Hans Jonas

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A ética da Responsabilidade de Hans Jonas GABRIEL AUGUSTO, LEANDRO DOMINGUES CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

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A ética da Responsabilidade de Hans Jonas

GABRIEL AUGUSTO, LEANDRO DOMINGUES

Coronel Fabriciano, 25 de Abril de 2011.

CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO2 REVISÕES BIBLIOGRÁFICAS3 A ética tradicional ultrapassada diante das chamadas transformações

tecnológicas4 O Princípio Responsabilidade5 A Heurística do Medo6 O Fim e o Valor7 O Bem, o Dever e o Ser8 A interação da Responsabilidade Paterna, e a Política e Total9 Conclusão10 Referências

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho é uma reflexão sobre a principal obra do filósofo alemão contemporâneo Hans Jonas.

Apresenta um pouco de sua vida, o estopim que o leva a refletir e analisar a sociedade na época, tais

discussões como o desenvolvimento tecnológico presente,a ética tradicional, a ausência da preocupação

em relação a natureza, a ampliação do pensamento individualista ao mais coletivista, a importância do

ser, da essência, da responsabilidade paterna, política, dentre outros.

Este trabalho permitiu o maior entendimento a respeito dos conceitos de Hans Jonas, tendo em vista o

período em que viveu, acontecimentos que presenciou, acarretando assim a produção de sua obra.

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3 A ética tradicional ultrapassada diante das chamadas transformações tecnológicas

Hans Jonas (1903-1993) fora um filósofo nascido na Alemanha que vivenciou períodos como a crise europeia nas décadas de 20 e 30, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, o advento do Nazismo e o triunfo da sociedade tecnológica. Presenciar tais acontecimentos o fez analisar a sociedade com base no desenvolvimento tecnológico, que fora grande parte das destruições em grande escala da época.

Nos anos de 1940 e 1945, Jonas se afasta das bibliotecas e universidades e alista-se no Exército Britânico a fim de lutar contra Hitler: “eu fiz um juramento sagrado, uma promessa: não regressarei jamais, a não ser como soldado de um exército invasor” (JONAS, 2005, p.142). E, no ano de 1945, Jonas cumpre seu juramento vitorioso: “Não voltarei a pôr os pés neste país a não ser como membro de um exército armado” (JONAS, 1995, p.7). Hans Jonas aponta para o choque causado pelas bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki como o marco inicial do abuso do domínio do homem sobre a natureza causando sua destruição. O sobressalto do estado atual das coisas fizeram com que Jonas refletisse sobre a origem do universo, sobre as formas de vida e, acima de tudo, sobre a natureza e o abuso da técnica.

Na chamada ética tradicional, a natureza não fazia parte da responsabilidade humana, já que somente emergia os problemas do “aqui e o agora”. Porém para Hans, tal ética deveria demandar reflexões e análises, visto que foram originadas como certas no período da Modernidade. Ele não nega as premissas da ética tradicional, mas diferencia-se ao buscar uma ponderação sobre o significado dessas mudanças para a nossa condição moral. Ou seja, [...] nenhuma ética anterior tinha de levar em consideração a condição global da vida humana e o futuro distante e até mesmo a existência da espécie. Com a consciência da extrema vulnerabilidade da natureza à intervenção tecnológica do homem surge a ecologia [...]. Repensar os princípios básicos da ética. Procurar não só o bem humano, mas também o bem de coisas extrahumanas, ou seja, alargar o conhecimento dos “fins em si mesmos” para além da esfera do homem e fazer com que o bem humano incluísse o cuidado delas. (16 JONAS, Hans. Ética, medicina e técnica. Lisboa: Veja 1994).

No período Moderno, imperava-se o exemplar kantiano que era baseado no seguinte propósito: “Age apenas segundo uma máxima tal que possas ao mesmo tempo querer que ela se torne lei universal” (KANT, 1980, p.129). O imperativo de Kant obedece à ação individual, ou seja, a consistência do ato consigo mesmo.

Já que as éticas tradicionais já não eram mais capazes de responder aos desafios da modernidade tecnológica, Jonas reflete a respeito da insuficiência dos imperativos éticos tradicionais diante das “novas” dimensões do agir coletivo. Assim, propõe o Princípio Responsabilidade, como sendo um princípio ético para a civilização tecnológica.

4 O Princípio Responsabilidade

Hans propõe um novo imperativo categórico, agora relacionado a um novo tipo de ação humana: “Age de tal forma que os efeitos de tua ação sejam compatíveis com a permanência de uma vida humana autêntica sobre a terra” (JONAS, 1995, p.40). Diferente de Kant, que obedecia a uma ação individual, o imperativo proposto por Hans era direcionado para um agir coletivo como um bem público.

Hans Jonas determinou o Princípio Responsabilidade como sendo uma ética em que o mundo animal, vegetal, mineral, biosfera e estratosfera passam a fazer parte da esfera da responsabilidade. O questionamento da vida futura é resultante de um equívoco cometido ao isolar o ser humano do restante da natureza. Somente uma ética acoplada no “ser”, poderia ter um significado verdadeiro: “Ser é

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necessário existir, e para existir é necessário viver e ter deveres, porém, (...) somente uma ética fundada na amplitude do Ser pode ter significado” (JONAS, 2006, p. 17).

Segundo Hans, quanto mais se pressente o perigo do futuro, mais nos mobilizamos para agir no presente. Jonas associa o Princípio Responsabilidade com algumas teorias, tais quais: Heurística do Medo, Fim e o Valor, o Bem o Dever e o Ser, a relação entre a Responsabilidade Paterna, Política e Total.

5 A Heurística do Medo

Consiste na capacidade humana de solucionar problemas imprevistos; “Conter tal progresso deveria ser visto como nada mais do que uma precaução inteligente, acompanhada de uma simples decência em relação aos nossos descendentes. O medo que faz parte da responsabilidade não é aquele que nos aconselha a não agir, mas aquele que nos convida a agir. Trata-se de um medo que tem a ver com o objeto da responsabilidade. Trata-se de assumir a responsabilidade pelo futuro do homem (JONAS, 2006, p. 353)”.

Para Hans, o medo é essencial, já que é a partir dele que a sociedade poderá agir e refletir. Ou seja, quanto mais próximo do futuro estiver algo temido, mais a Heurística do Medo torna-se necessária. Não se trata de um medo impactante, mas um medo que desperta o humano a pensar e agir.

Segundo o professor Lourenço Zancanaro; “A heurística do temor não é seguramente a última palavra na busca do bem, mas, um veículo extraordinariamente útil. Deveria ser aproveitada para o empreendimento de preservação do planeta, podendo, dessa forma, acordar para a possibilidade de uma catástrofe, assim que provocando a necessidade do limite e da renúncia em relação ao uso de certas tecnologias. O medo seria uma forma de frear a compulsão e a onipotência prometeana de considerar o conhecimento científico ilimitado (ZANCANARO, 1998, p. 57).

6 O fim e o Valor

Baseado no Fim, Jonas propõe: ”O martelo tem o fim do poder-se-martelar-com-ele: foi criado com esse fim e para ele; esse fim faz parte do seu Ser, produzido para tal, de um modo totalmente diferente do fim momentâneo que tem a pedra há pouco recolhida e arremessada ou o galho que se quebra para alcançar algo. O fim podemos dizer, faz parte do conceito do martelo, e esse conceito precedeu sua existência, como acontece com todos os artefatos; foi a causa do seu devir (JONAS, 2005, p. 109)”. Tal forma de se pensar ocorre com todos os artefatos, que por si só não têm finalidade. Atribui-se então um Valor de uso. “O fim é aquilo em vista do qual existe uma coisa e para cuja produção ou conservação se realiza um processo ou se empreende uma ação” (SÉVE, 1990, p. 80).”

Para Jonas, tudo tem um próprio fim, ou seja, sua devida participação no ciclo natural da vida. As ações humanas estão direcionadas por uma cadeia de atos e Fins, que dão cumprimento a um dever. Já os animais seguem o esquema de estimulações instintivas. Na natureza os Fins seriam a própria vida. Sendo assim, o fim da natureza seria o fim da continuidade da existência. Ou seja, a vida passa a ser objeto da responsabilidade.

7 O Bem, o Dever e o Ser

O conceito do Bem, Dever e o Ser está fundamentado em hipóteses ontológicas. Para Jonas, a compreensão científica do fato não é decisiva, pois o Ser resulta em um Dever. O Bem se torna um Dever quando existe vontade na transformação da ação, já que “com isso, torna-se um dever, desde que seja uma vontade que assuma essa exigência e trate de realizá-la” (JONAS, 2006, p. 149).

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Hans Jonas demonstra que, do mesmo modo que o ser humano têm suas finalidades, todos os outros seres têm a sua, mesmo que seja desconhecida. Ou seja, mostra assim uma preocupação a favor da vida, quando ressalta a importância da biodiversidade presente em toda a natureza: “Mais do que uma extensão do espectro genérico, o interesse se manifesta na intensidade dos fins próprios dos seres vivos, nos quais a finalidade da natureza se torna cada vez mais sugestiva” (JONAS, 2006, p. 251)”.

O Dever está implícito no Ser, já que se existem deveres, existem direitos. Logo, se somos responsáveis pelo Ser, somos responsáveis pelo que virá a frente projetado pela continuidade do direito de ser e estar no mundo.

8 A interação da Responsabilidade Paterna, e a Política e Total

Para Hans Jonas, o ser humano tem uma vantagem em relação aos outros seres por poder assumir responsabilidades, garantindo assim seus próprios Fins. Surge então a ideia de toda a responsabilidade do homem, baseada em fatores como a natureza das coisas, e a relação do sujeito e objeto ocorrendo somente com a existência do tempo e do espaço, como diz Hans: “A marca distintiva do ser humano, de ser o único capaz de ter responsabilidade, significa igualmente que ele deve tê-la pelos seus semelhantes, eles próprios, potenciais sujeitos de responsabilidade, e que realmente ele sempre a tem, de um jeito ou de outro: a faculdade para tal é a condição suficiente para a sua efetividade. Ser responsável efetivamente por alguém ou por qualquer coisa em certas circunstâncias (mesmo que não assuma e nem reconheça tal responsabilidade) é tão inseparável da existência do homem quanto o fato de que ele seja genericamente capaz de responsabilidade da mesma maneira que lhe é inalienável a sua natureza falante, característica fundamental para a sua definição, caso deseje empreender essa duvidosa tarefa (JONAS, 2006, p. 175-176).

Sendo assim, percebemos um Dever implícito no Ser, com obrigações objetivas tais como a Responsabilidade Paterna. Esta é uma seleção incondicional, natural sem necessidade de aprovação prévia. Já a Responsabilidade Política é passível de escolha, ambicionando o poder para exercer a responsabilidade suprema. Hans escreve a respeito das Responsabilidades citadas: “A essa altura, pode ser do maior interesse teórico examinar como essa responsabilidade nascida da livre escolha e aquela decorrente da menos livre das relações naturais, ou seja, a responsabilidade do homem público e a dos pais, que se situam nos extremos do espectro da responsabilidade, são as que têm mais aspectos em comum entre si e as que, em conjunto, mais nos podem ensinar a respeito da essência da responsabilidade (JONAS, 2006, p. 173)”.

A Responsabilidade Política é ampla, por trabalhar espaços maiores, ao mesmo passo que Responsabilidade Paterna é mais centrada, por se voltar ao desenvolvimento individual do ser. Tais responsabilidades tem o poder de executar decisões ao longo do presente e futuro, e não podem ser ausentes nem interrompidas; “As assistências paterna e governamental não podem tirar férias, pois a vida do seu objeto segue em frente, renovando as demandas ininterruptamente. Mais importante e a continuidade dessa existência assistida como uma preocupação, que ambas as responsabilidades aqui analisadas necessitam considerar em cada oportunidade de atuação. As responsabilidades particulares não se limitam apenas a um aspecto, mas também a um período determinado de uma existência (JONAS, 2006, p. 185)”.

Para termos a total responsabilidade das situações, devemos ter como base tais questões: “O que vem agora? Para onde vamos? E em seguida, o que houve antes? Como se liga o que está ocorrendo agora com o desenrolar da existência? Em uma palavra, a responsabilidade total tem de proceder de forma “histórica”, aprender seu objeto na sua historicidade. Esse é o sentido preciso do elemento que caracterizamos aqui como continuidade (JONAS, 2006, p. 185)”.

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Assim percebemos a dimensão da Responsabilidade Política, já que está voltada ao futuro, implicando diretamente na responsabilidade coletiva. Entretanto, a Responsabilidade Paternal tem seu individualismo, já que a pessoa adquire uma identidade histórica a partir de sua jornada individual. E é essa identidade que para Jonas, pode ser desenvolvida e garantida pela Educação, ocorrendo uma passagem da Responsabilidade Paterna ao mundo histórico, como em: “Todo educador sabe disso. Mas, além disso, e de forma inseparável encontra-se a comunicação da tradição coletiva, com o seu primeiro som articulado e a preparação para a vida em sociedade. Com isso, o horizonte da continuidade amplia-se no mundo histórico; uma se sobrepõe à outra, e assim é impossível à responsabilidade educativa deixar de ser “política”, mesmo no mais privado dos âmbitos (JONAS, 2006, p. 186)”.

Logo, concluímos que a Responsabilidade total dirige-se ao futuro, enquanto que a Responsabilidade Paternal prioriza a educação a tornar o filho adulto e responsável.

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Conclusão

Podemos concluir que Hans prioriza de forma geral uma ética baseada na magnitude do ser, levando em conta as diversificações do Princípio Responsabilidade, como a Heurística do Medo, Fim e valor, Bem, o Dever e o Ser, e a interação da Responsabilidade Paterna, Política e Total. Além disso deve seguir a singularidade do homem, evitando a perda de sua identidade histórica.

Hans Jonas foi um filósofo pensador que decidiu remeter seus estudos a humanidade, tanto com a vida presente quanto futura afim de ilustrar conceitos e preocupações que nos cercam até a hoje.

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REFERÊNCIAS

O PRINCÍPIO RESPONSABILIDADE DE HANS JONAS: UM PRINCÍPIO

ÉTICO PARA OS NOVOS TEMPOS. Disponível em: http://sites.unifra.br/Portals/1/ARTIGOS/numero_06/battestin_5.pdf Acesso: 29/09/2012.

UMA ÉTICA PARA A CIVILIZAÇÃO TECNOLÓGICA. Disponível em: http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro2/GT/GT09/mario_alencastro.pdf Acesso: 20/10/2012.

SIQUEIRA , José Eduardo de . Hans Jonas E A Ética Da Responsabilidade. Disponível em: http://www.estig.ipbeja.pt/~ac_direito/hansjonas_siqueira.pdf

. Acesso: 29/09/2011.