Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

152
Dicionário das Ideias Feitas

description

Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Transcript of Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Page 1: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Dicionário das Ideias Feitas

Page 2: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 3: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Dicionário das Ideias Feitas

Page 4: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 5: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 6: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 7: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

6

Venneno muito vio-lento: um copo basta

para dar cabo de um

indivíduo. Os jor-nalistas bebem-no en-

quanto escrevem os

seus artigos. Matou

mais soldados do que

os beduínos.

Page 8: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

ABELARDO Não é necessário fazer a mais pequena ideia do que seja a sua filosofia, ou sequer, saber o título das suas obras. Fazer uma alusão discreta à mutila-ção que lhe infligiu Ful-bert. Túmulo de Heloísa e de Abelardo: se lhe prova-rem que é falso, prote-star:“O senhor deita por terra as minhas ilusões.”ABSALOSe usasse cabeleira postiça, Joab não teria conseguido matá-lo.ABSINTO Veneno muito violento: um copo basta para dar cabo de um indivíduo. Os jor-nalistas bebem-no enquanto escrevem os seus artigos. Matou mais soldados do que os beduínos.ACADEMIA FRANCESA Denegri-la, mas, se pos-sível, tudo fazer para ser nela admitido.ACIDENTESempre lamentável ou im-portuno (como se alguma vez uma desgraça pudesse ser motivo de satisfa-ção...)ACTRIZESA perdição dos filhos-família. São de uma as-sustadora sensualidade, entregam-se a orgias, de-voram milhões e acabam no hospital. Perdão!, algumas são boas mães de família.ADEUSPôr lágrimas na voz ao fa-lar do adeus de fintaineb-leau.ADOLESCENTENão iniciar um discurso de entrega de prémios escolares sem recor-rer à expressão “Jovens adolescentes” (o que é um pleonasmo).AGENTE Termo lúbrico.AGRICULTURAUma das tetas do estado ( o Estado é do género mas-culino, mas não importa). Deve ser encorajada. Falta de braços.

ÁGUAA água de Paris faz cóli-cas. A água do mar ajuda a nadar. A água de “Colónia” cheira bem.ALABARDANa Suíça, todos os homens usam alabardas.ALABASTRO Serve para descrever as mais belas partes do corpo feminino.ALBION Sempre precedida de bran-ca, pérfida, positiva. Por pouco que Napoleão a não conquistou. Elogiá-la: a livre Inglaterra.ÁLBUM Não deve faltar na mesa da sala.ALCIBÍADESCélebre devido à causa do seu cão. Exemplo de debo-chado. Era muito assíduo junto de Aspásia.ALCOOLISMOCausa de todos os males modernos (v. absinto e tabaco).ALCORÁOLivro de Maomé, onde só se fala de mulheres.ALEGRIAA mãe dos divertimentos e dos risos; não se deve fa-lar das suas filhas. Sem-pre acompanhada da louca.ALEMÃESPovo de sonhadores (an-tigo). Não admira que nos tenham batido pois não es-tavamos preparados.ALEMANHA Sempre precedida de loura, sonhadora. Mas que orga-nização militar.ALFÂNDEGADeve sempre passar-se aos direitos. Uma pessoa deve sempre insurgir-se contra ela e defraudá-la (v. pas-sar aos direitos).ALGODÃOÉ sobretudo útil para os ouvidos.ALHOMata os vermes intesti-nais, e dispõe para os combates do amor. Esfrega-ram com eles os lábios de Henrique IV, quando este veio ao mundo.

7

Page 9: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

ALIMENTAÇÃOA dos colégios é sempre sã e abundante.ALMIRANTESempre bravo. Pragueja por “mil escotilhas”.ALMOÇO (DE RAPAZES)Exige ostras, vinho branco e anedotas picantes.ALPERCESAinda não é desta que é ano deles.ALTIVEZSempre precedida de extre-ma ou arrogante.AMBICIOSONa provìncia, todo o in-divíduo que dá que falar de si. “Eu, por mim, não sou nada ambicioso”, quer dizer egoísta ou incapaz.AMÉRICA Belo exemplo de injustiça: foi Colombo quem a desco-briu e o nome vem-lhe de Américo Vespúcio. Sem a descoberta da América não teríamos a sífilis nem filoxera. Exaltá-la, ainda assim, sobretudo quando se lá não esteve. Fazer uma exposição sobre o “self-government”.ANÃOContar a história do gen-eral Tom Pouce e, no caso de lhe ter apertado a mão, dizê-lo com orgulho.ANDORINHANão lhes chamar senão mensageiras da Primavera. Como se não sabe de onde vêm, dizer que chegam “de distantes paragens” (poé-tico).ANDRÓCLESCitar o leão de Andrócles a propósito dos domadores.ANELÉ muito elegante trazê-lo no dedo indicador. Pô-lo no polegar é muito orien-tal. Os anéis deformam os dedos.ANIMAISAh!, se os animais falas-sem! Há-os mais inteligen-tes do que certas pessoas.ANTICRISTOVoltaire, Renan...

ANTIGUIDADE (e tudo quando com ela se relaciona) Sem originali-dade, estupidificanteANTIGUIDADES (as)São sempre imitações mod-ernas.APARTAMENTO (DE RAPAZ)Sempre em desordem, com peças de roupa espalhadas por tolo o lado, cheiro a tabaco. Deve encon-trar-se nele coisas ex-traordinárias.AQUILESAcrescentar “dos pés ligeiros”. o que dá a en-tender que se leu Homero.ARDesconfiar das correntes de ar. Invariavelmente, a base do ar está em con-tradição com a temperatu-ra: se faz calor, é fria e vice-versa.ARENQUESA riqueza da Holanda.AREÓPAGOFica bem nos discursos oficiais: “Meus senhores, neste areópago”.ARQUIMEDESDizer, a propósito, “Eu-reka! Dêem-me um ponto de apoio e erquerei o mundo”. Existe ainda o parafuso de Arquimedes, mas uma pessoa não é obrigada a saber em que consiste.ARQUITECTOSTodos uns imbecis. Esque-cem-se sempre das escadas dos prédios.ARQUITECTURANão há mais do que quatro ordens arquitectónicas. Claro que se não contam os egípcios, o ciclópico, o assírio, o indiano, o chinês, o gótico, o roma-no, etc.ARSÉNICOEncontra-se por toda a parte (lembrar madame La-farge). Há, no entanto, povos que o comem.

ARTELeva ao hospital. Para que serve, se pode ser substi-tuída pela mecânica, que faz melhor e mais depres-sa?ARTISTASTodos uns estouvados. Ex-altar o seu desprendimento (antigo). Espantar-se por eles se vestirem como toda a gente (antigo). Gan-ham rios de dinheiro, mas atiram-nos pela janela fora. São, muitas vezes, convidados a jantar fora. Uma mulher artista só pode ser uma devassa. O que les fazem não pode dizer-se que seja trabalhar.ÁSPIDEAnimal conhecido por cau-sa do cesto de figos de Cleópatra.ASSASSINOSempre covarde, mesmo in-trépido e audacioso. Menos culpável do que um in-cendiário.ASSOBIOÉ feio assobiar.ASTRONOMIARica ciência. Só e útil à marinha. A propósito, rir-se da astrologia.ATEUUm povo de ateus não seria capaz de sobreviver.AUTORDevemos “conhecer os au-tores”; inútil saber-lhes os nomes.AVEDesejar sê-lo e dizer, num suspiro: “Asas! Asas!” É sinal de se ter uma alma poética.

8

Page 10: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 11: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 12: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

eijar

11

Page 13: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Um doce fruto. O beijo

depôe-se na testa de

uma jovem, na face de

uma mãe, na mão de uma

mulher bela, no pescoço

de uma criança, nos lá-

bios de uma amante.

Page 14: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

BACALHAUO fiel amigo. Indispensáv-el na noite de consoada. (1)BACHARELATOBradar contra.BAGNOLETTerra célebre pelos seus cegos.BAILADEIRAPalavra que aviva a imagi-nação. Todas as mulheres do Oriente são bailadeiras (v. odaliscas).BALÕEScom os balões acabar-se-á por ir à Lua. Ainda se não está preparado para os dirigir.BANDEIRASw(nacional)Vê-la faz bater o coração.BANDOLIMIndispensável para seduzir as espanholas.BANQUEIROSTodos ricos. Árabes, lobos cervais.BANQUETE Reina sempre neles a mais franca cordialidade. Traz-se deles as melhores re-cordações e as pessoas nunca se separam sem ter combinado novo encontro para o ano seguinte. Um brincalhão deve sair-se com: “No banquete da vida infortuna convive...” etc.BARBEIROIr ao baeta, ao fígaro. O barbeiro de Luís XI, dantes, era sangrador.BARCATodos os botes com uma mulher a bordo. “Vem para a minha barca.”BASBAQUESOs parisienses são todos uns basbaques, embora em dez habitantes de Paris, nove sejam da provìncia. Em Paris não se trabalha.BASCOSO povo que mehor corre.BASÍLICAsinónimo pomposo de igre-ja. É sempre imponente.BASTÃOMaia terrível do que a espada.BATALHASempre sangrenta. Há sem-pre dois vencedores, o que bateu e o batido.BEBEDEIRASempre precedida de louca.BEETHOVENNão pronunciar Bitovan. Desfalecer, mesmo assim, quando exectam uma das suas obras.

13

Page 15: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

BEXIGA (de boi ou de porco?)Só serve para fazer balões.BEXGOSOAs mulheres marcadas pelas bexiagas são todas sen-suais.BÍBLIAO mais antigo livro do mundo.BIBLIOTECANão deixar de ter uma em casa, em especial se se vive no campo.BILHARUm jogo nobre. Indispen-sável no campo.BOCEJDeve dizer-se: “Desculpe, não é por me sentir enfa-dado. É do estômago.”BOLSA (a)Termómetro de opinião pública.BOMBARDAA deslocação de ar resul-tante do disparo de uma bombarda provoca a ceg-ueira.BORBULHASNa cara ou em qualquer outra parte, sinal de saúde e de força do sangue. Nada de as tirar.BOSQUESOs bosques fazem sonhar. Indicados para se fazer versos. No Outono, ao pas-sear por eles, deve dizer-se: “Do cair da folha nos nossos bosques...”BOTASDurante os grandes cal-ores, não deixar de alu-dir às botas dos guardas rurais ou aos sapatos dos moços de fretes (o que só tem cabimento no campo, ao ar livre). Uma pessoa só está bem calçada se troux-er botas.BRINQUEDOSDevem ser sempre científi-cos.BROAS DE NATALInsurgir-se contra as broas de Natal ao carteiro, ao guarda nocturno, ao limpa.chaminés, etc.

BROCHEDeve sempre conter uma mecha de cabelos ou uma fotografia.BRONZE Metal da antiguidade.BUDISMO “Falsa religião da Índia” (definição do Dicionário Bouillet, primeira ed-ição).BUFFONEnfiava punhos de renda para escrever.BUFOSSão todos da polícia.

(1) Fleubert refere-se a “boudin”, um chouriço de sangue. Decidimo-nos por um lugar-comum português equivalente, e não podia deixar de ser o bacal-hau...(N.T.).

14

Page 16: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 17: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 18: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

17

Page 19: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Torna as pessoas che-ias de espírito. Só é bom proveniente do Havre.

18

Page 20: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

CAÇAExcelente exercício que uma pessoa deve fingir adorar. Faz parte da pompa dos so-beranos. Motivo de delírio para a magistratura.CAÇA (trompa de)Nas matas produz bom efei-to, e à noite sobre as águas.CAÇADORES FURTIVOSTodos forçados postos em liberdade. Autores de to-dos os crimes no campo. Devem provocar uma cólera frenética: «Nada de pie-dade, meu caro senhor, nada de piedade!»CACHIMBOSó fica bem à beira-mar.CADAFALSO Ao subir a ele, estar pre-parado para proferir umas palavras eloquentes antes de morrer.CALEIDOSCÓPIOSó se emprega a propósito dos salões de pintura.CALORSempre insuportável. Não beber quando faz calor.CALOS (dos pés)Assinalam as mudanças de tempo melhor do que os barómetros. Muito perigo-sos quando mal cortados; citar exemplos de aciden-tes terríveis.CALVÍCIESempre precoce, é causada pelos excessos da juven-tude ou pela concepção de altos pensamentos.CAMA DE REDETípica dos crioulos. In-dispensável num jardim. Convencer-se de que se está melhor do que numa cama das outras.CAMARATASSempre espaçosas e bem arejadas. Preferíveis aos quartos para a moralidade dos alunos internos.CAMARILHAIndignar-se ao pronunciar esta palavra.CAMELO Tem duas bossas e o drom-edário só uma, ou, então, o camelo tem uma bossa e o dromedário duas (uma pes-soa confunde-se).

CAMINHOS DE FERROSe Napoleão tivesse dis-posto dele, teria sido invencível. Extasiar-se ante a sua invenção, e dizer: «Eu, meu caro sen-hor, que lhe estou aqui a falar, estava esta manhã em X…, parti no comboio de X…; cheguei, tratei dos meus negócios e a X horas, regressei!»CAMPOAs pessoas do campo são melhores do que as da ci-dade; invejar-lhes a sorte. No campo tudo é permitido: roupas ordinárias, parti-das, etc.CANDURASempre adorável. Tem-se muita ou não se tem nen-huma.CANHÃO (tiro de)Muda o tempo.CANHOTOSTerríveis na esgrima. Mais desembaraçados do que se servem do braço direito.CÂNTAROAo ver uma nuvem ameaçado-ra, predizer: «Vai chover a cântaros.»CANTOREngole todas as manhãs um ovo fresco para aclarar a voz. O tenor tem sempre uma voz encantadora e terna, o barítono um órgão vocal simpático e bem timbrado e o baixo uma emissão poder-osa.CÃOEspecialmente criado para salvar a vida do dono. O cão é o melhor amigo do homem.CAPASempre da cor das mural-has, por causa das sorti-das galantes.CARAUma cara agradável é o mais seguro dos passaportes.CARANGUEJOAnda para trás. Chamar ca-ranguejo aos reaccionári-os.CARNE DE CAÇASó é boa um tanto adian-tada.

19

Page 21: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

CARRASCOSempre de pais para fil-hos. CARROSÉ mais cómodo alugar um do que possuí-lo: deste modo não há que aturar a bara-funda dos criados, nem dos cavalos, que estão sempre doentes.CARTUXOS Passam o tempo a fazer licores, a cavar a sepul-tura e a dizer: «Irmão, é preciso morrer.»CASTELONão há castelo que não tenha sofrido um cerco du-rante o reinado de Filipe Augusto.CATAPLASMADeve sempre aplicar-se, enquanto se espera pelo médico.CATOLICISMOTeve uma influência muito favorável nas artes.CAVALARIAMais nobre do que a infan-taria.CAVALHEIRO DE INDÚSTRIAÉ sempre da alta (v. es-pião).CAVALHEIROSJá não há.CAVALOSe soubesse a força que tem, não se deixava montar. Carne de cavalo: bom tema para um homem, que queira passar por pessoa séria, escrever um livro. Cavalo de corrida: desprezá-lo. Para que serve?CAVERNASVelhacouto de ladrões. Sempre cheias de cobras.CEDROO Jardim das Plantas foi trazido num chapéu.CELEBRIDADEAs celebridades: preocu-par-se com o mais pequeno pormenor da sua vida par-ticular, a fim de as poder denegrir. CELEIROUma pessoa sente-se lá tão bem aos vinte anos!

CENÁRIO DE TEATRONão é pintura. Basta deit-ar, à sorte, para cima da tela, um balde de cores; depois, espalha-se com uma vassoura. A distância e as luzes bastam para criar a ilusão.CENSURAÚtil, sem a menor dúvida.CERTIFICADOGarantia para as famílias e para os parentes. É sem-pre favorável.CERUME«Cera humana». Nada de o tirar porque impede os in-sectos entrem nos ouvidos.CERVEJANão se deve beber, con-stipa.CHACALSingular de ‘shakos’ (an-tigo, mas ainda faz rir).CHAMINÉSempre fumegante. Motivo de discussão a propósito do aquecimento.CHAMPANHECaracteriza os jantares de cerimónia. Dar-se ares de o detestar, dizendo que «não é vinho». Provoca o entusiasmo entre a arraia-miúda. A Rússia consome mais do que a França. Foi por meio dele que as ide-ias francesas se espal-haram pela Europa. Durante a Regência, não se fazia se não bebê-lo. Mas não se bebe, «traga-se».

CHAPÉUProtestar contra a forma dos chapéus.

CHARUTOSOs da «Régie» são «todos infectos». Bons, só os de contrabando.CHATEAUBRIANDConhecido, sobretudo, pelo bife com o seu nome.CHEIASSão sempre do Loire.CHINÊSÉ chinês tudo o que se não compreende.

CIDRAEstraga os dentes.CIPRESTESó cresce nos cemitérios.CÍRCULODeve-se sempre fazer parte de um círculo.CIRURGIÕESTêm o coração duro: chamar-lhes carniceiros.CISNECanta antes de morrer. Com um golpe de asa é capaz de partir uma perna a homem. O cisne de Cambrai não era uma ave, mas um homem chamado Fénelon. O cisne de Mântua é Virgílio. O cisne de Pesaro é Rossini.CIÚMESeguido sempre de cego. Paixão terrível. Sobrancel-has unidas são sinal de ciúme.CLARINETETocá-lo, torna as pessoas cegas. Ex.: todos os cegos tocam clarinete.CLARO-ESCURONão se sabe o que é.CLÁSSICOS (os)Uma pessoa deve ser tida como conhecedora deles.CLUBMotivo de desespero para os conservadores. Emba-raço e discussão quanto à pronúncia da palavra.COELHO À CAÇADORASempre feito de carne de gato.COFRES FORTESAs suas compilações são muito fáceis de descobrir.COGUMELOSSó devem ser comprados no mercado.COLCHÃOQuanto mais duro mais saudável.COLÉGIOMais classe do que inter-nato.CÓLERAEstimula o sangue, faz bem à saúde encolerizar-se uma pessoa, de vez em quando.CÓLERAO melão provoca a cólera. Uma pessoa cura-se bebendo muito chá com rum.

20

Page 22: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

CONSERVADOR Homem político, de grande barriga. «Conservador cheio de barreiras!» - «Sim, meu caro senhor, mas as bar-reiras impedem que se caia da estrada abaixo!»CONTORCIONISTADeslocaram-lhe os ossos em criança.CONTORNO – Afirmar perante qualquer estátua: «Isto não tem falta de contor-no.»CONVERSA A política e a religião devem ser excluídas.COPAÍBAFingir que se não sabe para que serve.CORDANão se calcula a força de uma corda. É mais sólida do que o ferro.CORPOSe soubéssemos como é que o nosso corpo é feito, não nos atrevíamos a fazer um movimento sequer.CORCUNDASTêm muita graça e muita saída entre as mulheres sensuais.COSSACOSComem ranho.COSTASUma palmada forte nas costas pode fazer com que uma pessoa fique doente do peito.COSTUREIRINHASJá não há costureirinhas. Isto deve ser dito com o ar desolado do caçador que lamenta já não haver caça.COUROTodos os couros vêm da Rússia.COVINHAS NA CARA – Não deixar de dizer a uma rapariga bonita que ela tem amores nas co-vinhas da cara.COZIDOSaudável. Inseparável da palavra sopa: a sopa e o cozido.COZINHADe restaurante: sempre picante. Burguesa: sempre sã. Do Sul: muito condi-mentada ou toda à base de azeite.

COLOCAÇÃOAndar sempre à procura de arranjar nova e melhor co-locação.COLÓNIAS (as nossas)Irritar-se quando se fala delas.COMÉDIAEm verso, não convém à nossa época. Deve-se, no entanto, respeitar a alta comédia. ‘Castigat ridendo mores’.COMÉRCIODiscutir para se saber qual é mais nobre, se o comércio se a indústria.COMETASRir-se das pessoas que têm medo.COMUNHÃOA primeira comunhão: o mais belo dia da vida.CONCERTOUm passatempo decente.CONCESSÕESNunca as fazer. Foram a perdição de Luís XVI.

CONCILIAÇÃOPregá-la sempre, mesmo quando os contrários são absolutos.CONCORRÊNCIAA alma do comércio.CONCUPISCÊNCIAPalavra de padre cura para designar os desejos car-nais.CONDECORAÇÃO (da Legião de Honra)Fazer troça dela, mas cobiça-la. Ao consegui-la, afirmar, sempre, que se não pediu.CONFEITEIROSTodos os ruanenses são confeiteiros.CONFORTÁVELPreciosa descoberta mod-erna.CONGREGADOCavaleiro de Onan.CONHAQUEFaz muito mal. Excelente em várias doenças. Um bom copo de conhaque nunca faz mal. Tomado em jejum mata a bicha solitária.CONJURADOOs conjurados têm sempre a mania de se inscreverem numa lista.

21

Page 23: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

CRIADASTodas más. Já não há cria-das como dantes!CRIADAS DE QUARTOMais bonitas do que as patroas. Sabem todos os seus segredos e traem-nos. Desonradas, sempre, pelo menino da casa.CRIANÇASAfectar por elas uma ter-nura lírica, havendo gente à volta.CRIMINOSOSempre odioso.CRIOULOVive numa cama de rede.CRISTIANISMOLibertou os escravos.CRÍTICO– Sempre eminente. Tem a reputação de tudo conhec-er, tudo saber, tudo ter lido e visto. Quando desa-grada, chamar-se-lhe Aris-tarco, ou eunuco.CORCODILO– Imita o choro das crian-ças para atrair o homem.CRUCIFIXOFica bem num quarto de dormir ou junto da guil-hotina.CRUZADASForam benéficas ao comér-cio de Veneza.CUJASInseparável de Bartole; não se sabe o que é que eles escreveram, mas não im-porta. Dizer a quem estuda Direito: «O senhor cinge-se a Cujas e Bartole.»CUNHOSempre muito particular.CURAÇAOO melhor é da Holanda, pois se fabrica numa das Antilhas.CÚPULATorre de forma arquitec-tónica. Espantar-se de que se possa aguentar sozinha. Citar duas: a dos Inváli-dos e a de S. Pedro, em Roma.CZARPronunciar tzar, e, de vez em quando, autocrata.

22

Page 24: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 25: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 26: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Joga-se melhor quando se está com um grão na asa.

25

Page 27: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

26

Page 28: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

DAGUERREÓTIPOSubstituirá a pinturaDAMA Tudo pelas damas. Honra ás damas.DAMASCOUma terra onde sabem fazer sabres. As boas lâminas sãotodas de Damasco.DANÇAHoje em dia não se dança, marcha –se.DANTON<< Audácia, ainda mais audácia, audácia, audácia sempre! >>DARDONada fica a dever a uma espingarda nas mãos de quem saibaservir-se dele.DARWINO tal que diz que descen-demos do macaco Deboche – Causa de todas as doenças dos homens solteiros .DECORUMDá prestígio. Fala à imag-inação das massas. << É necessário! É necessário>>DEDICAÇÃOLamentar –se de que não exista nos outros. << A esse respeito, somos muito inferiores ao cão!>>DEDOO dedo de Deus está em todo o lado.DEICÍDIOIndignar – se muito embo-ra o crime não seja fre-quente.DELFIM Traz o filho às costas.DEMÓSTENESNão fazia um discurso sem ter um seixo na boca.DENTESEstragam –se com a cidra o tabaco, os rebuçados, o gelo, obeber logo a se-guir à sopa e o dormir de boca aberta. Dente canino do maxilar superior: é perigoso arrancá-lo porque corresponde ao olho. Ar-rancar um dente não dá prazer nenhum.

DENTISTASTodos os mentirosos. Servem –se do bálsamo de aço.Pensase que também tratam dos calos. Consideram –se cirurgiões, tal como os oculistas se têm na conta de engenheiros.DEPURATIVOToma –se às escondidas.DEPUTADOSê-lo representa o cúmulo da glória. Bradar contraParlamento. Há nele tagarelas a mais. Não fa-zem nada.DERBYTermo das corridas. Muito elegante.DERROTASofre-se, e é de tal modo completa que ninguém ficou para trazer a noticia.DESCARTESCogito, ergo sumDesenho( arte do) – Com-posta por três coisas: a linha, o ponto e opontea-do; a seguir vem o traço de força, que só o mestre sabe dar. ( Christophe.)DESERTODá tâmarasDesfiladeiro – Citar sem-pre as Termópilas. Os des-filadeiros dos Vosges são as Termópilas da França. ( Usou – se muito em 1870. )DEUSO próprio Voltaire o afir-mou : << Se Deus não ex-istisse, seria necessário inventá-lo.>>DEVERES Exigi-los da parte dos outros, eximindo-se, no entanto, a eles. Os outros têm-nos para connosco, mas nós não os temos para com eles.DIAMANTEAcabará por ser feito ar-tificialmente! E dizer que não passa de carvão! Se encontrássemos um no esta-do natural, não nos baix-aríamos para o apanhar!DIANADeusa da caça-rola.

27

Page 29: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

DIASHá o dia do barbeiro, o do médico, etc. Há os da senhora, que ela chama críticos, em certos dias do mês.DICIONÁRIOAfirmar: «É feito apenas para os ignorantes» Di-cionário de rimas: servir-se alguém dele? Uma ver-gonha!DIDEROTSempre seguido de d’Alembert.DILETANTEHomem rico com assinatura na Ópera.DILIGÊNCIASTer saudades do tempo de diligências.DINHEIRO Causa de todo o mal. ‘Auri sacra fama’. O deus do dia (não confundir com Apolo). Os ministros chamam-lhe vencimentos, os notários emolumentos, os médicos honorários, os empregados ordenado, os operários sa-lário, os criados soldada.DIÓGENES «Ando à procura de um homem… Não me tires o sol.»DIPLOMA Sinal de ciência. Não prova nada.DIPLOMACIABela carreira, mas eriçada de dificuldades, cheia de mistérios. Só convém a gente nobre. Ofício de uma vaga significação, mas superior ao comércio. Um diplomata é sempre um in-divíduo fino e arguto.DIRECTÓRIOOs escândalos do Direc-tório. «Nesses tempos, a honra refugiara-se no Exército.» As mulheres, em Paris, passeavam completa-mente nuas.DIREITO (o)Não se sabe o que é.DISSECAÇÃOUltraje à majestade da morte.DIVATodas as cantoras devem ser tratadas por «Diva».

DIVÓRCIOSe Napoleão não se tivesse divorciado, ainda hoje se-ria imperador.DJINNNome de uma dança orien-tal.DOCUMENTOSempre da mais alta im-portância.DOENÇA DE NERVOSSão sempre tiques.DOENTEPara fazer subir o moral de um doente rir do seu mal e negar os seus sofri-mentos.DOGECasava-se com o mar. Só se sabe o nome de um: Marino Faliero.DÓLMENRelacionado com os fran-ceses antigos. Pedra que servia para os sacrifícios dos druidas. Só se encon-tram na Bretanha. Não se sabe mais nada.DOMADORES DE ANIMAIS FERO-ZESUtilizam processos ob-scenos.DOMICÍLIOSempre inviolável. No en-tanto, a Justiça, a Polí-cia entram nele quando muito bem querem. Regresso a penates. Regresso aos meus deuses lares.DORTem sempre um resultado favorável. A dor autêntica é sempre contida.DORMIRDormir demais torna o sangue espesso.DOUTRINÁRIOS Desprezá-los. Porquê? Não se sabe.DUELOBradar contra. Não é uma prova de coragem. Prestí-gio do homem que travou um duelo.DUPUYTREN Célebre graças a uma po-mada e a um museu.DÚVIDAPior do que a negação.

28

Page 30: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 31: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 32: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Distinguem-se pela memória e adoram o sol.

31

Page 33: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

32

Page 34: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

ECLECTISMOBradar contra, por ser uma filosofia imoral.ECO Citar os do Panteão e os da ponte de Neuilly.ECONOMIA Sempre precedida de «or-dem». Citar a história de Laffitte a apanhar um alfinete no pátio do ban-queiro Perrégaux.ECONOMIA POLÍTICACiência sem entranhas.ECONOMIASOportunidade de roubo para os criados.EGOÍSMOQueixar-se do egoísmo alheio e não reparar no próprio.EMIGRADOSGanham a vida a dar lições de viola e a fazer sala-das.EMIR Só se emprega ao falar de Abd-el-Kader.EMPRESÁRIO Palavra usada no meio artístico para designar o produtor. Sempre precedida de hábil.ENCICLOPÉDIARir de desdém, consideran-do-a uma obra «rococó», e, mesmo, bradar contra ela.ENFEUDADO Insulto muito grave e de grande estilo para atirar à cara de um adversário político. «O senhor está enfeudado à camarilha do Eliseu», só se emprega no Pariamento.ENGENHEIROA carreira mais indicada para um jovem. Conhece to-das as ciências.ENGRAÇADODeve empregar-se a propósito de tudo e nada: «É engraçado.»ENGRAXADELAOs sapatos só ficam bem en-graxados se for o próprio a fazê-lo.ENJOO Para não enjoar numa via-gem de barco basta pensar noutra coisa.

ESCRAVELHOS Filhos da Primavera. Bom tema para um opúsculo. A sua destruição radical do sonho de qualquer gov-ernador civil; ao falar-se, num comício rural, nos prejuízos que causam, devem ser designados por «funestos coleópteros».ESCRITO, BEM Expressão de porteiro para designar os romances em folhetim que o divertem.ESGOTAMENTOSempre prematuro.ESGRIMAOs mestres de esgrima sabem estocadas secretas.ESMALTEPerdeu-se-lhe o segredo.ESPADASó se conhece a de Da-mocles. Ter saudades dos tempos em que se usava. «Valente como uma espada.» Por vezes, nunca serviu.ESPARTILHOImpede que se tenha fil-hos.ESPIÃOSempre da alta (v. caval-heiro de indústria).ESPINAFRESSão a vassoura do estôma-go. Não esquecer a célebre frase de Proudhomme: «Não gosto, e sinto-me bem, porque se gostasse, comia-os, e não os posso supor-tar.» (Haverá quem ache isto perfeitamente lógico e se não ria.)ESPINGARDANo campo é sempre bom ter uma.ESPÍRITOSempre seguido de bril-hante. Corre as ruas. Os bons espíritos encontram-se.ESPIRITUALISMO O melhor sistema filosó-fico. ESPIRRARConsidera-se uma saída cheia de espírito dizer-se: «O russo e o polaco não se falam, espirram-se.»

33

Page 35: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

EVANGELHOSLivros divinos, sublimes, etc.EVIDÊNCIACega, quando não salta aos olhos.EXCEPÇÃODizer que confirmam a regra. Não correr o risco de explicar porquê.EXECUÇÕES CAPITAISSentir-se horrorizado com o facto de haver mulheres que a eles vão assistir.EXERCÍCIOEvita todas as doenças: aconselhá-lo sempre.EXÉRCITOPilar da Sociedade.7EXPIRAR – Só se conjuga a propósito das assinaturas dos jornais.EXPOSIÇÃOMotivo de delírio do sé-culo XIX.EXTINÇÃOSó se emprega ligado a mendicidade.EXTIRPARVerbo que só se emprega a propósito das heresias e dos calos.

ESPIRRODepois de lhe dizerem «Salve-o Deus», começar uma discussão sobre a ori-gem desse costume.ESPLANADASó se vê nos Inválidos.ESPORASFicam bem num para de bo-tas.ESPUMA DO MARApanha-se em terra. Serve para fazer cachimbos.ESTAÇÕES (de Caminho de Ferro) – Ex- taziar- se diante delas e apresentá-las como modelos de arquitectura.ESTOICISMOÉ impossível.ESTÔMAGOTodas as doenças provêm do estômago.ESTRANGEIROEntusiasmar-se com tudo o que vem do estrangeiro é dar mostras de espírito liberal. Denegrir tudo o que não é francês é sinal de patriotismo.ESTRELACada um tem a sua, como o imperador.ESTUDANTEUsam boinas vermelhas, calça à hussardo, fumam cachimbo na rua e não es-tudam.ESTUDANTES DE MEDICINA Dormem junto dos cadá-veres. Há-os que os comem.ETIMOLOGIANada mais fácil de encon-trar, graças ao latim e a um bocado de reflexão.ETRUSCOS – Todos os vasos antigos são etruscos.wEUNUCO – Incapaz de fazer filhos… Insurgir-se con-tra os castrados da Capela Sixtina.EVACUAÇÕESAs evacuações são, por vezes, abundantes e sempre de má natureza.

34

Page 36: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 37: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 38: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 39: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Ave com esse nome por ser

proveniente da Flandres.

38

Page 40: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

FÁBRICAVizinhança perigosa.FACTURASempre demasiado onerosa.FAIANÇAMais elegante do que por-celana.FAISÃOMuito fino num jantar.FALECIDOO meu falecido pai, e atira-se o chapéu.FANFARRASempre alegre.FATALIDADEPalavra exclusivamente romântica. Homem fatal: emprega-se a propósito do que tem mau olhado.FEBREProva da força do sangue. É causada pelas ameixas, o melão, o sol de Abril, etc.FECHADO – Sempre precedido de hermeticamente.FELICIDADESempre perfeita. A sua criada chama-se Felici-dade, logo é perfeita.FELICIDADESSempre sinceras, atentas, cordiais, etc.FELIZAo falar de um homem fel-iz: «Aquele nasceu com uma estrela na testa.» Não se sabe o que significa e o interlocutor também não.FÊMEASó se emprega ao falar dos animais. Ao contrário do que acontece com a espé-cie humana, as fêmeas dos animais são menos belas do que os machos. Ex.: o faisão, o galo, o leão, etc.FÉNIXExcelente nome para uma companhia de seguros con-tra incêndios.FETOToda a peça anatómica con-servada em álcool.FEUDALISMO – Não ter uma ideia precisa, mas bradar contra.FIDALGOTESSentir por eles o mais so-berano desprezo.

FIELInseparável de amigo e de cão. Não deixar de citar os dois versos: «Sim, pois que encontro um amigo tão fiel / A minha sorte…», etc.FIGARO (o casamento)Mais uma das causas da Revolução.FILIPE D’ORLEANS, IGUAL-DADEBradar contra. Uma das cau-sas da Revolução. Cometeu todos os crimes daquela época nefasta.FILOSOFIAAchincalhá-la sempre.FIRME Sempre seguido de «como uma rocha».FLAGRANTE DELITOSó se emprega em caso de adultério. Pronunciar «flagrante delicto».FLEUMABom género, e, depois, dá um ar inglês. Sempre se-guida de imperturbável.FOGOPurifica tudo. Ao ouvir-se gritar «Fogo» deve começar-se por se perder a cabeça.FOLHETINSCausa de desmoralização. Discutir o desfecho pos-sível. Escrever ao autor para lhe sugerir ideias. Furor ao descobrir neles um nome igual ao seu.FOLICULÁRIOSOs jornalistas. Acrescen-tar-se de baixo estofo é o cúmulo do desprezo.FORÇASempre Hércules. A força sobrepõe-se ao direito (Bismarck).FORÇADOSTêm sempre uma cara pa-tibular. Têm todos a mão leve. Há homens de génio na cadeia.FORMIGASBom exemplo a citar diante de um perdulário. Deram a ideia dos mealheiros.FORNARINAEra uma bela mulher; in-útil saber mais.

39

Page 41: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

FORTEComo um turco, um touro, um cavalo, como Hércules. Este homem deve ter força, é todo nervos.FORTUNA‘Audaces fortuna juvat’. Os ricos são felizes, dispõem de fortuna! Ao ouvir falar de uma grande fortuna, não deixar de querer saber: «Sim, mas será sólida?»FOTOGRAFIADestronará a pintura (v.daguerreótipo).FRANCÊSO primeiro povo do Uni-verso. «Há só um francês a mais», disse o conde de Artois, «Ah, como nos sentimentos orgulhosos por sermos franceses / Ao ol-harmos para a coluna!»FRANCO-ATIRADORESMais terríveis do que o inimigo.FRANCO-MAÇONARIAMais uma das causas da Revolução! As provas de iniciação são terríveis. Motivo de discussão do-méstica. Mal vista pelos padres. Que segredo será o dela?FRAQUENa província, a última pa-lavra quanto a cerimónia e incomodidade.FRESCOS Já não se fazem.FRICASSÉ Só se faz bem na provín-cia.FRIEIRASinal da saúde: vem de uma pessoa se ter aquecido por estar frio.FRIOMais saudável do que o calor.FRIZAR O CABELONão fica bem a um homem.FRONTESPÍCIOOs grandes homens ficam bem no cimo de um fron-tespício.

FUGANão se sabe no que con-siste, mas deve-se afir-mar que é muito difícil e aborrecida.FULMINARBonito verbo.FUNCIONÁRIOInspira respeito, seja qual for a função que ex-erça.FUNDAMENTONenhuma notícia o tem.FUNDOS SECRETOSSomas incalculáveis com que os ministros compram consciências. Bradar con-tra.FUNERALA propósito do morto: «E dizer que ainda há oito dias jantei com ele!» Chama-se exéquias quando se trata de um general, e enterro quando é o de um filósofo.FÚRIA FRANCESAPronunciar «fúria fran-cese».FURÚNCULO Ver borbulhas.FUSÃO (das famílias reais)Estar sempre à espera dela!FUZILARMais nobre do que guil-hotinar. Alegria do indi-víduo a quem se concede ser passado pelas armas.

40

Page 42: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 43: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 44: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Deve ser sempre de prata, é menos perigoso. Deve segurar-se com a mão es-querda, é mais cómodo e mais elegante.

43

Page 45: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 46: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

GALOUm Homem magro nunca deve deixar de dizer que um galo nunca é gordo.GALÓFAGOServir-se desta expressão ao falar dos jornalistas alemães.GANHA POUCOBom nome para uma loja, inspirador de confiança.GARANHÃOSempre vigoroso. Uma mul-her deve ignorar a diferença que existe entre umgaranhão e um cavalo.GARFODeve ser sempre de prata, é menos perigoso. Deve segurar-se com a mão es-querda, é mais cómodo e mais elegante.GAROTO - É sempre de Par-is. Não deixar a mulher dizer:« Quando me sinto satis-feita, gosto de fazer de garoto.»GATOSOs gatos são traiçoeiros. Chamar-lhes tigres de salão.Cortar-lhes o rabo por causa do vertigo.GELADOSÉ perigoso comê-los.GENERALSempre bravo. Faz, em geral, o que não compete ao seu posto, como ser em-baixador,conselheiro municipal ou chefe de Governo.GÉNIO (o)Não há motivo para o admi-rar;trata-se de uma nevrose.GENROMeu caro genro, acabou-se tudo!GEÓMETRA«Quem não for geómetra não tem aqui entrada.»GERAÇÃO ESPONTÂNEAIdeia de um socialista.GIAOURExpressão feroz, de sig-nificadodesconhecido, mas sabe-se que está relacionado com o Oriente.

GINÁSIO (o)Sucursal da Comédie-Fran-çaise.GINÁSTICANunca é demais. Extenua as crianças.GIRAFAManeira delicada de não chamar camelo a uma mulher.GIRONDINOSMais dignos de lástima do que censura.GLÓRIANão passa de uma nuvem de fumo.GLÓRIAUma «glória» não anda nunca sem «consolação».GOBELINS (tapeçaria dos)É uma obra extraordinária e que leva cinquenta anos a acabar. Exclamar diante dela: «Isto é mais belo do que a pintura.» O trabal-hador não sabe o que faz.GODDAM«É a base da língua ingle-sa», como afirmava Beau-marchais, e, dito isto, as pessoas riem-se de escárnio.GOD SAVE THE KINGBeranger, ao cantar, pro-nuncia «God savé de King», rimando com salvé, avé...GOGSempre seguido de Magog.GOMA ELÁSTICAÉ feita de escroto de cavalo. GORDO As pessoas gordas não têm necessidade de aprender a nadar.Causam o desespero dos carrascos porque apresen-tam dificuldades deexecução. Ex.: a Du Barry.GORDURASinal de riqueza e ociosi-dade.GOSTOO que é simples é sempre de bom gosto. Deve dizer-se a uma mulherque se desculpa pela mo-déstia do seu trajar.GÓTICOEstilo arquitectónico que, mais do que os outros, leva à religião.

45

Page 47: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

GRAMÁTICA Convencer as crianças, desde muito cedo, de que se trata de uma disciplina clara e fácil.GRAMÁTICOSTodos uns pedantes.GROQUENão é como devia ser.GRUPOFica bem no bordo de uma chaminé e convém em política.GRUTA DE ESTALACTITES Houve lá dentro uma festa célebre, baile ou ceia, oferecida por uma grande personagem. Vêem-se nelas «como que tubos de órgão». Disse-se missa nelas du-rante a Revolução.GUARDA-COSTANunca empregar esta ex-pressão no plural ao falar dos seiosde uma mulher.GUARDA DE POLÍCIANunca tem razão.GUERRAInsurgir-se contra.GUERRILHACausa mais danos ao inimi-go do que o exército regu-lar.GULFSTREAM Cidade célebre da Noruega, recentemente descorta.

46

Page 48: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 49: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 50: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Sempre precedido de gentil

ou de ardente. Agrada às

mulheres. Não esquecer a

citação: «Tu que conheces

os hussardos da Guarda...»

49

Page 51: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 52: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

HÁBITONão faz o monge.HÁBITOÉ uma segunda natureza. Os hábitos dos colégio são maus hábitos. Com o hábito uma pessoa pode vir a to-car violino como Paganini.HACANEIAAnimal branco da Idade Média, cuja raça se extin-giu.HÁLITOTê-lo forte dá um ar dis-tinto. Evitar as alusões ás moscas e afirmar que o mau hálito é causado pelo estômago.HARASA questão dos «haras», belo assunto de debate parlamentar.HARÉMNão deixar de comparar um galo no meio das galinhas a umsultão no seu harém. Sonho de todos os colegiais.HARPAProduz harmonias celestes. Nas gravuras, só se toca no alto das ruínas ou à beira de uma torrente. Faz valer o braço e a mão.HAXIXENão confundir com um fruto chamado maxixe, que não provoca qualquer espécie de êxtase voluptuoso.HÉLICEFuturo da mecânica.HEMICICLOConhecer apenas o das Be-las Artes.HEMORRÓIDASSão causadas por uma pes-soa se sentar nos fogões de aquecimento ou em ban-cos de pedra. Doença de S. Fiacre. As hemorróidas são um sinal de saúde, não se deve, portanto, fazê-las passar.HENRIQUE III, HENRIQUE IVA propósito destes reis, não deixar de dizer:«Todos os Henriques foram infelizes.»HÉRCULES Os hércules são do Norte.HERMAFRODITAExcita curiosidades mórbi-das. Procurar ver.

HÉRNIA Toda a gente as tem sem o saber.HERÓSTRATOPalavra a empregar em to-das as conversas sobre a Comuna.HIATONão tolerar.HIDRE(da anarquia, do socialis-mo, e assim por diante,para todos ossistemas que metem medo) - procurar vencê-la.HIDROTERAPIACura todas as doenças ou é a causa delas.HIERÓGLIFOSAntiga língua dos egíp-cíos, inventada pelos sac-erdotes para esconderem os seus criminosos segredos. E dizer que há gente que os entende! Bem vistas as coisas, não será uma pa-tranha?HIPÓCRATESDeve ser sempre citado em latim, dado que escreveu em grego, a não ser nesta frase:«Hipócrates diz sim, mas Galeno diz não.»HIPÓLITOA morte de Hipólito, é a mais bela narração que se pode dar a ler a alguém. Toda a gente deveria con-hecer esse trecho de cor.HIPÓTESEFrequentemente arriscada, sempre corajosa.HISTERIAConfundi-la com ninfoma-nia.HISTRIÃOSempre precedido de vil.HOMERONunca existiu. Célebre pela maneira como se ria.HOMO´Ecce homo` ao ver entrar o indivíduo de quem se está á espera.HONRAAo falar-se dela, citar: «A honra é como uma ilha escarpada e sem margens»; «Nunca mais se pode lá entrar desde que se es-teja de fora.» Deve cada um mostrar-se sempre muito cioso da sua, mas muito pouco da alheia.

51

Page 53: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

HORIZONTESAchar belos os da natureza e sombrios os da política.HORRORHorrores! Ao falar de ex-pressões lúbricas. Há coi-sas que se fazem mas não se dizem. «Foi durante o horror de uma noite pro-funda».HÓSPEDESExemplos a dar aos filhos. HOSPITALIDADEDeve ser sempre escoc-esa. Citar os versos: «Entre os montanhe-ses da Escócia. A hospitalidade dá-se Mas jamais se se vende.»HOSPODARFica bem numa frase a propósito da «questão do Oriente»HOSTILIDADESAs hostilidades são como as ostras, abrem-se: «Ab-ertasas hostilidades». Parece que nada mais há a fazer do que sentarem-se as pes-soas à mesa.HOTÉISBons, só na Suíça.HUGO (VICTOR)Cometeu, na verdade, um grande erro ao dedicar-se à política.HUMIDADECausa de todas as doenças.HUMORESFicar satisfeito ao expe-li-los e admirar-se de que o corpohumano possa conter tão grandes quantidades.

52

Page 54: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 55: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 56: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Deve visitar-se em lua-de-mel.

55

Page 57: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 58: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

IDEALCompletamente inútil.IDEIAS (Inatas)Zombar delas.IDEÓLOGOS TODOS OS JORNALISTAS O SÃO.IDÓLATRASSão canibais.ILEGÍVELAs receitas médicas devem sempre sê-lo. As assinatu-ras também. Sinal de que se tem muita correspondên-cia.ILIADASempre seguida da “Odis-seia”.ILOTASExemplo a dar aos filhos, mas não se sabe onde os encontrar.ILUSÕESAfectar ter muitas, lamen-tar-se de as ter perdido.IMAGENSHá sempre imagens a mais na poesia.IMAGINAÇÃOSempre viva. Desconfiar dela. quando e não tem, desprezar a dos outros. Para escrever romances, basta ter imaginação.IMBECISOs que não pensam como vós.IMBRÓGLIOA base de todas as peças de teatro.IMORALIDADEPalavra que bem pronuncia-da eleva quem a emprega.IMPERATRIZESTodas belas.IMPERIALISTASTodos gente honesta, edu-cada, agradável, distinta.IMPÉRIO“O império, é a paz” (Na-poleão III).IMPERMEÁVELMuito vantajoso como tra-je. Faz muito mal por im-pedir a transpiração.IMPINGEMSinal de saúde (v. bor-bulha).ÍMPIOBradar contra.IMPORTAÇÃOVerme que corrói o comér-cio.

IMPRENSADescoberta maravilhosa. Fez mais mal do que bem.IMPRESSODeve acreditar-se em tudo o que vem impresso. Ter o nome nos jornais! Há quem cometa crimes só por isso.INAUGURAÇÃOMotivo de alegria.INCAPACIDADESempre notória. Quanto mais incapaz, mais ambi-cioso.INCÊNDIOEspectáculo a não perder.INCÓGNITOModo de os príncipes via-jare.INCRUSTAÇÃOSó se emprega a falar do nácar.INDOLÊNCIAResultado dos países quen-tes.INDÚSTRIA(v. comércio).INFANTICÍDIOCrime cometido só pela gente do povo.INFECTO Empregar a propósito de qualquer obra artística ou literária que não tenha merecido o beneplácito de “ Le figaro”.INFINITESIMALNão se sabe o que é, mas está relacionado com a ho-meopatia.INJÚRIADeve sempre ser lavada em sangue.INOCÊNCIA A impassibilidade é prova dela.INOVAÇÃOSempre perigosa.INQUISIÇÃOTem havido muito exagero ao falar-se dos seus crimes.INSCRIÇÃOSempre cuneiforme.INSPIRAÇÃO POÉTICACoisas que a provocam: a vista do mar, o amor, a mulher, etc.

57

Page 59: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

INSTINTOComplemento da inteligên-cia.INSTITUTOOs membros do Instituto são todos velhos e usam quebra-luzes em tafetá verde.INSTRUÇÃODar a entender que se tem muita. O povo não precisa dela para ganhar a vida.INSTRUMENTOOs instrumentos que seri-ram para cometer um crime são sempre contundentes, quando não são cortantes.INSURREIÇÃOO mais sento dos deveres (Blanqui).INTEGRIDADECompete sobretudo à magis-tratura.INTRIGALeva a tudo.INTRODUÇÃOPalavra obscena.INVASÃOProvoca as lágrimas.INVENTORESAcabam todos no hospital. É sempre outro a tirar proveito da descoberta, o que é injusto.INUMAÇÃOMuitas vezes, precipitada: contas casos de cadáveres que devoraram os braços para matar a fome.ITALIANOSTodos músicos. Todos traiçoeiros.INVERNOSempre excepcional (v. Verão). É mais saudável do que as outras estações.

58

Page 60: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 61: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 62: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 63: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Não poder passar sem eles, mas bradar contra. A sua importância na sociedade moderna. Ex.: «Le Figaro». OS jornais sérios: «La Re-vue des Deux Mondes», «L’ Economiste», «Le Journal des Débats»; tê-los sobre a mesa da sala, mas tendo, antes, o cuidado de lhes fazer uns tantos recortes. Assinalar algumas pas-sagens a lápis vermelho, o que também produz bom efeito. Ler, de manhã, um artigo daquelas fol-has sérias e graves, e, à noite, levar a conversa para o assunto estudado, a fim de se poder brilhar.

62

Page 64: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

JASENISMONão se sabe o que é mas cai sempre bem falar dele.JANTARDantes, jantava-se ao meio-dia, hoje janta-se a horas impossíveis. O jan-tar dos nossos pais era o nosso almoço, e o nosso jantar era a ceia deles. Jantar tão tarde como agora se faz, não é jantar mas ceia. JAPÃOLá é tudo feito de por-celana.JARDINS INGLESESSão mais naturais do que os jardins franceses.JARNACgolpe de- indignar-se contra tal golpe, que, de resto, era muito leal.JASPETodos os vasos dos museus são de jaspe.JESUÍTASEstão por detrás de todas as revoluções. São muitos, sem a menor dúvida. Nunca falar da «batalha dos je-suítas».JOGOIndignar-se contra tão fa-tal paixão.JOHN BULLQuando se não sabe o nome de um inglês, chama-se-lhe John Bull.JOQUEI CLUBEOs seus membros são sem-pre jovens estouvados e muito ricos. Dizer apenas «OJóquei»; é muito elegan-te, dá a entender que se é sócio.

63

Page 65: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

JUDEUFilho de Israel. Os Judeus são todos vendedores de binóculos de teatro.JUJUBANão se sabe de que é fei-ta,JUNCOUma bengala deve ser sem-pre de junco.JÚRITudo fazer para não tomar parte num deles.JUSTIÇANunca se inquietar.JUVENTUDEAh, como é bela a juven-tude! Nunca deixar de trazer à baila estes ver-sos italianos, mesmo sem os compreender: ‘ O Prima-vera! Gioventú dell’ano! O Gioventú! Primavera della vita!’

64

Page 66: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 67: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 68: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 69: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Palavra que vexa os

russos.

Page 70: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 71: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 72: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

71

Page 73: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Dissolve as outras. Atrai as

cobras. Branqueia a pele; há

mulheres em Paris quem tomam,

todas as manhãs, um banho de

leite.

Page 74: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

LABORATÓRIODeve ter-se um no campo.LACONISMOLìngua que já não se fala.LACUSTRESpovoações - Navegar-lhes a existência, pois que não se pode viver debaixo de água.LAFAYETTEGeneral célebre pelo seu cavalo branco.LA FONTAINEAfirmar que nunca se le-ram os seus contos. Chamá-lo «O Bonsoso», o imortal fabulista.LAGOTer uma mulher ao lado, quando nele se passeia de barco.LAGOSTAFêmea do lavagante.LAGUNACidade do Adriático.LANCETATrazer sempre uma no bol-so, mas recear servier-se dela.LARReferir-se-lhe sempre com respeito.LATIM Língua natural do homem. Prejudica a clareza de um texto. Só serve para ler as inscrições das fontes públicas. Desconfiar das citações em latim:escondem sempre algo inconveniente.LAVAÇÂOSó se usa a propósito da cerimónia da lavação dos pés.LEÃOÉ generoso. Está sempre a brincar com uma bola. Bem rugido, Leão! É dizer que tanto o leão como o tigre não passam de uns gatos!LEBREDorme de olhos abertos.LEGALIDADEA legalidade é a nossa morte. Com ela nenhum gov-erno é possível.LÉGUAFaz-se mais depressa uma légua do que quatro quiló-metros.

LENÇO DE PESCOÇO Fica bem assoar-se nele.LENÇOLOs lençois vêm todos de Elbeuf.LETARGIASJá se têm visto algumas que duram anos e anos.LETRAUma boa caligrafia pode levar longe. Indecifrável: Sinal de ciência. Ex.: as receitas dos médicos.LIBELOJá não se faz.LIBERDADEÓ Liberdade! Quantos crimes se cometem em teu nome! Dispomos de todas as necessárias. Liberdade não é licença (frase de con-servador).LIBERTINAGEMSó se vê nas grandes ci-dades.LIGA Deve sempre usar-se acima do joelho quando se per-tence à alta sociedade, abaixo quando se trata de mulheres do povo. Uma mul-her nunca deve negligen-ciar este pormenor da sua ‘toilette’, pois há muitos impertinentes neste mundo.LILÁSAgrada porque anuncia o Verão.LINCE Animal célebre pelo seu olho.LINDOEmprega-se a propósito de tudo o que é belo. É lindissimo! Representa o cúmulo da admiração.LÍNGUA DE TRAPOSManeira de falar dos es-trangeiros. Rir-se sempre do estrangeiro que fala mal francês.LÍNFUAS VIVASAs desgraças de França vêm de não se saberem bastan-te.

73

Page 75: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

LISONJEADORNunca faltar com a citação: «Detestáveis lisonjeadores, presente mais funesto» / Que possa fazer aos reis a cólera celestel, ou então: «Ficai sabendo que todo o lisonjeador / Vive à custa de quem ouve».LITERATURA Ocupação de ociosos.LITTRÉTroçar ao ouvir esse nome: «Esse senhor que diz que descendemos do macaco.»LIVRE CÂMBIOCausa dos sofrimentos do comércio.LIVROSeja ele qual for é sempre demasiado grande.LOIONão se sabe o que é.LOIRASMais quentes que as more-nas (v.morenas).LONTRAServe para fazer gorros e coletes.LORDEInglês rico.LORPA Mais vale ser tratante do que lorpa.LOUREIROSImpedem o sono.LUAInspira melancolia. Será habituada?LUGAREJOSubstantivo enternecedor. Fica bem em poesia.LUÍS XVIDizer sempre: «Esse infor-tunado monarca...»LUVASDão um ar distinto.LUXOÉ a perdição dos Estados.LUZDizer sempre ‘Fiat lux’ ao acender-se uma vela.

74

Page 76: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 77: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 78: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

77

Page 79: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Para se ser um v

erdadeiro

múico não se dev

e com-

por seja o que f

or, to-

car seja que ins

trumento

for e deve-se de

prezar os

virtuosos.

Page 80: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

MACADAM Suprimiu as revoluções: deixou de haver meio de fazer. É no entanto, muito incómodo.MACARONI Sendo à italiana, deve comer-se à mão.MACKINTOSHFilósofo escocês. Inventor da borracha.MADRUGADORSê-lo é prova de bons cos-tumes. Se uma pessoa se deita às quatro da manhã e se levanta às oito, é pre-guiçosa, mas se se deita às nove da noite para sair da cama às cinco da manhã do dia seguinte, é uma pessoa activa.MAESTROPalavra italiana que quer dizer pianista.MAGAREFES São terríveis em época de revoluções.MAGIAFazer troça.MAGISTRATURABelo carreira para fazer um bom casamento. Os mag-istrados são todos peder-astas.MAGNETISMOBom tema de conversa, que serve para «impressionar» as mulheres.MAILLOT Muito excitante.MALDIÇÃOÉ sempre proferida por um pai.MALTHUS«O infante Malthus».MAMELUCOSAntigo povo do Oriente (Egipto).MANTILHAPético.MÃO Ter boa mão é escrever bem.MÃO DE FERROA França precisa de mão de ferro que a governe.MAQUIAVEL Não o ter lido mas consid-erá-lo um celerado.MAQUIAVELISMOPalavra que só se deve pronunciar com um arrepio.

MARNão tem fundo. Imagem do infinito. Dá altos pensa-mentos. À beira-mar, é sempre necessário ter-se uma ampla vista. Quando se olha para o mar, deve sem-pre dizer-se: «Que imen-sidão de água!».MARCENEIROOperário que trabalha, so-bretudo, com mogno.MARFIMSó se emprega ao falar dos dentes.MÁRMOREAs estátuas são todas fei-tas de mármore de Paros.MARSELHÊS São todos gente de espíri-to.MÁRTIRES Todos os primeiros cris-tãos o foram.MÁSCARADá graça e espírito a quem a traz.MATAGALSempre smbrio e impen-etrável.MATEMÁTICAS Ressecam o coração.MATERIALISMOPronunciar esta palavra com horror, batendo bem as sílabas.MATUSALÉMSer velho como Matusalém.MÁXIMA - Nunca nova mas sempre consoladora.MAZARINADASDesprezá-las. Não é ne-cessário conhecer uma que seja.MACÂNICA Prte inferior das matemáti-cas.MEDALHASó na Antiguidade é que se faziam.MEDICINASEMPRE precedido de bom, e, entre homens, nas con-versas familiares, de «sacana». É um água quando dispõe da vossa confiança, não passa de uma besta desde que médico e doente se tenham desentendido. Todos materialistas. «É que não se descobre a fé na ponta de um bisturi.»

79

Page 81: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

MEDODá asas.MEFISTOFÉLICODeve empregar-se a propósito de todo o riso amargo.MEIA-NOITELimite da felicidade e dos prazeres honestos; tudo o que se faz depois disso é imoral.MELÃOInteressante tema de con-versa à mesa. Será um le-gume? Um fruto? os ingle-ses comem-no à sobremesa o que espanta.MELANCOLIASinal de distinção do coração e de elevação de espírito.MELODRAMASMenos imorais do que os dramas.MEMÓRIA Queixar-se da sua, gaban-do-se mesmo de a não ter. Mas corar se lhe disserem que não tem capacidade de apreciação.MENDICIDADEDevia ser proibida e nao se vê que o seja.MENINAArticular a palavra com ar recatado. As meninas são sempre pálidas e frágeis, sempre puras. Evitar-lhes toda a espécie de livros, as visitas aos museus, os teatros, e, sobretudo, o Jardim das Plantas, na secção dos macacos.MENINASNunca por nunca dizer: «As meninas estão na sala.»MERCÚRIOMata a doença e o doente.MERIDIONAIS (os) São todos poetas.METAFÍSICAA rir: é uma prova de es-pírito superior.METÁFORAS Há sempre metáforas a mais no estilo.METAMORFOSE Rir do tempo em que se acreditava nisso. Ovídio foi inventor.

MÉTODONão serve para nada.MÉXICO«A guerra do México é a maior preocupação do reino.»(Rouher.)MEXILHÕESSão sempre indigestos.MINISTROÚltimo grau da glória hu-mana.MINUTO Ninguém dúvida de como um minuto é longo.MIRANTEBom local para fazer ver-sos.MISSIONÁRIOS São todos comidos ou cric-ificados.MISSIVAMais nobre do que carta.MOBÍLIATer as maiores preocupa-ções com ela.MOEDEIROS FALSOSTrabalham sempre em sub-terrâneos.MOINHOFica bem numa paisagem.MIMICESÉ necessário fazer quando se está rodeado de senho-ras, numa festa campestre.MONARQUIAA monarquia constitucional é a melhor das repúblicas.MONÓCULO Insolente e distinto.MONOPÓLIOBradar contra.MONSTROSJá se não vêem.

MORENAMais quentes do que as loiras (v. loiras).MOSAICOS Perdeu-se o segredo.MOSCASPuer abrige muscas.MOSQUITOMais perigoso do que qual-quer animal feroz.MOSTARDABoa mostarda, só em Dijon. Dá cabo do estômago.

MULHERIndivíduo do sexo femi-nino. Umas das costelas de Adão. Nao dizer «a minha mulher», mas «a minha es-posa», ou, melhor ainda, «a minha cara metade».MULTIDÃOTem sempre bons instintos ‘Turba ruit’ ou ‘ruunt’. A vil multidão (Thiers). «O povo santo, em multidão, inundava os pórticos...», etc.MÚSCULOS Os músculos dos homens fortes são sempre de aço.MUSEUDe Versalhes: narra os al-tos feitos da glória na-cional; uma bela ideia de Luís Filipe. Do Louvre: a evitar pelas jovens. Dupuy-tren: muito útil mostrá-lo aos jovens.MÚSICA Faz pensar em imensas coisas. Contribui para a brandura dos costumes. Ex.:«A Marselhesa».

80

Page 82: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 83: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 84: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Só em Baiona é que os sabem construir como deve ser.

83

Page 85: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

84

Page 86: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

NAPOLESAo falar com eruditos diz-er Parténope. Ver Nápoles e depois morrer!NARINASDilatadas, sinal de sensu-alidade.NATUREZAComo é bela, a Natureza! Frase a proferir sempre que uma pessoa passeia pe-los campos.NAVALHAÉ catalã se tiver a lâmina comprida. Chama-se punhal quando serviu para cometer um crime.NAVEGADORSempre intrépido.NÉCTARConfundi-lo com a ambro-sia.NEGÓCIOS (os)Os negócios acima de tudo. São o que há de mais im-portante na vida. Daí não há que sair.NEGRASMais quentes do que as brancas (v. morenas e loi-ras).NEGROComo ébano ou como azevi-che.NEGROSEspantar-se com o facto de terem a saliva branca e de falarem francês.NEOLOGISMOA perdição da língua fran-cesa.NERVOSODiz-se de cada vez que nada se compreende de uma doença; esta explicação satisfaz quem a ouve.

85

Page 87: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

NOBREZASenti-la, desprezá-la e invejá-la.NÓ GÓRDIORelacionado com a Anti-guidade. (Maneira de os antigos fazerem o nó da gravata.)NORMANDOSTroçar deles por causa do gorro de algodão.NOTÁRIOSOs de agora não são de fiar.NUMISMÁTICARelacionada com as altas ciências, inspira um enorme respeito.

86

Page 88: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 89: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 90: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Ponto de partida para uma

dissertação filosófica

sobre a génese dos seres

vivos.

Page 91: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

90

Page 92: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

OÁSISAlbergue do deserto.OBSCENIDADETodas as palavras cientí-ficas derivadas do grego ou do latim escondem ob-scenidades.OBUSESServem para fazer pêndulos e tinteiros.OCTAGENÁRIOEmprega-se a propósito de qualquer homem de idade.ODALISCASTodas as mulheres do Ori-ente são odaliscas (v. bailadeiras).ODÉONFazer espírito pelo facto de ficar longe.OFFENBACHAo ouvir o seu ome fazer figas para evitar mau ol-hado. Muito parisiense, muito elegante.OMEGASegunda letra do alfabeto grego pois que se diz sem-pre “alpha” e o “omega”.ÓNIBUSVão sempre cheios. Foram inventados por Luís XIV. “Eu, Senhor, já vi trici-clos que só tinham três rodas.”ÓPERA (Bastidores da)O paraíso de Maomé na terra.OPTIMISTAEquivalente a imbecil.ORAÇÃO-Todo e qualquer discurso de Bossuet.ORÇAMENTONunca equilibrado.ORDEM, A ORDEMQuantos crimes se cometem em teu nome (v. liber-dade).

91

Page 93: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

ÓRGÃOEleva a alma de Deus.ORIENTALISTAIndivíduo muito viajado.ORIGINALTroçar de tudo o que é original, odiá-lo, achinc-alhá-lo, se se for capaz.ORQUESTRAImagem da sociedade: cada um executa a sua parte e há um chefe.ORQUITEDoença de cavalheiro.ORTOGRAFIAAcreditar nela como nas matemáticas. Não é ne-cessária quando se tem um estilo.OSTRASJá ninguém lhes chega! Custam os olhos da cara!OURIVESTratá-lo sempre por Senhor Josse.

92

Page 94: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 95: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 96: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Por dentro, o corpo dele

“é tão parecido com o do

homem” que deveria ser

utilizado nos hospitais no

estudo de anatomia.

95

Page 97: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

96

Page 98: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

PADRESDeviam ser todos castra-dos. Deitam-se com as criadas e têm filhos a que chamam sobrinhos.Apesar de tudo, há-os bons.PADRINHOÉ sempre o pai do afil-hado.PAGANININunca afinava o violino. Célebre pelo comprimento dos dedos.PAISAGENS (dos pintores)- São sempre pratos de es-pinhafres.PALLADIUMFortaleza da Antiguidade.PALMEIRADá cor local.PALMIRAUma rainha do Egipto? Umas ruínas? Não se sabe.PANTEÍSMOBradar contra, absurdo.PÃONinguém imagina a casta de porcarias que há no pão.PARADOXOAfirmar-se sempre a propósito do “Boulevard des Italiens” entre duas baforadas de cigarro.PARALELOSó se deve escolher en-tre os seguintes: César e Pompeu, Horácio e Virgí-lio, Voltaire e Rousseau, Napoleão e Carlos Magno, Goethe e Schiller, Bayard e Mac-Mahon...PARENTESSõ sempre desagradáveis. Esconder os que não são ricos.PARISA grande prostituta. Paraíso das mulheres, in-ferno dos cavalos.PARRAEmblema da virilidade em escultura.PARTESSão vergonhosas para uns, naturais para outros.PARTOPalavra a evitar; substi-tuí-la por bom sucesso. “Para quando espera o seu bom sucesso?”

PASSAR AOS DIREITOSNão é crime, mas uma pro-va de espírito e de in-dependência de espírito (v.alfândega).PASSEIODar um passeio depois do jantar facilita digestão.PASTATrazer uma debaixo do bra-ço dá um ar de ministro.PASTORESTodos feiticeiros. Têm a faculdade de falar com Nossa Senhora.PATOSVêm todos de Ruão.PEDANTISMODeve ser ridicularizado, a não ser que se refira a ninharias.PEDERASTIADoença por que todos os homens são afectados numa certa idade.PELESSinal de riqueza.PELICANODilacera os flancos para poder alimentar os filhos. Emblema do chefe de famí-lia.PENSARPenoso; as coisas que a isso nos forçam são, em geral, postas de lado.PENSIONATOChama-se “Lar”, quando se trata de um pensionato de jovens do sexo feminino.PENTE(de dentes finos)- Faz cair o cabelo.PENTEADORIndispensável em casa de uma mulher bonita.PERMUTARO único verbo conjugado pelos militares.PERNADA (direito de)- Não acredi-tar.PERUPaís onde tudo é de ouro.PESADELOCausado pelo estômago.PHAÉTONInventor dos carros com esse nome.

97

Page 99: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

PIANISTAIndispensável numa sala.PIEDADEEvitá-la semprePILARES DA SOCIEDADE”Id est” a propriedade, a família, a religião, o re-speito pelas autoridades. Enfurecer-se se os atacam.PINTURAEstraga a pele.PINTURA EM VIDROPerdeu-se-lhe o segredo.PIRÂMIDETrabalho inútil.PLANETASForam todos descobertos por Leverrier.PLANTASCuram sempre as partes do corpo com que se assemel-ham.POBRESOcupar-se deles vale as demais virtudes.POESIA (a)Completamente inútil: pas-sou de moda.POETASinónimo nobre de pateta; sonhadorPOLÍCIAPilar da sociedade. Designá-la por força da ordem.POMBSó se deve comer com er-vilhas.POMOPalavra pudica para desig-nar os seios de uma mul-her. “Deixe-me beijar-lhe os adoráveis pomos”.PONCHEImprescindível numa noita-da de bom senso.PONSARD-O único poeta dotado de bom senso.POPILUSInventor de uma espécie de círculo.PORT-ROYALTema de conversa de bom efeito.PRADONNão lhe perdoar o ter sido émulo de Racine.PRAGMÁTICA SANÇÃONão se sabe o que é.

PRÁTICASuperior à teoria.PRAZERPalavra obscena.PERCEPTORASSão sempre de excelentes famílias, atingidas por alguma desgraça. Perigosas nos lares, corrompem os maridos.PRENDA-Não é o valor que faz o preço, ou, então, não é o preço que faz o valor. A prenda nada é, a intenção é que conta.PROCUPAÇÃO-É tanto mais viva quanto, estando pro-fundamente absorvido, um indivíduo fica sem se mexer.PRESUNTOÉ sempre de Mayence. Desconfiar dele, por causa das triquinas.PRETOUma pessoa deve falar em “língua de preto” para se fazer entender por um es-trangeiro. Seja qual for a sua nacionalidade. Empre-ga-se, também, no estilo telegráfico.PRIAPISMO-Culto da Antiguidade.PRIMOAconselhar os maridos a desconfiarem do “primin-ho”.PRINCÍPIOSSão sempre indiscutíveis: não se lhes conhece a na-tureza nem o número; não importa, são sagrados.PRISÃO DE VENTRETodos os literatos sofrem de prisão de ventre. Tem influência nas convicções políticas.PROFESSORÉ sempre doutor.

PROGRESSOSempre mal entendido e de-masiado prematuro.PROPRIEDADEUm dos pilares da socie-dade. Mais sagrada do que a religião.PROSAMais fácil do que fazer versos.PROSTITUTAÉ um mal necessário. Sal-vaguarda as nossas filhas e irmãs, enquanto houver homens solteiros. Deviam ser implacavelmente perse-guidas. Um cavalheiro não pode sair com a esposa por causa da presença delas nas ruas. São sempre fil-has do povo pervertidas por burgueses ricos.PROVIDÊNCIAQue seria de nós sem ela?PUBLICIDADEFonte de riqueza.PUCELASó se emprega a respeito de Joana d’Arc e unida a “de Orleans”.PUDOR mais belo ornamento da mulher.PÚRPURAPalavra mais nobre do que encarnado.

98

Page 100: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 101: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 102: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Diz-se, a propósito de todos os velhos castelos, que Henrique IV dormiu lá uma noite.

101

Page 103: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

102

Page 104: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

103

Page 105: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

QUADRATURA DO CÍRCULONão se sabe o que é, mas deve-se encolher os ombros ao falar no assunto.QUARESMANo fundo, não passa de uma medida higiénica.QUARTO DE DORMIRDiz-se, a propósito de todos os velhos castelos, que Henrique IV dormiu lá uma noite.QUINTAAo visitar uma quinta, só se deve comer pão escuro e beber leite. Se se juntam ovos, acrescentar: «Meu Deus, como são frescos! Os da cidade não se lhe podem comparar!»QUIOSQUELugar de delícias num jardim.

104

Page 106: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 107: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 108: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

107

Page 109: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

A fêmea do sapo.

108

Page 110: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

RACINEDevasso!RADICALISMOTanto mais perigoso quanto for latente. A República leva-nos ao radicalismo.RAIOSó se emprega para prague-jar, e mesmo assim!RAIOS DO VATICANORir-se.RAPAZSempre estouvado. Deve sê-lo. Admirar-se quando o não é.RATA SÁBIADesignação depreciativa para a mulher que se in-teresse por coisas in-telectuais. Em apoio, citar Molière: «Quando a capacidade do seu espírito se eleva...», etc.REBOCO (nas igrejas)Bradar contra. Esta cólera artística é de muito efei-to.RECONHECIMENTONão necessita de ser ex-presso.REGEDORSempre ridículo. Sente-se insultado ao ser confundi-do com os cabos de ordem.RELIGIÃO (a)Faz parte dos pilares da sociedade. É necessária a povo, embora com come-dimento. «A religião dos nossos pais», deve profer-ir-se com unção.RELÓGISó é bom se for de Gene-bra. No teatro de revista quando um actor puxa do seu, deve ser sempre uma cebola: esta rábula é in-falível. « O seu relógio trabalha bem?» - «Claro, tão bem que o Sol se re-gula por ele.»REPUBLICANOSNem todos os republicanos são ladrões, mas todos os ladrões sao republicanos.

109

Page 111: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

RESTAURANTEDeve sempre pedir-se os pratos que se não comem, habitualmente, em casa. À pessoa que sente dificul-dade em escolher , basta optar pelos pratos que servem aos vizinhos de mesa.RIJOAcrescentar, invariavel-mente, como ferro. Também há rijo como uma pedra, mas é menos enérgico.RIMANunca se harmoniza com a razão.RIQUEZA-Dá direito a tudo, até a consideração.RISOSempre Homérico.ROMANCESPervertem as massas. São menos imorais em folhet-ins. Só se deve tolerar os romances históricos, pois nos ensinam a História. Há romances escritos com a ponta de um escalpelo, e outros assentam na ponta de uma agulha.ROMANZASOs cantores de «romanzas» agradam às mulheres.RONSARDRidículo com as suas pala-vras gregas e latinas.ROSTOEspelho da alma. Existe, portanto, gente com a alma muito feia.ROUSSEAUPensar que J.-J. Rous-seau e J. B. Rousseau são irmãos, tal como eram os dois Corneille.RUÍNAS Fazem sonhar e emprestam poesia a uma paisagem.RUIVASVer louras, morenas e ne-gras.

110

Page 112: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 113: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 114: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

111

Page 115: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Passeia à noite no alto dos telhados.

112

Page 116: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

SÁBIOTroças deles. Para ser sábio basta memória e tra-balhoSABREOs franceses querem ser governados por um sabre.SACERDÓCIOA Arte, a Medicina, etc. são sacerdócios.SACRILÉGIOÉ um sacrilégio abater uma árvore.SÁFICO E ANDRÓNICO (ver-sos)Produz excelente efeito num artigo literário.SAINT-BARTHÉLEMYUma graça antiga.SAINT-BEUVENa Sexta-Feira Santa só comi enchidos.SALEIROEntorná-lo dá azar.SALSICHEIROHistória dos enchidos fei-tos com uma carne humana. Todas as salsicheiras são lindas.SANGRARFazer-se sangrar na Prima-vera.SANTA HELENA-Ilha conhecida pelo seu rochedo.SAPATEIRO”Ne sutor ultra crepidem”.SÁTRAPAHomem rico e debuchado.SATURNAISFestas do Directório.SAÚDEA demasiada saúde é causa de doenças.SCUDÉRYDEVE FAZER-se troça, sem se saber se era homem ou mulher.SEIXOSAo ir à praia, não ficar sem trazer alguns para casa.SÉNECAEscrevia numa escrivaninha de oiro.SENHORIOAs pessoas dividem-se em duas grandes classes: sen-horios e inquilinos.SERÕESOs do campo são morais.SERPENTETodas venenosas.

113

Page 117: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

SERVIÇOÉ prestar um serviço às crianças o dar-lhes uns sopapos; aos animais, o bater-lhes; aos criados, o despedi-los; aos mal-feitores, o castigá-los.SEVILHACélebre pelo seu barbeiro. Ver Sevilha e depois mor-rer! (v. Nápoles.)SIBARITASBradar contra.SÍFILISToda a gente está mais ou menos afectada.SINO DE ALDEIA-Faz bater o coração.SOBREMESALamentar que já não se cante à sobremesa. As pes-soas sérias desprezam-na: “Não! Não! Nada de doces! Nada de sobremesas!”SOCIEDADEOs seus inimigos. O que causa a sua perda.SOLTARSoltam-se os cães e as ru-ins paixões.SOLTEIRÕESTodos egoístas e debocha-dos. Deviam pagar um im-posto. Preparam para si uma triste velhice.SOLUÇOPara fazer parar os soluços não há como uma chave nas costas ou um susto.SOMBREUIL (MILLE.)-Recor-dar o copo de sangue.SONOTorna o sangue espesso.SORVETEIROSTodos napolitanos.STUART (MARIA)Apiedar-se da infelicidade dela.SUBÚRBIOSTerríveis durante as rev-oluções.SUFRÁGIO UNIVERSALA última palavra da ciên-cia política.SUICÍDIOProva de cobardia.SULSempre condimentada com alho. Bradar contra.SUSPIRODeve exaltar-se perto de uma mulher.

114

Page 118: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 119: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 120: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

117

Page 121: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Pai do vitelo. O boi não é

mais do que tio.

118

Page 122: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

TABACOO da “Régie” não se com-para ao de contrabando. Fumar é indicado para quem trabalha em escritórios. Causa de todas as doenças do cérebro e da medula es-pinal.TABELIÃOMais lisongeiro do que no-tário.TAMANCOSUm ricaço que teve pincípios difíceis veio sempre de tamancos para Paris.TARTANA “Vem à minha tartana, bela grega de olhos negros” (romanza)TEMANo colégio, prova de apli-cação, assim como a inter-pretação é prova de in-teligência. Mas em grupo fica bem rir dos que têm boas notas nos temas.TEMPOEterno assunto de conc-ersa. Causa universal das doenças. Queixar-se con-stantemente dele.TERRADizer os quatro cantos da Terra, já que ela é re-donda.TESTAAlta e calva, sinal de gé-nio ou sobranceria.TESTEMUNHAUma pessoa deve sempre recusar-se a servir de te-stemunha, pois nunca sabe onde isso pode levar.TINTEIROOferece-se de presente a um médico.TOILETTE(das senhoras)Perturba a imaginação.TOLERÂNCIA (casa de)Não sigenifica que seja aquela onde se tem opin-iões tolerantes.TORNONo campo, é indispensável ter um no celeiro, para os dias de chuva.

119

Page 123: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

TORRE DE MENAGEMDesperta ideias lúgubres.TOUPEIRACego como uma toupeira. Mas a verdade é que têm olhos.TRABALHADORÉ sempre honesto, quando lhe não dá para se amo-tinar.TRASNPIRAÇÃO (dos pés) Sinal de saúde.TRAVESSEIRONunca usar, porque faz as pessoas marrecas.TREZE Evitar treze à mesa, que dá azar. O espíritos fortes não devem deixar de fazer espiríto: “O que é que isso tem? Eu por mim como por dois.” Ou, então, se houver senhoras, per-guntar se alguma delas não estará grávida.TROVADOR Belo motivo para um pên-dulo.

120

Page 124: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 125: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 126: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Chama –se, em geral, Mar-tim. Citar o caso do invá-lido que, vendo um relógio caído no fosso do urso, desceu e acabou por serdevorado.

123

Page 127: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 128: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

125

Page 129: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

UKASE Chamar << ukase>> a todo o decreto autoritário, o quevexa o Governo.Universidade“Alma mater”URSO Chama –se, em geral, Mar-tim. Citar o caso do invá-lido que, vendo um relógio caído no fosso do urso, desceu e acabou por serdevorado.USADOTudo que é antigo é usado. Tudo o que é usado é an-tigo.USUM (ad)Locução latina que fica bem na frase: Ad usum Del-phini. Deve empregarse ao falar-se de uma mul-her chamada Delfina.

126

Page 130: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 131: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 132: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Só se dar com pessoas vacinadas

129

Page 133: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 134: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

131

Page 135: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

VAIDOSOSempre precedido de ex-tremamente.VALSAIndignar –se contra. Dança lasciva e impura que só deveria ser dançada por mulheres velhas.VELHOA propósito de uma cheia, de uma tempestade, etc. Osvelhos da povoação nunca se lembram de ter visto coisa igual.VELUDOSAplicados nos trajes, são sinal de distinção e riqueza.VENDAVender e comprar são a fi-nalidade da vida.VERSÃOSempre excepcional (v. In-verno).VEREADORESInsurgir-se contra eles a propósito do calcetamentodas ruas. << Afinal, com que é que se preocupam os nossos vereadores? >>VERRÉSAinda se lhe não perdou.VIAGEMDeve ser feita rapidam-ente.VIAJANTEsempre intrépido.VINHOSAssunto de conversa en-tre homens.O melhor é o << bordeaux>>, dado que os médicos o receitam.Quando pior for, mais natural ele é.VIZINHOSProcurar que nos prestem serviços, sem que isso nada nos custe.VIZIRTreme à vista de um cordão.VOLTAIRECélebre pelo seu <<ric-tus>> medonho. Ciênciasuperficial.

132

Page 136: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 137: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 138: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 139: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Troçar ao ouvir o nome

dele, e dizer umas

gracinhas

sobre musica do futuro.

136

Page 140: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 141: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 142: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

139

Page 143: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

(jogo do)imagem da táctica militar. Todos os grandescapitães eram bons a jogar xadrez. Demasiado sério para jogo,demasiado fútil para ciên-cia.

140

Page 144: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 145: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 146: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

Ver Yvetot e depois morrer ( v. Nápoles e Sevilha).

143

Page 147: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

144

Page 148: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

5-8

31-34

25-28

17-22

11-14

37-40

61-64

55-58

49-52

43-46

Page 149: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

67-68

89-92

83-86

77-80

71-74

95-98

117-120

111-114

107-110

101-104

123-126

143-144

139-140

135-136

129-132

Page 150: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas
Page 151: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas

ANNA HEGEDÜS

Page 152: Gustave Flaubert - Dicionário das Ideias Feitas