Hello, Boy!

38
 [ TT00845 ] Hello, Boy ! Roberto Gill Camargo "Texto pertencente ao acervo de peças teatrais da biblioteca da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), digitalizado para fins de preservação por meio do projeto Biblioteca Digital de Peças Teatrais (BDteatro). Este projeto é financiado pela FAPEMIG (Convênio EDT-1870/02) e pela UFU. Para a montagem cênica, é nece ssário a aut oriz ação dos autores, atra vés da Soc iedade Brasil eir a de Autores Teatrais - SBAT"

description

Texto teatral brasileiro

Transcript of Hello, Boy!

  • [ TT00845 ]

    Hello, Boy !

    Roberto Gill Camargo

    "Texto pertencente ao acervo de peas teatrais da biblioteca da Universidade Federal de Uberlndia

    (UFU), digitalizado para fins de preservao por meio do projeto Biblioteca Digital de Peas Teatrais(BDteatro). Este projeto financiado pela FAPEMIG (Convnio EDT-1870/02) e pela UFU. Para amontagem cnica, necessrio a autorizao dos autores, atravs da Sociedade Brasileira de

    Autores Teatrais - SBAT"

  • FICHA TCNICA PARA COMPROMISSO DE INTENOPEA: HELLO, BOY!AUTOR: Roberto Gil CamargoDIREO: Roberto LageELENCO: Elias AndreatoRenato ModestoADMINISTRAO: Rosa CasalliILUMINAO: Guilherme BonfantiSONOPLASTIA: Fernanda BrankovicOs acima descriminados assinam este compromisso.ROBERTO LAGEELIAS ANDREATORENATO MODESTOROSA CASALLIGUILHERME BONFANTIFERNANDA BRANKOVICELIAS ANDREATOEMHELLO, BOY!DE ROBERTO GILL CAMARGOAPRESENTANDO RENATO MODESTOPROGRAMAO VISUAL E ESPAO CNICO - ELIFAS ANDREATODIREO ROBERTO LAGETEXTO ROBERTO GILL CAMARGODIREO: ROBERTO LAGECOM ELIAS ANDREATO E RENATO MODESTOASSISTENTE DE DIREO: FERNANDO JACONPREPARAO CORPORAL: VIVEN BUCKUPPROGRAMAO VISUAL E ESPAO CNICO: ELIFAS ANDREATOFIGURINOS: DOMINGOS FUSCHINIAMBIENTAO: LUCA BALDOVINOCENOTCNICO: PAULO CALUXEADEREOS: FBIO BELUZZO BRANCOCOSTUREIRA: EUNICE SIMOES ALVESOPERADOR DE LUZ: GUILHERME BONFANTI

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 2

  • OPERADORA DE SOM: FERNANDA BRANKOVICRELEASE: LUIZ FERNANDO RAMOSFOTOS: LUCIANA DE FRANCESCODIVULGAO: CACA (CARLOS AUGUSTO CARVALHO)ROSA CASALLIMIRIAM LINSPRODUO EXECUTIVA E ADMINISTRAO: ROSA CASALLIROBERTO LAGE FOI DIRETOR DE "A LENDA DO PIU"SERVULO AUGUSTO E JOS RUBENS CHASSERAUXROBERTO LAGE FOI DIRETOR DE "ESCOLA DE MULHERES"MOLIREELIAS ANDREATO FOI ARNOLFO EM "ESCOLA DE MULHERES" - DE MOLIRE -1984ROBERTO LAGE FOI DIRETOR DE "VIVA PORM HONESTA"NELSON RODRIGUESELIAS ANDREATO FOI FREI CANECA EM "O AUTO DO FRADE" DE JAO CABRAL- 1985ELIAS ANDREATO FEZ "O GOSTO DA PRPRIA CARNE" DE ROBERT INAURATO -1985ROBERTO FOI DIRETOR DE "O GOSTO DA PRPRIA CARNE"INAURATOELIAS ANDREATO FEZ "TRGICO A FORA" DE TCHEKOV - 1982ROBERTO LAGE FOI DIRETOR DE "BAAL"BERTOLD BRECHTELIAS ANDREATO FEZ O "DIRIO DE UM LOUCO"(MONLOGO) DE GOGOL - 1980ROBERTO LAGE FOI DIRETOR DE "A MORTA"OSWALD DE ANDRADEHELLO, BOY!De fragmento em fragmento a vida escorre. uma pea instigante: provoca o encontro da inocncia com a solido., uma experincia devida que une extremos.A dramaturgia de Hello, Boy! procura contar uma estria atravs de novos recursos e esseobjetivo plenamente atingido. uma pea de amor entre um jovem adolescente e umaprofessora de ingls j madurona; um amor proibido pelo preconceito social. Hello, Boy!prova concretamente a existncia e a verdade do afeto, acima dos tabs e das interdies. O"comportamento" o tema, e nada mais moderno do que abordar o comportamento doshomens nesse mundo mistificado pela cultura de massa.

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 3

  • Renato BorghiAtorHomem de Teatro, Criador do Teatro OficinaHELLO, BOY!Depois de conhecer o universo de Tchekov, Sfocles, Strindberg, Molire, Artaud, Ggol,Inaurato, Gorki, eu li Hello Boy.Confesso, tive "medos", quase disse no.Como artista pensei: ser que isto no uma banalidade?Como ator pensei: ser que eu no vou passar por ridculo ou ser que eu sou absurdamentepretensioso?Mas conversando com Herivelto Martins, ele me disse: "O Amor o Ridculo da Vida".Reli o texto e apaixonadamente pedi desculpas ao autor.Fiquei pensando na minha vida aos 30 anos sonhando com a simplicidade de me apaixonarcarinhosamente com fundo musical e a cores como no cinema... Esbarrei na minha solidoque convive com o meu cotidiano e antes de tomar o Dienpax, chorei muitas vezes... queriaser feliz, mesmo que fosse rapidamente feliz como as personagens de Hello, Boy.O universal est no amor, e o amor no se define... E eu quero junto com o poeta Gil que osuper homem venha nos restituir a glria por causa da mulher, pra poder gritar sempreconceitos de raa, credo, cor, sexo...I LOVE YOUElias AndreatoAtor"HELLO, BOY"O Teatro um exerccio de imaginao e magia. um jogo de linguagem que, contraditrio, impressionante e simples. O Teatro no necessita de grandes rebuscamentos. Um espao,um homem que age nesse espao, outro homem que olha, tudo que se precisa para acumplicidade, para a identificao. No vazio do palco, nascem volumes invisveis, nascemvozes, pessoas, cores que se transmudam. Por alguns momentos, um pequeno espao vazio setorna infinito."Hello, Boy" tem essa magia. Tem a clareza e a simplicidade necessrias para poder atingirtodas as pessoas sem exceo, tocando os sentimentos mais puros, mais universais. umapea que traz a beleza do que simples, do que sincero.Sei que difcil a oportunidade de aprender tanto com uma experincia: "Hello Boy" umsonho se realizando, um grande passo, uma lio. Vitor meu primeiro personagemimportante no teatro profissional e est sendo para mim, uma lio de alegria. Ele sabe viverintensamente a cada instante, no tem compromissos com o futuro e, por isso, faz o que querquando sente vontade. Ele pura energia e instinto. Ele se entrega vida como eu espero umdia entregar-me ao trabalho de fazer teatro: sem regras, sem determinaes, s com esseatirar-se, esse ganhar e perder, esse viver deslizando, sempre em frente, esse entregar-se aoperigo, ao risco, com quem ama, com quem canta, como quem ri, sem nem saber porque.Renato Modesto

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 4

  • Elias,A sua Olvia pra mim s um gelo delicadamente feminino, como um desenho feito noespelho com batom carmim. , de repente, a vida comeando pelo fim, o som de no e simescapando da boca no esboo de um sorriso. um olhar demorado e atento na solido damulher.Hello, Boy! um quadro de luz e gestos pintados por homens que procuram saber da mulhero que ainda no sabem da prpria vida.Elias, s um grande ator faz uma mulher assim.Um beijo do seu irmo na boca da sua Olvia.Roberto Gil, Renato, Fernando, Vivien Domingos, Rosa, Caca, Luciana e Roberto Lage; atodos vocs um abrao pela beleza do quadro.Elifas AndreatoSo Paulo, 15 de maro de 1986.A vida a constante situacional de toda experincia. Para o artista o conceito de morte nopode ser vlido como limite emocional. A morte o impensvel, obstrato o seu conceito esentido. Mas por outro lado atravs da morte que a vida encontra sua verdadeira e autnticadimenso, ou seja, "expor a prpria vida mediante atos". E pr a vida em jogo desmistific-la.Portanto, se pressupe uma moral da prxis - "Uma tica do ato". Essa tica a destruioconstante, sem a estabilidade conformada. O que Karl Jaspers chama "situaes limites"nascer, crescer, morrer, considerando que qualquer concepo de viver inevitavelmentebiolgica.Mas, o viver em si tambm no uma condio clara de limite e sim uma certa forma devegetao. Pr a prpria vida em jogo a nica condio humana desafiante. atravs destedesafio que a experincia limite encontra a sua prpria metodologia e seus prprios valores deexpresso: e isso vai implicar em se questionar a moral normatizada, a tica e a forma queforam consolidadas atravs de hbitos ancestrais da sociedade.A situao limite como mtodo de desenvolvimento um trabalho no deve ser um fim, massim, um meio que permita ao artista encontrar a si mesmo atravs dos outros.Vamos encaminhar o projeto, no para a experincia, mas para os objetivos humanos quelevam o indivduo mudana, transgresso. A moral da destruio acima de tudo umaconscincia de troca.A situao limite est baseada na realidade objetiva, mas na deformao subjetiva dessarealidade que se encontra a possibilidade de se despertar sentimentos extremos.O processo se desenvolve no plano qualitativo das emoes. A partir do momento que seestabelece uma comunicao sensorial entre ator-espectador, ele j no dono de seus atos.Quando tentar uma anlise do que est acontecendo e do que pessoalmente est sentindo, j muito tarde. Vai estar num conflito onde atuam trs elementos:Psquico/ Fsico/ Moral. Vai descobrir por intuio que j no um problema unicamenteesttico, teatral, ou pretensamente vanguardista, mas vai intuir que a experincia setransformou numa pergunta dirigida a ele mesmo, e que somente ele pode responder. E apergunta deve estar sempre no plano tico.

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 5

  • Teatro como tica o que preocupa o projeto.A base: O homem como ponto de partida e chegada de todas as coisas.ROBERTO LAGEHello, Boy! Foi escrito em 1981. Tive vontade de escrever uma histria de amor, achava apoca e a fase que estava atravessando eram propcias para isso, e o texto saiu.Minha idia inicial era colocar um homem e uma mulher um na frente do outro, e contar orelacionamento deles, o envolvimento de um com o outro, at que se percebesse que umaseparao seria impossvel.A idia foi amadurecendo, as cenas foram surgindo na minha mente e fui dando forma aospersonagens, at que pudesse senti-los, v-los e ouvi-los, mentalmente. Quando terminei deescrever o texto, senti que a histria tinha acabado mas os personagens continuavam vivos e,ainda, muita coisa poderia ser extrada deles.Dos vrios textos que escrevi para teatro, "Hello, Boy" foi o que fluiu mais rapidamente. Auma certa altura eu comeava a ouvir a fala dos personagens na minha cabea e era aquilo queeu tinha que escrever. Foi uma experincia de emoo, de entrega. Eu invejo a maneira comoaqueles personagens se amam. Como disse, a idia inicial era colocar homem e mulher, um nafrente do outro, e deixar que as coisas acontecessem por si, naturalmente, como s acontecedesde o incio do mundo.Ouvi muita gente me dizer, nesses 3 anos que a pea ficou em cartaz pelo interior, que peasassim que eu deveria continuar escrevendo. difcil ouvir isso, pois tenho outros planos comrespeito dramaturgia. Mas vlido as pessoas pensarem assim. Todas as vezes que assisto"Hello, Boy" acabo achando que elas tm razo. Gosto muito de "Hello, Boy" e acho quenunca conseguiria escrev-lo de novo, com o mesmo emocional que estava sentindo na poca.Quando duas pessoas se encontram e se amam, nada mais em volta interessa. A nica coisaque pode destruir isso o destino. Vitor e Olvia so duas pessoas que se amparammutuamente, tentando viver juntas, desesperadamente. A pureza do rapaz querendoconquistar uma mulher madura, que a princpio julga ser uma relao impossvel, mas depoisacaba se entregando a ele; o amor sem posse, sem cime, sem destruio; o amor bonito,correspondente, que trava luta s (s?) contra o destino, contra a morte; a necessidade de sevalorizar as coisas pequenas, ntimas, domsticas; os gestos minsculos - que definem tudo; amaneira de olhar, o tom de fala, o recuo nas decises na hora exata, o apelo ao semelhante, oafago, a dedicao no momento mais difcil... enfim, um pouco disso tudo o que existe norelacionamento dos dois personagens da pea. E no novidade. uma coisa prpria do serhumano, que nunca demais mostrar no palco.Acho que o pblico tambm precisa desse tipo de teatro para poder enxergar-se melhor etambm aos outros; para poder se dar valor, para reconhecer certas coisas que o ser humanoainda possui, mas s vezes se esquece. Deve haver um espao para se tratar do homemenquanto ser humano, dotado de sentimentos, emoes. Isso no muda nunca: os sentimentosse sobrepe a tudo. Nem o pobre, nem o rico, nem o intelectual, ningum. A solido ogrande perigo que o ser humano corre. L no ntimo qualquer pessoa sabe disso.ROBERTO GILL CAMARGO"HELLO, BOY!"de Roberto Gill Camargo

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 6

  • PERSONAGENS:A professora (Olvia)O aluno (Vitor)AMBIENTAO:* apartamento da professora* sala de aula* sala dos professores* corredor da escola* ptio da escola* quadra de esportes, ginstica* biblioteca* sala de ping-pong* casa dos avs* cinema* igreja* alto da colina de onde se enxerga a cidade todaetc.

    Os cenrios podem ser separados por focos de luz. Como o mesmo cenrio nem sempre serepete, os mesmos focos podem ser reutilizados vrias vezes. importante a preciso da luzno acompanhamento dos atores. A msica deve ser nostlgica (rock dos anos 60 ou msicaspopulares que se cantam nas escolas de ingls).

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 7

  • "HELLO, BOY!"(NA CLASSE. A professora est fazendo chamada. Os alunos so invisveis)PROFESSORANumber oneNumber twoNumber threeNumber fourNumber fiveNumber sixNumber sevenNumber eightNumber nine... (Pausa) Number nine...(Foco de luz no aluno)ALUNO (levantando o brao)Number nine. voc que vai dar aula pr gente de agora em diante?PROFESSORAH- h.ALUNOTem uma boa pronncia.PROFESSORAObrigada.ALUNOMeu nome Vitor.PROFESSORAMuito prazer.ALUNOQuer que eu apague a lousa pr voc?PROFESSORASe puder fazer esse favor...(Continua a chamada. O aluno apaga a lousa)Number tenNumber elevenNumber twelveNumber thirteen

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 8

  • (NO CORREDOR, aps a aula)ALUNO (para algum invisvel)O que voc achou da aula dela? At agora, de todas as professoras, foi a que eu mais gostei.Ela consegue prender a ateno da gente.(A professora vem se aproximando)ALUNOOlhe! Ela est vindo a! Gostei da sua aula, professora.PROFESSORA (continua andando)Obrigada.ALUNO (interrompendo-a)O que est achando da nossa escola?PROFESSORAMuito boa, uma das melhores.ALUNOE a nossa classe?PROFESSORATambm, apesar da pronncia.ALUNOQuer que eu leve esses livros pr voc?PROFESSORA, esto pesados, se voc puder fazer esse favor...ALUNOClaro, no custa nada, terei um imenso prazer.(NA CLASSE, no dia seguinte. O Aluno tropea na sala e cai, derrubando o material)PROFESSORANmero 9, voc se machucou?ALUNONo, no foi nada. (Envergonhado) No se preocupe.PROFESSORAErga o seu material, vamos!ALUNOAh, sim, claro. (Ergue os cadernos)PROFESSORADa prxima vez tome mais cuidado.ALUNOEu no reparei no degrau, eles devem ter passado cra.

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 9

  • PROFESSORA (vendo o lpis no cho)O lpis.ALUNO (meio atrapalhado)Ah, o lpis. (Ergue-o)PROFESSORAV para o seu lugar.ALUNOT ok, eu estou indo.(NA SALA DOS PROFESSORES, mais tarde)PROFESSORA (falando com uma professora invisvel)Mirtes, voc quer uma carona? Eu j estou de sada. (Abre o armrio e se depara com umacaixa de bombons) Mirtes, foi voc que deixou esses bombons aqui? Ento quem foi? Aqui,no meu armrio. Ah, esses alunos... ainda vou descobrir quem foi.(NO CORREDOR, no dia seguinte. A professora e o aluno do de encontro. Ela deixa cairuns discos)ALUNODesculpa, eu no vi.PROFESSORANo foi nada.(Os dois se abaixam e comeam a pegar os discos. De repente se olham e riem.)PROFESSORAVoc no vai entrar em aula?ALUNOH-h.PROFESSORAE o que est fazendo por aqui?ALUNOQuer que eu leve os discos?PROFESSORA muita gentileza da sua parte, mas no precisa, eu mesma levo.ALUNOTeremos aula com msica hoje?(Os dois comeam a andar, em direo classe)ALUNOSe quiser posso instalar a vitrola pr voc.PROFESSORA

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 10

  • Obrigada, seria um grande favor.ALUNOQue tipo de som voc trouxe? Msica de embalo?PROFESSORAQuando chegar a hora voc saber.ALUNOGosto de msica romntica e voc?(NA SALA DOS PROFESSORES, mais tarde)PROFESSORAObrigada, seu caf estava timo. (Pe a xcara na bandeja)ALUNO (surge na porta)D licena.PROFESSORAPois no, o que ?ALUNOEst servida tomar coca?PROFESSORAObrigada, acabei de tomar caf.ALUNO (mostra um livro)ALUNOVoc deixou este livro na classe.PROFESSORAOh, que cabea a minha! Pode deixar em cima da mesa.ALUNOSua aula est cada vez melhor.PROFESSORAObrigada.ALUNONs teremos jogo esta tarde, voc vai assistir?PROFESSORAInfelizmente no posso, tenho uns trabalhos a corrigir.ALUNO uma pena. Nossa classe gostaria que voc fosse.PROFESSORATalvez outro dia, quem sabe.

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 11

  • ALUNOMas voc vai participar da gincana!?PROFESSORADa gincana sim.ALUNOAntes que eu me esquea: mandaram dizer que voc escolhe muito bem as msicas.PROFESSORAQuem foi que disse?ALUNO (saindo)No posso falar quem foi. Pediram que eu no contasse.(NA CLASSE, outro dia)PROFESSORA (levantando-se da mesa)Eu gostaria de saber quem foi que escreveu essas coisas a meu respeito (mostra um bilhete)que se levante e confesse!ALUNO (ergue o brao)Com licena, professora, eu queria esclarecer uma coisa.PROFESSORAVamos encerrar de uma vez esse assunto, essas brincadeiras, antes que acabe chegando aoconhecimento do diretor.ALUNOMandaram passar o bilhete, professora, no fui eu.[FALTA A PGINA 6]- pessoal dos outros, mas vocs no se contentam enquanto no atingem o fundo do poo!(Vai saindo da biblioteca)ALUNOEu sei que voc ficou chateada com aquela histria de eu te dar um beijo na boca sem maisnem menos...

    PROFESSORANo foi um beijo diretamente na boca.ALUNODiretamente no, mas quase.PROFESSORARidculo.ALUNOEra uma tarefa da gincana! O que eu podia fazer?PROFESSORAAh, sim! Um ato involuntrio.

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 12

  • ALUNONo bem isso. Foi um beijo de carter beneficente.PROFESSORAEu nunca passei por uma situao to ridcula! Por sua causa!ALUNOEu tambm passei por ridculo, ns dois.PROFESSORAO que voc e seus companheiros fizeram uma coisa que no pode se repetir em hiptesealguma! Nunca! Agora o sr. me d licena que eu vou entrar na minha sala! (Entra e bate-lhea porta na cara)ALUNO ( porta)Espere! Voc gostou dos bombons que eu lhe trouxe? Est bem. No vou mais assistir suaaula!PROFESSORA (abre a porta)No faz a menor diferena.ALUNOEu quero que me escute.PROFESSORAEscutar o que mocinho? Volte para sua classe.ALUNOEu vim pessoalmente dar uma explicao do que aconteceu e no assistirei sua aula enquantono entrarmos num acordo.PROFESSORAOk. Voc me espera na sada e ns conversaremos.ALUNONo.PROFESSORAVamos por parte, mocinho. Voc sabe com quem est falando?ALUNOSei. Com uma pessoa educada e inteligente pr no me bater a porta na cara como acabou defazer.PROFESSORAVoc vai assistir minha aula?ALUNOPor qu?PROFESSORANo responda com outra pergunta. Vai ou no vai?

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 13

  • ALUNOEst bem. Depois da aula a gente conversa.(NA CLASSE, mais tarde)PROFESSORAGood morning! Open your books on page seventy-nine. Number nine, stand up, please!ALUNOEu leio sentado mesmo, professora.PROFESSORAStand up, number nine!ALUNOEst bem. (Levanta-se)PROFESSORAI will read first and you wil read after me, ok?ALUNOOk.PROFESSORA (lendo)Is there any cheese on that plate?ALUNOIs there any cheese on that plate?PROFESSORAYes, there is some cheese on that plate.ALUNOYes, there is some cheese on that plate.PROFESSORAIs there any spaghetti on that plate?ALUNOIs there any spaghetti on that plate?PROFESSORANo, there is no spaghetti on that plate.ALUNONo, there is no spaghetti on that plate.PROFESSORAIs there a potato on that plate?ALUNOIs there a potato on that plate?

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 14

  • PROFESSORAYes, there is a potato on that plate.(O aluno comea a sentir-se mal, respirando com dificuldade. Tenta disfarar, mas os colegascomeam a perceber)PROFESSORARepeat! There is - a - potato- on - that plate. Number nine! What's the matter? What's thematter? Voc no est se sentindo bem?( A luz cai em resistncia)(NA SALA DOS PROFESSORES. A professora pega uma corbeille e l o carto)PROFESSORA"Prezada professora: desculpe se eu resolvi perfumar sua vida com cravos e rosas, mas foi amaneira mais ecolgica que encontrei para expressar minha admirao por voc. Que a suapresena nesta escola traga muita alegria a todos. Seu aluno, Vitor."(NO PTIO, simultaneamente: o aluno est jogando ping-pong com o colega)ALUNONo sei se vou continuar estudando no prximo ano. Talvez eu comece cursinho prengenharia, sei l, nunca se sabe.(NA SALA DOS PROFESSORES)PROFESSORAPor favor, Mirtes, se voc encontr-lo d este recado: que antes de bater o sinal eu gostariaque ele viesse at aqui um instante.(NO PTIO)ALUNOEu acho que ela tirou carta h pouco tempo. Dirige mal que vou te contar! No sabe nemestacionar direito. (Pausa) tenho que ir agora, te vejo amanh na fsica. (Sai)(NA SALA DOS PROFESSORES)ALUNOVoc mandou me chamar?PROFESSORAAh, sim! Quero agradecer pelas flores.ALUNOQue isso.PROFESSORAGostei do ecolgico.ALUNOAinda bem.PROFESSORA (pega um boto de rosa)

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 15

  • Tome. Este boto de rosa voc leva pr sua me. Diz que eu mande especialmente.ALUNOSinto muito, mas eu no tenho me.PROFESSORAEu no sabia.ALUNOMoro com meus avs.PROFESSORAE o seu pai?ALUNOEles se separam quando eu tinha 4 anos.PROFESSORAEntendo. Era s isso, voc foi muito gentil. Outra hora ns conversaremos com mais calma, tbem? (Faz meno de sair)ALUNOPor que no pode ser hoje mesmo?PROFESSORA (Vai saindo)Voc quem sabe. Mas no esquea que vocs tm prova a semana inteira.ALUNO ( distncia)s 4 e meia, t ok? Tenho um disco de jazz em casa e vou levar pr voc ouvir.(NA CLASSE, pouco depois)PROFESSORAComo eu estava falando na aula passada, essa terminao se aplica na maioria dos casos,como por exemplo: fox, foxes, box, boxes, etc.(DA JANELA)ALUNOMaurcio! Responde presena pr mim que eu acho que vou matar a ltima aula. Quemperguntar diz que eu estou no centro cvico. Pega o material e joga pela janela que o inspetorvem vindo!(NA CLASSE)PROFESSORANa prxima aula comearemos com o verbo "to be ". Por hoje s. Arrumem suas coisas epodem sair. (Sai)(NA CASA DOS AVS)ALUNO (entra e procura o av e a av)V! V! Onde que voc est, v?! No tem ningum em casa? (Nota a presena sbita doav) Oi, v. Nosso time ganhou de 5 a zero hoje. (Preocupado) Qu foi, v? O mdico disse

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 16

  • alguma coisa? Fala, v! (Corre para a av) V! (Preocupado) Que foi que o mdico disse?Vocs esto escondendo alguma coisa de mim? (Pausa) Como? No, v. (Corre ao quarto ebate a porta) Por favor, eu quero ficar sozinho no meu quarto, me deixem em paz! Eu no voumais pr isso na boca, est ouvindo? (Observa os olhos na frente do espelho) Droga! Essemdico no entende nada... Voltou tudo!(NA CASA DA PROFESSORA, tarde. Ela entra, comea a se arrumar diante do espelho e acantar baixinho, meio declamado, uma daquelas msicas que costuma levar na classe)PROFESSORA"Not a shirt on my bagnot a penny into my nameLord I can't go home this way...You can hearthe whistle blownfive hundred miles..."(O aluno entra, segurando o capacete da moto e um disco. Toca a campainha)PROFESSORA (ansiedade)Quem ?ALUNO o Vitor.PROFESSORAUm momento, Vitor, j vou. (Termina de se pintar rapidamente, recolhe algumas coisas queesto fora do lugar; preocupada, resmunga umas coisas em ingls) My God! Ele muitonovo. He's just a boy... (Abre a porta)ALUNOOi. So 4 e meia em ponto.PROFESSORAPuxa! Pontualidade britnica! Entre.ALUNO (Entra)Eu trouxe o disco de jazz. (Entrega)PROFESSORA (pega o disco)Ah, que bom.ALUNOVoc mora sozinha aqui? (Olha para todos os lados)PROFESSORAH-h. Fique vontade. (Vai guardar o disco e volta)ALUNO (Observando-a)Puxa!

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 17

  • PROFESSORAObrigada.ALUNO (depois de um breve silncio)Que tal se pegssemos um cinema? Voc gosta?PROFESSORA (um tempo e decide)Voc quem sabe.ALUNO (consultando o relgio)D tempo de pegarmos a sesso das 5, vamos?PROFESSORAOk.(NO CINEMA, um pouco mais tarde. O Aluno lentamente vai se aproximando, at tocar amo no ombro dela. Efeitos de luz e som podem ser usados para sugerir o clima - de estardentro de um cinema.)(NA CASA DA PROFESSORA, tarde da noite)PROFESSORATchau, Vitor.ALUNONo, mais um pouco.PROFESSORATchau, Vitor!ALUNOMais um minuto apenas.PROFESSORAVitor! Tchau, eu disse.ALUNOVoc est com muito-muito sono?PROFESSORAAmanh voc tem que levantar cedo. Quer dizer, ns temos. So quase onze e meia.ALUNOT ok. Se a minha companhia no est agradando... (Pe o capacete e sai) Tchau.PROFESSORA (fechando a porta)Ufa! ( parte) completamente doido!(O aluno volta, toca a campainha)PROFESSORAAh, no! (Abre a porta) Que foi? Esqueceu alguma coisa?ALUNO

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 18

  • As minhas luvas. (Pega-as) (Faz meno de sair)PROFESSORAVitor! (Detm-no) Eu quero que voc saiba que... eu aceitei seu convite, fui ao cinema comvoc... porque somos bons amigos. Somente bons amigos.ALUNOClaro. Por qu? Voc est com medo dos comentrios?PROFESSORA (hesita um pouco)Tambm.ALUNOPor que voc professora?PROFESSORAH-h.ALUNOPorque mais velha?PROFESSORATambm. (Pausa) Agora, vamos. Feche esse peito que est ventando muito l fora. (Abotoa obluso dele) Cuidado com a moto, no corra. (Nota algo estranho no peito dele) Qu isso,Vitor? Voc deve ter se cortado, est saindo sangue...ALUNOOnde? No, no foi nada. (Atrapalhado)PROFESSORA (nota umas manchas no pescoo)Vitor, o que isso? Onde que voc vai?(O aluno corre em direo ao banheiro e se tranca l dentro. Tira uns band-aids do bolso eaplica no peito e em volta do pescoo, tentando encobrir alguns gnglios).(NO SONHO. Sirene de ambulncia. A professora est com um vu roxo na cabea.Ouvem-se os sinos da igreja tocando doze vezes. O aluno est pendurado no alto, vestido depreto da cabea aos ps e com sondas aplicadas no corpo, como se estivesse fazendo inmerastransfuses de sangue.)PROFESSORAEst bem, Mirtes, convoque todo o corpo docente da escola para uma reunio imediatamentee procure abafar o caso. (Para os alunos aglomerados no ptio) Por favor, faam silncio queteremos aula normalmente. O que aconteceu foi um acidente, mas est tudo em ordem, voltempara seus lugares!(A professora sente estar sendo perseguida por algum, no escuro)PROFESSORAQuem est a? Tem algum na biblioteca? Estranho... estou ouvindo uns passos... No, odicionrio no! Por favor, o dicionrio no! (Sente que est sendo estrangulada) No, Jack!(PLANO REAL. CLASSE, dia seguinte)

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 19

  • PROFESSORA (termina de escrever algo na lousa)Muito bem, agora prestem ateno: Is it a box? No, it's a ruler. (Faz sinal para o aluno, queest fora da classe) Um momento. (Para a classe) It's a bird. Ok? It's a bird. Faam silncioum instante, que eu j volto. (Abre a porta)ALUNOBom dia.PROFESSORABom dia.ALUNOPassei aqui pr contar que... eu sonhei com voc esta noite.PROFESSORAAh, no! Eu estou dando aula, Vitor.ALUNOPr falar a verdade foi um pesadelo. Eu era Jack, o extirpador e queria que voc engolisse umdicionrio. Depois eu te levei biblioteca e quase te estrangulei... Foi um pesadelo, claro.PROFESSORAEntendo. Voc no vai entrar em aula?ALUNONo. Quer dizer, vou. Isto ... eu te espero na sada.PROFESSORANs j conversamos sobre isso, Vitor. No! Ponha isso na sua cabea! (Bate a porta e entra naclasse)ALUNO (pelo lado de fora)Voc vai se arrepender disso! (D um chute na porta e sai).PROFESSORA ( parte)Estpido! (Para a classe) Voltemos aos nossos exemplos. It's a wonderful bird! Bird! Bird!Oclusiva alveolar sonora! (Apaga a lousa)(NO ESTACIONAMENTO)ALUNOMaurcio, vem c! Voc sabe quem o dono deste carro? O que voc acha da gente furar opneu?(NA CLASSE)PROFESSORAAmanh ns continuaremos com mais exerccios deste tipo at vocs aprenderem bem.(Arruma suas coisas para sair) Afinal de contas todos vocs sabem que a pronncia uma dascoisas mais importantes da nossa maravilhosa lngua inglesa! (Sai)(NO CONSULTRIO MDICO)ALUNO

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 20

  • Posso continuar praticando natao, doutor? Puxa, ainda bem, teremos competio entre asescolas e eu estou pensando em participar. Voc acabou de dizer que no era coisa grave,doutor. Por que est pedindo que eu faa outro exame? Diga, pode dizer! Hoje mesmoapareceu mais uma mancha na minha perna. Mas eu devo ter machucado na fsica, n doutor?(NO ESTACIONAMENTO)PROFESSORAMirtes, venha c? Furaram o pneu do meu carro, Mirtes! o cmulo esse bando de vndalos.Ah, mas eu j sei quem foi, Mirtes. Desta vez ele foi audacioso ao extremo. Pois amanh nsveremos.

    (NA SALA DOS PROFESSORES, dia seguinte. O aluno entra)ALUNOGood morning.PROFESSORAEntre e feche a porta.ALUNOSe for sobre o vocabulrio eu no aprontei ainda.PROFESSORAIsso ns resolveremos depois, quando estivermos em classe. Agora sobre outro assunto. Foiou no foi voc?ALUNO (cnico)O qu?PROFESSORAVoc sabe muito bem do que eu estou falando. Escute aqui, seu... adolescente! Seu Jackextirpador de pneu do carro dos outros... Voc no acha que est bem grandinho pr fazeressas brincadeiras de mau gosto? Como furar o pneu do meu carro? Pois saiba que at ontemeu fazia outro conceito do sr. Mas agora mudou completamente.ALUNO (vai sair)D licena.PROFESSORA (interrompe-o)No! O sr. fica! O sr. sabe que eu posso levar ao conhecimento da direo e voc pode serexpulso da escola? Sabe? Voc no tinha o direito de fazer o que fez!ALUNOE voc no tinha o direito de me bater a porta na cara pela segunda vez!PROFESSORATinha! Voc estava me atrapalhando, tomando meu tempo, tirando a concentrao da aula!ALUNOVocs professores sempre querem ficar com a razo!PROFESSORA

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 21

  • No levante a voz para mim! Seu... motoqueirinho! (Pausa) Ponha-se no seu lugar. Voc aluno, eu no sou. Voc tem 17 anos, eu tenho quase o dobro. No vamos mais confundir ascoisas. (Abre a porta) At logo.(O aluno sai da sala, d um tempo e comea a falar alto no corredor, para que ela oua)ALUNOD graas a Deus de eu no ter furado os 4 pneus! Era o que eu devia ter feito, pr derreteresse gelo que est dentro de voc! Essa pedra, esse iceberg disfarado de gente!Eu pensei que voc fosse alguma coisa a mais, alm do que ... Alm de ficar a dentro,trancada no meio desse monte de complexos... Porque voc feia, voc velha. Porque vocj passou dos 17, dos 27, dos 37 e vai passar tambm dos 47. E vai ficar a o resto da vidatentando disfarar as rugas do rosto e falando pr todo mundo: good morning, goodafternoom... goo-bye... at quando?Pois eu vou ficar aqui, gritando at voc me ouvir!Ser possvel que voc cega?Ser possvel que voc no me enxerga?(A professora sai de dentro da sala e vai se aproximando dele. Foco nos dois)PROFESSORAVoc foi ao mdico?ALUNOH-h.PROFESSORAE ele?ALUNOMandou voltar... pr fazer outro exame.PROFESSORAEu... vou furar o pneu da sua moto.(Luz)(NA CASA DA PROFESSORA, dias depois. O aluno toca a campainha insistentemente)PROFESSORA (abrindo a porta)Vitor, voc acorda o prdio inteiro desse jeito!ALUNO (Entrega um pacote a ela)Trouxe um presente. Abra e veja se gosta.PROFESSORA (abrindo-o)Voc com essa mania de me fazer surpresas. Ainda se fosse um pacote mais discreto, masno. O que ser que deve ser isto?ALUNOGostou?PROFESSORA

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 22

  • Um cachorro de pelcia, mas enorme, voc deve ter pago uma fortuna!ALUNOGostou mesmo? O nome dele Mohamed Ali.PROFESSORAGostei, bastante sugestivo.ALUNOTem mais uma coisa que voc ainda no viu.PROFESSORAVitor, voc est moendo todo seu dinheiro!ALUNOVenha, eu estou te esperando no carro.PROFESSORAMas aonde voc est querendo me levar a esta hora?ALUNONo importa. Venha que voc ver.(NO RESTAURANTE, um pouco mais tarde)PROFESSORAVitor, eu no sabia que voc ia me trazer no restaurante, olhe como estou vestida!ALUNO (falando ao garom)Garom, pode me trazer: supremo de frango cubana, lombo assado, ravioli ao molho branco,farofa, fil de coelho caadora, petit pois, batatas frita e... ovos de codorna!PROFESSORAVitor, muita coisa, ns no vamos comer tudo isso. No, garom.ALUNOPode me trazer tambm um champagne, suco de pssego natural e dois guarans.PROFESSORAVoc no pode tomar lcool. S os dois guarans, garom.ALUNOMande tocar uma msica romntica, porque ns queremos danar.PROFESSORAVoc no vai me fazer passar ridculo perto dos outros. Olhe minha cara como est!ALUNO (levanta-se da mesa e tira a professora para danar)Ns estamos felizes e o que importa neste isntante.(Toca "Stela by Starlight", orquestrada)ALUNO (danando)Voc no tem medo de se apaixonar por um aluno?

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 23

  • PROFESSORA difcil responder a essa pergunta, mas acho que nessas alturas j perdi o medo de tudo.ALUNOSabe que no consigo mais pensar em outra coisa a no ser em voc?PROFESSORATenho impresso que estou comeando a perceber isso.ALUNOAlgum aluno j disse isso a voc ou a primeira vez?PROFESSORATo forte e intensamente a primeira vez.ALUNOTo forte, intensamente e convictamente eu tenho a dizer que pela primeira vez na minha vidaeu estou gostando de algum. E voc?PROFESSORANo sei ainda. Voc no me deixa pensar direito.ALUNOVoc sente alguma coisa mais profunda por mim?PROFESSORAEssa foi a pergunta mais absurda desta noite. Se eu estou aqui, nos braos de um maluco de17 anos, porque eu sinto alguma coisa por ele.ALUNOVoc me considera um maluco? No sabia que tinha esse conceito de mim.PROFESSORA a pior loucura do mundo: a escola inteira j est sabendo de ns dois. (A msica encobre asltimas falas).(NO APARTAMENTO DA PROFESSORA)ALUNO (chegando porta do quarto dela)Posso entrar?PROFESSORAVoc no foi se deitar ainda?ALUNONo estou com sono. Queria conversar mais um pouco com voc. Gostou do jantar?PROFESSORAH-h.ALUNOQue livro voc est lendo?

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 24

  • PROFESSORA (Fecha o livro e mostra a capa)Um romance. "Por quem os sinos dobram", de Hemingway.ALUNOEst gostando?PROFESSORAH-h.(Breve silncio. O aluno faz meno de soltar a fivela da cala)PROFESSORA (interrompe-o)H-h. V se deitar. Amanh nos veremos.ALUNOEu s...PROFESSORAVitor!(O aluno fica meio desapontado, sai, entra no outro quarto e bate a porta com violncia. Umtempo e comea se masturbar. No outro quarto, a professora l em voz baixa, deixandotransparecer uma excitao cada vez maior).PROFESSORA (lendo)"Nenhum homem uma ilha isolada. Cada homem uma partcula do continente, uma parteda terra. Se um torro de terra for arrastado para o mar, a Europa fica diminuda, como sefosse um promontrio, como se fosse solar dos teus companheiros ou o teu prprio. A mortede cada ser humano me diminui porque sou parte do gnero humano e por isso no meperguntes por quem os sinos dobram... eles dobram por ti."(Fecha o livro e caminha em direo ao quarto dele. Entra.)PROFESSORACom licena.(Um breve confronto de olhares. Volta a tocar a mesma msica do baile.)(NA CASA DOS AVS, numa manh qualquer)ALUNO (senta-se mesa para tomar caf)Nada como acordar de manh e sentir que existe vida, que existe mais um dia pela frente!Ah, v! Se voc soubesse! Se voc soubesse como tudo modificou desde que ela entrou naescola. Acho at que melhorei, sabe v?Melhorei mesmo!Nem sei se devo continuar acreditando no que esses mdicos dizem. No sei mesmo!Sabe, v, s vezes, eu penso que tudo est se acabando e me d um medo por dentro, v!Ser que isso acontece com todo mundo?Sei l, no v?Ontem, o professor de biologia estava explicando que existem milhares de clulas no corpohumano que vo sendo debilitadas com o tempo. Algumas pessoas no resistem s doenas e

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 25

  • as clulas se destroem.Eu li numa reportagem, sabe v, que no ano 2000 aumentar 50% a probabilidade de mortepor contaminao...(Luz)(NA FRENTE DO PRDIO, onde mora a professora. O aluno estaciona a moto e comea agritar para uma janela no 7 andar)ALUNO (aos gritos)Olvia!PROFESSORA ( parte)No! Ser possvel que ele? (Abre a janela do 7)ALUNOOlvia! Eu estou aqui!PROFESSORAQu isso, Vitor, voc est dando escndalo!ALUNODesa, pr dar uma volta de moto.PROFESSORANo! Suba voc aqui, pare de gritar feito louco.ALUNOEu vou ficar te esperando, desa!PROFESSORA ( parte)Ah! Que loucura, o prdio inteiro ficou sabendo! (No interfone) Al, seu Nestor, faa umfavor: avise esse rapaz que est gritando a embaixo pr ele subir aqui no 7. Obrigada.(desliga)ALUNOHei! Olvia Newton John! Don't leave me now! (Canta) If you leave me now...PROFESSORAPare de gritar, Vitor! Pare!ALUNOEnto diga que voc me ama!PROFESSORAEu te amo, t ok.ALUNOEm ingls! Com bastante eco!PROFESSORAI love youuuuuuuuuuuu!ALUNO

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 26

  • Pega este beijo meu!(Atira um beijo para o alto e aos poucos vai se sentindo meio atordoado, derruba o capaceteno cho).(CONVERSA POR TELEFONE)PROFESSORAPronto! Quem est falando?ALUNO (mudando a voz)Aqui o Jack estripador.PROFESSORAVitor! Isto hora de telefonar?ALUNOVoc j estava dormindo?PROFESSORANo, mas j estava quase indo.ALUNOEnto desculpa, tchau.PROFESSORANo! Agora j ligou, fale.ALUNOEu estou pensando numa coisa.PROFESSORAO qu? Fale.ALUNOAcho que eu vou te pedir em casamento, voc aceita?PROFESSORAAceito, amanh ns casamos. Eu tenho que acordar s 7 e meia, Vitor.ALUNOVoc aceita mesmo?PROFESSORAAceito. Agora desligue que tarde.ALUNOEu vou me aprontar e j chego a pr conversarmos melhor.PROFESSORANo, senhor. Vitor, pare de ficar com essas idias malucas na cabea e trate de ir dormir.ALUNOEu sabia que voc ia dizer isso. Ah! Eu me esqueci dos seus complexos! Pois fique com eles!

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 27

  • (Bate o telefone)PROFESSORAVitor? Al? (Desliga)ALUNO (falando para o aparelho desligado)Com os complexos, solteira e corrigindo provas! E no adianta tocar de novo que eu no vouatender.(Toca o telefone)ALUNOAl!PROFESSORAVitor, escute.ALUNO (fingindo no conhecer a voz)Com quem estou falando?PROFESSORANo bata mais o telefone. Desculpe.ALUNONo vamos mais tocar nesse assunto.PROFESSORAE se eu disser que eu aceito?ALUNOEu vou pensar no caso.PROFESSORAEu vou pensar no caso.PROFESSORAMas no agora, claro. Ns precisamos nos conhecer melhor.ALUNOFaamos uma coisa. Eu lhe dou um prazo de... digamos... 48 hs.(NA CASA DOS AVS, outro dia)ALUNO (mostra)Este meu av e esta minha av.PROFESSORAPrazer, ele fala muito bem de vocs.ALUNO (indo para a mesa)Agora vamos sentar que o almoo est na mesa. Olvia, voc senta aqui; o v fica perto dav... aqui, isso... e eu sento aqui.PROFESSORA (para a av)

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 28

  • O seu neto brinca muito na escola, mas um bom aluno.ALUNOSe eu conseguir fechar em ingls ficar faltando s fsica e matemtica.PROFESSORAVoc consegue, s querer.ALUNO (para o av)Ns estamos pretendendo nos casar, v, o que voc acha disso?PROFESSORAEu acho que seu av tem razo, Vitor, quando diz que muito cedo ainda para pensarmosnisso.ALUNOOs tempos mudaram, v, vocs tm que admitir isso. Hoje em dia no faz mais sentido ficardiscutindo diferena de idade.PROFESSORAVitor, um problema de geraes, voc precisa entender, eles so bem mais velhos.ALUNOQuando existe amor, v, todas as outras coisas ficam em segundo plano. (Para a professora) isso que eu quero que eles entendam.PROFESSORA (para os avs)Eu tambm acho que ele muito novo, que deve continuar estudando. Ns j conversamosbastante sobre isso, no mesmo Vitor?ALUNOTer o dobro da idade no significa nada, v. (Para a professora) Ser possvel que eles nocompreendem que eu j cresci, que eu j sou um homem?PROFESSORAO seu futuro tambm importante, Vitor, isso que eles esto querendo dizer.ALUNOMas que futuro, v? Eu no sei o que pode acontecer comigo daqui a pouco.PROFESSORANo fale assim com sua av, Vitor.ALUNOEu quero que eles entendam...PROFESSORAMas no precisa gritar, fale com calma!ALUNOVoc tambm est dando razo a eles!PROFESSORA

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 29

  • Por favor, vamos parar de uma vez com essa discusso. (Pausa) Desculpe. O problema aquisou eu, sinto muito.ALUNONo voc! (Para o av) Est vendo v? (Para a professora) No voc. O maior problemanesta casa o Vitor. Mas talvez seja por pouco tempo. Com licena. (Levanta-se da mesa)PROFESSORA ( distncia)Voc no vai acabar de almoar?ALUNONo, eu j perdi o apetite.PROFESSORA (aproxima-se dele)Volte. Tenha calma, eles so seus avs.ALUNO (para todos ouvirem)No adianta esconder de mim uma coisa que eu j sei, j estou cansado de saber. (Para aprofessora) Eles esto assim porque j sabem que mais cedo ou mais tarde... o Vitor vaiembora. O problema no idade.PROFESSORAPor que isso?ALUNOPorque no tem cura, no tem.PROFESSORAO que que no tem cura, Vitor?ALUNOSe voc no sabe, eu estou com leucemia. (A professora leva um choque) sim, v, e eu voufazer tudo o que eu quiser e ningum vai me impedir. Eu estou cansado de ficar ouvindoaquelas palavras de conforto do mdico, com aqueles remedinhos que no servem pr nada. Aquimioterapia dele! 2 de 6 em 6 horas, no sei o qu de 4 em 4 horas, 1 vez por semana, 2vezes por dia, antes do almoo, depois da janta, a troco de qu? Eu sei de mim, eu meconheo, v. A nica coisa que eu quero que vocs entendam que o meu maior desejo viver, respirar! continuar respirando! Quando eu acordo de manh, abro a janela e gostode respirar, respirar...(luz)(NA CLASSE. Ouve-se uma msica de Bob Dylan).PROFESSORAEsta msica que est tocando de um compositor norte-americano chamado Bob Dylan.Seria interessante que estudssemos a letra em classe, pena que estamos quase em cima dahora.Bob Dylan um dos meus compositores prediletos e eu... espero que vocs tenham gostado.Na prxima semana teremos traduo com consulta e depois uma recapitulao de tudo o quefoi visto at agora.

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 30

  • Os exames esto chegando e acho bom irem pensando nisso, ok? Bom fim de semana a todose at 2 feira, se Deus quiser...(NA SALA DOS PROFESSORES)ALUNO (entra)Hello, teacher!PROFESSORA (percebendo nele um desnimo)Fale. O que que h? Por que no assistiu aula hoje?ALUNOPorque eu sa dar uns giros de moto. Fui ver os avies no aeroporto.PROFESSORAEst com vontade de voar?ALUNOSe eu pudesse... daria a volta ao mundo em 80 dias.PROFESSORA"O pessimista"! Aceita um caf?ALUNONo, obrigado. Olvia... tenho que te falar umas coisas.PROFESSORA (referindo-se ao caf)Foi passado agora, voc no quer? Fale.ALUNOEu... desisti.PROFESSORADesistiu do qu?ALUNODe estudar. Eu no vou mais continuar estudando, acho melhor no.PROFESSORAPor que essa deciso repentina? At ontem...ALUNO (corta)At ontem sim, mas estive pensando muito, eu vou desistir. No vejo sentido em ficar vindoaqui todo dia. Quero um pouco de distncia, pelo menos at...PROFESSORAPelo menos at...ALUNOSei l, at... no sei! As coisas esto indo assim de uma maneira...PROFESSORA (suspira)Ah! T ok.

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 31

  • ALUNOTem outro assunto, tambm. Sobre eu e voc. Eu no devia ter falado tudo aquilo...PROFESSORAMas claro que devia, Vitor!ALUNO (corta quase no deixando ela falar)No estou precisando que ningum tenha pena de mim.PROFESSORAVitor! Eu sei que voc tem sentimentos, mas s vezes voc se esquece dos outros.ALUNOEu penso no que melhor tanto pr mim como pr voc.PROFESSORANo! Voc no pensou nem um pouco em mim. Por que esse egosmo? Essa derrota?Agora voc j est querendo se fazer de vtima!Vou abandonar a escola, vou cortar minha vida pelo meio, vou ficar sentado esperando que ascoisas aconteam!Quanto fatalismo, voc no acha?E sai com essa moto pr cima e pr baixo, em busca de aventuras, de avies, de no sei mais oqu, de pensamentos suicidas de se atirar no primeiro poste que achar.Vitor, eu no estou tentando negar as evidncias. O que bvio no me interessa."O homem mortal" um axioma, no vamos discutir. S que no podemos nos esquecer quetemos um compromisso antes disso: viver.Eu quero viver! Vitor, essa uma coisa que tem que estar a dentro de voc. Ande um passo ediga: eu quero viver! Vi-ver!(NO APARTAMENTO. O aluno est pintando as paredes da sala. A professora entra,carregando alguns pacotes)PROFESSORA (entra e fecha a porta)Faz tempo que voc chegou? Eu trouxe umas coisas... (Assusta-se com a desordem que estna sala) Uhh! Vitor, qu isso? Voc ficou louco? Quem mandou voc pintar a parede?ALUNOEu mesmo decidi. Essa cor um pouco mais alegre.PROFESSORAQue loucura! Eu sei que mais alegre, mas voc devia me comsultar primeiro, pr saber se eugosto ou no gosto.ALUNONo encoste que no est bem seca ainda. Falta pintar o quarto e a cozinha.PROFESSORAVoc fez uma anarquia terrvel, onde que est o lustre da sala?

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 32

  • ALUNOTirei porque vou colocar outro mais bonito. Est dentro da caixa, falta s instalar.PROFESSORAPelo visto voc est querendo destruir meu apartamento. Onde esto os livros que ficavamaqui na estante?ALUNOJ encaixotei tudo e coloquei no armrio da lavanderia.PROFESSORAOs meus livros voc colocou na lavanderia? (Corre at l) No! William Shakespeare veioparar na lavanderia? (Volta) Vitor Hugo, eu quero uma explicao! Posso saber o quesignifica tudo isso?ALUNOPrecisamos fazer a lista dos convidados e providenciar os convites antes que seja tarde.PROFESSORAEu no vou fazer nenhuma lista de convidados enquanto voc no me der uma explicaosobre essa anarquia que voc est fazendo no meu apartamento. Voc ficou paranico?ALUNOVoc no vai usar aqueles livros, por que insiste que eles fiquem na sala?PROFESSORAMas so meus livros e eu quero que eles fiquem aqui!ALUNO (vai lavanderia, pega o caixote e traz para sala)T ok, eu vou buscar os livros e colocar na sala. Pronto! Aqui esto os livros. Qu mais?PROFESSORADepois o sr. tira tudo da caixa e volta onde estava!ALUNOSe voc falar assim de novo comigo eu largo tudo como est, abro essa porta e vou embora.No tem mais festa, no tem casamento, no tem mais nada!PROFESSORAVoc foi precipitado e comeou pintar sem me consultar.ALUNONo gostou? Faa o servio voc.PROFESSORAVoc no sabe se eu gosto de creme ou gosto de azul.ALUNOMas eu gosto de creme.PROFESSORACreme no, porque suja muito.

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 33

  • ALUNOT bem. Ento no vou pintar mais nada. Fica como est.PROFESSORANo, sr. Voc comeou agora termine. (Abre a geladeira e coloca umas coisas) Eu trouxegeleia de mocot, se voc quiser est dentro da geladeira. (Bate a porta da geladeira)ALUNOO jogo de sof vai chegar amanh cedo.PROFESSORAVoc comprou jogo de sof?ALUNOComprei.PROFESSORAMas o que ns vamos fazer com tanto jogo de sof se j temos um aqui?ALUNOO seu j est caindo aos pedaos, resolvi comprar outro.PROFESSORAVitor, voc vai levar seu av falncia desse jeito.ALUNO (vem para a cozinha)Tem mais umas coisas ainda, que eu quero mexer nesta casa.PROFESSORAVoc come fgado pr eu fritar?ALUNO (abrindo a geladeira)H-h.PROFESSORASaia da frente da geladeira, Vitor!ALUNOAh! Voc sabia? (Pega a gelia de mocot) Nos Estados Unidos j existe transplante demedula.PROFESSORAClaro, o que que no existe nos Estados Unidos? L eles transplantam tudo.ALUNOO que voc acha disso?PROFESSORAEu acho que voc devia sair da frente dessa geladeira e acabar de uma vez com aquela foliaque voc fez na sala.ALUNO (passa o dedo na gelia e lambe)

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 34

  • Ser que fica caro um transplante de medula?PROFESSORAAh, Vitor, no sei, engula de uma vez essa gelia que est me dando nsia.ALUNO (lembra-se)Ah! tenho um presente. (Tira duas alianas do bolso)PROFESSORAO que isso? Voc completamente maluco, mesmo. Limpe esse dedo pelo menos.(Pem as alianas. Msicas. Luz)(No alto da colina. Vista panormica da cidade. Fazem poses, tiram fotos, etc.)ALUNO ( distncia)Me d a mo e vamos subir mais um pouco.PROFESSORAAnde voc na frente, eu prefiro ir sozinha. Quero flego!ALUNO (visualizando a plancie)Venha ver quanta cosa d pr enxergar daqui de cima. Olhe!PROFESSORAAh, que altura! A quantos metros estamos?ALUNONo sei, mas daqui de cima d pr enxergar a cidade inteira. Olhe onde eu moro! (Aponta) Londe esto aquelas rvores.PROFESSORAVoc tem uma vista boa, eu no estou conseguindo enxergar nada.ALUNOAli, olhe! O prdio que voc mora fica naquela direo.PROFESSORAOnde? Ah, mesmo. E o colgio? Deixe-me ver onde fica o colgio.ALUNOO colgio pra c. Est vendo? O colgio, a matriz, o cemitrio... Minha me est enterradanaquele cemitrio. (Sobe) Vou tirar uma foto daqui de cima. (Bate a foto)PROFESSORA (aproximando-se de uma enorme pedra)Voc viu quanta coisa est escrita aqui? Eu vou deixar uma lembrana tambm.ALUNO (desenha um corao)Que pedra enorme! Deve ser da pr-histria. (Escreve) Olvia, nunca se esquea do Jackestripador.PROFESSORA (escreve)Vitor e Olvia juntos para sempre.

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 35

  • ALUNOEste corao nosso!PROFESSORAFique de perfil que eu vou tentar desenhar seu rosto.ALUNO (sobe mais alto)Se eu tivesse um par de asas eu ia iniciar uma grande aventura. Voar por esse mundo a fora...PROFESSORA frustrao de caro! Voc um pssaro que no pode voar.ALUNOUm caro querendo voar e abraar o mundo, Olvia. Acima das nuvens, das montanhas, dospenhascos!PROFESSORAMas voc um homem, Vitor, e um homem no vai alm da superfcie!ALUNOSe eu me deitasse, Olvia...PROFESSORASe voc se deitasse?ALUNOE abrisse os braos...PROFESSORAE abrisse os braos?ALUNOQuem sabe eu pudesse fechar os olhos e viajar, Olvia, viajar como uma guia que nopretende voltar nunca mais. E voar, voar voar!(Ouve-se um grito lancinante de algum que cai. Um tempo em silncio. Foco de luz noquarto da Professora, tirando as roupas de solteira. Outro foco no aluno, no quarto, vestindofraque e capacete de moto no lugar da cartola).(NA IGREJA.. Ritual do casamento, com msica e alguns efeitos de luz).(APS O CASAMENTO)ALUNOFinalmente juntos, at que a morte nos separe.PROFESSORAAcho que eu vou demorar um pouco pr acordar deste sonho.ALUNO (tira um carto e mostra)Quando voc acordar j estar longe daqui.PROFESSORAO que isso?

    Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 36

  • ALUNOO seu passaporte. Queira se dirigir plataforma de embarque.PROFESSORAPassaporte pr onde?ALUNOPr Europa maravilhosa. Presente dos meus avs. Vamos indo que o avio no espera.(Comeam a andar)PROFESSORAMas e as nossas malas, Vitor?(NA PORTA DA IGREJA)PROFESSORA (leva um susto)Anhhh! O que significa esse povo, Vitor? A escola inteira!ALUNOEles vo nos acompanhar at o aeroporto. (Grita) Senhoras e senhores, aqui estamos!PROFESSORA (contentamento e surpresa; fixando a platia)Eu nunca vi tanto motoqueiro na minha vida!ALUNO (Grita)Liguem suas mquinas que a noiva vai passar! Vamos, suba na garupa que eles vm atrs.PROFESSORAEu vou despencar da moto com essas roupas, Vitor. melhor chamarmos um txi!ALUNOVamos assim mesmo que ainda temos que chegar no aeroporto...PROFESSORAEu no vou entrar no avio desse jeito, vo pensar que eu sou alguma dbil mental.ALUNOVai entrar sim senhora. Suba a de uma vez!(A moto sai em disparada e os demais alunos seguem atrs. Passa um caminho e o aluno duma freada brusca. PNICO. MORTE. ESTILHAOS.A luz volta a acender, sobre o vu manchado de sangue e o capacete no cho).

    Roberto Gill Camargo

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 37

  • Hello, Boy !

    Texto digitalizado para o projeto BDTeatro da UFU. 38