Hannah Celso Lafer

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Hannah Hannah Arendt, movimentou ( e movimenta) o pensamento através de sua obra, pensando a política e o poder, mexeu com a “esquerda” e polemizou com a “direita”, mas ambos não deixaram de navegar pela sua obra. Da filosofia, se auto exilou, ela mesmo não se considerava filosofa. Em entrevista à televisão alemã, em 1964, afirmou: Não sou filósofa. Minha profissão – se pode ser chamada assim – é a teoria política. Eu me despedi irreversivelmente da filosofia. Estudei filosofia, mas isso não quer dizer que permaneci nela. A razão, por si mesma, a faculdade de pensar que possuo, tem necessidade de atualizar-se.Mas pra quem estuda tem a pretensão de estudar filosofia, e com ela política, impossível não dialogar com sua obra, concordando ou discordando, mas obrigatório.Não temos aqui a pretensão de fazer análise ou mesmo critica do pensamento de Hannah Arendt, pois não temos conhecimento, muito menos competência para tal, porem lançaremos mão do artifício de usar pensadores, pró e contra, assim como um ensaio produzido por Hannah Arendt em 1969/1970, Da Violência, com objetivo de desenvolver nosso trabalho. O poder e a violência são praticamente uma constante nas reflexões arenditiana, usa argumentos poderosos para fundamentar seu pensamento. “Uma vez que a violência distinta do poder, força ou vigor – necessita sempre de instrumentos (conforme afirmou Engels há muito tempo atrás) , a revolução da tecnologia, uma revolução nos processos de fabricação, manifestou-se de forma especial no conflito armado. A própria substância da violência é regida pela categoria meio/objetivo cuja mais importante característica, se aplicada às atividades humanas, foi sempre a de que os fins correm o perigo de serem

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HannahHannah Arendt, movimentou ( e movimenta) o pensamento atravs desua obra, pensando a poltica e o poder, mexeu com a esquerda e polemizoucom a direita, mas ambos no deixaram de navear pela sua obra!"a #iloso#ia, se auto exilou, ela mesmo no se considerava #iloso#a! $mentrevista % televiso alem, em&'(), a#irmou*No sou filsofa. Minhaprofisso se pode ser chamada assim a teoria poltica. Eu me despediirreversivelmentedafilosofia. Estudei filosofia, masissonoquerdizer quepermanecinela. A razo, por simesma,a faculdade de pensar que possuo,temnecessidadedeatualizarse!+aspraquemestudatemapretensodeestudar #iloso#ia, ecomelapoltica, impossvel nodialoar comsuaobra,concordando ou discordando, mas obriat,rio!-o temos aqui a pretenso de#azer an.lise ou mesmo critica do pensamento de Hannah Arendt, pois notemosconhecimento, muitomenoscompet/nciaparatal, poremlan0aremosmodoarti#ciodeusar pensadores, pr,econtra, assimcomoumensaioproduzidoporHannah Arendt em&'('1&'23,!a"iol#ncia, comob4etivodedesenvolver nosso trabalho!5 poder e a viol/ncia so praticamente uma constante nas re#lex6es arenditiana, usa arumentos poderosos para #undamentar seu pensamento!7mavezqueaviol/nciadistintadopoder,#or0aouvior 8necessitasempredeinstrumentos (con#orme a#irmou $nels h. muito tempo atr.s) , a revolu0o da tecnoloia, umarevolu0o nos processos de #abrica0o, mani#estou9se de #orma especial no con#lito armado! Apr,priasubst:nciadaviol/nciareidapelacateoriameio1ob4etivocu4amaisimportantecaracterstica, se aplicada %s atividades humanas, #oi sempre a de que os #ins correm o periode serem dominados pelos meios, que 4usti#icam e que so necess.rios para alcan0.9los! "a;iol/ncia, p < ! A maneira que a viol/ncia, instrumento dentro ou #ora do poder , oscomponentes dessa viol/ncia e do poder se #az presente, esmiu0ado, a#irmaquealunscomponentespresentesnessadualidade( sepodemosa#irmarisso), no se responde apenas com recursos linusticos, mas com analise dahistoria! Trata-se, penso eu, de uma triste refexo sobre o atual estado da cincia poltica o fatodeque nossa terminologia no distinga entre palavras chave tais como poder, fora, autoridade, e,fnalmente, violncia todas as quais referem-se a fenmenos distintos e diferentes entre si edifcilmente existiriam no fosse a existncia destes. (Nas palavras de dEntreves, poder, potncia,autoridade: todas elas so palavras a cujas implicaes exatas no se atribui grande importncia nalinguagem corrente; mesmo os maiores pensadores as usam por vezes sem qualquer critrio.= &>As palavras em si, somente como recurso da ram.tica, pouco servem para oentendimentodopensamentodaviol/nciaedopoderassimcomoemtodaobra arenditiana, no que ela use de arti#cios #ilos,#icos, masa historia deimportancia capital, assim procura #alar diretamente, de maneira clara tendocomo ob4eto a explicita0o do poder , da viol/ncia, do estado! ? de tal #orma #orte essas re#lex6es arenditiana, que temos na nossa opinio a#rase mais #orte desse trabalho, choca e nos #az re#letir, e muito!A forma extrema do poder resume-se em Todos contra Um, e a extrema forma de violncia Um contra Todos.=elopensamentodeHannahArendt, poderamosdissertar, pelocampodapoltica, 5riens do @otalitarismo, nos direitos humanos, em Aondi0o Humanaassim, con#essamos nossa incompet/ncia de #aze9lo, ( pelo menos porenquanto), masnossurpreendeaincrvel eimpressionanteatualidadenopensamento e obra dessa Biloso#a reneada!A reconstruo dos direitos humanos: a contribuio de Hannah Arendt Celso Lafer "MUITAS COISAS sabe a raposa; mas o ourio uma grande". A partir deste verso do poeta grego Arquloo! Isaia" #erlin prop$ssua on"eida lassi%ia&o de esritores e pensadores. Os ourios seriam aqueles que tudo re%erem a uma vis&o unit'ria e oerente! a qual opera omo um pro(eto organi)ador %undamental de tudo o que pensam. Tendem! portanto! a uma perspetiva entrpeta e monista da realidade. As raposas seriam aqueles que se interessam por oisas v'rias! perseguem m*ltiplos %ins e ob(etivos! u(a interone+&o! ademais! n&o , nem -bvia nem e+plita. A tend.nia que a se mani%esta , entr%uga e pluralista.A lassi%ia&o ourio/raposa apresenta! omo qualquer diotomia! o riso da simpli%ia&o! mas pode ser um ponto de partida para an'lises e+tremamente %eundas. 0 o aso! se tiveromo nota um distinguo! ou se(a! uma apaidade "eurstia de indiar di%erenas e dissimilitudes. 1sta apaidade! omo aponta 2obbes! , um ingrediente do disernimento indispens'vel para um bom (ulgamento. A qualidade deste (u)o tende a aumentar 3diria eu! omo raposa4 se! adiionalmente! a diotomia n&o partir de uma vis&o ta+ativa de duas partes inomuni'veis! num aut/aut que absoluti)a a di%erena! mas %oronebida omo p-los de um ontnuo om %un&o pluralista voltada para iluminar uma realidade ontologiamente omple+a.0 nesta lin"a! seguindo a li&o metodol-gia de 5orberto #obbio! que me valerei da diotomia raposa/ourio para disutir a ontribui&o de 2anna" Arendt para a tem'tia dos direitos "umanos! %ruto de uma re%le+&o sobre o signi%iado do totalitarismo.6 6 62anna" Arendt pensadora , tanto ourio quanto raposa. 5o que toa ao tema dos direitos "umanos! ela , um ourio no diagnstico e na avaliao! ao identi%iar na ruptura tra)ida pela e+peri.nia totalit'ria do na)ismo e do stalinismo a inaugura&o do tudo possvel. O tudo possvel levou pessoas a serem tratadas! de jure e de facto! omo sup,r%luas e desart'veis.Tal %ato ontrariou %rontalmente os valores onsagrados da 7ustia e do 8ireito 9 valores voltados a evitar a puni&o desproporional; a distribui&o n&o:eq;itativa de bens e situanea! = medida em que o direito a ter direitos se onvertesse num tema glo"al! de governana da ordem mundial! a transender as soberanias! e% vi da inser&o operativa de uma ra)&o abrangente da "umanidade.As onseq;.nias e a atualidade da onlus&o arendtiana %oram reon"eidas pelo 8ireito Internaional @*blio ontempor>neo! o qual passou a onsiderar a nacionalidade como um direito humano fundamental! al,m de busar substituir as insu%ii.niasdo meanismo de prote&o diplom'tia pelas garantias oletivas!on%iadas a todos os 1stados:partes nas Convenniaatribuda por 2anna" Arendt = %unda&o do ns de uma omunidade poltia e reon"ee a esperana que pode tra)er a libera&o de uma antiga ordem olonial ou baseada em imp,riosdin'stios por meio da liberdade do agir on(unto.@oder e Autoridade s&o %en$menos plurais de nature)a oletiva! distintos! pela sua nature)a! da %ora! do vigor e da viol.nia! que se oloam no singular. 8a a rtia de 2anna" Arendt = riatividade da viol.nia no ampo da poltia! em on"eido ensaio! reol"ido em !risis of the repu"lic.A viol.nia tem ar'ter instrumental e! no mundo ontempor>neo! o seu alane viu:se multipliado pela t,nia. 8e aordo om 2anna" Arendt! a viol.nia e% parte populi! no ampo da poltia! , uma resposta = "iporisia dos governantes que onverte governados engags em enrags. Tal resposta pode representar uma resist.nia = opress&o. 5&o gera! no entanto! poder. 1ste sempre resulta do agir on(unto! que se baseia no direito de assoia&o e requer a omunia&o entre aspessoas no espao p*blio e! portanto! o direito = in%orma&o omo adiante se ver'. @or isso! poder n&o se on%unde om %ora e viol.nia e estas! quando dei+am de ser rea&o e se onvertem em estrat,gia! s&o destrutivas da %auldade do agir e! onseq;entemente! impeditivas do poder que gera e vivi%ia uma omunidade poltia.8epois dessa rtia aos meios violentos da resist.nia = opress&o! meios que apenas destroem a autoridade e o poder mas n&o os riam ou os substituem! abe sublin"ar! inspirado nare%le+&o de 2anna" Arendt em &he human condition! a omplementaridade entre 8ireito e @oltia para o entendimento da obriga&o poltia. O 8ireito , onstitutivo e regulador da a&o poltia! requer onsenso e se %undamenta na promessa! ategoria que 2anna" Arendt reelabora na sua an'lise de a&o (untamente om a do perd&o.A promessa estabelee um limite estabili)ador neess'rio = imprevisibilidade e = riatividade da a&o. 8a a import>nia! na intera&o "umana! do pacta sunt servanda ieroniano! no qual se %undamenta o 8ireito. Uma onstitui&o 9 omo mostra 2anna" Arendt na an'lise da e+peri.nia norte:ameriana que! em 0n revolution! ela disute omo met'%ora e+emplar do poderonstituinte origin'rio 9 tem duas dimens