HELMINTOSE - core.ac.uk · raças dos animais; manejo, topografia, alti- ... composto de um...

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HELMINTOSE Sinal de prejuízo para o rebanho ;:/. 4~ Cada verme manifesta-se de uma maneira, mas sua ação depende de condições que podem ser favoráveis ou não. Confira as dicas. A s helmintoses, assim chamadas por englobarem vários tipos de vermes, ao atingirem os bovinos e ovinos consti- tuem-se num entrave à sua produtividade, proporcionando prejuízos desastrosos. Os animais mais atingidos são os mais jovens que apresentam maior susceptibilidade; no entanto, os adultos também podem ser viti- mados, embora tenham maior capacidade de resistência. Dentre esses, as vacas pre- nhes são as mais vulneráveis. As infecções mais comuns tem conota- ções diferentes dentro de sua patogenia. Dependendo da intensidade parasitária, elas podem ser desde simples, quando não apresentam sinais reais de seus sintomas, até altas infestações, quando apresentam si- nais de caráter epidêmico. Quando atingem esse aspecto são denominados surtos epi- demiológicos, cujo quadro apresenta nume- rosos casos de morbidade e mortalidade de animais. Isso pode acontecer quando o tra- tamento de desverminação não é feito a contento, ou seja, em épocas e em quanti- dades incorretas. Vários fatores podem interferir para que o rebanho adquira uma alta infecção de ver- mes. Um deles, e o mais importante, são as condições climáticas favoráveis para um bom desenvolvimento de larvas infestantes nas pastagens. Nesse aspecto estão inclu- sos a umidade, a temperatura, a distribui- ção da precipitação pluvial e, em particular, as próprias condições microclimáticas pe- culiares a algumas espécies de pastagens. Em outras palavras, trata-se de um fenô- meno envolvente que reflete as estações do ano com suas nuanças, tipos de pastagens, raças dos animais; manejo, topografia, alti- tude e a localização geográfica. A comple- xidade atinge a tal forma, que as infecções dos ruminantes, pelas larvas infestantes, têm uma confluência com o estádio de desen- volvimento das gramíneas e também com o seu manejo. NAS ÁGUAS, O PERÍODO lDEAL PARA O DESENVOLVIMENTO DAS LARVAS pacta. Este aspecto dá condições favoráveis para desenvolver e abrigar as larvas infes- tantes. Com a grande disponibilidade des- sas forragens, os animais em pastoreio deslocam-se menos, e com isso, os excre- mentos se concentram em menor espaço nos piquetes, mesmo que haja proporções normais animal/área. Dependendo do grau de infecção vermi- nótica do rebanho ocorrerá uma dinâmica populacional alta de larvas nas pastagens. Mesmo assim, nada de mal, pois razoavel- mente alimentados, devido à alta disponibi- lidade de forragens, os animais poderão manter estabilizado com um certo equilíbrio a carga parasito/hospedeiro. Um detalhe: com as forragens à uma altura acima de 35 cm nem sempre as larvas alcançam o topo da vegetação para ser ingeridas durante o pastoreio. É que em seu deslocamento na gramínea as larvas albergam posições mais próximas do solo. À proporção que as forragens vão sen- do consumidas e os pastos tornando-se mais rentes ao solo e escassos, a sxposi- ção das larvas infestantes nessa condição fica mais concentrada em relação à pouca massa verde existente. Forçosamente have- rá uma maior ingestão de larvas, o que pro- vocará um desequilíbrio parasito/hospedei- ro. Caso não haja um manejo adequado, os animais irão pastejar sobre uma rebrota, on- de as gramíneas estão mais tenras, ou em sobra de pastagens que com o passar do tempo apresentam-se lignificada. Em ambos os casos, o valor nutritivo é pouco substancial, havendo uma massa com baixo teor protéico, além de uma me- nor disponibilidade de volume para ser in- gerido. Com isso, o rebanho tende a se des- locar em maior distância para saciar-se. Compartilhando-se de seus escassos ali- mentos os vermes levam uma maior vanta- gem, minando desta forma a resistência do seu hospedeiro. Em tais condições advém o chamado surto, atingindo quase sempre o rebanho inteiro, e quando não reparado a tempo, leva a um alto índice de mortali- dade. Os fatores climáticos são de grande im- portância para a sobrevivência dos vermes. A participação desses elementos se compõe e se interrelacionam com os demais forman- Nas épocas chuvosas, por exemplo, com as temperaturas propícias ao crescimento vegetativo, certas forrageiras atingem um porte acessível com uma conformação com- Os anirilais mais jovens são os maisatingidos pela doença. PROCI-1991.00068 OLI 1 nn.1

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HELMINTOSESinal de prejuízo para o rebanho

;:/.4~ Cada verme manifesta-se de uma maneira, mas sua açãodepende de condições que podem ser favoráveis ou não.

Confira as dicas.

As helmintoses, assim chamadas porenglobarem vários tipos de vermes, aoatingirem os bovinos e ovinos consti-

tuem-se num entrave à sua produtividade,proporcionando prejuízos desastrosos. Osanimais mais atingidos são os mais jovensque apresentam maior susceptibilidade; noentanto, os adultos também podem ser viti-mados, embora tenham maior capacidadede resistência. Dentre esses, as vacas pre-nhes são as mais vulneráveis.

As infecções mais comuns tem conota-ções diferentes dentro de sua patogenia.Dependendo da intensidade parasitária, elaspodem ser desde simples, quando nãoapresentam sinais reais de seus sintomas,até altas infestações, quando apresentam si-nais de caráter epidêmico. Quando atingemesse aspecto são denominados surtos epi-demiológicos, cujo quadro apresenta nume-rosos casos de morbidade e mortalidade deanimais. Isso pode acontecer quando o tra-tamento de desverminação não é feito acontento, ou seja, em épocas e em quanti-dades incorretas.

Vários fatores podem interferir para queo rebanho adquira uma alta infecção de ver-mes. Um deles, e o mais importante, são ascondições climáticas favoráveis para umbom desenvolvimento de larvas infestantesnas pastagens. Nesse aspecto estão inclu-sos a umidade, a temperatura, a distribui-ção da precipitação pluvial e, em particular,as próprias condições microclimáticas pe-culiares a algumas espécies de pastagens.

Em outras palavras, trata-se de um fenô-meno envolvente que reflete as estações doano com suas nuanças, tipos de pastagens,raças dos animais; manejo, topografia, alti-tude e a localização geográfica. A comple-xidade atinge a tal forma, que as infecçõesdos ruminantes, pelas larvas infestantes, têmuma confluência com o estádio de desen-volvimento das gramíneas e também como seu manejo.

NAS ÁGUAS, O PERÍODOlDEAL PARA O DESENVOLVIMENTO

DAS LARVAS

pacta. Este aspecto dá condições favoráveispara desenvolver e abrigar as larvas infes-tantes. Com a grande disponibilidade des-sas forragens, os animais em pastoreiodeslocam-se menos, e com isso, os excre-mentos se concentram em menor espaçonos piquetes, mesmo que haja proporçõesnormais animal/área.

Dependendo do grau de infecção vermi-nótica do rebanho ocorrerá uma dinâmicapopulacional alta de larvas nas pastagens.Mesmo assim, nada de mal, pois razoavel-mente alimentados, devido à alta disponibi-lidade de forragens, os animais poderãomanter estabilizado com um certo equilíbrioa carga parasito/hospedeiro. Um detalhe:com as forragens à uma altura acima de 35cm nem sempre as larvas alcançam o topo

da vegetação para ser ingeridas durante opastoreio. É que em seu deslocamento nagramínea as larvas albergam posições maispróximas do solo.

À proporção que as forragens vão sen-do consumidas e os pastos tornando-semais rentes ao solo e escassos, a sxposi-ção das larvas infestantes nessa condiçãofica mais concentrada em relação à poucamassa verde existente. Forçosamente have-rá uma maior ingestão de larvas, o que pro-vocará um desequilíbrio parasito/hospedei-ro. Caso não haja um manejo adequado, osanimais irão pastejar sobre uma rebrota, on-de as gramíneas estão mais tenras, ou emsobra de pastagens que com o passar dotempo apresentam-se lignificada.

Em ambos os casos, o valor nutritivo épouco substancial, havendo uma massacom baixo teor protéico, além de uma me-nor disponibilidade de volume para ser in-gerido. Com isso, o rebanho tende a se des-locar em maior distância para saciar-se.Compartilhando-se de seus escassos ali-mentos os vermes levam uma maior vanta-gem, minando desta forma a resistência doseu hospedeiro. Em tais condições advémo chamado surto, atingindo quase sempreo rebanho inteiro, e quando não reparadoa tempo, leva a um alto índice de mortali-dade.

Os fatores climáticos são de grande im-portância para a sobrevivência dos vermes.A participação desses elementos se compõee se interrelacionam com os demais forman-

Nas épocas chuvosas, por exemplo, comas temperaturas propícias ao crescimentovegetativo, certas forrageiras atingem umporte acessível com uma conformação com- Os anirilais mais jovens são os maisatingidos pela doença.

PROCI-1991.00068OLI1 nn.1

íade de coexistência: o agente, o hos-iro e o meio ambiente. O agente é re-

entado pelos vermes; o hospedeiro, pe-bovinos, ovinos e caprinos, enquanto

e o meio ambiente é o fator que externa-ente favorece ou limita a sobrevivência darma não parasítica dos helmintos. Assim,

na região Sul do país, cujas característicasclimáticas diferem acentuadamente das de-mais, existem alguns tipos de vermes nosruminantes, os quais não ocorrem na regiãosudeste, ou em qualquer outra. É que suasexigências quanto as temperaturas mais bai-xas são acentuadas.

VERMES PARASITAS: ASCARACTERÍSTICAS

DE CADA UM

O trato gastro-intestinal dos ruminantes écomposto de um estômago adaptado comquatro compartimentos: rúmen, retículoomasoe abomaso; por isso são denominados de po-ligástricos. Cada um dos compartimentos p0s-sui uma função fisiológica especializada na di-gestão dos alimentos. O intestino é compos-to de dois segmentos: o delgado e o grosso.Em todo o trato digestório dos bovinos, ovi-'10S e caprinos, considerados os ruminantesdomésticos de maior exploração econômica,existe uma gama de vermes parasitas. Dosmais importantes podemos caracterizar:- Haemonchose - provocado por mais deuma espécie de Haemonchus. Ocorre noabomaso, sendo seu caráter espoliativo alta-

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mente patogênico e responsável por perdas?larmantes. Os principais sintomas são visua-lizados pelo edema sub-mandibular, anemia,emagrecimento, prostração e constipação. Apelagem apresenta-se áspera, eriçada e sembrilho. Patologicamente encontramos lesõesque consistem em manchas ou pequenas he-morragias formando edemas da mucosa.- Trichostrongylose - suas espécies, Trichos-trongylus, parasitam o abomaso e o intestinodelgado. A sua sintomatologia tem um qua-dro agudo com diarréia profusa, fétida e pre-ta, caracterizando melena, emagrecimentoprogressivo, prostração, inapetência e anemiado tipo progressivo. Patologicamenteencontram-se erosões epiteliais demonstran-do lesões inflamatórias com edema e conges-tão da mucosa.- Ostertqgiose - provocada pela espécie donematódeo Ostertagia que se localiza no aba-maso. Esta espécie é mais exigente ao clima,por isso é encontrada mais ao sul do país,Seus sintomas se resumem em perda de pe-so e diarréia, o que pode ser confundido coma sintomatologia de outras espécies devermes.-:- Cooperiose - A Cooperia localiza-se no in-testino delgado, concentrando-se na parte doduodeno. Suas infestações, quando maciças,traduzem um quadro cujas lesões evidenciamuma inflamação do tipo catarral. A sua sinto-matologia não reflete um quadro que a ca-racterize em particular.- Nematodirose - Provocada pelo Nemato-dirus que se localiza no intestino delgado. Éum parasito próprio das regiões mais frias dosul do país. Sua patologia vai depender dograu de infestação do parasito. Nas altas in-festações pode ocasionar processo de erosãono intestino.- Bunostomose - O nematódeo Bunostomumlocaliza-se no intestino delgado, na parte quecompreende o duodeno e jejuno. Os animaiscomprometidos com este parasito apresentamdiarréia e anemia. Os sintomas provocadosconfundem-se com os de outros nematódeos.Patologicamente observamos pontos hemor-rágicos na mucosa, inflamação e edema.

Pode-se encontrar ainda o coração com as-pecto flácido, pálido e líquido seroso na cavi-dade abdominal.- Strongyloidose - É provocado pelo parasi-to Strongyloide papilosus que se localiza par-ticularmente no jej.mo-íleo, causando diarréiaintermitente com tenesmo, muco e sangue.Normalmente os animais mostram-se anêmi-cos, inapetentes e visivelmente retardados nocrescimento. Acomete com maior freqüênciaos animais jovens nos quatro primeiros me-ses de vida.- Oesophagastomose - Provocado pelo p~-rasto Oesophagostomum. Suas larvas encap-sulam na mucosa ao longo do intestino gros-so, comprometendo-o com numerosos nódu-los. Dependendo do grau de infestação, osanimais podem ser acometidos de diarréianão muito intensa, aparecendo na defecçãofezes recobertas de muco viscoso ou até fe-zes muco-sanguinolentas. Na patologia pode-se observar a intensa presença de nódulos,edema hemorrágico, inflamação crônica e es-tenose intestinal.

Os vermes contaminantes eliminam seusovos através das fezes dos hospedeiros. Es-tes ovos eclodem, e na massa fecal passampelos estádios I, 11 e 111. As larvas 111, infestan-tes, sobem nas pastagens e passam a infec-tar os herbívoros através de sua ingestão dealimentos. Este fenõmeno, na maioria das ve-zes, altera o fluxo dos helmintos em determi-nadas épocas do ano. Muita das vezes as lar-vas inibidas passam por um longo período deinverno e libertam-se da mucosa justamenteno início da primavera quando acontecem ascondições favoráveis de novas infestações naspastagens. Quando assim acontece, a cargaparasitária no animal toma um efeito cumula-tivo. Muitas vezes pode acontecer em decor-rência de uma interação em presença de doisou mais parasitos interagindo competitivamen-te.

Texto baseado no trabalho desenvolvido pelo pes-quisador Gllson Pereira de Oliveira, da Embrapa -SAo Carlos, e Takashl Matsumoto, veterinário daCooperativa de Latlclnlos de SAo Carlos - Sp_

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