Habeas Pinho - Ronaldo Cunha Lima

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 Habeas Pinho Autor: Ronaldo Cunha Lima FONTES: As fontes são diversas, assim, como seus conteúdos que apresentam distorções. http://www.paginaleg al.com/2008/02/06 /habeas-pinho/ http://palavrastodas palavras.wordpress.com/ 2008/08/22/h abeas-pinho-poe mas-de-ronaldo-cunha-l ima-e-roberto-pessoa-de -souza/ http://www.youtube. com/watch?v=mWMqllc0mZo FONTES: Corria a década de 60 quando a polícia de Campina Grande, Paraíba, apreendeu o violão de um grupo de boêmios que fazia uma serenata. Estes procuraram o advogado Ronaldo Cunha Lima, então recém-formado, também apreciador de serestas, que depois seria governador, senador e deputado federal. O advogado endereçou ao juiz uma petição nos seguintes termos: “HABEAS PINHO” Sr. Juiz Roberto Pessoa de Sousa O instrumento do “crime” que se arrola Neste processo de contravenção Não é faca, revólver ou pistola, Simplesmente, doutor, é um violão. Um violão, doutor, que na verdade, Não feriu nem matou um cidadão, Feriu, sim, mas a sensibilidade De quem o ouviu vibrar na solidão. O violão é sempre uma ternura, Instrumento de amor e de saudade, O crime a ele nunca se mistura, Entre ambos inexiste afinidade. O violão é próprio dos cantores, Dos menestréis de alma enternecida Que cantam mágoas que povoam a vida E sufocam as suas próprias dores.

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Habeas Pinho 

Autor: Ronaldo Cunha Lima

FONTES:

As fontes são diversas, assim, como seus conteúdos que apresentam distorções.

http://www.paginalegal.com/2008/02/06/habeas-pinho/ 

http://palavrastodaspalavras.wordpress.com/2008/08/22/habeas-pinho-poemas-de-ronaldo-cunha-lima-e-roberto-pessoa-de-souza/ 

http://www.youtube.com/watch?v=mWMqllc0mZo

FONTES:

Corria a década de 60 quando a polícia de Campina Grande, Paraíba, apreendeuo violão de um grupo de boêmios que fazia uma serenata.

Estes procuraram o advogado Ronaldo Cunha Lima, então recém-formado,também apreciador de serestas, que depois seria governador, senador e deputadofederal.

O advogado endereçou ao juiz uma petição nos seguintes termos:

“HABEAS PINHO”

Sr. Juiz Roberto Pessoa de Sousa

O instrumento do “crime” que se arrolaNeste processo de contravençãoNão é faca, revólver ou pistola,Simplesmente, doutor, é um violão.

Um violão, doutor, que na verdade,Não feriu nem matou um cidadão,Feriu, sim, mas a sensibilidadeDe quem o ouviu vibrar na solidão.

O violão é sempre uma ternura,Instrumento de amor e de saudade,O crime a ele nunca se mistura,Entre ambos inexiste afinidade.

O violão é próprio dos cantores,

Dos menestréis de alma enternecidaQue cantam mágoas que povoam a vidaE sufocam as suas próprias dores.

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 O violão é música e é canção,É sentimento, é vida, é alegria,É pureza e é néctar que extasia,É adorno espiritual do coração.

Seu viver, como o nosso, é transitório,Mas seu destino, não, se perpetua.Ele nasceu para cantar na ruaE não para ser arquivo de Cartório.

Ele, Doutor, que suave lenitivoPara a alma da noite em solidão,Não se adapta, jamais, em um arquivoSem gemer sua prima e seu bordão.

Mande entregá-lo, pelo amor da noite,Que se sente vazia em suas horas,Para que volte a sentir o terno açoiteDe suas cordas finas e sonoras.

Libere o violão, Doutor Juiz,Em nome da Justiça e do Direito,É crime, porventura, o infelizCantar as mágoas que lhe enchem o peito?

Será crime, afinal, será pecado,Será delito de tão vis horrores,Perambular na rua um desgraçadoDerramando nas praças suas dores?

Mande, pois, libertá-lo da agonia(a consciência assim nos insinua)Não sufoque o cantar que vem da rua,Que vem da noite para saudar o dia.

É o apelo que aqui lhe dirigimos,

Na certeza do seu acolhimento,Juntando desta aos autos nós pedimosE pedimos, enfim, deferimento.

Ronaldo Cunha Lima, advogado.

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O juiz Roberto Pessoa de Sousa, por sua vez, despachou utilizando a mesma

linguagem do poeta Ronaldo Cunha Lima: O verso popular. 

Recebo a petição escrita em verso

E, despachando-a sem autuação,Verbero o ato vil, rude e perverso,Que prende, no Cartório, um violão.

Emudecer a prima e o bordão,Nos confins de um arquivo, em sombra imerso,É desumana e vil destruiçãoDe tudo que há de belo no universo.

Que seja Sol, ainda que a desoras,E volte á rua, em vida transviada,Num esbanjar de lágrimas sonoras.

Se grato for, acaso ao que lhe fiz,Noite de luz, plena madrugada,Venha tocar á porta do Juiz.