HAZARD As ciências da Natureza

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I HAZARD)CPad. e~~ ckv~,"".h:· D~~ J..J.»W~ 'h{).~ XVn\ .. ~: ?~ J 1i8? rp 1 2 t-139 CAPITULO II AS OÜNClAS DA NATlJRiEZA A ciência seria a da natureza; e, com efeito, a história natural foi posta em primeiro plano, a geometria em segundo. :E':: certo que muitos continuaram a deleitar-se com as ma- temáticas, consideradas como o mais belo exercício da razão, o mais claro, o mais sólido e o mais metódico. A Europa não se viu subitamente privada de matemáticos ilustres: eram ainda abundantes. No mundo, haverá sempre gente como o Sr. de Lagny, sobre quem nos contam uma história: estando ele a morrer, e como lhe dissessem em vão as coisas mais ternas, chegou o Sr. Maupertuis e afirmou ser capaz de o fazer falar. «Sr. de Lagny, qual é o quadrado de doze? - Cento e quarenta e quatro», respondeu o doente em voz fraca; e não voltou a dizer palavra. Aconteceu simplesmente que a geometria perdeu a supre-·· macia que lhe fora conferida, pois se concluiu definitivamente que ela não acrescentava nada ao ~o.nli~.~Ll:n.E?ntQ., que se·cÕÍl-. tentava em'dê'Sêiivôfver, p~r .dElqir~ª-o, princípios já determi- nados, e que, consequentemente, nada apreendia do real. Dado: \ que não existe na natureza superfície sem profundidade, linha sem largura, nem ponto algum sem dimensão, nem corpo al-· gum que possua a regularidade hipotética suposta pelo geó- metra, tal ciência mais parece um sonho posto em equações. J Era uma ilusão pretender recriar o mundo ~movimento e j ·I.lliUª':t;1Ü~1.e.~!!o:Jora essa a ilusão de Descartes, cülõ'''reinirêro .j já. passara. Chegara o reinado de Newton, o qual pusera as matemá- '. tícas ao serviço da física, dando-lhas assim o seu justo papel., Porque ele não partira de abstracções, de axiomas, mas sirnl " de factos, para chegar a outros factos devidamente constata-) t. dos, porque extraíra da natureza as leis da natureza, a gera- ção que despontava havia-o colocado entre os seus semideu- ses. ~\\7ton sa.ira4Q.P~~Sl<iº_4ªª. ill~()~P!e~nsões, e explica- vam-no aos últimos incrédulos. Nas Academias, nas cátedras, .,.•.....- .. ~-_ ... lB7

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HAZARD)CPad. e~~ ckv~,"".h:·D~~ J..J.»W~ 'h{).~ XVn\ .. ~:?~ J 1i8? rp·12t-139

CAPITULO II

AS OÜNClAS DA NATlJRiEZA

A ciência seria a da natureza; e, com efeito, a histórianatural foi posta em primeiro plano, a geometria em segundo.

:E':: certo que muitos continuaram a deleitar-se com as ma-temáticas, consideradas como o mais belo exercício da razão,o mais claro, o mais sólido e o mais metódico. A Europa nãose viu subitamente privada de matemáticos ilustres: eramainda abundantes. No mundo, haverá sempre gente como oSr. de Lagny, sobre quem nos contam uma história: estandoele a morrer, e como lhe dissessem em vão as coisas maisternas, chegou o Sr. Maupertuis e afirmou ser capaz de o fazerfalar. «Sr. de Lagny, qual é o quadrado de doze? - Cento equarenta e quatro», respondeu o doente em voz fraca; e nãovoltou a dizer palavra.

Aconteceu simplesmente que a geometria perdeu a supre-··macia que lhe fora conferida, pois se concluiu definitivamenteque ela não acrescentava nada ao ~o.nli~.~Ll:n.E?ntQ.,que se·cÕÍl-.tentava em'dê'Sêiivôfver, p~r .dElqir~ª-o,princípios já determi-nados, e que, consequentemente, nada apreendia do real. Dado: \que não existe na natureza superfície sem profundidade, linhasem largura, nem ponto algum sem dimensão, nem corpo al-·gum que possua a regularidade hipotética suposta pelo geó-metra, tal ciência mais parece um sonho posto em equações.

J Era uma ilusão pretender recriar o mundo ~movimento ej·I.lliUª':t;1Ü~1.e.~!!o:Joraessa a ilusão de Descartes, cülõ'''reinirêro.j já. passara.

Chegara o reinado de Newton, o qual pusera as matemá- '.tícas ao serviço da física, dando-lhas assim o seu justo papel.,Porque ele não partira de abstracções, de axiomas, mas sirnl "de factos, para chegar a outros factos devidamente constata-) t.dos, porque extraíra da natureza as leis da natureza, a gera-ção que despontava havia-o colocado entre os seus semideu-ses. ~\\7ton sa.ira4Q.P~~Sl<iº_4ªª. ill~()~P!e~nsões, e explica-vam-no aos últimos incrédulos. Nas Academias, nas cátedras,

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OH seus discípulos comentavam-lhe as obras, cujo conteúdoparecia inesgotável; punham-no mesmo ao alcance do grandepúblico, como o fazia Voltaire no seu Iimpido francês, comoo fazia Algarotti em italiano: eccovi il Neutonianssmo per leSignore. A sua glória ia-se afirmando gradualmente: os sábiosenviados ao Peru em 1735, € a Bornéu em 1736, para verifica-rem as medidas da terra calculadas por Newton, voltavamdizendo que, feita a experiência, ele não se enganara. Encon-trava defensores perante a própria Sorbonne, e entrava nasescolas, guardiãs das ideias, lentas em adoptá-las, obstinadasem mantê-Ias. i,<A paixão pela atracção dos corpos é hoje fortena Holanda e na Inglaterra como jamais o foi, em França, apaixão pelos turbilhões imaginários de Descartes. Vêem-seadvogados abandonar o foro para se dedicarem ao estudo daatracção; por ela esquecem alguns eclesiásticos todos os exer-cícios teológicos (I) ...»

Galileu, sem alcançar a mesma glória, obteve a devidareparação: em 1737, numa cerimorüã'sblehe,' as 'suas cinzasforam trasladadas para Sania'Croc'e,""á ""Tgrelá"Fforenhnaonde a Itália celebra o culto dósjseiisimortos ilustres. Mashavia um nome que simbolizava uma ciência menos abstracta,menos altiva, mais facilmente acessível que a física-matemá-tica, e mais natural, se tal se pode dizer: a do chanceler Bacon.O precursor, o sábio dos sábios; o inimigo das hipóteses vãs,o mestre do pensar; aquele que restaurara o império da razão,traçara os caminhos, abolira as dificuldades, indicara as tare-fas 'que havia ainda a fazer, o maior e o mais universal dosfilósofos; o génioexperimental em pessoa. Quando Bacon dis-sera, no seu estilo a um tempo simples e patético, que a lógicaformal estava mais apta a consolidar e perpetuar os erros quea descobrir a verdade; que o silogismo ligava entre si as inte-ligências e não atingia as coisas; que urgia não continuar aacreditar cegamente nas palavras dos mestres, deixar de ado-rar os ídolos, mudar de método, praticar a observação, recor-rer à experiência, semeara idéias que, quase cem anos depoisdo N ovum Orqamum, germinaram, se ergueram, formaramuma seara que cobria toda a Europa. Aphorismi de interpre-tafti01'IAenaturae ei regno hominis.

Logo à superfície e num primeiro relance, apercebemo--nos de uma efervescência. Há por todo- o lado curiosi quelançam mãos à obra; este inicia uma colecção de borboletas,aquele um herbário; este manda vir do estrangeiro os pris-

(') Marquês d'Argens, La philosophie du Bon S,em,s (A filosofia doBom Senho), 1746. Réflexilorn, lI!, p. 20.

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mas que lhe permitirão decompor a luz, ou o óculo com quepoderá ver os anéis de Saturno. Quem pretende agradar à suaamada, envia-lhe insectos raros que se irão juntar, numa vi-trina, aos que ela já possui; 'quem desejar fazer figura desábio, publica a descrição de um museu de história natural;quem viaja, vai munido de caixas, redes, tesouras e lupas.Gersaint não vende apenas quadros, mas também conchas.Os grandes senhores dão o exemplo; e tanto melhor, diz umdeles, pois, arruinado por arruinado, mais vale sê-lo por umquímico que por um homem de negócios :ao menos a ciênciasempre ficará a ganhar. O contágio atinge os reis: Luis XVquer ter colecções, o Delfim recebe lições de física; Jorge ITIé botânico, João V assiste a pesquisas astronómicas, Vítor--Amadeu TIl repete, com Gerdil, as experiências do abadeNollet. À porta deste mesmo abade que, em Paris, na Rua doMouton, perto da Greve, dirige um curso de física experimen-tal, comprimem-se as carruagens das duquesas que desejamser electrizadas. Os burgueses seguem a corrente; e tambémos jovens, a quem o abade Pluche mostra o Bpectacle de 'tanature (Espectáculo da natureza), ou as particularidades maisaptas a torná-los curiosos e a formar-Ihes o espírito.

Se, impressionados por este primeiro aspecto, lhe pro-curamos o fundamento, em breve constatamos a gravidade doesforço que a moda se limitou a explorar. Os jornais dão àanálise crítica das publicações científicas um lugar tão consi-derável que quase não sobra espaço para mais nada; os livrosde física, de botânica, de medicina, tornam-se mais numerososde dia para dia; mas, devido ao próprio progresso das disci-plinas a que respeitam, em breve se tornam caducos, em breveprecisam de ser substituídos: e são-no. As Academias abremas portas de par em par a esta multiplicidade de livros, àscomunicações que anunciam esta ou aquela novidade: a Aca-demia de Berlim, renovada por Frederico TI em 1744; a Aca-demia de São Petersburgo, fundada em '1725; a Academia deEstocolmo, fundada em 1730; a Real Sociedade de Copenhaga,fundada em 1745; enquanto que as mais idosas, o Institutode Bolonha, a Academia das Ciências de Paris, a Real Socie-dade de Londres, mantêm as suas tradições, todas se consí-derando muito honradas por associarem estrangeiros aos seustrabalhos. Ê um testemunho de apreço, e vivamente desejado,ser discutido perante o tribunal que essas Academias consti-tuem; Voltaire, em 1746, tendo acabado de escrever uma Dis-sertation sur les chomqemenis arrivés doms notre globe et surles pétrifications qu'on. prétend en. êire encore les témoignages(Dissertação sobre as mudanças ocorridas no nosso globo esobre as petrificações que se pretende serem ainda testemu-

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IIhllK um~meemaa) , envia-a em italiano ao Instituto de Bolo-111m, ti em inglês à Real Sociedade de Londres; e propunha-selnoluaivumcnte vertê-Ia para latim, a fim de a enviar também1\ Acadernia doe São Peteraburgo. Esta última oferecera, em1735, algumas obras à Academia de Lisboa, cujo presidenteora então o velho conde da Ericeira, o mesmo que, em tem-pos, traduzira Boileau. O conde pronuncia um discurso deagradecimento, cheio ainda de frases redundantes e floridas;fala da rainha do Sabá, da Sibila do Oriente que, lá dos gelosdo Setentrião, enviou, escritas em folhas de oiro, as obrasdos seus académicos: mas fala também de Baeon, do subti-líssímo René Descartes que soube aliar a álgebra à geome-tria, de Newton, o maior filósofo de Inglaterra, que demons-trou o que é demonstrâvel em filosofia natural, e cujos princí-pios são exactamente seguidos. A um tempo, as velhas figu-ras de retórica e a expressão do novo gosto.

O movimento é duplo. Há uma expansão, uma vontadeque leva os investigadores a sair das suas províncias, a aban-donar o reino, o próprio continente onde vivem, para conquis-tarem a pouco e pouco toda a criação: Caialoqus plantarumC{uibus coneaus est Patavií amoenissumus hortus ; Flora N orí •.berqensis, Botasucon: porisienee; H ortus uplandicus, Flora lap-ponica, Historui naturalis curiosa regni Poloniae, The Naturalhistory of England}' Flora cochinchinensis ... Como se pres-sente ainda a existência de algumas terras desconhecidas, osnavios que partem à descoberta levam a bordo naturalistas,os quais irão trazer para a Europa exemplares de uma faunae de uma flora que, até então, haviam permanecido ocultas aosolhos dos homens. Â medida que a busca se alarga, o númerodas espécies vegetais e animais cresce desmesuradamente, jánão é possível contá-Ias, os números apontados hoje tornar--se-ão falsos amanhã: as pessoas sentem-se como que soter-radas por este aluvião incessante; a vida, a vida imensa, des-trói as noções que dela se possuía. Mas, ao mesmo tempo,produz-se uma concentração: os mais curiosos destes curio-sos chamam a si essa mesma vida prolífica. Entregam-se aoperações misteriosas, cortam, dissecam, observam por mi-croscópios, agitam frascos onde encerraram estranhas subs-tâncias: nasce o sábio de laboratório. Pobres laboratórios,onde tantas vezes faltam os instrumentos mais simples; in-vestigadores mal equipados, que hesitam em tirar a casaca develudo, em arregaçar os punhos de renda, mas que nem porisso vivem com menor intensidade os inícios da epopeia daexperimentação.

Surgiram então, como em série, os nomes que ficaramligados, cada um de per si, à recordação de uma vitória: em

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astronomia, a linhagem dos Cassini ; em geologia, J'OOnGottlobLehman e Horace Bénédict de Saussure ; em botânica, Charlesde Linné, e os primeiros dos cinco Jussieu; em entomologia,René-Antoine Ferchault de Réaumur, Charles Bonnet; em fi-sica, Guillaume-Jacob S'Gravesande, Léonard Euler, Alessan-dro Volta; em fisiologia, Hermann Boerhave, Albrecht vonHaller, Gaspar-F'ríedrich Wolff, F'riedrich Hoffmann, LazzaroSpallanzani, Georg-Ernst Stahl, Joseph Priestley, CharlesGuillaume Scheele; e, muitas vezes, é errado confiná-los a umaúnica especialidade: descobria-se tudo ao mesmo tempo. Evo-quemos, já que não é 'possível nomeá-Ios todos, as figuras len-dárias: um Galvani, provocando contracções musculares emrãs esfoladas; um Lavoisier, diante dos seus tubos e retortas,belo e grave.

Eram dos mais diversos países, pois destes nenhum haviaque não tivesse delegado alguns dos seus representantes paraa grande obra; mas na verdade formavam uma única naçãono meio das nações. Mesmo na guerra, continuavam o seu tra-balho; mesmo nos momentos em que as comunicações erammais difíceis, dirigiam sinais uns aos outros, controlando-se,aprovando-se, felicitando-se entre si. Tal era a república idealdos sábios.

Mas não era fácil.As ambições eram demasiado vastas; repetiam constan-

temente, a si próprios, que o progresso tinha sapatos de chum-bo; mas o impulso que os arrebatava era tão jovial que jul-gavam ter asas; e, para começar, lançaram-se em projectosdesmesurados; como aquele em que se empenhou, no ano de1719, a jovem Academia de Bordéus : nada menos que a his-tória da terra e de todas as modificações que nela se produ-ziram, tanto gerais como particulares, quer por tremores deterra e inundações, quer por outras causas; com uma descri-çãoexacta das modificações da terra e do mar, da formaçãoou desaparecimento de ilhas, rios, montanhas, vales, lagos,golfos, estreitos, cabos, e de todas as transformações; e tam-bém das obras feitas pela mão do homem que deram à terraum novo aspecto ... As memórias deveriam ser enviadas aoSr. de Montesquieu, presidente do Parlamento da Guiana, quepagaria o porte. Seria demasiado o que o Sr. de Montesquieuteria a pagar? O projecto nunca se realizou.

Prodígios, já ninguém os queria. Mas era difícil liberta-rem-se do maravilhoso, sobretudo no princípio, quando o mé-todo não era ainda seguro. Hipóteses, já ninguém as desejava.Mas como era cômodo aventar uma, sempre que surgiam difi-culdades! A peste devasta Marselha e a Provença: o que é a

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peste c como se propaga"? Não é contagiosa - afirmá-Ia seriaum sinistro absurdo. É contagiosa, mas apenas à maneira deuma epidemia; e esta resulta da má alimentação. 'É contagiosapelas feridas, pelas urinas, pela transpíração ; e, portanto, pe-los colchões, pelas roupas, por tudo o que o doente tocou. Qualé a sua natureza? Consiste em miasmas, em partículas gor-gónicas, em partículas de antimónios, em minúsculos vermesque, de manhã, nadam como peixes, ao meio-dia voam comopássaros, e morrem ao entardecer; consiste em insectos quese insinuam pelos mais pequenos buracos. da pele, e sobretudono Inverno, porque são friorentos. Como curá-Ia? Com o café.Com água tomada em abundância. Com bebidas aciduladas,como o recomendavam os mestres de outrora. Com decocçõesde raiz de escorcíoneira, às quais se juntarão gotas de sumode limão ou de espírito de enxofre. Com tintura de oiro, essên-cia emétíca, poções cordiais, pílulas purgativas, sudoríficos.Sobre os bubões, cataplasmas ou pedras de cauterizar, apli-cados durante várias horas. Lyon, Montpellier, Paris, Zuriquee Londres, discutiam; e os doentes oontinuavam a morrer.

Não bastava condenar o espírito sistemático para o pôrde lado. Lançavam-se ao mais difícil, ao problema da gera-ção, ao problema da formação dos corpos organizados; e, an-tes de haverem acumulado observações, formulavam teorias,a que logo respondiam teorias diferentes: a confusão em brevese tornava inextricável. Pré-formação e ajustamento ?Epigé-nese? Moldes e matrizes (2) ? Para provar a superioridade deuma ou outra destas explicações, lançavam-se em discussõesinfindáveis; e, desviada do seu caminho, dir-se-ia que a ciên-cia não progredia já.

Por vezes, um erro atraía as atenções pelo seu carácterespectacular. Em 1748, Jean Tuberville Needham, físico inglês,vira produzirem-se gerações espontâneas. Dêmos-Ihe a pala-vra, escutemo-lo enquanto ele nos descreve as experiências querealizou, as precauções que tomou contra qualquer erro pos-sível, os surpreendentes resultados que obteve. - «Deitei sucode carne muito quente dentro de um frasco e fechei-o comuma rolha de cortiça, betumada com tanto cuidado que eracomo se tivesse selado hermeticamente o frasco. Isolei-o assimdo ar exterior, a fim de que não se pudesse dizer que os meus

(') Encontr,ar-se-ãoestas teorias, claramente formuladas, nos se-guintes textos: quanto ao ajustamento: Maupertuis, EssGJi 8ur la: for-ma-tion ,à;es corps orçomieées, parágrafos IX ,e X; quanto â epigénese: Ohar-Ics Bonnet, Conterm:!pl'wtwn de, la. natu71e, sétima parte, capítulo X, La,lIénéra-twn; quanto ao's moldes e matrizes: Buffon, Hi&torire n<1'turelle,Dc« 'amimilllUx, capítulos Hr e IV.

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corpos animados tivessem a sua origem em insectos QU ovosespalhados na atmosfera. A pequena quantidade de á.gua quemisturei com o suco de carne para o tornar um pouco maisfluido não constituía, creio, mais que um sexto, e deitei-a aferver no frasco, temendo que se pudesse imaginar que haviaquaisquer germes contidos nessa água... Não negligencieiqualquer precaução nem sequer a de colocar dentro de cinzasmuito quentes o corpo do frasco após ter sido rolhado, a fimde que, se existisse alguma coisa na pequena porção de arque enchia o gargalo, se conseguisse destruí-Ia e fazê-Ia per-der a faculdade reprodutora ... Dentro de quatro dias, o meufrasco ficou completamente cheio de animais microscopica-mente vivos ... » E era admirável, e não era verdade; e foramnecessários anos para examinar a teoria de Needham, contro-lá-Ia, refutá-Ia, provar que a fermentação de vida, por eleconstatada, provinha de germes trazidos do exterior, pormaior cuidado que tivesse tido para os isolar: paragem, mar-car passo, retrocesso ...

Todas as aventuras que a história das ideias nos oferececomoespectáculo, as filiações inesperadas, as vitórias queterminam em derrota, os fecundos ínsucessos, se reúnem aquino seu paroxismo. Os botânicos, imbuídos de espírito cientí-fico, aspiravam a encontrar uma classificação das plantas fun-dada apenas sobre factos objectivamente observados; e, depoisde Tournefort, Linné (Lineu) julgou ter triunfado, a partir doseu Systema natürae (173g): «Fui eu o primeiro a inventara utilização das características naturais para classificar osgéneros ... » Mas. ao mesmo tempo esses botânicos, tal comoos outros sábios seus irmãos, e como os filósofos, seus mes-tres confessados ou não, tentavam integrar o universo, e osprodutos desse universo, num plano preestabelecido. Imagina-vam aquilo a que chamavam a grande escala dos seres; os seresnão podiam ordenar-se senão segundo essa escala onde nãofaltava uma única divisão ; passava-se de uma divisão paraoutra por graus tão pequenos que era quase impossível dis-tingui-Ias, mas que nem por isso eram menos reais; a descon-tinuidade era excluída a priori, nenhum lugar tinha direito aficar vazio; não havia solução de continuidade entre os grausde uma série, entre a série animal e a série vegetal, entre asérie vegetal e a série mineral; existia uma imperceptível liga-ção entre os homens e as criaturas superiores, os anjos; nocimo, único ser separado dos outros, ficava Deus. Era abso-lutamente necessário que cada compartimento fosse ocupado;e embora não se discernissem ainda os ocupantes, estes nãodeixariam de aparecer um dia. E era assim que esses mesmos

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homens que se proclamavam servidores do facto, submetiamo facto, a bem ou a mal, a um a priori.

Para passar do dogma da imobilidade das espécies à ideiade uma evolução vital, era necessária uma longa e dura luta.Contudo, não podiam eximir-se a constatar que sob a influên-cia das climas exóticos certos animais, certos vegetais, se ti-nham modificado. Não podiam deixar de aceitar as resultadasconseguidos pela paleontalogia, a qual encontrara nas cama-das profundas do solo os vestígios de seres desaparecidos; osresultados conseguidos pela fisiologia, a qual registava fenó-menos de degenerescência e outros de hibridação. Mas não.sem resistência. Considerava-se que Maupertuis devia ter umestranho cérebro; atónitos, os visitantes contavam que a suacasa era um centro de criação, cheia de animais de todas asespécies 'que pouca limpeza proporcionavam, e que o próprioMaupertuis se divertia de moda estranha a cruzar animaisdiferentes. Mais louco ainda parecia La Mettrie, que afirmavaque as primeiras gerações deviam ter sido muito imperfeitas,faltando neste caso o esófago, e naquele os intestinos; que sótinham sobrevivido os animais mais dotados de todos os ór-gãos necessários e, destes;--Ós-mars--fortes:-~rã.---iiecessárioerguer umaenorme carga <ie'TgnorãiiCii-epreconceitos, para

.ver emergir, pouco a pouco, o transformismo de Lamarck.~. '. .-..... ._._~._._-----------_ .._-~-Longos sofrimentos, desapontamentos, dissabores; mas

também entusiasmos e alegrias. Seria trair a época não. expri-mir o frémito. que a animou.

Õ maravilha! Õ mundo prodigioso das insectos! Eis queCharles Bonnet descobre, ao. observar os pulgões, a mais ex-traordinário dos fenómenos : reproduzem-se, Soemintervenção.da macho, par partenogénese. Õ mundo prodigioso das plan-tas! Eis que Abraham Trembley descobre, ao. observar ervasaquáticas, que estas se alongam, deslocamcornos ou braças,se contraem e, inclusivamente, se deslocam: seriam animais?Corta estes pólipos em vários pedaços e cada um desses peda-ços resulta noutro pólipo: são plantas, reproduzem-se parcorte. Mas não, não. são plantas: os pólipos agarram peque-nos vermes, introduzem-nos pela boca numa cavidade que têmno corpo, digerem-nos: trata-se de animais. São animais-plan-tas (:1); ambos ao mesmo tempo ... Réaumur retoma algumasdas experiências de Trembley: «Confesso que quando vi pela

(') Abraham Trembley, Mémoi11e pOU1· servir à l'hi.stoired'un çemr«ae Polypes d'ewu, Mf/,U,'«JI(Memória como contribuição à história de umtipo de Pólipos de água doce), 1744.

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, , primeira vez formarem-se dois pólipos daquele que eu cortaraao meio, mal pude acreditar nos meus olhas; e este é um factoa que não me habituo, depois de o ter observada centenas de

\ • vezes.» Perante isto, começaram-se a cortar em pedaços os", vermes de água doce chamados náiades, e até mesmo minho-l~ cas, e sempre se regeneravam por si próprios. Spallanzani

cortava os cornos e a cabeça a caracóis: os cornos voltavam: a crescer, a cabeça formava-se de novo. Voltando-se depoispara as salamandras aquáticas, animais de sangue vermelho,

i cortava-lhes as patas e as patas voltavam a crescer! Regres-; sara-se ao tempo dos milagres, mas dos milagres naturais.I As plantas respiravam; o ar já não constituía um dos quatro! elementos simples, compunha-se de gases que era passíveli dissociar ; de Filadélfia, no Novo Mundo, chegava a notícia

[' de que um homem, Benjamim Franklin, captara o raio, tomara

passe do fluido celeste, corno então se dizia; roubara-o aos_deuses. «Estou cansado de descrever prodígios (4).»

A recompensachegara já: do saber nascia o poder; domi-nava-se a natureza, conhecendo-a. A matéria fora subjugada.Que bem se fizera ao abandonar ªyª.m::-ºG\l.r~t.gº§,p.I'inGí'piosprimeiros, das essências e das substâncias! ,poucoihferês~-vam:-'-aS·<:-ã:usãs~pri:fu:ê1'rM';~-a:·,p'a:rtíl'·ddmomento em que se en-contrava forma de as obrigar a produzir, de maneira segura,os efeitos pretendidos: desta mudança resultava uma abun-dância de bens. Bens reais, para os quais tendiam as ciênciasaparentemente mais desinteressadas: «As descobertas dos sá-bios são as conquistas do género humano ("):» Man i8 noweak (0): já não era verdade que o homem fosse fraco, a suaforça iria crescendo de dia para dia.

Através da ciência, a vida tornar-se-ia boa e bela. Surgiaentão, rodeado de uma nova auréola, aquele que possuía aciência, aquele que corrigia a natureza sempre que esta errava,aquele que curava os males da vida: o médico. Par hábito, oteatro continuava a troçar de Diafoirus; mas Boerhave deLeyde, Tronchin de Genebra, Bordeu de Paris, ilustres emtoda a Europa, incarnavam o novo poder. O público assistia,ao longo debate sobre a ínoculação: e, finalmente, as bexigas ..eram vencidas. «Tudo cede perante a grande arte de curar»,

(') Charles Bonnet, 001Widératron.'l sur les oorps orçansses (Consi-derações sobre os corpos organizados), 1762. Capítulo XI.

(') Joseph Landon, Rétrexi'OlM '00 ,m;ClldemOlilooUe X, comBdie.nne [rim-çaise. (Reflexões da Menina X, comediante francesa), 1750, p. 54.

(e) S. Johnson, Raeeeêae, 1759. Capítulo XII. «O homem não é fraco,respondeu-lhe o companheiro (Irnlac ) : o Conhecimento é mais do queequivalente à F'orça.»

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ulumava La Mettrie, que assim esquecia as diatribes que lan-cara contra os colegas; «o médico é o único filósofo que me-rece o respeito da sua pátria ... Ele aparece, como os irmãosde Helena, nas tempestades da, vida. Que magia, que encanta-mento! Vê-lo é o bastante para acalmar o sangue, restituir apaz 'a uma alma agitada e fazer renascer a doce esperançano coração dos infelizes mortais. Ele anuncia a vida e a morte,como um astrônomo prediz um eclipse (') ... » O único filósofo,na verdade; o único que fala em nome da experiência; pois«foi ele o único 'a ver os fenómenos, a máquina tranquila oufuriosa, <sã ou doente, delirante ou regular, sucessivamenteimbecil, esclarecida, estúpida, ruidosa, letárgica, activa, vivae morta (8).»

A 14 de Fevereiro de 1750, 00 próprio Buffon anotava oêxito da <suaHistória natwral, cujos três volumes tinham sidopublicados no ano anterior: a primeira edição, embora comuma grande tiragem, esgotou-se ao fim de seis semanas: tira-ram-se já uma segunda e terceira, que estão para sair; a obraestá traduzida em Alemão, em Inglês, em Holandês ... -Buf-fon não será talvez o maiorgénío científico da sua época, masé sem dúvida o mais representativo.

Devia-se-lhe um novo Discurso do método, De Ia mamiérede traiter l'histoire maturelle (Do modo de tratar a histórianatural). B~1~,ile?9....ll'..alif~~_3:I.:~.~~,matemâ tic~~",..RI'9c1amara..qlle.OS espÍr,it9spediamagoOra, em vez' de uma evidência geomê-tr,~ca!.-lJm_a~~rt~~ª..4~Jacto. Estas linhas indicavam uma revo-lução: --

Há várias espécies de verdades) e existe o hábito de daro primeiro lugar às verdades matemâticas: contudo) estas nõopassam de verdades de definições)' tais definições referem-sea suposições simples) mas abstractas; e todas as verdadesdeste tipo não passam de consequêncuis compostas, mas sem-pre abstracias, dessas definições. Fizemos suposições) combi-námo-las de todas as maneiras possíveis)' este conjunto decombinações é a ciência matemática: nada; existe pois nestaciência para além do que nela introduzimos. .. As verdades físi-cas) pelo contrário, não são de modo algum arbitrárias nemdependem de nôe; em vez de se fundarem sobre suposições porniÓs[eito», apenas se ap'OifJamsobre factos... Em matemática)supõe-se)' em física" verifica-se e estabelece-se. Ali temos de-finições) aqui factos. Nas ciências abstractas vai-se de defi-nição em definição)' nas ciências reais caminha-se de obser-

(') La Mettrie, dedicatória de L'Homnne Machime, 1748.(") Dlderot, E'ncy.clo.pédiJe, arbígo Loolee.

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ooção em observação. Nas primeiras chega-se à evidência) nasúltimas à certeza.

Buffon levava até ao paradoxo o desejo de pôr o homemno centro do universo. No lhe agradava a classificação dasplantas proposta por Lineu: a sua própria classificação, quese não limitaria às plantas mas englobaria toda a criação,partiria de um outro princípio. Um indivíduo desperta comose houvesse esquecido tudo; está num campo onde os animais,as aves, os peixes, as pedras, se apresentam perante os seusolhos novos. De início sentír-se-â perdido, não distinguindonada, tudo confundindo. Mas em breve se aperceberá de umadiferença entre a matéria inanimada e a matéria animada ;nesta última, não tardará a discernir uma diferença entre osanimais e as plantas: daí essa primeira grande divisão, reinomineral, reino vegetal, reino animal. Observando os animais,o mesmo indivíduo chegará em pouco tempo a formar umaideia particular dos que habitam a terra, ou a água, ou o ar:daí a divisão em quadrúpedes, em aves, em peixes. Ordenaráos quadrúpedes de acordo com as relações que estes tenhamconsigo próprio: o primeiro lugar será dado aos que são maisúteis à sua vida, o cavalo, o cão, o boi. Uma vez esgotada alista destes animais familiares, ocupar-se-á daqueles que habi-tam na mesma região, como por exemplo as lebres, os vea-dos e outros animais selvagens. Só então a curiosidade o con-duzirá para os que habitam em outros climas: os elefantes,os dromedários, etc. Reunir as coisas que se assemelham, se-parar as que diferem, organizando semelhanças e diferençasrelativamente ao homem; oferecer ao homem um retrato danatureza, obtido por meio de uma descrição completa : era essaa ambição de Buffon.

- 'A sua HistOiré-àê la Terre (História da Terra) e Les 2po-\ ques de la Nature (As Épocas da Natureza) conseguiram subs-

) tituir a. concepção estática daciência por uma eo~c.~'pçã.()._e.Yo-s ll!tiyª-:. Demonstrou que só era possível conhecer esse real, or real que ele ambicionava apreender em conjunto e no porme-

nor, se se considerasse o modo 'Como ele se formara na sua.existência ianterior, nas vicissitudes do seu".pa~.tH!,ª2..:.PartIi-'àdo aspecto caótico da terra - eminências, abismos, planícies,mares, pântanos, rios, cavernas, precipícios, vulcões, monta-nhas abatidas, rochas fendidas e quebradas, regiões desapare-cidas - para penetrar, graças à ~olo~a, nas suas profunde-zas. Explicara esse enigma pela acçãõ milenária do fogo, dasgrandes massas de água; tinha, como dizia na sua Iínguagemsonora, revolvido os arquivos do mundo e colocado marcosquilométricos ao longo da estrada eterna do tempo.

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Tudo parecia fazer dele um símbolo, mesmo os seus erros.Porque errara algumas vezes; não soubera olhar, quando uti-lizara o microscópio que Needham lhe tinha emprestado,e que era no entanto melhor que os seus; fizera mal as suaspreparações, verificara maios respectivos resultados; acon-tecera-lhe considerar como tarefa inferior, indigna dele, aspequenas ocupações. Este inimigo dos sistemas lançara-se afundo na teoria das matrizes e dos moldes que, ardentementee por muito tempo, defendera. Mas se pecara, fora contra asua própria sabedoria, contra a lei perante a qual voltavasempre a curvar-se: de modo que, mesmo errando, nem por issodeixava de legar aos que viriam depois o método 'que permi-tiria refutá-Io.

Ele simbolizava o trabalho, a longa paciência que se tornagénio. O tempo, o precioso tempo que os outros desperdiçamem futilidades, em prazeres, em ocupações estranhas à tarefaque lhes incumbe, reservava-o ele à sua obra, o Jardim do Rei,a História Natural. Resistira às tentações do bem-estar, davida social, das viagens; passara apenas alguns meses na Itá-lia, vivera em Inglaterra o tempo estritamente necessário paraali fazer a sua aprendizagem científica; e, senhor da sua vida,tendo disciplinado temperamento, carácter e força, dava cal-mamente o máximo do seu esforço. Fixara rigidamente ashoras do levantar, das refeições, dos passeios: como alguémque nunca repousa porque sabe nunca ter acabado o seu tra-balho.

r-: Simbolizou a moralidade da ciência, a consciência da sua[dura lei. Simbolizou as esperanças que a ciência oferece:'«Amontoemos continuamente as experiências, e afastemo-nos,se possível, de qu,alQlle.r.espírito sistemático,pelomenõs'atéD,9S havermos instruído; ser-nõs~á facTI,"-üm dia, colocar essesmateriais nos seus lugares; e, ainda que não sejamos suficien-temente felizes para construirmos o edifício na sua totali-dade, eles servir-nos-ão certamente para lançarmos os alicer-ces e avançarmos, talvez, ainda para além das nossas espe-

.ranças (9).»A noite não caía para ele; envelhecendo, 'entrava numa

apoteose. Os seus defeitos, um certo aspecto materialista doseu carácter, a sua habilidade para conseguir o auxílio decolaboradores escolhidos, o seu gosto pelos amores rápidos efáceis, todas as suas imperfeições se esbatiam num fumo deincenso. Um dos quarenta da Academia Francesa, tesoureiro

(') Buffon, Prefácio à tradução de La strotiqUB ães végéta,ux (A es-tática dos vegetais), de Ha;les, 1735,

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perpétuo da Academia das Ciê-ncias, membro das Academiasde Londres, Edimburgo, São Petersburgo, Florença, Filadél-fia e Boston, coroado, adulado, mimado, pôde ver nos seusjardins o monumento que o filho mandara erguer em suahonra, e a sua própria estátua no Jardim do Rei, 'que tãocaro lhe era. Montbard tornara-se lugar de peregrinação, riva-lizando com Ferney; o príncipe Henrique da Prússia vinhavisitar o homem ilustre, a quem seguidamente enviava um ser-viço de porcelana representando cisnes; Jean-J acques Rous-seau punha-se de joelhos para beijar a soleira da sua porta.Faziam-lhe versos, onde o celebravam como espírito criador egénio sublime; M.meNecker chamava-lhe o homem de todosos séculos; Catarina da Rússia,em carta autografada, escre-via-lhe que, tendo Newton dado o primeiro passo, ele dera osegundo. Depois de percorridos os treze terraços, depois dese contemplar o gabinete de trabalho, austero e nu, onde foraelaborada a obra-prima, e quando finalmente se deparava como autor, via-se um porte majestoso, um rosto belo e calmo,fresco ainda aos setenta e oito anos. Houdon conseguira dar,

: no busto que dele esculpira, a sua gravidade, a sua nobreza;. mas não o ,brilho dos. olhos, a cor das sobrancelhas . Ilegr.lls_., contrastando com os belos cabelos brancos. Buffon assemelha-\ va-sa ao homem tal como elepropriô'"õ'linha representado: o

,\ homem mantém-se direito e nobre; a sua atitude é de coman-. do; o seu rosto encara i)' céli'e 'nas suas feições imprime-se- o(carácter da sua dignidade.'

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II

Tanto trabalho, tanto sofrimento, tantos debates, só parafazer valer esta verdade tão simples: que em matéria de ciên-cia é necessário pª,rtiJ:' .da :Qpse:r:Yaçãge,pcrupl.l.I()~gL,g(),Xa,(!t()Z- Certamente. Essa verdade fora já afirmada, e várias ve-zes; voltará a sê-lo no futuro; Claude Bernard limitar-se-áa voltar a Bacon. Tudo se passa como se as marés voltassema cobrir, de século para século, de geração para geração, asilhas descobertas; e como se, de cada vez, fosse necessário

,indicá-Ias novamente, com grande dispêndio de trabalho e! génio.

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