HEDONISMO

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Este trabalho é focado no egocentrismo presente no ser humano, para isto, reúne diferentes momentos, em que se detectam este caráter. O homem, perturbado com a idéia de que um dia deixará de existir, decide que enquanto viver será sua própria base para consolos, negando religiões e a dependência de outros seres humanos para alcançar uma suposta felicidade.Trata também, como pensamento consequente desta sensação, sobre a contemplação e adoração pela beleza e juventude.

O objetivo é demonstrar como as referências escolhidas interferem na construção de uma imagem de moda.Todos os assuntos abordados, escolhidos a partir de um perfil masculino- seja ele real ou um personagem criado. O ser desta coleção de roupas possui um o gênero é indefinido, e/ou

irrelevante, este ser é simplesmente magnífico e superior com um poder de sedução quase mágico. As influências estéticas masculinas de diversas épocas- sobretudo do dandismo-e de diversas fontes geram uma modelagem adaptada no corpo da mulher, exalando sensualidade e ao mesmo tempo soberania aristocrática.

Palavras- Chave: DANDISMO - HEDONISMO - PSICOPATA - O RETRATO DE DORIAN GRAY - NARCISISMO - LUXO

Resumo

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abstractThis work goes to individualism found at human been, it is combined with different moments in history that these caracteristics are detected. Man, disturbed by the Idea of not existing someday, He decides that during life, only himself can help fears of death and others, denying religions and the dependence of other people. It deals also, with contemplation of beauty and obsession of youth. The point is to demonstrate how the inspirations has influence at the construction of fashion images. All the subjects studied, were chosen by observing male profiles that after contribute to this personality crated to the fashion collection. This construction is about a been that we cannot classify like a normal female profile because it borned by not normals male profiles. This been is superior and has a Magic Power of seduction. The Idea is to addapt the male design- especially dandy- at woman body.

Key-words

DANDY - HEDONISM- PSYCHO - THE PICTURE OF DORIAN GRAY - NARCISISMO - LUXURY

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sumárioIntrodução 6

tema

Dandismo - 8

Oscar Wilde - 12

O Hedonismo em ‘O retrato de Dorian Gray’ - 13

O psicopata Americano - 16

A coleção Conceito de Criação - 18

Cartela de materiais - 19 Silhuetas - 21looks - 22

mapa da coleção - 33

mapa dos desenhos técnicos - 35

acessórios - 37

confeccionados - 39

fotos do processo de produção - 45

fotos do lookbook - 47

fotos conceito - 53

considerações Finais - 64

referências - 66

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IntroduçãoA escolha dos assuntos se deu pela necessidade de expressar na Moda o egocentrismo

real e aparente nos presentes dias. Avaliando e percebendo tais circunstâncias, nada mais verdadeiro que torná-las objeto de estudo e posteriormente de inspiração para criação.

O Ponto de partida é o tema principal da coleção, a obra do irlandês Oscar Wilde (1854-1900), O retrato de Dorian Gray (1890), ali se encontra o dandismo, contracultura masculina com foco na vontade no desejo pela distinção e luxo, surgido na Inglaterra no Século XIX que se utiliza da Moda como código discreto daquele ‘lifestyle’. A estética apresenta um design mais limpo, em contrapartida a adornos bordados, brilhos, perucas e muita maquiagem que os homens daquela época costumavam usar. Aqui este cenário será explicado no primeiro capítulo para uma maior compreensão do caráter de Dorian Gray, que assim como seu criador era um ‘dândi’.

Em seguida, é feito um breve relato sobre a vida do autor irlandês, e posteriormente adentra-se à sua obra, com as considerações sobre o enredo e seus personagens principais.

Trata-se de uma ficção onde o quadro que fora retratado Dorian, começa a envelhecer e apodrecer como reflexo de sua alma, enquanto sua pele se torna cada dia mais atraente.

No último capítulo está o subtema da coleção, descobre-se o poder de transformar um homem num cadáver como um prazer inestimável, o egoísmo é levado às últimas consequências, e se aquele prazer tira a vida de pessoas, não é relevante. É feita uma relação entre o personagem acima citado e o personagem principal da obra O Psicopata Americano (1991), do americano Breat Easton Ellis demonstrando onde estes dois homens fictícios (milionários, jovens, impecáveis, porem cruéis) se encontram.

Por fim, há o texto conceito de criação gerado para guiar a modelagem, as cores, as silhuetas, e materiais presentes nesta coleção de roupas femininas que são o resultado de cada tema aqui pesquisado.

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Predomina-se no estilo dândi, homens jovens, cheios de energia sexual e influenciados pelo estilo de George (Beau) Brummel2, respiravam um ar de confiança e superioridade social. “Por um lado tudo é elevado a cultura, ao refinamento e a intelectualidade. Por outro ,a vida é animada, mundana e exige cuidados físicos” (McDOWELL,1997,p.49).

... reconheceu-se que é infinitamente agradável, para um homem ou uma mulher, pensar, olhando seus concidadãos: “Eu estou acima deles; deslumbro-os, protejo-os, governo-os, e cada um vê claramente que deslumbro, os projeto e os submeto; pois um homem que deslumbra, protege ou governa os outros, fala, come, anda, bebe, dorme, tosse, se veste, se diverte diferentemente das pessoas deslumbradas, protegidas e governadas. (BALZAC, 1830, p.37).

Tratava-se de homens elitistas freqüentemente pretensiosos, onde o vestir e a aparência se tornaram uma obsessão. Ter estilo era extremamente importante e para isso, muito dinheiro para sustentar uma vida de aquisições caras e elegantes. Tudo isto, para se diferenciar da ‘espécie’ recém-nascida, os burgueses, que segundo os dândis eram novos ricos e de classe inferior, onde reinava a vulgaridade ostensiva.

O homem rico, dedicado ao ócio e que, mesmo aparentando indiferença, não tem outra ocupação que a de correr no encalço da felicidade; o homem criado no luxo e acostumado, desde a juventude, a ser obedecido; aquele, enfim, que não tem outra profissão que não a da elegância, gozará sempre, em todas as épocas, de uma fisionomia diferente, inteiramente à parte. O dandismo é uma instituição vaga, tão bizarra quanto o duelo; muito antiga, pois dela César, Catilina, Alcibíades nos dão exemplos impressionantes; muito geral, pois Chateaubriand descobre-a nas florestas e às margens do Novo Mundo. O dandismo,

O que mais se assemelha no termo atual com a filosofia de Epicuro é a crença nos valores empíricos. Isto significa que somente as experiências podem ser consideradas como verdade, elas servem de base para o discernimento entre bem e mal, portanto desaprova as leis pré-estabelecidas e os experimentos são sempre válidos ainda que sirvam para saber o que não se deve fazer.

2 George Bryan Brummel(1778-1840) , era conhecido como Beau Brummel. Adorava dizer que levava cinco horas para se arrumar e que seus sapatos eram lustrados com champanhe.Mero plebeu, estabeleceu o estilo dandi de viver e se vestir.Estudou nas tradicionais escolas de Eton e Oxford, onde a sua forma extremamente sofisticada no vestir o fez ser reconhecido entre a nobreza.Recebeu nomeações, muitas por agradar ao Príncipe de Gales, que abriu facilmente qualquer porta para Brummel ser respeitado e admirado por seu gosto refinado. A insegurança do príncipe em relação ao que vestir e de como se portar criou uma amizade forte com Brummel, que o deixava assistir a se vestir e dar nós em suas gravatas.“ Quando Byron o localizou como o segundo homem mais importante na Europa , perdendo apenas para Napoleão ,pessoas riram, mas isto não era na verdade muito distante da realidade”(MCDOWELL,1997,p.54)Sua vida regada a jogos e noites em clubes de luxo o levaram a falência e ele morreu sozinho e esquecido na França em 1840, porem sua influência se manteve duradoura na Inglaterra e no mundo. Pode-se afirmar que a vestimenta formal masculina atual é diretamente sua responsabilidade.Ainda hoje, o seu estilo é reconhecido como modo de vestir dos homens ingleses.

Brummel. McDowell.C(p.52)

tema Dandismo

No século XIX a Inglaterra era a maior potência do planeta, com forte concorrência com a França. Um período próspero para a burguesia e aristocracia britânica, que tinha em mãos a melhor tecnologia da época. O país começa a se urbanizar e se torna o berço do capitalismo.

Ainda se mantém muito dos bons costumes medievais onde é valorizado a religião e moral cristã. A mulher é uma mera geradora de filhos, que aos 16 anos entrava para a sociedade através do baile de debutantes e a partir de então passava a vida a visitar as residências de conhecidos, a tomar chá como forma de socialização.

Aos homens também era comum as visitas para o chá, porém eles poderiam ir a clubes onde mulheres os esperariam para relações extraconjugais. Eles sim poderiam entender e conversar sobre assuntos políticos, econômicos e sociais.

O dandismo é um ‘lifestyle’ totalmente machista onde o homem é superior a mulher, que só serve de fonte de prazer para o homem.

Esta superioridade masculina é uma inspiração para o perfil da mulher nesta coleção. Ela rouba estas características e assume uma postura soberana.

Neste período, detecta-se o comportamento cujo principio é se distinguir dos demais. Este sentimento é sem dúvida, uma necessidade da alma, uma espécie de sede; pois até o selvagem

tem suas plumas, suas tatuagens, seus arcos trabalhados, seus cauris e briga por miçangas. (BALZAC, 1830, p.43)

Somado a isto, estes homens estavam sempre dispostos a se embriagar de prazer, e de suas vontades próprias. Tal comportamento pode ser considerado freqüente no ser humano, visto que desde a Idade Antiga com o filósofo Epicuro1 o homem busca o prazer fundamentado no auto-domínio.

1 Contextualizado no Período em que os gregos haviam perdido a batalha para a Macedônia, Epicuro vive a perda de liberdade dos gregos, que antes dispunham de total autonomia como cidadãos.Nesta Grécia, agora multicultural, com a invasão dos povos da Macedônia, Epicuro busca a paz interior.

Com seus valores Hedonistas, ele fazia parte dos filósofos que começaram a focar na prática subjetiva e pessoal em substituição de pensamento político.Nascido em Atenas em 341 a.C. e inicialmente professor de matemática, ele abre uma escola filosófica chamada Jardim de Epicuro onde seus alunos o consideravam além de um professor, um amigo. A busca pelo prazer não se dá de forma desorientada, era uma filosofia da amizade e do prazer, baseada no auto-domínio e equilíbrio e os medos da época ( medo da morte, e o temor aos deuses) eram desmistificados.Porém o termo Hedonista, quando utilizado atualmente se refere à um caráter egocêntrico e por vezes egoísta.

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Vestimenta do ano 1815, com influência Dandi.(p.168)

Ilustração de Barbosa sobre dois dandies em 1820. McDowell.C.(p.54) Ilustração de “ Gentleman’s Herald of Fashion”, 1852. McDowell.C. (p.77)

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uma instituição à margem das leis, tem leis tão rigorosas a que estão submetidos todos os seus súditos, quaisquer que sejam aliás, a impetuosidade e a independência próprias de seu caráter. (BAUDELAIRE, 1863, p.13)

Os dândies poderiam ser definidos como pessoas sem ocupação, sua função seria contemplar o belo, e satisfazer suas paixões, que não deveriam ser confundidas com amor, pois este seria considerado uma repugnante utilidade dos que não teriam tempo livre e dinheiro de acordo com a descrição de Baudelaire. (1863)

Na intimidade, não haveria qualquer intimidade, os dândis não se deixavam tocar por nada. Nenhum sentimento seria forte a ponto de afetá-lo, e desta forma a vida tinha um único objetivo: o amor próprio.

A maneira aristocrática de se vestir consistia em cores neutras e clássicas, onde os recortes sofisticados, as roupas muito bem cuidadas, os detalhes muito bem escolhidos, eram quase sem ornamentação. Pois não se tratava de um comportamento do velho mundo onde os homens se enfeitavam tanto quanto as mulheres, mas uma manifestação da atitude moderna de se vestir. Os ombros deveriam ser largos com alcochoado nos casacos -para que parecessem homens musculosos- a cintura fina, as calças amarelas, as meias de seda, o chamois não apenas produziam uma idéia de nudez, que refletia o período clássico estatuário, mas uma forma de ressaltar a masculinidade do homem, exagerando no bojo masculino. Tudo seria muito sofisticado e sutil, diferentemente do comportamento burguês que seria totalmente espalhafatoso. As roupas e posturas dos dândies muitas vezes só seriam valorizadas por outras pessoas que também conhecessem o valor destes, pois aos tolos - cujos olhos somente procuram a ostentação barata dos novos ricos- estes valores não fazem parte de seu pobre conhecimento.

Um verdadeiro dândi, não se limitava a escolher belas roupas-estas são apenas um símbolo de sua superioridade-vestia também todo o ‘lifestyle’ que deveria condizer com a postura de alguém culto, intelectual e artístico, onde o conhecimento era tão exigido quanto as modelagens impecáveis para demonstrar distinção. Tudo o que procedesse daqueles jovens senhores deveria exalar perfeição.

Afinal, quem teria tempo e oportunidade de estudar? As especiarias exóticas, os instrumentos

musicais clássicos, a literatura eram privilégios que somente com dinheiro, tempo e talento poderiam ser desvendados e saboreados. Pois segundo Balzac (1830), o homem armado do pensamento substituiu o cavaleiro coberto de ferro da Idade Média... .

Segundo o também dândi Charles Baudelaire, não é equívoco considerar o dandismo uma religião, onde seus adeptos são todos representantes do que há de melhor no orgulho humano, a necessidade de negar o trivial. Neste período, onde a aristocracia está quase desmoralizada por conta da Revolução Francesa, que causou impactos no mundo todo, estes homens, destituídos de seus cargos, porém todos ricos encontram no dandismo sua aristocracia perdida, e nesta nem dinheiro nem trabalho, podem combater. É um segredo dos elegantes, e este segredo se deixa revelar, sobretudo na moda, que de acordo com Balzac é a opinião em matéria de roupa.

A vida elegante é a perfeição da vida exterior e material.Ou então: a arte de despender as suas rendas como homem de espírito.Ou ainda: a ciência que nos ensina a não fazer nada com os outros, mas aparentando fazer tudo

com eles.Mas talvez melhor ainda: o desenvolvimento da graça e do gosto em tudo aquilo que nos é

próprio e nos rodeia.Ou mais logicamente: saber orgulhar-se de sua fortuna. (BALZAC, 1830, p. 32)

As residências deste período continham o número de empregados que o dinheiro do homem da casa pudesse pagar e a eles era dito “Não estou pra ninguém” quando o anfitrião não queria receber visitas para o chá.

A religião ainda domina a mente de muitos, mas a sociedade vive um processo de mudança onde as leis da igreja começam a ser questionadas.

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Wilde de pé à esquerda em 1875, seu primeiro ano em Oxford. Ellmann.R.(p.52)

Wilde em seu segundo ano em Oxford, 1876. Ellmann. R.(p.52)

Ellman R. ( p.178)

Caricatura de Oscar Wilde por Thomas Nast, publicada na Harper’s Bazaar, 10 de junho de 1882.McDowell.C.(p.83)

Wilde e Lorde Douglas em Oxford, cerca de 1893. Ellmann R. (p.371)

Wilde morto fotografado por Maurice Gilbert, 30 de novembro de 1900. Ellmann R. (p.431)

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Oscar WildeNascido em 1854, em Dublin, na Irlanda o escritor, poeta e dramaturgo se dizia socialista e

insinuava ser homossexual.Seus pais eram, Lady Speranza Francesca Wilde e Sir William Wilde.Desde a infância, Wilde demonstra gosto apurado:A carta revela que o gosto por roupas deste menino de treze anos era o de um dândi quando ele

distingue suas camisas vermelha e lilás das de Willie, cujas cores não mereciam menção. Sua predileção por vermelho e tons afins era partilhada pela mãe, que, segundo relatos, usava vestidos vermelhos mesmo quando já passara dos sessenta anos e a quem um observador de Dublin, Lord Rathcreedan, afirma ter visto ostentando um xale encarnado. (ELLMANN, 1988, p. 16)

Wilde já incomodava com sua personalidade contestadora, somado à sua devoção à estética e aparência. Talvez o mais inaceitável para muitos era que ainda por cima se tratava de um estudante brilhante, conquistador de bolsas e prêmios.

De alguma forma, as leituras nas quais Wilde se alimentava, tornaram Dublin um tanto provinciano para ele e em 1875, Wilde parte para a tão cobiçada universidade de Oxford na Inglaterra.

Oxford ainda se assemelhava a Atenas e tudo o mais, a Tebas. A coisa mais linda da Inglaterra, disse Wilde, falou da “peculiar atmosfera de Oxford – a atmosfera de liberdade para zelar pelas coisas do intelecto, assegurada e protegida pelo mecanismo que, em si mesmo, é uma satisfação para a sensibilidade”. Wilde expressou liricamente este aspecto: disse que a estada em Oxford foi, em toda a sua vida, “o período mais semelhante a uma flor”. (ELLMANN, 1988, p.44)

Seguiu entusiasmado com a descoberta de livros e autores que posteriormente estavariam presentes nas idéias de suas obras. Porém, quando achava que deveria se opor, poderia inclusive ofender algum professor, logicamente sempre com uma inteligência e elegância incorrigíveis.

No terceiro ano, adotou uma postura mais arrogante e impertinente em relação às autoridades de

Oxford, e em sua biografia está claro uma insolência à um superior seu, Sr. Allen.

O afável diretor Magdalen, dr. Bulley, perguntou: “O que acha da aplicação do Sr. Wilde, Sr. Allen?”. Allen respondeu, colérico: “O Sr. Wilde falta às minhas conferencias sem justificar-se. Sua aplicação é extremamente insatisfatória”. “Não é bem assim que se trata um cavalheiro, Sr. Wilde”, disse Bulley, vendo uma oportunidade de transformar rebeldia em má educação. “Mas senhor diretor”, disse Wilde, não igualmente disposto, “o Sr. Allen não é um cavalheiro.”Bulley mandou-o sair do auditório. (ELLMANN,1988,p.71)

Desde então o escritor já compreendia que, o mais importante é criar uma lenda em torno de si e persistiu em seu esteticismo.

Em 1879 se muda para Londres onde divide um quarto com Frank Miles com o pouco dinheiro que havia deixado seu já falecido pai.

Em 1881, publica seu primeiro livro de poemas o ‘Poems’, que fora considerado “constrangedor e perigoso” (ELLMANN, 1988, p.139) aos olhos do pai de Miles, o que fez Wilde deixar a casa.

Três anos depois Wilde, já casado com Constance Lloyd, escreve volumes para crianças, que originalmente foram escritos para seus filhos.

É de 1891 seu único romance escrito, O retrato de Dorian Gray, que merece nossa atenção por, se tratar do tema principal nesta coleção. Sua narrativa é incrivelmente sensual e Hedonista.

Gautier preconizara um esteticismo glacial —Wilde não aderiu a ele, mas por vezes simulou com prazer ter aderido. Havia muito rejeitara o lema da arte pela arte. Mas percebeu que a história do homem e seu retrato continha grande parte dos ingredientes que queria explorar. “Tornar-se uma obra de arte é a finalidade da vida”, escreveu.( ELLMANN, 1988, p.274)

Wilde depositou no romance a reunião de diversas influências que andara bebendo:Entre os inúmeros livros apresentados como fontes de O retrato de Dorian Gray estão La peau de

chagrin ( A pele de onagro), de Balzac; O médico e o monstro, de Stevenson; Fausto, de Goeth e Sinfonia, de Meinhold. A lista poderia ser multiplicada indefinidamente. Como diz Yeats, “obras de arte geram obras de arte”. Mas nenhuma obra em particular comporta comparação exata. Wilde encontrara um mito para o esteticismo. O mito da imagem vindicativa, uma arte que se volta contra seu modelo como um filho contra o pai ou o homem contra Deus. Começara com um tema conhecido: “No começo parti da ideia de um jovem que vende sua alma em troca de eterna juventude- uma ideia há muito presente na história da literatura, mas à qual dei nova forma” , disse ele em uma carta ao editor sobre o livro. A nova forma estava em localizar o tema na controvérsia contemporânea da arte versus vida.

Retratos, assim como espelhos, constituíam, portanto, motivos para a sua dialética. ( ELLMANN, 1988, p.275)

Após a publicação do romance, o escritor conseguiu a atenção desejada porém desagradou a vários críticos que o acusaram de imoral e de expor nas personagens do livro sua própria personalidade.

Wilde, assim como os outros homens já citados neste trabalho era mais um inconformado com a realidade da vida, sobretudo com a sociedade.

Em suas obras geniais “desafia e nossos conceitos e preconceitos com sua provocativa inteligência”(ELLMANN, 1988)

Caiu em desgraças por se descobrir homossexual e em 1905 escreve ‘De Profundis’ em ressentimento para com seu amante Lorde Douglas, quando estava preso por acusações do pai de lorde Douglas de cometer atos imorais com rapazes.

Em 1897 Wilde estava arrasado, quando adotou o nome de Sebastian Melmothe e foi embora para a França onde escreveu seu mais famoso poema, A balada do cárcere de Reading. Três anos depois, morre no exílio em Paris.

Wilde é um dos fundadores do pensamento moderno e um artista distante do tempo, suas obras continham valores que ofendia a muitos moralistas poderosos da época.Em conseqüência disto,morreu em solidão, distante de todos, amigos, conhecidos e familiares.

A esposa manteve-o a distância, e então morreu. Ele não sabia do paradeiro dos filhos.“Há algo de vulgar em todo êxito”, disse Wilde a O’Sullivan. “Os homens mais notáveis fracassam,

ou parecem fracassar”. Herdamos sua luta para a realização de ficções supremas na arte, para associar arte com mudança social, para unir impulso individual e impulso social, para impedir que o excêntrico e o singular sejam saneados e padronizados, para substituir a moral da severidade pela solidariedade. Ele pertence mais a nosso mundo do que ao da rainha Vitória. Hoje, protegido contra ignonímia, seus melhores escritos confirmados pelo tempo, Wilde ainda se nos impõe, personalidade superior, rindo e chorando, com parábolas e paradoxos, tão generoso, tão divertido e tão verdadeiro. (ELLMANN, 1988, p.505-507)

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O Hedonismo em ‘O retrato de Dorian Gray’

Os personagens relevantes representam um tripé de personalidades. Lorde Henry Wotton é o grande hedonista, superficial e promíscuo, que influencia Dorian de 16 anos, que por sua vez é ingênuo e encantador. Basil Hallward pintor de bom caráter, é amigo de lorde Henry, que apresenta os dois em seu atelier quando Dorian chega para posar para uma de suas telas.Ambos Dorian e Henry se revelam dândies, no sentido mais puro da palavra.

Lorde Henry ganha grande atenção na obra, que possui uma série de diálogos, permeados de suas idéias que priorizam sobretudo a juventude em sua beleza e os prazeres e experiências, assim, “passa os dias a dizer o inacreditável, e as noites a fazer o improvável” (WILDE,1891 p.127). No momento em que conheceu Dorian, Henry tenta corromper sua dócil e ingênua personalidade: “Resista, e a alma adoecerá, na saudade das coisas que proibiu a si mesma, no desejo por aquilo que suas leis monstruosas tornaram monstruoso, ilegal” (WILDE, 1891, p. 25). Henry tem experiência e poder persuasivo para conseguir seu objetivo, enquanto Dorian embora ainda ingênuo possua a porta que Henry pretende abrir. Afinal por que se prender as regras pré-estabelecidas e viver uma vida de rotina, sem experimentos?

A idéia de Lorde Henry de que a juventude não é eterna, que deve ser vivida e aproveitada enquanto não se está velho, enrugado e solitário foi insistentemente predominante em cada resposta dada aos questionamentos feitos pelo pequeno Dorian.

Para Lorde Henry e posteriormente para Dorian a beleza deveria ser apreciada inclusive por seu caráter existencialista de pensar, já que não se tem certeza de nada, do que será depois da vida, deve-se ter beleza, sobretudo deve-se contemplar a arte pois na arte nada se nega e assim deve-se viver.

Basil, por sua vez, era bom homem e amigo sincero de Dorian, pelo qual mantinha uma admiração platônica:

É claro, eu faço tudo isso, mas para mim, ele é muito mais que um modelo, que uma pose. E não posso dizer que esteja insatisfeito com o que fiz dele, e nem que a beleza dele seja tanta que seja impossível expressá-la. (WILDE, 1891, p.16)

Porém, quando o rapaz ouve as ponderações de Lorde Henry sobre a beleza, seu corpo e mente instantaneamente reagem com sensações:

E por quase dez minutos ali permaneceu, imóvel, lábios entreabertos, olhos vívidos, estranhos. Nele, a consciência longínqua de que influências inteiramente novas estavam a trabalhar dentro dele, e que pareciam originar-se no próprio interior. As poucas palavras que dissera o amigo de Basil, palavras faladas ao acaso, sem dúvida, carregadas de um paradoxo obstinado, tocaram alguma corda secreta que, antes jamais tocada, agora porem, ele sentia, vibrava e latejava em pulsações singulares. (WILDE, 1891, p.25)

Dorian viu então que aquelas palavras faziam muito mais sentido do que seus valores comuns nunca antes questionados. Por fim, se convence de que não há nada mais valioso nesta vida do que ser belo e se aproveitar deste privilégio. Decide que a partir daquele dia viverá em função deste valor:

Como é triste! Eu vou ficar velho, horrível, pavoroso. E este quadro permanecerá jovem, para sempre. Não envelhecerá um dia além desse dia especifico de junho... Ah, se fosse o contrario! Se fosse eu a permanecer jovem para sempre, se fosse o quadro a envelhecer! Eu daria... Eu daria tudo por isso! É isso mesmo, não há nada neste mundo que eu não daria em troca! Daria até mesmo minha alma! (WILDE,

1891, p.33)

Curioso o poder de Lorde sobre Dorian, seria desta forma, ele um psicanalítico de outra vertente, onde reinara o Hedonismo? A transformação de Dorian foi o resultado deste experimento. Funcionando como verdadeiro condutor das sensações que estariam por vir em Dorian, o Lorde faz do garoto seu discípulo e o faz com a mente, construindo argumentos muito bem elaborados de tal forma que Dorian se entrega nesta nova filosofia de vida.

O retrato de Dorian Gray é uma reflexão sobre o comportamento humano? A obra reflete sobre a monogamia, a felicidade, a religião e o prazer.

Gray é um jovem lindo, que esbanja vivacidade e se torna desejável não somente para o sexo oposto. A todos interessa ele, homens, mulheres, jovens e idosos querem estar em sua companhia, pois além da beleza e juventude, o rapaz parecia flutuar em sua própria sedução. Seu interesse pela arte e pelo intelecto o torna ainda mais interessante, pois a beleza não vem só de fora, ela se alastra pela corrente sanguínea até a pele, cabelo e tudo que pode ser visto na superfície.

Wilde se debruça sobre a personalidade de Dorian e constrói um perfil tão genuíno que se torna plausível inclusive na psicanálise. A sensação de potência, a paixão pelas coisas impossíveis (atiçada em Dorian pelo Lorde) e a sede de querer chegar até as últimas consequências fazem dos medos e inseguranças partes mínimas no ser, tão mínimas que não merecem atenção. Por exemplo, o medo de negar o amor com a mais pura convicção de que ele não é necessário e de que o gozo individual basta. Embora a relação a dois seja tão linda, ela acaba por competir com o amor próprio.

A obrigação de dividir seus sonhos e os seus dias com outra pessoa torna o amor insuportável, embora a princípio o mundo pareça mais belo com a presença deste amor destinado a um único ser.

Mas será então a negação do amor companheiro e monogâmico a solução para uma vida mais feliz e liberta? Isso apenas se responde correndo o risco, inclusive este torna tudo mais saboroso.. O inusitado se torna freqüente e a rotina já não existe.

Dorian sentiu isso quando negou o amor de Sibyl Vane, sentiu vontade de ser livre, pois estar ao lado da moça linda e encantadora deixou de ser atraente quando ela decide parar sua vida para viver somente daquele amor. Sibyl, depois do encanto perdido, parecia monótona e de repente estar sozinho vira muito mais prazeroso. Logicamente ele foi influenciado mais uma vez por Lorde Harry, porém mais uma vez o Lorde havia aberto uma porta existente em Dorian, que se mantinha fechada.

E sim, estar no amor pode ser encantador, uma época de sonhos, onde tudo parece perfumado de flores. Um tempo em que o ser vibra com o sentimento mais puro existente, pois o amor não se compra não se força, não se inventa, a sensação de amar é única e estar apaixonado pode tornar a vida menos dura. Mas quando ele acaba a dor é tanta que o desejo é nunca ter vivido o amor, nunca ter conhecido aquela pessoa, nunca ter se entregue de corpo e alma, pois agora o corpo e a alma sofrem, como se fosse este, o preço de amar.

Mas Dorian se sentiu revigorado por ter consciência de que fez algo que somente os fortes conseguem, afinal uma vida a dois é confortável e muitos poderiam aconselhá-lo de que este seria o caminho, a receita para a felicidade, porém ele prefere seguir o próprio caminho, onde ninguém ainda andou e isso o torna ainda mais forte e atraente.

Entretanto, ao chegar em casa, Dorian vê-se no retrato com uma leve expressão de crueldade no rosto “Com a clareza de quem olha no espelho depois de ter cometido algo horrível” (WILDE,1891, p. 100).

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O rapaz achou estranho e em meio àquele sentimento de glória, começou a pensar no que havia feito e de como tinha arrasado o coração da pobre mocinha. Tomado pelo remorso e pela estranha percepção que o quadro agora oferecia ele se lembrou do que havia dito no atelier.. Mas será possível? O seu desejo ter se realizado assim como uma magia sobrenatural? Olhou diversas vezes e a expressão de crueldade ainda era presente em seu rosto pintado. O rosto que ele antes invejava por ser eternamente jovem e belo agora o assustava com o reflexo de suas ações: “Mas o quadro o observava, aquele rosto lindo, transfigurado, o sorriso cruel. Para cada pecado que cometesse, viria uma mancha sarapintar, danificar aquela formosura” (WILDE, 1891, p.101)

Cercado por coisas mortas e inorgânicas, sozinho com móveis e o quadro, Dorian reflete e de repente Lorde Henry chega para lhe dar a notícia de que Sibyl havia se matado. Logo agora que havia decidido voltar para ela, muito por conta do medo de ver sua alma apodrecer, é verdade, mas ele havia decidido esposar a moça e viver o amor em sua pureza.

Agora chocado com a notícia, posteriormente conformado e inclusive maravilhado com aquele romance que havia terminado de forma tão romântica e teatral.

Dia após dia, influenciado por Henry ou por sua própria já modificada consciência, Dorian respondia a seus remorsos com conclusões semelhantes ao que o Lorde responderia. E então começou a notar que:

Aquilo que o verme era para o cadáver, seus pecados o seriam para a imagem pintada na tela. Iriam desfigurar-lhe a beleza, carcomer-lhe a graça. Mesmo assim, a coisa continuaria a viver, estaria sempre viva. (WILDE, 1891, p129)

Dorian, como o bom ser espetacular que era, começou inclusive a pensar que este fato poderia ser positivo. Que bom que teria algo para medir o nível de mau caráter que sua personalidade esta tomando, se sentiu até privilegiado por isto. Mas a cada evolução mental que Dorian chegava, seu perfil alcançava mais a crueldade. A dualidade da beleza atribuída a um caráter malvado se assemelha com a idéia do anjo caído, Lúcifer que era o anjo mais belo do céu.

Decidiu esconder o quadro de si mesmo e de todos, lembrou-se de um quarto de estudo que freqüentava em sua casa quando garoto, pois o ambiente era perfeito, a salvo dos olhos de todos. Afinal não há nada mais vergonhoso que os segredos feios de alguém venham a ser revelados em publico, é sempre melhor mantê-los guardado para si, escondidos no mais profundo esquecimento, e fingir que aquilo não aconteceu.

Gray perde o controle e embora sua reputação comece a decair na sociedade, todos se mantinham maravilhados em sua presença e tudo o que era comentado sobre a sua conduta parecia absurdo vindo de uma figura tão apaixonante. Ele se torna um ícone da moda em Londres, ao seu estilo dândi estava sempre muito bem vestido e antenado com as novidades em todos os setores. Neste período freqüenta clubes de luxo em Londres e sua casa também se torna recepção para artistas e pessoas da alta sociedade, claro, sempre na companhia de Lorde Henry.

Estava por vir, como profetizara Lorde Henry, um novo Hedonismo, que viria recriar a vida, e salvá-la de um Puritanismo severo e inconveniente que experimenta, bem em nossos dias, curioso renascimento. Teria sua utilidade para o intelecto, é claro; mas jamais aceitaria qualquer teoria ou sistema que envolvesse o sacrifício de qualquer modo de experiência passional. O objetivo, na verdade, seria a experiência em si, e não os frutos da experiência quer fossem doces ou amargos. Do ceticismo que embota os sentidos, e da devassidão vulgar que os entorpece, não conheceria nada. Ensinaria, sim, ao homem, concentrar-se nos momentos de uma vida que não passa, ela mesma, de um momento. (WILDE, 1891,p.141)

Dorian seguiu na vida com aquela sede insaciável de conhecer a tudo e a todos, sempre sendo bem recebido e se fortalecendo a cada sorriso que conquistava. Para ele, os sorrisos que não conseguisse conquistar simplesmente não mereciam atenção, com certeza deveriam se tratar de pessoas que não sabem perceber as coisas belas da vida, portanto nem valeria a pena trocar uma palavra. Sua personalidade estava deslumbrante, ao olhar para o sol Dorian deve ter se perguntado se um dia conseguiria chegar ate lá, por mais que parecesse impossível, ele acharia que graças a sua existência um dia alguém iria criar tecnologias suficientes para esta realização. O rapaz começou a olhar a vida como uma verdadeira escola onde tudo deve ser aprendido e experimentado e, levando muito a serio as provas que esta escola lhes dava, enxergava em cada situação inusitada, uma forma de superação. Sentiu-se cada vez mais auto-suficiente e a possessividade com o próprio eu aumentava, de forma que ninguém poderia possuí-lo, apenas ele próprio era dono de si.

Pode-se imaginar que se Dorian vivesse em tempos de hoje, ou talvez na década de 1970 em diante, ele teria socializado com os rock stars, teria vivido esta contestação aos valores morais, claro, não iria se comprometer em ganhar inimigos, mas gostaria de participar desta revolução e ver de perto como agia cada artista.

Porém, paralelo a todo este sentimento grandioso Dorian por vezes se pegava em momentos de terror pelo que ele sabia sobre sua alma, e tudo que havia adquirido para adornar sua casa era uma forma de fuga do que ele especulava que fosse acontecer com seu espírito.

Com o tempo, o rapaz foi ganhando má reputação, e como se sabe, na sociedade os escândalos tendem a espalhar-se rapidamente. As pessoas começaram a evitá-lo e todos os companheiros que haviam caído em desgraça o responsabilizavam por isto.

Desta forma, quando Basil lhe aconselha com lições de moral, ele se aborrece e tira a vida de seu amigo, posteriormente obrigando outro amigo a se livrar do cadáver, fato este que causa o suicídio deste amigo.

Depois, abominou a própria beleza, atirou o espelho no chão e, com o salto, estilhaçou-o em lascas prateadas. A beleza o arruinara, a beleza e a juventude por que tanto suplicara. Contudo, a depender destas duas coisas, a vida ter-lhe-ia sido livre de mácula. Pois a beleza não fora senão uma máscara, e a juventude, uma zombaria. O que era a juventude, na melhor das hipóteses? Uma época de tempos verdes, imaturos, de tempos de estados de espírito superficiais, de pensamentos doentios. Por que vestira a indumentária da juventude? Ela o estragara. (WILDE, 1891, p.233)

Decidiu matar a obra do pintor que simbolizava toda a maldição de sua história e com a mesma faca que matou Basil, Dorian esfaqueou o quadro. Neste momento ouviu-se um grito “de uma agonia tão pavorosa”, descreve Wilde, que acordou os empregados. Dorian estava ao chão, morto com o rosto que habitava o quadro, a semelhança da alma de Lúcifer e no quadro, o rosto que todos acreditavam ser o de Dorian.

Ilustração de William Blake, sobre o diabo(belo) incitando os anjos rebeldes.

Link,L(p.65)

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Patrick Bateman incorporado pelo ator Christian Bale no filme de 2000 inspirado na obra de Ellis.

http://www.bluetomato.co.uk/news/the-novel-diner-experiencing-bret-easton-ellis%E2%80%99-prose-on-the-palate/attachment/patrick-bateman-american-psycho-525x393-2/

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O psicopata Americano

A obra de Wilde relaciona-se com o romance O Psicopata Americano3·, de Bret Easton Ellis 4, lançada um século depois. Patrick Bateman, o personagem principal, é um milionário executivo de 27 anos que assim como Dorian gosta de aproveitar sua beleza e riqueza, sempre regando tudo com muita bebida, mulheres e no caso de Bateman, a cocaína. Esta droga tem uma particularidade característica de seres violentos e narcisista deixando o usuário consciente, diferente de outras drogas que eliminam a consciência e elevam a sensibilidade emotiva. Em Bateman isto tudo fica claro.

Este livro é com certeza bem mais violento e macabro que o de Wilde, mas ambos partem do mesmo princípio da beleza atribuída a um caráter duvidoso e da falta de preocupação com os outros.

Bateman é o Dorian Gray dos anos 1980. Ele faz questão de ser gentil com todos, e muitas vezes discursa “em prol” da ética e da moral. Sempre sorrindo, o rapaz distribui sua beleza sempre que possível e também se interessa por musica e arte. Ambos são machistas, narcisistas, violentos, possuem vida social ativa e a alma apodrecida na carne. Patrick também gosta de ter em sua casa tudo de melhor e mais

3 Sátira a sociedade �Yuppie’( Young urban Professional) , lançado em 1991,trata-se de um homem de 27 anos impecável na aparência, habitante de Nova York , com o trawbalho em Wall Street que, quando entediado escolhe vítimas para matar.Tudo se passa nos anos 80, em meio à banalidade da violência, do consumo e da sensação de vazio da daquela geração.

4 Bret Easton Ellis nasceu em 1964 em Los Angeles. É um dos mais polêmicos escritores da atualidade. Em seu trabalho, três livros foram usados para o cinema, incluindo O psicopata americano interpretado por Christian Bale. Bret tem uma escrita pesada e muitas vezes repulsiva e em sua maioria, cria personagens incrivelmente individualistas e egoístas, sem qualquer consciência moral.

tecnológico, viciado em vídeos, os seus preferidos são sobre sexo explícito ou violência.

Neste momento, o ser revela-se no extremo do egoísmo. A paixão consiste no poder em tornar homens em cadáveres, e esta em nada se afeta, ainda que seja sustentada por aquelas vidas que foram tiradas.

O personagem vive de monólogos internos, e ao mundo externo pouco diz o que realmente pensa. Ele está sempre observando ao seu redor, aos bens materiais dos outros, se são superiores ou inferiores aos seus. Até suas mulheres devem conter atrativos materiais, ou sendo perfeitas fisicamente ou possuindo peças caras e raras.

Quando sua percepção lhe oferece qualquer risco de concorrência, ele decide matar. Decide que qualquer um ofereça o risco dele se sentir inferior, deve morrer.

Bateman também termina um relacionamento, embora nunca tenha se mostrado entregue, apaixonado. Sempre que vai falar em público escolhe um tom aveludado para a sua voz e temas que insinuam um bom caráter, para seus assuntos. Extremamente competitivo, ele tem sempre de ser o melhor e se alguém põe em risco esta sua posição, esta pessoa logo vira alvo de seus planos macabros.

Sua sede de sangue noturna começa a deslizar para seus dias, alimentando um enorme ódio dentro de si sempre que enxerga um motivo para isso, podendo ser este um cartão de visita que concorreu com o seu em elegância e originalidade.

Patrick também freqüenta lugares sórdidos em busca de mendigos e prostitutas para humilhar, ferir e matar. Tratam-se – Bateman e Gray- de dois personagens elevados ao extremo da sofisticação, sobretudo na moda e que, habitantes de cidades grandes - Bateman em Nova York e Gray em Londres - e símbolo da evolução tecnológica de suas épocas, se assemelham em sua dualidade e hipocrisia de caráter.

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Frank Thomas. Conceito de Criação.vanité Double. Raise Magazine Photo.Paris,10 temporal Issue, pag15, numero 10, dezembro de 2011 / janeiro 2012

SEMENOV, A. Assombrações digitais. Disponível em:http://zupi.com.br/assombracoes_digitais/ David Bowie .Disponível em: www.geeksofdoom.

com/2012/05/26/remembering-david-bowie-guitarist-mick-ronson-on-his-birthday/

David Bowie. Disponível em:http://rockline.mtv.uol.com.br/membro-do-spiders-from-mars-fala-sobre-ruptura-com-david-bowie

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A coleção Conceito de Criação

O quarto está pleno de substituições. O computador. A televisão. Os livros. A cama é solitária. Alguns acompanham e dividem toda a intimidade. O Celular. O Ipad. As Redes Sociais.

A vida está cheia de eu. Vazia do outro.O anonimato é coletivo. As intenções, individualistas.Alguns se olham, ninguém se vê. Eles se tropeçam, nos atropelamos. As relações são temporais.Mas isso não perturba, agrada.

As raízes? A palavra chave é tempo. O ser humano em sua condição existencial. Rastros de um presente.

A Grécia Antiga doa o Hedonismo, o discernimento entre bem e mal se definem a partir das experiências. O maior bem é o prazer e o maior erro, o tédio. O mais importante já é o ‘EU’.

A Inglaterra do século XIX doa o Dandismo, este bebe no Hedonismo.A maior obsessão? A aparência, a vaidade, o egoísmo, o gozo individual. A energia sexual é lei.A monogamia não é necessária, não é viável, não é querida.A figura é monstruosamente bela e impecável. O caráter? Ah... Este não merece qualquer atenção.Nada afeta, nenhuma relação é íntima. Ah! sim. Tem o amor! O gigantesco amor. Este sim é

influência diária, ninguém deve se intrometer nesta relação. Ninguém pode exigir amor, sua grandeza só cabe no EU. Este Eu, que é ciumento, e que ninguém pode possuir além dele próprio.

O esteta, Oscar Wilde é real, ele vive. O dândi Dorian Gray é fictício, ele vive! Gray recebe o maior presente de Wilde, beleza e juventude eterna.

Sua alma? Apodrece. O quadro que leva sua imagem, antes paralisada e imutável,agora se modifica, apodrece. O intacto se transfere para Gray. A crueldade reina.

A dualidade é toda. A face, ambivalente.A figura permaneceu monstruosamente bela e impecável

No retrato dos anos 1980 com O psicopata americano, a história se repete. Em 2012 a historia se repete. Repetir-se-á!

Um tanto violento um tanto psicopata.Sangue. Hipocrisia. Beleza e juventude.Patrick Bateman faz uma bela representação de Dorian Gray, em sua época, em seus ternos risca

de giz impecáveis e luxuosos assassina com muito prazer suas vítimas. - Quem poderia imaginar? - Alguém que na sociedade é tão exemplar?

O eu não sente nada, então os assassinatos servem para provocar algum tipo de sentimento pois o eu é superficial demais.

Os assassinatos cometidos por ambos os personagem são a falta de limite desse egoísmo exacerbado.

A agressão é uma pequena metáfora para a indiferença com o outro.A falta de pudor recebe outra ótica. É a ausência da hipocrisia.

O tecido por si só já é uma pele fria, que não se emociona.O couro de boi é escolhido para este ser que se esconde numa segunda pele.

O metal é a maior representação de frieza, este não cede ao movimento do corpo, e foi modelado à base de fogo, e marteladas.

As roupas são sempre fechadas e com detalhes no centro, sinal do egocentrismo.A gola, de inspiração nos dândies tem sua altura em reflexo da afetação e superioridade,

dificultando o olhar para os lados, para o outro.O fio de sutura médica, utilizado para costurar a pele humana se origina das agressões, traduz-se

no fio preto utilizado para adornos nestas silhuetas de origem masculinas.Os tons são neutros, elegantes e clássicos: vermelho, vinhos provenientes do sangue derramado,

azul marinho, exemplo máximo da elegância e um bege com um toque de amarelo, a cor mais utilizada na época dos dândies.

David Bowie e Mick Jagger podem ser encontrados nos detalhes, por conta de suas personalidades, e de seus personagens na música em seus momentos de auge. Eram dândies, jovens sedutores, distintos e inigualáveis, e superiores não somente na estética que apresentavam.

Os pés recebem plataformas altíssimas, de inspiração em Ziggy Stardust e também representando esta superioridade.

Bengalas surgem em tamanho artificial para estes seres que se tornaram tão distintos que parecem de outro planeta, assim como Ziggy.

As referências são todas masculinas, pois o homem sempre exprimiu superioridade e força, mas é a figura feminina, orgulhosa e vingativa que rouba estas características, e toma para si esta soberania aristocrática.

Segmento de moda: alta costuraPúblico consuidor: mulher, de 20 a 40 anos, classe A e B

Imagens de referenciaTodas as imagens contidas na temática e pesquisa mais estas“Eles se tropeçam, nos atropelamos”(referente a foto abaixo)

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Cartela de materiais

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Silhuetas

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Looks

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mapa da coleção

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mapa dos desenhos técnicos

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Acessórios

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confeccionados

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Fotos do processo de procução

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Fotos do lookbook

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Fotos conceito

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Ao inicio da pesquisa, a sensação era de entusiasmo, parecia que a vida dedicada a si mesmo era a melhor opção. O retorno que se tem, somente alimenta esta paixão por si próprio. A sensação é muito prazerosa, não se pode negar, o espelho vira seu melhor amigo.

No decorrer das experiências, surge o outro lado, a outra face da moeda. Esta, já não parece tão saborosa, existe remorso, solidão, desespero, ansiedade e outras sensações negativas assim como acontece com Dorian e Bateman no fim do contos.

Portanto o que antes era uma vontade de seguir o hedonismo extremo, como ideal de vida se transformou numa vontade de demonstrar este outro lado, concluindo que talvez a melhor maneira seja o equilíbrio entre a paixão por si e a amizade pelo outro.

Sim, é verdade, este mundo desde sempre e cada vez mais faz os indivíduos serem cada vez mais isolados e não uma sociedade unida. Cada um é por si, e o planeta é inteiro uma verdadeira selva onde o mais forte sobrevive e reina.

Cabe à cada ser aqui, escolher que resultados deseja obter, a partir de suas escolhas. O hedonismo parece o mais fácil, mais prazeroso, mais favorável, viva-o e decida se vale realmente a pena passar a vida amando somente a si próprio.

As imagens geradas são realmente lindas, assim como as já existentes e responsáveis pelas influencias, mas a intenção termina por satirizar este ser que é tão lindo por fora e tão podre por dentro. Com certeza pode-se observar muita coisa que aqui não foi citado, isso depende do repertório de cada observador,mas os pontos cruciais foram aqui explicados, e tudo o que as gerou se identificam no perfil do ser superior e incrivelmente belo.

Considerações Finais

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Referências

WILDE, O. O retrato de Dorian Gray. Porto Alegre: L&PM, 2011.

FREUD,S. O mal-estar na cultura. Porto Alegre: L&PM,2010.

GAY,P. A experiência burguesa da Rainha Vitoria a Freud:a educação dos sentidos.São Paulo: Companhia Das Letras , 1988.

ELLIS, B. O psicopata americano.Porto Alegre: L&PM,2011

FROMM, E. Anatomia da destrutividade Humana. Nova York: Holt,Rinehart and Winston,1973.

McDOWELL, C. The man of Fashion. Londres: Thames and Hudson, 1997.

LINK, L. O Diabo A mascara sem rosto.Tradução de Laura Teixeira Motta .Sao Paulo: Companhia das Letras ,1998.

FUKAI,A. Fashion A History from the 18th to the 20th Century Volume I: 18th and 19th Century Los Angeles: TASCHEN,

MEWALDT, J. O Pensamento de EPICURO. São Paulo: IRIS, 1960.

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