Gustavo Kuerten

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55 A simplicidade que o faz GRANDE Fora das quadras, sem deixar de lado o jeitão de menino, Gustavo Kuerten segue em busca de mais um sonho: criar um cenário para que o tênis se desenvolva de vez no Brasil NA MANHÃ DE DOMINGO de oito de junho de 1997, um cabeludo de 20 anos, meio desleixado, surpreendeu a todos e a ele próprio ao vencer o torneio de Roland Garros, um dos mais charmosos e importantes do tênis. Os brasi- leiros e o mundo, então, conheciam Gustavo Kuerten e se acostumariam a vê-lo levantar troféus e fincar seu nome no hall dos grandes tenistas de todos os tempos. Nos 10 anos seguintes, Guga conquistou mais dois Roland Garros e outro punhado de grand slams. Foi o primeiro sul-americano a li- derar o ranking mundial e fez com que o brasileiro prestasse mais atenção no vai e vem da bolinha nas quadras. Fora do circuito desde 2008, quando um problema no quadril que o acompanhava há anos fez com que ele anun- ciasse sua aposentadoria, Guga, aos 36 anos, agora é ca- sado, é pai de Maria Augusta, anunciou mês passado que está “grávido” novamente e se dedica ao Instituto Guga Kuerten, que tem como meta promover a inclusão por meio de projetos educacionais, esportivos e sociais. Das quadras, ele mata as saudades em jogos de exibição, como o que fará, este mês, contra o sérvio Novak Djokovic, atual núme- ro dois do mundo. Não tem surfado muito e a paixão pelo seu time de coração, o Avaí, está mais comedida. Embora admita não ser fácil, Guga ten- ta reverter as perdas em aprendizado. Com apenas 8 anos, viu o pai, Aldo Kuerten, falecer justamente numa quadra de tênis, quando arbitrava uma partida. Em 2007, o irmão Guilherme, que teve paralisia cerebral devido a complicações no parto, morreu aos 28 anos, o dobro da expectativa dada pelos médicos. Era Guilherme quem recebia os troféus de Guga. É na família — e o ex-trei- nador Larri Passos não fica de fora — que ele busca força para remar adiante. Guga chegou sorrindo para a entrevista. “Minha pequena está com febre”, desculpou-se pelo pequeno atraso. Sujeito esguio, meio de- sengonçado, a simpatia é a mesma da que vemos na TV. PERFIL POR BRUNO MATEUS FOTOS BRUNO SENNA

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Revista Ragga - Novembro 2012

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A simplicidade que o faz

GRANDEFora das quadras, sem deixar de lado o jeitão de menino, Gustavo Kuerten segue em busca

de mais um sonho: criar um cenário para que o tênis se desenvolva de vez no Brasil

NA MANHÃ DE DOMINGO de oito de junho de 1997, um cabeludo de 20 anos, meio desleixado, surpreendeu a todos e a ele próprio ao vencer o torneio de Roland Garros, um dos mais charmosos e importantes do tênis. Os brasi-leiros e o mundo, então, conheciam Gustavo Kuerten e se acostumariam a vê-lo levantar troféus e fincar seu nome no hall dos grandes tenistas de todos os tempos. Nos 10 anos seguintes, Guga conquistou mais dois Roland Garros e outro punhado de grand slams. Foi o primeiro sul-americano a li-derar o ranking mundial e fez com que o brasileiro prestasse mais atenção no vai e vem da bolinha nas quadras.

Fora do circuito desde 2008, quando um problema no quadril que o acompanhava há anos fez com que ele anun-ciasse sua aposentadoria, Guga, aos 36 anos, agora é ca-sado, é pai de Maria Augusta, anunciou mês passado que está “grávido” novamente e se dedica ao Instituto Guga Kuerten, que tem como meta promover a inclusão por meio de projetos educacionais, esportivos e sociais. Das quadras, ele mata as saudades em jogos de exibição, como o que fará, este mês, contra o sérvio Novak Djokovic, atual núme-

ro dois do mundo. Não tem surfado muito e a paixão pelo seu time de coração, o Avaí, está mais comedida.

Embora admita não ser fácil, Guga ten-ta reverter as perdas em aprendizado. Com apenas 8 anos, viu o pai, Aldo Kuerten, falecer justamente numa quadra de tênis, quando arbitrava uma partida. Em 2007, o irmão Guilherme, que teve paralisia cerebral devido a complicações no parto, morreu aos 28 anos, o dobro da expectativa dada pelos médicos. Era Guilherme quem recebia os troféus de Guga. É na família — e o ex-trei-nador Larri Passos não fica de fora — que ele busca força para remar adiante. Guga chegou sorrindo para a entrevista. “Minha pequena está com febre”, desculpou-se pelo pequeno atraso. Sujeito esguio, meio de-sengonçado, a simpatia é a mesma da que vemos na TV.

PERFIL

POR BRUNO MATEUS FOTOS BRUNO SENNA

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BASTANTE, foi aí que meu caráter começou a se formar, por meio das experiências esportivas. Por isso o instituto trabalha dessa forma também, tem uma metodologia toda desenvolvida e fundamentada nas bases esportivas, assim como artísticas. Até os 10 anos eu já tinha entendido muito bem que nem tudo é possível na vida. O fator pontual, muito específico, foi perder meu pai dentro de uma quadra de tênis, mas não vejo que isso tenha sido determinante. A composição toda por si só já traz adversidades dentro do perímetro das quadras, associação entre amigos, treinamento, disciplina, comprometimento, o desafio, viagens, cultura. A competitividade aflora bastante, da forma correta. Apesar de ser precocemente, acho que introduz uma filosofia de vida fantástica. É a nossa crença hoje em dia. Então, o esporte serviu como essa plataforma. Não consigo me enxergar como um cara próximo do que sou sem todas essas atividades esportivas inseridas desde o início da minha vida.

Você perdeu seu pai quando tinha 8 anos.

Em 2007, seu irmão Guilherme faleceu.

Numa entrevista, você disse que sempre

buscou reverter o que era ruim, o que era

uma pedra no caminho, e tentar transformar

numa coisa boa, num incentivo. De que

forma esses dois acontecimentos afetaram

você e o fizeram refletir?

PROCURO TENTAR, porque não é tão simples. O ruim é palavra difícil de acreditar que pode ser boa. Com a adversidade, com a desilusão grande, procuro tentar acreditar que isso pode ser favorável, tem que ter um fim positivo nessa história. Claro, não sou diferente de ninguém, os problemas cotidianos são comuns. O grande lance é aceitar que isso também faz parte, não existe uma vida cor de rosa. A gente vem aqui para viver perrengue também. As duas foram situações muito distintas, porque uma eu dialogava mais com o pai super-herói, a vida era ilusória, era O Pequeno Príncipe e, de repente, desapareceu. E com o outro eu já tinha noção, um entendimento maior, e não é um fator natural perder um irmão mais novo, quebra o ciclo natural da vida.

E tinha esse fator específico da deficiência. Meu irmão tinha uma expectativa de vida de 14 anos e chegou aos 28, mas mesmo assim era muito pouco para nós, um dia antes [da morte dele] a gente vivia com ele feliz da vida. Ele trouxe, e por isso faz falta também, muita alegria, simplicidade. A imagem deles está sempre presente e me empurra adiante. Eles me provocam de uma forma positiva. Minha família toda tem essa função.

Mesmo no sonho mais louco você imaginou que

chegaria aonde chegou?

NÃO, na época a gente nem conseguia assistir, Roland Garros nem passava na televisão. Acho que sonhava em participar de Wimbledon. Roland Garros fui conhecer quando tinha 15 anos: “Ah, esse é o grand slam”. Primeira vez que entrei em Roland Garros, em 1992, eu era juvenil, fui para fazer o circuito juvenil. Lembro que entrei, quadra lotada, e falei: “Cara, é isso que quero para minha vida, quero jogar meu tênis aqui”. Até a semana anterior a de quando joguei Roland Garros, em 1997, não acreditava que podia ganhar. Isso foi se confirmar lá em 1999, 2000, quando comecei a chegar já como favorito. Era mais fácil pensar que estava fazendo um gol em Copa do Mundo.

Você pensou em ser jogador de futebol?

MAS É O NORMAL. Nossos sonhos quando criança são esses. Até me convencer que era tênis demorou bastante. [risos]

Por falar em futebol, como anda o Avaí?

O AVAÍ ESTÁ VOANDO BAIXO, ontem perdeu de 3 a 1. [risos] Sempre está no chove e não molha.

Tem ido aos jogos?

ESTE ANO estou dando preferência para a minha filha. [risos] Estou me desligando um pouco dessa paixão, me controlando um pouco mais. A gente amadurece, vem uns questionamentos, decência do futebol, pensando no futuro

da minha filha, acho que isso tudo fez com que eu me afastasse um pouco do futebol.

E o surfe? A Clarissa [assessora de

imprensa] comentou que você está

surfando pouco. É, PORQUE MINHA PERNA está muito ruim. O surfe vem mais no verão, é um esporte que sou fascinado. E em Floripa melhor impossível para pegar onda.

Em 1997, você era um desconhecido

do brasileiro. De repente, vimos

um camarada de 20 anos, magrelo,

campeão de Roland Garros. Aí o tênis

ganhou muita força, aconteceu uma

“Gugamania”. Como você lidou com

isso? Teve que tomar algum cuidado

especial para a fama não subir

à cabeça? ACHO QUE TIVE UM POUCO DE PRIVILÉGIO também pelo entorno, poder viver numa ci-dade onde a ambição é comedida. O meio é mais calmo, mais tranquilo, não tem tan-tas provocações com o meio esportivo, que seriam festas, aparições. As coisas são mais calmas, mais controláveis. A sustentação da família é fundamental. Amigos e família fo-ram a clave para deixar o pé no chão. Para mim não foi difícil, porque eu estava cons-tantemente em contato com esses fatores.

Seu currículo é invejável, você foi

número um do mundo durante 43

semanas, venceu nomes do tênis que

ficaram para a história do esporte.

Faltou alguma coisa?

FALTOU UM MONTE DE COISA e não faltou nada. Na minha perspectiva inicial, não faltou nada. Mas, ocasionalmente, o decorrer da minha carreira demonstrou que tinha muita coisa para acontecer ainda. Fui praticamente uma avalanche no circuito. Aconteceu tudo em três anos, 1997 a 2001, quatro anos no máximo. Fiz tudo, crescendo a cada ano e de repente travou, vinham as limitações físicas. Foi bastante atípico.

E você se aposentou aos 32 anos por

conta dos problemas no quadril.

É, PAREI NÃO TÃO CEDO, com a idade razoável. Mas deixei de jogar bem já com 25. Dos 25 aos 30, que seria, em teoria, o meu melhor momento, eu não convivi.

Devia ser muito difícil saber que

podia render 100%, que você tinha

cabeça para fazer um jogo perfeito,

mas uma limitação física lhe travava.

ERA BEM ISSO, na teoria está tudo encaixado, mas por que não acontece? Aí, durante pelo menos seis, sete anos patinei nessa batalha.

O esporte sempre esteve muito

presente na sua família, né?

Até os 10 anos eu já tinha entendido muito bem que nem

tudo é possível na vida

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Até a semana anterior a de quando joguei Roland Gar-ros, em 1997, não acredita-va que podia

ganhar

Convivendo com as dores?

SIM, mas o mais difícil é essa burocracia que o corpo não faz mais o que estou pensando que ele deve fazer. Fazia ontem, por que não faz mais hoje? Isso é o mais difícil, porque com o agravante da dor o atleta convive com os pés nas costas. Quando entra numa limitação física de performance é muito complexo. O que me favorecia era o fato do desafio, o desafio era maior e me mantinha, bola pra frente. Se você para para pensar, a frustração aumenta demais. Isso só veio no fim, quando vi que a balança já estava pesando negativamente. E foi a decisão que tive de encerrar minha carreira, entendendo que dialogar com meu corpo totalmente disposto, mas não disponível para atuar, era uma bola de fogo na cabeça. Tem que ser gostoso, tem que ser bom, foi um amadurecimento pensar: “Cara, foi bom, foi o suficiente”.

Amadurecer essa ideia da aposentadoria lhe

custou muito?

NÃO, porque não tinha outra hipótese. Como sou muito ati-vo ainda e jovem, a sensação que tenho é que se não tivesse machucado, poderia estar atuando, jogando alguns torneios mesmo com 36 anos. Isso é a única coisinha que ainda te-nho que entender, minha cabeça não absorve naturalmente, mas daqui a três ou quatro anos vai dissipar também.

Chegou a recorrer a análises, terapia?

NÃO, nunca fiz. Gosto um pouco de entender a vida mais pela vivência. Daí, fui tirando, dentro das experiências, essas decisões. Acho que tomei as melhores decisões possíveis. Um fator primordial foi a minha primeira cirurgia. O que fizeram no meu corpo não é hoje indicado e causou todo esse meu problema. Fui para a cirurgia ciente de que ia voltar totalmente recuperado. Ia saber que não ia dar certo? É o fato de aceitar um pouco a vida também, posso controlar um certo espaço, grande parte dela é um pouco fora de controle. O tênis mudou muito da sua época para hoje?

MUDOU POUCO, mas é o suficiente para ser bastante, porque no alto rendimento 2% é muita diferença. Os caras estão mais rápidos, o impacto da bola consequentemente é um pouco maior, mas não só isso, eles conseguem impactar com força, com uma amplitude maior. Não se percebe uma plena diferença do jogo de 20 anos atrás ou do jogo que eu praticava, mas quem conhece já entende que um jogador atual é bem melhor preparado do que um cara do ano 2000.

Em julho deste ano, você teve o nome incluído

no hall da fama do tênis. Antes, só a Maria Esther

Bueno, que brilhou nos anos 1960, foi tricampeã

em Wimbledon. Parece-me muito pouco para um

país como o Brasil ter uma atleta de ponta nos

anos 1960 e você, no fim dos 1990 e início dos

2000. Por que você acha que acontece isso?

QUAL É A ESCALA DE CONHECIMENTO teu do tênis?

Sei lá, acho que é bem básico, médio.

SE FOR ANALISAR, é pouquíssimo, de todo mundo é pouco. Sei lá, 5% da população conhece muito. Qual é a média de conhecimento de futebol das pessoas? O tênis não é um esporte desenvolvido aqui no Brasil, requer um programa para melhoria constante, aprimoramento. Tem que botar

todo mundo junto e fazer a coisa acontecer. Você pega o boom em 1997. Fiz essa brincadeira com você, mas naquela época nós tivemos que ensinar para os repórteres que é 15, 30 [a pontuação], o que é breakpoint. Além de ter que reforçar e trabalhar a

cultura do tênis, dificulta a popularização e o

desenvolvimento da modalidade aqui no Brasil, por

esse ser um esporte elitizado?

NÃO ACREDITO TANTO NISSO. Em 1997, o que aconteceu? Do nada, pelo menos, posso estar errado, 100 mil pessoas estavam jogando tênis em escolas públicas. Mas não é esse tipo de atividade que vai solucionar o problema. O menino tem que gostar de jogar tênis, não temos que empurrar um monte de raquete e bolinha goela abaixo. É claro que o Brasil lida com alguns tipos de classes e comunidades que, para ser um atleta, o cara tem que ser super-herói. Naturalmente, o esporte favorito e mais acessível é o futebol, o menino começa a sonhar, é o mais fácil de acreditar que dá. Hoje, a plataforma está mais adequada, existe um panorama de tênis que avançou nessa escala, que eu consideraria [um avanço] de um para cinco, mas tem muito o que melhorar ainda. Chegar numa média sete, oito, seria fantástico. Há o interesse do patrocinador, que agora é altíssimo por causa das Olimpíadas. O grande desafio é conseguir manter isso depois das Olimpíadas.

Qual é a sua expectativa para os Jogos Olímpicos? A MINHA MAIOR EXPECTATIVA é tentar montar um tênis decente e que depois o esporte se sustente. A medalha é inspiração, tem grande valor, mas comparado a essa perspectiva de montar todo o cenário, eu trocaria 10 medalhas de ouro no tênis ou três títulos de Roland Garros se o cenário estivesse montado. O projeto ainda é muito difícil.

Você fará uma partida de exibição contra o

Djokovic, em novembro.

PARA MIM, É MUITO GOSTOSO, mas muito custoso. Tenho que treinar quase como antes quando era profissional para poder jogar uma partida de duas horas e sair todo quebrado de lá, todo capengando, mas vale a pena, é muito bacana. Estou enxergando mais como uma festa, uma consagração. Mas a expectativa ainda existe, é engraçado. Meu corpo ainda me mata, me limita a fazer diversas bolas. No fim, é um momento de satisfação muito grande. Deparo-me com crianças de 10 anos que nunca me viram jogar, meus melhores títulos já estão fazendo aniversário de 11, 15 anos.

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olharem e falarem: “Cara, aconteceu com ele, que está aqui do meu lado, de carne e osso, por que não comigo?”. É isso que a gente precisa: fazer essa criançada sonhar com alguma coisa boa. Além desses mil, levo os 200, 400 que tenho aqui no instituto uma vez por semana para ver como é. A gente mistura cadeirantes também. Tento fazer um circo e eu sou o palhaço [risos]. É incrível lidar com a vida das pessoas e ainda conseguir inspirar, motivar e ser uma ilusão, principalmente para as crianças. É algo que me faz ficar menos tempo com a minha filha e mais aqui no escritório para recebê-los todo ano. É fantástico e só depende deles: se continuarem vindo, a gente dá um jeito de continuar fazendo.

POSSIVELMENTE. Você pega o Agassi, por exemplo. Ele tinha 6 anos, o pai dele falou: “Você vai ser profissional de tênis. Tua vida acabou, é isso”.

Na biografia, ele diz que odeia tênis. MAS É ÓBVIO, NÉ? Para mim, foi o contrário. Eu não tinha perspectiva, foi quando já era jovem: “Pô, que legal, pode ser um desafio interessante”. Muito mais fácil de ser prazeroso. Quando estava mais estável, em 1999, era favorito em Roland Garros e não ganhei. Fiquei indignado no dia, claro, mas no outro já estava feliz da vida. Faço as contas e vejo que o que tenho é muito mais que as coisinhas que passam e não alcanço.

Você fez dois anos de artes cênicas e

trancou a matrícula. Como surgiu

essa história?

FOI UMA BAITA EXPERIÊNCIA, surgiu da necessidade de conhecer o núcleo acadêmico, que nunca tive. Formei-me no segundo grau e tive que abandonar. Pensei o que fazer e estava mais voltado ao cinema, mas sempre mais pela parte histórica e cultural do que qualquer tipo de prática. Aí fui parar no teatro e deparei com essas informações. E o curso que fiz é bastante teórico, misturado com as partes práticas. Tinha uma imersão interessante, comecei a dialogar com coisas do meu dia a dia que eram importantes. Achei fascinante. Um cara que se prepara, treina, treina, treina é um jogador de tênis. Assim como o ator de teatro, que faz de novo, e de novo, e de novo e na hora vai ser diferente e tem que tentar ser o melhor possível. É bacana essa situação, tem um autoconhecimento muito grande. Se pudesse, estaria fazendo até hoje. Hoje, as atividades do tênis requerem minha presença.

O Instituto Guga Kuerten está

promovendo a Copa Guga. São

800 crianças e adolescentes,

representantes de 18 países. Quando

você organiza esse tipo de torneio, o

que vem à sua cabeça? Pensa na sua

carreira, no que você representou para

o tênis brasileiro?

VEJO QUE ESSE SONHO estava mais distante ainda do que ganhar três Roland Garros. É difícil imaginar como hoje consigo mobilizar essa quantidade de pessoas para vir aqui jogar tênis. Na época, era assustador pensar nessas coisas. É em cima disso que a gente cria estratégias para continuar fomentando o esporte. É um privilégio incrível ver o brilho no olho das crianças. A gente levou uma meia dúzia de troféus e já é o suficiente para elas

O tênis não é um espor-te desenvolvido aqui no Brasil, requer um

programa para melhoria constante, aprimoramen-to. Tem que botar todo mundo junto e fazer a

coisa acontecerVocê é um cara muito querido, você

sente isso?

PRESERVO ESSA SENSAÇÃO, é importante continuar remando para frente. É legal quando vou a esses jogos, me alimenta, me provoca para continuar retribuindo.

Um atleta que disputa no topo tem

a gana, o espírito competitivo.

Dava-me a impressão de que você,

ao mesmo tempo em que tinha

isso muito forte, tinha também um

desprendimento e uma alegria que

não eram e não são comuns no tênis.

Acho que também por isso você se

tornou um cara tão querido.

Como quase toda criança, ele também sonhava em ser jogador de futebol

Família Kuerten: (da esq. para a direita) Guga, o irmão Guilherme no colo de Dona Alice, e Rafael, o irmão mais velho

No auge: na temporada de 2000, o ex-tenista sagrou-se bi-campeão de Roland Garros

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