrativas cujos significados são construídos e estabelecidos culturalmente.

Considerando as mensagens visuais das revistas de moda, Monneyron (2010, p.130) afirma que “as imagens de modas são completamente determinantes na formulação, mas também na reconstrução e na redefinição das identidades masculina e feminina.

Neste intuito, dentro da área de observação e atuação do designer e outros profissionais, o mesmo pode ser considerado um dos agentes responsáveis pela reprodução de valores na sociedade através da representação e configuração do produto criado, estruturado a partir dos elementos da linguagem visual, onde são produzidos e consumidos pelos indivíduos da sociedade.

Seguindo o modelo da comunicação, a partir das mensagens visuais, segundo o fluxo emissor-receptor, algumas ideias e vários conceitos se firmaram para a definição do processo de comunicação, entre os quais estão o diálogo, o consenso, a congruência e a intencionalidade (SANTAELLA, 2004). O diálogo estabelece uma interação entre o emissor e receptor, o consenso está no aspecto relacional quanto ao ponto de vista do conteúdo, e congruência é o entendimento mútuo.

Ainda segundo Santaella (2002, p:59) “o processo comunicativo inclui pelo menos três faces: “a significação ou representação, a referência e a interpretação das mensagens”.

A partir destes conceitos revisitados, na face de significação, primeiramente foram explorados as qualidades de suas propriedades internas (linguagem visual: as cores, as formas, volumes, movimento e luz) no vestuário visto nas capas das revistas. No segundo momento foi analisada a mensagem do mesmo de acordo com o contexto de feminilidade proposto e o terceiro aspecto o que a mensagem apresentou na conjuntura geral, convencional e cultural pelo estudo de recepção.

Nesta perspectiva, pode-se observar a relação do contexto sociocultural e os códigos visuais percebidos de uma imagem através de sua representação. Joly (1996) desenvolve análises de imagens através das teorias propostas e afirma que:

se essas representações são compreendidas por outras pessoas além das que as fabricam, é porque existe entre elas um mínimo de convenção sociocultural, em outras palavras, elas devem boa parcela de sua significação a seu aspecto de símbolo, segundo a definição de Peirce. A teoria da semiótica permite-nos captar não apenas a complexidade, mas também a força da comunicação pela imagem, apontando-nos essa circulação da imagem entre semelhança, traço e convenção, isto é, entre ícone, índice e símbolo (1996, p. 40).

As imagens apresentadas especificamente nas revistas de moda levantam observações pertinentes aos estudos de como as identidades sociais e de gênero estão sendo constituídas. Entretanto cada revista pode apresentar características de feminilidade e masculinidade de acordo com a proposta e interesses tanto do anunciante quanto do leitor, e nem todos os estilos de vida e comportamento são aceitos pelos sujeitos.

2. Metodologia

A metodologia de pesquisa foi realizada a partir da revisão do estado da arte e estruturada a partir das capas da revista Manequim. Esta verificação foi proposta utilizando o modelo de análise de Martine Joly (1996) e Castilho (2004) como ponto de partida para o desenvolvimento da interpretação.

A partir desta verificação, os estudos de recepção complementaram os dados obtidos. Neste primeiro momento foram escolhidas 07 capas do ano de 2000 a 2010 (um recorte das revistas analisadas durante a dissertação) segundo gráfico abaixo:

Anais do 6º Congresso Internacional de Design da Informação | 5º InfoDesign Brasil | 6º Congic Proceedings of the 6th Information Design International Conference | 5th InfoDesign Brazil | 6th Congic

Page 3: Guidelines for papers to the International Information Design …pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/designproceedings/... · análise de Martine Joly (1996) e Castilho

| 3

Figura 1- Revistas selecionadas para pesquisa- Agosto e setembro de 2000 a 210

O questionário foi aplicado via internet, onde foram obtidas doze respostas. A avaliação dos

dados foi feita pela especialista (o pesquisadora), fazendo um comparativo com o estudo de recepção, na tentativa de relacionar as observações do interpretante através dos elementos da linguagem visual e os efeitos das capas das revistas sobre as receptoras, observando os elementos convencionais e de recorrência sobre a ideia de feminilidade. Além da identificação da atenção do olhar sobre o vestuário imagem2.

3. Argumentos para análise

A partir do modelo de análise revisitado, e as informações do estudo de recepção, pretendeu-se verificar que características de feminilidade foram evidenciadas através da percepção visual (textura, cor, silhueta, etc) e a interpretação das capas pelo receptor. Esta pesquisa visou destacar a relação da revista de moda, como artefato de estudo da área do design de informação, o estudo da imagem de moda e a leitura da linguagem visual partilhada por determinado grupo social.

O estudo de recepção foi essencial para corroborar algumas características de feminilidade que são partilhadas por determinado grupo e contexto, inclusive em consonância com a interpretação do próprio pesquisador (interpretante).

Joly (1996, p: 44) acrescenta que “a mensagem está ai: devemos contemplá-la, examina-la, compreender o que suscita em nós, compará-la com outras interpretações; o núcleo residual desse confronto poderá, então, ser considerado uma interpretação razoável e plausível da mensagem, num momento X, em circunstâncias Y.

Logo, ao comparar a percepção dos elementos da linguagem visual por parte do pesquisador e do receptor da mensagem, pode-se considerar que algumas características de feminilidade observadas nas capas das revistas acima citadas são semelhantes às análises feitas pelo interpretante.

Análise

Na dissertação foi criado um modelo de ficha de análise para verificar o índice de feminilidade contido nas capas das revistas. Neste presente artigo, o foco está na mensagem visual através dos elementos plásticos do vestuário, que foi uma das etapas verificadas. Das capas analisadas, 03 exemplos irão representar a análise comparativa entre a observação do pesquisador e a percepção do receptor. O objetivo desta atividade é verificar as representações de gênero verificadas nas capas da revista Manequim, se está em consonância com a feminilidade hegemônica brasileira.

Questionário aplicado para o estudo de recepção

1. Idade:

2 Segundo Barthes (1967) o vestuário imagem é o vestuário fotografado ou desenhado.

Anais do 6º Congresso Internacional de Design da Informação | 5º InfoDesign Brasil | 6º Congic Proceedings of the 6th Information Design International Conference | 5th InfoDesign Brazil | 6th Congic

Page 4: Guidelines for papers to the International Information Design …pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/designproceedings/... · análise de Martine Joly (1996) e Castilho

| 4

de 21 a 31 ( ) entre 32 a 42 () de 43 a 53 ( ) mais ( )

2. Você é leitora da revista Manequim e gosta de suas publicações? ( ) sim ( ) Não

3. Profissão

( ) Trabalha na área relacionada a moda ( ) Não é da área de moda, mas gosta dos looks propostos pela revista Manequim

4. Você se identifica com o vestuário proposto? ( ) sim ( ) Não

5. Que atributos de feminilidade você identifica neste look?

6. Em relação à capa da revista como você descreveria esta mulher?

7. À primeira vista o que te chamou atenção nesta capa em relação ao vestuário?

Estudo comparativo entre a análise do pesquisador e estudo de recepção

Das características levantadas sobre as entrevistadas, ao total de 12 mulheres, 05 são leitoras e 07 não leitoras, mas que têm apreciação pela revista Manequim, com idade entre 28 a 53 anos, das quais 03 possuem mais de 45 anos. As profissões em geral estavam relacionadas ao campo da moda, das quais uma das entrevistadas é costureira e assinante assídua, havendo também designers gráfico e uma jornalista.

Na figura 01 o look é uma apropriação do guarda roupa masculino. A forma do smoking em “Y” com as ombreiras se neutraliza pela forma do corpo feminino. Há neste caso uma não conformação do corpo pela plasticidade da moda.

O centro da atenção do olhar foi para o decote, estando mais acima do decote do que a modelagem do smoking masculino, que também usa uma camisa por baixo. Neste caso o decote deu indicações de que havia uma blusa feminina branca por baixo. Há um velar com as mangas compridas e a calça do smoking e um não velar através do decote. Neste look há um acessório (broche) colocado na gola, sendo a mesma mais estreita que a gola no smoking masculino, dando um toque de feminilidade ao look.

O estudo de recepção

Figura 1- Revista Manequim/agosto 2001

Anais do 6º Congresso Internacional de Design da Informação | 5º InfoDesign Brasil | 6º Congic Proceedings of the 6th Information Design International Conference | 5th InfoDesign Brazil | 6th Congic

Page 5: Guidelines for papers to the International Information Design …pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/designproceedings/... · análise de Martine Joly (1996) e Castilho

| 5

Os atributos de feminilidade neste vestuário estavam focados na plástica da roupa no que concerne a modelagem decotada, o brilho do smoking, o estilo da gola, e que, embora a roupa fosse “roubada” do guarda-roupa masculino, a peça indicou feminilidade por estes detalhes acima mencionados. A maioria das entrevistadas associaram o look “uma certa” formalidade relacionada ao vestuário para trabalho, onde a inteligência e independência foram destaque para as características relacionadas a esta mulher. Portanto, poucas das entrevistadas se identificaram com o look. A atenção do olhar foi para a cor do tecido e a modelagem de alfaiataria, mais uma vez enfatizando a apropriação do guarda roupa masculino.

A figura 3 apresenta a camisa branca, que é um clássico no vestuário feminino a partir da década de 1980. A camisa pode ser considerada uma peça do vestuário unissex, portanto o franzido na manga e a amarração feminilizou o look.

Apesar da camisa originalmente estar associada ao vestuário masculino, foi adaptada com detalhe na gola. Olhando-se na parte superior o look poderia sugerir uma neutralidade, associado à moda unissex, no entanto a saia sendo uma peça exclusivamente do vestuário feminino deu feminilidade à composição. A silhueta ampulheta foi através da saia lápis justa ao corpo e o uso do cinto preto. Há o jogo do velar, com o uso da camisa comprida, revelando as curvas femininas com a saia justa.

A amarração no pescoço pode ser considerada uma forma de “gravata”. A gravata definida com um tecido colocada em volta do pescoço e amarrada na frente com um nó foi uma peça utilizada pelas mulheres a partir do final do século XIX, e hoje está presente na moda unissex.

A textura do look sugere um algodão para a camisa e um tecido de alfaiataria para a saia.

As cores preto e branco são clássicas na roupa feminina e masculina. O branco em contraponto com o preto sugeriu neutralidade.

O look é bastante utilizado pelo estilo executivo, relacionado ao trabalho.

O estudo de recepção

As características identificadas relacionadas à feminilidade foram: o laço na gola, a saia ajustada, a cintura marcada com o cinto. Um detalhe interessante foi a associação do ajustado no corpo ao uso de espartilho, como forma de aprisionamento feminino. Sobre a identidade desta mulher foi destacada que é uma mulher formal, tipo executiva, independente, clássica e sexy. Portanto, houveram outras associações como “executiva perua e secretária fatal”.

Além dos elementos identificados acima, a pose da modelo contribuiu para a característica de seriedade, confiança e poder. O centro do olhar destacado foi para a silhueta em forma de ampulheta através do uso do cinto. O laço no pescoço também obteve atenção.

Figura 2- Revista Manequim agosto/2007

Figura 3- Revista Manequim Agosto/2009

Anais do 6º Congresso Internacional de Design da Informação | 5º InfoDesign Brasil | 6º Congic Proceedings of the 6th Information Design International Conference | 5th InfoDesign Brazil | 6th Congic

Page 6: Guidelines for papers to the International Information Design …pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/designproceedings/... · análise de Martine Joly (1996) e Castilho

| 6

Neste look da figura 4 há um direcionamento para os ombros, pescoço e colo feminino. Há uma aceitação da plástica do corpo pela moda, com silhueta ajustada à sinuosidade do corpo.

O decote profundo aponta para o colo feminino, enfatizando os seios com o decote profundo. O corte na cintura e as pences no busto acentuam os seios.

O corte triangulariza inversamente o decote da peça. Os detalhes com as pregas que criam um drapeado acentua a curva do quadril feminino. O revelar neste look está no decote profundo e os braços, colo e parte dos seios à mostra. A textura acetinada também é associada ao vestuário feminino e o azul intenso ou azul royal aumentou a feminilidade do look.

O estudo de recepção

As características de feminilidade identificadas relacionadas às roupas foram: modelagem ajustada e decote. Já os conceitos que representaram a feminilidade foram: sensualidade, curvas e sexualidade. Sobre o estilo/perfil/identidade desta mulher as características mais comuns foram: sensual, sexy e ousada. Um fator marcante foi a caracterização do estilo de roupa com a exibição do corpo estar associada à sexualidade ousada. Sobre a atenção do olhar, as respostas mais comuns foram o decote acentuado, a cor royal, o justo da modelagem, cujo comprimento midi balanceou o look.

4. Considerações finais

As verificações apontadas no estudo de recepção foram relevantes para auxiliar as análises e verificar o que a mensagem tem em comum por um determinado grupo. Nesta avaliação específica, embora necessite de um número maior de leitoras para uma abrangência mais detalhada, foi possível identificar que este recurso constitui uma forma complementar para a pesquisa para identificar que feminilidade a revista Manequim propõe.

Joly (1996) observa que “analisar em grupo uma imagem, identificando até que ponto a visão de cada um é, coletiva e pessoal, é possível entender até que ponto a percepção das formas e objetos é cultural.

As características observadas sobre feminilidade podem ser resumidas no seguinte quadro:

Anais do 6º Congresso Internacional de Design da Informação | 5º InfoDesign Brasil | 6º Congic Proceedings of the 6th Information Design International Conference | 5th InfoDesign Brazil | 6th Congic

Page 7: Guidelines for papers to the International Information Design …pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/designproceedings/... · análise de Martine Joly (1996) e Castilho

| 7

Quadro I- Resumo sobre a interpretação verificada no estudo de recepção

Observando o quadro acima, podem-se levantar algumas qualidades plásticas associadas ao feminino, em que os elementos da linguagem visual em separado já comunicaram significado entre as receptoras e que ao juntar as partes das mensagens visuais teve-se a percepção geral da forma e consequente interpretação. Mesmo não observando a linguagem verbal das capas estudadas, nem os elementos compositivos da página, a atração do olhar ainda concentrou-se na roupa e corpo feminino.

As respostas abertas proporcionaram a verificação de alguns estereótipos relacionados às roupas, como por exemplo, na figura 4, a mulher foi vista como “secretária fatal”, por estar usando uma saia ajustada ao corpo. Outra constatação por parte de uma das entrevistadas foi o incomodo sobre o fato de que as mulheres para serem reconhecidas no meio profissional tem que utilizar peças associadas ao vestuário masculino. Também foram identificadas através do gesto e pose uma atitude alegre e jovem, ou seja, as expressões faciais das mulheres foram vistas positivamente, trazendo o foco da atenção para a roupa. Isto mostra que, gestos, expressões e pose contribuem para a visão geral de feminilidade pelo grupo de mulheres. Por mais que as entrevistadas estejam num contexto sócio cultural, e também num grupo de mulheres mais maduras, notou-se que os conceitos de feminilidade tradicionais estão bastante presentes em outras revistas de moda, conforme relata Crane (2009) em seus estudos que alguns autores identificaram que as jovens na faixa de 20 anos tinham uma visão diferente da feminilidade, e ao contrário das críticas feministas, elas “parecem encarar as imagens identificadas com a feminilidade hegemônica não como sinais de fraqueza e passividade, mas como controle de sua sexualidade”.

Anais do 6º Congresso Internacional de Design da Informação | 5º InfoDesign Brasil | 6º Congic Proceedings of the 6th Information Design International Conference | 5th InfoDesign Brazil | 6th Congic

Page 8: Guidelines for papers to the International Information Design …pdf.blucher.com.br.s3-sa-east-1.amazonaws.com/designproceedings/... · análise de Martine Joly (1996) e Castilho

| 8

5. Conclusão

As revistas de moda, um dos meios de comunicação de maior propagação desde sua primeira veiculação, é uma fonte inesgotável de pesquisa para verificação da sociedade e cultura local, e embora cada revista possua suas características particulares, as análises podem evidenciar e refletir sobre as narrativas das revistas de moda, como também dos profissionais envolvidos neste processo e as mensagens disseminadas.

Pôde-se concluir que a revista de moda é um objeto de estudo para se compreender como estão as representações femininas e as relações identidade de gênero, e embora nos questionários algumas mulheres não se identificassem com o vestuário proposto, portanto identificaram um ideal dominante de feminilidade.

Nas capas verificadas, alguns vestuários imagem apresentaram apropriações do vestuário masculino, com características de feminilidade e masculinidade, portanto, a masculinidade foi de certa forma “anulada” devido ao corpo que o continha, transformando em um vestuário sedutor, mostrando outras formas de feminilidade.

A comparação das analises realizadas pela pesquisadora na dissertação, com o estudo de recepção, foi fundamental, para validar que alguns conceitos de feminilidade são partilhados, inclusive, pela própria pesquisadora, e a revista Manequim, especificamente, é uma revista bastante difundida entre a maior parte da população brasileira, por vários motivos, além de ser acessível, apresentam as modelagens em seu conteúdo, trazendo as tendências em consonância ao que as brasileiras usam mais próxima à mulher comum.

Outra observação é de que a revista Manequim não apresenta ambiguidade de gênero em suas capas, ao contrario de outras revistas de moda.

Referencias

BARTHES, Roland. 1967. O sistema da moda. Edições 70: Lisboa- Portugal.

CASTILHO, Kathia; MARTINS. Moda e linguagem. São Paulo :Editora Anhembi Morumbi, 2004

CRANE. Diana.2006. A moda e seu papel social: classe, gênero e identidade das roupas. São Paulo: Ed.Senac.

DONDIS, A. D.1997. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes.

JOLY, Martine.1996.Introdução à análise da imagem. Trad. Mariana Appenzeller. São Paulo: Papirus.

MONNEYRON, Frédéric.2007. A moda e seus desafios:50 questões fundamentais.São Paulo: Editora Senac.

SANTAELLA, Lúcia.2002.Semiótica Aplicada. São Paulo: Pioneira Thomson.

_______________. 2004. Comunicação e semiótica. São Paulo: Hacker Editores.

Iracema Tatiana R.Leite, Ma, UFC, Brasil <[email protected]>

Hans Waechter, Doutor, UFPE, Brasil <[email protected]>

Anais do 6º Congresso Internacional de Design da Informação | 5º InfoDesign Brasil | 6º Congic Proceedings of the 6th Information Design International Conference | 5th InfoDesign Brazil | 6th Congic