Heidegger

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06.05.2015 – Heidegger 2 Na última aula falamos da filosofia do direito e da filosofia política de Heidegger. Fizemos críticas. Hoje, como em Hegel, vamos tentar localizar a boa filosofia e a questão da justiça de Heidegger não em sua filosofia política mas noutro foco de sua teoria, na obra Ser e Tempo. Em 1927 surge na Revista de Husserl – Anuário de Filosofia e Pesquisa Fenomenológica – a obra Ser e Tempo. A obra é dedicada a Husserl, fundador da fenomenologia. Nessa obra, contudo, ele dialoga muito com um autor hermeneuta chamado Dilthey. Dilthey, a partir dos românticos, disse que todas as ciências humanas são hermenêuticas. Heidegger fala que não é apenas a ciência humana que e hermenêutica – O SER HUMANO É HERMENÊUTICO. Quando o juiz interpreta a lei, ele interpreta o dasein a existência do homem. Os gregos falavam que a existência do homem, o dasein, era a uzia, a permanete. Heidegger percebeu que o ser humano (ente) deve ser entendido não na metafísica, mas na FÍSICA de Aristóteles. Lá ele diz que o ente humano é energia, não é uzia, permanente. SER E TEMPO – INTERPRETAÇÃO TEMPORAL DO HUMANO. O homem não é uzia, permanente, não é eterno, não tem quma alma eterna. Ele é um ser temporário, porque está ligado ao conceito aristotélico de energia. Por isso Hannah Arendt diz que Heidegger interpreta Platão corretamente. Platão tem os dois conceitos de verdade – Veritas – adequação – esse conceito é adaptado ao ser humano eterno, dogmático, que tem uma alma eterna. É o ser humano da tekné. O ser humano temporal, da energia, é o ser humano do acontecimento, sem tekne, sem seguir regrinhas, e o ser humano da verdade como aletheia, como DESVELAMENTO. De Husserl, Heidegger aprende a fenomenologia. Em 1904, Husserl escreve as ideias para uma fenomenologia. Lá ele diz que existe o método da generalização e o método da formalização. O que Heidegger percebe em Husserl é que sua técnica racional é perfeita, mas ele não viu que às vezes você usa de forma diferente a generalização e a formalização: joga-se com os métodos (ver conceito de jogo em Gadamer). Em 1921 ele escreveu a Fenomenologia da Vida Religiosa. Ele usou essas bases para descrever a vida religiosa. Ele fez uma hermenêutica da facticidade religosa dos primeiros cristãos. Lá ele descobriu, vejam só, a teoria da moldura de Kelsen. Lá ele viu que Paulo, quando se dirigia àquelas comunidades primitivas, ele falava “preparem-se que o Messias aparecerá como um ladrão da noite, num piscar dos olhos (augenblick)”. (Isso está em Kierkegaard – Heidegger é 90% Kierkegaard) Platão tem um conceito parecido, o de repente. Mas Kierkegaard dizia que Platão não compreendia a temporalidade correta para compreender o homem.

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06.05.2015 Heidegger 2Na ltima aula falamos da filosofia do direito e da filosofia poltica de Heidegger. Fizemos crticas. Hoje, como em Hegel, vamos tentar localizar a boa filosofia e a questo da justia de Heidegger no em sua filosofia poltica mas noutro foco de sua teoria, na obra Ser e Tempo.Em 1927 surge na Revista de Husserl Anurio de Filosofia e Pesquisa Fenomenolgica a obra Ser e Tempo. A obra dedicada a Husserl, fundador da fenomenologia. Nessa obra, contudo, ele dialoga muito com um autor hermeneuta chamado Dilthey.Dilthey, a partir dos romnticos, disse que todas as cincias humanas so hermenuticas. Heidegger fala que no apenas a cincia humana que e hermenutica O SER HUMANO HERMENUTICO. Quando o juiz interpreta a lei, ele interpreta o dasein a existncia do homem.Os gregos falavam que a existncia do homem, o dasein, era a uzia, a permanete. Heidegger percebeu que o ser humano (ente) deve ser entendido no na metafsica, mas na FSICA de Aristteles. L ele diz que o ente humano energia, no uzia, permanente.SER E TEMPO INTERPRETAO TEMPORAL DO HUMANO. O homem no uzia, permanente, no eterno, no tem quma alma eterna. Ele um ser temporrio, porque est ligado ao conceito aristotlico de energia. Por isso Hannah Arendt diz que Heidegger interpreta Plato corretamente.Plato tem os dois conceitos de verdade Veritas adequao esse conceito adaptado ao ser humano eterno, dogmtico, que tem uma alma eterna. o ser humano da tekn.O ser humano temporal, da energia, o ser humano do acontecimento, sem tekne, sem seguir regrinhas, e o ser humano da verdade como aletheia, como DESVELAMENTO.De Husserl, Heidegger aprende a fenomenologia. Em 1904, Husserl escreve as ideias para uma fenomenologia. L ele diz que existe o mtodo da generalizao e o mtodo da formalizao.O que Heidegger percebe em Husserl que sua tcnica racional perfeita, mas ele no viu que s vezes voc usa de forma diferente a generalizao e a formalizao: joga-se com os mtodos (ver conceito de jogo em Gadamer).Em 1921 ele escreveu a Fenomenologia da Vida Religiosa. Ele usou essas bases para descrever a vida religiosa. Ele fez uma hermenutica da facticidade religosa dos primeiros cristos. L ele descobriu, vejam s, a teoria da moldura de Kelsen. L ele viu que Paulo, quando se dirigia quelas comunidades primitivas, ele falava preparem-se que o Messias aparecer como um ladro da noite, num piscar dos olhos (augenblick). (Isso est em Kierkegaard Heidegger 90% Kierkegaard)Plato tem um conceito parecido, o de repente. Mas Kierkegaard dizia que Plato no compreendia a temporalidade correta para compreender o homem. Porque a temporalidade correta a dos cristos. Os gregos tm uma viso de eternidade errada que no consegue explicar a eternidade... o de repente em Plato uma exceo da eternidade. A experincia de Paulo muito diferente a quebra da cronologia, a vida no Kairs, uma deciso existencial fora do Cronos. Na correta concepo paulina, o instante o tempo que toca a eternidade.Para entender a fenomenologia Heidegger usa seu colega Jaspers. Jaspers antecipa a ideia de Heidegger da ao humana. Jaspers diz que o humano vive em situaes limites, e, NUM PISCAR DE OLHOS, ele tem que tomar as decises certas sobre sua vida.A viso do piscar de olhos est de acordo com essa viso temporal do homem, com a viso do homem como energia e no uzia. Tudo isso entra em Ser e Tempo como sendo a interpretao temporal do humano.Kierkegaard portanto o grande preparador do Ser e Tempo, porque ele mostra todo o esforo de Plato me entender o homem como um ser jogado na existncia, mas sem conseguir compreender a fragilidade do instante, pois est submetido ao cosmo da eternidade.Qual o termo que agrupa e enfeixa todas essas categorias existencirias do ser humano? O sorge, o CUIDADO, a CURA como traduzida em portugus. Para entender hermenutica jurdica, temos que passar por isso.Interpretar interpretar a vida, como Heidegger. Temos que fazer nossas escolhas existenciais. Isso como a moldura kelseniana. Heidegger fala que existe um kern, um cerne, um ncleo, um feixe nessa moldura, um feixe de vida mais autntica. Dentro da moldura percebe-se o que autntico e o que inautntico.O autntico o que parte da existencialidade do homem como CUIDADO, como preocupar-se com os outros. Da porque ele usa um texto de Goethe que diz que o homem tem duas almas, e ele brinca com a palavra Sorge.Heidegger supera a ambiguidade desse texto. Para ele, a cura, o cuidado do homem O DASEIN, e no tem dois dasein, somente um. O Dasein uma totalidade. A cura encerra em si os trs caracteres ontolgicos do ser desenvolvidos na obra: existencialidade, facticidade e decadncia (no sentido de estar lanado a).Heidegger, quando faz a analtica do ser-a (dasein) como cura a partir do 40 de Ser e Tempo traa-o sempre de forma a compreender os aspectos ntico e ontolgico. No entanto, ele diz, no 42, que uma excelente explicao pode ser dada ao analisar o aspecto pr-ontolgico da Cura, a partir da fbula de Higino.Higino era um escravo grego levado por Cesar para Roma. Higino tornou-se chefe da biblioteca do imperador Augusto. A chave do dasein est em Higino, em sua fbula entender a fenomenologia hermenutica ontolgica.Heidegger usa esse trecho como elemento pr-ontolgico que explica a analtica da presena e o conceito de cura e de ser-a como cura.Certa vez, atravessando um rio, Cura [Cuidado] viu um pedao de terra argilosa: cogitando, tomou um pedao e comeou a dar-lhe forma. Enquanto refletia sobre o que criara, interveio Jpiter. A Cura pediu-lhe que desse esprito forma de argila, o que ele fez de bom grado. Como a Cura quis ento dar seu nome ao que tinha dado forma, Jpiter a proibiu e exigiu que fosse dado o nome. Enquanto Cura e Jpiter disputavam sobre o nome, surgiu tambm a Terra (tellus) querendo dar o seu nome, uma vez que avia fornecido um pedao de seu corpo. Os disputantes tomaram Saturno como rbitro. Saturno pronunciou a seguinte deciso, aparentemente equitativa [justa]: Tu, Jpiter, por teres dado o esprito, deves receber na morte o esprito e tu, Terra, por teres dado o corpo, deves receber o corpo. Como, porm, foi a Cura quem primeiro o formou, ele deve pertencer a Cura enquanto viver. Como, no entanto, sobre o nome h disputa, ele deve chamar-se Homo, pois foi feito de hmus. (Ser e Tempo, 42.)Saturno, que d a deciso, o deus do tempo.O homem no eterno: enquanto ele viver, pertencer a voc. Todavia, como foi Cuidado que previamente a modelou, que ele a possua enquanto ele viver.O ente humano, na fbula, no eterno, absolutamente temporal a Cura o tem enquanto viver. Aps morrer, Jpiter recupera seu esprito e Terra recupera seu corpo.O homem NO ESPRITO JPITER, NO CORPO TERRA, CUIDADO!Heidegger coloca a fbula como uma explicao pr-ontolgica da sua analtica da presena. A arte para ele histrica mas no historial. Heidegger fala que o latino Higino capaz por sua poesia de contar uma histria efmera, um passado contato mitologicamente, mas no consegue elaborar filosoficamente, assim como o esprito de Hegel necessrio para narrar os feitos de Napoleo.Essa, portanto, a ontologia fenomenolgica, hermenutica, de Heidegger. Uma interpretao TEMPORAL do ser humano, fenomenolgica, feita no piscar dos olhos augenblick.O verdadeiro comeo da filosofia grega, a verdade que Heidegger busca, est em Anaximandro e Parmnides, justamente porque no contemplam o ser humano como eterno.Heidegger um dos ps na hermenutica de Schleiermacher e Dilthey o poder divinatrio da hermenutica o jogo a essncia da cura que o homem joga sua existncia estar lanado no mundo. O erro dos ortodoxos achar que o humano segue o dogma. O ser humano jogo. O ser humano lanado no mundo.Heidegger HERMENUTICA FENOMENOLGICA ONTOLGICA.As palavras esto em Higino, mas no esto elevadas ao patamar fenomenolgico ontolgico. O nvel da filosofia no esse pr-ontolgico de descrever a Cura atravessando o rio e moldando o homem, e sim na elaborao e no desvelamento da verdade (aletheia) contida na fbula aps a elaborao pelo autntico pensar.