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Creio que ninguém tem dúvidas que os sistemas agrí- colas estarão seriamente ameaçados pelo aqueci- mento global nas próximas décadas. Até 2030 se me- didas mais eficientes não forem adotadas para reverter essa tendência, o aumento das temperaturas e a dimi- nuição das chuvas em muitas regiões do planeta, con- tribuirão para a insegurança alimentar devido a queda da produção de alimentos cultivados de primeira ne- cessidade, diminuindo, ainda mais, a disponibilidade de comida. Isto não é profecia, é fato científico. Segundo estudo norte-americano publicado na Scien- ce, uma das mais conceituadas revistas científicas do planeta, [...] “os impactos das mudanças climáticas sobre os cultivos mais importantes nas 12 principais regiões do mundo que abrigam grande quantidade de pessoas com fome”, revelou “algumas projeções nega- tivas [...] com estimativa de pelo menos 95% de chan- ce de que as mudanças climáticas prejudicarão a pro- dução agrícola na falta de medidas de adaptação”. O site ECODEBATES (2011) comenta que “o trigo, o arroz, o milho e a mandioca estão entre os sistemas agrícolas que sofrerão impactos negativos no Brasil devido ao aquecimento do clima e à diminuição das chuvas”. É claro que existe incertezas associadas aos cultivos e modelos climáticos usados, mas em linhas gerais, a análise aponta para muitos casos em que a segurança alimentar é claramente ameaçada e isso, em um pra- zo, relativamente curto. Sem dúvida existem opções contra o caos, como o desenvolvimento de cultivares mais resistentes às se- cas, às pragas, o aperfeiçoamento do manejo mais específico para cada cultura e, até mesmo, a diversifi- cação das práticas agrícolas. Mas em minha opinião, um aproveitamento sustentado dos recursos naturais, seja animal ou vegetal, além da conservação e recupe- ração de muitas áreas, é emergencial. E não há, para isso, necessidade de novas pesquisas; precisamos, apenas, colocar em prática conhecimentos já disponí- veis. O SESC, por exemplo, vem fazendo um trabalho meri- tório contra o desperdício, ofertando, gratuitamente, cursos para o aproveitamento integral dos alimentos. De acordo com o programa MESA BRASIL, “a promo- ção da alimentação integral começa diante das dificul- dades econômicas pelas quais passa o país. [...] Deve- mos aproveitar tudo que o alimento pode nos oferecer como fonte de nutrientes”. O SESC disponibiliza através do MESA BRASIL recei- tas salgadas, doces e sucos produzidos a partir de ta- los e cascas de verduras e legumes, que vão, tradicio- nalmente, para o lixo, apesar de seu enorme potencial nutritivo. No site do SESC, o MESA BRASIL disponibi- liza para download, gratuitamente, os seus livros de receitas, além das datas de seus cursos gratuitos. Este informativo, o Achatinafulica.com News nº 4 é dedicado, integralmente, aos hábitos alimentares, con- siderados bizarros pela maioria da população e como eles podem minimizar, ou mesmo, erradicar a forme no mundo. Sugestões: [email protected] . www.achatinafulica.com [email protected] Mauricio Aquino, Médico Veterinário, Pós-graduado em Docência para Nível Superior, Mestrando em Ciências da Saúde, Ex-presidente da primeira associação de criadores de escargots do Brasil, a Associação de Helicicultores do Rio de Janeiro (AHRJ). Achatinafulica.com NEWS Nº 4 / Fev. 2011 Pág. 1 FERNANDES, Thaís. Mudanças climáticas podem reduzir disponibili- dade de alimentos do mundo até 2030. Disponível em: <http:// www.ecodebate.com.br/2009/02/04/mudancas-climaticas-podem- reduzir-disponibilidade-de-alimentos-do-mundo-ate-2030/ > Acesso em: 26/01/2011 MESA BRASIL. Livro de receitas: boas formas para evitar o desperdí- cio. Disponível em: <http://www.sescsp.org.br/sesc/mesabrasilsp/ receitas/index.cfm > Acesso em: 26/01/2011 Referências: Hábitos alimentares e o Preconceito Popular 1 Você não come Escargot por quê? 2/3 Cientista propõe o consumo de insetos como fonte alternativa de proteínas 4/5 O segredo do café mais caro do mundo 6 Outro animal, o Jacu do Brasil, imita o Kopi Luwak da Indonésia 7 Helix Aspersa no Rio Grande do Sul 8 Pobre não pode comer Escargots 9/10 Como abater o Caracol Africano para o consumo 11 HÁBITOS ALIMENTARES HÁBITOS ALIMENTARES E O PRECONCEITO POPULAR E O PRECONCEITO POPULAR

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Creio que ninguém tem dúvidas que os sistemas agrí-colas estarão seriamente ameaçados pelo aqueci-mento global nas próximas décadas. Até 2030 se me-didas mais eficientes não forem adotadas para reverter essa tendência, o aumento das temperaturas e a dimi-nuição das chuvas em muitas regiões do planeta, con-tribuirão para a insegurança alimentar devido a queda da produção de alimentos cultivados de primeira ne-cessidade, diminuindo, ainda mais, a disponibilidade de comida. Isto não é profecia, é fato científico. Segundo estudo norte-americano publicado na Scien-ce, uma das mais conceituadas revistas científicas do planeta, [...] “os impactos das mudanças climáticas sobre os cultivos mais importantes nas 12 principais regiões do mundo que abrigam grande quantidade de pessoas com fome”, revelou “algumas projeções nega-tivas [...] com estimativa de pelo menos 95% de chan-ce de que as mudanças climáticas prejudicarão a pro-dução agrícola na falta de medidas de adaptação”. O site ECODEBATES (2011) comenta que “o trigo, o arroz, o milho e a mandioca estão entre os sistemas agrícolas que sofrerão impactos negativos no Brasil devido ao aquecimento do clima e à diminuição das chuvas”. É claro que existe incertezas associadas aos cultivos e modelos climáticos usados, mas em linhas gerais, a análise aponta para muitos casos em que a segurança alimentar é claramente ameaçada e isso, em um pra-zo, relativamente curto. Sem dúvida existem opções contra o caos, como o desenvolvimento de cultivares mais resistentes às se-cas, às pragas, o aperfeiçoamento do manejo mais específico para cada cultura e, até mesmo, a diversifi-cação das práticas agrícolas. Mas em minha opinião, um aproveitamento sustentado dos recursos naturais, seja animal ou vegetal, além da conservação e recupe-ração de muitas áreas, é emergencial. E não há, para isso, necessidade de novas pesquisas; precisamos, apenas, colocar em prática conhecimentos já disponí-veis. O SESC, por exemplo, vem fazendo um trabalho meri-tório contra o desperdício, ofertando, gratuitamente,

cursos para o aproveitamento integral dos alimentos. De acordo com o programa MESA BRASIL, “a promo-ção da alimentação integral começa diante das dificul-dades econômicas pelas quais passa o país. [...] Deve-mos aproveitar tudo que o alimento pode nos oferecer como fonte de nutrientes”. O SESC disponibiliza através do MESA BRASIL recei-tas salgadas, doces e sucos produzidos a partir de ta-los e cascas de verduras e legumes, que vão, tradicio-nalmente, para o lixo, apesar de seu enorme potencial nutritivo. No site do SESC, o MESA BRASIL disponibi-liza para download, gratuitamente, os seus livros de receitas, além das datas de seus cursos gratuitos. Este informativo, o Achatinafulica.com News nº 4 é dedicado, integralmente, aos hábitos alimentares, con-siderados bizarros pela maioria da população e como eles podem minimizar, ou mesmo, erradicar a forme no mundo. Sugestões: [email protected].

www.achatinafulica.com [email protected]

Mauricio Aquino, Médico Veterinário, Pós-graduado em Docência para Nível Superior, Mestrando em Ciências da Saúde, Ex-presidente da primeira associação de criadores de escargots do Brasil, a Associação de Helicicultores do Rio de Janeiro (AHRJ).

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FERNANDES, Thaís. Mudanças climáticas podem reduzir disponibili-dade de alimentos do mundo até 2030. Disponível em: <http://www.ecodebate.com.br/2009/02/04/mudancas-climaticas-podem-reduzir-disponibilidade-de-alimentos-do-mundo-ate-2030/> Acesso em: 26/01/2011 MESA BRASIL. Livro de receitas: boas formas para evitar o desperdí-cio. Disponível em: <http://www.sescsp.org.br/sesc/mesabrasilsp/receitas/index.cfm> Acesso em: 26/01/2011

Referências:

Hábitos alimentares e o Preconceito Popular 1

Você não come Escargot por quê? 2/3

Cientista propõe o consumo de insetos como fonte alternativa de proteínas

4/5

O segredo do café mais caro do mundo 6

Outro animal, o Jacu do Brasil, imita o Kopi Luwak da Indonésia

7

Helix Aspersa no Rio Grande do Sul 8

Pobre não pode comer Escargots 9/10

Como abater o Caracol Africano para o consumo 11

HÁBITOS ALIMENTARES HÁBITOS ALIMENTARES E O PRECONCEITO POPULARE O PRECONCEITO POPULAR

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Referências:

VOCÊ NÃO COME ESCARGOT POR QUÊ?VOCÊ NÃO COME ESCARGOT POR QUÊ?

A questão alimentar é cultural. Por exemplo, não devemos oferecer carne bovina a um indiano; “além de não fazer parte do cardápio, podemos ofendê-lo, já que a vaca, para os hinduístas, é sagrada. Em compensação, ele não tem nenhum problema em comer ratos, que consideramos nojentos e bem dis-tante de nossa mesa. Se consideramos arroz e fei-jão indispensáveis, fora daqui, lá bem distante, co-mer um ou vários tipos de insetos pode fazer a dife-rença. Alguns alimentos tradicionalmente apreciados em algumas partes do mundo, para nós, brasileiros e ocidentais, são considerados repugnantes”. (RESENDE, p.1, 2011) A China, o 3º maior país do mundo, tem a maior po-pulação do planeta. Em 2009, eram 1.331.460.000 de habitantes, de 56 diferentes etnias. Tantas dife-renças étnicas e geoclimáticas, como era de se es-perar, originou uma cozinha muito diversificada e regionalizada. Ao longo de 4 mil anos de história, a cozinha chinesa vem mantendo as suas característi-cas originais, influenciando, devido a sua grande variedade de pratos e ingredientes, as cozinhas do Japão, da Tailândia e do Vietnã, entre outros países asiáticos. “Os cozinheiros chineses souberam tirar proveito da inventividade e da versatilidade. Desenvolveram téc-nicas tão sutis de preparo e cozimento dos alimen-tos que transformaram sua cozinha em uma das mais refinadas do mundo”. (CRJONLINE, p.1, 2011) A culinária chinesa é uma arte aperfeiçoada que combina a satisfação do apetite, com as proprieda-des curativas dos alimentos equilibrando o organis-mo como um todo. Apesar disso, dificilmente encon-traremos um país com hábitos alimentares mais cu-riosos que a China; que tem o costume de ingerir insetos, por exemplo. Lá “come-se de tudo. De ninho de andorinha, à barbatana de tubarão e, desta, ao testículo de boi – que, aliás, é muito apreciado em certas regiões do Brasil”. (RESENDE, p.1, 2011) Mas a ciência ocidental começa a redescobrir o que a sabedoria oriental já sabe há milênios, que os in-setos são alimentos saudáveis. O Departamento de Entomologia da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, garante o potencial nutricional dos insetos, justificando a existência, inclusive, de componentes saudáveis que não encontramos nem em um bife, por exemplo. Pesquisadores de Iowa, classificaram uma série de insetos quanto ao seu valor nutricional, ofertando algumas receitas “deliciosas” para o seu melhor aproveitamento. Segundo a universidade, as receitas à base de insetos são muito simples e sabo-rosas. Se você procurar na internet, comer insetos é bem mais comum do que imaginamos. Isso soa es-tranho? Então “[...] lembre-se que tudo é cultura e, no final, este tipo de comida pode fazer bem à saú-de. (RESENTE, p.1, 2011) É interessante citar o co-

mentário de Resende (p.1, 2011), que fala de um amigo que comeu escargot e adorou, mas que de-pois de saber o que era, simplesmente, mudou de opinião e disse que tinha detestado. Depois de ver as fotos a seguir, comer escargot não irá parecer para você, que nunca comeu, uma idéia tão estranha. Tudo é questão de hábito e hábito, se adquire com a prática. Os comentários exagerados difundidos pela imprensa sobre o Caracol Africano vem amedrontando a população em geral e muitos pesquisadores não fogem a essa regra. Mas eu pos-so garantir que esse invasor tem muito mais a ofere-cer do que a imprensa vem divulgando. O consumo de caracóis é tradição da cozinha mais sofisticada do planeta, a francesa e se quiser saber mais, visite www.achatinafulica.com e leia os 3 informativos anteriores. ☼ CRJONLINE. Hábitos alimentares dos chineses. Disponível em: <http://portuguese.cri.cn/215/2007/09/21/[email protected]> Acesso em: 14-01-2011 RESENDE, Lino. Insetos, comida e boa saúde. Disponível em: <http://linoresende.jor.br/e-pode-fazer-bem-a-saude> Acesso em: 14-01-2011

Na cidade de Skun, no Camboja, as aranhas fritas são consideradas deliciosos petiscos e até convivem amigavelmente com os habitantes.

Mauricio Aquino, Médico Veterinário e mestrando em Ciências da Saúde da UFAL.

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Comendo grilosComendo grilos Destrinchando um cãoDestrinchando um cão

Larvas da madeira, petisco na TailândiaLarvas da madeira, petisco na Tailândia Vendendo ratos na feiraVendendo ratos na feira

Ovos podres e embrionados, uma iguaria.Ovos podres e embrionados, uma iguaria. Insetos variadosInsetos variados

Espetinhos de escorpiões, bicho da sêda, etc.Espetinhos de escorpiões, bicho da sêda, etc. Essa é a minha preferida: aranhas fritas no CambojaEssa é a minha preferida: aranhas fritas no Camboja

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CIENTISTA CIENTISTA PROPÕEPROPÕE OO CONSUMOCONSUMO DEDE INSETOSINSETOS COMOCOMO FONTEFONTE ALTERNATIVAALTERNATIVA DEDE PROTEÍNASPROTEÍNAS

“Um insetólogo holandês vem fazendo uma cam-panha para convencer o mundo ocidental a adotar um costume que, segundo ele, é bastante comum nos trópicos: comer insetos (prática conhecida como entomofagia) como fonte alternativa e sus-tentável de proteína. A proposta de Arnold van Huis, detalhada em arti-go publicado na revista “The Scientist”, não é no-va. Em 1885, o insetólogo britânico Vincent M. Holt escreveu um pequeno livro intitulado “Why not eat insects?” (em tradução livre, por que não comer insetos?). Os argumentos dos dois especialistas, no entanto, ganham força num momento em que o mundo procura soluções para a crise dos alimentos. Na Grã-Bretanha, um estudo sobre alimentos e o futuro da agricultura encomendado pelo governo e divulgado nesta semana pede ação urgente para evitar a fome global. Segundo o relatório, dentro de 20 anos, serão ne-cessários 40% mais alimentos, 30% mais água e 50% mais energia para suprir as necessidades da população do planeta. O sistema atual de produção, além de não ser sustentável, não será capaz de suprir a demanda, argumentam os autores do estudo, realizado pelo centro de estudos Foresight. Relatórios como esse tendem a ser usados como base para argumentos a favor do uso de técnicas

de engenharia genética para produzir alimentos. A saída oferecida por van Huis, da Wageningen University, na Holanda, é mais direta e evita a questão polêmica dos transgênicos. Nutritivos – Em entrevista por e-mail à BBC Brasil, o insetólogo não quis recomendar um inseto em especial, dizendo que tudo depende da forma co-mo são preparados. Ele disse que algumas espécies têm sabor seme-lhante ao das oleaginosas (como o gergelim, por exemplo) e ressaltou que nem todas as espécies são comestíveis, já que algumas são venenosas. “Insetos venenosos são consumidos nos trópicos, mas a população local sabe como lidar com isso, removendo o veneno”, explicou. Quanto ao seu valor nutritivo, a carne do inseto é comparável às tradicionais, como a de porco, va-ca, carneiro e peixe. Segundo van Huis, o conteúdo proteico de um in-seto varia entre 30 e 70%, dependendo da espé-cie. Eles também são ricos em ácidos graxos essenci-ais e vitaminas, especialmente as do complexo B. Em seu artigo, o insectólogo diz que mais de mil espécies de insetos são comidas nos países tropi-cais, entre elas, larvas de borboleta, gafanhotos, besouros, formigas, abelhas, cupins e vespas. E as baratas? Elas também são comestíveis? Van Huis disse à BBC Brasil que, em suas via-gens, nunca viu ou ouviu relatos de pessoas co-

Arnold van Huis [email protected] Professor de Entomologia Tropical

PhD 1981, Universidade de Wageningen

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mendo baratas. Mas acrescentou: “Um colega, que está fazendo um inventário de insetos comestíveis, encontrou baratas comestí-veis.” Em seu artigo na revista “The Scientist”, Van Huis escreve, no entanto, que os ocidentais se enga-nam quando pensam que os povos dos trópicos comem insetos porque estão passando fome. “Pelo contrário”, ele diz. “Um petisco de inseto é com frequência considerado uma iguaria.” Este seria o caso, no Brasil, da formiga tanajura. Segundo especialistas brasileiros, essa formiga, fêmea ovada das saúvas, é considerada uma ver-dadeira guloseima no Brasil. Crise da Carne – Segundo o insectólogo, o consumo mundial de carne quase tri-plicou desde 1970 e deve dobrar até 2050. Ele diz que 70% da terra cultiva-da já é usada para alimentar reba-nhos. Van Huis diz que uma intensificação ainda maior na pecuária em escala industrial poderia aumen-tar os custos para o meio ambiente e para a saúde. Criações de reba-nhos de grande densidade favorecem o surgimento de doen-ças. Rebanhos consomem grandes quantidades de água e emitem gran-des quantidades de gases responsáveis pelo efeito estufa – como o gás meta-no, por exemplo. Segundo a Organização das Nações U-nidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO), as criações de rebanhos respondem por 18% das emissões desses gases. Cupins, baratas e certas espécies de besouro também produzem metano, mas a maioria dos insetos comestíveis, não. E a carne de insetos ainda apresenta uma outra vantagem em relação à carne tradicional, explica van Huis. Eles convertem o alimento em massa corporal de maneira mais eficiente’, diz o especialista. ‘Para produzir 1 kg de carne, grilos precisam de 1,7 kg de alimento. Muito menos do que o frango (2,2 kg), o porco (3,6 kg), o carneiro (6,3 kg) e a vaca (7,7 kg).

Portanto, por que não comer insetos?, ele pergun-ta. E conclui seu artigo sugerindo que governos e empresas deveriam explorar o incrível potencial dos insetos como fonte de carne, promovendo es-sa indústria. “No sul da África”, ele diz, “este já é um negócio de US$ 85 milhões.” Brasil – Em declaração à BBC Brasil, o biólogo Eraldo Medeiros Costa Neto, da Universidade Es-tadual de Feira de Santana (UEFS), na Bahia, dis-se concordar positivamente com a proposta de van Huis.

“No entanto, muitas es-pécies de insetos apre-sentam compostos farma-cologicamente ativos e, assim, os efeitos tóxicos

potenciais dos insetos co-mestíveis precisam ser in-

vestigados com mais aten-ção”, acrescentou.

Costa Neto explica que a FAO es-tá realizando um inventário

das atividades relaciona-das ao

consumo de insetos pelo homem.

“A FAO acredita que o papel específico dos insetos comestíveis e seu potencial na

segurança alimentar, qualidade dietética e alí-vio da pobreza está se-veramente subestima-do”, diz o biólogo. “Com esse inventário,

será formulada uma estratégia para pro-mover o consumo de insetos em nível

mundial.” Pesquisas feitas por Costa Neto no Bra-

sil revelaram que insetos fazem parte da dieta de vários grupos indígenas, comuni-

dades urbanas, populações ribeirinhas do Amazonas, grupos de pastores e de pesca-

dores e comunidades afro-brasileiras. O cardápio desses grupos inclui pelo menos 135 tipos de insetos”.

AMBIENTEBRASIL. Cientista propõe comer insetos como fonte alternativa de proteína. Disponível em: <http://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2011/01/26/65647-cientista-propoe-comer-insetos-como-fonte-alternativa-de-proteina.html > Aces-so em: 26/01/2011

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Considerado o café mais caro do mundo (US$ 600.00 por meio kilo), o Kopi Luwak (ou Civet Coffee) é com

certeza também o mais exótico.

Você tomaria uma bebida feita com fezes de animal? Antes de responder, saiba que é es-se o ingredien-te especial do café mais raro, saboroso e caro do mundo, o Kopi Luwak,

originário da Indonésia. Essa, digamos, excentricidade do café sempre foi considerada uma lenda urbana, até que um estudo realizado pelo pesquisador italiano Massimo Marco-ne, em 2004, confirmou o que deve ter feito o estômago de muitos apreciadores da iguaria revirar. Os preciosos grãos são mesmo processados pelo sistema gastrointestinal e depois retirados dos excrementos da cive-ta, um mamífero parecido com um gato, que não existe no Brasil (na Indonésia, as palavras Kopi e Luwak significam, respectivamente, café e civeta). O animal come somente os frutos mais doces, maduros e avermelhados do café, que são digeridos pelo seu organismo, com exceção dos grãos, que são excretados junto com suas fezes. E é justamente essa produção limitada dos grãos (menos de 230 quilos por ano) o motivo de sua raridade, preço alto (cerca de mil dó-lares o quilo) e sabor inigualável, garantem os apreciado-res. "Uma mistura de chocolate e suco de uva. Menos áci-do e amargo do que os cafés comuns", descreve Marcone. Pesquisa valiosaPesquisa valiosa O pesquisador explica que à medida que o grão passa pelo sistema digestório do animal, ele sofre um processo de mo-dificação parecido com o utilizado pela indústria cafeeira para remover a polpa do grão de café, mas que envolve

bactérias dife-rentes das usadas pela

indústria, além das enzimas digestivas do animal. É isso que dá ao Kopi Luwak seu sabor

característico ini-gualável. Mas esse

processo um tanto quanto esquisito de

produzir café não represen-ta riscos à saúde? "Os resultados

dos testes que fiz em meus trabalhos mostraram que a bebida é perfeitamente segura", garante Marcone. Não existem registros precisos sobre a história do Kopi Lu-wak, mas acredita-se que sua origem data de cerca de 200 anos atrás, quando os colonizadores holandeses iniciaram plantações de café nas ilhas de Java, Sumatra e Sulawesi, onde hoje é a Indonésia. É nessas ilhas que vivem as civetas, que começaram a se alimentar da planta. Para evitar o desperdício, os plantado-

res de café começaram a coletar os grãos que saíam intac-tos das fezes dos animais. Em algum momento alguém resolveu experimentar essa variedade aparentemente pou-co apetitosa e descobriu o que hoje é considerado o café mais saboroso do mundo. E você, ficou com vontade de encarar? Receitas para perder a fomeReceitas para perder a fome O Kopi Luwak não é o único alimento excretado por ani-mais que consumimos. Veja outros exemplos : Vômito de abelha: O mel nada mais é do que isso. O néctar é transportado para o sistema digestório das abelhas, onde é misturado a enzimas que convertem seu açúcar em glico-se e frutose. Ele se transforma em mel e é regurgitado pe-las abelhas. É esse o produto final que consumimos. Saliva de pássaro: É o ingrediente de uma sopa considera-da uma iguaria na China (também conhecida como "caviar do oriente"). O pequeno pássaro constrói ninhos com sua própria saliva. Esse ninho (que literalmente vale ouro) é usado para o preparo da sopa. O prato é consumido em várias partes do mundo, inclusive nos EUA, que são o mai-or importador. Fezes de cabra: É essa a origem de um tipo de óleo usado no Marrocos. O animal se alimenta de um tipo de fruta simi-lar à oliva, que origina o óleo, depois seu caroço é coletado de suas fezes e se transforma em um óleo usado para cozi-nhar, como cosmético e na medicina local. Cerveja de cuspe: A chicha é um tipo de cerveja produzido no Equador. Os grãos de milho são mastigados e cuspidos em um recipiente, onde as enzimas da saliva quebram o amido que depois será fermentado e misturado ao álcool”.☼

O SEGREDO DO CAFÉ MAIS CARO DO MUNDOO SEGREDO DO CAFÉ MAIS CARO DO MUNDO

REVISTACAFEICULTURA. Descubra qual o segredo do café mais exótico do mundo. Disponível em:<http://www.revistacafeicultura.com.br/index.php?tipo=ler&mat=11449> Aces-so em: 24 jan 2011

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“Você conhece o Jacu? Pois então, saiba que es-te pássaro é elemento fundamental no proces-

so de fabricação de um dos cafés mais ca-ros do mundo. A ave, que habita a região

do Espírito Santo, virou a galinha dos ovos (ou melhor, dos

grãos) de ouro para al-guns produtores rurais.

O caso é o seguinte: O tal do jacu tem como hábito alimen-

tar o consumo de frutos de árvo-

res de café. Depois de ‘procesas-do’ pelo

organismo, o grão chega à cloaca do bicho e é suavemente depositado na natureza. Depois de coletadas, as bolinhas são moídas e se trans-formam no café mais caro do Brasil (uma xíca-ra chega a custar R$ 14,00). Técnica abrasileirada

O tal café do jacuO tal café do jacu Você já pensou em tomar uma xícara de café cu-

jos grãos, antes de serem torrados e moídos, fo-

ram defeca-dos por um ani-mal? Se v o c ê ap rec ia a bebi-da, mas n u n c a pensou

nessa hipótese, comece a considerá-la. O restaurante do Centro de Arte Contemporânea Inhotim, em Brumadinho, servirá em breve o jacu bird coffee, ou seja, ex-presso feito com grãos de café que passaram pelo sistema digestivo do jacu, ave típica da fauna bra-sileira. Os grãos vêm da fazenda Camocim, no Espírito Santo e esse curioso processo foi inspirado num dos cafés mais raros do mundo, o indonésio kopi luwak, cuja produção limitada joga o preço do qui-lo lá nas alturas: US$ 1750! No país asiático, os grãos são recolhidos no chão, depois de passa-rem pelo sistema digestivo da civeta, mamífero semelhante ao gato e que come apenas os frutos

mais doces e maduros. O dono da fazenda capixaba, o carioca Henrique Sloper, teve a idéia enquanto esperava autoriza-ção para exterminar os jacus que haviam invadido seu cafezal e estavam devorando os grãos. Nesse intervalo, ouviu falar do kopi luwak e decidiu pou-par os bichos, transformando-os em parceiros de um negócio lucrativo. A primeira safra foi em 2006 e só agora as embalagens do jacu bird coffee co-meçam a ser vendidas no Brasil. Antes, só era encontrado no exterior. O que torna esses dois cafés tão especiais é jus-tamente a ação das bactérias e enzimas do estô-mago animal sobre os grãos, processo que lhes confere sabor teoricamente inigualável. O Benza-deus, café inaugurado ano passado no Centro, havia manifestado intenção de trazer um pacote do kopi luwak. Tinha até lista de espera com inte-ressados, mas até hoje, nada. Pelo jeito, vamos conhecer primeiro o produto nacional. Matéria do mestre José Hamilton Ribeiro para o Globo Rural destrincha o assunto para os interes-sados no café do jacu”. ☼

OUTRO ANIMAL, O JACU DO BRASIL, OUTRO ANIMAL, O JACU DO BRASIL, IMITA O KOPI LUWAK DA INDONÉSIAIMITA O KOPI LUWAK DA INDONÉSIA

FOLHAONLINE. Outro animal, o jacu do Brasil, imita o Kopi Luwak da Indonésia. Disponível em: <http://cafekopiluwak.blogspot.com/> Acesso em: 25 jan 2011.

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“[...] Aqui no extremo Sul do Brasil, especificamente, na região da

"Grande Porto Alegre - Grande POA" do Estado do Rio Grande do Sul - RS, encontram-se [...] sem maior dificuldade - em plena e "abundante" vida livre silvestre asselvaja-da - todas essas "variações de tamanho" na espécie "Helix (Cornu) aspersa Müller, 1774" [...] A seguir, duas (2) modestas [...] publicações da nossa autoria cujos conteúdos refletem "nitidamente" o anteriormente comentado: • AGUDO-PADRÓN, A.I. 2007. Malacofauna “urbana” do Bairro Vila Regina, Cachoeirinha,

região metropolitana de Porto Alegre, RS, Brasil, com especial ênfase no Helix (Cornu) aspersa Müller, 1774. Informativo SBMa, Rio de Janeiro, 38(162): 6-8.

• AGUDO-PADRÓN, A.I. 2009. Malacofauna “urbana” do Bairro Vila Regina, Cachoeirinha,

região metropolitana de Porto Alegre, RS, Brasil, com especial ênfase no Helix (Cornu) aspersa Müller, 1774. II. Novos registros. Informativo SBMa, Rio de Janei-ro, 40(168): 3-5.

Infelizmente, (*)por falta de costume, tradição e cultura alimentar, estes não são - de jeito nenhum - aproveitados pela população local para consumo, sendo que, e na mes-

ma proporção que o também exótico "Achatina fulica (Bowdich, 1822)", o nosso "escargot

europeu" é combatido, desprezado e destruído localmente ( porém sem "alarmes" desne-

cessários), entretanto, bem ao lado encontramos [...] povo "passando fome, necessida-

de" nas favelas das periferias, com crianças perceptivelmente desnutridas (ou mal nu-tridas !) em alguns casos !!! Na contramão e contraditoriamente, esta mesma espécie européia (cultivada em recintos particulares, ou simplesmente "importados enlatados" da França) é servida ao esti-lo que manda a boa cozinha (nas suas conchas e acompanhados por um bom vinho branco), com grande pompa, refinamento de "gourmet" e alto preço, em refinados (e até popula-res!) restaurantes que se encontram nas terras altas do próprio estado do RS, bastando subir a denominada "Serra Gaúcha", especificamente, por exemplo, nas cidades turísti-cas de "Gramado" e "Canela" (dá para você entender a mentalidade deste povo ???). Já numa outra situação, (*)já tivemos a oportunidade de observar, em plena cidade de Porto Alegre - POA, grupos de "andarilhos" fazendo refeições noturnas de bivalves exó-

ticos, Mexilhões-dourados "Limnoperna fortunei (Dunker, 1857)" e Berbigões-de-água-

doce "Corbicula fluminea (Müller, 1774)" , assados diretamente no fogo, especificamen-

te no setor da "Usina do Gasômetro" , a beira do controversialmente denominado "Lago

Guaíba", à luz de improvisadas fogueiras.

Os "concheiros" chamuscados, produto da "bizarra refeição noturna" ficam logo ali na areia, jun- to ao lixo e às águas poluídas da beira do Guaíba, para quem ainda quiser confe- rir. É o refle-xo da fome do povo, aper- tando e supe-r a n d o p r e c o n c e i t o s às margens da consciência e da segurança s a n i t á r i a e alimentar!” ☼

Helix aspersa Helix aspersa no Rio Grande do Sulno Rio Grande do Sul Em 15 de janeiro de 2011 recebi um e-mail do pesquisador, geógrafo e conceituado

malacologista, Ignácio Agudo, tratando da ocorrência do caramujo europeu Helix aspersa asselvajado, no estado do Rio Grande do Sul. Este mesmo e-mail comen-

ta sobre outras espécies de moluscos exóticos, consumidos por grupos de baixa renda na capital gaúcha. Como os hábitos alimentares exóticos é o tema principal deste informativo, reproduzi partes de seu e-mail com a prévia permissão do autor

para o conhecimento de todos os interessados.

Ignácio AgudoIgnácio Agudo [email protected]@gmail.com

(*) (*) Grifo nossoGrifo nosso

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Uma das minhas preo-cupações é a maneira como a “Verdade Científica” é construí-da e chega ao povo em geral. Estou im-pressionado com o tratamento dado pelas autoridades sanitárias à “praga” do caramujo g i g a n t e a f r i c a -no, Achatina fulica. Importado nos anos 1980 por produtores, pelo que se diz do Paraná, visando a fabricação de Escar-gots, o projeto não logrou sucesso pela falta de hábito dos consumidores e ne-

nhum outro motivo. Os produtores abandonaram as cria-ções e os moluscos se espalharam no ambiente por falta de inimigos naturais. Isto ocorreu também em outros lugares, como na Austrália, índia, América Central e do Norte.

A página http://www2.uerj.br/~sbma/acathinafulica.htm, da UERJ, trazia diversos textos sobre as discussões científicas das autoridades sobre o assunto. Em particular, o texto da Dra. Silvana Carvalho Thiengo, Pesquisadora Titular do Departamento de Malacologia do Instituto Oswaldo Cruz, que mostra, entre outras coisas, que:

‘Entre equívocos e exageros, a divulgação de que os animais transmitiriam doenças capazes de levar à morte fez com que o pânico, associado ao pouco conhecimento científico sobre a espécie, obscureces-se questões fundamentais, como a perda da biodiver-sidade nos nossos ecossistemas.

O caramujo africano pode de fato transmitir ao ho-mem os vermes que causam peritonite e meningite. Potencialmente, esse molusco pode hospedar dois parasitos: 1- Angiostrongylus cantonensis Chen,1935 responsável por um tipo de meningite principalmente na Ásia, havendo alguns casos descritos em Cuba, Porto Rico e Estados Unidos. Embora no Brasil não haja registro dessa parasitose, sua introdução é pos-sível, principalmente em regiões costeiras, próximas às áreas portuárias, através de ratos de navios que chegam de países asiáticos; 2- Angiostrongylus cos-taricensis Morera & Céspedes, 1971 presente desde o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina, capaz de levar a um quadro infeccioso grave conhe-cido como abdome agudo, que pode levar à morte. Raramente a doença evolui de forma tão severa, per-manecendo na maior parte das vezes assintomática ou comportando-se como uma parasitose comum. Conhecida como angiostrongilose abdominal, essa doença é transmitida por caramujos nativos, e não pelo gigante africano. Não há, inclusive, registro de exemplares de A. fulica naturalmente infectados no Brasil e, além disso, estudos em laboratório também indicam que A. fulica não é

uma boa transmissora dessa parasitose. A infec-ção humana acontece principalmente pela inges-tão de hortaliças contaminadas com as larvas do verme, presentes no muco deixado pelo molusco ao se movimentar. A profilaxia é simples: após serem lavadas em água corrente, as hortaliças devem ser deixadas de molho em solução de á-gua sanitária a 1,5% (mais ou menos uma colher de sobremesa de água sanitária diluída em 1L de água) durante 15 a 30 minutos. Na região sul do país encontra-se a maioria dos casos de angios-trongilose abdominal.

Devido à toxidade dos moluscicidas existentes atual-mente, sua utilização não é recomendada. A melhor forma de controle e erradicação é a catação manual dos indivíduos e dos ovos, seguida da destruição dos mesmos, seja por incineração ou por água fervente...’

Infelizmente, este site da UERJ não está mais no ar.

Por outro lado, os estadunidenses, que não são bobos, pu-blicam na página da USDA (Departamento de Agricultu-ra) http://www.nal.usda.gov/afsic/AFSIC_pubs/srb96-05.htm#Escargot as instruções para os agricultores alterna-tivos “Turning Snails into Escargot:

“Prepare o caramujo gigante africano que-brando fora a casca, depois cortando fora o pé do resto do corpo....” (Tradução nossa)

É importante ressalvar que o USDA também proíbe a cria-ção e a importação dessa espécie problemática.

Me parece óbvio, da discussão supra, que os vermes nema-tóides potencialmente transmissíveis pelos malsinados cara-mujos seriam facilmente eliminados pelo cozimento e alguns outros cuidados domésticos, e que o principal contágio se daria não pela ingestão do molusco cozido, mas pelo consu-mo de verduras cruas infectadas de nematóides (minhoquinhas microscópicas) pelo dito cujo.

Entretanto, consultei minha assistente executiva para as-suntos domésticos, residente na aprazível Duque de Caxias, e lá a população está apavorada pelos “caramujos veneno-sos”. A página da defesa civil do Estado do Rio de Janeiro diz: (em http://www.rio.rj.gov.br/defesacivil/caramujo.htm)

“O caramujo africano pode transmitir uma série de doenças para o homem, sendo que as pessoas não devem manipulá-lo sem lu-vas, pois o simples contato pode causar o contágio...”

“O molusco foi introduzido no Brasil como uma versão do escargot, mas depois desco-briu-se que a espécie não é comestível e transmite doenças...”

Este “depois descobriu-se” é dose!

Evidentemente se os pobres descobrissem os valores nutri-tivos dos saborosos bichinhos, e o sabor que eles ganham acrescidos de Sauce Bourguignone, não haveria a menor sombra da praga. Os valores nutritivos, como diz o USDA (tradução nossa):

POBRE POBRE POBRE NÃONÃONÃO PODEPODEPODE COMERCOMERCOMER ESCARGOTESCARGOTESCARGOT Rodney F. de Carvalho, 56 anos, carioca, divorciado, uma filha, é Engenheiro Eletricista (Sistemas), Mestre em Informática e Mestre em Administração de Empresas pela PUC/RJ. Pesquisador do NECSO – Núcleo de Estudos de Ciência & Tecnologia e

Sociedade (www.necso.ufrj.br). Membro da 4S – Society for Social Studies of Science (4sonline.org).

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“A composição nutritiva dos caramujos (por 100 gramas de porção comestível),de acordo com informação do Banco de Dados de Nutrientes da França, é:

O melhor de tudo é o parecer técnico do Ministério da Agri-cultura, Pecuária e Abastecimento, através da sua Secreta-ria de Defesa Agropecuária, Departamento de Defesa e Inspeção Vegetal, Coordenação de Proteção de Plantas, Divisão de Vigilância e Controle de Pragas – Parecer Técnico DPC/CPP/ DDIV – nº: 003/03, de janeiro de 2003. Já no começo ele manda lá “ofereço Parecer Técnico sobre o Processo: nº 21000.001595/2002-61, que trata do contro-le e erradicação da praga Achatina fulica no Brasil”. Quer dizer, já virou praga. Mas notem que quem se pronuncia é a turma dos vegetais, que não cuida da criação de molus-cos.

Nas suas Considerações finais, o Parecer diz:

1- O molusco, A. fulica, foi introduzido no Brasil em desrespeito à diversas legislações, notadamente a Portaria IBAMA nº. 102/98, de 15 de julho de 1998;

2- Não existem estudos que tratem dos impactos econômicos, sociais e ambientais da introdução da atividade econômica da criação e comércio da A. fulica;

3- A atividade não é fiscalizada;

4- O produto resultante não tem o SIF;

5- A introdução do citado molusco é um sério pro-blema para a malacofauna brasileira, principalmen-te por esta não ser totalmente estudada e conheci-da;

6- Os moluscos soltos ou fugidios podem vir a ser um sério problema à agricultura brasileira, assim como ao meio ambiente;

7- Existe um grande risco à saúde humana pela quantidade de animais soltos e pela possibilidade de transmissão de enfermidades;

8- Devido a ser uma atividade ilegal, não existe u-ma legislação que regule a importação, comércio, transporte, etc;

9- Não é uma atividade geradora de grande número de empregos; (...)

É evidente que a atividade, por não ser regulamentada, não gera “grande número de empregos”. Não havendo estudos sobre a malacofauna nativa, como dizer que “é um sério problema”? Qual a fauna selvagem que é “totalmente estu-dada e conhecida”? Não havendo legislação, passa a ser ilegal. Observe-se ainda que decretos e portarias não têm

força de Lei, sendo instrumentos regulatórios e normativos infra-legais.

Finalmente o Oficio IBAMA nº 006/03 – CGFAU, de janeiro de 2003...

“ R e p o r t a n d o - n o s a o p r o c e s s o n o 02001.001772/02-19 sobre o Ordenamento e Nor-matização da Criação da Espécie Exótica Achati-na fulica...”

“...considerando os problemas ambientais que a espécie causou em outros paises e pode causar no Brasil; a falta de dados sócio econômicos e merca-dológicos da Achatinicultura; as implicações para a agricultura e a saúde publica e considerando que o escargot verdadeiro (gênero Helix) e legalizado para a criação comercial no Brasil, concluímos que a cria-ção em cativeiro da espécie. A. fulica não deve ser estimulada, através de cursos ou quaisquer outras formas, e que as populações livres e em cativeiro desta espécie devam ser controladas e erradicadas.”

Resumindo, os cientistas se reúnem e dizem que, embora haja poucos estudos, o negócio é potencialmente perigoso. As autoridades federais alegam basicamente que não exis-te regulamentação nem procedimentos recomendados de manejo e acham melhor não lidar com isso, por ser potenci-almente perigoso, e no final da cadeia as autoridades esta-duais (Defesa Civil) e a imprensa divulgam que o caracol “é venenoso”, assustando (por uma boa causa) a população.

De uma página da Sociedade Malacológica de Londres (http://www.malacsoc.org.uk/Malacological%20Bulletin/BULL37/AFRICANSNAIL.htm), traduzimos livremente:

“Nas áreas da África Ocidental onde caramujos gi-gantes são comidos, a fonte de suprimento é ainda o extrativismo, e a quantidade sempre decrescente e a redução do tamanho coletado pelos caçadores de caramujos levantou preocupações. Muitos caça-dores e coletores de caramujos estão preocupados com o futuro da sua atividade e expressaram o de-sejo de gerenciar a caça ao caramujo de forma sus-tentável”.

Será que se fossem divulga-das, ao in- vés, as receitas de preparo e os pro- cedimentos adequa-dos para desinfecção dos caramujos eles não só se tornariam uma excelente fon-te de nutrientes, forte em proteína e de baixa caloria, para a população das zonas periféricas das cidades, onde os bichinhos já proliferam, e essa mesma po- pulação se transformaria no predador natural da espé- cie, con-tribuindo muito mais efi-cazmente para sua erradi-cação?

Minha intenção não é reco-mendar essa linha, mas apenas ques- tionar por-que ela em nenhum mo-mento parece ter sido dis-cutida, seguin- do-se o cami-nho, aparente- mente mais sim-

ples, da proibição. ☼☼☼☼

Energia (kcal): 80.5 Gorduras

(g): 1

Água (g): 79 Magnésio

(mg): 250

Proteínas (g): 16 Cálcio (mg): 170

Carbohidratos (g): 2 Ferro (mg): 3.5

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Dê preferência ao uso de caracóis pequenos e m

édios para a receita. Os grandes, não tão saborosos, poderão ser usados para alim

entar animais dom

ésticos após o cozimento.

“Prato requintado, o escargot é apreciado no mundo todo. O Glo-O Glo-bo Rural mostra que bo Rural mostra que todo mundo pode fazer todo mundo pode fazer essa receitaessa receita.

Ingredientes 1 kg de escargot1 kg de escargot 1 colher de sobremesa de sal grosso batido1 colher de sobremesa de sal grosso batido 3 folhas de louro3 folhas de louro 1 cálice de vinho branco seco 1 cálice de vinho branco seco 50 g de bacon50 g de bacon 2 dentes de alho picados2 dentes de alho picados 1 cebola cortada1 cebola cortada 1 cenoura 1 cenoura

Modo de Preparo Antes de preparar qualquer receita, é preciso ferver os escargots durante uma hora e meia uma hora e meia numa panela com águanuma panela com água, o sal grosso batido e as 3 folhas de louro. A fervura levanta uma espuma que deve ir sendo retirada da água. No fim, escorrer a água e separar os escargots. Em outra panela, misturar os ingre-dientes do molho com três copos de água e deixar ferver. Colocar aí os escargots e cozi-nhar por mais uma hora e meia. Abate do Escargot O escargot, que vai ser abatido, deve ficar sem comer durante 4 dias. Nesse período, só se alimenta com água. Na hora do abate, la-var os escargots 4 vezes em água corrente. Molhá-los com vinagre. O vinagre faz com que os escargots soltem uma espuma, que é uma defesa natural. Por isso, eles devem passar por mais três lavadas em água corrente. Em seguida, eles devem ficar 4 minutos numa panela de água fervendo, com sal grosso tri-

turado e folhas de louro. Em seguida, devem ser lavados até esfriarem e retirados das con-chas. Para isso, uma agulha de crochê pode ajudar”. GLOBO RURAL. Escargot à francesa. Disponível em:

<http://globoruraltv.globo.com/GRural/0,27062,LTC0-4373-137121,00.html> Acesso em: 26/01/2011

A matéria-prima da receita ao lado é o Helix aspersa, mas nada impede que você utilize o Caracol Africa-no, assim como eu e os franceses. Primeiramente, é claro, nunca colete animais próximo a bueiros, esgo-tos à céu aberto, lixões, do meio da rua, enfim, qual-quer local de possa comprometer a sua integridade com contaminantes de qualquer natureza. O ideal é capturá-los em casa ou em sítio de amigos, ou seja, de procedência conhecida. Depois de reunir uma boa quantidade, costumo alimen-tá-los apenas com hortelã miúda e água por uma semana; excelente para eliminar vermes e protozoá-rios e só depois faço a purga, um período de jejum ali-mentar que dura, aproximadamente, uma semana,

quando os caracóis ficam sem comida e são submeti-dos a lavagens diárias com água ao longo de todo o período. Esse jejum é fundamental para que ele elimine o seu conteúdo intestinal. O ideal é utilizar baldes ou latões tampados e sem fundo, para escoar a água das lavagens. Toda manhã mudo o latão de lugar e aproveito para descartar os caracóis que estão no chão ou muito próximo dele, pois de-

monstram menos vigor e correm o risco de estarem enfermos ou mortos. Depois da primeira semana comendo hortelã, seguida da semana da purga, os achatinas estão prontos para o abate, realizado numa panela com água aquecida lenta-mente. A cada 5 ou 10 minutos tento retirá-los da con-cha com a ajuda de um pequeno garfo. Quando come-çam a se soltar, desligo o fogo, mantenho os caracóis na água e aos poucos, vou realizando esta tarefa colo-cando os animais sem concha, um a um, num escorre-dor. Depois, lavo os animais em água corrente, com su-co de limão ou vinagre para ajudar a tirar o muco e em seguida coloco os caracóis numa panela de pressão, com água e temperos à gosto (folhas de louro, cebola, alecrim, cebolinha, etc) on-de serão cozidos por 20 minutos, após iniciada a fervura. Este procedimento é necessário para qualquer espécie de cara-col, pois é funda-m e n t a l p a r a eliminar qual-quer eventual para-sita e a grande m a i o r i a d o s microorganismos. ☼

ESCARGOT À FRANCESAESCARGOT À FRANCESA COMO COMO ABATERABATER O O CARACOL AFRICANO CARACOL AFRICANO PARA O CONSUMOPARA O CONSUMO

Referência:

Achatinafulica.com NEWS Nº 4 Pág. 11

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